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FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA BACHAREL EM DIREITO O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: USOS DA CARTA PSICOGRAFADA NO TRIBUNAL JÚRI DANYELLA FERNANDES DA SILVA GOIANÉSIA - GO 2022 DANYELLA FERNANDES DA SILVA O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: Usos da carta psicografada no Tribunal Júri Artigo Científico apresentado junto ao Curso de Direito da FACEG (Faculdade Evangélica de Goianésia), como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador Prof. Ma. Cristiane Ingrid de Souza Bonfim GOIANÉSIA - GO 2022 FOLHA DE APROVAÇÃO O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: Usos da carta psicografada no Tribunal Júri Este Artigo Científico foi julgado adequado para a obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pela banca examinadora da Faculdade Evangélica de Goianésia/GO- FACEG Aprovada em, xx de xx de 2022 Nota Final_____ Banca Examinadora Prof. Ma. Cristiane Ingrid de Souza Bonfim Orientador Prof. Me. Professor convidado 1 Prof. Esp. Professor convidado 2 3 O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: USOS DA CARTA PSICOGRAFADA NO TRIBUNAL JÚRI THE PRINCIPLE OF DEFENSE RANGE: USES OF PSYCHOGRAPHED LETTER IN THE JURY COURT Danyella Fernandes Da Silva ¹ Cristiane Ingrid de Souza Bonfim² 1 Discente do curso de Direito da Faculdade Evangélica de Goianésia- e-mail: danyellafernandes05@gmail.com 2 Docente do curso de Direito da Faculdade Evangélica de Goianésia- e-mail: cristiane481@hotmail.com RESUMO O estudo tem como tema o princípio da amplitude de defesa e o uso da carta psicografada no tribunal do jurí, analisando a ampla defesa, a plenitude de defesa e as possibilidades de uso da carta psicografada no direito pátrio. A justificativa do estudo é análise da prova específica de carta psicografada no processo penal pátrio e quais seus limites. O objetivo geral do estudo é de Demonstrar a ilegalidade ou legalidade da utilização das cartas psicografadas no processo penal. Já os objetivos específicos do estudo são de Abordar os princípios estabelecidos no Código de Processo Penal, Apresentar os critérios legais que regulamentam a efetivação dessas cartas no processo penal, Analisar os casos reais de uso das cartas psicografadas no tribunal do júri. A metodologia do estudo é de revisão bibliográfica, pesquisa exploratória, análise documental e pesquisa básica. O estudo conclui que o princípio da amplitude de defesa permite o uso da carta psicografada por parte da defesa, inexistindo limites claros de seu uso, sendo uso específico no tribunal do júri. PALAVRAS-CHAVE: Direito Penal. Carta Psicografada. Júri. ABSTRACT The study has as its theme the principle of defense amplitude and the use of the psychographed letter in the jury court, analyzing a broad, the fullness of defense and the possibilities of using the psychographed letter in the country's law. The study's justification is the analysis of the specific evidence of a psychographed letter in the pariah criminal process and what its limits are. The general objective of the study is to demonstrate the illegality or legality of the use of psychographed letters in criminal proceedings. The specific objectives of the jury are to approach the principles established in the Criminal Procedure Code, which fulfilled the obligation to regulate the effectiveness of letters in criminal proceedings, to analyze the cases of use of the court's actual letters. The study methodology is a literature review, exploratory research, basic analysis. The study concludes that the principle of the breadth of defense allows the use of the psychographed letter by the defense, with no clear limits on its use, being specific use in the jury court. KEY WORDS: Criminal Law. Psychographed Letter. Jury. INTRODUÇÃO O direito penal brasileiro detém uma série de peculiaridades e desenvolvimentos de persecução penal, uma destas peculiaridades são as formas de prova, de forma que os recursos probatórios detêm uma série de limites e princípios 4 presentes no direito penal, constitucional e processual penal. Há diversas polêmicas no direito pátrio sobre o uso de provas ilegais em benefício do réu, os limites da obtenção de provas, tipos de provas e até mesmo o tão conhecido item da prova psicografada como uma fonte probatória no tribunal do júri que permite não somente a ampla defesa e sim uma plenitude de defesa. A psicografia consiste no fenômeno psíquico, onde por meio de um intermediário chamado médiuns comunica-se através de cartas escritas. O presente estudo vislumbra expender a possibilidade da utilização da carta psicografada como meio de prova perante o Tribunal do Júri, sob a sujeição de análise pericial grafotécnica para que se possibilite uma apreciação da prova desvinculada do caráter estritamente religioso, mas tendo como base para sua comprovação de autenticidade a aplicação de perícia no documento. A prova é elemento básico e fundamental no âmbito processual, pois busca evidenciar a existência ou inexistência das circunstâncias a verdade dos fatos que ensejaram o início da persecução penal (persecutio criminus). Ocorre que o uso de um item psicografado pressupõe a ideia de materialização de informações que não pertence mais ao plano mortal. Sabe-se que a prova é fundamental para o processo penal, pois a partir dela que o julgador forma de maneira livre. A análise da psicografia como meio de prova traduz a discussão sobre sua legitimidade e o cabimento frente aos princípios que regem o ordenamento jurídico. Por este motivo, o propósito desta pesquisa é trabalhar o tema desvinculando-se de crenças religiosas e convicções pessoais, considerando-se aspectos jurídicos e científicos. Onde por meio dessa análise fica explicito o questionamento: O uso da psicografia como meio de prova licito no processo penal vai contra os princípios estabelecidos no Código Processual Penal? O processo penal é utilizado como instrumento de apuração das infrações criminais e consequente aplicação da lei considerando ao caso concreto. Existindo as provas como meio de garantir o fundamento de defesa ou acusação desta dita persecução penal. Diante disto a justificativa do estudo é análise da prova específica de carta psicografada vez que existem casos no brasil, onde ocorreu um minucioso trabalho pericial nas cartas psicografadas introduzidas ao processo, foram comprovadas a autenticidade da escrita da pessoa falecida com a do documento em análise, a mesma foi em processo que o crime era homicídio O objetivo geral do estudo é de Demonstrar a ilegalidade ou legalidade da 5 utilização das cartas psicografadas no processo penal. Já os objetivos específicos do estudo são de Abordar os princípios estabelecidos no Código de Processo Penal, Apresentar os critérios legais que regulamentam a efetivação dessas cartas no processo penal, Analisar os casos reais de uso das cartas psicografadas no tribunal do júri. Sobre a metodologia utilizada no estudo, trata-se de método de revisão bibliográfica e pesquisa exploratória, analisando a obra doutrinaria pátria e interpretação sobre o uso da prova que enseja tema do estudo. O estudo é ainda uma pesquisa qualitativa e quantitativa, informando sobre os conceitos do tema e dados sobre seu uso nos tribunais pátrios. Os principais autores utilizados são, dentre outros, os seguintes XXXXX Ao final do estudo conclui-se que xxxxxxxx 1 O PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E SEU DOMÍNIO NO ORDENAMENTO PÁTRIO Os princípios penais detêm uma grande importância no direito, de forma que são os itens que garantem uma base em que as normas e toda interpretação destadevem estar alinhadas. Um princípio dá base e fundamento para a aplicação e interpretação da norma, sendo parte fundamental de um ordenamento jurídico. Um princípio jurídico é descrito por Nucci (2015) como algo primário, elemento predominante e um tipo de ideia comum que existe em um ordenamento ou sistema. No direito os princípios são existentes para assegurar e limitar a aplicação da norma ou até mesmo a formação de uma norma. Os princípios jurídicos são considerados até mesmo como normas com elevado grau de generalidade e que se aplicam a diversas situações, casos ou problemas de um ordenamento. Assim os princípios regem a generalidade e fazem com que situações em concreto sejam mais fáceis de se decidir e a aplicam das normas seja limitada para respeitar aos princípios. Nucci (2015) entende que o princípio jurídico é limitante a norma e auxilia a compreensão do justo em um caso concreto. É evidente que um princípio é algo básico e generalista, que se aplica em 6 diversas situações distintas e sendo um regamento implícito de um ordenamento ou sistema. Muitas vezes o direito pátrio expõe seus princípios no texto legal, porém é evidente que diversos princípios são interpretações das normas e um conhecimento comum tão generalizado que se trata de algo não necessário a ser expresso na norma. Silva (2020) expõe em seus ensinamentos que um princípio não é somente um auxílio a norma, mas sim uma base para o ordenamento do qual as normas derivam, sendo ainda os princípios jurídicos a parte normativa de um ordenamento que mais se aproxima do entendimento ou conhecimento popular. Nucci (2015) ainda apresenta a grande importância dos princípios no ordenamento pátrio moderno, vez que a complexidade do sistema legislativo brasileiro e a falta de padronização ou segurança jurídica das fontes normativa do direito gera uma série de interpretações diversas, normas conflitantes e até mesmo alguns casos de vácuo normativo. Em geral, a Constituição Federal de 1988 é a fonte maior dos princípios pátrios que limitam as normas inferiores e criam um ordenamento no país. É evidente que a Constituição Federal de 1988, sendo a norma máxima do país, seria também a fonte principal de princípios em todo o ordenamento jurídico brasileiro¸ porém cada ordenamento também detém seus princípios próprios que advém de fontes como a doutrina, a jurisprudência e normas específicas de cada ramificação do direito. No ordenamento brasileiro, considerando o ramo do direito penal, existem uma série de princípios que regem a forma da persecução penal e garantem o funcionamento do ordenamento. Um destes princípios e que detém grande importância é o de ampla defesa, o qual se vê presente na constituição de forma explicita e no direito processual penal de forma implícita. A ampla possibilidade de se defender representa a mais copiosa, extensa e rica chance de preservar o estado de inocência, outro atributo natural do ser humano. Não se deve cercear a autoproteção, a oposição ou a justificação apresentada; ao contrário, exige-se a soltura das amarras formais, porventura existentes no processo, para que se cumpra, fielmente, a Constituição Federal. Envolve todos os estágios procedimentais onde se colha prova definitiva acerca da culpa de alguém, preferindo-se acolhê-la em excesso, em lugar de restringi-la por cautela. A ampla defesa jamais pode ser constituída de ato formal, sem substância e eficiência, pois se cuida de interesse indisponível do indivíduo, merecendo integral contemplação estatal. (NUCCI, 2015, p. 324) 7 Nota-se que este item de ampla defesa é um mecanismo básico da persecução penal justa, de forma que dá armas para a defesa conseguir se afastar de quais formas de injustas de punição por parte do Estado. Greco (2017) entende este como um direito que visa garantir sua proteção como indivíduo inocente e evitar injustas agressões por parte do Estado. Já para Nucci (2015) a ampla defesa é um item quase que subsidiário do princípio da presunção de inocência ou um princípio correlato a este, sendo um ponto de grande importância não somente no direito penal, mas sim em todo o ordenamento jurídico pátrio. Brito (2015) expõe ainda que a ampla defesa pode ser compreendida como elemento essencial do processo de persecução penal e de um processo judicial moderno, vez que não basta uma apresentação simplória de defesa, a defesa deve ser efetiva e deter de elementos que assegurem a verdade processual. Assim, no sentido do autor referido, a ampla defesa é o princípio que dá vezes para a defesa se exprimir de diversas formas diferentes e com diversas armas, podendo garantir uma qualidade satisfatória de defesa e da busca pela verdade. A amplitude de defesa é essencial na persecução pois dá uma garantia que a parte de defesa poderá trazer para a luz processual todos os elementos probatórios ou analisar todas as informações presentes para que seja desempenhada a sua defesa técnica. Assim, este princípio dá armas para que o acusado ou réu e permite desenvolver sua garantia constitucional de inocência até o trânsito em julgado de condenação. Silva (2020) apresenta o princípio da amplitude de defesa como sendo o cerne da defesa processual penal, vez que é este princípio que dá base para a produção de diversos tipos de provas que sejam essenciais para a elucidação do caso concreto e garantia da verdade. O princípio da ampla defesa determina a participação efetiva no processo penal, abrangendo a autodefesa, a defesa técnica, a defesa efetiva e a possibilidade de utilização de todos os meios de prova passíveis de demonstrar a inocência do acusado, incluindo as provas obtidas ilicitamente (SILVA, 2020, p. 319) Assim, este princípio se desdobra em uma série de possibilidades, vez que permite uma defesa, dá possibilidades usos dos mais diversos dos meios de provas e garante uma boa possibilidade de defesa, porém também dá ao acusado uma 8 responsabilidade por provas utilizadas. Trata-se ainda de um princípio que é descrito na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º, LV, sendo então não somente um princípio penal e sim um item com força constitucional que não pode ser facilmente alterado ou retirado do escopo do ordenamento pátrio. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (BRASIL, 1988, online) Muito embora seja presente expressamente a ampla defesa como um direito garantido no ordenamento brasileiro, não se vê nenhuma explicação ou conceito específico. É evidente a questão principiologia que existe nesta exposição, vez que a norma somente faz menção e assim já garante este direito no ordenamento, sendo que a interpretação e conceituação do que é a ampla defesa fica a cargo da doutrina e da jurisprudência pátrias. Os pontos mais importantes da ampla defesa são os aspectos de autodefesa e defesa técnica, sendo estes considerados na doutrina pátria como subdivisões do dito princípio e tendo cada parte uma extrema importância para o processo penal. Neste sentido, Nucci (2015) e Greco (2017) apresentam que a autodefesa e a defesa técnica são partes igualmente importantes do princípio da ampla defesa. A autodefesa pode ser compreendida como a ação promovida pelo próprio acusado e comumente sendo o momento inicial de defesa da pessoa, questionando os motivos de uma persecução penal ou até mesmo de ações dos agentes investidos do poder do Estado. Nucci (2015) apresenta a autodefesa como a defesa promovida pelo acusado, utilizando-seargumentos e raciocínio lógico, o indivíduo acusado ou questionado até mesmo na fase inicial se exprime para defender seu Estado de inocência. É de conhecimento popular que uma autodefesa seja ato comum diante de uma acusação, considerando a inicial imputação de um fato delituoso a uma pessoa, o acusado se revolta e informa a impossibilidade de ter cometido o fato, podendo 9 informar ainda os motivos de tê-lo cometido ou usar de argumentos para expor sua defesa. A autodefesa pode ser observada especialmente nas fases iniciais da persecução penal, tais como o direito a audiência, a expressão do acusado no interrogatório ou seu direito de silêncio e podendo ser visto ainda na possibilidade de postular pessoalmente. O Acesso aos autos também é um dos itens evidentes da autodefesa, quando há análise do material por parte do próprio acusado, desta forma permitindo com que o acusado saiba exatamente de todos os itens, processos e conjunto probatório que atentam contra a sua presunção de inocência. (BRITO, 2015; LOPES JR, 2019) Súmula Vinculante 14 É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. (BRASIL, 2006, online) É evidente que a autodefesa é um pilar do princípio da ampla defesa, possibilitando que não somente um profissional jurídico como o advogado ou defensor seja o indivíduo da defesa, mas sim dando a possibilidade de que o próprio acusado se prepare e participe de diversas maneiras possíveis do processo de persecução penal. Há ainda a defesa técnica, a qual é a parte amis evidente do processo penal e mais explicita do princípio de ampla defesa, sendo parte indeclinável da ampla defesa e de todo o processo de persecução penal. É uma expressão do interesse do Estado na paridade processual e no devido processo legal, expondo a necessidade de uma defesa feita por um profissional técnico habilitado. Para desempenhar essa defesa há a figura do advogado ou defensor público, que aplica técnica jurídica em benefício do réu e na busca pela verdade processual. Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação fundamentada (BRASIL, 1941, online) Observa-se que o artigo 261 do Código de Processo Penal demonstra a 10 necessidade de defesa técnica e que o processo penal não pode se desenvolver sem a presença de uma figura técnica. Assim é evidente em como há a necessidade de presença do princípio da ampla defesa no processo penal. A defesa técnica é bem evidente no processo penal, sendo aquela atuação típica do profissional advogado que defende e move toda a sua habilidade e conhecimentos em favor do acusado ou réu. Tal defesa técnica não é apenas uma atuação simples do advogado, mas sim sua boa atuação com respeito as regras, técnicas e princípios jurídicos. (NUCCI, 2015) É papel do Juiz prestar uma certa fiscalização a este ponto de defesa técnica, visando garantir a ampla defesa, de forma que as ações do advogado ou defensor público sejam voltadas para benefício do acusado e não sejam eivadas de vícios pessoais ou convicções infundadas. (LOPES JR, 2019) Em síntese, a ampla defesa é um item que visa proteção do estado de inocência do acusado e bem como se liga a diversos outros pontos e princípios do ordenamento jurídico brasileiro. Assim a ampla defesa se evidencia como uma forma de defesa do estado de inocência perante as possíveis ações do Estado em uma persecução penal. Lima (2019) ainda apresenta que a ampla defesa rege influências em diversas ações de políticas públicas e do sistema judiciário, uma evidência disto é a duração razoável do processo e as diversas tentativas do poder público em manter um equilíbrio em economia processual e análise de todas as provas arroladas pela defesa. Muitas vezes ocorre o excesso de arrolamento de provas, tendo a ampla defesa como justificativa, porém a celeridade processual limitando este princípio em estudo. Há ainda a correlação da ampla defesa com uma série de outros princípios penais e constitucionais, de forma que a plenitude de defesa é considerada um desdobramento deste princípio maior e tendo impactos especialmente no Tribunal do Júri. 2 A PLENITUDE DE DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI A plenitude de defesa é um princípio jurídico nacional de grande 11 importância e que detém especial aplicação no Tribunal do Júri, sendo base regente deste tipo processual. Considerando a temática de estudo em tela e já explicito princípio da ampla defesa, torna-se necessário apresentar o que é a plenitude de defesa, seus conceitos, peculiaridades e teorias doutrinárias sobre tal princípio. Em início é necessário apresentar que este é um princípio penal presente na Constituição Federal de 1988 de forma expressa, especificamente no artigo 5º, XXXVIII, alínea a, sendo um dos pilares do Tribunal do Júri e uma garantia constitucional para que a persecução penal. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; (BRASIL, 1988, online) Nota-se que é assegurada a plenitude de defesa como um item essencial para o tribunal do júri e uma forma de dar armas para o réu em defender seu outro direito de presunção de inocência. A Constituição Federal de 1988 expressamente garante este princípio basilar, porém sendo este um princípio que figura no ordenamento brasileiro desde os períodos coloniais, sendo a primeira aparição em 1822 (TOLEDO, 1999) Nucci (2015) expõe que a apresentação do princípio da plenitude de defesa no patamar constitucional é apenas uma devida localização de um item basilar do processo do tribunal do júri, sendo o artigo 5º, XXXVIII e suas alíneas o ponto que expõe os pilares fundamentais do procedimento do tribunal do júri. O referido autor entende que este princípio ser explicito ou não na norma é apenas um detalhe, vez que já se arraigou ao sistema do tribunal do júri e a jurisprudência ou doutrina pátrias já entendem este princípio como uma base do tribunal do júri. Rangel (2018) apresenta que o tribunal do júri detém como base a plenitude de defesa a tempos, sendo uma forma de garantir todas as possibilidades de defesa ao réu, porém isso não garante que a plenitude de defesa vá ser respeitada em um Estado de exceção, de violações institucional e existindo até mesmo um momento como tal durante o período da ditadura militar onde provas eram violadas, falseadas e até mesmo destruídas para tornar o júri a vontade de poderosos daquele período. 12 Fato é que o Tribunal do Júri detém como raiz profunda a plenitude de defesa, sendo um aspecto essencial no convencimento dos jurados e uma forma com a qual o réu pode defender sua presunção de inocência. Dito isto, considera-se que em um Estado democrático de direito o tribunal do júri sempre terá como um de seus pilares a plenitude de defesa. Informado este princípio da plenitude de defesa como sendo uma base do tribunal do júri, surge a dúvida sobre o que é este princípio e quais os entendimentos doutrinários sobre tal tema. A norma pátria não elenca conceitos sobre este princípio, somente o expondo, tal como faz com o princípio da ampla defesa. Nucci (2015) e Bonfim (2012) entendem este princípio da plenitude de defesa como sendo uma especificação da ampla defesa,vez que detém o mesmo sendo do segundo, sendo apenas uma forma maior e ampla de dar armas para que o réu proteja sua presunção de inocência. Bonfim (2012) apresenta a plenitude de defesa como sendo a forma de defesa onde cabem teses não somente jurídicas ou até mesmo conjuntos probatórios que não usuais do processo penal pátrio, sendo uma base processual penal específica da defesa. Já para Nucci (2015) o princípio da plenitude de defesa é correlato da ampla defesa, porém com a distinção de ser aquele a forma mais completa e abstrata de defender-se, sendo permitido formas de defesa por teses sociológicas, psicológicas, morais, religiosas e outros meios para convencer os jurados de seus motivos para cometer o fato ou a impossibilidade de ser punido. A plenitude de defesa justifica-se na natureza jurídica e na forma de julgamento de crimes dolosos contra a vida, previstos no inciso XXXVIII do art. 5º da Constituição. A amplitude da defesa, específica do procedimento do júri, é maior do que a ampla defesa; a defesa plena envolve tanto a ampla defesa como o contraditório, consagra a produção de provas atípicas também, ampliando-se os meios possíveis de o acusado induzir o Conselho de Sentença sobre a sua inocência, sendo que o Conselho de Sentença que traz a ideia do julgamento pelos semelhantes (BRITO, 2015, p. 22) É evidente que o conceito da plenitude de defesa seja de uma argumentação nas mais diversas formas possíveis para que o conselho de sentença seja convencido da inocência ou influenciado, sendo princípio exclusivo para a defesa e no utilizado no tribunal do júri. 13 Nucci (2015) apresenta que a amplitude de defesa expõe uma forma de perfeita, ampla, completa de exercer sua defesa, praticamente inexistindo amarras para as teses argumentativas que podem ser apresentadas no plenário. Assim este princípio da plenitude de defesa se distingue da ampla defesa por esta ter mais amarras que aquela, bem como esta se aplicando em todo o processo penal, enquanto esta se aplica especificamente ao tribunal do júri. Bonfim (2018) apresenta especialmente que o princípio da amplitude de defesa é essencial diante da dinâmica que existe no tribunal do júri e na representação do povo que há no conselho de sentença. Os indivíduos do conselho de sentença não detêm conhecimento técnico e específico sobre o direito e assim representam o povo, podendo ser convencidos pelas mais diversas teorias e argumentos. A ideia de um tribunal do júri tem como elemento principal os indivíduos representantes do povo, o conselho de sentença, bem como estes sendo indivíduos leigos sem a ligação com o conhecimento técnico jurídico; diferenciando-se do juiz ou auxiliares da justiça. Toda esta dinâmica do tribunal do júri visa apresenta uma exposição da voz popular em um veredito complexo, assim a amplitude de defesa pode e deve figurar para verificar se o caso é compatível com a ordem moral e com os anseios da coletividade. Logicamente, a plenitude de defesa encontra-se dentro do princípio maior da ampla defesa, previsto no art. 5º, LV, da Constituição Federal. Além disso, na plenitude de defesa, inclui-se o fato de serem os jurados tirados de todas as classes sociais e não apenas de uma ou de algumas. (MORAES, 2017, p. 76) Neste sentido, a plenitude de defesa pode ser entendida e resumida como um princípio constitucional penal, derivado do princípio da ampla defesa, aplicável especificamente no tribunal do júri e que detém a função de dar as mais diversas possibilidades de argumentar em jus da defesa. Nucci (2015) esclarece que uma análise superficial da amplitude de defesa dá a errônea impressão de que seja um pinico que permite toda e qualquer argumentação, toda e qualquer prova ou até mesmo uma defesa que se utilize de quaisquer meios para se defender. Ocorre que há limites para a amplitude de defesa, não podendo este princípio violar outros princípios ou gerar teses em nível de aberração jurídica. Um exemplo dos limites da plenitude de defesa é o princípio da celeridade 14 e economia processual, existindo limites para testemunhas, tempo em plenário, conjuntos probatórios e até para argumentos apresentados durante a oratória no tribunal do júri. A celeridade e economia processual implica em um processo em tempo hábil e sem indevidas protelações, porém existindo até um limite aceitável de excessos no tribunal do júri para satisfazer o principio da amplitude de defesa (NUCCI, 2015) Há ainda teses complexas que se escoram no princípio da amplitude de defesa como uma forma de gerar argumentos de defesa que beiram o absurdo e de forma a tentar burlar as normas, princípios pátrios e até mesmo a moral coletiva. Este é o caso da tese de Legitima Defesa da Honra, argumento o qual surge uma possibilidade de justificativa para feminicídio diante de atentado extremo a honra do réu ou ao menos uma justificativa para o ato ilegal. É evidente que tal item não se sustenta por ser violador de diversos princípios como a dignidade da pessoa humana, proteção da vida, igualdade de gênero não se apresentar no rol de excludente de ilicitude (PUZIOL, 2021) Em mesmo ponto Nucci (2015) apresenta a impossibilidade de utilizar a plenitude de defesa como método protelatório ou como um argumento para abuso de recursos de forma a apresentar uma dita ineficiente defesa ou da não análise de todos os argumentos, quando se tenha dado causa para tais erros e ineficiência. Nota-se que muito embora o princípio da amplitude seja uma base do tribunal, não se permite o uso de tais princípios como salvaguardo para aberrações jurídicas ou violações de diversos outros princípios e regramentos jurídicos essenciais a ordem jurídica e da persecução penal. Em outros pontos há certa complexidade quando se fala sobre o uso de certos tipos probatórios e argumentos, tais como a carta psicografada ou argumentos religiosos em geral que sejam utilizados no convencimento dos jurados, isso pois a doutrina diverge sobre o uso da dita carta e se a utilização de argumentos religiosos detém limitações (GALVÃO, 2010) É certo que o princípio da amplitude de defesa permite uma argumentação plena e com uma série de permissibilidades que garantem munições para a defesa assegurar o estado de presunção de inocência. Ocorre que tal princípio detém suas complexidades e certas limitações. 15 16 3 O USO DA CARTA PSICOGRAFADA COMO MEIO DE PROVA Diante do entendimento do princípio da a ampla defesa e bem como da plenitude de defesa, é certo que uma série de ações podem ser utilizadas como forma de argumento e bem como o uso de provas passa a ser mais flexível. Assim há a possibilidade de alguns tipos de prova complexos, tal como a carta psicografada. A carta psicografada é considerada inegavelmente como um item advindo de questão religiosa, sendo uma expressão de matriz espirita e como uma manifestação do sobrenatural no mundo físico por intermédio de um indivíduo com habilidades para interpretar a vontade de seres espirituais. Neste sentido, Nucci (2020) apresenta que tal item é expressão clara de item sobrenatural e amparado pela liberdade de credo. [...] psicografia é uma capacidade de determinadas pessoas em escrever mensagens ditadas por espíritos. Tais espíritos utilizam o corpo dessas pessoas para transmitir mensagens, que podem ser desde pequenos textos até um romance extenso para ser publicado em um livro (VERDADEIRA, 2015, p. 1). Para Nucci (2020) não se pode negar a existência de uma carta psicografada, sendo ela uma expressão religiosa e que pode afetar até mesmo o ramo jurídico, porém com certa complexidade de seus usos no direito, isso pois, muito embora a carta seja abarcada por parte da expressão religiosa e sua liberdade a norma pátria é intricada e repleta de regras sobre suas formas de prova em juízo. Estulano (2006) apresentaque a carta psicografada parece ser item de materialização de não somente informações do plano espiritual, sendo em real a manifestação de um indivíduo que se encontra no mundo espiritual, mas que ainda detém questões a serem resolvidas no plano mortal. Galvão (2010) e Estulano (2006) entendem que a carta psicografada é uma expressão religiosa que deve ser considerada diante de uma dúvida no plano terreno, podendo ser analisada, periciada, comparada, testada e até mesmo confrontada com outros itens para que sua legitimidade seja auferida. Pode-se, portanto, dizer que todo o mundo é, mais ou menos, médium. Entretanto, usualmente, esta qualifcação só de aplica àqueles nos quais a faculdade medianímica está nitidamente caracterizada e traduz-se por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que 17 depende, então, de uma organização, mais ou menos, sensitiva. (GALVÃO, 2010, p. 185). A carta psicografada seria uma transcrição ipsi litteris das informações do indivíduo que habita o plano material e tendo esta carta até mesmo a grafia daquele ser sobrenatural. Como apresenta Henn (2021) a carta não é somente a palavra, mas sim a grafia, a forma de escrita, todo o dialeto e contexto do conteúdo escrito. Considerando que a carta psicografada vai além da simples informação escrita, existindo a grafia, dialeto, contexto e informações, há a possibilidade de uma dita pericia ou reconhecimento da carta psicografada para auferir sua veracidade e possível uso em juízo. No exame pericial devem ser confrontadas as grafias da mensagem psicografada e a grafia da pessoa quando viva. Aqui não se trata de “adivinhação”, e sim de exame respaldado cientificamente, porquanto são comparados vários hábitos gráficos (pontos característicos) tais como, pressão, direção, velocidade, ataques, remates, ligações, linhas de impulso, cortes do t, pingo do i, calibre, gênese, letras passantes, não passantes e dupla passantes, alinhamento gráfico, espaçamento gráfico, valores angulares e curvilíneos. (ESTULANO, 2006, p. 24) Os estudos de Estulano (2006) apresentam que há a possibilidade não somente do uso da carta psicografada em juízo, como sendo ainda mais permissível e garantido no direito penal em um processo do tribunal do júri, isso pois, os princípios de ampla defesa e plenitude de defesa garantem o uso de tal item. Henn (2021) apresenta especialmente que o campo jurídico pátrio da uma série de margens para a aplicação da carta psicografada, existindo a laicidade do Estado que considera a existência de diversas religiões e consequentemente de seus efeitos sobrenaturais; bem como o princípio da plenitude de defesa permitindo pleno uso de teses para defesa. Tal autor apresenta até que há norma que permitiria analisar e testar a veracidade da prova psicografada, considerando o artigo 174 do CPP. Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-se-á o seguinte: I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se for encontrada; II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida; III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, 18 ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados; IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever. (BRASIL, 1941, online) Há certos estudos, tal como o de Henn (2021), Galvão (2010) e Bonfim (2018), que entendem o uso de carta psicografada como possível de se analisar e até mesmo contestar em um tribunal do júri, vez que a análise de seu contudo, grafia, contexto e contraponto da carta com a realidade de outras provas é um meio de verificar a veracidade do item. Garcia (2010) em seus estudos específicos entende que o principal argumento contra o uso da carta psicografada é a paridade de armas e o princípio da igualdade processual. A carta psicografada jamais permitiria sua real contestação ou contraposição, isso pois, não há um real e irrestrito acesso a fonte da carta psicografada, o plano sobrenatural, assim violando a paridade de armas e o princípio da igualdade processual. Nucci (2020) apresenta similar entendimento ao de Garcia (2010), apresentando que a carta psicografada não seria uma prova de fato, mas sim uma forma de auxílio processual, isso por não existir forma real de garantir a veracidade da prova. O perigo na utilização da psicografia no processo penal é imenso. Fere-se preceito constitucional de proteção à crença de cada brasileiro; lesa-se o princípio do contraditório; coloca-se em risco a credibilidade das provas produzidas; invade-se a seara da ilicitude das provas; pode-se, inclusive, romper o princípio da ampla defesa. Ilustremos situação contrária: o promotor de justiça junta aos autos uma psicografia da vítima morta, transmitida por um determinado médium, pedindo justiça e a condenação do réu Z, pois foi ele mesmo o autor do homicídio. Até então nenhuma prova da autoria existia. Aceita-se a prova? E a ampla defesa? Como será exercida? Conseguiria o defensor uma outra psicografia desautorizando a primeira? Enfim, religiões existem para dar conforto espiritual aos seres humanos, mas jamais para transpor os julgamentos dos tribunais de justiça para os centros espíritas (NUCCI, 2020, p. 621) Os conhecimentos e ensinamentos de Nucci (2020) demonstram com facilidade que ao menos o princípio da igualdade é violado, isso pois, uma carta psicografada jamais seria aceira por parte de apresentação da acusação. Assim um 19 fator que é extremamente arraigado a religião não poderia ser utilizado como forma para transpor os julgamentos dos tribunais de justiça para uma forma de análise sobrenatural. É notável que a questão seja complexa, existindo especialmente princípios processuais se contrapondo, estando de um lado o princípio da plenitude de defesa e de outro ponto o princípio da igualdade processual. Ocorre que a plenitude de defesa parece superar essa ideia de igualdade ao menos no tribunal do júri, considerando os diversos casos pátrios em que a carta psicografada é utilizada. Há diversos julgamentos no país em que a carta psicografada foi utilizada como uma forma de prova ou ao menos como um item de tentativa de convencimento para com o conselho de sentença. Alguns casos que são notáveis são: o julgamento de José Divino Nunes (1979); julgamento de José Francisco Marcondes de Deus (1980); julgamento de Iara Marques Barcelos (2003); e o julgamento da Boate Kiss (2021) O Caso de José Divino Nunes, em 1979, foi o primeiro caso pátrio e talvez mundial a constar na sentença a menção a uma carta psicografada como sendo a fonte de influência no processo de persecução penal e ainda mais sendo considerado como expressão da vítima post mortem. Temos que dar credibilidade à mensagem de fls. 170, embora na esfera jurídica ainda não mereceu nada igual, em que a própria vítima, após sua morte, vem relatar e fornecer dados ao julgador para sentenciar. Na mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, a vítima relata o fato e isenta de culpa o acusado. Fala da brincadeira com o revólver e o disparo da arma. Coaduna este relato, com as declarações prestadas pelo acusado, quando de seu interrogatório, às fls. 100/VS. (XAVIER e ARANTES, 1982, p. 12) Não há documentação original sobre este referido caso, somente relatos específicos do famoso médium Chico Xavier, mas sendoreconhecidamente existente em jornais o referido caso e bem como informado nas obras de Chico Xavier como sendo um momento de importância de sua vida. Já os casos de José Francisco Marcondes de Deus, em 1980, e o caso de Iara Marques Barcelos (2003) são mais recentes e tendo alta repercussão no meio jurídico. Enquanto o primeiro caso foi tratado apenas como uma raridade jurídica, os outros casos referidos começaram a levantar teses sobre o uso da carta psicografada, seus limites e até mesmo a validade de tal prova (GARCIA, 2010) 20 Garcia (2010) apresenta que até o século passado nada realmente apontava para contradições do uso da carta psicografada, isso pois, nos casos do século XX existiam conjuntos probatórios diversos onde a carta psicografada não era protagonista do processo. O caso mais emblemático para o direito pátrio foi o de Iara Marques Barcelos, do ano de 2003, no qual a carta psicografada foi item de protagonismo, sendo especialmente influente em um caso obscuro sobre a autoria da ré. Existindo então apelação e um recurso que levou a necessidade de posicionamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o caso. JÚRI. DECISÃO ABSOLUTÓRIA. CARTA PSICOGRAFADA NÃO CONSTITUI MEIO ILÍCITO DE PROVA. DECISÃO QUE NÃO SE MOSTRA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. Carta psicografada não constitui meio ilícito de prova, podendo, portanto, ser utilizada perante o Tribunal do Júri, cujos julgamentos são proferidos por íntima convicção. Havendo apenas frágeis elementos de prova que imputam à pessoa da ré a autoria do homicídio, consistentes sobretudo em declarações policiais do có-réu, que depois delas se retratou, a decisão absolutória não se mostra manifestamente contrária à prova dos autos e, por isso, deve ser mantida, até em respeito ao preceito constitucional que consagra a soberania dos veredictos do Tribunal do Júri. Apelo improvido. (AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.389.293 - RS (2011/0037429-0), Relator: Min. RIBEIRO DANTAS - QUINTA TURMA; DJe: 21/06/2012) A apresentada decisão enumera a carta psicografada como claramente aceitável, considerando o caso de Iara Marques Barcelos, parece ser evidente que a plenitude de defesa impera e permite que a carta psicografada seja utilizada por parte da defesa. Garcia (2010) apresenta que é necessário cuidado sobre a temática apresentada, muito embora parece prevalecer o princípio da plenitude de defesa, a aplicação de carta psicografada necessita de atenção e não pode ser o único ponto de defesa. A temática em tela não foi solucionada com a análise do STJ, vez que aquele posicionamento parece claramente estar mais arraigado ao caso do que realmente criar uma jurisprudência consolidada e geral sobre o tema. Assim nascendo diversas propostas legislativas que visam impedir tal forma de prova no direito. Alguns dos projetos que visavam impedir o uso de carta psicografada foram o Projeto de Lei (PL) 1.705 de 2007, e o Projeto de Lei 3.314 de 2008. Ambos os 21 projetos visavam especificamente alterar o Código de Processo Penal pátrio para impedir o uso de itens similares a carta psicografada. Henn (2021) apresenta que muito embora existam propostas legislativas que visam evitar o uso de carta psicografada, nenhuma prosperou no legislativo, isso pois, há tanto uma ineficiência legislativa em atualizar o código pátrio, tanto existindo uma diminuta quantidade de usos de carta psicografada, assim a doutrina e jurisprudência podem facilmente tomar conta de solucionar os poucos casos existentes. Diante de tais informações apresentadas e evidente em como a carta psicografada é um tema complexo e inexistindo consenso judiciário sobre seus limites, existindo um claro embate entre o princípio da plenitude de defesa e a igualdade processual das partes. É certo ainda que o uso da carta psicografada no país é certo e até o momento inexistem casos onde uma prova deste tipo tenha sido retirada do processo por decisão judicial, ainda mais considerando que isso poderia facilmente ferir o princípio da plenitude de defesa. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo apresentado em tela, considerando o tema do uso da carta psicografada no direito pátrio e sua garantia por parte do princípio da plenitude de defesa, demonstra que este é um tema complexo, no qual grande doutrinador questiona seu uso, Nucci (2020). O princípio maior da ampla defesa garante ao acusado ou réu no processo penal uma forma de se defender que garante acesso a todo processo, garantia de armas para se defender, uma boa defesa e especialmente possibilita o uso de diversas teses de defesa. Ocorre que este princípio detém uma série de limite e, via de regra, sendo a autodefesa em conjunto com a defesa técnica apenas. Assim, o princípio de ampla defesa confere ao processo penal pátrio as formas corretas e garantias de defesa para que a persecução penal seja justa, possibilitando ao acusado defender seu estado de inocência de uma ingerência ou injustiça por parte do Estado. 22 Sendo o princípio da plenitude de defesa algo a mais que o princípio da ampla defesa, este primeiro permite uma forma mais avançada de defesa e se aplicando apenas no tribunal do júri. A plenitude de defesa dá formas extremas para a defesa e permite o uso de teses que sejam bem interpretativas e influenciem facilmente o conselho de sentença. Uma das questões polêmicas que se escora na amplitude de defesa é a possibilidade do uso da carta psicografada como uma forma de defesa, até sendo considerado como uma prova processual, permitindo uma forma de contato com o mundo espiritual de influenciar o mundo mortal. A carta psicografada é amparada pela plenitude de defesa e utilizada no direito pátrio como uma forma de influenciar os jurados em um tribunal, porém o seu uso é criticado por certos autores como Nucci (2020) por esbarrar no princípio da igualdade e bem como trazer para seara jurídica uma temática religiosa complexa. Da análise das teorias jurídicas, de certos casos do direito pátrio, e especialmente de informações doutrinárias, nota-se a real permissibilidade do uso da carta psicografada. A amplitude de defesa supera claramente outras questões e permite que a carta psicografada seja utilizada como uma forma de influência para com o conselho de sentença. Inexiste uma clara limitação para o uso da carta psicografada, parece haver apenas a limitação ao seu uso exclusivo no tribunal do júri, vez que seu fundamento de uso que é a plenitude de defesa se aplica especificamente ao tribunal do júri. Porém, não há clara menção doutrinária, jurisprudencial ou até mesmo acadêmica sobre limites quaisquer do uso da carta psicografada. REFERÊNCIAS BADARO, Gustavo Henrique Righi Ivahy. Ônus da prova no processo penal I Gustavo Henrique Righi lvahy Badar6, - Sao Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. BONFIM, Edilson Mougenot. Júri : do inquérito ao plenário / Edilson Mougenot Bonfim. — 4. ed. – São Paulo : Saraiva, 2012. BONFIM, Edilson Mougenot. No tribunal do júri / Edilson Mougenot Bonfim. – 6. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018. BRITO, Alexis Couto de. Processo penal brasileiro / Alexis Couto de Brito, 23 Humberto Barrionuevo Fabretti, Marco Antônio Ferreira Lima. – 3. ed. – São Paulo : Atlas, 2015. BRASIL, DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941. Código de Processo Penal. D.O.U de 13/10/1941, pág. nº 19699, Rio de Janeiro, em 3 de outubro de 1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/del3689compilado.htm. 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