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FACULDADE EVANGÉLICA DE GOIANÉSIA 
BACHAREL EM DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: USOS DA CARTA 
PSICOGRAFADA NO TRIBUNAL JÚRI 
 
DANYELLA FERNANDES DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GOIANÉSIA - GO 
2022
 
DANYELLA FERNANDES DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: Usos da carta 
psicografada no Tribunal Júri 
 
 
 
 
Artigo Científico apresentado junto ao Curso de 
Direito da FACEG (Faculdade Evangélica de 
Goianésia), como exigência parcial para a 
obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
 
Orientador Prof. Ma. Cristiane Ingrid de Souza 
Bonfim 
 
 
 
 
 
 
 
GOIANÉSIA - GO 
2022 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: Usos da carta psicografada no 
Tribunal Júri 
 
 
 
 
Este Artigo Científico foi julgado adequado para a obtenção do título de Bacharel em 
Direito e aprovado em sua forma final pela banca examinadora da Faculdade 
Evangélica de Goianésia/GO- FACEG 
 
 
 
Aprovada em, xx de xx de 2022 
 
Nota Final_____ 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
 
 
Prof. Ma. Cristiane Ingrid de Souza Bonfim 
Orientador 
 
 
 
Prof. Me. 
Professor convidado 1 
 
 
 
Prof. Esp. 
Professor convidado 2 
 
3 
 
O PRINCÍPIO DA AMPLITUDE DE DEFESA: USOS DA CARTA 
PSICOGRAFADA NO TRIBUNAL JÚRI 
 
THE PRINCIPLE OF DEFENSE RANGE: USES OF 
PSYCHOGRAPHED LETTER IN THE JURY COURT 
 
Danyella Fernandes Da Silva ¹ 
Cristiane Ingrid de Souza Bonfim² 
 
1 Discente do curso de Direito da Faculdade Evangélica de Goianésia- e-mail: danyellafernandes05@gmail.com 
2 Docente do curso de Direito da Faculdade Evangélica de Goianésia- e-mail: cristiane481@hotmail.com 
 
RESUMO 
O estudo tem como tema o princípio da amplitude de defesa e o uso da carta psicografada no 
tribunal do jurí, analisando a ampla defesa, a plenitude de defesa e as possibilidades de uso 
da carta psicografada no direito pátrio. A justificativa do estudo é análise da prova específica 
de carta psicografada no processo penal pátrio e quais seus limites. O objetivo geral do estudo 
é de Demonstrar a ilegalidade ou legalidade da utilização das cartas psicografadas no 
processo penal. Já os objetivos específicos do estudo são de Abordar os princípios 
estabelecidos no Código de Processo Penal, Apresentar os critérios legais que regulamentam 
a efetivação dessas cartas no processo penal, Analisar os casos reais de uso das cartas 
psicografadas no tribunal do júri. A metodologia do estudo é de revisão bibliográfica, pesquisa 
exploratória, análise documental e pesquisa básica. O estudo conclui que o princípio da 
amplitude de defesa permite o uso da carta psicografada por parte da defesa, inexistindo 
limites claros de seu uso, sendo uso específico no tribunal do júri. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Direito Penal. Carta Psicografada. Júri. 
 
ABSTRACT 
The study has as its theme the principle of defense amplitude and the use of the psychographed letter 
in the jury court, analyzing a broad, the fullness of defense and the possibilities of using the 
psychographed letter in the country's law. The study's justification is the analysis of the specific evidence 
of a psychographed letter in the pariah criminal process and what its limits are. The general objective of 
the study is to demonstrate the illegality or legality of the use of psychographed letters in criminal 
proceedings. The specific objectives of the jury are to approach the principles established in the Criminal 
Procedure Code, which fulfilled the obligation to regulate the effectiveness of letters in criminal 
proceedings, to analyze the cases of use of the court's actual letters. The study methodology is a 
literature review, exploratory research, basic analysis. The study concludes that the principle of the 
breadth of defense allows the use of the psychographed letter by the defense, with no clear limits on its 
use, being specific use in the jury court. 
 
KEY WORDS: Criminal Law. Psychographed Letter. Jury. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O direito penal brasileiro detém uma série de peculiaridades e 
desenvolvimentos de persecução penal, uma destas peculiaridades são as formas de 
prova, de forma que os recursos probatórios detêm uma série de limites e princípios 
4 
 
presentes no direito penal, constitucional e processual penal. 
Há diversas polêmicas no direito pátrio sobre o uso de provas ilegais em 
benefício do réu, os limites da obtenção de provas, tipos de provas e até mesmo o tão 
conhecido item da prova psicografada como uma fonte probatória no tribunal do júri 
que permite não somente a ampla defesa e sim uma plenitude de defesa. 
A psicografia consiste no fenômeno psíquico, onde por meio de um 
intermediário chamado médiuns comunica-se através de cartas escritas. O presente 
estudo vislumbra expender a possibilidade da utilização da carta psicografada como 
meio de prova perante o Tribunal do Júri, sob a sujeição de análise pericial 
grafotécnica para que se possibilite uma apreciação da prova desvinculada do caráter 
estritamente religioso, mas tendo como base para sua comprovação de autenticidade 
a aplicação de perícia no documento. 
A prova é elemento básico e fundamental no âmbito processual, pois busca 
evidenciar a existência ou inexistência das circunstâncias a verdade dos fatos que 
ensejaram o início da persecução penal (persecutio criminus). Ocorre que o uso de 
um item psicografado pressupõe a ideia de materialização de informações que não 
pertence mais ao plano mortal. 
Sabe-se que a prova é fundamental para o processo penal, pois a partir 
dela que o julgador forma de maneira livre. A análise da psicografia como meio de 
prova traduz a discussão sobre sua legitimidade e o cabimento frente aos princípios 
que regem o ordenamento jurídico. Por este motivo, o propósito desta pesquisa é 
trabalhar o tema desvinculando-se de crenças religiosas e convicções pessoais, 
considerando-se aspectos jurídicos e científicos. Onde por meio dessa análise fica 
explicito o questionamento: O uso da psicografia como meio de prova licito no 
processo penal vai contra os princípios estabelecidos no Código Processual Penal? 
O processo penal é utilizado como instrumento de apuração das infrações 
criminais e consequente aplicação da lei considerando ao caso concreto. Existindo as 
provas como meio de garantir o fundamento de defesa ou acusação desta dita 
persecução penal. Diante disto a justificativa do estudo é análise da prova específica 
de carta psicografada vez que existem casos no brasil, onde ocorreu um minucioso 
trabalho pericial nas cartas psicografadas introduzidas ao processo, foram 
comprovadas a autenticidade da escrita da pessoa falecida com a do documento em 
análise, a mesma foi em processo que o crime era homicídio 
O objetivo geral do estudo é de Demonstrar a ilegalidade ou legalidade da 
5 
 
utilização das cartas psicografadas no processo penal. Já os objetivos específicos do 
estudo são de Abordar os princípios estabelecidos no Código de Processo Penal, 
Apresentar os critérios legais que regulamentam a efetivação dessas cartas no 
processo penal, Analisar os casos reais de uso das cartas psicografadas no tribunal 
do júri. 
Sobre a metodologia utilizada no estudo, trata-se de método de revisão 
bibliográfica e pesquisa exploratória, analisando a obra doutrinaria pátria e 
interpretação sobre o uso da prova que enseja tema do estudo. O estudo é ainda uma 
pesquisa qualitativa e quantitativa, informando sobre os conceitos do tema e dados 
sobre seu uso nos tribunais pátrios. 
Os principais autores utilizados são, dentre outros, os seguintes XXXXX 
Ao final do estudo conclui-se que xxxxxxxx 
 
 
1 O PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E SEU DOMÍNIO NO 
ORDENAMENTO PÁTRIO 
 
Os princípios penais detêm uma grande importância no direito, de forma 
que são os itens que garantem uma base em que as normas e toda interpretação 
destadevem estar alinhadas. Um princípio dá base e fundamento para a aplicação e 
interpretação da norma, sendo parte fundamental de um ordenamento jurídico. 
Um princípio jurídico é descrito por Nucci (2015) como algo primário, 
elemento predominante e um tipo de ideia comum que existe em um ordenamento ou 
sistema. No direito os princípios são existentes para assegurar e limitar a aplicação 
da norma ou até mesmo a formação de uma norma. 
Os princípios jurídicos são considerados até mesmo como normas com 
elevado grau de generalidade e que se aplicam a diversas situações, casos ou 
problemas de um ordenamento. Assim os princípios regem a generalidade e fazem 
com que situações em concreto sejam mais fáceis de se decidir e a aplicam das 
normas seja limitada para respeitar aos princípios. Nucci (2015) entende que o 
princípio jurídico é limitante a norma e auxilia a compreensão do justo em um caso 
concreto. 
É evidente que um princípio é algo básico e generalista, que se aplica em 
6 
 
diversas situações distintas e sendo um regamento implícito de um ordenamento ou 
sistema. Muitas vezes o direito pátrio expõe seus princípios no texto legal, porém é 
evidente que diversos princípios são interpretações das normas e um conhecimento 
comum tão generalizado que se trata de algo não necessário a ser expresso na norma. 
Silva (2020) expõe em seus ensinamentos que um princípio não é somente 
um auxílio a norma, mas sim uma base para o ordenamento do qual as normas 
derivam, sendo ainda os princípios jurídicos a parte normativa de um ordenamento 
que mais se aproxima do entendimento ou conhecimento popular. 
Nucci (2015) ainda apresenta a grande importância dos princípios no 
ordenamento pátrio moderno, vez que a complexidade do sistema legislativo brasileiro 
e a falta de padronização ou segurança jurídica das fontes normativa do direito gera 
uma série de interpretações diversas, normas conflitantes e até mesmo alguns casos 
de vácuo normativo. Em geral, a Constituição Federal de 1988 é a fonte maior dos 
princípios pátrios que limitam as normas inferiores e criam um ordenamento no país. 
É evidente que a Constituição Federal de 1988, sendo a norma máxima do 
país, seria também a fonte principal de princípios em todo o ordenamento jurídico 
brasileiro¸ porém cada ordenamento também detém seus princípios próprios que 
advém de fontes como a doutrina, a jurisprudência e normas específicas de cada 
ramificação do direito. 
No ordenamento brasileiro, considerando o ramo do direito penal, existem 
uma série de princípios que regem a forma da persecução penal e garantem o 
funcionamento do ordenamento. Um destes princípios e que detém grande 
importância é o de ampla defesa, o qual se vê presente na constituição de forma 
explicita e no direito processual penal de forma implícita. 
 
A ampla possibilidade de se defender representa a mais copiosa, 
extensa e rica chance de preservar o estado de inocência, outro 
atributo natural do ser humano. Não se deve cercear a autoproteção, 
a oposição ou a justificação apresentada; ao contrário, exige-se a 
soltura das amarras formais, porventura existentes no processo, para 
que se cumpra, fielmente, a Constituição Federal. Envolve todos os 
estágios procedimentais onde se colha prova definitiva acerca da 
culpa de alguém, preferindo-se acolhê-la em excesso, em lugar de 
restringi-la por cautela. A ampla defesa jamais pode ser constituída de 
ato formal, sem substância e eficiência, pois se cuida de interesse 
indisponível do indivíduo, merecendo integral contemplação estatal. 
(NUCCI, 2015, p. 324) 
 
7 
 
Nota-se que este item de ampla defesa é um mecanismo básico da 
persecução penal justa, de forma que dá armas para a defesa conseguir se afastar de 
quais formas de injustas de punição por parte do Estado. Greco (2017) entende este 
como um direito que visa garantir sua proteção como indivíduo inocente e evitar 
injustas agressões por parte do Estado. 
Já para Nucci (2015) a ampla defesa é um item quase que subsidiário do 
princípio da presunção de inocência ou um princípio correlato a este, sendo um ponto 
de grande importância não somente no direito penal, mas sim em todo o ordenamento 
jurídico pátrio. 
Brito (2015) expõe ainda que a ampla defesa pode ser compreendida como 
elemento essencial do processo de persecução penal e de um processo judicial 
moderno, vez que não basta uma apresentação simplória de defesa, a defesa deve 
ser efetiva e deter de elementos que assegurem a verdade processual. Assim, no 
sentido do autor referido, a ampla defesa é o princípio que dá vezes para a defesa se 
exprimir de diversas formas diferentes e com diversas armas, podendo garantir uma 
qualidade satisfatória de defesa e da busca pela verdade. 
A amplitude de defesa é essencial na persecução pois dá uma garantia que 
a parte de defesa poderá trazer para a luz processual todos os elementos probatórios 
ou analisar todas as informações presentes para que seja desempenhada a sua 
defesa técnica. Assim, este princípio dá armas para que o acusado ou réu e permite 
desenvolver sua garantia constitucional de inocência até o trânsito em julgado de 
condenação. 
Silva (2020) apresenta o princípio da amplitude de defesa como sendo o 
cerne da defesa processual penal, vez que é este princípio que dá base para a 
produção de diversos tipos de provas que sejam essenciais para a elucidação do caso 
concreto e garantia da verdade. 
 
O princípio da ampla defesa determina a participação efetiva no 
processo penal, abrangendo a autodefesa, a defesa técnica, a defesa 
efetiva e a possibilidade de utilização de todos os meios de prova 
passíveis de demonstrar a inocência do acusado, incluindo as provas 
obtidas ilicitamente (SILVA, 2020, p. 319) 
 
Assim, este princípio se desdobra em uma série de possibilidades, vez que 
permite uma defesa, dá possibilidades usos dos mais diversos dos meios de provas e 
garante uma boa possibilidade de defesa, porém também dá ao acusado uma 
8 
 
responsabilidade por provas utilizadas. 
Trata-se ainda de um princípio que é descrito na Constituição Federal de 
1988 em seu artigo 5º, LV, sendo então não somente um princípio penal e sim um 
item com força constitucional que não pode ser facilmente alterado ou retirado do 
escopo do ordenamento pátrio. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, 
com os meios e recursos a ela inerentes; (BRASIL, 1988, online) 
 
Muito embora seja presente expressamente a ampla defesa como um 
direito garantido no ordenamento brasileiro, não se vê nenhuma explicação ou 
conceito específico. É evidente a questão principiologia que existe nesta exposição, 
vez que a norma somente faz menção e assim já garante este direito no ordenamento, 
sendo que a interpretação e conceituação do que é a ampla defesa fica a cargo da 
doutrina e da jurisprudência pátrias. 
Os pontos mais importantes da ampla defesa são os aspectos de 
autodefesa e defesa técnica, sendo estes considerados na doutrina pátria como 
subdivisões do dito princípio e tendo cada parte uma extrema importância para o 
processo penal. Neste sentido, Nucci (2015) e Greco (2017) apresentam que a 
autodefesa e a defesa técnica são partes igualmente importantes do princípio da 
ampla defesa. 
A autodefesa pode ser compreendida como a ação promovida pelo próprio 
acusado e comumente sendo o momento inicial de defesa da pessoa, questionando 
os motivos de uma persecução penal ou até mesmo de ações dos agentes investidos 
do poder do Estado. Nucci (2015) apresenta a autodefesa como a defesa promovida 
pelo acusado, utilizando-seargumentos e raciocínio lógico, o indivíduo acusado ou 
questionado até mesmo na fase inicial se exprime para defender seu Estado de 
inocência. 
É de conhecimento popular que uma autodefesa seja ato comum diante de 
uma acusação, considerando a inicial imputação de um fato delituoso a uma pessoa, 
o acusado se revolta e informa a impossibilidade de ter cometido o fato, podendo 
9 
 
informar ainda os motivos de tê-lo cometido ou usar de argumentos para expor sua 
defesa. 
A autodefesa pode ser observada especialmente nas fases iniciais da 
persecução penal, tais como o direito a audiência, a expressão do acusado no 
interrogatório ou seu direito de silêncio e podendo ser visto ainda na possibilidade de 
postular pessoalmente. O Acesso aos autos também é um dos itens evidentes da 
autodefesa, quando há análise do material por parte do próprio acusado, desta forma 
permitindo com que o acusado saiba exatamente de todos os itens, processos e 
conjunto probatório que atentam contra a sua presunção de inocência. (BRITO, 2015; 
LOPES JR, 2019) 
 
Súmula Vinculante 14 
É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo 
aos elementos de prova que, já documentados em procedimento 
investigatório realizado por órgão com competência de polícia 
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa. (BRASIL, 
2006, online) 
 
É evidente que a autodefesa é um pilar do princípio da ampla defesa, 
possibilitando que não somente um profissional jurídico como o advogado ou defensor 
seja o indivíduo da defesa, mas sim dando a possibilidade de que o próprio acusado 
se prepare e participe de diversas maneiras possíveis do processo de persecução 
penal. 
Há ainda a defesa técnica, a qual é a parte amis evidente do processo penal 
e mais explicita do princípio de ampla defesa, sendo parte indeclinável da ampla 
defesa e de todo o processo de persecução penal. É uma expressão do interesse do 
Estado na paridade processual e no devido processo legal, expondo a necessidade 
de uma defesa feita por um profissional técnico habilitado. Para desempenhar essa 
defesa há a figura do advogado ou defensor público, que aplica técnica jurídica em 
benefício do réu e na busca pela verdade processual. 
 
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será 
processado ou julgado sem defensor. 
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defensor 
público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação 
fundamentada (BRASIL, 1941, online) 
 
Observa-se que o artigo 261 do Código de Processo Penal demonstra a 
10 
 
necessidade de defesa técnica e que o processo penal não pode se desenvolver sem 
a presença de uma figura técnica. Assim é evidente em como há a necessidade de 
presença do princípio da ampla defesa no processo penal. 
A defesa técnica é bem evidente no processo penal, sendo aquela atuação 
típica do profissional advogado que defende e move toda a sua habilidade e 
conhecimentos em favor do acusado ou réu. Tal defesa técnica não é apenas uma 
atuação simples do advogado, mas sim sua boa atuação com respeito as regras, 
técnicas e princípios jurídicos. (NUCCI, 2015) 
É papel do Juiz prestar uma certa fiscalização a este ponto de defesa 
técnica, visando garantir a ampla defesa, de forma que as ações do advogado ou 
defensor público sejam voltadas para benefício do acusado e não sejam eivadas de 
vícios pessoais ou convicções infundadas. (LOPES JR, 2019) 
Em síntese, a ampla defesa é um item que visa proteção do estado de 
inocência do acusado e bem como se liga a diversos outros pontos e princípios do 
ordenamento jurídico brasileiro. Assim a ampla defesa se evidencia como uma forma 
de defesa do estado de inocência perante as possíveis ações do Estado em uma 
persecução penal. 
Lima (2019) ainda apresenta que a ampla defesa rege influências em 
diversas ações de políticas públicas e do sistema judiciário, uma evidência disto é a 
duração razoável do processo e as diversas tentativas do poder público em manter 
um equilíbrio em economia processual e análise de todas as provas arroladas pela 
defesa. Muitas vezes ocorre o excesso de arrolamento de provas, tendo a ampla 
defesa como justificativa, porém a celeridade processual limitando este princípio em 
estudo. 
Há ainda a correlação da ampla defesa com uma série de outros princípios 
penais e constitucionais, de forma que a plenitude de defesa é considerada um 
desdobramento deste princípio maior e tendo impactos especialmente no Tribunal do 
Júri. 
 
 
2 A PLENITUDE DE DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI 
 
A plenitude de defesa é um princípio jurídico nacional de grande 
11 
 
importância e que detém especial aplicação no Tribunal do Júri, sendo base regente 
deste tipo processual. Considerando a temática de estudo em tela e já explicito 
princípio da ampla defesa, torna-se necessário apresentar o que é a plenitude de 
defesa, seus conceitos, peculiaridades e teorias doutrinárias sobre tal princípio. 
Em início é necessário apresentar que este é um princípio penal presente 
na Constituição Federal de 1988 de forma expressa, especificamente no artigo 5º, 
XXXVIII, alínea a, sendo um dos pilares do Tribunal do Júri e uma garantia 
constitucional para que a persecução penal. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que 
lhe der a lei, assegurados: 
a) a plenitude de defesa; (BRASIL, 1988, online) 
 
Nota-se que é assegurada a plenitude de defesa como um item essencial 
para o tribunal do júri e uma forma de dar armas para o réu em defender seu outro 
direito de presunção de inocência. A Constituição Federal de 1988 expressamente 
garante este princípio basilar, porém sendo este um princípio que figura no 
ordenamento brasileiro desde os períodos coloniais, sendo a primeira aparição em 
1822 (TOLEDO, 1999) 
Nucci (2015) expõe que a apresentação do princípio da plenitude de defesa 
no patamar constitucional é apenas uma devida localização de um item basilar do 
processo do tribunal do júri, sendo o artigo 5º, XXXVIII e suas alíneas o ponto que 
expõe os pilares fundamentais do procedimento do tribunal do júri. O referido autor 
entende que este princípio ser explicito ou não na norma é apenas um detalhe, vez 
que já se arraigou ao sistema do tribunal do júri e a jurisprudência ou doutrina pátrias 
já entendem este princípio como uma base do tribunal do júri. 
Rangel (2018) apresenta que o tribunal do júri detém como base a plenitude 
de defesa a tempos, sendo uma forma de garantir todas as possibilidades de defesa 
ao réu, porém isso não garante que a plenitude de defesa vá ser respeitada em um 
Estado de exceção, de violações institucional e existindo até mesmo um momento 
como tal durante o período da ditadura militar onde provas eram violadas, falseadas 
e até mesmo destruídas para tornar o júri a vontade de poderosos daquele período. 
12 
 
Fato é que o Tribunal do Júri detém como raiz profunda a plenitude de 
defesa, sendo um aspecto essencial no convencimento dos jurados e uma forma com 
a qual o réu pode defender sua presunção de inocência. Dito isto, considera-se que 
em um Estado democrático de direito o tribunal do júri sempre terá como um de seus 
pilares a plenitude de defesa. 
Informado este princípio da plenitude de defesa como sendo uma base do 
tribunal do júri, surge a dúvida sobre o que é este princípio e quais os entendimentos 
doutrinários sobre tal tema. A norma pátria não elenca conceitos sobre este princípio, 
somente o expondo, tal como faz com o princípio da ampla defesa. 
Nucci (2015) e Bonfim (2012) entendem este princípio da plenitude de 
defesa como sendo uma especificação da ampla defesa,vez que detém o mesmo 
sendo do segundo, sendo apenas uma forma maior e ampla de dar armas para que o 
réu proteja sua presunção de inocência. 
Bonfim (2012) apresenta a plenitude de defesa como sendo a forma de 
defesa onde cabem teses não somente jurídicas ou até mesmo conjuntos probatórios 
que não usuais do processo penal pátrio, sendo uma base processual penal específica 
da defesa. 
Já para Nucci (2015) o princípio da plenitude de defesa é correlato da ampla 
defesa, porém com a distinção de ser aquele a forma mais completa e abstrata de 
defender-se, sendo permitido formas de defesa por teses sociológicas, psicológicas, 
morais, religiosas e outros meios para convencer os jurados de seus motivos para 
cometer o fato ou a impossibilidade de ser punido. 
 
A plenitude de defesa justifica-se na natureza jurídica e na forma de 
julgamento de crimes dolosos contra a vida, previstos no inciso 
XXXVIII do art. 5º da Constituição. A amplitude da defesa, específica 
do procedimento do júri, é maior do que a ampla defesa; a defesa 
plena envolve tanto a ampla defesa como o contraditório, consagra a 
produção de provas atípicas também, ampliando-se os meios 
possíveis de o acusado induzir o Conselho de Sentença sobre a sua 
inocência, sendo que o Conselho de Sentença que traz a ideia do 
julgamento pelos semelhantes (BRITO, 2015, p. 22) 
 
É evidente que o conceito da plenitude de defesa seja de uma 
argumentação nas mais diversas formas possíveis para que o conselho de sentença 
seja convencido da inocência ou influenciado, sendo princípio exclusivo para a defesa 
e no utilizado no tribunal do júri. 
13 
 
Nucci (2015) apresenta que a amplitude de defesa expõe uma forma de 
perfeita, ampla, completa de exercer sua defesa, praticamente inexistindo amarras 
para as teses argumentativas que podem ser apresentadas no plenário. Assim este 
princípio da plenitude de defesa se distingue da ampla defesa por esta ter mais 
amarras que aquela, bem como esta se aplicando em todo o processo penal, enquanto 
esta se aplica especificamente ao tribunal do júri. 
Bonfim (2018) apresenta especialmente que o princípio da amplitude de 
defesa é essencial diante da dinâmica que existe no tribunal do júri e na representação 
do povo que há no conselho de sentença. Os indivíduos do conselho de sentença não 
detêm conhecimento técnico e específico sobre o direito e assim representam o povo, 
podendo ser convencidos pelas mais diversas teorias e argumentos. 
A ideia de um tribunal do júri tem como elemento principal os indivíduos 
representantes do povo, o conselho de sentença, bem como estes sendo indivíduos 
leigos sem a ligação com o conhecimento técnico jurídico; diferenciando-se do juiz ou 
auxiliares da justiça. Toda esta dinâmica do tribunal do júri visa apresenta uma 
exposição da voz popular em um veredito complexo, assim a amplitude de defesa 
pode e deve figurar para verificar se o caso é compatível com a ordem moral e com 
os anseios da coletividade. 
 
Logicamente, a plenitude de defesa encontra-se dentro do princípio 
maior da ampla defesa, previsto no art. 5º, LV, da Constituição 
Federal. Além disso, na plenitude de defesa, inclui-se o fato de serem 
os jurados tirados de todas as classes sociais e não apenas de uma 
ou de algumas. (MORAES, 2017, p. 76) 
 
Neste sentido, a plenitude de defesa pode ser entendida e resumida como 
um princípio constitucional penal, derivado do princípio da ampla defesa, aplicável 
especificamente no tribunal do júri e que detém a função de dar as mais diversas 
possibilidades de argumentar em jus da defesa. 
Nucci (2015) esclarece que uma análise superficial da amplitude de defesa 
dá a errônea impressão de que seja um pinico que permite toda e qualquer 
argumentação, toda e qualquer prova ou até mesmo uma defesa que se utilize de 
quaisquer meios para se defender. Ocorre que há limites para a amplitude de defesa, 
não podendo este princípio violar outros princípios ou gerar teses em nível de 
aberração jurídica. 
Um exemplo dos limites da plenitude de defesa é o princípio da celeridade 
14 
 
e economia processual, existindo limites para testemunhas, tempo em plenário, 
conjuntos probatórios e até para argumentos apresentados durante a oratória no 
tribunal do júri. A celeridade e economia processual implica em um processo em 
tempo hábil e sem indevidas protelações, porém existindo até um limite aceitável de 
excessos no tribunal do júri para satisfazer o principio da amplitude de defesa (NUCCI, 
2015) 
Há ainda teses complexas que se escoram no princípio da amplitude de 
defesa como uma forma de gerar argumentos de defesa que beiram o absurdo e de 
forma a tentar burlar as normas, princípios pátrios e até mesmo a moral coletiva. Este 
é o caso da tese de Legitima Defesa da Honra, argumento o qual surge uma 
possibilidade de justificativa para feminicídio diante de atentado extremo a honra do 
réu ou ao menos uma justificativa para o ato ilegal. É evidente que tal item não se 
sustenta por ser violador de diversos princípios como a dignidade da pessoa humana, 
proteção da vida, igualdade de gênero não se apresentar no rol de excludente de 
ilicitude (PUZIOL, 2021) 
Em mesmo ponto Nucci (2015) apresenta a impossibilidade de utilizar a 
plenitude de defesa como método protelatório ou como um argumento para abuso de 
recursos de forma a apresentar uma dita ineficiente defesa ou da não análise de todos 
os argumentos, quando se tenha dado causa para tais erros e ineficiência. 
Nota-se que muito embora o princípio da amplitude seja uma base do 
tribunal, não se permite o uso de tais princípios como salvaguardo para aberrações 
jurídicas ou violações de diversos outros princípios e regramentos jurídicos essenciais 
a ordem jurídica e da persecução penal. 
Em outros pontos há certa complexidade quando se fala sobre o uso de 
certos tipos probatórios e argumentos, tais como a carta psicografada ou argumentos 
religiosos em geral que sejam utilizados no convencimento dos jurados, isso pois a 
doutrina diverge sobre o uso da dita carta e se a utilização de argumentos religiosos 
detém limitações (GALVÃO, 2010) 
É certo que o princípio da amplitude de defesa permite uma argumentação 
plena e com uma série de permissibilidades que garantem munições para a defesa 
assegurar o estado de presunção de inocência. Ocorre que tal princípio detém suas 
complexidades e certas limitações. 
 
 
15 
 
 
16 
 
3 O USO DA CARTA PSICOGRAFADA COMO MEIO DE PROVA 
 
Diante do entendimento do princípio da a ampla defesa e bem como da 
plenitude de defesa, é certo que uma série de ações podem ser utilizadas como forma 
de argumento e bem como o uso de provas passa a ser mais flexível. Assim há a 
possibilidade de alguns tipos de prova complexos, tal como a carta psicografada. 
A carta psicografada é considerada inegavelmente como um item advindo 
de questão religiosa, sendo uma expressão de matriz espirita e como uma 
manifestação do sobrenatural no mundo físico por intermédio de um indivíduo com 
habilidades para interpretar a vontade de seres espirituais. Neste sentido, Nucci 
(2020) apresenta que tal item é expressão clara de item sobrenatural e amparado pela 
liberdade de credo. 
 
[...] psicografia é uma capacidade de determinadas pessoas em 
escrever mensagens ditadas por espíritos. Tais espíritos utilizam o 
corpo dessas pessoas para transmitir mensagens, que podem ser 
desde pequenos textos até um romance extenso para ser publicado 
em um livro (VERDADEIRA, 2015, p. 1). 
 
Para Nucci (2020) não se pode negar a existência de uma carta 
psicografada, sendo ela uma expressão religiosa e que pode afetar até mesmo o ramo 
jurídico, porém com certa complexidade de seus usos no direito, isso pois, muito 
embora a carta seja abarcada por parte da expressão religiosa e sua liberdade a 
norma pátria é intricada e repleta de regras sobre suas formas de prova em juízo. 
Estulano (2006) apresentaque a carta psicografada parece ser item de 
materialização de não somente informações do plano espiritual, sendo em real a 
manifestação de um indivíduo que se encontra no mundo espiritual, mas que ainda 
detém questões a serem resolvidas no plano mortal. 
Galvão (2010) e Estulano (2006) entendem que a carta psicografada é uma 
expressão religiosa que deve ser considerada diante de uma dúvida no plano terreno, 
podendo ser analisada, periciada, comparada, testada e até mesmo confrontada com 
outros itens para que sua legitimidade seja auferida. 
 
Pode-se, portanto, dizer que todo o mundo é, mais ou menos, médium. 
Entretanto, usualmente, esta qualifcação só de aplica àqueles nos 
quais a faculdade medianímica está nitidamente caracterizada e 
traduz-se por efeitos patentes de uma certa intensidade, o que 
17 
 
depende, então, de uma organização, mais ou menos, sensitiva. 
(GALVÃO, 2010, p. 185). 
 
A carta psicografada seria uma transcrição ipsi litteris das informações do 
indivíduo que habita o plano material e tendo esta carta até mesmo a grafia daquele 
ser sobrenatural. Como apresenta Henn (2021) a carta não é somente a palavra, mas 
sim a grafia, a forma de escrita, todo o dialeto e contexto do conteúdo escrito. 
Considerando que a carta psicografada vai além da simples informação 
escrita, existindo a grafia, dialeto, contexto e informações, há a possibilidade de uma 
dita pericia ou reconhecimento da carta psicografada para auferir sua veracidade e 
possível uso em juízo. 
 
No exame pericial devem ser confrontadas as grafias da mensagem 
psicografada e a grafia da pessoa quando viva. Aqui não se trata de 
“adivinhação”, e sim de exame respaldado cientificamente, porquanto 
são comparados vários hábitos gráficos (pontos característicos) tais 
como, pressão, direção, velocidade, ataques, remates, ligações, linhas 
de impulso, cortes do t, pingo do i, calibre, gênese, letras passantes, 
não passantes e dupla passantes, alinhamento gráfico, espaçamento 
gráfico, valores angulares e curvilíneos. (ESTULANO, 2006, p. 24) 
 
Os estudos de Estulano (2006) apresentam que há a possibilidade não 
somente do uso da carta psicografada em juízo, como sendo ainda mais permissível 
e garantido no direito penal em um processo do tribunal do júri, isso pois, os princípios 
de ampla defesa e plenitude de defesa garantem o uso de tal item. 
Henn (2021) apresenta especialmente que o campo jurídico pátrio da uma 
série de margens para a aplicação da carta psicografada, existindo a laicidade do 
Estado que considera a existência de diversas religiões e consequentemente de seus 
efeitos sobrenaturais; bem como o princípio da plenitude de defesa permitindo pleno 
uso de teses para defesa. Tal autor apresenta até que há norma que permitiria analisar 
e testar a veracidade da prova psicografada, considerando o artigo 174 do CPP. 
 
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por 
comparação de letra, observar-se-á o seguinte: 
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será 
intimada para o ato, se for encontrada; 
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a 
dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos 
como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida; 
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os 
documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, 
18 
 
ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retirados; 
IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem 
insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva 
o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, 
esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que se 
consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever. 
(BRASIL, 1941, online) 
 
Há certos estudos, tal como o de Henn (2021), Galvão (2010) e Bonfim 
(2018), que entendem o uso de carta psicografada como possível de se analisar e até 
mesmo contestar em um tribunal do júri, vez que a análise de seu contudo, grafia, 
contexto e contraponto da carta com a realidade de outras provas é um meio de 
verificar a veracidade do item. 
Garcia (2010) em seus estudos específicos entende que o principal 
argumento contra o uso da carta psicografada é a paridade de armas e o princípio da 
igualdade processual. A carta psicografada jamais permitiria sua real contestação ou 
contraposição, isso pois, não há um real e irrestrito acesso a fonte da carta 
psicografada, o plano sobrenatural, assim violando a paridade de armas e o princípio 
da igualdade processual. 
Nucci (2020) apresenta similar entendimento ao de Garcia (2010), 
apresentando que a carta psicografada não seria uma prova de fato, mas sim uma 
forma de auxílio processual, isso por não existir forma real de garantir a veracidade 
da prova. 
 
O perigo na utilização da psicografia no processo penal é imenso. 
Fere-se preceito constitucional de proteção à crença de cada 
brasileiro; lesa-se o princípio do contraditório; coloca-se em risco a 
credibilidade das provas produzidas; invade-se a seara da ilicitude das 
provas; pode-se, inclusive, romper o princípio da ampla defesa. 
Ilustremos situação contrária: o promotor de justiça junta aos autos 
uma psicografia da vítima morta, transmitida por um determinado 
médium, pedindo justiça e a condenação do réu Z, pois foi ele mesmo 
o autor do homicídio. Até então nenhuma prova da autoria existia. 
Aceita-se a prova? E a ampla defesa? Como será exercida? 
Conseguiria o defensor uma outra psicografia desautorizando a 
primeira? Enfim, religiões existem para dar conforto espiritual aos 
seres humanos, mas jamais para transpor os julgamentos dos 
tribunais de justiça para os centros espíritas (NUCCI, 2020, p. 621) 
 
Os conhecimentos e ensinamentos de Nucci (2020) demonstram com 
facilidade que ao menos o princípio da igualdade é violado, isso pois, uma carta 
psicografada jamais seria aceira por parte de apresentação da acusação. Assim um 
19 
 
fator que é extremamente arraigado a religião não poderia ser utilizado como forma 
para transpor os julgamentos dos tribunais de justiça para uma forma de análise 
sobrenatural. 
É notável que a questão seja complexa, existindo especialmente princípios 
processuais se contrapondo, estando de um lado o princípio da plenitude de defesa e 
de outro ponto o princípio da igualdade processual. Ocorre que a plenitude de defesa 
parece superar essa ideia de igualdade ao menos no tribunal do júri, considerando os 
diversos casos pátrios em que a carta psicografada é utilizada. 
Há diversos julgamentos no país em que a carta psicografada foi utilizada 
como uma forma de prova ou ao menos como um item de tentativa de convencimento 
para com o conselho de sentença. Alguns casos que são notáveis são: o julgamento 
de José Divino Nunes (1979); julgamento de José Francisco Marcondes de Deus 
(1980); julgamento de Iara Marques Barcelos (2003); e o julgamento da Boate Kiss 
(2021) 
O Caso de José Divino Nunes, em 1979, foi o primeiro caso pátrio e talvez 
mundial a constar na sentença a menção a uma carta psicografada como sendo a 
fonte de influência no processo de persecução penal e ainda mais sendo considerado 
como expressão da vítima post mortem. 
 
Temos que dar credibilidade à mensagem de fls. 170, embora na 
esfera jurídica ainda não mereceu nada igual, em que a própria vítima, 
após sua morte, vem relatar e fornecer dados ao julgador para 
sentenciar. Na mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, 
a vítima relata o fato e isenta de culpa o acusado. Fala da brincadeira 
com o revólver e o disparo da arma. Coaduna este relato, com as 
declarações prestadas pelo acusado, quando de seu interrogatório, às 
fls. 100/VS. (XAVIER e ARANTES, 1982, p. 12) 
 
Não há documentação original sobre este referido caso, somente relatos 
específicos do famoso médium Chico Xavier, mas sendoreconhecidamente existente 
em jornais o referido caso e bem como informado nas obras de Chico Xavier como 
sendo um momento de importância de sua vida. 
Já os casos de José Francisco Marcondes de Deus, em 1980, e o caso de 
Iara Marques Barcelos (2003) são mais recentes e tendo alta repercussão no meio 
jurídico. Enquanto o primeiro caso foi tratado apenas como uma raridade jurídica, os 
outros casos referidos começaram a levantar teses sobre o uso da carta psicografada, 
seus limites e até mesmo a validade de tal prova (GARCIA, 2010) 
20 
 
Garcia (2010) apresenta que até o século passado nada realmente 
apontava para contradições do uso da carta psicografada, isso pois, nos casos do 
século XX existiam conjuntos probatórios diversos onde a carta psicografada não era 
protagonista do processo. 
O caso mais emblemático para o direito pátrio foi o de Iara Marques 
Barcelos, do ano de 2003, no qual a carta psicografada foi item de protagonismo, 
sendo especialmente influente em um caso obscuro sobre a autoria da ré. Existindo 
então apelação e um recurso que levou a necessidade de posicionamento do Superior 
Tribunal de Justiça (STJ) sobre o caso. 
 
JÚRI. DECISÃO ABSOLUTÓRIA. CARTA PSICOGRAFADA NÃO 
CONSTITUI MEIO ILÍCITO DE PROVA. DECISÃO QUE NÃO SE 
MOSTRA MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS. 
Carta psicografada não constitui meio ilícito de prova, podendo, 
portanto, ser utilizada perante o Tribunal do Júri, cujos julgamentos 
são proferidos por íntima convicção. Havendo apenas frágeis 
elementos de prova que imputam à pessoa da ré a autoria do 
homicídio, consistentes sobretudo em declarações policiais do có-réu, 
que depois delas se retratou, a decisão absolutória não se mostra 
manifestamente contrária à prova dos autos e, por isso, deve ser 
mantida, até em respeito ao preceito constitucional que consagra a 
soberania dos veredictos do Tribunal do Júri. Apelo improvido. 
(AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.389.293 - RS (2011/0037429-0), 
Relator: Min. RIBEIRO DANTAS - QUINTA TURMA; DJe: 21/06/2012) 
 
A apresentada decisão enumera a carta psicografada como claramente 
aceitável, considerando o caso de Iara Marques Barcelos, parece ser evidente que a 
plenitude de defesa impera e permite que a carta psicografada seja utilizada por parte 
da defesa. 
Garcia (2010) apresenta que é necessário cuidado sobre a temática 
apresentada, muito embora parece prevalecer o princípio da plenitude de defesa, a 
aplicação de carta psicografada necessita de atenção e não pode ser o único ponto 
de defesa. 
A temática em tela não foi solucionada com a análise do STJ, vez que 
aquele posicionamento parece claramente estar mais arraigado ao caso do que 
realmente criar uma jurisprudência consolidada e geral sobre o tema. Assim nascendo 
diversas propostas legislativas que visam impedir tal forma de prova no direito. 
Alguns dos projetos que visavam impedir o uso de carta psicografada foram 
o Projeto de Lei (PL) 1.705 de 2007, e o Projeto de Lei 3.314 de 2008. Ambos os 
21 
 
projetos visavam especificamente alterar o Código de Processo Penal pátrio para 
impedir o uso de itens similares a carta psicografada. 
Henn (2021) apresenta que muito embora existam propostas legislativas 
que visam evitar o uso de carta psicografada, nenhuma prosperou no legislativo, isso 
pois, há tanto uma ineficiência legislativa em atualizar o código pátrio, tanto existindo 
uma diminuta quantidade de usos de carta psicografada, assim a doutrina e 
jurisprudência podem facilmente tomar conta de solucionar os poucos casos 
existentes. 
Diante de tais informações apresentadas e evidente em como a carta 
psicografada é um tema complexo e inexistindo consenso judiciário sobre seus limites, 
existindo um claro embate entre o princípio da plenitude de defesa e a igualdade 
processual das partes. 
É certo ainda que o uso da carta psicografada no país é certo e até o 
momento inexistem casos onde uma prova deste tipo tenha sido retirada do processo 
por decisão judicial, ainda mais considerando que isso poderia facilmente ferir o 
princípio da plenitude de defesa. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O estudo apresentado em tela, considerando o tema do uso da carta 
psicografada no direito pátrio e sua garantia por parte do princípio da plenitude de 
defesa, demonstra que este é um tema complexo, no qual grande doutrinador 
questiona seu uso, Nucci (2020). 
O princípio maior da ampla defesa garante ao acusado ou réu no processo 
penal uma forma de se defender que garante acesso a todo processo, garantia de 
armas para se defender, uma boa defesa e especialmente possibilita o uso de diversas 
teses de defesa. Ocorre que este princípio detém uma série de limite e, via de regra, 
sendo a autodefesa em conjunto com a defesa técnica apenas. 
Assim, o princípio de ampla defesa confere ao processo penal pátrio as 
formas corretas e garantias de defesa para que a persecução penal seja justa, 
possibilitando ao acusado defender seu estado de inocência de uma ingerência ou 
injustiça por parte do Estado. 
22 
 
Sendo o princípio da plenitude de defesa algo a mais que o princípio da 
ampla defesa, este primeiro permite uma forma mais avançada de defesa e se 
aplicando apenas no tribunal do júri. A plenitude de defesa dá formas extremas para 
a defesa e permite o uso de teses que sejam bem interpretativas e influenciem 
facilmente o conselho de sentença. 
Uma das questões polêmicas que se escora na amplitude de defesa é a 
possibilidade do uso da carta psicografada como uma forma de defesa, até sendo 
considerado como uma prova processual, permitindo uma forma de contato com o 
mundo espiritual de influenciar o mundo mortal. 
A carta psicografada é amparada pela plenitude de defesa e utilizada no 
direito pátrio como uma forma de influenciar os jurados em um tribunal, porém o seu 
uso é criticado por certos autores como Nucci (2020) por esbarrar no princípio da 
igualdade e bem como trazer para seara jurídica uma temática religiosa complexa. 
Da análise das teorias jurídicas, de certos casos do direito pátrio, e 
especialmente de informações doutrinárias, nota-se a real permissibilidade do uso da 
carta psicografada. A amplitude de defesa supera claramente outras questões e 
permite que a carta psicografada seja utilizada como uma forma de influência para 
com o conselho de sentença. 
Inexiste uma clara limitação para o uso da carta psicografada, parece haver 
apenas a limitação ao seu uso exclusivo no tribunal do júri, vez que seu fundamento 
de uso que é a plenitude de defesa se aplica especificamente ao tribunal do júri. 
Porém, não há clara menção doutrinária, jurisprudencial ou até mesmo acadêmica 
sobre limites quaisquer do uso da carta psicografada. 
 
 
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