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Biomedicina

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107Biomedicina na prática: 
da teoria à bancada SUMÁRIO
CAPÍTULO VIII 
MICOLOGIA
Gabriela Kniphoff da Silva Lawisch
A Micologia é a ciência que estuda os fungos, organismos que fazem parte do nosso dia 
a dia, mesmo sem percebermos. É um grupo de organismos eucarióticos imóveis, que não 
possuem clorofila, logo não realizam fotossíntese e suas células têm paredes rígidas, mas que 
não são formadas por celulose (como as plantas) e sim por quitina (como alguns animais). Por 
ter características tão específicas, são classificados como organismos pertencentes ao Reino 
Fungi. 
Os fungos podem trazer inúmeros benefícios: estão presentes na produção de pães, 
medicamentos, queijos, vinhos, cervejas, auxiliam na fertilidade do solo, controle biológico 
de pragas, além de viver em simbiose (relação mutuamente vantajosa) com plantas e algas. 
Esses organismos são considerados ubíquos, pois podem viver no solo (geofílicos), parasitando 
animais (zoofílicos) ou parasitando os seres humanos (antropofílicos). E quando os fungos 
estão vivendo como parasitas de animais ou seres humanos é que eles nos trazem mais 
prejuízos. Os fungos são agentes de infecções humanas e animais, conhecidas como micoses. 
Os fungos começaram a ganhar importância no cenário médico-hospitalar como 
doença grave a partir das décadas de 40/50, quando se introduziu o uso generalizado de 
antibióticos de amplo espectro, e concluiu-se que o uso de alguns antibióticos pode inibir o 
crescimento da microbiota bacteriana, reduzindo a competição por alimentos, favorecendo 
a proliferação local e disseminação de fungos. Outros avanços médicos da época (como 
terapias imunossupressoras) também contribuíram para o aumento da sobrevida de pacientes, 
aumentando também, a susceptibilidade a infecções oportunistas, e muitos pacientes 
passaram a apresentar infecções fúngicas graves. 
Nesse contexto, a Micologia Médica começou a ganhar importância, e juntamente, a 
necessidade de diagnóstico desses organismos. A Micologia Clínica é a área de estudo do 
diagnóstico das micoses, mais especificamente, do agente causador de cada micose.
Existem inúmeras técnicas de diagnostico em Micologia (bioquímicas, sorológicas, 
moleculares, etc.), mas apenas as principais técnicas de identificação fúngica utilizadas na 
rotina laboratorial serão abordadas ao longo desse capítulo, com o objetivo de auxiliar no 
diagnóstico dos diferentes gêneros e/ou espécies de fungos causadores de doenças humanas.
PRINCIPAIS FUNGOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA
Existe mais de um milhão de espécies de fungos no mundo, dessas, aproximadamente 
80 mil são conhecidas, e cerca de 200 são patogênicas. Devido a grande diversidade de 
fungos existentes, a classificação taxonômica torna-se complexa, e por isso, surgiu uma nova 
classificação que inclui apenas os fungos relacionados com as principais micoses que atingem 
os humanos e alguns animais. A tabela abaixo inclui a classificação das micoses, de acordo 
com as suas principais características clínicas, o nome das doenças, e os principais fungos 
causadores de cada micose.
108Biomedicina na prática: 
da teoria à bancada SUMÁRIO
Tabela 1. Classificação das micoses de acordo com os principais fungos causadores:
Classificação Micose Agente etiológico
Micoses Superficiais
Ptiríase Versicolor Malassezia spp.
Tinea Nigra Hortaea werneckii
Piedra Negra Piedraia hortae
Piedra Branca Trichosporon spp.
Micoses Cutâneas
Dermatofitoses
Microsporum spp.
Trichophyton spp.
Epidermophyton spp.
Candidíase cutânea Candida spp.
Micoses Subcutâneas
Esporotricose Sporothrix schenckii
Micetomas
Curvularia spp.
Fusarium spp.
Acremonium spp.
Cromoblastomicose
Fonsecaea pedrosoi
Phialophora verrucosa
Cladosporium carrionii
Micoses Sistêmicas
Histoplasmose Histoplasma capsulatum
Blastomicose Blastomyces dermatitidis
Paracoccidioidomicose Paracoccidioides brasiliensis
Coccidioidomicose Coccidioides immitis
Micoses Oportunistas
Candidíases Candida spp.
Criptococose Cryptococcus neoformans
Aspergilose Aspergillus spp.
Fusariose Fusarium spp.
Zigomicoses
Mucor spp.
Rhizopus spp.
Biossegurança
Pessoas que trabalham em laboratório de Micologia estão em risco de se expor e adquirir 
uma infecção fúngica. A exposição aos diferentes tipos de fungos pode ocorrer através de 
inalação, ingestão ou inoculação direta. Para evitar ou diminuir os riscos, deve-se estar atento 
às medidas de biossegurança. Para isso, devem ser obedecidas às normas e procedimentos 
das Boas Práticas de Laboratório (BPL), propostas por cada laboratório e devem ser utilizados 
equipamentos de proteção individual (EPIs). Cuidados mais específicos incluem:
• Utilizar tubos com meio inclinado, ao invés de placas de Petri;
• Manipulação de fungos patogênicos em cabine de segurança biológica;
• Todas as operações envolvendo manipulação de meios de cultura deverão ser 
efetuadas na área de proteção conferida pela chama do bico de Bunsen;
• Flambar a boca dos frascos e tubos antes e depois das inoculações, evitando a 
contaminação da cultura/material a ser analisado e garantindo que somente o fungo 
desejado será inoculado;
	CAPÍTULO VIII 
MICOLOGIA
	Gabriela Kniphoff da Silva Lawisch

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