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Tópico 08 Diagnóstico por Imagem Ultrassonografia 1. Introdução O primeiro estudo com ultrassom foi realizado em 1950 pelos médicos Howry e Bliss. A ultrassonografia (USG) tem como base a formação de imagens através de ondas sonoras e tem como vantagem não utilizar os raios-X. A USG é uma técnica bem empregada no diagnóstico de tecidos moles, líquidos pleurais, massas, leões, tireoide, paratireoide, mama, testículos, ovários, bexiga e na identificação da gestação e na vitalidade do feto. Inclusive, nesse sentido, de acordo com Gunderman (2007), o fato de não usar raios-X torna o ultrassom um método eficiente, para obter imagens da pelve de uma paciente que pode estar grávida. Um dos exames importantes realizados em gestantes pela USG é o ultrassom morfológico que compreende o estudo de cada parte do feto detalhando a anatomia fetal. Na oncologia, a USG é utilizada como um método complementar à mamografia, sobretudo, no que diz respeito ao diagnóstico de tumores malignos e benignos da mama, para diferenciar lesões císticas de sólidas. Além dessas vantagens que a USG realiza no diagnóstico das mamas, a técnica pode realizar a mamotomia e guiar alguns procedimentos, como a biopsia por punção aspirativa com agulha fina (PAAF) e o core biopsy que é uma biopsia percutânea com agulha grossa. Mas, em algumas avaliações diagnósticas, a USG se mostra limitada, por não ter capacidade de definir a profundidade da lesão, como, por exemplo, em patologias na parede da bexiga, fazendo-se necessária a investigação pela RM, ou TC. Em lesões hepáticas, a USG é excelente, porque apresenta 95% de exatidão no diagnóstico de lesões com tamanho de 1 cm, mas, no diagnóstico transretal, ela não mostra boa especificidade. Desta maneira, o princípio da formação da imagem por USG ocorre pelos ecos de som que retornam dos tecidos ao transdutor após cada pulso e são analisados pelo computador, sendo transformados em imagem. O exame de USG é rápido com a obtenção de imagens em diversos planos em tempo real e ainda tem a opção de realizar o estudo hemodinâmico através do Doppler. Todavia, a desvantagem da USG é a impossibilidade de estudar órgãos internos protegidos por ossos, já que esses se comportam como um obstáculo. Portanto, prezado(a) acadêmico(a), está preparado(a) para aprender mais sobre a USG? Então, vamos lá? 2. Formação da Imagem A imagem por USG se forma através de um transdutor que converte uma forma de energia em outra, ou seja, a partir dos ecos gerados pelo som que foi transmitido pelo aparelho. O transdutor é fabricado com cristais piezoelétricos envoltos por uma lente acústica. Ao se acoplar a lente aos cristais, esses recebem os ecos gerados pelo tecido estudado, que são recepcionados por um sistema eletrônico. Nesse sentido, os cristais piezoelétricos são usados no transdutor do equipamento de ultrassom pelo motivo de serem pressionados, emitirem eletricidade e transformarem energia elétrica em onda sonora. As imagens em USG são formadas através do princípio pulso- eco, que emite um pulso curto de ultrassom pelo transdutor. Esse pulso atravessa os tecidos e a energia sonora incidente é refletida em torno de 1%. Entre a emissão do pulso e a recepção do eco, o equipamento de USG apresenta a imagem na tela. Esse efeito ocorre, porque os ecos refletidos são transformados em energia elétrica e, depois, são processadas pelo equipamento de USG eletronicamente. Assim, alguns efeitos físicos ocorrem no processo de formação da imagem em USG, é o caso da impedância acústica, a qual está relacionada à resistência do tecido à velocidade causada pelo ultrassom, sendo que esse processo é encontrado nos ossos, ou na água. Por esse motivo que, entre o transdutor e a pele, utiliza-se o gel, com o objetivo de evitar que o som seja refletido pelo ar, dificultando, assim, a visualização da imagem. Outros efeitos físicos pertinentes nesse contexto são: a refração, que se caracteriza pela alteração da direção da onda, a absorção, que ocorre a partir da transformação da onda acústica em calor, e a reflexão, a qual se refere às ondas sonoras que se chocam em superfícies que as refletem, retornando ao transdutor. Além disso, existem algumas terminologias utilizadas para descrever as imagens em USG. As principais são: Anecóico: imagem com ausência de ecos, ou seja, a transmissão do som foi completa; Hipoecóico: ecos esparsos com transmissão intermediária; Hipercóico: ecos brilhantes com estruturas bem reflexivas; Isoecóico: os tecidos se apresentam com a mesma eco- textura. Alguns artefatos podem ocorrer nas imagens da USG, como, por exemplo, o reforço acústico posterior, que se apresenta com a imagem hiperecoico, a atenuação, que diminui a intensidade, e a sombra acústica posterior, a qual se manifesta como anecoica. Para se aprofundar mais sobre isso, veja, no vídeo abaixo, a formação da imagem ecográfica da USG. Percebeu, prezado(a) acadêmico(a), os tipos de transdutores, como o linear voltado para a avaliação de estruturas superficiais Ultrassonografia: conceitos básicos (formação da imagem ecográfica) Ultrassonogra�a: conceitos básicos (formaçUltrassonogra�a: conceitos básicos (formaç…… https://www.youtube.com/watch?v=D7cppQtPwaE com frequência de 7 e 11 Hertz, o endocavitário destinado à utilização endovaginal, o convexo que trabalha na faixa de frequência de 3 a 8 Megahertz e que é utilizado na avaliação de estruturas profundas, a exemplo dos órgãos do abdômen? Assim, ficou evidente sobre o quanto o cristal piezoelétrico é importante na formação da imagem no exame de USG. Eles foram descobertos por Jacques e Pierre Curie em 1880. Os pesquisadores notaram que, quando os cristais de quartzo, turmalina e topázio eram submetidos a uma tensão mecânica, esses apresentavam cargas elétricas em sua superfície. Então, é por isso que, no equipamento, o cristal piezoelétrico é submetido a uma correte elétrica, para, em seguida, gerar o som (eco). Além disso, é relevante ressaltar que esses cristais podem ser feitos de zirconato, titanato de chumbo, cerâmica, ou quartzo. Veja na Figura 1 uma imagem de um transdutor convexo. Imagem do transdutor convexo. Mas, quais são as funções do cristal piezoelétrico? Perceba que, na Figura 1, o transdutor convexo encontrado na maioria dos equipamentos de ultrassom tem vasta aplicação na realização de exame na região abdominal, para avaliar órgãos e a idade gestacional. Falando em idade gestacional, o exame de USG é padrão ouro, a fim de fornecer imagens do feto. Na varredura do útero gravídico, a primeira análise a ser realizada é a quantidade de fetos presentes, depois, avalia-se a posição que ele se encontra dentro da barriga da mãe. Além disso, segundo White e Pharoah (2015), as imagens radiológicas são realizadas, para fornecer suporte ao diagnóstico individual de cada paciente. Em relação a isso, perceba, na Figura 2, a USG de um feto. USG fetal. A imagem de USG apresentada na Figura 2 mostra um feto de 4 meses, sendo que esse exame é realizado, para detectar alguma malformação no feto, ou seja, um exame morfológico que estuda as partes anatômicas do feto, para diagnosticar alguma anormalidade estrutural. Se for detectada alguma anomalia, durante o laudo de USG, é possível estabelecer conduta quanto ao prosseguimento da gestação, e, assim, orientar os pais sobre o risco do crescimento do feto (BUNDUKI; ZUGAIB, 2011). 3. Indicações para USG Agora, estudaremos sobre as indicações da USG para determinados exames, a começar pela da mama. Essa é uma técnica complementar à mamografia bem requisitada para mulheres a partir dos 40 anos de idade, para detectar anormalidades. Geralmente, a USG é solicitada pelo médico, quando a mamografia não está clara para o diagnóstico, ou seja, o nódulo não é visto na mamografia por está coberto pelo tecido parênquima, ou, na mamografia, o exame forneceu um resultado normal, mas a paciente tem um nódulopalpável. Outra indicação da USG é para o exame da pélvica transvaginal. Nesse contexto, aquela é utilizada, para diagnosticar as doenças da pelve feminina, permitindo uma avaliação do útero, dos ovários, dos ligamentos e a maioria das doenças ginecológicas. Assim, ela traz o diagnóstico de miomas, nódulos, cistos no ovário, adenomiose, endometriose e tumores. A USG do abdômen tem o objetivo de analisar o fígado, o pâncreas, as alterações vasculares, a via biliar, a veia porta, o estômago, a vesícula biliar, os rins, o baço, a bexiga, o útero e os ovários. Na obstétrica, a USG avalia a saúde do feto. Neste contexto, são solicitados cinco ultrassons, dois no primeiro trimestre, um no segundo trimestre e dois no terceiro trimestre. No primeiro trimestre, ele é realizado por via vaginal, com o objetivo de datação da gestação, e o segundo para a translucência nucal. No o segundo trimestre, é realizado o morfológico. Já no terceiro trimestre, é realizado o ultrassom obstétrico. Somado a isso, a USG musculoesquelética é utilizada, para avaliar o tendão patelar, os pés, os ligamentos dos membros superiores e inferiores. Por fim, existe a USG dermatológica, a qual é indicada, para avaliar preenchimentos estéticos. A fim de aprofundar e para ter um melhor entendimento do tema, indicamos a leitura do seguinte artigo: Percebeu, prezado (a) aluno (a), que a USG automatizada das mamas foi criada na década de 70 e não teve grande aceitação, por conta do uso de transdutores de baixa frequência. Porém, com o uso da USG para o câncer de mama, os equipamentos podem ser modernizados? Assim, qual é o seu posicionamento sobre isso? Ultrassonografia automatizada das mamas: estamos prontos para colocá-la em prática no Brasil? https://www.scielo.br/j/rb/a/59XnzsHDCdTnHk6RRy YgHsK/?lang=pt&format=pdf Você observou, a partir da leitura do artigo, que a USG automatizada das mamas gera imagens como na tomografia computadorizada e na ressonância magnética? https://www.scielo.br/j/rb/a/59XnzsHDCdTnHk6RRyYgHsK/?lang=pt&format=pdf https://www.scielo.br/j/rb/a/59XnzsHDCdTnHk6RRyYgHsK/?lang=pt&format=pdf 4. Protocolos para Aquisição de Imagens Os protocolos para aquisição de imagens em USG são importantes, uma vez que eles viabilizam a realização de exames com qualidade, fazendo com que a avaliação seja realizada, abrangendo doenças e alterações específicas. Abdômen Superior Para o exame de USG do fígado, é necessária a seguinte cobertura anatômica: Veias hepáticas; Tronco da veia aorta; e Lobo direito. Na vesícula biliar, o exame precisa trazer as informações do: Infundíbulo; e Plano anterior da vesícula. No pâncreas, as informações que precisam aparecer na imagem do exame de USG são de todo o eixo e da cabeça do pâncreas. Pelve Feminina Transvaginal No útero, o protocolo correto é mostrar na imagem a medida dos eixos longitudinal, anteroposterior e também o eixo transversal, além de não esquecer de contemplar na imagem o endométrio e os ovários. Tireoide No exame de USG da tireoide, os lobos direito e esquerdo precisam ser evidenciados na imagem, como também o istmo precisa ser contemplado em todos os planos. Mamas O estudo das mamas por USG precisa trazer informações das axilas, da região retropapilar e dos quadrantes de cada mama avaliada. Além disso, é importante não se esquecer de identificar por escrito as imagens obtidas no exame. Ombro O protocolo da imagem do ombro deve contemplar os tendões do bíceps braquial, supraespinhal, subescapular, infraespinhal, supraespinhal, cavidade glenóide e a articulação acromioclavivular. Sistema Urinário O protocolo para avaliação do sistema urinário por USG precisa trazer imagens que contemplem a bexiga e os rins. Na bexiga, os meatos urinários precisar ser exibidos. Já nos rins, precisa ser realizada a medida da espessura do parênquima renal. Observe, na Figura 3, um exemplo de exame de USG de uma bexiga. Você sabia que o exame de USG é importante na avaliação da articulação do ombro? Exame de USG da bexiga. A Figura 3 mostra, na seta branca, a imagem da bexiga. Na seta preta, a uretra distendida. Perceba que, no exame, a bexiga tem forma anecóica, ou seja, com ausência de ecos, geralmente, ocorre com líquidos. 5. Uso do Doppler A USG com Doppler é muito importante para avaliação de vasos, artérias, para observar dilatações, ou estenoses, e, nos membros inferiores, é utilizada, a fim de detectar a trombose venosa profunda (TVP), a qual pode causar oclusão e semioclusão da passagem do sangue, causando muita dor ao paciente. Além da TVP, o Doppler faz a avaliação dos grandes vasos do abdômen, a exemplo da aorta abdominal, para identificar se há um aneurisma, e da artéria renal, a fim de identificar as causas da hipertensão secundária e da oclusão da artéria. O Doppler também é muito utilizado na avaliação de nódulos malignos da tireoide, os quais são muito vascularizados. Já no testículo, ele é empregado, a fim de identificar a varicocele, que é a maior causa de infertilidade no homem. O Doppler de carótidas também é muito usado na verificação da ocorrência da placa na carótida, ou espessamento, que pode causar um AVC. No contexto da obstétrica, ele também é muito importante, sobretudo, para avaliar o crescimento do feto e o fluxo sanguíneo da mãe para esse. Nesse sentido, o Doppler revolucionou a USG e a tornou útil, principalmente, no diagnóstico de diversas doenças. Veja, na Figura 4, uma imagem de USG com Doppler colorido da perna direita Imagem de USG com Doppler da perna direita. A Figura 4 mostra a ultrassonografia com Doppler colorido da perna direita de um homem com 65 anos. Esse paciente relatou ao médico que estava sentido muitas dores e que sua perna direita estava inchada. Depois de realizar o exame, a imagem obtida com Doppler colorido mostrou a TVP da veia subsartorial, evidenciando a ausência de fluxo sanguíneo em comparação à veia femoral profunda e à artéria femoral. Inclusive, vale ressaltar que o Doppler colorido avalia a circulação do sangue nos vasos sanguíneos, sendo que as cores mudam, de acordo com a escala apresentada no equipamento, ou seja, segundo a posição do transdutor, a veia, ou a artéria mais profunda apresenta uma cor e a que está mais próxima do transdutor possui outra cor. 6. Anatomia e Anormalidades A anatomia e as anormalidades são bem visualizadas na USG, principalmente, quando se utiliza o Doppler. Sobre isso, veja a Figura 5, a qual mostra uma USG do pâncreas. USG do pâncreas. A imagem de USG do pâncreas mostrada na Figura 5 é de um homem de 86 anos, diagnosticado com o tumor adenocarcinoma, o qual mede cerca de 3 cm e, segundo a imagem, tem a forma hipoecóica, ou seja, ao redor do pâncreas, existem ecos brilhantes, por causa das estruturas reflexivas. Já na Figura 6, vemos a imagem anecóica de um ducto pancreático. USG do pâncreas com Doppler. O ducto pancreático mostrado na imagem de USG se encontra dilatado no corpo do pâncreas, evidenciando a veia esplênica e a artéria mesentérica. Assim, observando os contornos do ducto do pâncreas, é possível notar que, ao seu redor, existe uma área hiperecoica. 7. Conclusão Este tópico procurou mostrar a importância da USG no diagnóstico de doenças, principalmente, o câncer, e que a USG com Doppler favorece o estudo arterial e venoso dos órgãos. Vimos também que a formação da imagem por ultrassom começa a partir do transdutor que está acoplado ao equipamento, sendo que aquele recebe os ecos transmitidos pelos tecidos. Além disso, estudamos as terminologias utilizadas, a fim de descrever as imagens em USG, sendo que esses termos estão ligados à recepção do aparelho dos ecos emitidos pelos tecidos. Por fim, passamos a conhecer as indicações da USG para os exames da mama, da pélvica, do abdômen, para os casos obstétricos e musculoesqueléticos, bem como para as partes anatômicas que precisam ser mostradas, de acordo com os protocolosde USG. 8. Referências BUNDUKI, V.; ZUGAIB, M. Atlas de ultrassom fetal normal e malformações. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. LINEI, U. Ultrassonografia automatizada das mamas: estamos prontos para colocá-la em prática no Brasil? Radiol. Bras., 2020. Disponível em:< https://www.scielo.br/j/rb/a/59XnzsHDCdTnHk6RRyYgHsK/? lang=pt&format= pdf>. Acesso em 02 de junho de 2021. YouTube (2020, maio, 10)Ramoniê Miranda Radiologia Prática.Ultrassonografia: conceitos básicos (formação da imagem ecográfica).Disponível em: <https://youtu.be/D7cppQtPwaE>. Acesso em 31 de maio de 2021. WHITE, Stuart C.; PHAROAH, M. J. Radiologia oral: princípios e interpretação. 7. ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2015, p. 91. GUNDERMAN, Richard B. Fundamentos de radiologia: apresentação clínica, fisiopatologia, técnicas de imagens. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. p. 11. Parabéns, esta aula foi concluída! Mínimo de caracteres: 0/150 O que achou do conteúdo estudado? Péssimo Ruim Normal Bom Excelente Deixe aqui seu comentário Enviar