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ANÁLISE DOCUMÉNTÁRIO "muito alem do peso"

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UNIVERSIDADE FRANCISCANA 
CURSO DE NUTRIÇÃO 
DISCIPLINA DE PSICOLOGIA EM SAÚDE 
Aluna: Vitoria Kirinus Danski 
 
ANÁLISE DOCUMÉNTÁRIO “MUITO ALEM DO PESO” 
O documentário “Muito Além do Peso”, lançado em 2012, com direção e roteiro 
de Estela Renner, aborda o cenário brasileiro de obesidade infantil, com relatos de 
famílias que possuem crianças obesas, e especialistas nacionais e internacionais dos 
campos da medicina, da nutrição, do direito, da psicologia e da publicidade. O filme 
relata a questão da obesidade em diversas regiões do país, tornando-se claro o 
quanto os efeitos de uma má educação alimentar podem trazer malefícios às novas 
gerações, que sofrem precocemente com obesidade e outras comorbidades 
relacionadas a ela (problemas cardíacos, hipertensão arterial, diabetes, artrite e 
trombose). 
O documentário destaca a mudança de perfil da população brasileira, que antes 
era de desnutrição e agora é de obesidade, onde 33,5% das crianças brasileiras 
apresentam obesidade ou sobrepeso, conforme o dado do IBGE citado no filme. 
“Seu filho vai viver dez anos a menos do que você, por causa do ambiente 
alimentar que construímos.” A frase dita pelo chef britânico Jamie Oliver é impactante 
e está diretamente relacionada a como os pântanos alimentares, locais com alta oferta 
de alimentos ultraprocessados, e os desertos alimentares, onde há uma escassez de 
alimentos in natura, contribuem para obesidade infantil. A globalização é fator que 
contribui para esse contexto, já que até então a cultura alimentar seguia as 
características regionais e os alimentos consumidos pelas populações habitantes se 
definiam a partir das condições geográficas. Hoje é possível consumir o mesmo 
alimento independentemente da localização, o que é positivo por permitir maior 
integração mundial, mas distancia o contato com a natureza. Ultraprocessados 
chegam aonde alimentos naturais não chegam, essa inversão de alimentos que 
seriam adequados ao consumo frequente faz com que crianças não saibam identificar 
vegetais comuns como frutas e batatas, como mostrado no filme. 
Somado aos hábitos alimentares pouco saudáveis, a ausência da prática de 
atividade tem relação com o desenvolvimento de obesidade. Os depoimentos de 
crianças e pais sobre as dificuldades em praticar atividades físicas onde moram e na 
escola demonstram que, assim como o padrão alimentar, são questões que vão muito 
além de uma escolha individual dos pais e da criança, pois permeiam escolhas 
complexas que são influenciadas pelo ambiente, segurança pública, política, 
condições socioeconômicas, entre outros fatores. O documentário ilustra como renda, 
uso de transporte público, segurança, tiroteios, educação, acessibilidade a locais que 
oferecem atividades físicas são fatores que influenciam a prática de exercícios físicos 
por pais e crianças, criando um ciclo vicioso de sedentarismo e aumento de peso. 
O filme destaca ainda que o conhecimento da produção dos alimentos se tornou 
distante dada a facilidade de abrir embalagens e da ficção repassada através das 
propagandas de alimentos direcionadas ao público infantil. Contudo, a desinformação 
alimentar vai além da publicidade, pois muitas vezes falta conhecimento sobre os 
termos usados pela indústria alimentícia, como o que são carboidratos que, que "0% 
de gordura trans" não significa ausência desse ingrediente ou que sucos em pó não 
são saudáveis. 
Dessa forma, o ambiente alimentar envolve duas variáveis não são ensinadas: 
a linguagem publicitária, já que as crianças passam em média cinco horas assistindo 
televisão e, como citado no documentário, o diálogo não é apenas entre pais e filhos, 
mas entre pais, publicidade e filhos. E a linguagem alimentar, pois interpretar tabelas 
nutricionais não é um conhecimento que faz parte da vida da maioria da população. 
O estudo dos valores nutricionais das frutas e verduras, comparando com alimentos 
ultraprocessados, através de atividade didáticas, pode ser um incentivo a mudança 
de hábitos de alimentação, que começam na infância. 
O documentário reflete, portanto, para além da decadência alimentar, a extensão 
da desinformação que é continuamente promovida e como a mídia tem uma influência 
profunda na população. Contudo, o poder de escolher, frente a esse cenário, ainda 
está nas mãos dos consumidores. Daí a importância de uma maior circulação de 
informações e a necessidade de uma educação que englobe a mídia e a alimentação. 
Ainda, para além das mudanças físicas, o sobrepeso durante a infância acarreta 
consequências psicológicas. A gordofobia, que é o preconceito direcionado às 
pessoas gordas devido ao tamanho de seus corpos, se manifesta de diversas 
maneiras, incluindo o bullying tanto nas escolas quanto no ambiente familiar. Os 
abusos, tanto físicos quanto psicológicos, enfrentados devido ao excesso de peso, 
são prejudiciais para a autoimagem da criança, e muitas vezes esses traumas 
persistem mesmo após atingir um peso considerado "ideal". Dessa forma, essas 
crianças têm menor nível de sociabilidade do que as com peso normal. Eles não 
interagem com outras crianças por sentirem medo de serem ridicularizadas e 
podem se sentir menos “aceitas” do que crianças de peso normal. 
Em suma, a obesidade é uma doença de ordem multifatorial, que apresenta 
determinantes de natureza demográfica, socioeconômica, epidemiológica, 
psicológica e cultural, além de sofrer influencias de questões ambientais. Para 
o enfrentamento desse quadro faz-se necessária a ação de diversos setores, da 
produção à comercialização de alimentos, assim como a produção de ambientes 
que propiciem a mudança de atitudes dos indivíduos e da sociedade. A mudança de 
hábito é um dos comportamentos almejados no processo educativo e requer um 
processo educativo ativo e contínuo, no caso a reeducação alimentar. Dessa 
forma, a educação nutricional precisa fazer parte da grade curricular das escolas, a 
alimentação é uma área que está presente do início ao fim da vida, saber como usá-
la para ter uma boa relação com a comida e prevenir o desenvolvimento de obesidade, 
é no mínimo, essencial.