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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa Fonética e Fonologia no Mercado de Trabalho Profª Juliana Fogaça Sanches Simm • Unidade de Ensino: 04 • Competência da Unidade: Abordar a aplicação da Fonética e a Fonologia no mercado de trabalho. • Resumo: Entender a importância da fonética e da fonologia para diversas áreas e campos de trabalho como no ensino de língua materna e de língua estrangeira; na alfabetização; na fonoaudiologia e para o direito. • Palavras-chave: Mercado de Trabalho. Ensino. Fonética Forense. • Título da Teleaula: Fonética e Fonologia no mercado de trabalho. • Teleaula nº: 04 Contextualização • Como se dá a aquisição de uma língua? • A escrita é o reflexo da fala? • O que é hipo e hipersegmentação na escrita? • No processo de aprendizagem da escrita por uma criança, como diferenciar desvios de erros de escrita? • Qual a diferença entre alfabetização e letramento? • Por que temos dificuldades de pronunciar determinados sons de línguas estrangeiras? • O que é fonética forense? Alfabetização e Fonoaudiologia Aquisição da Língua Oralidade: exposição da criança a uma língua falada em seu ambiente desde o seu nascimento (espontaneamente). Escrita: é realizada com a instrução explícita do código que a criança precisa dominar para relacionar sua fala com esse código. A escrita não é o reflexo da fala. Oralidade A oralidade (a fala) é afetada por diferentes aspectos que vão desde a ordem linguística até a aspectos extralinguísticos, como região, sexo dos falantes, idade, escolaridade etc. É mais dinâmica do que a escrita. Escrita Escrita inicial: representação da oralidade. Exemplos: "mininu" e "bunecu" No entanto, a criança também estabelece hipóteses sobre o funcionamento da escrita no seu percurso de aprendizagem, guiando-se pela pronúncia das palavras. Exemplo: “birnco”: o “r” é movido para uma posição de coda silábica. Escrita: regida por normas que definem como o texto deve ser expresso e como as palavras devem ser grafadas. Correspondência grafema-fonema Não é biunívoca (de um para um). Um fonema pode ser representado por vários grafemas e um grafema pode representar diferentes fonemas Encontros consonantais não nativos do português brasileiro Vogais Ortográficas a, e, i, o, u (não se tem símbolo específico para /ɛ/ e /ɔ/) Para a indicação da relação fonema-grafema, a ortografia atual da nossa língua utiliza três diacríticos básicos: o acento agudo (´), o acento circunflexo (^) e o til (~). Ex: médico; velório; âmago (diferente de amargo); melão, limões. Acento grave: função morfossintática. João foi à aula. Hipo e hipersegmentação na escrita Desafio da Criança Segmentar as palavras de acordo com a norma ortográfica e não conforme o seu conhecimento fonológico. (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) Escrita de crianças em fase de aprendizagem O modo como as crianças segmentam, isto é, como elas deixam espaços ou os omitem entre as palavras, revela que o conhecimento rítmico também é um fator que precisa ser aprendido pelas crianças em sua fase de alfabetização. Hipossegmentação: omissão do espaço entre as palavras. Hipersegmentação: inserção de espaços gráficos inesperados em uma palavra. Hipossegmentação Incorporação de unidades lexicalmente átonas à uma palavra sintática: • sesquecer - "se esquecer" • sevirão - "se virão" • Chamavase - "chamava-se" • tedar - "te dar” Hipersegmentação Evidencia o papel do peso silábico na delimitação de unidades capazes de figurarem-se como elementos independentes na escrita: • em controu - "encontrou" • amanhe seu - "amanheceu" • em bora - "embora" • em trou - "entrou" Desvios fonológicos e escrita Aprendizagem da escrita Pode-se ter casos em que a criança teve um desenvolvimento típico da fala, mas tem dificuldade com a escrita e vice-versa, e há ainda casos em que o desenvolvimento atípico da fala acarreta problemas na aprendizagem da escrita. Desvio fonológico Desenvolvimento atípico do sistema fonológico da criança. Tais casos referem-se a um déficit específico da linguagem, ou seja, a algo que não tem base articulatória ou motora e refere-se simplesmente à aquisição desviante das relações estabelecidas pela língua. Em torno dos cinco anos: a criança deve apresentar o sistema fonológico plenamente adquirido. Profissional de Fonoaudiologia: diagnostica o sujeito com um déficit específico de linguagem. Criança com desvio fonológico Tende a reproduzir na escrita o sistema fonológico de sua língua materna. Por exemplo: Substituição de “p” por “b”. Casos atípicos: a criança com desvio produz formas em que os grafemas não têm relação com os fonemas que representam ou estão desordenados na estrutura da palavra. Exemplos de uma criança que não reconhece o contraste entre /s, z/ e /S, Z/: safariz "chafariz“; obizetos "objetos“; zutar "juntar“; casa "caixa" Desvios de escrita O fato de a criança apresentar erros de escrita de forma mais comum que a média não quer dizer que ela seja disléxica. Alguns erros de escrita podem ter motivação linguística. Nos exemplos, a substituição dos grafemas pela criança não é aleatória: “s”- usada para representar as fricativas coronais não vozeadas [S] “z” - usada para representar a contraparte vozeada [Z] O fato de ela não substituir "ch" por "m", por exemplo, evidencia que suas substituições não são escolhidas ao acaso. Resolução de Exercício Adaptada - Enade 2013 Um menino de 9 anos de idade, está no terceiro ano de uma escola pública e apresenta dificuldades de aprendizagem. Segundo a professora, ele escreve do mesmo modo que fala. Dessa forma, foi solicitado à mãe que encaminhasse o menino para uma avaliação fonoaudiológica, pois a professora acredita que ele seja disléxico [...]. Segue, um trecho de sua escrita: “Eraumaves um castelo muinto velho e eumdia treis mininos pobres quetinham passado por lá. Come saram a reformar o castelo e a notisia se espahol e os mininos creseram e finalmente o castelo ficol pornto os mininus foram entrando elá dentro tinha sinco cuartos.” Avalie as afirmações a seguir. I. A aquisição da linguagem escrita está relacionada às práticas sociais nas quais a criança está inserida, podendo essas representar obstáculos para um bom desempenho escolar. Diante disso, as dificuldades de escrita do menino podem estar influenciadas pelas práticas de letramento de seus familiares e amigos. II. A dificuldade de segmentação das palavras é uma das características da dislexia; logo, é correto afirmar que o menino é disléxico. III. O menino apresenta um texto cujas características demonstram o apoio na oralidade, as quais fazem parte do processo normal de aquisição da linguagem escrita. São exemplos desse apoio: transcrição fonética, junção e separação indevida de palavras. É correto apenas o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas III. d) Apenas I. Perguntas Alfabetização e letramento Alfabetização e o sistema linguístico-fonológico Têm uma relação extremamente estreita. Porém, o aprendizado da escrita não pode ser entendido como uma transcrição da língua que falamos. Papel da escrita na realidade social dos alunos Transcende à alfabetização (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) Noção do senso comum A alfabetização é a simples codificação de fonemas, em que a relação entre os fonemas /p/ + /a/ resulta em /pa/, portanto, o código escrito "pa“ deve ter uma relação direta com essa representação da língua oral. Resultado: suporte a métodos de aprendizagem da escrita cujo objetivo era explorar a consciência fonológica do aluno para que ele associasse sons às letras. Distinção entre alfabetizado e não alfabetizado Avanços na sociedade (+gafocêntrica) Exigências de maior domínio da leitura e da escrita. O mundo letrado exige que as pessoas sejam competentes quanto à escrita, ou seja, que dominem práticas comunicativas quevão além do ler e escrever, para além de apenas desenhar letras e decodificar significados. Letramento Focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade. Papel do professor: transformar pessoas alfabetizadas em sujeitos letrados. A diferença entre alfabetização e letramento precisa estabelecer-se na sala de aula para que as pessoas saiam da escola podendo engajar-se em práticas sociais distintas que lhe deem condições de não apenas sobreviver, mas de exercer com plenitude sua cidadania. (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) Finalidade da escrita O professor deve orientar o aluno para um percurso em que a escrita não seja uma tarefa apenas de transcrição, mas algo significativo para sua vida, em que a sua produção seja também uma ação comunicativa. (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) Produção de sons da língua estrangeira Língua estrangeira Quando aprendemos uma língua estrangeira nos deparamos com alguns sons que não conseguimos pronunciar, embora não sejamos incapazes de produzi-los. Produção de sons em uma língua estrangeira envolve aprender uma gramática internalizada, cujo domínio nós não possuímos Domínio da estrutura gramatical da outra língua (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) Domínio de outra língua Devemos aprender as relações contrastivas, não contrastivas e combinatórias da língua estrangeira. Exemplo: falante de português aprendendo espanhol. Como é a produção das vogais por brasileiros aprendizes de espanhol como língua estrangeira? E dos falantes de espanhol aprendendo português? Transferência do funcionamento do sistema fonológico da língua materna para a produção em língua estrangeira Transferência fonético-fonológica da língua materna para a língua estrangeira Utilização de estratégias e conhecimentos que os falantes adquiriram com o uso de sua língua materna (estratégia cognitiva). Ex: produção da oclusiva /g/ do morfema –ing, que indica o aspecto progressivo no inglês Importante: Sotaque. “making” mak[ing] em vez de mak[ɪŋ]. Fonética Forense e processamento da linguagem natural Fonética Forense Aplicação do conhecimento, teorias e métodos da fonética às tarefas do contexto policial para apresentação de evidências em tribunais, a qual desenvolve novos métodos e teorias especificamente dedicadas à investigação. (Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/home) A Fonética Forense tem por objetivo identificar aspectos característicos da fala de uma pessoa e somente dela. Utiliza-se de parâmetros fonético-acústicos, em geral, para determinar características idiossincráticas do falante, ou seja, o que é específico de uma determinada pessoa. Importância: produção de provas capazes de serem utilizadas no âmbito jurídico como fundamentação técnica de uma sentença jurídica. Identificação de locutores Objetiva determinar se a fala de uma pessoa em situação de suspeição, isto é, suspeita de um crime, pode ser identificada como a mesma de um criminoso. Método: comparação da voz suspeita com outras diferentes vozes, utilizando-se parâmetros fonéticos acústicos para a confirmação ou refutação da suspeita. Processamento de Linguagem Natural Área que estuda como desenvolver mecanismos para que softwares sejam capazes de processar a linguagem natural. Desenvolvimento de tecnologias: comandos de voz no smartphone e Google Assistente, por exemplo. Um dos domínios: Conversão Texto-Fala (TTS do inglês, Text-To-Speech). Resolução de Exercício Situação-problema Em sua aula de espanhol para adultos, você percebeu que a maioria dos seus alunos custa a perceber que algumas vogais do português não são pronunciadas em espanhol, pois, embora o vocabulário seja parecido, os sistemas linguísticos são diferentes e com características específicas. Observe dados da pronúncia de um dos alunos: a. mujer - muj[ɛ]r b. diez - di[ɛ]z c. negócios - neg[ɔ]cios Situação-problema Como professor de espanhol, você sabe que a pronúncia nativa dessas palavras é realizada com as vogais médias altas [e] e [o]. Quais alternativas seriam possíveis para os alunos perceberem essa diferença? Qual a explicação linguística para essa dificuldade de adequar-se à pronúncia em língua estrangeira? Solução Em muitos casos, o falante assimila um determinado som para aquele mais próximo do que ele encontra em sua língua materna. É um processo de transferência do conhecimento da sua gramática internalizada para a língua estrangeira. Solução Atuação do professor: • Elaboração de atividades de aprendizagem de maneira implícita, em que o aprendiz é exposto à categoria que ele não conhece, assim, é levado ao conhecimento pela exposição à língua. • Explicitação dos sons ou das estruturas da língua que o aluno deve aprender a reconhecer como diferentes da sua língua materna. Perguntas Recapitulando • Oralidade e Escrita; • Aquisição da língua; • Correspondência grafema-fonema; • Escrita de crianças em fase de aprendizagem; • Hipossegmentação e Hipersegmentação; • Desvios fonológicos e escrita; • Letramento; • Importância da consciência fonológica; • Aprendizagem de língua estrangeira; • Fonética forense; • Tecnologias de conversão texto-fala. Revisão Referências HOUAISS, Antonio. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga; LAZZAROTTO-VOLCÃO, Cristiane. Para conhecer Fonética e Fonologia do português brasileiro. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2019. SILVA, Thaïs Cristófaro. Dicionário de Fonética e Fonologia. São Paulo: Contexto, 2017. SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e Fonologia do português brasileiro. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2019.