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RELAÇÃO DO DICK COM O MUNDO Dick é uma criança de 4 anos de idade que é levado ao consultório de Melanie Klein através de sua babá na tentativa de ajudá-lo a se adaptar ao mundo que ele estava inserido uma vez que ele se apresentava como uma criança distante e sem nenhum tipo de relacionamento com a realidade, com um desenvolvimento intelectual rebaixado e comparado a uma criança de 15 meses. Ele tinha um vocabulário muito pobre, utilizando-se de ruídos e sons quase incompreensíveis para se comunicar e em alguns momentos verbalizava alguma palavra de forma desconexa, aleatória e a repetia incansavelmente. Ao se machucar não demonstrava sensibilidade a dor e nem uma consciência corporal, ele era alheio ao seu próprio corpo de tal forma que não solicitava ajuda e conforto em meio a dor. Na relação com a babá, ele também não demonstra qualquer vínculo afetivo. Ao ser convidado para entrar na sala de Klein para uma consulta ele se desloca para a sala sem nenhuma interação com ela e com a babá, simplesmente se movimenta como se não houvesse pessoas no ambiente. Ao entrar na sala para consulta Dick corre de um lado para outro sem direção, sem sentido, sem intenção, quase que desgovernado correndo em volta de Klein como se ela fizesse parte do mobiliário. Klein deixava à disposição das crianças brinquedos para que através do brincar espontâneo elas pudessem expressar suas angústias, medos, histórias pois não tinham um repertório verbal tão extenso capaz de abarcar suas narrativas que seriam seu material de trabalho. Dick porém, não demonstra qualquer interesse pelos brinquedos, nem mesmo interage com o ambiente e com Kein. Ele não demonstra interesse pelos brinquedos e a incapacidade de se comunicar e de representar simbolicamente através do brincar ficam limitadas. Isso a leva então a perceber que no caso de Dick a sua técnica deveria ser modificada, pois suas limitações verbais, sua falta de interação com o ambiente e todo material que ele entregava era escasso e precário para análise. Klein então modifica sua técnica com o objetivo de se comunicar e acessar de forma mais efetiva o inconsciente dessa criança e também estabelecer uma interação com ela introduzindo 2 brinquedos, um trem grande e um trem pequeno que os nomeou de” trem papa e trem Dick”. Nesse movimento, Klein procura introduzir simbolicamente para ele uma isca, uma ponte para acessar sua imaginação, seu mundo simbólico através dela mesmo oferecendo o brinquedo e os nomeando. Dick então pega o trem chamado Dick e anda até a janela chamando de estação.Ela então diz que o trem está entrando na mamãe e ele logo se retrai e corre para as portas dizendo escuro e faz isso repetidas vezes. Klein então vai ajudando Dick a acessar, a trazer para fora suas emoções através de um repertório criado por ela, o mundo dele, seu inconsciente.Ele então pega o trem e diz que está indo para dentro da mâe escura e diz “babá” e ela devolve para ele dizendo que ela já vem e ele usa as palavras corretamente. Isso chama a atenção de Klein porque nesta situação ele demonstra um sentimento, uma falta, pois é algo que está sendo buscado nele, uma representação mental, um sentimento, a percepção de que o outro existe e se relaciona com ele, evocando uma possibilidade de simbolização. Nas consultas seguintes ele vai se interessando por alguns brinquedos demonstrando uma necessidade de expulsar, cortar e jogar objetos como uma forma de expelir a urina, as fezes. Klein vai notar aí rudimentos do desenvolvimento infantil, formas de atacar a mãe, o seio bom e o mal. Em uma consulta ele sente a falta da baba e chora, demonstrando emoções e afetos antes despercebidos.Começa a se movimentar, a projetar em Klein e na babá sentimentos de ameaça e segurança demonstrando a Klein um caminho a seguir com ele .