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Responsabilidade Civil - 2024 - roteiro 1

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ROTEIRO 1 –
Primeira aula – Responsabilidade civil/2023
Conteúdo: (extraído do Livro I – Do Direito das Obrigações)
- Atos unilaterais de vontade – art. 854 ao 886 CC
- Responsabilidade civil – art. 927 ao 954 CC
			 art. 186 ao 188 CC (atos ilícitos)
Lembretes: 
· Fontes das obrigações	- Lei
- Contratos
					- Atos unilaterais
					- Atos ilícitos
· Elementos das obrigações: 	- Sujeitos (devedor e credor)
- prestação
- vínculo jurídico
 A ___________________________________________ B
(Devedor)		 (Prestação)		 (Credor)
1. Atos unilaterais de vontade – Considerações gerais:
(Título VII do Livro I da Parte Especial do CC: promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa).
- São fontes de obrigações.
- Numerus clausus (só se constituirão em casos restritos, previstos em lei).
- Requisitos genéricos de validade são os constantes no art. 104 do CC (sujeito capaz; objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e forma prescrita ou não defesa em lei).
· Conceito de ato unilateral – é um ato lícito e voluntário que torna seu autor credor de outra pessoa, tudo muito semelhante ao que se passa com os contratos, contudo, sem que tenha havido prévio acordo de vontades entre ambos.
I - DA PROMESSA DE RECOMPENSA – (art. 854 ao 860 CC)
a) Conceito: ato obrigacional de alguém que, por anúncio público, se compromete a recompensar, ou gratificar, pessoa que preencha certa condição ou desempenhe certo serviço (independentemente de aceitação de quem quer que seja).
Exemplos: gratificação a quem encontrar determinado objeto ou animal de estimação; ou encontrar pessoa desaparecida; ou fornecer informações para a captura de criminosos.
b) Requisitos (para que a promessa de recompensa se torne obrigatória):
Específicos:
- que lhe tenha sido dada publicidade;
- a especificação da condição a ser preenchida ou o serviço a ser desempenhado; e
- a indicação da recompensa ou gratificação.
Além dos requisitos gerais de validade dos negócios jurídicos elencados no art. 104 CC, quais sejam: 
- Promitente capaz;
- Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e
- forma não defesa em lei.
Importante: a publicidade deve dirigir-se a pessoas indeterminadas, ainda que pertencentes a um grupo determinado, como uma escola. Não pode haver individualização, sob pena de a hipótese se transformar em negócio bilateral (contrato).
Art. 854 CC. Aquele que, por anúncios públicos, se comprometer a recompensar, ou gratificar, a quem preencha certa condição, ou desempenhe certo serviço, contrai obrigação de cumprir o prometido.
c) Aquele que adimplir a condição terá direito de exigir a gratificação (art. 855 CC)
Exemplo: Se A, dono do cachorro Scooby, declara publicamente que recompensará com R$ 1.000,00 quem encontrar o seu animal de estimação perdido, B, realizando tal proeza, passará a ter o direito subjetivo de exigir a prestação.
(Tal direito nasce mesmo que o serviço seja realizado ou a condição satisfeita sem o interesse direto ou declarado pela recompensa).
d) Possibilidade de revogação - A retirada da promessa pode ser feita com a mesma publicidade, se nenhum interessado já tiver adimplido a condição, em respeito à boa-fé (art. 856 CC).
Art. 856 CC. Antes de prestado o serviço ou preenchida a condição, pode o promitente revogar a promessa, contanto que o faça com a mesma publicidade; se houver assinado prazo à execução da tarefa, entender-se-á que renuncia o arbítrio de retirar, durante ele, a oferta.
e) Concorrência de interessados – (é preciso verificar se houve sucessividade ou concomitância).
- Sucessividade – art. 857 CC – caso o ato tenha sido praticado por mais de um indivíduo, terá direito à recompensa aquele que primeiro o praticou.
- Concomitância – art. 858 CC – será necessário verificar se a coisa prometida é divisível ou indivisível. 
Se divisível – dividir-se-á a coisa prometida em partes iguais entre os concorrentes (exemplo: promessa de pagamento de gratificação pecuniária). 
Se indivisível, conferir-se-á por sorteio.
Art. 858 CC. Sendo simultânea a execução, a cada um tocará quinhão igual na recompensa; se esta não for divisível, conferir-se-á por sorteio, e o que obtiver a coisa dará ao outro o valor de seu quinhão.
f) Concursos com promessa pública de recompensa (art. 859 e 860 CC). 
É muito comum, como forma de estímulo à produção cultural (artística, literária ou científica), a realização de concursos públicos com promessas de recompensa.
É condição essencial de validade a estipulação de um prazo (art. 859 CC); logo não se poderá admitir revogação, pela regra geral do art. 856 CC.
A decisão proferida pelo juiz nomeado na publicidade obriga aos interessados (art. 859, § 1º CC).
Na hipótese de empate devem ser observadas as regras estabelecidas para a concorrência de interessados (arts. 857 e 858 CC).
Finalmente, destaca-se que as obras premiadas em tais concursos somente pertencerão ao promitente, se assim for estipulado na publicação da promessa (art. 860 CC).
II - DA GESTÃO DE NEGÓCIOS – (art. 861 ao 875 CC)
a) Conceito: entende-se por gestão de negócios a atuação de um indivíduo, sem autorização do interessado, na administração de negócio alheio, segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, assumindo a responsabilidade civil perante este e as pessoas com que tratar (art. 861 CC).
Exemplo: quando alguém desaparece sem dar notícias e um terceiro (gestor) fica administrando seus bens, sem determinação específica nesse sentido, antes de ser instituída a curadoria de tal massa patrimonial, no processo de declaração de ausência.
Importante: 
- A intervenção do gestor deve ser necessária para evitar o perecimento de coisas ou direitos patrimoniais do dono do negócio.
- A ratificação do dono retroage à data de início da gestão (efeito ex tunc) – art. 873 CC.
Art. 862 CC. Se a gestão for iniciada contra a vontade manifesta ou presumível do interessado, responderá o gestor até pelos casos fortuitos, não provando que teriam sobrevindo, ainda quando se houvesse abstido*.
*Na publicação oficial está escrito ‘abatido’.
b) O art. 869 CC prescreve que “se o negócio for utilmente administrado, cumprirá ao dono as obrigações contraídas em seu nome, reembolsando ao gestor as despesas necessárias ou úteis que houver feito, com os juros legais, desde o desembolso, respondendo ainda pelos prejuízos que este houver sofrido por causa da gestão.”
Duas hipóteses devem ser consideradas, a título exemplificativo de negócio utilmente administrado, o art. 871 e 872 CC.
- Art. 871 – no caso da pessoa que presta alimentos no lugar de alguém obrigado e que estava ausente;
- Art. 872 – no caso de despesas funerárias feitas por terceiro.
Art. 871 CC. Quando alguém, na ausência do indivíduo obrigado a alimentos, por ele os prestar a quem se devem, poder-lhes-á reaver do devedor a importância, ainda que este não ratifique o ato.
Art. 872 CC. Nas despesas do enterro, proporcionadas aos usos locais e à condição do falecido, feitas por terceiro, podem ser cobradas da pessoa que teria a obrigação de alimentar a quem veio a falecer, ainda mesmo que esta não tenha deixado bens.
Parágrafo único. Cessa o disposto neste artigo e no antecedente em se provando que o gestor fez essas despesas com o simples intento de bem-fazer.
c) Obrigações do gestor e do dono do negócio – 
Embora a gestão de negócios tenha sido estabelecida unilateralmente por ato do gestor, o fato é que gera obrigações não somente para este, mas também para o dono do negócio.
- São OBRIGAÇÕES do GESTOR:
1) assim que possível, comunicar ao dono do negócio a gestão que assumiu (art. 864 CC);
2) velar pela gestão do negócio, enquanto o dono ou seus herdeiros (se o titular do negócio falecer) não tomarem providências (art. 865 CC);
3) responder pelos prejuízos causados por qualquer culpa na gestão do negócio (art. 866 CC);
4) responder pelos prejuízos causados por seus eventuais substitutos, sem prejuízo das ações que a ele, ou ao dono do negócio,possam caber (art.867 CC).
A hipótese é aplicável, inclusive, para quando houver mais de um gestor, sendo solidária a responsabilidade civil, na forma do parágrafo único do art. 867 CC;
5) responder pelo caso fortuito quando fizer operações arriscadas, ainda que o dono costumasse fazê-las, ou quando preterir interesse deste em proveito de interesses seus (art. 868 CC).
	Se o negócio for considerado utilmente administrado, terá o seu DONO, as seguintes OBRIGAÇÕES:
1) indenizar o gestor das despesas necessárias e úteis que tiver feito, bem como dos prejuízos que houver sofrido (arts. 868, parágrafo único, e 889 CC).
2) cumprir as obrigações contraídas em seu nome, o que é a regra geral do negócio utilmente administrado, mas também exigível quando a gestão se proponha a acudir prejuízos iminentes, ou redunde em proveito do dono do negócio ou da coisa (art. 870 CC). Nesses casos, porém, a indenização devida ao gestor não excederá em importância às vantagens obtidas com a gestão.
III – DO PAGAMENTO INDEVIDO – (art. 876 ao 883 CC)
- Conceito: quem recebe o que não lhe é devido ou que recebe dívida sujeita a condição suspensiva ainda não implementada fica obrigado a restituir. (art. 876 CC)
* Constitui um modo (espécie) de enriquecimento sem causa.
- O prejudicado que voluntariamente pagou o indevido deve provar seu erro (art. 877 CC).
* Ação de Repetição de Indébito.
(Prazo prescricional para a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa é de três anos – art. 206, § 3º, IV do CC).
- Espécies de pagamento indevido:
a) pagamento objetivamente indevido – quando há erro quanto à existência ou extensão da obrigação (quando nada é devido ou débito inferior ao valor pago).
Exemplo: pagamento realizado enquanto pendente condição suspensiva (débito inexistente) ou quando paga quantia superior à efetivamente devida (débito inferior ao pagamento realizado). 
b) pagamento subjetivamente indevido – quando realizado por alguém que não é devedor ou feito a alguém que não é credor.
Exemplos: a) depósito em conta bancária do irmão do credor.
	 b) pagar dívida da empresa da qual é sócio, supondo que se tratava de dívida pessoal.
Importante: a máxima “quem paga mal paga duas vezes” não impede a propositura de ação de Repetição de Indébito, diante da vedação do enriquecimento sem causa.
- Recebimento indevido de imóvel – art. 879 CC –
* Sintetizando: a ação Reivindicatória movida pelo proprietário será julgada procedente nos seguintes casos:
a) se o bem ainda se encontra em poder do alienante;
b) se o alienante transferiu o bem a título gratuito;
c) se o alienante transferindo o bem a título oneroso a terceiro adquirente de má-fé.
Em relação ao alienante, têm-se os seguintes efeitos jurídicos:
a) se agiu de boa-fé – deve entregar apenas o valor recebido ao proprietário;
b) se agiu de má-fé – deve entregar o valor recebido e pagar as perdas e danos ao proprietário.
- Exclusão do direito à repetição – apesar do pagamento ser voluntário e por erro, existem três exceções no CC onde não haverá repetição, sendo: 
a) art. 880 CC – inutilização do título
b) art. 882 CC – pagamento de dívida prescrita/obrigação natural
c) art. 883 CC – obtenção de fim ilícito.
IV – DO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA – (art. 884 ao 886 CC)
- Conceito: uma das partes de determinada relação jurídica experimenta injustificado benefício, em detrimento da outra, que se empobrece, inexistindo causa jurídica para tanto.
Exemplo: uma pessoa de boa-fé paga uma dívida por engano. Nesse caso, o recebedor da quantia enriqueceu ilicitamente à custa de terceiro.
* Constitui fonte obrigacional, ao mesmo tempo em que a sua vedação decorre dos princípios da função social das obrigações e da boa-fé objetiva.
· Ação “in rem verso” – Pressupostos:
a) enriquecimento do accipiens (de quem recebe);
b) empobrecimento do solvens (de quem paga); (*)
c) relação de causalidade entre o enriquecimento e o empobrecimento;
d) ausência de causa jurídica (contrato ou lei); – art. 885 CC
e) inexistência de ação específica (caráter subsidiário). – art. 886 CC.
(*) O requisito ‘b’ nem sempre estará presente.
Exemplo:
‘A’ empresta para ‘B’ um bem no valor de R$ 2.000,00.
Se ‘B’ destrói o bem, deverá ressarcir ‘A’ no valor do bem, por responsabilidade civil.
MAS se ‘B’ vende a ‘C’ o bem por R$ 2.800,00, e ‘C’ destrói o bem, ‘B’ deverá reembolsar, por responsabilidade civil, a título de perdas e danos ‘A’, o valor do bem, R$ 2.000,00, e por ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA a diferença de R$ 800,00, auferida na venda do bem de ‘A’.
(Não fora pela aplicação da teoria do enriquecimento ilícito, ‘A’ não teria como cobrar de ‘B’ a diferença de 800 reais).

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