Prévia do material em texto
Brasileira Prof.ª Denise Costa Prof.ª Letícia Francez arte Indaial – 2021 2a Edição Elaboração: Prof.ª Denise Costa Prof.ª Letícia Francez Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C837a Costa, Denise Arte brasileira. / Denise Costa; Letícia Francez. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 208 p.; il. ISBN 978-65-5663-956-7 ISBN Digital 978-65-5663-954-3 1. Arte brasileira no século XX. - Brasil. I. Francez, Letícia. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 709 Acadêmico, seja bem-vindo aos estudos da Arte Brasileira. Conhecer as criações artísticas produzidas em nosso país é fundamental para compreendermos as origens de nossa história, assim como os caminhos que nos trouxeram até a arte produzida na contemporaneidade. É também uma forma de valorizarmos nossos saberes, percebendo a diversa riqueza cultural que foi se desenvolvendo ao longo dos séculos e que hoje se converte em importantes expressões e manifestações artísticas. Na Unidade 1, abordaremos as origens da arte brasileira. Vamos conhecer os primeiros vestígios da arte pré-histórica no Brasil, de modo a compreender as diferenças entre as culturas e tradições das antigas civilizações brasileiras. Estudaremos sobre os sítios arqueológicos e sambaquis, a arte marajoara e a cultura Santarém, além de reconhecer os aspectos e valores das manifestações artísticas dos povos originários Em seguida, na Unidade 2, vamos verificar a chegada dos europeus em nosso território, a partir dos registros produzidos por esses colonizadores. Veremos também a valiosa herança das culturas africanas, por meio das representações da arte dessas etnias. Nesta unidade, iremos abordar a arte do período colonial no Brasil, além do barroco e do rococó brasileiro. Fecharemos o tema com os estudos sobre a missão artística francesa e as influências neoclássicas europeias. Por fim, na Unidade 3, nosso foco será a arte brasileira no século XX e XXI. Verificaremos as influências das correntes artísticas europeias em nossa arte, observando o modo como foi se constituindo o modernismo em nosso país. Nesta unidade, abordaremos também sobre a Semana de Arte Moderna, os manifestos produzidos pelos artistas e a organização das Bienais. Ao final da unidade, vamos discorrer sobre a arte realizada na contemporaneidade, identificando a produção artística da segunda metade do século XX e os hibridismos do século XXI. Ao finalizar seus estudos, esperamos que você perceba a relevância das produções artísticas e culturais brasileiras, passando a valorizar ainda mais a diversidade que as permeiam. Que você identifique e conheça os importantes povos, artesãos e artistas que construíram esse trajeto e, também, se reconheça como parte integrante dessa história. Bons estudos! Prof.ª Denise Costa e Prof.ª Letícia Francez APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - ORIGENS DA ARTE BRASILEIRA ..................................................................... 1 TÓPICO 1 - ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL ....................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 VESTÍGIOS DA ARTE PRÉ-HISTÓRICA ..............................................................................3 2.1 REGISTROS MILENARES DA ARTE RUPESTRE NO BRASIL ......................................................... 5 2.2 TRADIÇÕES DA ARTE RUPESTRE ......................................................................................................7 3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SAMBAQUIS ........................................................................18 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 24 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 25 TÓPICO 2 - VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO ..........................................27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................27 2 ARTE MARAJOARA ...........................................................................................................27 3 CULTURA SANTARÉM ...................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 34AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 35 TÓPICO 3 - MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS PRIMITIVOS .............................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................37 2 ARTE INDÍGENA ............................................................................................................... 38 2.1 CERÂMICA .............................................................................................................................................39 2.2 CESTARIA ..............................................................................................................................................43 2.3 ARTE PLUMÁRIA .................................................................................................................................46 2.4 MÁSCARAS .......................................................................................................................................... 48 2.5 PINTURA CORPORAL .........................................................................................................................49 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 53 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................57 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 58 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60 UNIDADE 2 — INFLUÊNCIAS CULTURAIS NA ARTE BRASILEIRA .................................... 63 TÓPICO 1 — DIFERENTES CULTURAS CRIANDO A ARTE NO BRASIL ............................... 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 65 2 REGISTROS DO BRASIL NA VISÃO DOS EUROPEUS ..................................................... 65 2.1 CENAS DO BRASIL NA REPRESENTAÇÃO DOS HOLANDESES ................................................66 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................72 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................73 TÓPICO 2 - ARTE DO PERÍODO COLONIAL NO BRASIL ......................................................75 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................75 2 ARTE COLONIAL ................................................................................................................76 2.1 ARQUITETURA ...................................................................................................................................... 77 2.1.1 Fortificações ................................................................................................................................82 2.1.2 Igrejas .......................................................................................................................................... 84 2.2 PINTURA .............................................................................................................................................. 88 2.3 ESCULTURA ........................................................................................................................................92 3 O BARROCO NO BRASIL ...................................................................................................95 3.1 ALEIJADINHO E SUAS OBRAS .........................................................................................................99 3.2 MESTRE ATAÍDE E SUAS OBRAS ..................................................................................................103 4 O ROCOCÓ NO BRASIL ................................................................................................... 104 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................106 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................107 TÓPICO 3 - FRUTOS DE UMA ÉPOCA REAL ......................................................................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................109 2 MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA......................................................................................111 2.1 VISÃO DOS ARTISTAS VIAJANTES .................................................................................................114 3 INFLUÊNCIAS NEOCLÁSSICAS EUROPEIAS ................................................................. 119 3.1 TALENTOS BRASILEIROS DA ARTE ACADÊMICA ....................................................................... 122 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 127 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................133 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................135 UNIDADE 3 — ARTE BRASILEIRA NO SÉCULO XX E XXI .................................................. 137 TÓPICO 1 — RUMO A UMA ESSÊNCIA ESTILÍSTICA BRASILEIRA: INFLUÊNCIAS DE CORRENTES ARTÍSTICAS DA EUROPA ............................................................................139 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................139 2 VANGUARDAS EUROPEIAS NO BRASIL........................................................................ 140 2.1 EXPRESSIONISMO ..............................................................................................................................141 2.1.1 Anita Malfatti .............................................................................................................................141 2.1.2 Lasar Segall ............................................................................................................................... 142 2.1.3 Candido Portinari .....................................................................................................................143 2.2 FAUVISMO ..........................................................................................................................................144 2.2.1 Arthur Timótheo da Costa .....................................................................................................144 2.2.2 Inimá José de Paula .............................................................................................................. 145 2.3 CUBISMO ............................................................................................................................................146 2.3.1 Tarsila do Amaral ...................................................................................................................... 147 2.3.2 Vicente do Rego Monteiro ....................................................................................................148 2.3.3 Emiliano Di Cavalcanti ...........................................................................................................149 2.4 SURREALISMO ..................................................................................................................................150 2.4.1 Ismael Nery ................................................................................................................................1512.4.2 Cícero Dias ............................................................................................................................... 152 3 DIFERENTES EXPRESSÕES DA ARTE BRASILEIRA .....................................................153 3.1 LITERATURA ........................................................................................................................................ 154 3.2 ESCULTURA ....................................................................................................................................... 155 3.3 ARQUITETURA ...................................................................................................................................158 3.4 GRAVURA ........................................................................................................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................162 TÓPICO 2 - ARTE MODERNA BRASILEIRA: EM BUSCA DA RUPTURA ............................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................165 2 SEMANA DE ARTE MODERNA .........................................................................................165 3 VALOR ÀS RAÍZES NACIONAIS ...................................................................................... 167 3.1 MOVIMENTO PAU-BRASIL ...............................................................................................................168 3.2 MOVIMENTO VERDE-AMARELO ....................................................................................................169 3.3 MOVIMENTO ANTROPOFÁGICO ..................................................................................................... 170 4 FORMAÇÃO DE SOCIEDADES, CLUBES E GRUPOS .......................................................171 4.1 NÚCLEO BERNARDELLI .................................................................................................................... 171 4.2 SOCIEDADE PRÓ-ARTE MODERNA .............................................................................................. 172 4.3 CLUBE DOS ARTISTAS MODERNOS ............................................................................................. 172 4.4 GRUPO SANTA HELENA .................................................................................................................. 172 5 BIENAIS DE SÃO PAULO ................................................................................................. 172 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 179 TÓPICO 3 - ARTE CONTEMPORÂNEA NO BRASIL: PANORAMA DO SÉCULO XXI .......... 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 181 2 PRODUÇÃO ARTÍSTICA DO SÉCULO XX ........................................................................ 181 2.1 EXPERIMENTAÇÕES VISUAIS .........................................................................................................182 2.1.1 Arte Concreta ............................................................................................................................185 2.1.2 Arte Cinética .............................................................................................................................188 2.1.3 Pop art ........................................................................................................................................189 2.1.4 Arte conceitual .........................................................................................................................190 2.1.5 Instalações .................................................................................................................................191 2.1.6 Performances ........................................................................................................................... 192 2.1.7 Grafite .......................................................................................................................................... 193 3 HIBRIDISMO DO SÉCULO XXI .........................................................................................194 3.1 INTERVENÇÕES E MATERIALIDADES ........................................................................................... 195 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................198 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 204 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................... 205 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 207 1 UNIDADE 1 - ORIGENS DA ARTE BRASILEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer as origens da arte brasileira; • compreender as diferenças entre as culturas e tradições das antigas civilizações brasileiras; • identifi car a arte das culturas amazônicas da pré-história; • reconhecer os aspectos e valores da arte indígena brasileira. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL TÓPICO 2 – VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO TÓPICO 3 – MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS PRIMITIVOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ARTE PRÉ-HISTÓRICA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste primeiro tópico você irá conhecer as origens da arte brasileira. Abordar estes caminhos iniciais é também referir-nos ao que precede a chegada dos portugueses, em 1500, bem como a formação política do Brasil, pois aqui viviam as populações denominadas pré-cabralinas, ou seja, comunidades que possuíam sua própria cultura. Segundo Tirapeli (2006, p. 11), “as estimativas sobre o número de habitantes nativos no Brasil na época da chegada dos europeus são pouco precisas, variando entre um e dez milhões de indivíduos”. O autor alega que na bacia amazônica podem ter vivido, na época, 5,6 milhões de indivíduos. A partir de estudos dos registros encontrados e analisados por pesquisadores podemos conhecer a origem de nossa cultura. O termo cultura, em uma concepção mais ampla, para Coelho (2014, p. 114), “caracteriza o modo de vida de uma comunidade”. Assim, é possível descortinar o passado e escrever a história. Por meio da História é possível observar as complexas transformações ocorridas no pensamento humano por milhares de anos, na tentativa de compreender razões ou motivações que levaram as populações pré-históricas a produzir as diversas expressões que hoje denominamos arte. Entrar nas cavernas mais primitivas da nossa história para conhecer os mistérios dos primórdios de nossos antepassados, suas descobertas, práticas e costumes é um convite a uma viagem fascinante às origens milenares do ser humano. 2 VESTÍGIOS DA ARTE PRÉ-HISTÓRICA A arte vem sendo produzida pelo ser humano desde os tempos mais distantes, quando ainda não havia instrumentos e ferramentas próprias para sua execução. Vestígios milenares de grafismos, pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, podem ser observadosnas mais diversas regiões do Brasil, mas é importante relembrar alguns conceitos para localizar-nos no tempo histórico. Uma das características que envolvem o significado de Pré-História é a ausência de registros expressos por meio da escrita formal, considerando que “no continente americano adotou-se o termo Pré-História para se referir ao período anterior à chegada de Colombo”, como apontam Funari e Noelli (2020, p. 14). Mesmo que em TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 outros continentes a escrita já existisse na época das grandes navegações, no território da América do Sul onde é hoje o Brasil, a escrita não foi detectada, sendo introduzida após a chegada dos Europeus. Para Prous (2011, p. 11), “as artes da Pré-História (grafismos e objetos aos quais atribuímos um valor estético, elaborados por grupos humanos que não deixaram textos escritos e sobre os quais não dispomos de documentação escrita) são estudadas pela arqueologia, ou seja, a partir da interpretação dos vestígios materiais”. Esses vestígios são rigorosamente analisados, datados e descritos por arqueólogos, possibilitando o acesso das pessoas interessadas às informações. É importante saber que para identificar as datas dos vestígios encontrados, Funari e Noelli (2020, p. 20) esclarecem que arqueólogos utilizam “diversas técnicas em laboratório, como o Carbono 14 e a termoluminescência”. Dessa forma é possível datar os materiais encontrados e até revelar sua constituição e formas de utilização. Imaginar o que poderia ser feito de um simples pedaço de rocha e transformá-lo em instrumento de caça, dominar técnicas para construir ferramentas e utensílios sem o acesso a maquinários, evidenciam que as habilidades de nossos ancestrais garantiram a sobrevivência da espécie humana por milhares de anos. Diante disso, é importante reconhecer o papel do ser humano pré-histórico no desenvolvimento tecnológico que nos acompanha a cada milênio. O que é Carbono 14? Os cientistas usam o carbono 14 para determinar a idade de fósseis animais e vegetais ou de qualquer objeto que seja subproduto de tais, como um pedaço de madeira ou de pano. Prous (2007) explica que os seres vivos (vegetais e animais) absorvem partículas de carbono. Quando ocorre a morte, não há mais renovação do carbono; o carbono radioativo (de massa atômica 14), instável, transforma-se, então, progressivamente em carbono 12 (isótopo estável) e quanto menos carbono 14 sobra, maior será o tempo decorrido desde a morte. O método não permite datar com segurança além de 40.000 anos, quando a quantidade de carbono 14 se torna pequena demais para ser medida e a margem de erro aumenta muito. Veja também sobre o Carbono 14 em: https://brasilescola.uol.com.br/o- que-e/quimica/o-que-e-carbono-14.htm. INTERESSANTE 5 2.1 REGISTROS MILENARES DA ARTE RUPESTRE NO BRASIL O que entendemos hoje como arte, ou seja, as manifestações estéticas registradas durante milênios, em rochas ou em outras produções utilitárias e cerimoniais, acompanham o ser humano, desde tempos remotos, quando já se sentia a necessidade de se comunicar. Já o período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos por meio de inscrições em rochas. As artes gravadas, desenhadas ou pintadas em paredes de rochas, são denominadas rupestres “do latim rupes, rupis, que significa rochedo”, como explica Prous (2011, p. 11). Podem ser encontradas em várias regiões do Brasil, datadas de milhares de anos, como mostra a figura a seguir: FIGURA 1 – SÍTIO ARQUEOLÓGICO DA PEDRA PRETA FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/624/>. Acesso em: 30 jul. 2021. É importante observar e conhecer as diferenças entre as técnicas utilizadas para a representação dos registros parietais. Os desenhos, formas delineadas nas rochas, muitas vezes recebiam pinturas com tintas preparadas com pigmentos obtidos a partir de elementos naturais (PROUS, 2011). O óxido de ferro era utilizado para a produção de vermelho, ocre e amarelo, enquanto o marrom e tonalidades escuras tinham como base o dióxido de manganês. Pigmentos pretos eram extraídos de carvão obtido pela queima de madeira ou ossos. FIGURA 2 – DESENHO FONTE: <https://bit.ly/3owprMz>. Acesso em: 30 jul. 2021. 6 As cores eram aplicadas na rocha friccionando uma espécie de massa de pigmento seco e duro. Algumas pinturas eram elaboradas com as mãos, por meio de sopro, ou também com pincéis confeccionados com galhos de árvores. As tintas eram produzidas com um aglutinante, possivelmente extraído de gordura animal, para dar liga ao pigmento, facilitando a pintura. FIGURA 3 – PINTURA FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/galeria/detalhes/396?eFototeca=1>. Acesso em: 30 jul. 2021. Algumas gravuras rupestres eram elaboradas com incisões que produziam sulcos na rocha, formando figuras, formas geométricas ou outros elementos. Em determinados locais há aplicação de pigmentos em sulcos produzidos nas rochas. Em alguns sítios a pintura desaparece devido às condições climáticas. FIGURA 4 – GRAVURA: ABRIGO DO ALVO, SÃO PAULO FONTE: Prous (2011, p. 23) Outra técnica utilizada na elaboração de gravuras eram os picoteados, possivelmente realizados com uma ferramenta de ponta sobre a parede rochosa. Essa técnica resulta em figuras foscas em um fundo rugoso. 7 FIGURA 5 – GRAVURA PICOTEADOS: LAPA DE POSEIDON, MINAS GERAIS FONTE: Prous (2011, p. 23) O pensamento que se tem de que os primeiros seres a ocuparem o território brasileiro eram ditos “primitivos” e estavam somente a caçar grandes animais é uma ideia que contrasta com o universo pictórico e de forte apelo estético desses povos (GASPAR, 2003). O estudo da arte rupestre nos revela um universo bastante simbólico e complexo e que aos poucos vai sendo desvendado pelos pesquisadores da arte pré-histórica. As imagens da arte rupestre demonstram as expressões dos povos milenares, bem como suas particularidades. As representações de cenas carregadas de simbologias, cores, elementos estilísticos, nos permitem fazer uma viagem ao passado e imaginar o cotidiano dessas sociedades. Os registros da arte rupestre sofreram a ação do clima por milhares de anos, por esse motivo, suas cores e formas podem estar com aspecto diferente do que quando foram produzidas. Além disso, sabe-se que há riscos de atos de vandalismo, o que significa grande perda para o patrimônio histórico. 2.2 TRADIÇÕES DA ARTE RUPESTRE Tradição é um termo utilizado na arqueologia para fazer referência ao conjunto de traços culturais que possibilita a identificação das sociedades, nos diversos lugares e tempos. Gaspar (2003) faz alusão às denominações estabelecidas pelo arqueólogo André Prous às oito tradições distribuídas no território brasileiro: Meridional, Litorânea, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. É importante ressaltar que as tradições possuem milhares de anos de existência e, algumas delas foram sucedidas por outros registros também milenares. Por esse motivo podem ser encontrados diferentes padrões estilísticos em um mesmo sítio arqueológico, como formas geométricas, figuras biomorfas, zoomorfas ou antropomorfas. 8 Na figura a seguir pode-se observar as oito tradições da arte rupestre, que estão distribuídas em todas as regiões do Brasil. FIGURA 6 – MAPA COM A DISTRIBUIÇÃO DAS TRADIÇÕES DE ARTE RUPESTRE FONTE: Gaspar (2003, p. 44) A Tradição Meridional ocorre no sul do Brasil, a maioria no planalto do Rio Grande do Sul, possivelmente com menos de 2.000 anos, estende-se para a Argentina e ao longo dos rios Paraná e Paraguai, segue até a Bolívia e possivelmente pelo rio Araguaia até Serranópolis, estado de Goiás. Em relação às formas das figuras, aquelas consideradas biomorfas referem- se às formas de organismos vivos; as zoomorfas correspondem às formas de animais e as antropomorfas são relativas às formas de seres humanos. NOTA 9 São encontradas gravuras com sulcos de aproximadamente um centímetro, onde há vestígios de pigmentos empreto, branco, marrom ou roxo. Alguns registros possuem conjuntos de círculos que fazem referência à forma de pegadas de animais, possivelmente felídeos. Há também gravuras picoteadas com algumas incisões circulares e representações biomorfas, que possuem semelhanças com organismos vivos. FIGURA 7 – CANHEMBORÁ, NOVA PALMA (RS) FONTE: Gaspar (2003, p. 29) Com temática considerada pobre, as imagens apresentam traços retos, paralelos ou cruzados e algumas linhas curvas. Há também a combinação de traços retos, os quais produzem formas denominadas tridáctilos, ou seja, que possuem três dedos. FIGURA 8 – GRAVURA DA TRADIÇÃO MERIDIONAL – SÍTIO D. JOSEFA (RS) FONTE: Gaspar (2003, p. 27) 10 A Tradição Litorânea, encontrada no litoral do estado de Santa Catarina, do município de Porto Belo até o Farol de Santa Marta. No município de Laguna, caracteriza- se por gravações com sulcos de até quatro centímetros de largura, feitas no granito. O pesquisador André Prous encontrou registros de quatorze temas com formas humanas e geométricas, todos com características comuns, mas com temas bem específicos, parecendo marcar sua individualidade. FIGURA 9 – ILHA DO CAMPECHE (SC) FONTE: Gaspar (2003, p. 30) Segundo Prous (2011, p. 25), os desenhos mais comuns encontrados na Ilha do Arvoredo são círculos ou elipses, enquanto na Ilha das Aranhas e Praia do Santinho aparecem losangos e figuras em formato de ampulheta. Desenhos com linhas entrecortadas são encontrados na Barra da Lagoa e na Guarda do Embaú. FIGURA 10 – ILHA DOS CORAIS (SC) FONTE: Gaspar (2003, p. 27) 11 A Tradição Geométrica, como nomeada, possui quase somente gravuras geométricas. Gaspar (2003, p. 28) indica que “atravessando o planalto de Sul até o Nordeste, cortando os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso” estão localizadas essas inscrições. Prous classifica a Tradição Geométrica em setentrional, locais próximos a rios, e meridionais, como aponta Gaspar (2003), aquelas que possuem gravações, por vezes, retocadas com pigmentos, em locais que não são banhados por águas. FIGURA 11 – A PEDRA LAVRADA, DE INGÁ (PB): TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (SETENTRIONAL) FONTE: <https://bit.ly/3l5xAp9>. Acesso em: 30 jul. 2021. A Pedra de Ingá, representada no esquema da figura seguinte, “possui a possível representação de uma espiga de milho” (PROUS, 2011, p. 38), entre outros elementos que indicam formas de animais e figuras humanas. FIGURA 12 – A PEDRA LAVRADA, DE INGÁ (PB): TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (SETENTRIONAL) FONTE: Gaspar (2003, p. 28) É importante ressaltar que as inscrições localizadas no Morro do Avencal, próximo da cidade de Urubici, no estado de Santa Catarina, pertencem à Tradição Geométrica, classificada por Prous como meridional. 12 FIGURA 13 – TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (MERIDIONAL). MORRO DO AVENCAL (SC) FONTE: Acervo das autoras A figura seguinte traz um esquema da representação das gravuras localizadas no planalto catarinense, as quais se parecem com a tradição Meridional e são diferentes daquelas encontradas no litoral do estado. FIGURA 14 – TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (MERIDIONAL) – MORRO DO AVENCAL (SC) FONTE: Gaspar (2003, p. 37). A Tradição Planalto, encontrada do Paraná ao estado do Tocantins, apresenta grafismos representando predominantemente figuras de cervídeos. Segundo Gaspar (2003, p. 37) “a maioria dos sítios apresenta grafismos pintados em vermelho, embora ocorra também alguns nas cores preta, amarela e mais raramente branca”. Há também representação de peixes, como demonstrado na figura que segue, entre outros animais. 13 FIGURA 15 – SANTANA DO RIACHO (MG) FONTE: Gaspar (2003, p. 31) Existem muitos registros de peixes, inclusive de pesca ou animais, geralmente pintados em vermelho. São tatus, onças, aves e em alguns locais são encontrados registros de figuras humanas e formas geométricas. FIGURA 16 – IAPÓ E TIBAGI (PR) FONTE: Gaspar (2003, p. 37) A Tradição Nordeste ocorre no Piauí, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte, parte da Bahia, Ceará e norte de Minas Gerais. As pinturas são monocromáticas, ou seja, possuem uma única cor. Segundo Prous (2011, p. 33), “as representações zoomorfas, ou seja, que possuem formas de animais, incluem um grande número de emas e cervídeos, isolados ou correndo em bando”. O autor ainda descreve a ocorrência de cenas de combate e representações de aldeias. 14 FIGURA 17 – TOCA DO BOQUEIRÃO DA PEDRA FURADA (PI) FONTE: Gaspar (2003, p. 32) Há registros de gravuras indicando figuras humanas, animais e algumas formas geométricas. As figuras são retratadas segurando objetos, possivelmente armas, indicando a possibilidade de caças ou rituais pelos grupos de antropomorfos. FIGURA 18 – FIGURAS HUMANAS – TRADIÇÃO NORDESTE FONTE: Gaspar (2003, p. 37) A Tradição Agreste ocorre no Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Piauí, caracterizando-se pela presença de grandes figuras geométricas ou biomorfas, figuras humanas caçando ou pescando, que remetem a espantalhos. Aparecem também alguns animais representados de forma estática. Prous considera que pode haver locais com imagens das Tradições Nordeste e São Francisco, possivelmente produzidos em épocas diferentes (GASPAR, 2003, p. 39). 15 FIGURA 19 – PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA (PI) FONTE: Gaspar (2003, p. 33) Prous (2011) considera que as figuras são variadas e aparentam terem sido produzidas em diversos momentos. Aparecem impressões de mãos, grafismos ou figuras carimbadas nas rochas. As figuras antropomorfas e zoomorfas são representadas de maneira tosca. FIGURA 20 – SÍTIO PEDRA REDONDA, PEDRA (PE) FONTE: Gaspar (2003, p. 38) A Tradição São Francisco, encontrada no vale do rio São Francisco, em Minas Gerais, Bahia e Sergipe e nos estados de Goiás e Mato Grosso, apresenta grafismos com motivos geométricos e desenhos com formas humanas ou animais. Gaspar (2003) reconhece que a combinação de cores vivas e a organização das figuras geométricas torna os painéis extraordinariamente espetaculares. 16 FIGURA 21 – LAPA DO BOQUETE – JANUÁRIA (MG) FONTE: Gaspar (2003, p. 34) Gaspar (2003, p. 34) afirma que “os répteis são formas frequentes na tradição São Francisco” e, como cita Prous (2011, p. 30), no Peruaçu surge tardiamente o estilo Caboclo, com figuras complexas. Pode-se notar a representação de armas e objetos utilitários. FIGURA 22 – PARTE DO PAINEL III DA LAPA DO CABOCLO (MG) FONTE: Gaspar (2003, p. 40) A Tradição Amazônica é caracterizada por antropomorfos simétricos e geometrizados. O tema principal são figuras humanas completas ou apenas a cabeça. Segundo Gaspar, as figuras completas “exibem os traços do rosto, inclusive boca com dentes” (GASPAR, 2003, p. 42). Algumas figuras indicam representação de gravidez. 17 FIGURA 23 – SERRA DA CARETA – PRAINHA (PA) FONTE: Gaspar (2003, p. 36) Como se vê na fi gura seguinte, além de traços do rosto, o corpo possui desenhos geométricos que, para Gaspar (2003), parece a sugestão de algum tipo de adorno, assim como cocares nas cabeças. FIGURA 24 – ANTROPOMORFOS – TRADIÇÃO AMAZÔNICA FONTE: Gaspar (2003, p. 42) Para saber mais sobre este assunto, procure assistir ao fi lme "O Ateliê de Luzia - Arte Rupestre no Brasil". Produzido por Marcos Jorge, a produção retrata as conclusões atuais da arqueologia no que se refere aos vestígios visuais do homem brasileiro. A sociedade brasileira é investigada desde suas origens, abordando os limites DICA 18 3 SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E SAMBAQUIS Sítios arqueológicos, conforme Tirapeli (2006, p. 13), são locais “onde há indicativos da presença de seres humanos há milhares de anos”. Em um país gigante como o Brasil, pesquisadores já encontraram uma infinidade de sítios arqueológicos, como indica a imagem das ocorrências georreferenciadas, ou seja, com informações sobre a forma, dimensão e localização exata, bem como suas coordenadas no globo terrestre. No mapa é possível verificar que há ocorrência em todas as regiões, conforme CadastroNacional de Sítios Arqueológicos (CNSA), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). FIGURA 25 – SÍTIOS GEORREFERENCIADOS FONTE: <https://bit.ly/3o9PU2i>. Acesso em: 30 jul. 2021. Sambaqui, palavra de origem Tupi, significa amontoado ou depósito de conchas. Essas colinas, formadas na maior parte por restos de conchas, caracterizadas por serem elevações com formato arredondado que, “em algumas regiões do Brasil”, atingem “mais de 30m de altura” (GASPAR, 2004, p. 5). Esses montes são consequência do acúmulo de conchas, cascas de ostras e outros restos de alimentos de origem animal e outros vestígios de indivíduos que viveram no litoral do Brasil. Os moradores dos sambaquis fabricavam algumas vezes figuras antropomorfas, ou seja, que possuem formas humanas, mas geralmente suas produções eram as esculturas biomorfas em pedra. Muitas são côncavas na região do abdômen, talvez para moer utilizando um pilão ou talvez para oferendas em rituais. 19 FIGURA 26 – SAMBAQUI FONTE: <https://bit.ly/3ue2sqz>. Acesso em: 26 jul. 2021. Para Gaspar (2004, p. 24), “no sambaqui ocorreria a associação espacial de três importantes domínios da vida cotidiana: o espaço da moradia, o local dos mortos e o de acumulação de restos faunísticos relacionados com a dieta de seus construtores”. Esses vestígios, como outros, guardam importantes informações sobre a vida das comunidades que aqui viveram há milhares de anos, possibilitando resgatar o conhecimento sobre nossas origens. Reconhecidos como parte integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro pela Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 216, os bens de natureza material de valor arqueológico são definidos e protegidos pela Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961, sendo considerados bens patrimoniais da União. Também são considerados sítios arqueológicos os locais onde se encontram vestígios positivos de ocupação humana, os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou de aldeamento, "estações" e "cerâmicos”, as grutas, lapas e abrigos sob rocha, além das inscrições rupestres ou locais com sulcos de polimento, os sambaquis e outros vestígios de atividade humana. FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/315/>. Acesso em: 25 set. 2021. IMPORTANTE No Brasil há milhares de sítios arqueológicos com importantes inscrições rupestres, como também um dos maiores sambaquis do mundo, localizado em Santa Catarina. Dentre eles, conforme o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), “o Brasil possui dezoito bens arqueológicos tombados em todo o território, sendo onze sítios, e seis coleções arqueológicas localizadas em museus” (IPHAN, 2021, s.p.). É a proteção não só do nosso patrimônio cultural, mas da história de nossas origens. 20 Alguns exemplos do patrimônio arqueológico do Brasil: A Ilha do Campeche, localizada no município de Florianópolis, no estado de Santa Catarina, possui diversas ofi cinas líticas e gravuras rupestres com representações geométricas. FIGURA 27 – ILHA DO CAMPECHE (SC) FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/670/>. Acesso em: 23 jul. 2021. O sítio arqueológico Pedra do Ingá, localizado na cidade de Ingá, região agreste da Paraíba, destaca-se pelas representações abstratas, elaboradas com extrema qualidade técnica. As gravuras estão registradas em grandes painéis de rochas, localizadas em planície de inundação do leito dos rios. A página do IPHAN na internet traz diversas informações importantes sobre preservação e divulgação do patrimônio material e imaterial do país. Acesse em: http://portal.iphan.gov.br. DICA 21 FIGURA 28 – SÍTIO ARQUEOLÓGICO ITACOATIARAS DO RIO INGÁ (PB) FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/552/>. Acesso em: 23 jul. 2021. O Parque Nacional da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí, é um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo, com milhares de inscrições rupestres e outros vestígios pré-históricos que retratam o cotidiano dos indivíduos. São cenas de caça, animais, guerras, entre outros registros. FIGURA 29 – SÍTIO TOCA DO ESTEVO III, ONÇA BRANCA FONTE: <http://fumdham.org.br/parque/>. Acesso em: 26 jul. 2021. No ano de 1991 o Parque Nacional Serra da Capivara foi incluído na lista do Patrimônio Cultural Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Muitos dos diversos abrigos rochosos que estão nesse parque são decorados com pinturas rupestres, sendo que algumas delas possuem mais de 25 mil anos. Esse conjunto é um expressivo testemunho de uma das ocupações humanas mais antigas da América Latina. 22 FIGURA 30 – BOQUEIRÃO DO SÍTIO DA PEDRA FURADA FONTE: <http://fumdham.org.br/parque/>. Acesso em: 26 julho 2021. De acordo com a Unesco (2021, s.p.), “um patrimônio cultural mundial é composto por monumentos, grupos de edifícios ou sítios que tenham um excepcional e universal valor histórico, estético, arqueológico, científi co, etnológico ou antropológico”. Por isso, é de fundamental importância garantir a segurança para a preservação da identidade e da memória das culturas. Na região norte do Brasil, o Sítio Arqueológico Mirante, localizado no município de Presidente Médici, no estado da Rondônia, possui sítios lito-cerâmicos e de gravuras rupestres que indicam o uso de instrumentos. FIGURA 31 – OFICINA LÍTICA, SÍTIO ARQUEOLÓGICO MIRANTE FONTE: <http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/530/>. Acesso em: 26 julho 2021. No site da UNESCO você encontra alguns vídeos sobre os sítios arqueológicos do Parque Nacional da Serra da Capivara. Acesse e assista para conhecer mais em: http://whc.unesco.org/en/list/606/video/. DICA 23 Na página da Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) podem ser visualizadas mídias com modelos interativos de diversos elementos da Pré-História do Brasil. Acesse em: http://fumdham.org.br/midias/midias- modelos-interativos/. Edithe Pereira é uma arqueóloga paraense vinculada ao Museu Paraense Emílio Goeldi e escreveu um livro sobre os sítios arqueológicos da região de Monte Alegre, conhecidos por suas pinturas rupestres. Acesse o seguinte endereço e veja o material completo na íntegra: https://issuu.com/museu- goeldi/docs/arte_rupestre_todo. DICAS 24 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A arte vem sendo produzida pelo ser humano desde os tempos mais distantes, quando ainda não havia instrumentos e ferramentas para sua execução. Vestígios milenares de grafismos, pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, podem ser observados nas mais diversas regiões do Brasil, mas é importante relembrar alguns conceitos para localizar-nos no tempo histórico. • O ser humano, desde os tempos remotos, sentia necessidade de se comunicar. Já no período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos por meio de inscrições em rochas. • Sítios arqueológicos são locais onde existem vestígios da presença humana datados de milhares de anos. • Tradição é um termo utilizado na arqueologia para fazer referência ao conjunto de traços culturais que possibilita a identificação das sociedades, nos diversos lugares e tempos. As oito tradições distribuídas no território brasileiro são: Meridional, Litorânea, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. • Sambaqui, palavra de origem Tupi, significa amontoado ou depósito de conchas. RESUMO DO TÓPICO 1 25 1 O período pré-histórico, sem conhecer a forma escrita, registrou acontecimentos por meio de inscrições em rochas. Sobre o que são as artes rupestres, produzidas há milhares de anos, encontradas em várias regiões do Brasil, Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Artes gravadas, desenhadas ou pintadas em paredes de rochas. b) ( ) Artes gravadas, desenhadas ou pintadas em muros antigos. c) ( ) Ausência de registros culturais expressos por meio de pintura. d) ( ) Conjunto de hábitos que possibilitam a identificação das sociedades.2 De acordo com o texto deste Tópico, os desenhos, formas delineadas nas rochas, pelos povos pré-históricos, muitas vezes recebiam pinturas. Descreva como eram produzidas as tintas utilizadas nas pinturas rupestres. 3 Como vimos, existem diferenças entre as técnicas utilizadas para a representação dos registros parietais realizados no período pré-histórico. Especifique de que forma era produzida a arte rupestre em cada uma das técnicas: desenho, pintura e gravura: 4 Tradição é um termo utilizado na arqueologia para fazer referência ao conjunto de traços culturais que possibilita a identificação das sociedades, nos diversos lugares e tempos. No que se refere às oito tradições encontradas no Brasil, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Meridional, Litográfica, Geológica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. b) ( ) Meridiana, Litorânea, Geológica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. c) ( ) Meridiana, Litográfica, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. d) ( ) Meridional, Litorânea, Geométrica, Planalto, Nordeste, Agreste, São Francisco e Amazônica. 5 Sambaqui, palavra de origem Tupi, significa amontoado ou depósito de conchas. Além de conchas, como são formados os sambaquis? Classifique as sentenças utilizando V para verdadeiras e F para falsas: AUTOATIVIDADE 26 ( ) Elevações com formato arredondado, consequência do acúmulo de conchas. ( ) Colinas, formadas na maior parte por restos de plástico, caracterizadas por serem elevações com formato arredondado. ( ) Amontoado de conchas, cascas de ostras e outros restos de alimentos de origem animal e outros vestígios de indivíduos que viveram no litoral do Brasil. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 27 VESTÍGIOS ARTÍSTICOS PRÉ-DESCOBRIMENTO 1 INTRODUÇÃO A arte tem grande importância no que se refere ao esclarecimento sobre as origens do ser humano. Hoje é possível descobrir cada vez mais sobre os nossos primórdios por meio das pesquisas e análises científicas de registros e objetos considerados artísticos e assim desvelar o passado. Diante disso, neste tópico serão apresentadas informações sobre vestígios da arte pré-histórica, como esculturas, objetos e outras tendências estéticas encontradas no vasto território que é o Brasil. É importante ressaltar que as populações pré-históricas não tinham a concepção sobre representação artística que temos atualmente. Prous (2011, p. 116) enfatiza que “conhecer a arte pré-histórica do Brasil, suas localizações por região cultural, suas características, propicia uma análise mais ampla do que seja criação e estética nessa época”. A intenção era o registro, a decoração, a utilidade. Os registros artísticos milenares possuíam a função de descrever acontecimentos como caças, guerras ou eventos ritualísticos, possivelmente para expressar as conquistas, fazer referências ao sobrenatural ou à ligação com o espiritual. Essas expressões, narrativas de histórias passadas, nos trazem a certeza de que somos seres de natureza comunicativa, com necessidade, tanto de transmitir como de guardar memórias, para que sejam difundidas e multiplicadas, preservando assim as diferentes culturas. 2 ARTE MARAJOARA Na Ilha de Marajó, no estado do Pará, antes da chegada dos europeus, os marajoaras, ainda não dominavam a escrita, mas possuíam uma habilidade incontestável na modelagem da argila. Com alto grau de complexidade, combinando modelagem e textura, a cerâmica Marajoara apresenta grafismos geométricos naturalistas, ou seja, composições com plantas, formas humanas ou de animais diversos. Além disso, agregam elementos estéticos dos padrões naturalmente estampados em peles e cascos de animais. Esses desenhos estariam relacionados possivelmente às crenças dessas populações. A cerâmica marajoara apresenta como característica particular a combinação da modelagem à pintura, à incisão e à excisão, com representações de figuras antropomorfas e zoomorfas. Urnas funerárias chegam a medir noventa centímetros de diâmetro. Dentro delas, conforme Prous (2011, p. 74), “eram sepultados os ossos dos UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 28 mortos, acompanhados por tangas cerimoniais, também feitas de cerâmica”. O autor alerta que além da cerâmica cerimonial, há também objetos de formas simples, de uso diário, sem decorações. Esses objetos, modelados com estilo particular, representam por meio da linguagem visual e seus símbolos referências consideradas textos sem grafias, mas com riqueza de simbologias capazes de expressar mensagens (AMORIM, 2010). A função desses artefatos de cerâmica, portanto, além de cerimonial e utilitária, é também de comunicação social. FIGURA 32 – URNA FUNERÁRIA ANTROPOMORFA FONTE: <https://bit.ly/3uG6DeFl>. Acesso em: 4 ago. 2021. As tangas cerimoniais possuem desenhos lineares, pintados em vermelho e preto sobre fundo branco, muitas vezes fazendo alusão a sapos ou cobras. Outras vezes, decorações complexas remetem a animais ou ao rosto humano (PROUS, 2011). FIGURA 33 – TANGAS FONTE: <https://bit.ly/3oAaF7s>. Acesso em: 4 ago. 2021. 29 Motivos geométricos, como os do vaso globular marajoara representado na fi gura a seguir, fazem referência ao movimento da água. As cores das pinturas podem variar e, muitas vezes, a policromia se faz presente nas peças. FIGURA 34 – VASO MARAJOARA FONTE: <https://bit.ly/3A9rtob>. Acesso em: 4 ago. 2021. 3 CULTURA SANTARÉM A cidade de Santarém, localizada no estado do Pará, no norte do Brasil, diante do Rio Amazonas, observa o espetáculo do encontro de suas águas com o Rio Tapajós, cada um com sua cor, sua beleza e seus mistérios. Foi nesse lugar, antes da chegada dos europeus, que uma comunidade desenvolveu uma cultura que realizou o que Prous (2011) denomina cerâmica cerimonial de destaque no que se refere à criação com argila: a cerâmica Santarém, também conhecida por Tapajônica. Prous (2011, p. 78) observa que os artistas “não alcançaram o nível da cerâmica dos Marajoara nos jogos de incisão e excisão, de textura e de cor, mas desenvolveram uma extraordinária virtuosidade na modelagem”, com riqueza de detalhes e símbolos. Os artistas das margens do Tapajós conceberam, ainda, criações antropomorfas em vasos cerimoniais decorados com três tipos de formas. Quer saber mais sobre a Cultura Marajoara? Confi ra “Cultura Marajoara, um Breve Guia”. Acesse em: https://issuu.com/lmarcosdaniel/docs/um_ breve_guia_marajoara_. DICA 30 A primeira delas seria os vasos de gargalo, os quais possuem representações de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças. Possuem também figuras de sapos ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Prous (2011) relaciona essas peças com cerâmicas produzidas por populações litorâneas do Equador. FIGURA 35 – VASO DE GARGALO FONTE: <https://issuu.com/bgoeldi_ch/docs/humanas_v13n1>. Acesso em: 1 ago. 2021. Em segundo, encontramos os vasos de cariátides. Esses são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. FIGURA 36 – VASO DE CARIÁTIDES FONTE: <https://issuu.com/bgoeldi_ch/docs/humanas_v13n1>. Acesso em: 1 ago. 2021. E, como terceira forma, encontram-se os grandes cálices com pedestal, os quais são decorados com figuras de serpentes. 31 É importante observar que essas cerâmicas trazem figuras da mitologia amazônica, como o muiraquitã, visto na figura seguinte e, também, onças, papagaios e serpentes. FIGURA 37 – MUIRAQUITÃ FONTE: <https://bit.ly/3AclIWy>. Acesso em: 4 ago. 2021. A figura a seguir representa uma das categorias de modelagem dos vasos antropomorfos, uma pessoa sentada, em formato de barril, talvez representando a mulher durante um parto. FIGURA 38 – VASO ANTROPOMORFO FONTE: <https://bit.ly/3a84ejH>. Acesso em: 4 ago. 2021. Outra característica são pequenos furos que possivelmente eram utilizadospara prender enfeites. Há também indicação de que as mulheres eram responsáveis pela criação dessas estatuetas antropomorfas com tamanhos entre 3,5 e 20 centímetros de altura. 32 FIGURA 39 – ESTATUETA ANTROPOMORFA FONTE: <https://bit.ly/3B8JW5t>. Acesso em: 4 ago. 2021. Esses padrões da cerâmica Santarém são manifestações que possivelmente chegaram ao Brasil pelo Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e pelo Canal Cassiquiare encontra o Rio Negro, que atinge o Rio Amazonas e, na cidade de Santarém ocorre o encontro com o Rio Tapajós. FIGURA 40 – MAPA HIDROGRÁFICO FONTE: <https://bit.ly/3Fh2QcL>. Acesso em: 04 ago. 2021. 33 O Canal Cassiquiare (ou Braço Cassiquiare ou, ainda, rio Cachequirique) é o ponto de confluência entre duas das mais importantes bacias da América do Sul, a do Amazonas, a maior do planeta, com 6,2 milhões de km² e a do Orinoco, a terceira maior da América do Sul, com 948 mil km². Trata-se de uma situação geográfica única; o Cassiquiare interliga naturalmente duas das mais importantes bacias hidrográficas do mundo e é decisivo para conformar a maior ilha marítimo-fluvial do planeta, a Ilha das Guianas, com aproximadamente 1,7 milhão de km². O Cassiquiare tem se constituído em tema de interesse geopolítico desde o começo da colonização e da conquista ibérica no continente. FONTE: <http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/5533/1/BEPI_n18_Cassi- quiare.pdf>. Acesso em: 25 set. 2021. NOTA 34 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A cerâmica Marajoara, com alto grau de complexidade, combina modelagem e textura, além de apresentar grafismos geométricos naturalistas. • A cerâmica cerimonial de Santarém, também conhecida por Tapajônica, é destaque no que se refere à criação com argila, produzida com exímia habilidade nas modelagens. • A cultura Santarém concebeu ainda criações antropomorfas em vasos cerimoniais decorados com diferentes tipos de formas, como os vasos de gargalo, os vasos cariátides e os cálices com pedestal. 35 RESUMO DO TÓPICO 2 1 Na Ilha de Marajó, no estado do Pará, antes da chegada dos europeus, os marajoaras, ainda não dominavam a escrita, mas possuíam uma habilidade incontestável na modelagem da argila. As cerâmicas dos povos marajoaras agregam elementos estéticos que estariam relacionados possivelmente às crenças dessas populações. Quais as características da produção da cerâmica Marajoara? 2 A cerâmica marajoara apresenta como característica particular a combinação da modelagem à pintura, à incisão e à excisão, com representações de figuras antropomorfas e zoomorfas. Objetos modelados com estilo particular, além de função cerimonial e utilitária, são também referências consideradas textos sem grafias, desenvolvidos pela cultura marajoara. Sobre os tipos de objetos produzidos em cerâmica pelos marajoaras, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Vasos, urnas funerárias e togas. b) ( ) Vasos, urnas funerárias e tangas. c) ( ) Naus, tangas e urnas funerárias. d) ( ) Naus, urnas funerárias e togas. 3 A cerâmica Santarém, também conhecida por Tapajônica, apresenta criações antropomorfas em vasos cerimoniais decorados com três tipos de formas. Analise as sentenças: I- Vasos de gargalo possuem representações de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças; possuem figuras de sapos ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Vasos de cariátides são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. Grandes cálices com pedestal, decorados com figuras de serpentes. II- Vasos de gargalo possuem representações de corpos de jacarés ou felinos, com duas cabeças; possuem figuras geométricas e, algumas vezes, figuras humanas. Vasos de cariátides são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. Grandes cálices com pedestal, decorados com figuras de serpentes. III- Vasos de gargalo possuem representações de corpos de dinossauros, com duas cabeças; possuem figuras de sapos ou macacos e, algumas vezes, figuras humanas. Vasos de cariátides são pequenos recipientes com figuras de urubu-rei, em diversas direções, rodeados por figuras humanas femininas. Grandes cálices com pedestal, decorados com figuras geométricas. AUTOATIVIDADE 36 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 4 Antes da chegada dos europeus, os povos que habitavam as margens do Rio Tapajós, na cidade de Santarém, estado do Pará, desenvolveram a produção da cerâmica cerimonial. Sobre qual a possibilidade dos padrões da cerâmica Santarém terem chegado ao Brasil, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e pelo Canal Cassiquiare encontra o Rio Juruá, que atinge o Rio Tapajós, na cidade de Santarém. b) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e, pelo Canal Cassiquiare, encontra o Rio Negro, que atinge o Rio Tapajós na cidade de Santarém. c) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e, pelo Canal Cassiquiare, encontra o Rio Negro, que atinge o Rio Amazonas e, na cidade de Santarém ocorre o encontro com o Rio Tapajós. d) ( ) Possivelmente chegaram ao Brasil pelas águas do Rio Orinoco, que nasce na Venezuela e, pelo Canal Cassiquiare que encontra o Rio Amazonas na cidade de Santarém. 5 Os artistas das margens do Rio Tapajós, estado do Pará, conceberam criações com riqueza de detalhes e símbolos. Caracterize e explique os elementos estéticos das cerâmicas de Santarém. 37 TÓPICO 3 - MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS DOS POVOS PRIMITIVOS 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que quando os europeus aportaram nas terras brasileiras, viviam aqui diversas comunidades, espalhadas por todo o território. Povos que nas ricas florestas viviam e da natureza extraíam seu sustento e suas tradições. Neste tópico, abordaremos algumas das manifestações artísticas dos povos primitivos, expressões de suas identidades e valioso meio de comunicação. O mapa da figura a seguir, elaborado em 1515, representa a costa brasileira com alguma vegetação, animais que avistaram na Terra Brasilis, caravelas chegando e figuras de indígenas, que comprovam a existência de vida humana muito antes da chegada dos portugueses. FIGURA 41 – MAPA DA TERRA BRASILIS FONTE: <encurtador.com.br/ltAJV>. Acesso em: 31 jul. 2021. Hoje sabemos que, quando os europeus aqui aportaram, a presença humana no território brasileiro contava com milhares de anos e os habitantes já possuíam seus hábitos, costumes, tradições, bem como falavam idiomas diferentes do português. UNIDADE 1 38 Neste tópico serão abordadas algumas das manifestações artísticas dos indígenas, bem como as características dessas produções, considerando que a arte era e é ainda produzida por esses povos como elemento da vida cotidiana. 2 ARTE INDÍGENA A arte indígena permanece viva nas comunidades que superaram adversidades e ainda conservam as tradições de seu povo. Como observa Tirapeli (2006, p. 14), “diferentemente do que ocorre na cultura dos não-índios, a arte está presente em tudo o que fazem. Em cada objeto existe a indicação de elementos simbólicos e espirituais, como desenhos que representam os mitos que cultuam”. A arte denominada utilitária recebe padrões decorativos de acordo com as crenças e a simbologia característica de cada povo, a marca de cada identidade que precisa ser respeitada e preservada. A arte indígena possui elementos estéticos próprios de cada cultura. Como reforça Vidal (2000, p. 13) precisamos “usufruir e incluir no contexto das artes contemporâneas, em pé de igualdade, manifestações estéticas de grande beleza e profundo signifi cado humano”, como muitosdos objetos da arte indígena em que é possível perceber a habilidade técnica e artística, tanto no uso de materiais como na composição de traços e cores. Esses detalhes podem ser apreciados nas cerâmicas, nas cestarias, na arte plumária, nas máscaras e nas pinturas corporais dos povos indígenas, que possuem riqueza de estilos. Como forma de complementar seus estudos, assista ao vídeo “Os primeiros brasileiros”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J8AS-aeqsfU. DICA No livro “Grafi smos Indígenas: estudos de uma antropologia estética”, organizado por Lux Vidal, encontramos uma coletânea de textos de diversos autores que abordam sobre a riqueza estética dos grafi smos produzidos pelos grupos indígenas do Brasil. Acesse em: http://etnolinguistica.wdfi les.com/local--fi les/ biblio%3Avidal-2000-grafi smo/Vidal_2000_Grafi smo_indigena_OCR.pdf. DICA 39 2.1 CERÂMICA As cerâmicas, produzidas nos diversos grupos indígenas existentes no Brasil, são utilizadas para atividades diárias como armazenamento e preparo de alimentos, transporte de água, entre outras funções da vida cotidiana. A matéria prima da cerâmica é a argila, encontrada em diferentes cores, como branca, cinza, ocre, vermelha, marrom, e até esverdeada. Geralmente retirada de encostas de rios, por apresentar maior umidade, o que facilita o manuseio, esse material de tonalidades diversas pode ser encontrado nos diferentes tipos de solos brasileiros. A argila pode ser facilmente modelada, o que possibilita a versatilidade na confecção de panelas, vasilhas, potes de formatos diversos. Segundo Prous (2011, p. 80-81) “a utilização de cerâmica permitiu o desenvolvimento de algumas técnicas que favoreceram a ampliação nas maneiras de transformar os alimentos crus em pratos nutritivos e apetitosos”. Além disso, com argila pode-se criar máscaras, brinquedos e outros utensílios ou adornos. A confecção das cerâmicas, além de habilidade manual, requer conhecimento da extração da argila adequada. Para os indígenas Wayana, nos locais de coleta são confeccionadas grandes bolas de argila, ligeiramente alongadas, enroladas em folhas de sororoca – uma planta que se assemelha à bananeira –, depois levadas no cesto cargueiro especial para transporte do material, produzido com cipó ou folhas de palmeira. As figuras a seguir demonstram alguns dos objetos de cerâmica produzidos em comunidades indígenas. FIGURA 42 – POTE TIKUNA PARA ÁGUA FONTE: <https://artsandculture.google.com/asset/_/PgF0M9SJHUbKDQ>. Acesso em: 31 jul. 2021. 40 A peça seguinte é um vaso, conhecido como camuti, que necessita ser produzido com barro de boa qualidade para que o resultado seja uma peça perfeita. As cores das pinturas aplicadas modificam-se após o processo de queima e envernizamento, tornando-se mais escuras. Um pigmento amarelo torna-se mais laranja, por exemplo. FIGURA 43 – POTE DO POVO BANIWA FONTE: <http://tainacan.museudoindio.gov.br/museu-do-indio/14-11-37/>. Acesso em: 30 jul. 2021. De formato irregular, a tigela zoomorfa apresentada na imagem a seguir possui figura de macaco, com cabeça, cauda e membros, possivelmente utilizados como apêndices para facilitar o manuseio. FIGURA 44 – TIGELA ZOOMORFA DO POVO WAUJA FONTE: <http://tainacan.museudoindio.gov.br/museu-do-indio/2537-2/>. Acesso em: 30 jul. 2021. Atualmente a cerâmica do povo Karajá é muito conhecida pela confecção de suas bonecas, como no exemplo da figura seguinte. Mais do que objetos lúdicos, as ritxòkò são a expressão da cultura e da identidade desse grupo. Decoradas com padrões mitológicos, possuem significados importantes, além de serem instrumentos de socialização das crianças. 41 FIGURA 45 – BONECA KARAJÁ FONTE: <https://artsandculture.google.com/asset/_/MQGMsifnFVXbQA>. Acesso em: 30 jul. 2021. Os objetos de cerâmica guardam elementos místicos, muitas vezes, desde o momento de sua produção, envolvendo rituais, cores e desenhos específicos, como também crenças, como a do povo Wayana, em que “o contato direto com a argila pode trazer malefícios e influenciar pessoas enfraquecidas” (VELTHEN; LINKE, 2014, p. 29). Dentre alguns critérios desse povo durante a confecção das cerâmicas estão a proibição às mulheres que estão de resguardo, grávidas ou em período menstrual. As que cuidam do procedimento de queima são proibidas de tomar banho, comer, beber e falar alto. Os animais são afastados para que o ambiente permaneça silencioso para que se obtenha uma boa queima (VELTHEN; LINKE, 2014). Os elementos místicos que habitam os objetos parecem penetrar neles por meio dos materiais utilizados na sua confecção. Para os indígenas, um pincel, por exemplo, possui seus próprios saberes, que influenciam o indivíduo durante a criação, como ilustra o texto que segue. A pintura e a pintura dos artefatos cerâmicos Para as pinturas, os instrumentos empregados são variados, rígidos ou flexíveis. Uns são denominados de itiktikmatop/itikyrotopo e são formados por finos talos de palmeiras e pontas de algodão. Os que são designados como umhetpë/ usehpo, compreendem pequenas bolas de argila que prendem um chumaço do cabelo da própria ceramista e assim são flexíveis. Esses pincéis de cabelo permitem fazer traços extremamente finos e se destinam a pintar os vasos de cerâmica e a roda-de-teto da casa cerimonial, a maluwana/maruwana. Os pincéis são percebidos como elementos dotados de qualidades especiais porque permitem elaborar os grafismos e, assim são também chamados de imiliktop/imerotopo. Devido a esse fato, são compreendidos como possuidores 42 de uma característica que é aproximada a uma “forma de conhecimento”, pois permite a esses instrumentos a execução dos desenhos. Os “saberes” dos pincéis não são, entretanto, indiferenciados e, assim, os de talo de palmeira “conhecem” apenas a decoração das grandes onças que é reproduzida através de pequenos pontos. Os pincéis flexíveis de cabelo, por sua vez, “sabem” reproduzir, através de um tracejado fino e acurado, as variadas pinturas corporais da serpente sobrenatural Tulupele/Turupere. A pintura dos grafismos é executada com os pincéis de cabelo no interior do vasilhame cerâmico. São aplicadas sobre uma base de coloração ocre ou castanho-avermelhado, anteriormente espalhada com um chumaço de algodão nativo. O pincel de nervura com ponta de algodão permite o preenchimento dos campos vazios, com desenhos pontilhados, uma tarefa das filhas adolescentes da ceramista, visando o seu ensinamento. Esse mesmo tipo de pincel propicia as possíveis correções do traçado dos grafismos. Uma pintura pronta, mas considerada feia ou incorreta pode ser suprimida lavandose com água a superfície do vaso, o qual é repintado depois de seco. A fase final da confecção das vasilhas cerâmicas de uso ritual compreende a aplicação, sobre a superfície interna do vaso, de um verniz protetor feito com a seiva da jutaicica, mëpuk/mapuku, para impedir o desprendimento das tintas. Essa atividade requer jejum alimentar absoluto por parte da ceramista, para que o resultado seja satisfatório, isto é, para que o verniz se torne tão transparente como água. Para a aplicação do verniz, o artefato deve estar aquecido para permitir que o bastão de jutaicica deslize sobre a superfície, recobrindo-a uniformemente. Para esse fim é apoiado sobre uma panela velha, contendo brasas. A fase final da confecção das vasilhas cerâmicas para uso cotidiano compreende a sua pintura interna e externa com um impermeabilizante para que possam ser empregadas. Esse impermeabilizante é produzido a partir de um vegetal, o ingá do mato – aputlukum/apurukuni – cuja entrecasca é colhida e raspada e o sumo obtido misturado com um pouco d’água e, quase sempre, com urucu, adquirindo assim uma cor avermelhada. Essa tintura é passada com os dedos, podendo ser arranhada com as unhas para fazer alguns tipos de grafismos. Os padrões produzidos com essa técnica são denominados de tëwupkai/iwynatopo e são altamente valorizadospelos Wayana e Aparai, porque permitem visualizar, na superfície dos vasilhames, os desenhos que, com suas garras, os animais predadores, tais como onças e outros felinos, fazem nos troncos das árvores. FONTE: Adaptada de VELTHEM, L. H. LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila: Aruma Papeh. São Paulo: Iepé, 2014. p. 58-59. 43 2.2 CESTARIA Como o nome indica, a cestaria indígena é um conjunto de objetos como cestos, peneiras e outros utensílios confeccionados com elementos vegetais de certa flexibilidade, para que trançados de extrema beleza e simbologia possam ser conduzidos pelas mãos indígenas. Esses utensílios são fabricados para transportar cargas, armazenar materiais e alimentos, peneirar produtos extraídos da natureza empregados no preparo de alimentos ou ornamentos, coar ingredientes, entre outras funções. Possuem diferentes formatos, tamanhos, desenhos e cores, obedecendo os costumes das diferentes comunidades que utilizam esses recipientes. Os padrões decorativos dos trançados variam e estão ligados às culturas de cada povo indígena. O texto a seguir trata das narrativas míticas que integram os belos grafismos das cestarias de alguns povos indígenas, como a serpente sobrenatural. Os grafismos dos trançados Para os povos de língua Carib, como os Yekuana, os Tiriyó, os Waiwai, os Kaxuyana, os Wayana e Aparai uma serpente sobrenatural constitui a figura central das narrativas míticas que descrevem a obtenção da cestaria e dos seus grafismos. Para os Wayana e os Aparai trata-se da “cobra-grande” Tulupere e suas pinturas corporais foram vistas e copiadas nos tempos da criação do universo. Os grafismos encontrados nos artefatos elaborados pelos Wayana e Aparai são compreendidos, portanto, como pertencentes ao repertório das pinturas corporais desse sobrenatural. Os grafismos destinam-se ao corpo humano e aos objetos de todas as categorias artesanais, femininas e masculinas. Os trançados de do universo arumã exibem, entretanto, o mais numeroso e variado conjunto. Isso acontece porque as técnicas de cestaria permitem evidenciar um aspecto importante que é a distribuição das pinturas da “cobra-grande” em seu próprio corpo. Assim, no seu rosto, flancos e torso estão distribuídos os grafismos que são reproduzidos com arumã pintado, por meio da técnica de trama fechada. Na cauda e membros estão os grafismos que são constituídos com técnicas de trama cerrada e vazada que empregam o arumã com casca, não pintado. Esses grafismos só podem ser apreciados no lado externo dos objetos trançados. O ventre de Tulupere estava pintado com padrões especiais. Quando reproduzidos em um artefato de cestaria podem ser vistos tanto na parte interna quanto na externa. São apontados como sendo os mais belos e complexos grafismos dos Wayana e Aparai e são reproduzidos apenas pelos mais habilidosos artesãos. São dispostos nos cestos cargueiros decorados, e em cestos quadrangulares e em adornos de máscaras. 44 Considerado o mais difícil dos trabalhos em cestaria, está o katari anon, ou cesto cargueiro pintado com padrões decorativos. Feito de arumã, “uma planta herbácea silvestre encontrada em terrenos úmidos da terra firme e que, ao ser colhida, volta a brotar, sendo, portanto, renovável” (VELTHEN; LINKE, 2014, p. 26), é também resistente e flexível, o que permite o traçado de motivos geométricos. FIGURA 46 – CESTO CARGUEIRO FONTE: Tirapeli (2006, p. 42) A beleza dos grafismos produzidos nos trançados não possue apenas a função de adorno. Os entrelaçamentos dos vegetais originam mais do que símbolos inspirados na natureza, são verdadeiras histórias construídas nos fios de palha, contadas pelos ancestrais a cada geração, fazendo viver a riqueza cultural dos povos indígenas. Muitos fatores influenciam na escolha de um padrão a ser reproduzido em um trançado, tais como a facilidade de execução, seu conhecimento, se é apropriado para o objeto que se deseja confeccionar. No resultado final são especialmente apreciadas a sua proporção e o ajuste correto das tiras de arumã, ou seja, a habilidade técnica. FONTE: Adaptada de VELTHEM, L. H. LINKE, I. L. V. O livro do Arumã: Wama Pampila: Aruma Papeh. São Paulo: Iepé, 2014. p. 84-85. 45 FIGURA 47 – SÍLABAS GRÁFICAS DO POVO BANIWA FONTE: <https://issuu.com/instituto-socioambiental/docs/arte_baniwa_web>. Acesso em: 5 ago. 2021. Ponto a ponto, as fibras são trançadas, construindo simetrias e saberes. Das tramas de materiais diversos, surgem elementos estéticos e formas geométricas que remetem aos seres que guardam as fascinantes crenças das sociedades indígenas. Muitas vezes os objetos recebem pinturas que destacam os elementos estéticos, oferecendo mais beleza aos utensílios. FIGURA 48 – CESTO KAMAYURÁ FONTE: <http://maimuseu.com.br/site/search-results/?fwp_categoria=cestaria>. Acesso em: 5 ago. 2021. 46 2.3 ARTE PLUMÁRIA De cores impressionantes e variadas, a arte plumária é utilizada pelos indígenas como adorno festivo ou cotidiano. Tirapeli (2006, p. 47) afirma que a arte plumária é mais do que adorno, “ela ganha caráter de uma linguagem codificada, não-verbal, que indica o sexo, a idade e a filiação de seus portadores”. Além da diversidade de cores, as composições dos adornos são caracterizadas pelo uso de plumas, penugens e penas de diversas texturas e tamanhos, que formam arranjos de surpreendente beleza em diademas, colares, pulseiras, brincos, cintos e outros enfeites. A arte plumária não é mera combinação de elementos visuais, mas criações estéticas de espetacular delicadeza e força ao mesmo tempo. A partir do conhecimento das aves e da natureza, os povos indígenas desenvolvem criações emplumadas, muitas vezes fazendo referência ao aspecto desses animais em suas cores e formas. Inspirados nas características da fauna ornitológica local, os objetos e adornos confeccionados são muitas vezes usados em ocasiões ritualísticas, como o manto tupinambá, confeccionado com penas de guará, que ganhava destaque nos rituais de canibalismo. Atualmente, segundo Tirapeli (2006), existem apenas seis exemplares desses mantos, todos em museus da Europa. FIGURA 49 - MANTO TUPINAMBÁ FONTE: Tirapeli (2006, p. 16) Os coloridos adornos de plumas possuem exuberante beleza e, mais do que isso, são elementos muitas vezes destinados a representar a posição do indivíduo em seu grupo. Para as culturas indígenas, adornos não são fantasias, mas objetos sagrados no vasto universo de símbolos e crenças. 47 FIGURA 50 – GUERREIRO KAGWAHÍVA FONTE: Bruno e Gomes (2010, p. 24) Atualmente é proibida a comercialização da arte plumária indígena para preservar as aves brasileiras. Os artefatos plumários mais antigos que conhecemos são dos Tupinambá e estão em coleções etnográfi cas europeias, porque foram levadas para lá por aventureiros que tiveram contato com esses indígenas – como no caso de Hans Staden, que levou um manto tupinambá com ele ao retornar para a Europa (BASTOS; MINERINI, 2019, p. 13). NOTA A Fundação Bienal, no ano de 1983, realizou a exposição “Arte plumária no Brasil”. O catálogo pode ser visto em: http://www.bienal.org.br/ publicacoes/2127 DICA 48 2.4 MÁSCARAS Na cultura indígena as máscaras possuem o papel de carregar em si simbologias e importantes elementos estéticos. Utilizadas em diversos rituais, auxiliam nas representações dos antepassados, criando ligação com os espíritos. Cada um dos povos indígenas possui uma forma diferente de produzir as máscaras, seja nos materiais, nas cores ou nos desenhos, mas sempre evidenciando sua identidade e relacionando as suas manifestações culturais. As máscaras não são apenas uma fantasia ou um objeto ritualístico, mas um dispositivo capaz de potencializar a corporificação das entidades sobrenaturais, aproximar referências espirituais e valores sagrados que orientam as sociedades indígenas em todos os tempos. As sociedades indígenas confeccionam suas máscaras a partir de materiais extraídos da natureza, como