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DI_DIREI_INTERN_ U1 - Livro Didático

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20/03/24, 20:31 peldd_231_u1_dir_int
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INTRODUÇÃO
Caro estudante, a existência de uma sociedade internacional reclama a presença de regras minimamente
capazes de estabelecer direitos e obrigações entre seus atores.
Essa sociedade internacional – distinta daquelas formadas pelos cidadãos dos diferentes países – revela a
necessidade de um Direito Internacional Público, certamente imperfeito, porque carente de instituições
soberanas e com baixo nível de codi�cação. Assim, podemos dizer que o direito internacional difere, na
essência, do direito positivo interno dos Estados modernos.
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
Aula 1
INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Nesta aula, conheceremos as principais características de uma sociedade internacional e descobriremos
como o Direito busca desenvolver regras de coexistência pací�ca entre os países.
26 minutos
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: INTRODUÇÃO,
PERSONALIDADE E FONTES
 Aula 1 - Introdução ao Direito Internacional Público
 Aula 2 - Fontes do Direito Internacional Público
 Aula 3 - Os sujeitos de Direito Internacional Público
 Aula 4 - Aplicação do Direito Internacional Público
 Aula 5 - Revisão da unidade
 Referências
125 minutos
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Nesta aula, conheceremos as principais características de uma sociedade internacional e descobriremos como
o Direito busca desenvolver regras de coexistência pací�ca entre os países.
O tema é extremamente atual e muito importante, pois, hoje, vivenciamos um mundo globalizado, com
grande interconexão entre as pessoas dos mais diversos lugares.
Temos certeza de que você, em algum momento da sua trajetória pro�ssional, se deparará com questões
envolvendo regras do direito internacional, que começaremos a conhecer agora.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Podemos conceituar o direito internacional como o conjunto de princípios e regras jurídicas, escritas e não
escritas, destinado a regular as relações entre Estados soberanos e organismos internacionais.
O Direito Internacional Público (DIP), ou Direito das Gentes, baseia-se na ideia de consentimento, no sentido
de que os Estados apenas são obrigados a aceitar regras a que livremente aderiram ou, ainda, aquelas que
diretamente produziram. Essa característica essencial do direito internacional tem como suporte dois
princípios para o entendimento da matéria: soberania e autodeterminação dos povos.
A soberania, de forma geral, pode ser entendida como o poder de última instância das sociedades políticas. O
conceito moderno de soberania surgiu com a noção de Estado, no �m do século XVI, no intuito de validar o
poder estatal, capaz de exigir obediência dos súditos e, quando necessário, convocá-los para a defesa do
território contra inimigos estrangeiros.
Normalmente considerados como o marco inicial do direito internacional moderno, os tratados de Osnabrück
e Münster, assinados entre maio e outubro de 1648, que encerraram a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a
Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648), entre Espanha e Holanda, constituem o chamado Sistema de Paz de
Vestfália.
Os acordos reconheceram, de forma pioneira, a independência de Estados, como Suíça e Holanda, bem como
o direito de nacionalidade das respectivas comunidades. Os debates ocorreram no que podemos identi�car
como o primeiro congresso diplomático de que se tem notícia, com a participação de mais de 100 delegações,
as quais, embora se reunissem separadamente, deliberaram em conjunto pela paz na região.
A decisão, nascida do mútuo entendimento, promoveu o reconhecimento de direitos exclusivos sobre terras,
pessoas e bens, além de servir de referência para a con�rmação do princípio da soberania estatal nos
Tratados de Utrecht, que, em 1713, con�rmaram o princípio do balanço de poder, ou seja, a ideia de equilíbrio
no direito internacional, segundo a qual um Estado não deve se sobrepor a outro por meio da força.
Originalmente composta de Estados soberanos, a sociedade internacional atual observou, nas últimas
décadas, o surgimento e a proliferação das organizações internacionais, que, ao lado daqueles, �guram como
titulares de personalidade jurídica, ou seja, podem ser considerados como sujeitos do direito internacional
público.
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A expressão sociedade internacional também comporta, em sentido amplo, os demais integrantes da
comunidade internacional, como as organizações não governamentais (ONGs), as empresas e os indivíduos,
até porque o Direito, como criação humana, só se justi�ca quando a serviço da coletividade.
A NORMA INTERNACIONAL
A grande questão para a compreensão do sistema jurídico internacional diz respeito à e�cácia das normas. Ao
contrário do que ocorre no ordenamento interno de cada país, as normas internacionais não costumam ter
e�cácia automática nem abrangência universal.
Quando alguém descumpre uma regra de trânsito ou deixa de pagar determinado tributo, o direito interno do
país do indivíduo certamente disporá de normas sancionatórias para contrapor tais infrações. Esse fenômeno
decorre da coercibilidade, característica essencial das normas jurídicas, que favorece ou a adesão voluntária
às regras ou, em contrapartida, a possibilidade de o Estado impor sanções pelo seu descumprimento.
Na sociedade internacional, formada por sistemas jurídicos diversos, oriundos de cada país, isso não
acontece. Explicamos.
Quando o ordenamento interno de determinado país prevê a elaboração democrática das normas jurídicas (o
que costumamos chamar de Estado Democrático de Direito, nos termos do art. 1º da nossa Constituição), as
pessoas têm o dever de subordinação ao Estado, cujo poder decorre de leis elaboradas conforme princípios e
garantias bem de�nidos.
Como o cidadão participa, ainda que indiretamente, da produção dessas normas jurídicas, não lhe é legítimo
rejeitá-las. Deve, ao contrário, aceitá-las da forma como foram produzidas, desde que juridicamente válidas.
Esse é o primado da democracia, que se resume no princípio da autoimposição, segundo o qual a
representação popular condiciona a obediência às regras veiculadas por lei.
Na sociedade internacional é diferente, pois os atores são Estados soberanos que se encontram
horizontalmente dispostos, em condições de igualdade. Por de�nição, não existe uma autoridade superior,
capaz de lhes condicionar a vontade, assim como não se aplicam as regras democráticas (como a prevalência
do desejo da maioria ou a tomada de decisão mediante voto).
Nesse cenário, pautado pela igualdade soberana das nações, as obrigações são normalmente respeitadas e
cumpridas com base no famoso princípio pacta sunt servanda, que, na verdade, nada mais é do que a
manifestação do princípio maior da boa-fé dos envolvidos.
A boa-fé no direito internacional foi alçada ao status de norma jurídica, pois consta expressamente do art. 2º
da Carta das Nações Unidas:
A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1,
agirão de acordo com os seguintes Princípios:
1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.
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A SOBERANIA NO DIREITO BRASILEIRO
A soberania se manifesta em dois planos: o interno e o externo. O primeiro diz respeito à organização política
do Estado, suas fontes de poder e a forma de regulamentação das condutas humanas a ele subordinadas.
Nesse sentido, a Constituição brasileira assentou a soberania como pedra angular da República, na exata
dicção do art. 1º, I:
No plano externo, a soberania revela o encontro de poderes equivalentes, que interagem em situação de
igualdade. Na clássica lição de Vattel, a soberania decorre da existência de um governo próprioe da condição
de independência, de sorte que o conceito moderno de Estado soberano implica uma comunidade que se
autogoverna plenamente, ou seja, sem qualquer subordinação a outro ente estrangeiro.
A soberania, como atributo máximo dos Estados, garante que, à luz do direito internacional, prevalece o
princípio da igualdade soberana, em razão do qual todos possuem o mesmo poder, independentemente de
sua relevância política, econômica ou militar.
Os Estados não impõem sua vontade uns aos outros, mas trabalham de forma coordenada para a consecução
de objetivos comuns. No direito internacional, não há poderes supranacionais, capazes de condicionar a
conduta dos Estados, que se encontram, por de�nição, em situação de igualdade e equivalência.
O princípio da autodeterminação dos povos implica que as comunidades nacionais têm capacidade para
dispor acerca de si próprias, no sentido de escolherem as respectivas formas de governo. No âmbito
internacional, a autodeterminação consiste no direito de um povo não se submeter à vontade de outro Estado
ou, ainda, de não ser obrigado a se separar do seu Estado de origem.
Uma analogia clássica compara o Estado independente, surgido, por exemplo, a partir de movimentos
revolucionários, a uma “folha de papel em branco”, cujo preenchimento caberá, exclusivamente, aos seus
indivíduos, que terão liberdade para decidir sobre o seu próprio futuro, em homenagem à ideia de
2. Todos os Membros, a �m de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens
resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa-fé as obrigações por
eles assumidas de acordo com a presente Carta.
— (BRASIL, 1945, [s. p.])
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
I - a soberania.
— (BRASIL, 1988, [s. p.])
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autodeterminação dos povos.
O conceito também pertence ao rol das normas constitucionais veiculadas pela Carta Magna de 1988,
conforme se depreende do disposto no art. 4º, III, in verbis:
Visto o reconhecimento da soberania pelo ordenamento brasileiro, podemos �nalizar esta aula sintetizando
as principais características do Direito Internacional Público:
A existência de uma sociedade descentralizada, com Estados soberanos, dispostos horizontalmente.
O fato de que a soberania implica coordenação, não subordinação entre países.
A ausência de órgãos centrais, pois não há um poder legislativo capaz de criar normas supranacionais,
aplicáveis automaticamente a todos os países.
O baixo nível de codi�cação, pois o número de tratados internacionais é pequeno quando comparado às
leis internas de países como o Brasil.
A utilização de princípios especí�cos, como a boa-fé, reciprocidade, igualdade soberana, pacta sunt
servanda e consentimento.
VIDEOAULA
Olá, tudo bem? Neste vídeo, conheceremos os integrantes da sociedade internacional, seus princípios
fundamentais e entenderemos o papel do Direito na construção de normas pautadas pela boa-fé e
cooperação. Falaremos da diferença entre o direito internacional e as regras internas de cada país, com
ênfase no conceito de soberania, que é o ponto de partida para a compreensão da nossa matéria.
 Saiba mais
Para aprofundar os conhecimentos sobre a ordem jurídica na sociedade internacional, recomendamos a
lição de Francisco Rezek, disponível na Biblioteca Virtual.
A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes
princípios:
III - autodeterminação dos povos.
— (BRASIL, 1988, [s. p.])
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
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INTRODUÇÃO
Caro aluno, as fontes são referências para a produção das normas jurídicas.
No caso do direito internacional, as fontes estão previstas no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça, nos seguintes termos:
Tratados ou Convenções internacionais, gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente
reconhecidas pelos Estados litigantes.
Costume internacional, assim entendida a prática geralmente aceita como direito.
Princípios gerais do direito.
As decisões judiciais e a doutrina, que são meios auxiliares para a determinação das regras jurídicas, com
a ressalva de que a jurisprudência não é obrigatória, senão para as partes em litígio e nos limites do caso
sob julgamento.
O estudo das fontes é fundamental para a compreensão e a aplicação do direito internacional, razão pela qual
convidamos o aluno a conhecê-las.
FONTES: CONCEITO
O estudo das fontes do direito internacional é essencial para a compreensão da estrutura normativa da nossa
matéria.
O art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça indica a presença de cinco fontes para o DIP, que
podem ser classi�cadas em primárias (tratados, costumes e princípios gerais do direito, pois destas surgem
as normas jurídicas) e secundárias (doutrina e jurisprudência, que possuem caráter interpretativo).
Vejamos as principais características de cada uma dessas fontes.
1. Tratados
Aula 2
FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
O estudo das fontes é fundamental para a compreensão e a aplicação do direito internacional, razão
pela qual convidamos o aluno a conhecê-las.
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Tratados são acordos internacionais escritos e concluídos, �rmados por pessoas dotadas de personalidade
jurídica internacional (Estados e organizações) e compostos de um ou mais instrumentos, independentemente
de sua denominação especí�ca.
Entendemos, na esteira do pensamento de Rezek (2008), que o nome dado ao instrumento é irrelevante para
sua caracterização; o que importa é a presença da manifestação expressa e formal da vontade dos
signatários.
Assim, poderíamos dizer que as expressões tratados, convenções, acordos, compromissos, protocolos e
tantas outras são equivalentes, e sua adoção depende, no mais das vezes, de circunstâncias pontuais, sem
qualquer importância para o direito.
2. Costume internacional
O costume, ao contrário do que ocorre no direito interno brasileiro, ocupa posição de destaque na seara
internacional. Na verdade, o costume é a fonte mais antiga do direito internacional, de tal forma que até o �m
do século XIX a maioria das obrigações entre Estados derivava de práticas consuetudinárias.
Foi somente a partir do século XX, com o surgimento dos organismos internacionais e a celebração de
diversos tratados multilaterais, que as normas convencionais ganharam força e passaram a dividir com os
costumes a primazia das relações internacionais.
3. Princípios gerais do Direito
Os princípios gerais do Direito são regras amplamente aceitas pela sociedade internacional, consolidadas por
costumes. A consolidação pode decorrer da repetição dos temas em tratados ou do regular uso como razões
de julgamento em tribunais nacionais e internacionais.
A teoria nos oferece um largo espectro de princípios gerais do Direito, como soberania, não agressão, não
ingerência nos assuntos internos de outro Estado, vedação do recurso da força, solução pací�ca de con�itos,
respeito aos direitos humanos e cooperação internacional, entre outros.
4. Jurisprudência internacional
A jurisprudência internacional é composta do conjunto de decisões proferidas acerca de controvérsias entre
Estados e organizações internacionais e sua importância decorre do caráter interpretativo das normas escritas
e costumeiras, pois não cabe às cortes internacionais a produção de regras jurídicas.
A partir do século XX, com o surgimento dos grandes tribunais internacionais, a jurisprudênciaganhou força e
coerência, pois passou a ser utilizada como referência hermenêutica para decisões posteriores e até mesmo
na elaboração de novos tratados.
5. Doutrina
A doutrina é a produção teórica dos especialistas do direito internacional e, normalmente, serve como
fundamentação e motivação das decisões dos tribunais.
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Como todos os juízes baseiam-se, de alguma forma, nos escritos e opiniões formulados por especialistas ao
longo do tempo (tanto para con�rmá-los como para rebatê-los), podemos dizer que o principal papel da
doutrina internacional é o de desenvolver o debate argumentativo e, sempre que possível, elaborar teses
consensuais no campo da hermenêutica. 
6. A questão do soft law
O que a doutrina denomina soft law é o conjunto de disposições de caráter facultativo ou programático,
criadas para estimular condutas.
Embora não obrigatórias (ao contrário das regras jurídicas, chamadas de hard law), o soft law representa um
direito em evolução, caracterizado por recomendações não exigíveis, mas que poderão, no futuro, servir de
referência para a criação de normas concretas e vinculantes.
Por não serem fontes do direito internacional, o conjunto de princípios do soft law não pode ser objeto de
responsabilização nos tribunais, pois sua utilização é facultativa e não pode ensejar sanções.
CARACTERÍSTICAS DOS TRATADOS E DO COSTUME INTERNACIONAL
No que se refere aos costumes, além de referência especí�ca no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça, a força jurídica das regras consuetudinárias é reconhecida pela parte �nal do preâmbulo da
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969), nos seguintes termos: “A�rmando que as regras do
Direito Internacional consuetudinário continuarão a reger as questões não reguladas pelas disposições da
presente Convenção (...)” (BRASIL, 2009, [s. p.]).
O fato de que a principal norma internacional acerca de tratados menciona, expressamente, a e�cácia das
normas consuetudinárias revela a importância e a força de seus comandos.
Accioly, Casella e Silva (2009, p. 129) relatam que a Corte Internacional de Justiça já teve a oportunidade de
exprimir seu entendimento a respeito do costume, caracterizando-o como a prática reiterada,
acompanhada da convicção quanto a ser obrigatória, em razão da existência de norma jurídica, em que os “os
Estados devem ter consciência de se conformar ao que equivale a uma obrigação jurídica”.
Do conceito exarado pela CIJ podemos tirar importantes lições, com destaque para a presença de dois
elementos essenciais para a caracterização do costume:
Elemento material: o costume exige a repetição da conduta ao longo do tempo (práticas reiteradas),
embora existam autores, como Rezek (2008), que a�rmam, com propriedade, que o aspecto material não
precisa necessariamente ser positivo (fazer), mas pode também abarcar as omissões (não fazer).
Elemento subjetivo: equivale à existência da opinio juris sive necessitatis, que se manifesta pela
consciência social e jurídica, ou seja, a convicção de que a prática é necessária e respeita os princípios do
Direito.
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Alguns autores, como Cassese, citado por Varella (2019), consideram a existência de um terceiro elemento,
chamado espacial (posição minoritária na doutrina). Conquanto reconheçamos a possibilidade de se analisar
o costume a partir de seu alcance espacial, entendemos que se trata de característica do conceito, e não
elemento determinante para a sua existência.
Já os tratados, como normas escritas do direito internacional, possuem uma estrutura bem de�nida,
composta dos seguintes elementos:
O preâmbulo, que serve de introdução ao texto principal, ao apresentar as circunstâncias históricas e a
motivação política para a celebração do acordo. Destaque-se que o preâmbulo não veicula regras
jurídicas, mas, a exemplo do que acontece com a Constituição brasileira, pode servir como referência
interpretativa para os comandos do tratado.
O dispositivo, elemento principal do tratado, que compreende as normas jurídicas acertadas entre os
signatários, com efeito vinculante e dispostas em artigos ou cláusulas.
Os anexos, que apresentam informações de natureza técnica, com maior possibilidade de alteração
durante a vigência do tratado. Possuem natureza vinculante, pois normalmente explicitam condições,
especi�cações e características das obrigações assumidas.
Podemos dizer que a parte dispositiva encerra princípios e comandos que devem perdurar, pois representam
a vontade soberana das partes e o nível dos compromissos assumidos, enquanto os anexos são mais voláteis,
porque são destinados a revisões periódicas, capazes de manter a e�cácia do tratado quando houver, por
exemplo, alteração tecnológica ou nas condições de mercado.
Em relação ao conteúdo, os tratados podem ser classi�cados, à luz do direito brasileiro, como tratados gerais,
tratados de matéria tributária e tratados sobre direitos humanos. Isso porque os tratados, em geral,
introduzem no país normas com força de lei ordinária, enquanto os tratados em matéria tributária possuem
precedência em função das regras internas, por força do disposto no art. 96 do Código Tributário Nacional.
Por seu turno, ressalte-se que, a partir da EC 45/2004, a classi�cação ganhou relevância, dada a possibilidade
de tratados sobre direitos humanos serem elevados ao altiplano constitucional, desde que aprovados
mediante o rito de emendas.
A CONSTRUÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS
A elaboração de um tratado internacional, com a de�nição de seu conteúdo e alcance jurídico, é um processo
longo e que culmina com a assinatura do que foi pactuado pelos representantes dos Estados envolvidos na
negociação.
Cada Estado tem o poder de �xar, segundo normas próprias, a competência dos seus representantes.
O direito internacional reconhece que os Chefes de Estado e os Chefes de Governo possuem competência
originária, atribuída conforme as respectivas constituições.
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Também podem celebrar tratados, os chamados plenipotenciários, que possuem competência derivada
(como os Ministros de Relações Exteriores) ou, ainda, qualquer pessoa que apresente uma carta de plenos
poderes, emitida pelo titular da competência originária.
A assinatura é ato de competência do representante do Estado, pela qual se exprime o consentimento em
relação ao conteúdo do tratado.
A presença da assinatura no corpo do tratado tem o poder de validar e autenticar o respectivo texto, a partir
do qual o Estado manifesta a aceitação de�nitiva dos termos pactuados.
Admite-se, ainda, que a autenticação do texto possa ser feita pelos diplomatas presentes na negociação, ou
ad referendum, com a posterior assinatura pelos sujeitos competentes.
Entende-se que o consentimento, embora sujeito ao procedimento de introdução no sistema jurídico de
cada país, tem caráter irretratável, mesmo antes da e�cácia para as partes. Isso decorre do princípio pacta
sunt servanda e implica que o Estado não terá direito de retratação em relação ao que foi assinado.
Como lecionam Accioly, Casella e Silva (2009, p. 141),
Conquanto não exista prazo �xo para a rati�cação, é possível que o próprio tratado estabeleça uma data
limite como condição de e�cácia entre as partes, bem assim determine um número mínimo de adesões, como
ocorre nos tratados multilaterais.
Já as reservas são manifestações dos Estados no sentido de que não atenderão a certos dispositivos do
tratado (artigos, cláusulas etc.) por serem incompatíveis com o ordenamento interno e seus preceitos
constitucionais.
Na expressa dicção da Convenção de Viena, na alínea d) do art. 1º,  as reservas são “declarações unilaterais,
qualquer que seja a sua redação ou denominação, feita por um Estado aoassinar, rati�car, aceitar ou aprovar
um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modi�car o efeito jurídico de certas disposições do
tratado em sua aplicação a esse Estado” (BRASIL, 2009, [s. p.]).
É possível exercer o direito de reserva de duas formas: mediante a não aceitação de uma ou mais estipulações
do tratado ou sob a condição de aceitá-las apenas segundo determinada interpretação, hipótese conhecida
como “declaração interpretativa”.
a rati�cação é o ato administrativo mediante o qual o chefe de estado con�rma tratado
�rmado em seu nome ou em nome do estado, declarando aceito o que foi convencionado
pelo agente signatário. Geralmente, só ocorre a rati�cação depois que o tratado foi
aprovado pelo Parlamento, a exemplo do que ocorre no Brasil, onde essa faculdade é do
Congresso Nacional.
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Depois de sua entrada em vigor, o texto �nal de um tratado pode ser alterado por emendas, propostas por
iniciativa de qualquer das partes. O índice para a aprovação de emendas costuma ser elevado, em geral igual
ou superior a 2/3 dos signatários, nos tratados multilaterais.
Revisão ou reforma são os termos utilizados para as alterações mais amplas.
Os interessados na alteração deverão comunicar a proposta às demais partes, a �m de que todos possam
discutir o texto sugerido. 
VIDEOAULA
Olá, estudante, tudo bem? Neste encontro, conheceremos as fontes do direito internacional público, com
especial destaque para os costumes e os tratados internacionais. Enquanto o costume decorre de práticas
reiteradas e de ampla aceitação, em razão de questões culturais, históricas ou religiosas, os tratados são
normas escritas, construídas a partir de intensas negociações entre os países.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a extinção dos tratados, vide Marcelo Varella na Biblioteca Virtual.
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Caro estudante, os sujeitos do direito internacional são aqueles dotados de personalidade jurídica, que é o
poder de demandar e ser demandado em foros internacionais. Nesse contexto, somente os Estados e as
organizações internacionais possuem personalidade no Direito das Gentes (excepcionalmente, reconhece-se à
Santa Sé direitos análogos, nos limites de sua atividade religiosa).
Aula 3
OS SUJEITOS DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Os sujeitos do direito internacional são aqueles dotados de personalidade jurídica, que é o poder de
demandar e ser demandado em foros internacionais. Nesse contexto, somente os Estados e as
organizações internacionais possuem personalidade no Direito das Gentes.
24 minutos
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A personalidade dos Estados é chamada de originária, porque decorre do próprio conceito de soberania,
enquanto a das organizações é derivada, pois foi conferida pelos Estados que as criaram.
Importa destacar que os indivíduos, as empresas e as organizações não governamentais (ONG) não possuem
personalidade no Direito Internacional Público, embora, atualmente, se aceite que as pessoas, como
destinatárias �nais das normas jurídicas, poderão ser objeto de tutela especial, principalmente no campo dos
direitos humanos.
Vamos conhecer mais sobre esse assunto?
O ESTADO: ELEMENTO HUMANO
O Estado é a principal entidade do Direito Internacional Público, normalmente formada a partir de três
elementos fundamentais: um território livre, a comunidade de pessoas que habita essa área e um governo
independente. A conjunção desses três elementos permitiria, em tese, o reconhecimento da soberania estatal.
Na de�nição de Verdross (1980), um Estado soberano (no sentido do DIP) é uma comunidade humana perfeita
e permanente que governa plenamente a si mesma, não possui sobre ela nenhuma autoridade territorial e
está unida por um ordenamento jurídico efetivo e organizado de tal maneira que possa participar das relações
internacionais.
O elemento humano
Devemos ter cuidado ao analisar os conceitos relacionados com o aspecto humano dos Estados, pois muitos
possuem natureza sociológica, sem especial relevância para o mundo jurídico.
Assim, a ideia de população engloba o conjunto de pessoas que habitam determinado território,
independentemente de serem nacionais ou estrangeiros. Daí porque quando falamos em população brasileira
incluímos todos os residentes no país, sem nos atermos à sua nacionalidade.
Também merece atenção especial o termo nação, que se refere mais a questões de natureza histórica e social
do que a fenômenos jurídicos. É o caso das nações indígenas, que congregam pessoas com características
culturais comuns, embora sejam todos cidadãos brasileiros, à luz do que determina a Constituição.
Para o Direito, o conceito mais importante é o de nacionalidade, assim entendido o vínculo político e jurídico
estabelecido entre o Estado e o indivíduo.
Compete a cada Estado soberano �xar os critérios para o reconhecimento da nacionalidade. Os dois critérios
mais utilizados para isso são o jus solis e o jus sanguinis.
O primeiro determina que será nacional de determinado Estado qualquer pessoa que venha a nascer em seu
território, desde que os pais não estejam a serviço do Estado de origem. Nesse sentido, a Convenção sobre
Direitos Humanos, assinada em São José da Costa Rica, em 1969, assevera que “toda pessoa tem direito à
nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra” (BRASIL, 1992, [s. p.]).
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Já o critério sanguíneo prevê que a nacionalidade se transmite de forma hereditária, podendo ser transferida
de pai para �lho ou até mesmo em razão da nacionalidade dos avós, como ocorre com os descendentes de
italianos.
A comunidade de nacionais representa, portanto, o conjunto total de brasileiros, independentemente do local
de residência, ou seja, as pessoas que possuem relação com o Estado e estão aptas a exercer os direitos
decorrentes desse vínculo.
Um exemplo conhecido ocorre nas eleições para Presidente da República, nas quais brasileiros residentes no
exterior podem exercer o direito de voto nas repartições diplomáticas e consulares do Brasil, da mesma forma
que os nacionais que se encontram em nosso território.
Como esclarece Dinh (2003, p. 419), “a nacionalidade cria uma �delidade pessoal do indivíduo para com o seu
Estado nacional; ela fundamenta a competência pessoal do Estado, competência que o autoriza a exercer
certos poderes sobre os seus nacionais onde quer que se encontrem”.
O AVANÇO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
As organizações internacionais passaram a ocupar lugar de destaque a partir da criação das Nações Unidas
em 1945.
Atualmente, o tradicional modelo de acordos bilaterais entre Estados tem sido substituído pela tendência de
grandes convenções multilaterais, normalmente celebradas sob os auspícios de uma organização
internacional.
As organizações internacionais possuem personalidade jurídica derivada, conferida pelos Estados fundadores,
que sempre detêm a capacidade originária, atributo natural da soberania.
Segundo Ridruejo (2006), as organizações internacionais têm seis características peculiares:
Caráter interestatal: funcionam como associações entre Estados soberanos.
Caráter voluntário: porque surgem a partir da vontade dos membros.
Órgãos permanentes: permitem a continuidade e o desempenho das funções diárias.
Vontade autônoma: permite a adoção de decisões distintas da vontade individual dos membros.
Competência própria: para decidir acerca de toda a matéria prevista nos tratados constitutivos.
Cooperação internacional institucionalizada: fundamento teleológicopara a sua criação.
A �m de alcançar seus objetivos e desempenhar as atribuições que lhe foram conferidas pelos Estados, as
organizações internacionais contam, em geral, com três órgãos básicos:
Assembleia Geral: trata-se de uma reunião periódica que oferece voz e voto, em condições igualitárias, a
todos os membros.
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Secretaria: é o órgão de funcionamento permanente integrado por funcionários neutros em relação aos
países-membros, destinado a cuidar das atividades corriqueiras da organização. Na maior parte dos
casos, o Secretário-Geral tem competência para representar a organização.
Conselho Permanente: órgão que exerce funções executivas e adota providências em situações
emergenciais.
Muitas organizações possuem, ainda, um Órgão de Solução de Controvérsias, destinado a resolver
eventuais litígios no âmbito da sua competência.
Como a organização tem poderes para adotar medidas em nome próprio, os tratados constitutivos trazem
regras que de�nem o processo decisório, em relação ao rito e ao quorum necessários para a aprovação.
Normalmente, as decisões se dão por consenso, de forma que o Estado soberano participante só se submete
à vontade daquilo que tenha decidido, mediante concordância e manifestação favorável.
Contudo, em algumas situações, pode ser necessário exercer o direito de voto, com aprovação majoritária
dos membros e índices de aprovação bem elevados.
As organizações internacionais não possuem base territorial e precisam, portanto, da colaboração de um
Estado soberano, que permita, no seu território, a instalação da infraestrutura necessária ao funcionamento
da entidade.
As organizações internacionais, seus representantes e seus funcionários gozam de privilégios semelhantes
àqueles do corpo diplomático.
A receita �nanceira das organizações decorre de contribuições periódicas efetuadas pelos membros. Esse
sistema de cotização, normalmente, não é paritário, pois leva em consideração a capacidade econômica de
cada Estado, de forma a impedir que os países menos desenvolvidos sejam alijados do debate internacional.
Os tratados constitutivos da organização podem permitir a adesão de novos membros, que deverão
manifestar seu interesse formalmente. O processo de adesão, geralmente, exige o preenchimento de certos
requisitos e não aceita a formulação de reservas (o que signi�ca que a adesão deve ser integral).
A Assembleia Geral tem poderes para aceitar o ingresso do novo membro e a decisão pode ser por aclamação
(o que é mais comum) ou, ainda, mediante votação, desde que atingido o mínimo necessário de votos
favoráveis.
Em respeito ao princípio da soberania, os Estados poderão se retirar da organização, mediante comunicação
formal, desde que respeitado o prazo de carência previsto no acordo original, durante o qual os deveres
pactuados devem ser respeitados. 
A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
Já tivemos a oportunidade de enfatizar que somente a partir da criação das Nações Unidas e da redação da
Declaração Universal dos Direitos do Homem o tema dos direitos humanos ganhou força e consistência na
seara internacional.
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Embora não seja formalmente um tratado, a Declaração de 1948 constitui o marco inicial da preocupação da
sociedade internacional com a de�nição de um rol mínimo de garantias fundamentais para os indivíduos.
Com base na Declaração, a doutrina costuma classi�car os direitos humanos da seguinte forma:
Direitos humanos de primeira geração: são as garantias fundamentais, relacionadas ao direito à vida, à
liberdade e à segurança.
Direito humanos de segunda geração: são os de natureza econômica, social e cultural, conforme
dispostos na parte �nal da Declaração.
Direitos humanos de terceira geração: decorrem indiretamente do texto, pois foram discutidos
posteriormente, e representam os direitos de natureza coletiva, como a proteção à paz, ao meio
ambiente e ao patrimônio comum da humanidade.
Apenas com o advento da moderna tecnologia, de�agrado no �nal do século XX, os autores passaram a
considerar a existência de uma quarta geração de direitos humanos, relacionados ao patrimônio genético dos
seres vivos e às garantias individuais numa sociedade informatizada, na qual a internet e a tecnologia da
informação estabelecem um novo paradigma de relações interpessoais.
A classi�cação, longe de ser infensa a críticas, possui nítida conotação didática e serve de referência para o
estudo especializado da matéria.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem serviu de inspiração para as constituições modernas, a
exemplo das garantias inseridas na Carta Política Brasileira de 1988 que, em diversas oportunidades,
praticamente reproduz os preceitos daquele documento.
Por óbvio que a consagração jurídica dos direitos humanos, por si só, pouco contribuiria para a efetividade de
suas premissas. Parece‑nos que a questão de fundo reside na existência de sistemas de controle
internacional capazes de promover a tutela e a fruição desses direitos.
Nesse sentido, diversos compromissos internacionais foram celebrados no âmbito das Nações Unidas, entre
os quais se destacam:
Convenção sobre a prevenção e repressão do crime de genocídio.
Convenção sobre a proteção de todas as pessoas contra tortura e outras penas e tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes.
Convenção e protocolo sobre o estatuto dos refugiados.
Convenção relativa aos direitos da criança.
Convenção para eliminação de todas as formas de discriminação racial.
A proteção aos direitos humanos também merece atenção especial no âmbito regional.
Assim, convém ressaltar a importância da instalação da Corte Interamericana de Direitos Humanos em São
José da Costa Rica, órgão judiciário destinado a conferir efetividade à Convenção de mesmo nome, assinada
naquela cidade.
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Da mesma forma, a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia consagra todos os direitos
individuais, políticos, econômicos e sociais das pessoas que integram a comunidade.
VIDEOAULA
Olá, estudante! Neste encontro, falaremos sobre os elementos constitutivos dos Estados modernos, com
destaque para o fator humano, cuja proteção, em termos de direitos individuais, é um dos principais objetivos
da ordem jurídica internacional. Além disso, conheceremos as principais características das organizações
internacionais, que desempenham um papel fundamental na construção do entendimento entre os povos.
 Saiba mais
Para compreender a consolidação dos direitos humanos na ordem internacional, leia:
ACCIOLY, H.; CASELLA, P. B.; SILVA, G. E. do N. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo, SP:
Saraiva, 2021.
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Caro estudante, as regras introduzidas a partir de tratados normalmente ingressam no Brasil no âmbito de
normas infraconstitucionais.
Com efeito, o Supremo Tribunal Federal (STF) já manifestou o entendimento de que os tratados, depois de
incorporados ao direito interno, situar-se-iam no plano normativo das leis ordinárias, a exemplo da decisão
exarada na ADIN 1480-3, que versa sobre matéria trabalhista.
Aula 4
APLICAÇÃO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Caro estudante, as regras introduzidas a partir de tratados normalmente ingressam no Brasil no âmbito
de normas infraconstitucionais.
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Alguns autores defendem a construção do STF, sob o argumento de que o quórum de aprovação dos decretos
legislativos é de maioria simples, o que impediria, por conseguinte, a recepção de tratados no âmbito das leis
complementares, que exigem, como se sabe,maioria absoluta.
Discordamos, pois parece-nos que o sistema constitucional vigente ressalta que a força normativa das regras
que o tratado introduziu no ordenamento depende do conteúdo (ratione materiae) veiculado.
Assim, sempre entendemos ser possível que uma norma internacional pudesse ter o status de lei
complementar, desde que a matéria veiculada correspondesse dessa natureza, de acordo com a Constituição,
como o próprio STF já reconheceu para questões tributárias.
A questão é bastante interessante e gera debates na doutrina, como teremos a oportunidade de observar.
Vamos lá!
CONVENÇÕES DE VIENA SOBRE TRATADOS
Os tratados são acordos internacionais escritos e concluídos, �rmados por pessoas dotadas de personalidade
jurídica internacional (Estados e organizações) e compostos de um ou mais instrumentos, independentemente
de sua denominação especí�ca.
O processo de positivação das regras jurídicas internacionais, intensi�cado a partir da segunda metade do
século XX, fez crescer signi�cativamente a quantidade de tratados, que hoje representam, sem sombra de
dúvidas, a mais importante fonte do Direito das Gentes.
Atenta ao fenômeno, a ONU encomendou à Comissão de Direito Internacional (CDI) a elaboração de um
projeto destinado a codi�car as relações formais entre Estados.
Nesse contexto, podemos a�rmar que o principal instrumento para a criação e a interpretação dos tratados é
a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados (1969), rati�cada pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo nº 496/2009 e promulgada pelo Decreto nº 7.030/2009.
Como a Convenção de Viena de 1969 não mencionava expressamente a possibilidade de as organizações
celebrarem tratados (exceção feita às agências da ONU), em 21 de março de 1986, foi assinada uma nova
Convenção, complementar à primeira, no intuito de regular a matéria.
Conheceremos as principais características das duas convenções e, na sequência, discorreremos sobre o
papel da Corte Internacional de Justiça, que é o principal tribunal do planeta, com competência para resolver
litígios envolvendo países soberanos.
1. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (1969)
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados teve o texto concluído em 23 de maio de 1969, após
longas negociações que envolveram 110 países, embora apenas 31 tenham assinado o documento naquela
data.
A entrada em vigor da Convenção de Viena só ocorreu uma década depois, em 27 de janeiro de 1980, quando
foi atingido o número mínimo de rati�cações (35 Estados), conforme o art. 84 da Convenção.
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Atualmente, a Convenção vincula mais de 100 países, inclusive o Brasil, que, com a publicação do Decreto nº
7.030/2009 �nalmente introduziu os termos do acordo, apesar de ter manifestado o direito de reserva em
relação aos artigos 25 e 66, que tratam de aplicação provisória e arbitragem, de modo que tais dispositivos
não são válidos para o nosso país.
Baseada nos princípios do livre consentimento e da boa-fé, a Convenção de Viena teve por objetivo codi�car
relações antes costumeiras e adotadas em razão do pacta sunt servanda pelos Estados.
A Convenção de Viena possui versões autênticas nos cinco idiomas o�ciais das Nações Unidas, ao tempo de
sua elaboração: inglês, francês, espanhol, chinês e russo. Após a redação do documento, a ONU passou a
considerar o árabe como o sexto idioma o�cial da Organização.
2. Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e
Organizações Internacionais (1986)
Com a proliferação das organizações internacionais, que passaram a ter personalidade jurídica, foi elaborado
outro documento, com o objetivo de regular as relações advindas de tal cenário, que �cou conhecida como
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais, assinada em
21 de março de 1986.
Destacamos que essa nova Convenção, basicamente, repete os conceitos da anterior, com as devidas
adaptações, especialmente em relação aos direitos das organizações internacionais.
3. Corte Internacional de Justiça
A Corte Internacional de Justiça (CIJ) foi criada, no âmbito da ONU, para atuar como o principal órgão judiciário
do direito internacional. Prevista no art. 92 da Carta das Nações Unidas, a Corte, também conhecida como
Tribunal de Justiça Internacional, entrou em funcionamento em abril de 1946 na cidade da Haia, na Holanda.
Como curiosidade, vale lembrar que a Corte Internacional de Justiça é o único, entre os principais órgãos da
ONU, com sede fora da cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Isso porque a CIJ substituiu a antiga Corte
Permanente de Justiça Internacional, que funcionava no âmbito da Sociedade das Nações. A Sociedade das
Nações (ou Liga das Nações) foi o organismo internacional criado pelos vencedores da Primeira Guerra
Mundial, em 1919. Com a criação da ONU, ela foi extinta em 1946. Durante sua existência, a Corte
Permanente de Justiça Internacional (também conhecida como Corte de Haia) funcionou como órgão
judiciário do sistema.
A Corte Internacional de Justiça é responsável pela análise e resolução de con�itos entre Estados, além de ter
competência para a emissão de pareceres consultivos sobre questões jurídicas formuladas pela Assembleia
Geral ou pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, sem prejuízo da possibilidade de consultas
efetuadas por outros órgãos ou entidades, acreditadas pela ONU, desde que relativas à sua esfera de atuação.
COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO DA CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA
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A importância da Corte Internacional de Justiça decorre do compromisso assumido pelos Estados no sentido
de aceitar todas as decisões relativas a processos em que estiverem envolvidos, sob pena de, se não o
�zerem, conferirem o direito de a outra parte recorrer ao Conselho de Segurança da ONU, que poderá, caso
considere necessário, fazer recomendações ou decidir sobre as medidas a serem tomadas para o efetivo
cumprimento da sentença.
A obediência às decisões da CIJ não impede que os Estados, se assim desejarem, discutam a questão em
outros tribunais internacionais, como aqueles decorrentes, a título de exemplo, dos processos de integração
econômica (União Europeia, Mercosul etc.).
Os Estados que não integrarem as Nações Unidas poderão aderir ao modelo previsto no Estatuto da CIJ,
mediante condições que serão de�nidas pela Assembleia Geral, após recomendação do Conselho de
Segurança.
A Corte Internacional de Justiça é composta por 15 juízes, escolhidos mediante eleição pela Assembleia Geral e
pelo Conselho de Segurança, de forma independente, a partir de lista apresentada pelos grupos nacionais da
Corte Permanente de Arbitragem.
O candidato deverá ter alta quali�cação e reconhecida competência em direito internacional e será
considerado eleito, para um mandato de nove anos, com possibilidade de reeleição, uma vez, quando obtiver
maioria absoluta de votos na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança (neste caso, não há distinção
entre os votos dos membros permanentes e não permanentes).
O Estatuto da CIJ impede o mandato simultâneo de dois membros de mesma nacionalidade. A função de juiz
também exige dedicação exclusiva, sendo vedado o exercício de qualquer outra atividade, de natureza
administrativa, pro�ssional ou política.
A Corte Internacional de Justiça pode funcionar por meio de Câmaras, de três ou mais juízes, ou, ainda,
mediante sessões plenárias, com a presença de pelo menos nove magistrados, que constituem o quórum
mínimo para a instalação dos trabalhos.
Não há impedimento automático para que um juiz atue em processo que envolva o país de sua nacionalidade,
embora, nesse caso, assista à outra parte o direito de escolher um indivíduo quali�cado para funcionar como
juiz (de preferência, entre os candidatos preteridos na eleição). Essa regrasó se aplica aos casos apreciados
pelas Câmaras da CIJ, nos termos dos artigos 26 e 29 do Estatuto.
Os integrantes da Corte Internacional de Justiça, quando no desempenho de suas atribuições, gozam das
prerrogativas e imunidades diplomáticas previstas pela Convenção de Viena.
Podemos a�rmar, com Accioly, Casella e Silva (2009), que a competência da CIJ é bastante ampla e pode assim
ser resumida:
Em razão da matéria (ratione materiae): qualquer tipo de assunto poderá ser objeto de análise,
especialmente os relacionados aos preceitos da Carta da ONU e os temas dispostos em tratados.
Em relação às partes (ratione personae): apenas Estados ou organizações internacionais poderão
postular direitos perante a Corte; são, portanto, os titulares do interesse de agir (locus standi), de sorte
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que indivíduos ou empresas não possuem capacidade processual e só poderão ser representados pelos
seus próprios governos, se esses assim desejarem, mediante o instituto da proteção diplomática.
Os Estados poderão reconhecer, em caráter de reciprocidade com a outra parte, a jurisdição obrigatória da
Corte Internacional de Justiça quando a controvérsia for relativa aos seguintes temas (conforme art. 36.2 do
Estatuto da Corte Internacional de Justiça):
Interpretação de um tratado.
Qualquer ponto de direito internacional.
Existência de qualquer fato que, se veri�cado, constituiria violação de um compromisso internacional.
Natureza ou extensão da reparação devida pela ruptura de um compromisso internacional.
RECEPÇÃO DOS TRATADOS NO BRASIL
A sistemática constitucional para a introdução de normas no ordenamento brasileiro prevê a participação
conjunta dos poderes Executivo e Legislativo. Esse compartilhamento de competências é conhecido como
treaty making power, expressão que pode ser traduzida como “competência para dispor sobre tratados”.
A competência bipartida entre os poderes Legislativo e Executivo decorre da conjugação dos seguintes artigos
da Carta Magna:
O Supremo Tribunal Federal entende que o sistema brasileiro con�guraria um dualismo temperado, no qual
o comprometimento do Estado passaria por duas fases distintas:
A rati�cação no plano internacional, quando da publicação do Decreto Legislativo e o correspondente
depósito no Secretariado das Nações Unidas.
A entrada em vigor no Brasil, que só ocorreria com a publicação do Decreto Executivo pelo Presidente da
República.
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I – resolver de�nitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
[...]
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional;
— (BRASIL, 1988, [s. p.])
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Para que possamos compreender a questão, que certamente é complexa e exige maior aprofundamento,
vejamos a sequência com os procedimentos necessários para a recepção de normas estrangeiras no Brasil:
O Presidente da República assina e autentica o texto �nal do tratado e manifesta o engajamento
brasileiro no âmbito internacional.
O Ministro das Relações Exteriores traduz o texto negociado para o português (se for o caso) e prepara a
minuta da mensagem presidencial.
A Casa Civil veri�ca a legalidade e o mérito do tratado e propõe o encaminhamento do texto integral ao
Congresso Nacional.
O Presidente da República envia o texto e a mensagem para o Congresso Nacional.
O texto tramita inicialmente pela Câmara dos Deputados.
Caso aprovado, segue para o Senado Federal; se recusado, extingue o procedimento, sem necessidade
de encaminhamento ao Senado Federal.
Faz-se a leitura em plenário e o texto passa pelas comissões pertinentes, especialmente a comissão de
relações exteriores e a comissão de constituição e justiça.
A aprovação do texto, na redação �nal, exige votação em plenário com maioria simples dos deputados e
senadores.
Com a aprovação, o Presidente do Senado promulga o decreto legislativo correspondente, que será
numerado e publicado no Diário O�cial da União; é possível que dois ou mais tratados sejam
promulgados pelo mesmo decreto legislativo.
O Presidente da República produz um decreto executivo que confere publicidade ao acordo, tornando-o
obrigatório para todos após a devida publicação no Diário O�cial da União.
Como se pode observar, o rito inicia-se como ato de governo, de competência do Presidente da República,
passa pelo crivo democrático (participação popular e dos estados federados) no Congresso Nacional e retorna
ao Executivo para con�rmação.
Somente com a publicação do decreto presidencial o texto se torna cogente, ou seja, norma obrigatória para
todos os brasileiros e pessoas residentes no país.
Ressalte-se que não há prazo para promulgação do tratado pelo Presidente após a publicação do decreto
legislativo, razão pela qual entendemos se tratar de ato discricionário.
Curioso notar que em nenhuma passagem da Constituição existe previsão expressa sobre a necessidade de
publicação do decreto presidencial, razão pela qual podemos a�rmar que se trata de construção teórica,
embora aceita de forma pací�ca pela jurisprudência.
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VIDEOAULA
Olá, tudo bem? Neste encontro, conheceremos os procedimentos para a recepção de tratados internacionais
no Brasil, a partir do entendimento �rmado pelo Supremo Tribunal Federal. Veremos, ainda, os efeitos
jurídicos desses tratados, conforme o conteúdo neles veiculado: a regra geral, as questões de natureza
tributária e as matérias relacionadas a direitos humanos e garantias fundamentais.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a força jurídica dos tratados no Brasil, consulte:
VARELLA, M. D. Direito internacional público. São Paulo, SP: Saraiva, 2019.
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
A SOCIEDADE INTERNACIONAL E O DIREITO
As obrigações no Direito Internacional são respeitadas e cumpridas com base no famoso princípio pacta sunt
servanda, que, de forma livre, signi�ca “o que foi combinado deverá ser cumprido”. 
A ideia que está por trás deste princípio é a boa-fé, que deve nortear as relações entre os Estados.
Nesta unidade, conhecemos as fontes do Direito Internacional Público, com destaque para as duas mais
importantes: o costume e os tratados internacionais.
Os costumes se manifestam como as práticas aceitas pelos Estados como direito aplicável, durante um
período razoável (noção de estabilidade) e decorrem do baixo nível de codi�cação (existência de normas
positivas) entre os Estados.
Já os tratados internacionais são os acordos formais e concluídos entre pessoas jurídicas de DIP, destinados à
produção de efeitos jurídicos. Sua denominação tende a ser irrelevante, pois o que importa é a manifestação
de vontade por parte dos Estados soberanos e/ou das organizações internacionais.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
15 minutos
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A recepção dos tratados internacionais no direito brasileiro decorre do exercício da competência do
Presidente da República (que pode celebrar tratados e depois dar-lhes publicidade, nos termos no art. 82,
inciso VIII, da Constituição) e do Congresso Nacional, que tem o poder de decidir de�nitivamente acerca dos
acordos �rmados pelo país (art. 49, inciso I, da Constituição).
Uma vez recepcionados pelo direito brasileiro, os tratados podem adquirir três condições jurídicas, conforme
entendimento do Supremo Tribunal Federal:
• Como regra geral, os tratados internacionais sobre qualquer matéria jurídica terão força de leiordinária e
poderão ter sua e�cácia suspensa.
• Há, contudo, duas exceções, sendo a primeira os tratados internacionais sobre matéria tributária, que
prevalecem sobre a lei interna brasileira, nos termos do art. 98 do Código Tributário Nacional.
• Uma segunda exceção diz respeito aos tratados internacionais sobre direitos humanos, aprovados após a
EC/45, com o rito de emenda constitucional, posto que, neste caso, integram o altiplano das normas
constitucionais.
No que tange à personalidade jurídica, no Direito Internacional Público, temos dois atores: os Estados
soberanos (que possuem personalidade originária) e as organizações internacionais (que possuem
personalidade derivada).
Modernamente, aceita-se, ainda, a participação de indivíduos no DIP, no âmbito dos direitos humanos, com o
objetivo de permitir que qualquer pessoa que sofra ameaça à sua vida ou integridade possa acionar tribunais
internacionais.
REVISÃO DA UNIDADE
Olá, estudante, tudo bem? Neste encontro, relembraremos os principais elementos do Direito Internacional
Público, como forma de cooperação e entendimento entre os países que compõem a comunidade
internacional. Falaremos sobre as fontes da nossa matéria e sobre o papel dos Estados soberanos e das
organizações internacionais no século XXI. Tenho certeza de que será bem interessante e por isso �ca aqui o
meu convite!
ESTUDO DE CASO
Olá, estudante!
Quando analisamos a teoria, especialmente do Direito Internacional Público, nem sempre é fácil imaginar sua
aplicação na prática.
Para a maioria das pessoas (do Direito, inclusive), discussões envolvendo países parecem algo distante e
pouco comum. Até porque, como sabemos, os países são soberanos, e essa característica enseja di�culdades
na apreciação de litígios concretos, sobretudo quando se faz necessária a imposição de obrigações ou
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sanções.
Com o objetivo de superarmos essa visão e contextualizarmos o aprendizado, apresentaremos a você um
caso hipotético, mas que encontra paralelo na vida real.
Assim, trabalharemos com a seguinte situação:
Imagine que o governo de um país quer te contratar para emitir uma opinião jurídica acerca do seguinte
problema: o território do país “A” não possui saída para o mar, de modo que essa limitação gera diversas
di�culdades concretas, pois impede o desenvolvimento do comércio pela via marítima (que é o principal
modal de importações e exportações), o que prejudica a competitividade das empresas locais e, por
conseguinte, o crescimento econômico do próprio país.
Essa situação perdura há muito tempo, mas agora o país “A” almeja obter uma solução jurídica, valendo-se
das normas do Direito Internacional Público.
 Re�ita
Elabore um parecer (em forma de tópicos) sobre a matéria, com os conceitos que fundamentam sua
opinião, bem como indique, caso necessário, os tratados ou diplomas jurídicos que poderiam subsidiar o
pedido.
Ciente de que você conhece bem as regras jurídicas internacionais, o governo desse país gostaria de
ouvir sua opinião sobre os seguintes temas:
• Seria possível propor uma ação internacional, com o objetivo de obrigar um país vizinho (“B”), que tenha
saída para o mar, a conceder esse “direito de passagem”?
• Em caso a�rmativo, qual tribunal poderia apreciar o caso? Por quê?
• Quais seriam os argumentos que poderiam ser utilizados em favor da tese, que busca obter um “direito
soberano de acesso ao mar”?
• Imaginando que o país demandado (“B”) deverá opor resistência ao pleito, quais seriam os argumentos
que esse país vizinho poderia apresentar, como justi�cativa para uma eventual negativa?
• A decisão que vier a ser proferida tem caráter de�nitivo?
Como você pode observar, a aplicação de sanções no direito internacional não é algo simples, por força
da soberania inerente aos Estados.
Assim, não há como exigir, compulsoriamente, que um Estado cumpra qualquer decisão exarada por um
organismo internacional (como a ONU) ou a própria Corte Internacional de Justiça.
O que se espera, nesses casos, é que o país eventualmente derrotado numa demanda jurídica cumpra
com o que foi decidido, em respeito ao princípio do pacta sunt servanda.
Na hipótese de a decisão não ser cumprida, poderão ser adotadas medidas retaliatórias, com o objetivo
de “compensar” os prejuízos porventura gerados pela parte infratora.
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É por isso que, no direito internacional, o que se sempre se busca é o acerto amigável entre as partes,
que pode surgir a partir de provocações jurídicas ou negociações diplomáticas, pois esse tipo de solução
tende a ser mais e�caz e equilibrada.
RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO
• Sim, é possível propor uma ação internacional com o objetivo de pleitear um direito soberano de passagem,
em favor de um país que não possui saída para o mar e que precisa desse acesso para incrementar suas
importações e exportações.
• Como se trata de uma questão envolvendo países soberanos, o caso pode ser apresentado perante a Corte
Internacional de Justiça (CIJ), que é o principal órgão judiciário das Nações Unidas, com sede na Holanda. O
tribunal começou a funcionar em abril de 1946 e possui competência para apreciar matérias dessa natureza,
de que é exemplo o caso envolvendo Bolívia e Chile, instaurado em 2013.
• Um primeiro argumento, de ordem geral, deriva dos princípios da boa-fé e da cooperação internacional,
segundo os quais os países devem enviar esforços para buscar soluções negociadas em caso de potenciais
litígios. Um segundo argumento, de natureza econômica, parte da ideia de que, no mundo moderno, o
comércio internacional é um fator primordial para o desenvolvimento econômico, de modo que um país com
limitações territoriais de acesso ao mar certamente enfrenta grandes di�culdades para a aquisição de
produtos e o escoamento de suas mercadorias. Sob o ponto de vista jurídico, é possível alegar que o país
demandado tem o dever de estabelecer negociações amigáveis que objetivem um acordo entre as partes.
Ademais, os tratados internacionais buscam estabelecer um equilíbrio de direitos entre os signatários. Como
exemplo, a Convenção da ONU sobre os Direitos do Mar (Convenção de Montego Bay – 1982), embora não
assegure o direito pleiteado no caso, trata das hipóteses de países “geogra�camente desfavorecidos” e
estabelece, entre outros direitos, a questão da navegação inocente para �ns comerciais. Também é
importante veri�car o histórico de uma eventual disputa entre os países sobre a questão, bem assim a
existência de acordos regionais sobre a matéria. Alternativamente, o país “A” poderia, ainda, tentar celebrar
com o país vizinho “B”, um acordo para a utilização de suas instalações portuários, de modo a facilitar, pelo
menos, o trânsito de mercadorias provenientes e destinadas ao exterior (art. 125 da Convenção de Montego
Bay), a exemplo do que o Brasil faz em relação ao Paraguai.
• O país vizinho (“B”) pode alegar, como tese principal, o fato de que inexiste previsão jurídica que o obrigue a
ceder parte de seu território soberano e que qualquer colaboração com o país “A” pressupõe, apenas, o
direito de trânsito das mercadorias importadas ou exportadas, como estabelece a Convenção de Montego
Bay.
• A decisão proferida pela Corte Internacional de Justiça é de�nitiva e não comporta recurso, embora os
julgadores quase sempre fazem um convite para a “manutenção do diálogo” entre as partes, com a busca de
uma solução mutuamente negociada.
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RESUMO VISUAL
Direito Internacional Público 
Características
•  Numa sociedade descentralizada os Estados soberanos se encontram
dispostos horizontalmente.
•  A soberania implica coordenação, não subordinação.
•  Descentralização das decisões.
•  Ausência de autoridade superior e poderescentrais.
•  Ausência de hierarquia entre as normas.
•  Di�culdade na imposição de sanções.
Fontes
•  Tratados internacionais, que estabelecem regras escritas e
expressamente reconhecidas pelos Estados.
•  Costume internacional, assim entendida a prática geralmente aceita
como direito.
•  Princípios gerais do direito.
•  As decisões judiciais e a doutrina, que são meios auxiliares para a
determinação das regras jurídicas.
 Recepção dos Tratados
•  Presidente da República assina o tratado e o encaminha ao Congresso
Nacional.
•  O texto aprovado dá origem ao Decreto Legislativo correspondente.
•  Cabe ao Presidente da República promulgar o texto, por meio de decreto
executivo (princípio da publicidade).
Estados
O Estado, como personalidade jurídica de Direito Internacional Público, é
composto de três elementos:
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•  Base territorial;
•  Comunidade humana neste território;
•  Forma de governo não subordinada a terceiros.
 Reconhecimento dos Estados e do Governo
•  O reconhecimento do Estado não é ato constitutivo, mas declaratório da
qualidade estatal.
•  Pode ser expresso ou tácito.
•  O reconhecimento do governo se faz necessário quando ocorrem
rupturas na ordem política, como revoluções ou golpes de estado, que
operam à margem da Constituição. 
Aula 1
ACCIOLY, H.; CASELLA, P. B.; SILVA, G. E. do N. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo, SP:
Saraiva, 2021. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594836/. Acesso em:
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Congresso Nacional, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
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BRASIL. Decreto nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, da qual faz parte
integrante o anexo Estatuto da Corte Internacional de Justiça, assinada em São Francisco, a 26 de junho de
1945, por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas. Brasília, DF: Presidência
da República, [2022]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm.
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VATTEL, E. de. Le Droit des Gens, ou principes de la loi naturelle appliques à la conduite et aux a�aires
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REFERÊNCIAS
5 minutos
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Aula 2
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92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da
Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Brasília, DF:
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Aula 3
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Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.
Aula 4
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REZEK, F. Direito internacional público: curso elementar. 11. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2008.
Aula 5
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