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DI_DIREI_INTERN_ U2 - Livro Didático

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INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta aula, estudaremos os diversos elementos territoriais que compõem os Estados modernos. O aspecto
territorial ultrapassa o conceito geográ�co e, em termos jurídicos, signi�ca a área sobre a qual o Estado exerce
jurisdição, assim entendido o conjunto de poderes e competências típicos do poder estatal dotado de
soberania.
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Aula 1
O ESTADO FACE AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
O aspecto territorial ultrapassa o conceito geográ�co e, em termos jurídicos, signi�ca a área sobre a qual
o Estado exerce jurisdição, assim entendido o conjunto de poderes e competências típicos do poder
estatal dotado de soberania.
33 minutos
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO: O ESTADO –
TERRITÓRIO, ELEMENTO HUMANO E SOBERANIA
 Aula 1 - O Estado face ao Direito Internacional Público
 Aula 2 - O elemento político: soberania
 Aula 3 - O elemento humano: nacionalidade
 Aula 4 - Tratamento jurídico dos estrangeiros
 Aula 5 - Revisão da unidade
 Referências
136 minutos
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Costuma-se dizer que a jurisdição é geral (por abranger as atividades legislativa, executiva e jurisdicional) e
exclusiva (porque o Estado não sofre a interferência de qualquer outra vontade).
Sob o ponto de vista histórico, os territórios dos Estados foram adquiridos por meio de descobertas (como as
decorrentes da expansão ultramarina europeia) ou mediante conquista, normalmente em razão de con�itos
armados. Houve, ainda, casos de cessão onerosa de territórios, a exemplo da aquisição da área hoje
pertencente ao estado do Acre, comprada da Bolívia pelo Brasil em 1903.
Bons estudos!
ELEMENTOS TERRITORIAIS: CONCEITO
Os Estados modernos, no que tange ao território, são compostos de três possíveis elementos, nos quais se
exerce a jurisdição.
Nesse contexto, não devemos confundir a delimitação (de�nição da área territorial mediante tratados e
discussões internacionais) com a demarcação, que é o procedimento de �xar marcos indicativos dos limites
territoriais.
No Brasil, compete ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, de�nir os limites do
território nacional, espaço aéreo e marítimo (artigo 48, V, da Constituição Federal). Vemos, portanto, que o
território brasileiro compreende a porção terrestre, o mar territorial e o espaço aéreo, conceitos que
analisaremos a seguir.
A parte terrestre
A porção terrestre do território possui identidade com a divisão política dos Estados soberanos e é formada
pelo solo e subsolo, sobre os quais os indivíduos habitam.
Conquanto o território esteja circunscrito aos limites com os Estados vizinhos, reconhecidos pelo Direito
Internacional, existe a possibilidade de expansão territorial, que pode ocorrer de diversas formas:
Ocupação – decorre da posse de territórios que não pertenciam a ninguém, os chamados res nullius.
Conquista – trata-se da incorporação de novos territórios por meio da força, como nos casos de guerra;
a conquista, atualmente, é condenada pelo Direito Internacional, embora, no passado, tenha sido
determinante para a conformação de diversos Estados.
Acessão – acréscimo em razão de fatores naturais, como a ação dos rios e mares, embora existam casos
de acessão arti�cial, fruto da engenharia humana.
Secessão – é o fracionamento do território original, normalmente em razão de con�itos internos que
resultam em declaração de independência.
Cessão – é a transferência de partes do território de um Estado para outro, a título gratuito ou oneroso.
Fusão – quando dois ou mais territórios passam a integrar um novo Estado.
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O mar territorial
A de�nição do conceito de mar territorial e do domínio dessa região pelos Estados foi estabelecida pela
Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, assinada em 1982 na cidade de Montego Bay, na
Jamaica.
O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de 12 milhas marítimas de largura, medidas a partir da
linha de baixa-mar do litoral continental e insular. O leitor deve tomar cuidado para não confundir os
números, porque muitas pessoas ainda acreditam que o mar territorial teria 200 milhas, o que não é
verdadeiro.
Cada milha náutica corresponde a 1.852 metros, de sorte que a faixa do mar territorial brasileiro se estende
pela costa por pouco mais de 22 quilômetros.
O Brasil exerce plena soberania sobre o mar territorial, inclusive em relação ao espaço aéreo subjacente, seu
leito e subsolo.
Segundo Accioly et al. (2009, p. 568):
Com efeito, podemos dizer que os fatos jurídicos ocorridos na região do mar territorial estão sujeitos à
jurisdição brasileira, como se tivessem acontecido na porção terrestre.
A Convenção de Montego Bay e a legislação brasileira reconhecem o direito de passagem inocente de navios
de qualquer nacionalidade pelo mar territorial, assim entendido o trânsito rápido, contínuo, não prejudicial à
paz e sujeito às regras nacionais.
O espaço aéreo
Existe uma importante divisão no conceito do chamado direito do espaço, entre a área na qual os Estados
exercem soberania e outra, superior, que não pode ser apropriada por ninguém.
No primeiro caso, a regulamentação internacional confere aos Estados o direito de soberania sobre a área
imediatamente acima dos seus territórios, através da qual trafegam as aeronaves civis e militares (espaço
aéreo).
Acima do limite do espaço aéreo individual e até os con�ns do universo (espaço exterior), as Nações Unidas
decidiram que nenhum Estado poderá exercer direitos soberanos, tema que foi tratado pela ONU em
diversas convenções sobre o espaço exterior e os corpos celestes, celebradas a partir do �nal da década de
dada a natureza especial do domínio marítimo, convém assinalar aqui os principais
direitos geralmente reconhecidos ao estado costeiro sobre o mar territorial, decorrentes
do direito de soberania. O primeiro, e mais amplo, é o de polícia, do que derivam o de
regulamentação aduaneira e sanitária e o de regulamentação da navegação (...). O estado
pode também reservar aos seus nacionais a cabotagem e a pesca no mar territorial.
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1960, em razão da corrida espacial entre norte-americanos e soviéticos.
AS DIVERSAS FAIXAS DE MAR
Sabemos que os países exercem soberania sobre o chamado mar territorial, que compreende as 12 milhas
contadas a partir da costa. Contudo, existem outras faixas marítimas que são extremamente importantes e
que estudaremos a seguir.
A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende de 12 a 24 milhas marítimas, contadas a
partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Apesar de não possuir grande
relevância jurídica nem pertencer ao território brasileiro, a zona contígua é considerada área de vigilância, na
qual as autoridades poderão adotar medidas de �scalização com o objetivo de evitar e reprimir infrações.
Já a chamada zona econômica exclusiva (ZEE) compreende uma área enorme, que se estende de 12 a 200
milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.
Trata-se de região de grande potencial econômico, sobre a qual o Brasil detém direitos de exploração,
aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais e, portanto, pode praticar nela todas as formas
de extrativismo (mineral, vegetal ou animal).
É na zona econômica exclusiva que se localiza a conhecida camada do pré-sal, na qual os campos de petróleo
até o momento descobertos indicam a presença de consideráveis reservas. Destacamos que a ZEE não
pertence ao Brasil, mas somente o nosso governo ou pessoas por ele autorizadas (mediante concessão
pública,por exemplo) poderão auferir resultados econômicos dela.
Ademais, na zona econômica exclusiva, o Brasil tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação
cientí�ca marinha, a proteção e preservação do meio ambiente, bem como a construção, operação e uso de
todos os tipos de ilhas arti�ciais, instalações e estruturas, como é o caso das plataformas de petróleo.
Os Estados estrangeiros terão, na zona econômica exclusiva, os direitos de navegação e sobrevoo, para �ns
comerciais e pací�cos. Qualquer atividade ou manobra militar na região só poderá ser realizada mediante
expressa concordância do governo brasileiro.
Por �m, a plataforma continental compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem
além do nosso mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o
bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base, a
partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem
continental não atinja essa distância.
O Brasil exerce direitos sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração dos recursos naturais, de
forma análoga àqueles relacionados à zona econômica exclusiva. Os Estados estrangeiros têm o direito de
passar cabos marinhos e dutos pela área da plataforma continental.
Por �m, além do mar territorial dos Estados, encontramos grandes regiões de domínio público internacional,
que não se sujeitam à jurisdição de nenhum Estado e correspondem ao conceito de alto-mar (ou águas
internacionais).
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Nessas áreas, os Estados podem exercer direitos coletivos e pací�cos, tais como:
Liberdade de navegação.
Liberdade de sobrevoo.
Liberdade de colocar cabos e dutos submarinos.
Liberdade de construir ilhas arti�ciais e outras instalações permitidas pelo direito internacional.
Liberdade de pesca, em obediência às regras internacionais.
Liberdade de investigação cientí�ca.
DIREITO MARÍTIMO E AERONÁUTICO
Uma das questões mais importantes do direito marítimo diz respeito ao exercício da jurisdição a bordo das
embarcações (cujos comentários também se aplicam às aeronaves). A�nal, qual será o direito aplicável a
bordo, nas mais diferentes situações?
A Convenção de Montego Bay tem, entre seus objetivos, responder a essa indagação. Em primeiro lugar, faz-
se necessário distinguir entre os navios comerciais (privados) e os navios de guerra, além daqueles utilizados
pelos Estados para �ns não comerciais.
Para os navios civis, de passageiros ou carga, a regra geral é a aplicação da lei da sua bandeira ou pavilhão
para os fatos ocorridos em águas internacionais (ou no espaço aéreo comum, no caso das aeronaves) e a
utilização da lei nacional do Estado costeiro quando o fato se realizar dentro do seu mar territorial.
Em relação às ocorrências de natureza criminal, a Convenção de Montego Bay determina que a jurisdição
penal do Estado costeiro não será exercida a bordo de navio estrangeiro que passe pelo mar territorial com o
�m de deter qualquer pessoa ou de realizar investigação, com relação à infração cometida a bordo desse
navio durante a sua passagem, salvo nos seguintes casos (artigo 27.1):
Se a infração criminal tiver consequências para o Estado costeiro.
Se a infração criminal for de tal natureza que possa perturbar a paz do país ou a ordem no mar territorial.
Se a assistência das autoridades locais tiver sido solicitada pelo capitão do navio ou pelo representante
diplomático ou funcionário consular do Estado de bandeira.
Se essas medidas forem necessárias para a repressão do trá�co ilícito de estupefacientes ou de
substâncias psicotrópicas.
Na hipótese de navio estrangeiro procedente de águas interiores (que acabou de zarpar do porto, por
exemplo), o Estado costeiro poderá adotar medidas de retenção da embarcação e realizar investigações a
bordo, dentro do seu mar territorial, sem prejuízo de comunicar os representantes diplomáticos ou
consulares do Estado da bandeira.
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Quanto aos atos civis, o Estado costeiro não deve parar nem desviar da sua rota um navio estrangeiro que
passe pelo mar territorial, a �m de exercer a sua jurisdição em relação a uma pessoa que se encontre a bordo.
No mesmo sentido, o Estado costeiro não pode adotar, contra navios estrangeiros, medidas executórias ou
cautelares em matéria civil, a não ser que essas medidas sejam tomadas por força de obrigações assumidas
pelo navio ou de responsabilidades em que este tenha incorrido durante a navegação ou passagem pelas
águas do mar territorial.
Importante: nos termos da legislação brasileira, qualquer indivíduo que venha a nascer a bordo de uma
embarcação ou aeronave estrangeira civil, mas dentro do território nacional, será considerado brasileiro
nato, pelo critério jus solis.
Diferentemente das embarcações civis, os navios de guerra não se submetem à jurisdição do Estado costeiro,
nem mesmo para os fatos ocorridos dentro do mar territorial. Entende-se por navio de guerra toda
embarcação que ostente sinais exteriores típicos, seja comandada por o�cial devidamente designado pelo
Estado de origem e possua tripulação submetida às regras disciplinares militares.
Para os navios e aviões de guerra, aplica-se raciocínio análogo à área utilizada pelas embaixadas e consulados,
de forma que o Estado local renuncia à sua jurisdição em favor da soberania estrangeira.
Outra garantia importante, como vimos, é o direito de passagem inocente que os navios e aviões estrangeiros
possuem, em tempos de paz, pelo mar territorial dos signatários da Convenção de Montego Bay.
VIDEOAULA
Nesta videoaula, vamos tratar do domínio e a utilização das faixas marítimas e do espaço aéreo pelos Estados
soberanos, nos termos de diversos acordos internacionais, com destaque para a Convenção de Montego Bay.
Vamos também analisar a questão da jurisdição a bordo de navios e aeronaves, com exemplos importantes,
de natureza civil, penal e administrativa. Bons estudos!
 Saiba mais
Para uma visão bastante completa sobre o direito relativo a navios e aeronaves, sugerimos:
CASELLA, Paulo B. Direito Internacional dos Espaços: domínio aéreo, navios e aeronaves, espaços
internacionais e recorrências da espacialidade. São Paulo: Grupo Almedina (Portugal), 2022. Coleção
Tratado de Direito Internacional, tomo 2. E-book. ISBN 9786556276106.
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
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INTRODUÇÃO
Olá, estudantes!  
O terceiro elemento constitutivo dos Estados soberanos, conhecido como elemento político, prevê a
existência de um governo autônomo e independente, sem qualquer subordinação externa.
Trata-se de condição essencial para o exercício da soberania, premissa maior do direito internacional.
Segundo Dinh et al. (2003, pp. 441-442), a soberania pressupõe a liberdade de ação dos Estados, que se
manifesta pela presença das seguintes características:
Ausência de qualquer subordinação orgânica dos Estados a outros sujeitos do direito internacional.
Presunção de regularidade dos atos estatais.
Autonomia constitucional do Estado, como resultado da indiferença do direito internacional às questões
políticas internas.
Bons estudos!
O ELEMENTO POLÍTICO DOS ESTADOS
O reconhecimento da soberania
Questão interessante diz respeito ao reconhecimento da soberania, vale dizer, será a soberania um atributo
automático, oriundo da existência dos três elementos estatais (território, comunidade e governo) ou será que
ela precisa ser reconhecida pelos demais Estados?Diversas teorias foram apresentadas, ao longo dos anos, sobre o tema, de forma que hoje se entende que
existem duas situações distintas: o reconhecimento do Estado e o reconhecimento do governo.
O reconhecimento de um novo Estado, em geral, decorre dos processos de independência, em que territórios
antes subordinados a terceiros passam a cuidar do seu próprio destino.
Aula 2
O ELEMENTO POLÍTICO: SOBERANIA
O terceiro elemento constitutivo dos Estados soberanos, conhecido como elemento político, prevê a
existência de um governo autônomo e independente, sem qualquer subordinação externa.
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Nessa hipótese, o reconhecimento poderá ser expresso (quando os demais Estados comunicam formalmente
sua intenção de travar relações diplomáticas) ou tácito (mediante aquiescência quanto à participação do novo
Estado em conferências internacionais, por exemplo).
Embora a doutrina entenda que o reconhecimento da soberania não possui caráter constitutivo, mas apenas
declaratório, no sentido de atestar a presença dos seus elementos, algumas situações complexas podem
ocorrer no mundo real.
É o caso de Taiwan, território que havia sido cedido pela China ao Japão em 1895 e que foi retomado em
1951. Com o advento da revolução comunista, muitos chineses nacionalistas saíram do continente em direção
à ilha e lá estabeleceram uma espécie de “regime paralelo”.
Até hoje a situação de Taiwan continua inde�nida, pois o território não é considerado como Estado soberano
(já houve, inclusive, rejeição da ONU em relação a isso), mas atua de forma independente da China no cenário
internacional.
O reconhecimento dos governos faz-se necessário quando Estados aceitos como soberanos enfrentam
problemas de ruptura ou fragmentação das instituições internas, como no caso de revoluções, guerras civis
ou golpes de Estado.
Nesse contexto, diversos pensadores buscaram identi�car os requisitos para o reconhecimento da
legitimidade dos novos governos, surgidos a partir de situações de con�ito.
Entre várias teorias, duas merecem destaque:
Doutrina Tobar – preconizada pelo Ministro das Relações Exteriores do Equador Carlos Tobar (1907),
defende a aceitação popular como condição de legitimidade, nos seguintes termos (REZEK, 2011, p. 229):
“O meio mais e�caz para acabar com essas mudanças violentas de governo, inspiradas pela ambição, que
tantas vezes têm perturbado o progresso e o desenvolvimento das nações latino-americanas e causado
guerras civis sangrentas, seria a recusa, por parte dos demais governos, de reconhecer esses regimes
acidentais, resultantes de revoluções, até que �que demonstrado que eles contam com a aprovação
popular”.
Doutrina Estrada – da lavra do Ministro das Relações Exteriores do México, Genaro Estrada (1930), a
doutrina tem como fundamento o princípio da não intervenção, de sorte que os Estado não devem
ingressar no mérito da política interna dos demais atores do direito internacional. Nas palavras do
próprio autor, “o governo do México não se pronuncia no sentido de outorgar reconhecimento, pois
estima que essa prática desonrosa, além de ferir a soberania das nações, deixa-as em situação na qual
seus assuntos internos podem quali�car-se em qualquer sentido por outros governos, que assumem de
fato uma atitude crítica quando de sua decisão favorável ou desfavorável sobre a capacidade legal do
regime”.
No Brasil, a teoria da não intervenção tem força constitucional, como se pode observar do princípio �rmado
pelo artigo 4º, IV, da Carta Magna, que veda qualquer tipo de ingerência em governos estrangeiros.
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SITUAÇÕES ESPECÍFICAS
O fenômeno federativo
O Direito Internacional Público deve reconhecer a autonomia dos estados federados como titulares de certas
competências internacionais, outorgadas de acordo com as respectivas constituições, com a ressalva de que
deve ser respeitada a posição da união federal.
É o caso do Brasil, em que a Constituição estabelece, inclusive, a competência do Supremo Tribunal Federal
para julgar o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, estados, distrito federal ou
território (artigo 102, I, e).
Curiosamente, a Carta Magna não faz menção aos municípios, de sorte que restaria a dúvida quanto à
possibilidade de sua participação no cenário internacional. Pensamos, ao interpretar a Constituição de modo
sistêmico, ser possível tal circunstância, na exata medida dos demais entes federados, porque resta
consagrado, ainda que com algumas restrições, o princípio da autonomia municipal, a partir de 1988.
Nesse sentido, pensamos ser razoável admitir que qualquer ente político brasileiro possa assumir certos
compromissos na ordem internacional, com a ressalva de que o farão em respeito ao pacto federativo.
Na prática, os poucos casos existentes normalmente versam sobre empréstimos contraídos de organizações
internacionais (Banco Mundial ou Banco Interamericano de Desenvolvimento) ou, ainda, acordos de natureza
cultural ou social.
Territórios administrados e microestados
Os processos de independência observados no último século praticamente extinguiram a �gura das colônias,
territórios periféricos que se submetiam à soberania de metrópoles estrangeiras, quase sempre localizadas na
Europa.
Apesar de raro, alguns territórios ainda conservam essa característica, com uma roupagem jurídica mais
compatível com o Direito Internacional. É o caso, por exemplo, da Guiana Francesa, o�cialmente um
departamento ultramarino da França, mas dentro da América do Sul.
Situação distinta ocorre com os chamados microestados, que, apesar de soberanos, precisam celebrar
acordos com países vizinhos para a realização de determinadas atividades administrativas, que seriam
impossíveis de realizar isoladamente, em razão do diminuto espaço territorial e reduzida população.
O exemplo mais conhecido é o de Mônaco, pequeno principado independente conhecido pelo alto padrão de
vida dos seus habitantes, certamente impulsionado pela reduzida carga tributária. Mônaco possui tratados
com a França que transferem parte das atividades típicas do Estado para o vizinho, que, mediante
colaboração, assume atividades como a defesa do território monegasco ou a emissão de moeda, entre outras
atribuições.
Os microestados participam normalmente dos debates internacionais, na qualidade de membros das mais
diversas organizações, com direito a voto e representação diplomática.
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A Santa Sé e a cidade do Vaticano
Os termos “Santa Sé” e “Vaticano” costumam causar confusão entre as pessoas, que normalmente os
consideram como equivalentes. Na verdade, a Santa Sé é a representação o�cial da Igreja Católica, que tem
no Papa sua autoridade máxima. Trata-se de uma entidade de natureza político-religiosa, com objetivos
especí�cos.
Já o Vaticano, cujo nome o�cial é Estado da Cidade do Vaticano, assemelha-se mais a um Estado soberano,
pois possui um território (bastante pequeno, dentro da cidade de Roma), um governo independente, com um
Presidente e um Secretário-Geral, mas não possui nacionais, daí existirem papas de diferentes nacionalidades.
O Vaticano foi criado por meio do Tratado de Latrão, celebrado em 1929 entre a Itália (então governada por
Benito Mussolini) e a Igreja Católica, que permitiu a criação de um pequeno enclave dentro da cidade de
Roma, que se tornou a sede da Igreja e a residência o�cial dos papas.
A maioria dos autores considera que a Santa Sé possui personalidade jurídica, ainda que limitada, de direito
internacional, inclusive com corpo diplomático próprio, que cuida dos interesses religiosos da fé católica,
muitas vezes por meio de tratados especí�cos, denominados concordatas.
ADMINISTRAÇÃO DE TERRITÓRIOS E SUCESSÃO
De acordocom o modelo constitucional adotado, os Estados de�nem a sua organização
político‑administrativa interna. O padrão mais frequente é o de federação, a exemplo do que ocorre no Brasil,
na Argentina, nos Estados Unidos e em tantos outros países. Cabe ao direito internacional analisar o chamado
fenômeno federativo, quando reconhecer a soberania de cada Estado e sua competência para dispor sobre a
ordem interna.
A federação pressupõe a existência de unidades autônomas, integradas pelas regras constitucionais. No
Brasil, a estrutura contempla quatro níveis de competência das pessoas políticas de direito interno: União,
estados, distrito federal e municípios.
Embora o compromisso internacional seja de competência dos Estados (titulares de personalidade jurídica),
no sentido de vincular vontades soberanas, nada impede que entes federativos participem de transações
internacionais.
Tanto assim que a Constituição brasileira estabelece a competência do Supremo Tribunal Federal para julgar o
litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e União, estados, distrito federal ou territórios (art.
102, I, e).
É possível, portanto, que um ente federado assuma determinados compromissos na ordem internacional,
obviamente não na qualidade de soberano, mas em razão de acordos de natureza econômica ou social, como
ocorre, por exemplo, quando estados brasileiros contraem empréstimos com organizações internacionais
(Banco Mundial, por exemplo).
Territórios administrados
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Ao longo da história, com especial destaque para o século XX em razão do fenômeno da descolonização,
houve várias situações de territórios submetidos à soberania de outros Estados, a exemplo da tutela do
sudoeste africano, que foi administrado pela África do Sul com o término da Primeira Guerra Mundial.
As modalidades de administração são as mais variadas, desde o mandato previsto ao tempo da extinta
Sociedade das Nações até a possibilidade de tutela, nos termos da Carta das Nações Unidas.
Além disso, vale lembrar a situação das colônias que ainda não conseguiram independência e, portanto,
reconhecimento pela ordem internacional, o que propicia a existência de protetorados ou províncias
ultramarinas, muitas vezes denominadas Estados vassalos pela doutrina.
Exemplo interessante é o da Guiana Francesa, território localizado acima do Brasil na América do Sul e
pertencente à França, na qualidade de departamento ultramarino. Por integrar a República Francesa, seus
cidadãos participam das eleições para presidente daquele país, utilizam o francês como idioma o�cial e tem
no euro sua moeda corrente.
Pode-se dizer, portanto, que a Guiana Francesa indica a presença de um território europeu na América do Sul,
visto que a França participa, desde a fundação, da União Europeia.
A sucessão estatal
A sucessão entre Estados implica a troca de titularidade sobre determinado território e normalmente decorre
das seguintes situações:
Aquisição de novo território, que não pertencia a Estado algum.
Cessão entre Estados.
Dissolução estatal, com a criação de duas ou mais personalidades jurídicas.
Fusão entre Estados, com a junção dos respectivos territórios.
Transferência parcial de um território para a criação de novo Estado.
A aquisição de territórios sem titularidade anterior (res nullius) foi bastante comum no passado,
especialmente na época do descobrimento e das grandes navegações, iniciada no �nal do século XV.
A cessão entre Estados normalmente ocorre por meio de tratados, como resultado dos acordos de paz
celebrados no término de grandes con�itos. Nesse caso, há a transferência da soberania e a aplicação do
princípio da continuidade na esfera internacional.
O princípio da continuidade determina a manutenção do status jurídico anterior, com o respeito aos termos
já pactuados em tratado, como na discussão entre Noruega e Dinamarca acerca do território da Groelândia
Oriental, no qual se reconheceu a soberania dinamarquesa, a partir de acordos prévios celebrados entre os
dois Estados.
Os casos de sucessão por fusão ou dissolução de Estados seguem a mesma premissa, inclusive com a
necessidade de transferência de bens, documentos públicos e obrigações econômicas ao Estado sucessor.
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VIDEOAULA
Nesta videoaula, vamos tratar das possibilidades de reconhecimento de Estados e de governos na ordem
internacional, a partir de exemplos atuais, como os casos de Taiwan e da Palestina. Também abordaremos
diversas situações relativas à administração política dos Estados, como o fenômeno federativo, a questão dos
microestados e a situação peculiar da Santa Sé, temas bastante interessantes e de ordem prática. Bons
estudos!
 Saiba mais
Para saber mais sobre a sucessão de Estados, vide:
ACCIOLY, Hildebrando; CASELLA, Paulo B.; SILVA, Geraldo E. do N. Manual de Direito Internacional
Público. São Paulo: Editora Saraiva, 2021. E-book. ISBN 9786555594836. Disponível em: Minha Biblioteca.
Acesso em: 4 out. 2022.
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
A preocupação com o tema da nacionalidade decorre do princípio fundamental de que todo indivíduo tem
direito a uma pátria, que lhe dê guarida e o reconheça como titular de direitos e obrigações.
O artigo 15 da Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece, expressamente, que “todo homem
tem direito a uma nacionalidade” e que “ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do
direito de mudar de nacionalidade”. Ressalte-se que o conceito de nacionalidade também se estende a
pessoas jurídicas e bens.
Aula 3
O ELEMENTO HUMANO: NACIONALIDADE
O artigo 15 da Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece, expressamente, que “todo
homem tem direito a uma nacionalidade” e que “ninguém será arbitrariamente privado de sua
nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”.
31 minutos
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Para as pessoas jurídicas, há três critérios básicos para a determinação da nacionalidade:
Local da sede ou atividade.
Local do registro da entidade.
Situação das pessoas que exercem o controle da sociedade.
Cada Estado pode, a partir de regras próprias, de�nir os critérios para o reconhecimento da nacionalidade,
embora seja comum considerar-se o local de registro da empresa (constituição da sociedade) como fator
preponderante. A nacionalidade também alcança os navios e aeronaves, especialmente aqueles destinados ao
comércio internacional.
Bons estudos!
BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS
No Brasil, o tema da nacionalidade é veiculado pelo artigo 12 da Constituição, que distingue os brasileiros
natos (nacionalidade originária) dos naturalizados (nacionalidade derivada). Nos termos da Carta Magna, são
considerados brasileiros natos (artigo 12, I, CR):
Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país.
Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço
da República Federativa do Brasil.
Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em
qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Nas hipóteses acima, a aquisição da nacionalidade é automática e, quando necessário, o registro da criança
deverá ser feito na embaixada ou consulado brasileiro no território do Estado em que os pais residem.
A Constituição prevê a possibilidade de que indivíduos nascidos no exterior possam con�rmar, a qualquer
tempo após atingirem a maioridade,o status de brasileiros natos, desde que venham a residir no país e
exerçam tal opção. O rito exige processo especí�co, de caráter homologatório e não contencioso, de
competência da justiça federal.
Isso signi�ca que a convalidação tem efeitos retroativos, vale dizer, o indivíduo será considerado como
brasileiro desde sempre, de modo que não poderá sequer ser extraditado em função de crimes cometidos no
exterior, ainda que antes da opção pelo vínculo com o Brasil.
Não são consideradas brasileiras as crianças nascidas aqui quando os pais estiverem a serviço o�cial do país
de origem. Neste caso, pouco importa se é o pai ou a mãe quem está a serviço, bastando apenas que um
deles preencha o requisito, desde que o outro também seja estrangeiro.
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Trata-se de exceção ao princípio jus solis que vigora no ordenamento nacional. Convém lembrar que um dos
pais deve estar a serviço do seu país de nacionalidade, e não a serviço de outros Estados estrangeiros, pois,
nesse caso, a criança manteria a nacionalidade brasileira.
Também são brasileiros os nascidos no exterior de pais brasileiros (qualquer um dos dois), quando a serviço
do país, independente do cargo ou função o�cial. O conceito é amplo e alcança as prestações a qualquer dos
três poderes, bem como a autarquias e fundações públicas, de todos os níveis de governo (federal, estadual,
municipal ou distrital) e, ainda, quando a prestação ocorrer em organizações internacionais de que o Brasil
faça parte.
A ocorrência de algumas situações peculiares, embora raras, não impede o reconhecimento da nacionalidade
brasileira, como nas seguintes hipóteses:
Indivíduos nascidos em navios ou aeronaves civis dentro do território brasileiro (incluindo os conceitos de
espaço aéreo e mar territorial).
Indivíduos nascidos em navios e aeronaves militares ou a serviço do Estado brasileiro, em qualquer lugar
do planeta – neste caso, o registro provisório será feito pelo comandante e os pais deverão promover o
registro de�nitivo no primeiro local de desembarque onde houver repartição consular brasileira.
Indivíduos nascidos em território neutro, como as águas internacionais e a Antártica, deverão ter o
registro efetuado pelos pais brasileiros no primeiro porto de desembarque em que houver atividade
notarial nacional.
Por outro lado, a Constituição também de�ne os critérios para que estrangeiros adquiram, mediante
naturalização, a nacionalidade brasileira derivada, desde que cumpridos os seguintes requisitos (artigo 12, II,
CR) :
Os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral.
Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de
quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
REQUISITOS PARA A NATURALIZAÇÃO
O indivíduo que pretender se naturalizar brasileiro deverá preencher os requisitos previstos na Lei de
Migração (Lei n. 13.445/2017). De acordo com a legislação em vigor, existem quatro modalidades de
naturalização: ordinária, extraordinária, especial e provisória.
O sistema jurídico nacional considera o domínio da língua portuguesa como aspecto fundamental para a
concessão da naturalização, o que abarca duas dessas modalidades, com prazo de aquisição distintos: a
comum e a extraordinária.
Nos termos do artigo 65 da Lei de Migração, a naturalização será concedida àquele que preencher os
seguintes requisitos:
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Ter capacidade civil, segundo a lei brasileira.
Ter residência em território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos.
Comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando.
Não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
O prazo de residência de quatro anos, acima previsto, será reduzido para um ano se o naturalizando
preencher quaisquer das seguintes condições (artigo 66 da Lei n. 13.445/2017):
Ter �lho brasileiro.
Ter cônjuge ou companheiro brasileiro e não estar dele separado legalmente ou de fato no momento de
concessão da naturalização.
Haver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil.
Ou recomendar-se por sua capacidade pro�ssional, cientí�ca ou artística.
A naturalização extraordinária decorre da própria Constituição e, como vimos, pode ser concedida ao
estrangeiro de resida no país há mais de quinze anos e não possua condenação penal.
Trata-se de situação curiosamente frequente, pois os critérios de aquisição da nacionalidade são objetivos
(prazo de residência e ausência de condenação penal, o que torna o ato administrativo de concessão
vinculado) e dispensa, portanto, a comprovação do domínio da língua portuguesa, que será presumido, em
razão do longo tempo de permanência no país.
A outra hipótese de naturalização prevista na Constituição bene�cia os indivíduos originários de países de
língua portuguesa, com critérios bem mais simples: um ano de residência legal no Brasil e idoneidade moral
(conceito juridicamente vago, cuja análise �cará a cargo das autoridades competentes, quando do pedido).
A Lei de Migração prevê, ainda, a naturalização especial, para o estrangeiro que se encontre em duas
situações: (i) seja cônjuge ou companheiro, há mais de cinco anos, de integrante do serviço exterior brasileiro
em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior ou (ii) seja ou tenha sido empregado em
missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de dez anos ininterruptos.
Nesses casos, o indivíduo deve:
Ter capacidade civil, segundo a lei brasileira.
Comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando.
Não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos da lei.
Por �m, a naturalização provisória poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha �xado
residência em território nacional antes de completar dez anos de idade e deverá ser requerida por
intermédio de seu representante legal.
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O ato de concessão da naturalização será publicado no Diário O�cial da União e o respectivo certi�cado será
entregue ao interessado pelo juiz federal da sua cidade de domicílio. A naturalização normalmente produz
efeitos após a entrega do certi�cado e confere ao naturalizado o gozo de todos os direitos civis e políticos,
salvo os privativos de brasileiros natos.
Os direitos inerentes à naturalização não são automaticamente extensíveis ao cônjuge ou �lhos do
naturalizado, que deverão igualmente preencher todos os requisitos para a concessão.
A veri�cação, a qualquer tempo, de falsidade ideológica ou material constante das informações ensejará a
declaração de nulidade da naturalização, mediante ato administrativo do Poder Executivo, sem prejuízo da
ação penal porventura cabível.
DIREITOS DOS BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS
Em regra, o rol de direitos entre brasileiros natos e nacionalizados é semelhante, com algumas exceções
pontuais, constitucionalmente previstas e destinadas a evitar que os naturalizados (estrangeiros de origem)
ocupem cargos ou desempenhem funções estratégicas no país. A Constituição a�rma, no artigo 12, §2º: “A lei
não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta
Constituição”.
As restrições, segundo Varella, podem ser divididas em quatro categorias (VARELLA, 2019, p. 167):
Impossibilidade de ocupar determinados cargos ou ingressar em certas carreiras.
Impossibilidade de exercer determinadas funções ou carreiras de Estado.
Possibilidade de ser extraditado por crimes comuns.
Restrições da liberdade de exercício da pro�ssão de jornalismo e radiodifusão(A Constituição a�rma, no
artigo 222: “A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é
privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sede no País”).
A Constituição considera privativos de brasileiros natos os seguintes cargos (artigo 12, §3º, CR):
De Presidente e Vice-Presidente da República.
De Presidente da Câmara dos Deputados.
De Presidente do Senado Federal.
De Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Da carreira diplomática.
De o�cial das Forças Armadas.
De Ministro de Estado da Defesa.
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O que a Constituição busca afastar é a possibilidade de que um estrangeiro de origem possa se tornar
Presidente da República (daí a vedação para toda a cadeia sucessória do cargo mais importante do país),
bem como exercer atividades em nome do Estado brasileiro.
Por outro lado, nada impede que os indivíduos naturalizados ocupem cargos públicos, nos diversos níveis da
administração, mediante ingresso por concurso público ou nomeação para cargos em comissão.
No mesmo sentido, podemos destacar que um indivíduo naturalizado poderá ser eleito deputado, vereador
ou senador da República.
Importante: na hipótese de alguém ter dupla nacionalidade originária (brasileira e italiana, por exemplo) isso
não o impediria de ocupar qualquer cargo da República, inclusive o de Presidente.
Conquanto os brasileiros natos não possam ser extraditados em qualquer hipótese, os indivíduos
naturalizados poderão ser extraditados quando da prática de crimes comuns, perpetrados antes da
naturalização.
Hipóteses legítimas de dupla nacionalidade
A Constituição admite a ocorrência simultânea de dupla nacionalidade em duas situações:
Reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira.
Imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.
O primeiro caso é bastante frequente, especialmente em razão dos descendentes de italianos e portugueses
que almejam a cidadania europeia.
A segunda hipótese de dupla cidadania legítima alcança os brasileiros que obrigatoriamente precisam adquirir
a nacionalidade estrangeira, a �m de exercer direitos no país em que residem.
Estatuto da igualdade entre portugueses e brasileiros
O estatuto da igualdade está atualmente previsto no Tratado de Amizade, celebrado entre Brasil e Portugal
em 2000, quando das comemorações dos 500 anos do descobrimento do país. O Tratado tem esteio
constitucional, conforme se pode depreender da dicção do artigo 12, §1º, da Carta Política: “Aos portugueses
com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição”.
Existem duas previsões de igualdade: uma para direitos e obrigações civis e outra mais ampla, capaz de
alcançar os direitos políticos e a possibilidade de ingressar, mediante concurso, em cargos públicos.
Em ambos os casos, o interessado deve requerer o benefício ao Ministro da Justiça, que decidirá,
individualmente, mediante portaria. Para a concessão da igualdade civil, basta a comprovação da
nacionalidade e da capacidade civil, aliadas à residência no Brasil.
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Já para a modalidade que estabelece igualdade de direitos políticos, o interessado deverá comprovar o gozo
dos direitos políticos em Portugal e a condição de residente no Brasil por pelo menos três anos.
O estatuto da igualdade não confere ao português bene�ciado o mesmo status de brasileiro naturalizado,
sendo possível tanto a expulsão do nosso território como a extradição, caso haja solicitação de Portugal. Igual
raciocínio se aplica aos brasileiros bene�ciados pelo estatuto, quando residentes em Portugal.
VIDEOAULA
Nesta videoaula, vamos tratar da nacionalidade, que é o vínculo político entre o Estado e o indivíduo. Trata-se
de um direito fundamental que objetiva a proteção de pessoas no âmbito internacional. Vamos conhecer a
diferença entre brasileiros natos e naturalizados, assim como as formas de aquisição da nacionalidade, a
partir de vários exemplos práticos. Bons estudos!
 Saiba mais
Para conhecer as possibilidades de perda da nacionalidade brasileira, vide a obra de Marcelo Varella,
disponível em: Minha Biblioteca.
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Todos os indivíduos que não possuem nacionalidade brasileira têm o direito de ingressar no país em tempos
de paz, mediante autorização administrativa. O controle sobre a entrada de estrangeiros deve ser realizado
nos aeroportos, portos e pontos de fronteira e está a cargo das autoridades competentes (Ministérios da
Aula 4
TRATAMENTO JURÍDICO DOS ESTRANGEIROS
Todos os indivíduos que não possuem nacionalidade brasileira têm o direito de ingressar no país em
tempos de paz, mediante autorização administrativa. O controle sobre a entrada de estrangeiros deve
ser realizado nos aeroportos, portos e pontos de fronteira e está a cargo das autoridades competentes
(Ministérios da Justiça, Economia e Saúde).
27 minutos
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Justiça, Economia e Saúde).
Conforme o interesse e o tempo de permanência no Brasil, os estrangeiros precisam de visto especí�co, como
condição de entrada no território nacional. O estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos
reconhecidos aos brasileiros, nos termos da legislação.
Ressalte-se que o estrangeiro possui ampla variedade de direitos civis, inclusive os relativos ao exercício de
trabalho remunerado. A exceção diz respeito aos direitos políticos, pois o estrangeiro não pode votar nem ser
votado, em razão da ausência do vínculo de nacionalidade.
Entretanto, em algumas situações, o estrangeiro poderá ser retirado compulsoriamente do nosso território,
como veremos nesta aula.
Bons estudos!
CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO
Com a edição da nova Lei de Migração (Lei n. 13.445/2017) houve um enorme avanço no tratamento dos
estrangeiros no Brasil, com o reconhecimento de diversos direitos e garantias fundamentais.
A legislação versa sobre as diversas possibilidades de um estrangeiro ingressar no país, seja como visitante
(quando a estadia é de curta duração) ou na condição de imigrante (com o objetivo de se estabelecer no
nosso território).
Cuida-se, ainda, de situações excepcionais, como o caso dos apátridas (pessoas que não são reconhecidas
como nacionais por nenhum Estado) e dos residentes fronteiriços, que se locomovem para dentro e fora do
país com frequência, por residirem em áreas próximas de países vizinhos.
Para ingressar no Brasil, o estrangeiro precisa solicitar, quando necessário, o visto correspondente, de acordo
com o motivo da viagem e o tempo de permanência no país.
Nos termos da legislação em vigor (artigos 12 e seguintes da Lei n. 13.445/2017), as modalidades de visto
são:
De visita – destinado a estrangeiros que �carão no Brasil por curto período, sem intenção de estabelecer
residência, como nos casos de turismo, negócio, trânsito para outros países ou atividades artísticas e
desportivas. Convém lembrar que o visto de visita pode não ser necessário em função de tratados
internacionais (a exemplo do Mercosul, em que é possível viajar entre os países do bloco somente com o
documento de identidade) ou de regiões especí�cas, como para os residentes na União Europeia.
Temporário – para imigrantes que venham ao Brasilcom o intuito de residir por tempo determinado, em
razão de atividades como pesquisa, ensino ou extensão acadêmica, tratamento de saúde, acolhida
humanitária, estudo e trabalho, entre outras.
Diplomático – concedido a autoridades e funcionários estrangeiros que venham ao Brasil em missão
o�cial de caráter transitório ou permanente, como representantes de Estados ou organizações
internacionais.
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O�cial – semelhante ao visto diplomático, normalmente é concedido para autoridades em visita o�cial ao
país, de curta duração.
De cortesia – pode ser concedido a autoridades e personalidades estrangeiras em visita não o�cial, aos
empregados particulares de bene�ciários de visto diplomático ou o�cial, a artistas e desportistas que
venham ao país para eventos gratuitos, sem o recebimento de remuneração, entre outras hipóteses.
Também é possível a concessão de visto ou autorização de residência no país para �ns de reunião familiar,
em favor do imigrante (artigo 37 da Lei n. 13.445/2017):
Cônjuge ou companheiro, sem discriminação alguma.
Filho de imigrante bene�ciário de autorização de residência, ou que tenha �lho brasileiro ou imigrante
bene�ciário de autorização de residência.
Ascendente, descendente até o segundo grau ou irmão de brasileiro ou de imigrante bene�ciário de
autorização de residência.
Ou que tenha brasileiro sob sua tutela ou guarda.
Por outro lado, a legislação estabelece situações em que o visto não será concedido (artigo 10 da Lei n.
13.445/2017):
Pessoas que não preencham os requisitos para o tipo de visto pleiteado.
Pessoas que ocultam situação impeditiva de concessão do visto ou de ingresso no Brasil.
Menores de 18 anos desacompanhados ou sem autorização de viagem �rmada pelos pais ou
responsáveis legais.
Do mesmo modo que de�ne os requisitos e procedimentos para o ingresso de estrangeiros no Brasil, a
legislação migratória prevê medidas de retirada compulsória, como a repatriação, a deportação e a
expulsão, além da extradição, que, atualmente, é entendida como uma medida de cooperação entre estados
soberanos. Essas �guras serão estudadas, em detalhes, nos próximos blocos.
REPATRIAÇÃO, EXPULSÃO E DEPORTAÇÃO
A Lei de Migração prevê três medidas de retirada compulsória de estrangeiros do território brasileiro, a saber:
repatriação, deportação e expulsão.
A repatriação (conforme artigo 49 da Lei n. 13.445/2017) consiste em medida administrativa de devolução de
pessoa em situação de impedimento ao país de procedência ou de nacionalidade. Neste caso, será feita
imediata comunicação do ato à empresa transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou
de nacionalidade do viajante.
A deportação corresponde a retirar do território nacional o estrangeiro toda vez que as autoridades
detectarem que a sua entrada ou permanência aconteceu de forma irregular.
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Os procedimentos de deportação são muito comuns nos principais aeroportos do país e são instaurados pela
Polícia Federal, que tem competência para analisar a regularidade migratória dos viajantes quando de sua
entrada no território brasileiro.
Atualmente, a deportação submete-se aos princípios do contraditório, da ampla defesa e prevê a garantia de
apresentação de recurso com efeito suspensivo.
O ato que inaugura o procedimento de deportação deverá conter o motivo que o ensejou e ser pessoalmente
noti�cado ao deportando, além de comunicado, preferencialmente por meio eletrônico:
À repartição consular do país de origem do imigrante.
Ao defensor constituído do deportando, quando houver, para apresentação de defesa técnica no prazo
de dez dias.
À Defensoria Pública da União, na ausência de defensor constituído, para apresentação de defesa técnica
no prazo de vinte dias.
Caso necessária, a assistência jurídica do deportando poderá solicitar a presença de um tradutor ou
intérprete.
É importante ressaltar que a deportação não pode ser utilizada como medida para viabilizar extradição não
permitida pela legislação brasileira, seja pela incompatibilidade dos institutos, seja em razão da necessidade
de proteção aos direitos fundamentais do estrangeiro.
Por �m, a expulsão também consiste em medida administrativa de retirada compulsória do território
nacional, só que conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado, sempre que o visitante
ou imigrante tiver sido condenado, em processo judicial transitado, por crimes considerados graves, conforme
artigo 192 do Decreto n. 9.199/2017 (que regulamenta a Lei de Migração):
Crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as
possibilidades de ressocialização no território nacional.
Nos termos de�nidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, os crimes de genocídio, os
crimes contra a humanidade, os crimes de guerra ou de agressão.
O Ministério da Justiça não procederá à expulsão de estrangeiros quando (artigo 193 do Decreto n.
9.199/2017):
A medida con�gurar extradição não admitida pela lei brasileira.
O expulsando:
a. Tiver �lho brasileiro que esteja sob a sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver
pessoa brasileira sob a sua tutela.
b. Tiver cônjuge ou companheiro residente no País, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou
legalmente.
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c. Tiver ingressado no País antes de completar os doze anos de idade, desde que resida, desde então,
no País.
d. Ou seja pessoa com mais de setenta anos que resida no País há mais de dez anos, considerados a
gravidade e o fundamento da expulsão.
Iniciado o processo de expulsão, o expulsando será noti�cado da sua instauração, além da data e do horário
�xados para o seu interrogatório. O expulsando que, regularmente noti�cado, não se apresentar ao
interrogatório será considerado revel e a sua defesa caberá à Defensoria Pública da União ou, em sua
ausência, a defensor dativo (artigos 197 e 199 do Decreto n. 9.199/2017).
O relatório �nal com a recomendação técnica pela efetivação da expulsão ou pelo reconhecimento de causa
de impedimento da medida de retirada compulsória será encaminhado para apreciação e deliberação do
Ministro da Justiça; da decisão do Ministro cabe pedido de reconsideração, no prazo de dez dias, contado da
noti�cação pessoal.
DA EXTRADIÇÃO COMO MEDIDA DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
A partir de 2017, com a edição da Lei de Migração, a extradição passou a ser considerada como medida de
cooperação entre Estados soberanos, por meio da qual um país solicita ou concede a entrega de pessoa
sobre a qual recaia condenação penal de�nitiva ou, ainda, nos casos em que a medida seja necessária para a
instrução de processo penal em andamento.
Como já tivemos a oportunidade de destacar (CAPARROZ, 2021, p. 232), embora seja uma medida de
cooperação internacional, que tem por objetivo garantir a própria efetivação da justiça, com a punição aos
criminosos, os casos concretos revelam, sobretudo, a necessidade de cotejo entre dois sistemas jurídicos: o
do direito interno do país requerido (no qual se encontra o extraditando) e o direito penal do país requerente,
que pretende ver satisfeita a pena imposta ao infrator.
Assim, o resultado do pedido de extradição, que decorre de uma relação executiva entre Estados soberanos,
baseada na solidariedade e assistência mútuas, está a cargo, no Brasil, do Supremo Tribunal Federal (CR,
artigo 102, inciso I, “g”).
Atualmente, são requisitos para a concessão da extradição pelo Brasil:
Ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis
penais desse Estado.
E estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido condenado
pelas autoridades judiciárias do Estado requerentea pena privativa de liberdade.
Por outro lado, a Lei de Migração estabelece que a extradição não será concedida quando (artigo 82 da Lei n.
13.445/2017):
O indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato.
O fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente.
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O Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando.
A lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos.
O extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo
mesmo fato em que se fundar o pedido.
A punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente.
O fato constituir crime político ou de opinião.
O extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de exceção.
Ou o extraditando for bene�ciário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, ou de
asilo territorial.
Veri�ca-se, portanto, que é possível a extradição de brasileiro naturalizado, nas hipóteses previstas na
Constituição.
Os pedidos de extradição que o Brasil receber de Estados estrangeiros devem ser encaminhados ao órgão
competente do Poder Executivo e, após a análise dos requisitos formais de admissibilidade, seguirão para o
Supremo Tribunal Federal, que possui competência originária para se manifestar sobre sua legalidade e
procedência.
O STF pode negar a extradição, quando detectar as situações previstas em lei (e já mencionadas), além de
condicionar a entrega do extraditando ao país requerente à assunção dos seguintes compromissos (artigo
96 da Lei n. 13.445/2017):
Não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição.
Computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição.
Comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, respeitado o limite
máximo de cumprimento de trinta anos.
Não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame.
Não considerar qualquer motivo político para agravar a pena.
E não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes.
VIDEOAULA
Nesta videoaula, vamos abordar o tratamento jurídico dispensado aos estrangeiros a partir da edição da nova
Lei de Migração. Veremos, ainda, os casos de retirada compulsória do território brasileiro – entre os quais o
mais comum é a deportação – e as principais características da extradição, que hoje é entendida como uma
medida de cooperação entre os Estados soberanos.
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 Saiba mais
Para saber mais sobre a condição jurídica do estrangeiro vide a obra de Accioly, disponível em: Minha
Biblioteca. 
Videoaula
Para visualizar o objeto, acesse seu material digital.
NACIONALIDADE E TRATAMENTO JURÍDICO DOS ESTRANGEIROS
Olá, estudante! Vimos que a nacionalidade é o vínculo político – com consequências jurídicas importantes –
entre cada indivíduo e um Estado soberano.
Compete à constituição de cada país de�nir os critérios para a nacionalidade; no Brasil, o artigo 12 da Carta
Magna prevê o reconhecimento de brasileiros natos e naturalizados (cada categoria possui um conjunto de
direitos especí�cos), desde que atendidos os requisitos legais.
No mesmo sentido – e em linha com os anseios relacionados à proteção dos direitos humanos – foi editada,
em 2017, a nova Lei de Migração, que substituiu, com ênfase na de�nição de garantias fundamentais, o
anterior Estatuto do Estrangeiro, que datava de 1980.
Dessa forma, a legislação atual regula a entrada de estrangeiros no país, com a emissão de vistos, conforme
os objetivos do viajante ou imigrante, bem assim os procedimentos de registro relacionados à sua eventual
permanência no nosso território.
Houve avanço signi�cativo no tratamento dispensado aos apátridas (indivíduos que não possuem vínculo
estatal) e aos asilados (pessoas que normalmente buscam proteção por força de perseguições de ordem
política).
Também merece destaque a evolução conceitual das chamadas medidas de retirada compulsória, que
permitem a devolução, ao exterior, de indivíduos em situação irregular ou, ainda, quando julgados culpados
por crimes de grande envergadura, como aqueles previstos pelo Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal
Internacional.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
16 minutos
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A Lei de Migração prevê três medidas dessa natureza, a saber: repatriação (conceito que não estava claro na
legislação anterior e que se confunde com a proibição de entrada no território brasileiro), a deportação
(procedimento destinado a estrangeiros em situação irregular, mas sem qualquer relação com a prática de
ilícitos penais) e a expulsão, que anteriormente tinha diversas hipóteses legais, que foram reduzidas, no atual
modelo, à prática de crimes de maior impacto lesivo.
Por �m, não podemos nos esquecer da extradição, que hoje representa uma medida de cooperação entre
países com o objetivo de fortalecer a execução de normas penais contra pessoas que se encontrem fora dos
respectivos territórios de jurisdição.
A extradição é um tema de grande relevância prática para o direito internacional no Brasil, pois a imensa
maioria dos julgamentos do Supremo Tribunal Federal a respeito da nossa matéria trata de questões relativas
a pedidos de extradição formulados por outros países.
O STF possui uma visão bastante moderna quanto à interpretação dos casos de extradição, com foco na
proteção dos direitos fundamentais do extraditando. Há diversos casos de negativa da medida, sempre que
o Tribunal detecta o risco de aplicação, no exterior, de penas extremamente gravosas ou que coloquem em
risco a vida do acusado.
REVISÃO DA UNIDADE
Nesta videoaula, vamos relembrar conceitos relativos ao reconhecimento da nacionalidade, nos termos
previstos pela legislação. Vamos também tratar, com ênfase em exemplos práticos, das três medidas
administrativas de retirada compulsória de estrangeiros do nosso país. Por �m, encerramos abordando o
tema da extradição, que certamente é o assunto mais debatido do direito internacional no Supremo Tribunal
Federal. Bons estudos!
ESTUDO DE CASO
Como vimos nas nossas aulas, um dos temas mais importantes do Direito Internacional, no que se refere ao
tratamento concedido aos indivíduos, é a possibilidade de extradição. Atualmente, a extradição é uma medida
de cooperação entre países, com o objetivo de permitir um mútuo auxílio no cumprimento de decisões na
esfera penal.
Você certamente já viu em diversos �lmes e séries na televisão que eventuais criminosos, com receio de
serem presos em seus países de origem (ou nos quais cometeram crimes), muitas vezes fogem para outros
locais, tentando di�cultar a aplicação das sanções penais cabíveis, notadamente as hipóteses de prisão.
Na prática, o Supremo Tribunal Federal aprecia diversos pedidos de extradição, formulados por países amigos
que buscam, com a medida, alcançar pessoas que se encontram no nosso território.
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Ocorre que, nesses julgamentos, o Supremo Tribunal Federal analisa a possibilidade de extradição à luz dos
direitos humanos; vale dizer, há casos importantes em que a medida foi negada porque o tribunal considerou
que os extraditandosestariam sujeitos a penas bastante gravosas no país solicitante e, portanto,
incompatíveis com os preceitos que norteiam a legislação brasileira.
Vamos, então, imaginar que você foi contratado por um estrangeiro que está sujeito à extradição, que será
julgada em breve pelo Supremo Tribunal Federal.
No caso em questão, o indivíduo é acusado, no exterior, de crime de natureza �nanceira, que no Brasil seria
apenado, por exemplo, com reclusão entre 2 a 6 anos, e multa. Ocorre que, no país solicitante, a pena para tal
tipo de ilícito é extremamente grave, podendo chegar, inclusive, à pena de morte, que já foi aplicada,
recentemente, em situações análogas à do seu cliente.
Portanto, você, como defensor do extraditando, deverá apresentar fundamentos para evitar a extradição, com
base na legislação brasileira, nos acordos internacionais de que o Brasil é signatário e, sobretudo, na própria
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca do tema.
Como sugestão, recomendamos que você estude a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal nos casos
de extradição EXT 1426 e 1428, que tratam de situação semelhante àquela que você precisará defender.
 Re�ita
Com base no caso hipotético que foi apresentado, você deverá elaborar um parecer em favor da não
extradição do seu cliente, enfrentando, especi�camente, os tópicos a seguir.
a)    Em que situações o Supremo Tribunal Federal tem negado a extradição, apesar do pedido formulado
pelo país estrangeiro?
b)    Transcreva os principais fundamentos utilizados pelo Supremo Tribunal Federal para negar a
extradição em casos análogos ao que você está defendendo.
c)    Quais tratados internacionais, assinados pelo Brasil, garantem a proteção aos direitos humanos e
poderiam servir de base para os seus argumentos de defesa?
d)    A eventual negativa de extradição, pelo Brasil, implica impunidade para os acusados ou condenados
no exterior?
e)    Quais são os compromissos que o país solicitante deve assumir, em relação ao extraditando, nos
termos da nossa legislação?
RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO
Vamos agora elucidar nossos questionamentos:
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a)    O Supremo Tribunal Federal analisa os pedidos de extradição a partir de uma ótica humanitária, de modo
que a jurisprudência construída ao longo dos anos indica que a negativa do pleito normalmente decorre
quando há risco concreto de aplicação, pelo país requerente, de penas como prisão perpétua ou de morte,
que são vedadas pela Constituição brasileira.
b)    A partir de precedentes �rmados na EXT 663, de 1996, o STF tem reiterado os seguintes fundamentos
para a negativa de pedidos de extradição em casos semelhantes ao do nosso exercício:
• A possibilidade concreta de imposição da pena de prisão perpétua ou de morte, em �agrante contrariedade
às proibições previstas na Constituição da República quanto a essas espécies de pena.
• A ausência de garantias quanto à possibilidade de �scalização e monitoramento da comutação da pena por
parte do Estado brasileiro.
• A imposição de pena de morte em caso semelhante, relativo à sogra do extraditando, conforme
demonstrado nos autos.
• O artigo 3, item 1., i, do Tratado de Extradição �rmado entre as partes, que impede a entrega quando a pena
que possa ser imposta pela parte requerente à pessoa reclamada con�ite com os princípios fundamentais do
direito da parte requerida.
c)    Existem diversos acordos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, que podem subsidiar a linha de
defesa no caso em análise, a saber (CAPARROZ, 2021, p. 235):
• O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966) – artigos 2, 6, 7, 9 e 10.
• A Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (1984) – artigos 3, 6, 8 e 16.
• A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (2000) – artigo 16.
• O Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul (1998) – artigos 13, 16 e 17.
d)    Em regra, não se trata de impunidade, pois aplica-se à hipótese o princípio “aut dedere aut judicare”, ou
seja, o país que não conceder a extradição deverá processar e julgar o acusado (CAPARROZ, 2021, p. 237). Esse
entendimento encontra previsão no artigo 7º do Código Penal Brasileiro e em diversos tratados internacionais,
como o Acordo de Extradição entre os Estados Partes do Mercosul (Decreto n. 4.975/2004, artigo 11), a
Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC, artigo 42.3), a Convenção das Nações Unidas
contra o Narcotrá�co (Convenção de Viena - Decreto n. 154/1991) a Convenção Internacional para Supressão
do Financiamento do Terrorismo (Decreto n. 5.640/2005, artigo 10).
e)    Nos termos do artigo 96 da Lei de Migração, o país solicitante deve assumir os seguintes compromissos:
I – Não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição.
II – Computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição.
III – Comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de liberdade, respeitado o limite
máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos.
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IV – Não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame.
V – Não considerar qualquer motivo político para agravar a pena.
VI – E não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes.
RESUMO VISUAL
Estado: Território, Elemento Humano e Soberania
Território
• É o área geográ�ca sobre a qual o Estado exerce jurisdição (conjunto de
competências para agir com autoridade).
• No Brasil, o território é formado pela áreo terrestre, o mar territorial e o
espaço aéreo.
Brasileiros natos
São brasileiros natos (artigo 12, CR):
• Os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
• Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
• Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde
que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a
residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira.
Naturalização
Nacionalidade derivada (artigo 12, CR):
• Os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano
ininterrupto e idoneidade moral;
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• Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem
condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileiro.
Medidas de Retirada Compulsória
• Repatriação: devolução de pessoa em situação de impedimento ao país
de procedência ou de nacionalidade.
• Deportação: procedimento administrativo que consiste na retirada
compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular
em território nacional.
• Expulsão: retirada compulsória de migrante ou visitante do território
nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo
determinado.
• Extradição: medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro
e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrego de pessoa sobre
quem recaia condenação criminal de�nitiva ou para �ns de instrução de
processo penal em curso.
Aula 1
ACCIOLY, Hildebrando; et al. Manual de direito internacional público. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
CAPARROZ, Roberto. Direito internacional público. São Paulo: Saraiva, 2012. Coleção Saberes do Direito,
volume 55.
Aula 2
CASELLA, Paulo B.; SILVA, Geraldo E. do N. Manual de direito internacionalpúblico. São Paulo: Editora
Saraiva, 2021.
DINH, Nguyen Quoc; et al. Direito Internacional Público. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 2003.
REFERÊNCIAS
2 minutos
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https://www.avaeduc.com.br/mod/url/view.php?id=3314386 30/30
Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.
REZEK, F. Matrizes Políticas da Justiça Penal Internacional, in L. N. C. Brant, D. A. Lage, S. S. Cremasco,
Direito Internacional Contemporâneo, Curitiba, Juruá, 2011, pp. 619-628.
Aula 3
VARELLA, Marcelo D. Direito internacional público. São Paulo: Editora Saraiva, 2019.
Aula 4
ACCIOLY, Hildebrando; CASELLA, Paulo B.; SILVA, Geraldo E. do N. Manual de Direito Internacional Público.
São Paulo: Editora Saraiva, 2021. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594836/. Acesso em: 6 out. 2022.
CAPARROZ, Roberto. Extradição e a nova Lei de Migração: Interpretação à luz dos Direitos Humanos. in
Efetivação dos Direitos Sociais por Meio de Intervenção Judicial. Belo Horizonte: Del Rey, 2021.
Aula 5
CAPARROZ, Roberto. Extradição e a nova Lei de Migração: Interpretação à luz dos Direitos Humanos. in
Efetivação dos Direitos Sociais por Meio de Intervenção Judicial. Belo Horizonte: Del Rey, 2021.
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https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786555594836/

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