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1 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 O papel da matriz de competência na formação do enfermeiro generalista e especialista em enfermagem forense The role of the competency matrix in the training of generalist and specialist nurses in forensic nursing El papel de la matriz de competencias en la formación de enfermeros generalistas y especialistas en enfermería forense DOI: 10.55905/revconv.17n.6-171 Originals received: 05/10/2024 Acceptance for publication: 05/31/2024 Jhuliano Silva Ramos de Souza Doutorando em Enfermagem Instituição: Universidade Federal de Alfenas Endereço: Alfenas – Minas Gerais, Brasil E-mail: jhuliano.souza@sou.unifal-mg.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-4338-4433 Alice Silva Costa Doutoranda em Enfermagem Instituição: Universidade Federal de Alfenas Endereço: Alfenas – Minas Gerais, Brasil E-mail: alice.costa@sou.unifal-mg.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7788-3989 Anicheriene Gomes de Oliveira Doutoranda em Enfermagem Instituição: Universidade Federal de Alfenas Endereço: Alfenas – Minas Gerais, Brasil E-mail: anicheriene.oliveira@sou.unifal-mg.edu.br Orcid: ht https://orcid.org/0000-0001-9361-6768 Zélia Marilda Rodrigues Resck Pós-Doutora em Ciências Instituição: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Endereço: Alfenas – Minas Gerais, Brasil E-mail: zelia.resk@unifal-mg.edu.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-3752-8381 2 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 Sueli de Carvalho Vilela Doutora em Ciências Instituição: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Endereço: Alfenas – Minas Gerais, Brasil E-mail: sueli.vilela@unifal-mg.edu.br Orcid: http://orcid.org/0000-0003-3034-3904 RESUMO A Matriz de Competência define as habilidades do Enfermeiro, incluindo a Enfermagem Forense, focada no cuidado de vítimas, familiares e agressores. O estudo visa refletir acerca do papel da Matriz de Competência do Enfermeiro generalista e especialista em Enfermagem Forense. Trata- se de um estudo teórico-reflexivo, com a coleta de dados em abril de 2023, utilizando bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde, Medical Literature and Retrivial Sistem onLine, Scientific Electronic Library Online, Web Of Science, Google Scholar e documentos do Ministério da Educação e do Conselho Federal de Enfermagem. Foram selecionados 16 estudos dos últimos dez anos (2013–2023). Duas categorias emergiram: Matriz de Competência na formação generalista e a do especialista em Enfermagem Forense. Os resultados destacam a urgência de novos estudos, reformulações curriculares e influência na prática profissional. A Matriz se torna essencial para preparar os profissionais a lidar com questões forenses. Palavras-chave: enfermagem forense, educação superior, competência profissional, matriz de competências. ABSTRACT The Competency Matrix defines the Nurse's skills, including Forensic Nursing, focused on the care of victims, family members and aggressors. The study aims to reflect on the role of the Competence Matrix for generalist and specialist nurses in Forensic Nursing. This is a theoretical- reflective study, with data collection in April 2023, using databases from Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences, Medical Literature and Retrivial Sistem onLine, Scientific Electronic Library Online, Web Of Science, Google Scholar and documents from the Ministry of Education and the Federal Nursing Council. 16 studies from the last ten years (2013– 2023) were selected. Two categories emerged: Competence Matrix in generalist training and that of the specialist in Forensic Nursing. The results highlight the urgency of new studies, curricular reformulations and influence on professional practice. The Matrix becomes essential to prepare professionals to deal with forensic issues. Keywords: forensic nursing, education, higher, professional competence, competency matrix. RESUMEN La Matriz de Competencias define las habilidades de la Enfermería, incluyendo la Enfermería Forense, enfocada en la atención de víctimas, familiares y agresores. El estudio tiene como objetivo reflexionar sobre el papel de la Matriz de Competencias del enfermero generalista y especialista en Enfermería Forense. Se trata de un estudio teórico-reflexivo, con recolección de datos en abril de 2023, utilizando bases de datos de Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud, Literatura Médica y Retrivial Sistem onLine, Scientific Electronic Library Online, Web Of Science, Google Scholar y documentos del Ministerio. de Educación y el 3 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 Consejo Federal de Enfermería. Se seleccionaron 16 estudios de los últimos diez años (2013- 2023). Surgieron dos categorías: Matriz de Competencias en la formación generalista y la del especialista en Enfermería Forense. Los resultados resaltan la urgencia de nuevos estudios, reformulaciones curriculares e influencia en la práctica profesional. Matrix se vuelve esencial para preparar a los profesionales para abordar cuestiones forenses. Palabras clave: enfermería forense, educación superior, competencia profesional, matriz de competencias. 1 INTRODUÇÃO O conceito de Matriz de Competências abrange um conjunto de habilidades fundamentais que delineiam o desempenho do Enfermeiro generalista, conforme estabelecido pelas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Enfermagem (DCN/ENF) (Holanda; Marra; Cunha, 2014). Essas diretrizes oferecem uma visão abrangente do desenvolvimento de habilidades e competências nos cursos de graduação em Enfermagem no Brasil (Silva et al., 2021; Brasil, 2001). No contexto da Enfermagem, as competências profissionais implicam o aprimoramento de habilidades individuais e coletivas para resolver questões no ambiente de trabalho, sejam elas de natureza social, psicológica, assistencial ou gerencial (Cioffi; Ribeiro; Ormonde-Junior, 2019). A competência profissional abarca o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes, exigindo não apenas a capacidade de execução, mas também a capacidade de reflexão e ação em ambientes de trabalho produtivos e de qualidade (Bomfim, 2012). O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) apresenta diversas especialidades nas quais os profissionais desenvolvem habilidades e competências específicas, como é o caso da Enfermagem Forense, uma área interligada com a prática forense que presta cuidados a vítimas, perpetradores e familiares em situações de violência (COFEN, 2018; 2017; 2011). Recentemente, o COFEN estabeleceu competências gerais e específicas para a Enfermagem Forense em diversas áreas de atuação, visando melhorar a assistência prestada em situações de violência (COFEN, 2017). As áreas de atuação são desde o sistema psiquiátrico e carcerário; violência sexual; assistência técnica e consultoria; post mortem; desastres de massa, missões humanitárias e catastróficas; abuso, trauma e outras formas de violência por ciclo vital (COFEN, 2022; 2017). 4 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 A presença de Enfermeiros especialistas nessa área pode contribuir significativamente para a coleta e preservação de vestígios forenses, auxiliando no processo judicial e em outras responsabilidades (Tetzlaff, 2020). No entanto, existem lacunas nas competências específicas para o atendimento de pessoas em situação de violência, e a falta de pesquisas científicas detalhadas sobre as competências necessárias para atuar nesse contexto é evidente(Souza et al., 2020; Lima et al., 2019). Portanto, é fundamental refletir sobre como a Matriz de Competência em Enfermagem Forense pode beneficiar tanto a formação do Enfermeiro generalista quanto do especialista (Souza et al., 2020; Leal et al., 2020). Este estudo busca fornecer insights valiosos para a formação e atuação dos profissionais de Enfermagem em cuidados forenses, destacando a relevância da implementação de estratégias educacionais adequadas para promover o desenvolvimento dessas competências essenciais (Belarmino; Renovato, 2020; Souza et al., 2020). Diante de tais reflexões, elucida-se como questão de estudo: como a Matriz de Competência em Enfermagem Forense pode contribuir para a formação do profissional generalista e especialista? Objetiva-se, portanto, refletir acerca do papel da Matriz de Competência na formação do Enfermeiro generalista e especialista em Enfermagem Forense. 2 METODOLOGIA Trata-se de um estudo reflexivo a partir de uma abordagem de revisão narrativa sobre o papel da Matriz de Competência em Enfermagem Forense na formação do Enfermeiro generalista e especialista na área forense. A coleta de dados ocorreu em abril de 2023, por meio das bases/portais de dados eletrônicas da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e do portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES): Pesquisaram-se os estudos por meio das bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature and Retrivial Sistem onLine (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Web Of Science (WOS), Google Scholar, legislações vigentes do Ministério da Educação a respeito do curso de Enfermagem e do Conselho Federal de Enfermagem sobre a especialidade de Enfermagem. 5 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 Utilizaram-se os Descritores controlados e não controlados em Ciências da Saúde (DeCS), Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine (Mesh) e do WOS por não ter vocabulário próprio: Competência Profissional AND Enfermagem Forense; Matriz de Competência AND Enfermagem Forense; Educação Superior AND Enfermagem Forense; Matriz de Competência AND Efermagem; Professional Competence AND Forensic Nursing; Competence Matrix AND Forensic Nursing; Education, Higher AND Forensic Nursing; Competence Matrix AND Nursing; Competencia Profesional AND Enfermería Forense; Matriz de Competencias AND Enfermería Forense; Educación Superior AND Enfermería Forense; Matriz de competencias AND Enfermería, nos idiomas: inglês, português e espanhol, com recorte temporal dos últimos dez anos (2013–2023). Os critérios de inclusão foram estudos que tratassem da competência profissional do Enfermeiro em relação aos modelos conceituais da área de Enfermagem Forense. Os critérios de exclusão foram estudos que não tratavam sobre a Enfermagem Forense como competência profissional e aqueles em relação a outras áreas do conhecimento sobre competência profissional. Para análise dos estudos incluídos utilizou a análise de conteúdo de Bardin (2010) seguindo as etapas:1) pré-análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação para a elaboração da categorização dos estudos para a discussão reflexiva proposta. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Após uma extensa revisão da literatura científica, foram identificados inicialmente 561 estudos. Após a triagem dos títulos e resumos em três idiomas, foram excluídos 11 estudos duplicados e 537 que não atendiam aos critérios de inclusão, abordando áreas de competência profissional diversas, como medicina, obstetrícia, educação física, psicologia, Enfermagem de centro cirúrgico, administração, urgência e emergência, docência, unidade de terapia intensiva, atenção básica, entre outras. Dos primeiros resultados da revisão da literatura, 17 estudos foram pré-selecionados e analisados na íntegra, incluindo três da LILACS, um da SCIELO, dez do Google Scholar e três documentos oficiais sobre as DCN/ENF (Brasil, 2001), que orientam a formação dos profissionais, apesar de terem sido publicados há mais de 20 anos sem atualizações, além de um 6 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 documento sobre competências técnicas em Enfermagem Forense pela Associação Brasileira de Enfermagem Forense (ABEFORENSE) e outro do COFEN sobre competências gerais e específicas da Enfermagem Forense no Brasil (COFEN, 2017; ABEFORENSE, 2015). Um dos 17 estudos foi excluído por não atender ao objetivo estabelecido, pois estava relacionado à formação acadêmica do Enfermeiro em outras áreas de conhecimento, resultando na seleção de 16 estudos para a análise final. Os estudos analisados forneceram insights significativos para a reflexão, destacando duas categorias principais que serão discutidas a seguir sobre: a) Matriz de Competências na formação do Enfermeiro Generalista e b) Matriz de Competência do Enfermeiro especialista em Enfermagem Forense. 3.1 PAPEL DA MATRIZ DE COMPETÊNCIA NA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO GENERALISTA A formação dos profissionais de Enfermagem de nível universitário é direcionada pelas DCN/ENF, as quais delineiam um perfil generalista para a formação profissional, destacando as competências e habilidades que irão desenvolver ao longo do curso de graduação (Brasil, 2001). As competências profissionais abrangem áreas como atenção à saúde, tomada de decisão, comunicação, liderança, administração, gerenciamento e educação continuada, entre outras (Brasil, 2001). O conceito de competência tem evoluído ao longo do tempo, passando por mudanças conceituais e adaptando-se aos modelos organizacionais, sendo essencial para líderes e gestores nas instituições de trabalho (Correa, 2015). Para uma compreensão mais clara do termo "competência", é fundamental que o profissional possua três elementos essenciais: conhecimento, habilidade e atitude para desempenhar suas funções com excelência (Correa, 2015). As competências delineadas nas DCN/ENF desempenham um papel crucial na formação e prática do Enfermeiro generalista. No entanto, é importante reconhecer e abordar as dificuldades que os futuros profissionais enfrentam no desenvolvimento dessas competências, habilidades e atitudes (Vieira et al., 2016). Os futuros profissionais de Enfermagem, especialmente aqueles em formação generalista, desenvolvem habilidades como liderança, tomada de decisão e trabalho em equipe ao longo do curso de graduação, em conformidade com as exigências das DCN/ENF (Leal et al., 2018). Os 7 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 conteúdos curriculares, habilidades e competências adquiridas na formação devem dotá-los de competência acadêmica e profissional, atendendo às necessidades prevalentes e priorizadas da população, de acordo com a situação epidemiológica do país. Este conjunto de competências deve fomentar a capacidade de desenvolvimento intelectual e profissional autónomo e permanente de estudantes e Enfermeiros no seu processo formativo (Brasil, 2001). Além disso, as competências abrangem atividades como vigilância em saúde individual e coletiva, gestão do trabalho e pesquisa científica, sendo essencial uma abordagem que contemple não apenas os aspectos cognitivos, mas também os psicomotores e atitudinais. A colaboração entre a Instituição de Ensino Superior (IES) e o mundo do trabalho é fundamental para garantir uma formação alinhada com as necessidades da população e promover a reflexão e ação para a mudança da realidade (Tonhom et al., 2014). A construção de uma Matriz de Competência é essencial para orientar o aprimoramento da formação do Enfermeiro, com indicadores divididos por áreas de competências,como cuidados individuais ao longo do ciclo de vida, cuidados coletivos em saúde, organização e gestão do trabalho em saúde e iniciação científica (Braccialli et al., 2015). Todos esses elementos fazem parte de uma Matriz de Competência que compõe o currículo geral, em que serão avaliados a partir do “saber, fazer”, “saber” e “saber ser” capaz de pensar e agir com habilidade e capacidade (Bomfim, 2012). Essa matriz, integrada ao currículo, avalia o conhecimento, habilidades e atitudes dos estudantes e Enfermeiros, promovendo uma abordagem abrangente baseada em competências e diálogo durante a formação profissional (Braccialli et al., 2015). A atualização constante da Matriz de Competência é essencial para orientar o Enfermeiro na identificação e desenvolvimento de seu perfil profissional, fortalecendo a prática assistencial e garantindo que ele possua as atitudes e habilidades necessárias para desempenhar suas funções (Holanda, Marra, Cunha, 2019). As competências profissionais do Enfermeiro abrangem diversas áreas, como assistência, trabalho em equipe, liderança, humanização, relacionamento interpessoal e tomada de decisão, visando garantir um atendimento de qualidade (Leal, 2018; Holanda; Marra; Cunha, 2015). Em suma, a formação acadêmica do Enfermeiro desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para a prática profissional. As DCN/ENF orientam a formação dos Enfermeiros, promovendo um perfil generalista, reflexivo e 8 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 humanista, alinhado com as demandas do mercado de trabalho e as necessidades da população (Leal et al., 2020). Magnago e Pierantoni (2020), ressaltam a relevância de uma formação que prepare adequadamente os futuros profissionais de Enfermagem para atuarem de forma eficaz no desenvolvimento de técnicas de promoção, prevenção e gestão na área. Além disso, é essencial que essa formação contemple as competências e habilidades recomendadas para a prática de um perfil generalista. A formação acadêmica do Enfermeiro também desempenha um papel no aprendizado e no desenvolvimento de habilidades e competências essenciais. Aspectos como postura profissional, técnicas de cuidado e assistência ao paciente, conhecimentos teóricos e práticos, raciocínio clínico e a aplicação do Processo de Enfermagem (PDE) são fundamentais para a prática profissional e devem ser integrados ao processo de trabalho do Enfermeiro (Leal et al., 2018). As competências profissionais do Enfermeiro estão alinhadas com as DCN/ENF, as quais fornecem um guia detalhado do conteúdo a ser abordado ao longo da formação. É essencial que o processo educativo seja conduzido de forma dialogada, promovendo um perfil generalista, reflexivo e humanista, adaptado à realidade regional da instituição de ensino e alinhado com as demandas do mercado de trabalho. É evidente a necessidade de mudanças pedagógicas, metodológicas e nas diretrizes de ensino para formar profissionais de Enfermagem competentes e atualizados (Tonhom et al., 2014). Assim, as DCN/ENF desempenham um papel fundamental na formação dos Enfermeiros, capacitando-os para atuar em diversas dimensões técnico-científicas, ético-políticas e humanísticas, com responsabilidade social e compromisso com a cidadania. A atualização constante da Matriz de Competência é essencial, considerando as mudanças periódicas nos sistemas de ensino. A legislação que trata da competência profissional em Enfermagem precisa ser revisada e atualizada para acompanhar os avanços ocorridos desde a implementação das DCN/ENF em 2001 no Brasil (Vieira et al., 2020). 9 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 3.2 PAPEL DA MATRIZ DE COMPETÊNCIA DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM FORENSE Diante da complexidade dos requisitos para a formação de um profissional capacitado para o mercado, é imprescindível destacar que a Enfermagem desempenha um papel em diversos cenários, incluindo o atendimento a pessoas envolvidas em diferentes formas de violência. Nesse contexto, surge a Enfermagem Forense, uma especialidade que se conecta à ciência da Enfermagem e à prática forense no âmbito médico-legal, proporcionando assistência às vítimas, agressores e familiares ao longo do ciclo de vida (Tetzlaff, 2020). O COFEN reconheceu a Enfermagem Forense como uma especialidade dentro das competências do Enfermeiro, por meio da Resolução nº 389 de 2011, posteriormente atualizada pela Resolução nº 581 de 2018, representando um marco histórico para a profissão ao receber reconhecimento legal (COFEN, 2018; 2011). No entanto, em 2011, essa especialidade ainda era pouco conhecida no Brasil, carecendo de uma maior expansão em todo o território nacional, com apenas uma legislação respaldando os profissionais interessados em atuar na área forense. Em 2015, a ABEFORENSE estabeleceu as bases para a construção da área de competência técnica da Enfermagem Forense brasileira, visando definir o perfil de competências do Enfermeiro Forense, abrangendo uma variedade de atribuições clínicas e especializadas para facilitar a regulamentação do processo de certificação de competências, tornando-o transparente para a sociedade (ABEFORENSE, 2015). Posteriormente, houve um significativo avanço na Enfermagem Forense brasileira, com o COFEN, em 2017, por meio da Resolução 566/2017, regulamentando as oito áreas de atuação no país, incluindo violência sexual, sistema prisional, psiquiátrica, perícia, entre outras, para profissionais com título de Especialização, Mestrado ou Doutorado na área (COFEN, 2017). A Matriz de Competência do COFEN estabelece 29 competências gerais e 37 específicas da Enfermagem Forense. Essas competências abrangem desde a prestação de assistência a pessoas em situação de violência até a identificação, avaliação e intervenção em casos envolvendo vítimas, perpetradores e comunidades em contextos criminais, abrangendo diversos tipos, como física, moral, patrimonial, psicológica, tráfico de pessoas, cárcere privado, tortura, abandono, obstétrica e suicídio (COFEN, 2017). 10 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 No âmbito das competências específicas, destacam-se atividades como assistência técnica, documentação fotográfica, consultoria em processos judiciais relacionados a serviços médicos, responsabilidade civil por danos pessoais, fraudes e abusos diversos, bem como a identificação, coleta, armazenamento e encaminhamento de vestígios forenses, garantindo a preservação da cadeia de custódia, entre outras responsabilidades (COFEN, 2017). Recentemente, em junho de 2022, o COFEN emitiu a Resolução nº 700, que regulamenta a coleta de vestígios para auxiliar na resolução de crimes, especialmente os de natureza sexual e doméstica. Essa normativa estabeleceu um protocolo que direciona o atendimento de pessoas em situação de violência por Enfermeiros generalistas e especialistas na área, representando mais um avanço no reconhecimento e expansão da especialidade no país (COFEN, 2022). A Enfermagem Forense, sendo um campo relativamente novo no ensino e na assistência, desempenha um papel fundamental no combate a episódios de violência. A inclusão de uma disciplina específica ou a integração de conteúdos curriculares que abordem a violência em diferentes áreas da saúde, como saúde da mulher, saúde da criança, saúde mental e psiquiátrica, saúde coletiva, saúde do idoso e urgência e emergência, são essenciais para preparar os profissionais de Enfermagem para lidar com essas situações (Souza; Costa; Vilela, 2020; Souza et al., 2020a). Os cursos de bacharelado em Enfermagem no Brasil devem abordar todo o processo saúde-doença do cidadão, da família eda comunidade, aliando conhecimentos de epidemiologia e prática profissional para garantir a integridade da ação de Enfermagem. Dessa forma, áreas temáticas como Bases Biológicas e Sociais da Enfermagem, Fundamentos da Enfermagem, Assistência de Enfermagem, Administração em Enfermagem e Educação em Enfermagem são fundamentais para a formação dos futuros profissionais (Brasil, 2001). Souza et al. (2020) ressaltam que o modelo de Matriz de Competência para Enfermagem Forense ainda não está amplamente integrado nos currículos das Escolas de Enfermagem brasileiras. No entanto, a elaboração e validação de uma ferramenta desenvolvida no Brasil podem auxiliar instituições públicas e privadas a orientar o atendimento em situações de violência, bem como fornecer informações relevantes sobre avaliação, intervenção, questões ético-legais, políticas e legislativas, contribuindo para aprimorar o Projeto Pedagógico do Curso (PPC). 11 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 Assim como preconizado nas DCN/ENF, as IES devem considerar a realidade epidemiológica do país, especialmente nas regiões onde os cursos estão localizados. Ao desenvolver as competências gerais e específicas, o Enfermeiro precisa adquirir habilidades técnicas, científicas, éticas, políticas e socioeducativas, que são essenciais para sua atuação em diversos contextos e constituem a base de sua prática como profissional generalista, podendo ser adaptadas conforme as necessidades de saúde e o contexto do PPC (Brasil, 2001). O PDE, estabelecido internacionalmente em 1973 pela American Nurses Association (ANA), é uma ferramenta fundamental para os Enfermeiros em diversos países, incluindo o Brasil, no qual os profissionais podem realizar pesquisas, planejamentos, implementações e avaliações de forma científica e eficaz no ambiente de trabalho (Tetzlaff, 2020; Marcelo; Barreto, 2019). A respeito da fundamentação teórica da especialidade desenvolvida por Virginia Lynch nos Estados Unidos. Essa teoria abrange uma variedade de conteúdos conceituais, sociais, filosóficos e de saúde, focados no cuidado cultural, legislação, comportamentos, funções, internacionalismo, defesa do paciente e conflitos sociais. Ela visa orientar a prática forense, a justiça e o combate à criminalidade, embasando-se em sólido conhecimento técnico-científico para se consolidar como uma disciplina que guia a assistência, a educação e a pesquisa (Valentine; Sekula, Lynch, 2020; Valentine, 2014). Embora os papéis e as circunstâncias dos Enfermeiros Forenses possam variar ao redor do mundo, os objetivos dessa especialidade permanecem consistentes: fornecer cuidados centrados no paciente, informados sobre o trauma, baseados em evidências e equitativos para vítimas de trauma e/ou violência. Além disso, espera-se que o tratamento oferecido pelos Enfermeiros Forenses tenha impacto positivo nas evidências forenses e nos resultados do sistema judicial, graças à expertise desses profissionais (Valentine; Sekula, Lynch, 2020). Diante da escassez de estudos que abordam a atuação do Enfermeiro Forense em relação à competência profissional nessa especialidade, é evidente a necessidade de desenvolver um modelo curricular eficaz nas escolas de Enfermagem em todo o país. A literatura ainda carece de evidências para embasar uma abordagem da Matriz de Competência Forense para o ensino geral de Enfermagem. No entanto, alguns estudos exploram a expertise do Enfermeiro, o que poderia subsidiar a elaboração e construção de um modelo conceitual da profissão (Tetzlaff, 2020; Valentine; Sekula, Lynch, 2020; Marcelo; Barreto, 2019; Valentine, 2014). 12 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 4 CONCLUSÃO A reflexão sobre o papel da Matriz de Competência em Enfermagem Forense do COFEN na formação do Enfermeiro Generalista e Especialista, destaca a necessidade da atualização para orientar novos estudos, mudanças curriculares e influenciar a prática dos futuros profissionais que lidarão com esse público específico. A construção da Matriz de Competência da especialidade vai além da fundamentação teórico-filosófica e da formação, considerando elementos como o PDE como guia para sua elaboração, os componentes de uma teoria de Enfermagem e os aspectos específicos da Enfermagem Forense, como coleta e preservação de vestígios forenses, exame físico, fotografia forense, ética, entre outros. O estudo enfrentou limitações devido à novidade do tema na ciência da Enfermagem, com escassez de pesquisas que poderiam corroborar a hipótese investigada pelos autores, revelando a importância da temática para os profissionais futuro que lidarão com vítimas de violência. É fundamental promover novas pesquisas sobre a área no ensino, visando aumentar o conhecimento e a credibilidade dessa ciência entre os profissionais, integrando-a mais amplamente nas ciências forenses. A Matriz de Competência em Enfermagem Forense do COFEN aborda as oito áreas de competência do profissional, porém não detalha de forma específica as competências gerais e específicas de cada área, dificultando a identificação precisa das atividades do Enfermeiro Forense. Sugere-se, portanto, uma revisão da Resolução para especificar as áreas por competência nas oito áreas, em colaboração com entidades como a Sociedade Brasileira de Enfermagem Forense, ABEFORENSE e a Comissão Nacional de Enfermagem Forense. É essencial contar com legislações que respaldam a atuação desses especialistas nos diferentes níveis de atenção, especialmente em setores de urgência e emergência, e nos concursos públicos para a polícia civil e federal, dentro do contexto interdisciplinar das ciências forenses. O papel do Enfermeiro Generalista no atendimento a pessoas em situações de violência pode contribuir significativamente para preservar os vestígios e evitar a perda de provas periciais em investigações criminais, mesmo sem ser especialista na área, apoiando a segurança pública, o sistema judicial e a justiça criminal. 13 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Sperior (CAPES) - Código de Financiamento 001. 14 Contribuciones a Las Ciencias Sociales, São José dos Pinhais, v.17, n.6, p. 01-16, 2024 jan. 2021 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM FORENSE (ABEFORENSE). Regulamento das competências técnicas da enfermagem forense. Aracaju, 2015. Disponível em: https://www.abeforense.org.br/parecer-sobre-campo-de-atuacao-da-enfermagem-forense- brasileira-protocolado-no-cofen/. Acesso em: 19 mai. 2024. BELARMINO, G. 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