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Refletindo sobre as escritas produzidas pelas crianças Conhecer o que a criança pensa e sabe sobre a escrita é o ponto de partida para o trabalho na alfabetização inicial. O professor passa a ser um pesquisador em sala de aula, ele recolhe e analisa as escritas, observa, registra e tem os ouvidos atentos às falas e apontamentos dos estudantes e o modo como vão elaborando o pensamento acerca do sistema de escrita. Sob esse olhar é indicado que o docente tenha um espaço para anotações de cada um de seus estudantes. Ele pode registrar como a criança está construindo o pensamento sobre a escrita, por meio de observações de atividades, pelas perguntas realizadas por elas, por um momento que foi escrever algo e colocou em jogo seus conhecimentos sobre o sistema de escrita. Conhecer os saberes das crianças possibilita que o professor desenvolva um bom planejamento das aulas, organizando agrupamentos produtivos de acordo com seus objetivos, que planeje suas intervenções. Para compreender o que as crianças pensam e sabem acerca da escrita, o professor pode realizar um diagnóstico individual de sondagem de escrita. “Quando a criança tem oportunidade de exercer a escrita segundo suas idéias, de pôr em jogo o que pensa sobre a escrita, com frequência vai se aproximando pouco a pouco da fonetização da escrita. Porque, ao contrário do que se imaginava, a fonetização da escrita não é fruto de um estalo, e sim de uma longa e laboriosa construção.” Telma Weisz Nível pré-silábico A escrita ainda não é a representação do falado. A criança pode ter traços típicos, como linhas e formas semelhantes a letra cursiva. Apenas quem escreveu sabe ler o que significa. Outra característica marcante é a quantidade mínima de letras ou variações dentro da palavra. A criança acredita que precisa ter um número mínimo de letras (2 a 4, geralmente 3) para que uma palavra seja lida. Uma letra sozinha não representa nada escrito, ressalva casos de crianças que estão em um processo ainda novo e pouco contato tiveram com leitura e escrita. Algumas crianças nesse período rejeitam letras repetidas, pois palavras diferentes escrevem com letras diferentes. Há uma infinidade de características nesse período, é importante ter a clareza que cada criança pensa sobre a escrita de um jeito lógico no processo de construção do sistema de escrita alfabética. Assim, observando esses registros e a maneira como cada indivíduo leu mostrará em quais aspectos ele se apoiam e quais caminhos na prática pedagógica será importante tomar para que ele avance em seu conhecimento acerca da escrita. A escrita ainda não é a representação do falado. As crianças não estabelecem relação entre a fala e a escrita, ou seja, não tentam estabelecer correspondências letra-som de nenhum tipo quando escrevem, nem mesmo ao ler suas próprias produções escritas. Nos exemplos, a maior parte das crianças, escrevem várias letras e depois leem o escrito sem analisá-lo. Exemplos de escritas de crianças: BICICLETA (GRAFISMO PRIMITIVO) BICICLETA ÔNIBUS NAVIO (ESCRITAS UNIGRÁFICAS) (USO DE LETRAS, NÚMEROS E MARCAS GRÁFICAS) (ESCRITA FIXA) (ESCRITA SEM CONTROLE DE QUANTIDADE) (ESCRITA DIFERENCIADAS) Por ex: o aluno escreve IEDOERPFO para GIRAFA e lê o escrito apontando de forma contínua e sem fazer recortes orais. “Avançar em direção a um sistema de representação silábica implica que as crianças comecem a se perguntar que significado tem cada uma das letras em relação à palavra escrita com significado. Em outras palavras, têm de se perguntar qual é a relação entre o todo e suas partes. A resolução desse problema está, certamente, ligada a um problema mais geral: o que é que a escrita representa?” Sofia Vernón Hipótese Silábica A construção da hipótese silábica é um grande avanço na construção do conhecimento em relação à compreensão do sistema de escrita alfabética. É importante considerar a evolução e os novos entendimentos em relação à fase anterior. Essas crianças realizam uma correspondência entre as sílabas orais e as letras que escrevem. Controlam a quantidade de letras que escrevem. No entanto, as letras que utilizam nem sempre são pertinentes. Nos exemplos, a maior parte das crianças utilizam a letra apropriada para a maioria das sílabas que representam, garantindo o valor sonoro convencional e o mais frequente é que escrevam a vogal pertinente, mas também podem aparecer consoantes pertinentes. Exemplos de escritas de crianças que estão no período silábico: Escrita Silábica-alfabética As crianças utilizam um sistema de escrita aparentemente misto. Algumas vezes representam uma sílaba completa com uma letra, mas também começam a representar unidades intrassilábicas. Por exemplo, escreve POKA para PAÇOCA. Escreve com duas letras a última sílaba, mas só com uma letra as sílabas inicial e intermediária. Exemplos de produções das crianças: Escrita Alfabética As crianças compreendem como funcionam os mecanismos do sistema de escrita alfabética, fazem correspondências sistemáticas entre fonemas e letras, mesmo que a ortografia não seja convencional. Exemplos de escritas de crianças: Sondagem de Escrita Para a sondagem de escrita é necessário que as crianças se sintam confortáveis e escrevam da melhor forma possível e sem interferências. Assim, é possível saber o que pensam e sabem sobre a escrita. A realização periódica de sondagens é também um instrumento para o planejamento do trabalho didático, pois permite avaliar e acompanhar os avanços da turma, fornecendo informações para o encaminhamento das atividades de leitura e escrita e, também, a organização das parcerias de trabalho entre os alunos (agrupamentos produtivos). A sondagem envolve a escrita de uma lista de palavras e uma frase. A frase precisa contemplar uma das palavras ditadas na lista. Essa situação de escrita precisa ser seguida da leitura pelo aluno daquilo que ele escreveu, pois é nesse momento que será possível observar se ele estabeleceu (ou não) relações entre aquilo que escreveu e o que leu em voz alta. Dizendo de outra forma, se o aluno estabeleceu relação entre a fala e a escrita. •Fazer a avaliação diagnóstica individual (sondagem de escrita); •A avaliação deve ser realizada, preferencialmente em folha sem pauta; •Antes de iniciar o ditado das palavras é importante contextualizar a lista que será ditada, informando o campo semântico escolhido dentro de uma situação comunicativa em contexto de uso social; •Peça para que a criança escreva o nome dela, antes de ditar as palavras. Caso ela não saiba, você registra quando finalizar; • A lista a ser ditada deve contemplar 4 palavras do mesmo campo semântico nessa ordem: polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba. Por ex.: DINOSSAURO, CAMELO, GATO e RÃ; •Escrita de frase que contenha uma das palavras do ditado. Por ex.: EU TENHO UM GATO; • Dite normalmente as palavras e a frase, sem silabar. Não escandir (pronunciar sem dar destaque às sílabas); •A cada palavra escrita pelo estudante o professor deve solicitar a leitura da mesma para validar como a criança escreveu, pedindo para que ela aponte com o dedo onde está escrito a palavra ditada e indicando cada parte do escrito. O professor precisa anotar em uma folha à parte como os alunos fazem essa leitura, se apontam com o dedo cada uma das letras ou não, se associam aquilo que falam à escrita, entre outras. É fundamental que esse registro seja produzido junto de outras informações sobre o que foi possível observar durante a sondagem, após o término da mesma; ● No caso de algum aluno se recusar a escrever, ofereça letras móveis e encaminhe a situação de sondagem como proposta. Referências Bibliográficas: VERNÓN, Sofia. El processo de construcción de la correspondencia sonora en la escritura (en la transición entre los periodos pré-silábico y el silábico). Die-Cinvestav, México, 1997. FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita, Construção da escrita: primeiros passos. Emília Ferreiro “A escrita antes das letras”. Porto Alegre,1985. FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 2003. FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. - 26.ed.- São Paulo: Cortez, 2011. SINCLAIR, Hermine. A produção de notações na criança, São Paulo, Cortez Editora, 1990. WEISZ, Telma. Existe vida inteligente no período pré-silábico? In: SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Letra e Vida: Programa para Professores Alfabetizadores. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2005a. (Coletânea de Textos – Módulo 1, Unidade 4, Texto 4). WEISZ, Telma. Como se aprende a ler e escrever ou, prontidão, um problema mal colocado? In: SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Letra e Vida: Programa para Professores Alfabetizadores. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2005b. (Coletânea de Textos – Módulo 1, Unidade 3, Texto 5).