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Aprofundamento - Psicogênese da Língua Escrita (2) docx

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Refletindo sobre as escritas produzidas pelas crianças
Conhecer o que a criança pensa e sabe sobre a escrita é o ponto de partida para o
trabalho na alfabetização inicial. O professor passa a ser um pesquisador em sala de
aula, ele recolhe e analisa as escritas, observa, registra e tem os ouvidos atentos às
falas e apontamentos dos estudantes e o modo como vão elaborando o pensamento
acerca do sistema de escrita.
Sob esse olhar é indicado que o docente tenha um espaço para anotações de cada
um de seus estudantes. Ele pode registrar como a criança está construindo o
pensamento sobre a escrita, por meio de observações de atividades, pelas perguntas
realizadas por elas, por um momento que foi escrever algo e colocou em jogo seus
conhecimentos sobre o sistema de escrita.
Conhecer os saberes das crianças possibilita que o professor desenvolva um bom
planejamento das aulas, organizando agrupamentos produtivos de acordo com seus
objetivos, que planeje suas intervenções.
Para compreender o que as crianças pensam e sabem acerca da escrita, o professor
pode realizar um diagnóstico individual de sondagem de escrita.
“Quando a criança tem oportunidade de exercer a escrita segundo suas idéias, de pôr
em jogo o que pensa sobre a escrita, com frequência vai se aproximando pouco a
pouco da fonetização da escrita. Porque, ao contrário do que se imaginava, a
fonetização da escrita não é fruto de um estalo, e sim de uma longa e laboriosa
construção.”
Telma Weisz
Nível pré-silábico
A escrita ainda não é a representação do falado. A criança pode ter traços
típicos, como linhas e formas semelhantes a letra cursiva. Apenas quem
escreveu sabe ler o que significa.
Outra característica marcante é a quantidade mínima de letras ou variações
dentro da palavra. A criança acredita que precisa ter um número mínimo de
letras (2 a 4, geralmente 3) para que uma palavra seja lida. Uma letra sozinha
não representa nada escrito, ressalva casos de crianças que estão em um
processo ainda novo e pouco contato tiveram com leitura e escrita. Algumas
crianças nesse período rejeitam letras repetidas, pois palavras diferentes
escrevem com letras diferentes.
Há uma infinidade de características nesse período, é importante ter a clareza
que cada criança pensa sobre a escrita de um jeito lógico no processo de
construção do sistema de escrita alfabética. Assim, observando esses registros
e a maneira como cada indivíduo leu mostrará em quais aspectos ele se apoiam
e quais caminhos na prática pedagógica será importante tomar para que ele
avance em seu conhecimento acerca da escrita.
A escrita ainda não é a representação do falado. As crianças não estabelecem relação
entre a fala e a escrita, ou seja, não tentam estabelecer correspondências letra-som
de nenhum tipo quando escrevem, nem mesmo ao ler suas próprias produções
escritas. Nos exemplos, a maior parte das crianças, escrevem várias letras e depois
leem o escrito sem analisá-lo.
Exemplos de escritas de crianças:
BICICLETA
(GRAFISMO PRIMITIVO)
BICICLETA
ÔNIBUS
NAVIO
(ESCRITAS UNIGRÁFICAS)
(USO DE LETRAS, NÚMEROS E
MARCAS GRÁFICAS)
(ESCRITA FIXA)
(ESCRITA SEM CONTROLE DE QUANTIDADE) (ESCRITA DIFERENCIADAS)
Por ex: o aluno escreve IEDOERPFO para GIRAFA e lê o escrito apontando de forma
contínua e sem fazer recortes orais.
“Avançar em direção a um sistema de representação silábica implica que as
crianças comecem a se perguntar que significado tem cada uma das letras em
relação à palavra escrita com significado. Em outras palavras, têm de se perguntar
qual é a relação entre o todo e suas partes. A resolução desse problema está,
certamente, ligada a um problema mais geral: o que é que a escrita representa?”
Sofia Vernón
Hipótese Silábica
A construção da hipótese silábica é um grande avanço na construção do
conhecimento em relação à compreensão do sistema de escrita alfabética. É
importante considerar a evolução e os novos entendimentos em relação à fase
anterior.
Essas crianças realizam uma correspondência entre as sílabas orais e as letras que
escrevem. Controlam a quantidade de letras que escrevem. No entanto, as letras que
utilizam nem sempre são pertinentes. Nos exemplos, a maior parte das crianças
utilizam a letra apropriada para a maioria das sílabas que representam, garantindo o
valor sonoro convencional e o mais frequente é que escrevam a vogal pertinente, mas
também podem aparecer consoantes pertinentes.
Exemplos de escritas de crianças que estão no período silábico:
Escrita Silábica-alfabética
As crianças utilizam um sistema de escrita aparentemente misto. Algumas vezes
representam uma sílaba completa com uma letra, mas também começam a
representar unidades intrassilábicas. Por exemplo, escreve POKA para PAÇOCA.
Escreve com duas letras a última sílaba, mas só com uma letra as sílabas inicial e
intermediária.
Exemplos de produções das crianças:
Escrita Alfabética
As crianças compreendem como funcionam os mecanismos do sistema de escrita
alfabética, fazem correspondências sistemáticas entre fonemas e letras, mesmo que a
ortografia não seja convencional.
Exemplos de escritas de crianças:
Sondagem de Escrita
Para a sondagem de escrita é necessário que as crianças se sintam confortáveis e
escrevam da melhor forma possível e sem interferências. Assim, é possível saber o
que pensam e sabem sobre a escrita. A realização periódica de sondagens é também
um instrumento para o planejamento do trabalho didático, pois permite avaliar e
acompanhar os avanços da turma, fornecendo informações para o encaminhamento
das atividades de leitura e escrita e, também, a organização das parcerias de trabalho
entre os alunos (agrupamentos produtivos).
A sondagem envolve a escrita de uma lista de palavras e uma frase. A frase precisa
contemplar uma das palavras ditadas na lista. Essa situação de escrita precisa ser
seguida da leitura pelo aluno daquilo que ele escreveu, pois é nesse momento que
será possível observar se ele estabeleceu (ou não) relações entre aquilo que escreveu
e o que leu em voz alta. Dizendo de outra forma, se o aluno estabeleceu relação entre
a fala e a escrita.
•Fazer a avaliação diagnóstica individual (sondagem de escrita);
•A avaliação deve ser realizada, preferencialmente em folha sem pauta;
•Antes de iniciar o ditado das palavras é importante contextualizar a lista que será
ditada, informando o campo semântico escolhido dentro de uma situação comunicativa
em contexto de uso social;
•Peça para que a criança escreva o nome dela, antes de ditar as palavras. Caso ela
não saiba, você registra quando finalizar;
• A lista a ser ditada deve contemplar 4 palavras do mesmo campo semântico nessa
ordem: polissílaba, trissílaba, dissílaba e monossílaba. Por ex.: DINOSSAURO,
CAMELO, GATO e RÃ;
•Escrita de frase que contenha uma das palavras do ditado. Por ex.: EU TENHO UM GATO;
• Dite normalmente as palavras e a frase, sem silabar. Não escandir (pronunciar sem
dar destaque às sílabas);
•A cada palavra escrita pelo estudante o professor deve solicitar a leitura da mesma
para validar como a criança escreveu, pedindo para que ela aponte com o dedo onde
está escrito a palavra ditada e indicando cada parte do escrito. O professor precisa
anotar em uma folha à parte como os alunos fazem essa leitura, se apontam com o
dedo cada uma das letras ou não, se associam aquilo que falam à escrita, entre outras.
É fundamental que esse registro seja produzido junto de outras informações sobre o
que foi possível observar durante a sondagem, após o término da mesma;
● No caso de algum aluno se recusar a escrever, ofereça letras móveis e encaminhe a
situação de sondagem como proposta.
Referências Bibliográficas:
VERNÓN, Sofia. El processo de construcción de la correspondencia sonora en
la escritura (en la transición entre los periodos pré-silábico y el silábico).
Die-Cinvestav, México, 1997.
FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita,
Construção da escrita: primeiros passos. Emília Ferreiro “A escrita antes das letras”.
Porto Alegre,1985.
FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. São Paulo: Cortez, 2003.
FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. - 26.ed.- São Paulo: Cortez,
2011.
SINCLAIR, Hermine. A produção de notações na criança, São Paulo, Cortez
Editora, 1990.
WEISZ, Telma. Existe vida inteligente no período pré-silábico? In: SÃO PAULO
(Estado). Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas. Letra e Vida: Programa para Professores Alfabetizadores. São Paulo:
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, 2005a. (Coletânea de Textos –
Módulo 1, Unidade 4, Texto 4).
WEISZ, Telma. Como se aprende a ler e escrever ou, prontidão, um problema
mal colocado? In: SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação.
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Letra e Vida: Programa para
Professores Alfabetizadores. São Paulo: Secretaria da Educação do Estado de São
Paulo, 2005b. (Coletânea de Textos – Módulo 1, Unidade 3, Texto 5).

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