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Literatura Brasileira e Modernidade ebook

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Prévia do material em texto

LITERATURA BRASILEIRA 
E MODERNIDADE
LITERATURA BRASILEIRA 
E MODERNIDADE
Copyright © UVA 2019
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer 
meio sem a prévia autorização desta instituição.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa.
AUTORIA DO CONTEúDO
Silvana Moreli Vicente Dias
REVISãO
Ísis Batista
Clarissa Penna
Theo Cavalcanti
Lydianna Lima
PROjETO GRáfICO
UVA
DIAGRAMAçãO
UVA
D541 
 Dias, Silvana Moreli Vicente
 
 Literatura brasileira e modernidade [livro eletrônico] /
 Silvana Moreli Vicente Dias. – Rio de Janeiro: UVA, 2020. 
 
 1,68 MB : PDF. 
 
 ISBN 978-65-5700-036-6.
 
 
 1. Literatura brasileira - História e crítica. 2. Modernismo 
 (Literatura) - Brasil - História e crítica. I. Universidade Veiga 
 de Almeida. II. Título. 
 
 CDD – B869
Bibliotecária Alexandra Delgado de Campos CRB 7 - 6626.
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UVA.
SUMáRIO
Apresentação
Autor
6
8
Tensões brasileiras: tradição e vanguarda 32
• As tendências de ruptura vanguardista brasileira: a Semana de Arte 
Moderna de 1922 e suas consequências
• Vozes altissonantes do Modernismo brasileiro: Mário de Andrade e 
Oswald de Andrade
• A província entre passado e futuro: modernidades alternativas a partir 
de produções periféricas
Unidade 2
9
• Narração, crítica e ironia em Machado de Assis
• Cruz e Sousa e dilemas da poesia oitocentista: a originalidade do Sim-
bolismo brasileiro
• O tempo e seus avessos em Lima Barreto: visões disfóricas da Belle 
Époque brasileira
Primeiros influxos da modernidade: da Belle Époque ao 
Pré-Modernismo
Unidade 1
SUMáRIO
Criação, hibridização e reflexão: veredas da narrativa 
moderna
92
• Graciliano Ramos, José Lins do Rego e o Romance de 1930: história e 
ficção na modernidade
• Clarice Lispector: subjetividade, drama e linguagem
• Guimarães Rosa: nas fronteiras dos tempos e dos espaços ficcionais
Unidade 4
58
• Manuel Bandeira, lirismo e representação problemática do cotidiano
• Carlos Drummond de Andrade: os dilemas de “um eu todo retorcido”
• João Cabral de Melo Neto: a invenção racional e a arquitetura do in-
conformismo
Vertentes poéticas da modernidade
Unidade 3
6
A disciplina Literatura Brasileira e Modernidade pretende oferecer elementos a você, 
estudante de Letras, para que desenvolva estudos críticos atentos às especificidades de 
temas e formas estéticas representativos da literatura brasileira entre fins do século XIX 
e primeira metade do século XX. 
Especificamente, seu conteúdo estará enfocado em autores e obras que entraram no 
cânone da literatura brasileira, sendo hoje reconhecidos como expressões de estéticas 
diversas, em estreito diálogo com os movimentos artísticos e literários internacionais. 
Veja, no quadro abaixo, quais são esses movimentos:
Os seguintes autores serão cuidadosamente discutidos no decorrer dos estudos aqui 
empreendidos:
• Machado de Assis (1839-1908).
• Cruz e Sousa (1861-1898).
• Lima Barreto (1881-1922).
• Mário de Andrade (1893-1945).
• Oswald de Andrade (1890-1954).
APRESENTAçãO
Movimentos artísticos 
e literários 
Pré-Modernismo
Realismo
Simbolismo
Modernismo
7
• Manuel Bandeira (1886-1968)
• Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
• João Cabral de Melo Neto (1920-1999).
• Graciliano Ramos (1892-1953).
• José Lins do Rego (1901-1957).
• Clarice Lispector (1920-1977). 
• Guimarães Rosa (1908-1967).
Você vai ver como certo legado do Romantismo continuará a ser revisitado, sobretudo 
na perspectiva da construção da brasilidade e da identidade nacional. Nesse sentido, 
serão aprofundadas visadas críticas e reflexivas que descortinam uma relação tensa en-
tre literatura e sociedade, de modo que a literatura, como criação estética, possa revelar 
também um aprofundamento da crítica social, ao lado de perspectivas de sensibilização 
e humanização do ser como produtor de cultura e de arte.
Por fim, pretendemos também oferecer condições para que o futuro professor de Letras 
conduza análises envolventes e atentas às principais discussões ocorridas no âmbito da 
produção literária do país, tais como a formação do cânone da literatura brasileira e seus 
questionamentos; a literatura como resistência aos discursos dominantes; e o processo 
tensivo de consolidação de estéticas modernas no Brasil, em diálogo com a tradição e os 
discursos marginais ou periféricos. 
Com esse trajeto, esperamos desenvolver uma leitura verticalizada do texto literário e, 
ao mesmo tempo, inseri-la no percurso histórico e em seus desdobramentos, para que, 
então, possamos captar todo seu potencial estético e crítico.
8
SILVANA MORELI VICENTE DIAS
A Prof.ª Dr.ª Silvana Moreli Vicente Dias é licenciada em Português e Inglês pela Universi-
dade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp (1999), mestre (2003) e doutora 
(2008) pela Universidade de São Paulo – USP. Ganhou o prêmio Capes de Tese 2009, 
na área de Letras/Linguística. Foi pesquisadora bolsista Nível I da Fundação Biblioteca 
Nacional – FBN (RJ) (2008). Fez pesquisa de pós-doutorado na Università degli Studi 
di Roma “La Sapienza” (Itália), com ênfase em “Metodologia e prática de edição crítica 
de textos modernos e contemporâneos” (2009). Realizou pesquisa de pós-doutorado no 
Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo – IEB-USP (2010-2012) 
com bolsa Fapesp e, posteriormente, com Bolsa do Programa do Prêmio Capes de Te-
ses, trabalhando com temas como: perspectivas críticas de estudo dos gêneros textuais; 
formas e funções dos gêneros textuais, em especial do gênero autobiográfico; percursos 
da epistolografia brasileira do século XX; e as relações comparadas entre o Modernismo 
brasileiro e o anglo-americano. Em 2015, suspendeu atividades no Brasil para realizar 
pós-doutorado na Université Sorbonne Nouvelle/Paris 3 (França), com bolsa de pesquisa 
pós-doutoral no exterior pela Capes, dedicando-se ao estudo de gêneros discursivos hí-
bridos e à busca de manuscritos inéditos de escritores brasileiros, bem como a reflexões 
metodológicas sobre edições crítico-genéticas em formato digital. Tem experiência na 
área de Letras, com ênfase em linguística aplicada; humanidades digitais; relações entre 
o Modernismo brasileiro e a literatura anglo-americana; preparo de edições, crítica gené-
tica e crítica textual; edições acadêmicas com aparato crítico; manuscritos de escritores, 
artistas e intelectuais; crônica, memorialismo, ensaio; curadoria de exposições. É auto-
ra de Cartas provincianas: correspondência entre Gilberto Freyre e Manuel Bandeira 
(edição de cartas e estudo crítico), publicado pela Global Editora em 2017. Tem experiên-
cia nos ensinos fundamental, médio e superior, sendo que atualmente é professora na 
Universidade Veiga de Almeida – UVA (RJ).
AUTOR
Primeiros influxos da 
modernidade: da Belle Époque 
ao Pré-Modernismo
UNIDADE 1
10
Na unidade introdutória da disciplina intitulada Literatura Brasileira e Modernidade, 
vamos analisar especificidades da forma e do conteúdo, texto e contexto — dialeticamente 
abordados, seguindo princípios defendidos por Antonio Candido —, da ficção e da poesia 
brasileiras de fins do século XIX e início do século XX, englobando as estéticas do Realismo, 
do Simbolismo e do Pré-Modernismo brasileiro, a serem criticamente estudadas com 
baseem autores e obras considerados canônicos, como Machado de Assis (1839-1908), 
Cruz e Sousa (1861-1898) e Lima Barreto (1881-1922). 
Embora esses nomes constituam o foco do nosso trabalho, será relevante considerar 
como tais autores leem a tradição de seu tempo e elaboram um discurso de invenção 
literária, bem como de questionamento das balizas e das instituições de uma época. Nesse 
sentido, os autores aqui selecionados permitem, de modo bastante exemplar, realizar o 
que Alfredo Bosi nomeia como “compreender resistindo” e “resistir compreendendo” (Cf. 
BOSI, 2002). 
É, pois, nessa relação dialética que a disciplina pretende estruturar um discurso crítico 
atento às especificidades da literatura de Machado de Assis, Cruz e Sousa e Lima Barreto. 
Trata-se de escritores que construíram um percurso de criação aliado a uma leitura 
atenta das balizas da tradição e das principais estéticas artístico-literárias em curso em 
seu tempo, que não se furtaram de problemáticas, inclusive contextuais caras à época, 
como o liberalismo (paradoxal e tristemente) aliado à escravidão ou, ainda, a desfaçatez 
de classe conectada a um moralismo de superfície.
Objetivamos, ao fim, que você se sinta estimulado a ler os textos aqui abordados e faça 
conexões com o hoje e com a urgência que os tempos incertos exigem, com lucidez, 
autonomia, reflexão e sensibilidade. Assim, embora citemos nomenclaturas e estilos 
de época (mesmo porque é fundamental que, como futuros professores, os estudantes 
dominem as linhas gerais que continuam alimentando perspectivas ligadas ao periodismo 
e a abordagens panorâmicas da historiografia literária brasileira), no horizonte estará 
nosso estímulo para que os futuros licenciados se realizem como leitores proficientes, 
INTRODUçãO
11
atentos às especificidades da escrita literária, e também como futuros formadores de 
leitores literários, para que, enfim e ao cabo, possam: 
[...] Formar leitores disponíveis, abertos, sagazes e curiosos para que 
possam navegar pela infinidade de conteúdos que, pela primeira vez na 
história, estão disponíveis para, se não em sua totalidade, grande parte da 
população. Garantir àqueles que, por motivos diversos, estão aquém das 
práticas “pós-modernas”, o conhecimento e a possibilidade de uso real 
das ferramentas e suportes. Criar as bases para o exercício da escolha 
e suas implicações — a ponderação, a pesquisa, a criticidade. Acreditar 
no sujeito, acreditar em sua capacidade de fazer escolhas. (ALMEIDA; 
SANTOS; PORTO, 2016) 
Desse modo, esperamos que esta unidade ofereça estímulos para que você desenvolva o 
gosto pela leitura e domine as principais vertentes críticas sobre cada autor abordado, ao 
mesmo tempo em que esteja preparado para atuar como professor e pesquisador.
Nesta unidade, você será capaz de:
• Analisar especificidades da forma e do conteúdo da ficção e da poesia brasileiras 
de fins do século XIX e início do século XX, englobando as estéticas do Realismo, do 
Simbolismo e do Pré-Modernismo brasileiro, estudadas, em perspectiva reflexiva e 
crítica, com base em autores e obras considerados canônicos, como Machado de 
Assis (1839-1908), Cruz e Sousa (1861-1898) e Lima Barreto (1881-1922).
OBjETIVO
12
Narração, crítica e ironia em Machado de 
Assis
Neste primeiro tópico, você será apresentado a aspectos 
da trajetória literária do escritor brasileiro Joaquim Maria 
Machado de Assis (1839-1908). O objetivo principal, neste 
momento, é oferecer uma interpretação de sua escrita literária 
que destaque aspectos problematizadores de seu estilo e de 
seus temas, tais como:
• A estruturação perspicaz de uma narrativa irônica. 
• A construção de personagens dúbios. 
• Uma visão crítica sobre paradoxos presentes na sociedade 
brasileira. 
Sua obra deve ser lida, portanto, no âmbito da estética realista, tendência de observação 
e análise social que se consolidou na Europa do século XIX, em dialética à visão romântica 
da arte e da literatura. 
Entretanto, há especificidades várias — atreladas inclusive à sua recepção nacional e 
internacional —, as quais precisam ser mencionadas para se ter uma visão ampla da 
obra do autor. Inclusive, sua trajetória costuma ser dividida entre primeira fase, de linhas 
evidentemente românticas; e segunda fase, de ironia sutil e sarcasmo, a qual se inicia 
com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), considerado o primeiro 
romance realista brasileiro.
Machado de Assis. 
Ilustração.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Machado de 
Assis: um mestre na periferia, um programa da TV Escola.
13
Escritor crítico, irônico e arguto observador do seu tempo, Machado de Assis deixou 
uma vasta e diversificada produção literária. Exímio contista, colaborou para a definitiva 
consolidação do gênero no Brasil. Veja, no gráfico a seguir, as obras que se destacam 
nesse gênero. 
Embora antes de 1882 já tivesse publicado contos voltados especificamente para o público 
feminino, é depois da data que mais claramente se nota o domínio dessa forma literária 
econômica, tensiva e bem encadeada que, inclusive, permite tocar em temas considerados 
tabus, como a escravidão. Aliás, a despeito do fato de muitos escritores o terem acusado de 
certo absenteísmo sobre o tema, na trilha do polêmico Hemérito dos Santos, essa imagem 
vem sendo redefinida recentemente, por exemplo, por meio de estudos mais específicos 
como os de Selma Vital e de Maílde J. Trípoli, em caminho antes aberto por críticos como 
Alfredo Bosi, John Gledson, Raimundo Faoro, Roberto Schwarz e Sidney Chalhoub. De 
qualquer modo, é imperioso afirmar que há um profundo senso construtivo que permeia 
toda sua obra, como afirma o crítico literário Silviano Santiago:
Já é tempo de se começar a compreender a obra de Machado de Assis 
como um todo coerentemente organizado, percebendo que à medida que 
seus textos se sucedem cronologicamente certas estruturas primárias 
e primeiras se desarticulam e se rearticulam sob forma de estruturas 
diferentes, mais complexas e mais sofisticadas. (SANTIAGO, 2000, p. 27 
apud COSTA; COELHO, 2018, p. 202)
CONTOS
 fLUMINENSES 
(1870)
PAPéIS 
AVULSOS 
(1882)
HISTóRIAS 
SEM DATA 
(1884)
RELíqUIAS DA 
CASA VELHA
 (1906)
PáGINAS 
RECOLHIDAS
 (1899)
VáRIAS 
HISTóRIAS 
(1896)
14
Sobre a questão do envolvimento com seu meio social, o próprio escritor ofereceu, no 
texto Notícia da atual literatura brasileira: instinto de nacionalidade (1873), uma porta 
de entrada interpretativa bastante arguta: “O que se deve exigir do escritor antes de tudo, 
é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando 
trate de assuntos remotos no tempo e no espaço.” Tal sentimento íntimo, em Machado, 
parece se formalizar por meio de um estilo distanciado, cético e paródico, que coloca 
em pauta os discursos hegemônicos da época. Com base nesse estilo, são construídos 
enredos que descortinam as misérias escondidas por trás das fachadas da modernidade 
e das máscaras embotadas pelo hábito e pela convenção. Com Machado de Assis, a 
modernidade passa — desse modo — a ser objeto de questionamento firme.
Avançando um pouco mais as perspectivas críticas, é fato que há livros que fazem parte 
das referências formativas de um estudante brasileiro, como Dom Casmurro (1899) e 
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Contudo, pelos limites deste tópico, será 
abordado o conto Pai contra mãe. Recomendamos fortemente sua leitura, para que o 
estudante acompanhe os argumentos a serem levantados nas próximas páginas.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Representação 
e avaliação em Machado de Assis, por João Adolfo Hansen.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Ideia de literatura 
brasileira com propósito cosmopolita: aspectos da recepção de Machado de Assis 
no Brasil e no mundo, por Abel Barros Batista.
15
No conto Pai contra mãe, que abre Relíquias da casa velha,observa-se como a calculada 
e econômica trama — sendo que seu lastro está em uma dinâmica dualista que relativiza 
perdas e ganhos — é conduzida por um narrador distanciado e só aparentemente neutro, 
cuja perspectiva se choca com visões que amenizam, encobrem ou escamoteiam as 
arestas do processo histórico brasileiro. O enredo revela um jogo dramático e desigual 
entre vencedores pragmáticos e vencidos. Aqui, lutam um pai branco e uma mãe negra 
pelo mesmo objetivo, no início do século XX, como que exemplificando o grotesco das 
relações escravocratas, contíguo aos dispositivos cruéis como a “máscara de flandres” 
(enumerados no primeiro parágrafo do conto), em uma sociedade desigual e anômica, 
apenas de fachada moderna, republicana, liberal e civilizada.
A percepção das perversas forças que subjazem ao império do despotismo e da 
arbitrariedade, à primeira vista, parece se diluir com a violência naturalizada e legitimada 
pela instituição da escravatura, que deixa marcas indeléveis na formação do Brasil 
moderno. Essa dinâmica é construída por meio de uma linguagem perspicaz, que articula 
um enredo equilibrado, conduzido por um narrador aparentemente neutro, e o emoldura 
engenhosamente com dispositivos grotescos, no início, e uma morte cruel em seu 
desfecho. Assim, Machado de Assis, uma vez mais, performatiza uma técnica capaz de: 
[…] sugerir as coisas mais tremendas da maneira mais cândida (como os 
ironistas do século XVIII): ou em estabelecer um contraste entre a nor-
malidade social dos fatos e a sua anormalidade essencial; ou em sugerir, 
sob a aparência do contrário, que o ato excepcional é normal, e anormal 
seria o ato corriqueiro. (CANDIDO, 1977, p. 23)
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Machado de 
Assis: um escritor além de seu tempo e de seu país.
16
Portanto, o conto persegue a linha irônica e distanciada do narrador machadiano, 
renovando não só pelo equilíbrio formal ao abordar um tema candente na época, mas 
também por, de algum modo, antecipar uma vertente do realismo cru, dedicado a figuras 
marginais, longe dos núcleos de sociabilidade supostamente civilizados da classe 
dominante, a qual iria pouco a pouco se adensar na literatura brasileira do século XX.
Com essa breve leitura do conto Pai contra mãe, fica claro que é impossível separar o 
que é domínio formal e leitura crítica de um contexto social. Nesse sentido, dicotomias do 
tipo realidade e ficção, história e literatura, cosmopolitismo e provincianismo podem ser 
vistas como duplos que promovem a expansão dos sentidos, mas não como limitadores 
do exercício crítico-analítico. Como afirma o crítico literário português Abel de Barros 
Baptista: “[...] o estrangeiro que se integra no nacional é tão só o que se sujeita às regras 
que definem o nacional. Não há lugar, nessa distinção, para o estrangeiro que se interessa 
por Machado, mas não se interessa pelo Brasil.” (BAPTISTA, 2009, p. 86). Ou seja, se a 
crítica estiver atenta à complexidade da obra, sempre deverá implicar todas as faces do 
múltiplo Machado de Assis.
A fim de realizar projetos de leitura literária na escola, um possível caminho a 
ser explorado é desenvolver estratégias que dialoguem com o universo cultural 
dos alunos para, então, aprofundar sua competência literária. Nesse sentido, é 
possível apresentar recursos audiovisuais como estímulo à formação do leitor 
ou, ainda, desenvolver análises atentas ao diálogo interartes estabelecido por 
distintas produções simbólicas, como um romance e um filme. 
Para refletir
Uma das capas do livro 
 Dom Casmurro.
Fonte: www.amazon.com.br.
Capitu, na minissérie.
Fonte: memoriaglobo.globo.com.
https://www.amazon.com.br/Dom-Casmurro-Machado-Assis/dp/8572322647
http://memoriaglobo.globo.com/programas/entretenimento/minisseries/capitu.htm
17
Para observar possibilidades, recomendamos a leitura do seguinte artigo 
científico, que discute a adaptação do livro canônico Dom Casmurro, de 
Machado de Assis, para a minissérie Capitu, de 2008, dirigida por Luiz Fernando 
Carvalho e exibida pela TV Globo em 2008: 
VIEIRA, A. F.; NEVIANI, M. R. S. De Dom Casmurro à Capitu: um estudo sobre a 
adaptação literária. Revista Língua & Literatura. Frederico Westphalen, v. 19, 
n. 34, p. 229-251, jul./dez. 2017. Disponível em: http://www.revistas.fw.uri.br/
index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/2673/2595. Acesso em: 28 jan. 
2019.
http://www.revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/2673/2595
http://www.revistas.fw.uri.br/index.php/revistalinguaeliteratura/article/view/2673/2595
18
Cruz e Sousa e dilemas da poesia oitocentis-
ta: a originalidade do Simbolismo brasileiro
No tópico 2, pretendemos oferecer a você uma leitura 
atenta às especificidades do Simbolismo no Brasil, o qual, 
com o escritor João da Cruz e Sousa (1861-1898), moldou 
uma voz lírica própria, distinta — apesar do estreito diálogo 
estético entre eles — dos mestres franceses, como Charles 
Baudelaire (1821-1867), Arthur Rimbaud (1854-1891), 
Stéphane Mallarmé (1842-1898) e Paul Verlaine (1844-
1896). Esses, para relembrar as premissas que marcaram 
a estética da segunda metade do século XIX, perseguiram 
a forma bem acabada, a beleza absoluta da verdadeira arte, 
por meio de técnicas como a musicalidade dos versos e procedimentos de singularização, 
na trilha do que o escritor, poeta e crítico literário francês Théophile Gautier (1811-1872) 
defendeu como “arte pela arte”, a qual se colocava contra o utilitarismo, a mercantilização e 
o moralismo de vertentes explicitamente conservadoras, herdadas do Romantismo. 
É nesse contexto que precisamos inserir a obra de Cruz e Sousa, escrita na periferia, muito 
consciente sobre sua condição problemática, mas também atenta e bem informada sobre 
os movimentos artístico-literários do grande epicentro europeu da Belle Époque, Paris. Aliás, 
sobre o amadurecimento intelectual paulatino do escritor, afirma Souza:
Como a maioria dos escritores da sua idade, Cruz e Sousa iniciou a sua vida 
literária, ainda no final dos anos 1870, tentando reproduzir os cânones do 
romantismo. Sua adesão às propostas realistas, naturalistas e parnasianas, 
bem como a sua crítica antirromântica, só ocorreu gradualmente ao 
longo da primeira metade da década de 1880 e se confundiu, em grande 
parte, com o seu processo pessoal de construção de uma identidade 
abolicionista e republicana. A indissociabilidade entre sensibilidade estética, 
experimentação artística, perspectiva ideológica e militância política é um 
dos aspectos definidores da experiência histórica de muitos intelectuais da 
chamada “geração de 1870” e constitui um ponto importante na relação 
entre Cruz e Sousa e a cultura política do seu tempo. (SOUZA, 2017, p. 134)
Cruz e Sousa
19
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Os desclassificados 
do destino: Cruz e Sousa e os primeiros simbolistas (Rio de Janeiro, 1888-1898).
Cruz e Sousa é considerado, hoje, um dos maiores nomes da poesia brasileira da segunda 
metade do século XIX. A história da crítica no país, porém, ao se debruçar sobre sua obra, 
demonstra que sua reputação nunca foi unânime ou homogênea. Em vida, publicou dois 
livros: Missal, poemas em prosa, e Broqueis, poemas, ambos no ano de 1893. Filho de 
escravos alforriados, foi abolicionista comprometido e atuou fortemente na imprensa no 
início de sua trajetória, primeiro em Florianópolis, depois no Rio de Janeiro, para onde 
seguira definitivamente em 1890. Conquanto as tensões da realidade social não sejam 
claramente perceptíveis em um primeiro olhar sobre sua obra, é fato que sua poesia se 
edifica em imagens profundamente dissonantes, tensivas e contraditórias, situadas em 
um terreno limiar que beira o irracional, o que permite afirmar ter sido Cruz e Sousa um 
lírico moderno por excelência. 
Sua morte prematura interrompe uma trajetória poética promissora, de um artista 
conhecedor das principais vertentes da produçãoliterária norte-americana e europeia, 
sobretudo francesa. Os livros póstumos Evocações (poemas em prosa, 1898), Farois 
(poemas, 1900) e Últimos sonetos (1905) foram todos publicados graças ao empenho 
pessoal do escritor e crítico literário Nestor Vítor (1868-1932). Infelizmente, muitos foram 
os estigmas — como o fato de ser negro filho de escravos alforriados — que barraram 
uma avaliação literária atenta aos problemas colocados pela forma artística plasmada 
originalmente em território nacional. 
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar 119 da morte de 
Cruz e Sousa.
20
Nesse sentido, em sua fortuna crítica, alguns estudos podem ser mencionados como 
clássicos. Na década de 1940, Roger Bastide foi um dos primeiros a se dedicar a uma 
leitura atenta aos procedimentos literários do poeta, defendendo uma qualidade que o 
alçava junto aos principais escritores simbolistas europeus, como Mallarmé e Stefan 
George. Porém, em Quatro estudos sobre Cruz e Sousa, defendeu que a preferência ao 
branco por parte do poeta conformaria uma manifestação de resistência, uma tentativa 
de ultrapassar a condição limitadora de ser negro em um Brasil de herança escravocrata 
(lembre-se: a Abolição da Escravatura deu-se em 13 de maio de 1888, e Cruz e Sousa foi 
um fervoroso abolicionista). Na contramão, Massaud Moisés, em Três estudos sobre 
Cruz e Sousa, procura ler o branco como parte da convenção simbolista — os trabalhos 
de Bastide e de Massaud Moisés encontram-se na fortuna crítica dedicada a Cruz e 
Sousa, organizada por Afrânio Coutinho (1979).
Mais recentemente, no ensaio Sob o signo de Cam, Alfredo Bosi (1992) destaca o esforço 
de resistência do poeta às teorias pseudocientíficas da época. Em outra direção, Ivone 
Daré Rabello empenha-se em uma leitura imanente, muito bem lograda, de poemas 
em Entre o inefável e o infando (1999). Jefferson Agostini Mello, por sua vez, procura 
combinar imanência e leitura crítica da realidade em estudos sobre poemas em prosa de 
Cruz e Sousa, publicados sob o título Um poeta simbolista na República Velha (2008), 
apontando como o poeta marginalizado cria espaços ambivalentes experimentais que 
refratam uma realidade social precária.
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar João da Cruz e 
Sousa: de lá pra cá.
21
Leia-se o poema a seguir, Cavador do infinito, que veio a público no livro Últimos sonetos 
(1905), publicação póstuma de 1905, para observar as contradições pulsantes e a intensa 
musicalidade do texto lírico:
Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobre aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.
Ânsias, Desejos, tudo o fogo escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico infinito.
E quanto mais pelo Infinito cava
Mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...
Alto levanta a lâmpada do Sonho
E com seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias! 
Fonte: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/.
Obviamente essa rápida leitura da fortuna crítica dedicada a Cruz e Sousa apenas permite 
situá-lo na esfera da produção literária e da recepção crítica, abrindo caminho para 
leituras interpretativas atentas a alguns dos problemas que sua obra literária comporta. 
Esperamos que você busque conhecer um pouco a poesia e a prosa poética de Cruz e 
Sousa, que continua a figurar, nos dias de hoje, como das grandes produções da literatura 
brasileira da época moderna.
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/_documents/ultimos_sonetos-cruz.htm#cavador
22
O tempo e seus avessos em Lima Barreto: 
visões disfóricas da Belle Époque brasileira
Este tópico conclui a Unidade 1 da disciplina Literatura Brasileira 
e Modernidade examinando cuidadosamente alguns temas 
presentes na literatura de Afonso Henriques de Lima Barreto 
(1881-1922), escritor carioca que construiu uma obra literária 
forte, contundente e perspicaz o suficiente para figurar entre as 
principais do século XX.
Como escritor que presenciou as idas e vindas de uma 
modernização problemática na periferia do capitalismo, sem cair 
nos encantos superficiais bem presentes em muitos escritores da 
Belle Époque brasileira, Lima Barreto moldou visões críticas da modernidade ainda muito 
significativas nos tempos de hoje. Por exemplo, os interesses mesquinhos da imprensa 
e a falta de interesse da elite em tocar nas estruturas da desigualdade e do preconceito 
étnico-social no país ainda estão fortemente presentes, um século depois de escrita sua 
obra mais conhecida.
Na segunda coletânea de Carlos Drummond de Andrade, Brejo das almas (1934), o 
autor dá forma literária à aporia dos caminhos para os quais convergem as múltiplas 
constituições simbólicas da nacionalidade. “O Brasil não nos quer! Está farto de nós! / 
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?” (ANDRADE, 1967, p. 89). Denuncia, 
assim, com uma linguagem desataviada, coloquial e irônica, em pleno período de 
rotinização das conquistas modernistas, a deriva e a incongruência de qualquer imagem 
Lima Barreto
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Lima 
Barreto: um grito brasileiro.
23
estabilizada da nação. Em retrospecto, refrata a complexa teia de discursos e sensos 
comuns que contribuíram para forjar uma ideia problemática de caráter nacional. 
Nesse contexto, Drummond percorre um caminho de desconfiança e recusa que foi aos 
poucos sedimentado por obras produzidas durante a Belle Époque, como Triste fim de 
Policarpo Quaresma, de 1911, de Lima Barreto (1881-1922), e pelo Modernismo, sendo 
um exemplo emblemático de radical desestabilização da ideia de éthos da nacionalidade a 
obra Macunaíma (o herói sem nenhum caráter), de 1928, de autoria de Mário de Andrade 
(1893-1945). Colocar lado a lado duas obras-primas da literatura brasileira que retomam 
e questionam, em perspectiva diferenciada, o território acidentado de construção da 
brasilidade pode oferecer uma profícua perspectiva de análise e interpretação, o que 
tentaremos esboçar neste breve ensaio.
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma foi publicado inicialmente em folhetim, 
no ano de 1911, do Jornal do Commercio. Em 1916, saiu a primeira versão em livro. 
Considerado por muitos críticos o livro de ficção mais importante do período que ante-
cede ao Modernismo brasileiro, nele Lima Barreto conseguiu dar forma a uma narrativa 
inquietante, em terceira pessoa, que colocou em plano antinômico as expectativas do 
personagem principal, o utópico Policarpo Quaresma, que encarna a ética inabalável, 
em confronto com um mundo exterior arredio, desafiador e ameaçador, habitado por 
toda sorte de homens inconsequentes, hipócritas e individualistas. Como afirma o nar-
rador na caracterização do personagem: “Errava quem quisesse encontrar nele qual-
quer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro.” (BARRETO, 1998, p. 19).
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar O visionário 
Lima Barreto – Parte 1, com Lilia Moritz Schwarcz.
24
O livro, com uma linguagem objetiva, direta e sem adornos típicos dos contemporâneos de 
Lima Barreto, estrutura-se em três partes, as quais apresentam desilusões progressivas 
que abalam o mundo ético do personagem principal, até sua derradeira ruína, em linha 
que lembra o “romantismo da desilusão” abordado por Georg Lukács em A teoria do 
romance (2000). Resumidamente:
Como brasileiro cheio de ideais, Quaresma é o avesso da pluralidade indeterminada do 
inconstante Macunaíma. Mas, como sugeriu Beatriz Resende no título de seu ensaio 
Triste fim de Policarpo Quaresma: a exclusão do herói cheio de caráter, o “fim” que 
se encontra no título já crava “a impossibilidade mesma do heroísmo cheio de caráter 
de Policarpo Quaresma, tese que se verá definitivamente confirmada quando Mário de 
Andrade cria o antropofágico Macunaíma” (ROCHA,2003, p. 613). A autora não avança em 
uma leitura da rapsódia fragmentária e vanguardista que agrega lendas e mitos nacionais, 
entretanto é evidente o diálogo entre um e outro texto com seus respectivos desfechos 
aporéticos, desiludidos ou simplesmente desencantados. Policarpo Quaresma objetifica 
uma contundente crítica aos ideais em voga no contexto da Belle Époque brasileira, 
período retratado como envolto em disputas e arranjos casuísticos de poder, imitação 
acrítica de elementos estrangeiros, excessiva valorização do capital e descompromisso 
generalizado com a cultura popular e o pensamento crítico sobre o país.
PRIMEIRO 
O nacionalista inveterado e estudioso metódico Policarpo 
Quaresma, “doce, bom e modesto”, defende a oficialização 
da língua tupi e é considerado louco.
SEGUNDO
Como produtor rural comprometido com um pensamento 
progressista sobre o trabalho no campo, enfrenta a 
politicagem local e as devastadoras saúvas.
TERCEIRO
Luta ao lado do marechal Floriano Peixoto na Revolta da 
Arma, denuncia as atrocidades que se seguem à vitória e 
é fuzilado. O mito se esfacela pouco a pouco.
25
MIDIATECA
Acesse a midiateca da Unidade 1 e veja o conteúdo complementar Lima Barreto: a 
loucura e a urgência da escrita.
Nesse sentido, inclusive, a própria República recém-proclamada mostra sua face mais 
horrenda e autoritária em Triste fim, ao fuzilar o bom e dedicado Quaresma. “Essa 
atitude cosmopolita desvairada adentra por quase todo esse período”, como constatou 
Nicolau Sevcenko em Literatura como missão (2003, p. 51), e Quaresma é um autêntico 
personagem de resistência aos valores dominantes, embora a escrita não assuma a 
desintegração em sua condição imanente (BOSI, 2002). 
Entretanto, apesar da distopia que comporta o discurso romanesco, importa dizer que o 
fim do visionário Quaresma antecipa, contraditoriamente, o movimento modernista que 
tomaria forma no mesmo ano de sua morte, em 1922.
NA PRáTICA
Na prática, nosso objetivo é fazer com que o estudante desenvolva competências 
específicas como leitor de ficção e de poesia e como intérprete de obras literárias 
inseridas em determinados tempos e espaços. Além disso, nosso intuito é estimular 
que o aluno forme um repertório consistente de obras literárias, de modo que 
faça conexões entre reflexão epistemológica e reflexão crítica na abordagem de 
conteúdos específicos dos estudos de literatura brasileira. 
Nesse sentido, o estudante deverá compreender não só a historicidade e os 
desdobramentos da recepção de obras e de autores no espaço e no tempo, mas 
também a dinâmica estética do texto literário. Para tanto, é essencial conhecer os 
26
fundamentos da poética dos autores trabalhados, o que deve ser combinado com 
uma análise detida da linguagem do texto. A poesia de Cruz e Sousa é exemplar nesse 
sentido. Abordá-lo adequadamente em sala de aula de literatura brasileira implica 
conhecê-lo a fundo, bem como selecionar um conjunto de leituras críticas prévias 
reconhecidamente relevantes. Observe as considerações de Norma Goldstein sobre 
o poema Braços, de Cruz e Sousa, citadas por Silvana Oliveira no livro Análise de 
textos literários: poesia (2017):
No soneto Braços, de Cruz e Sousa, aparecem várias 
aliterações. O texto corresponde ao que o título anuncia: a 
descrição de membros superiores femininos. Observe as 
aliterações em destaque e procure verificar em que medida 
elas sugerem a visão da parte do corpo que está sendo 
descrita. As consoantes BR da palavra-título vão levar a 
sonoridade dessa palavra-chave para outras, produzindo 
um tipo de aliteração. Note também as outras aliterações 
destacadas no texto. (GOLDSTEIN, 2007, p. 74 apud OLIVEIRA, 
2017, p. 117)
Em seguida, a própria autora vai arrematar a análise procurando relacionar o plano 
da expressão (a estrutura do poema) ao plano do conteúdo (sua significação, 
seu sentido global), demonstrando conhecer a fundo as implicações da estética 
defendida pela produção lírica representativa da poesia brasileira:
Como é possível perceber, ao verificar a ocorrência de 
aliteração em um texto poético, o desafio de leitura é 
estabelecer um sentido para o seu efeito sonoro e relacioná-
lo ao sentido global do poema.
Para concluir a análise, podemos apontar que a descrição de 
uma parte do corpo feminino, o braço, pode ser associada 
aos sentimentos contraditórios da atração e medo que a 
entrega amorosa provoca. A sonoridade repetitiva que evoca 
a imagem obsessiva dos braços dá a dimensão do desejo 
27
recorrente que eles — e, por extensão, a mulher — provocam. 
Esse desejo é contraditório, pois a sua realização está 
associada à morte e ao amor, simultaneamente, evocando 
prazer e dor a um só tempo. (OLIVEIRA, 2017, p. 119)
No futuro, na condição de egresso, o graduado em Letras poderá exercer autonomia 
intelectual para mediar o conhecimento pedagógico de conteúdos relevantes para a 
formação crítica e cidadã dos alunos do ensino básico. Também, o futuro professor 
poderá — no exercício de sua profissão — estimular o diálogo e as interações no 
processo de ensino e aprendizagem, visando ao protagonismo dos sujeitos ao 
lidar com múltiplas linguagens e com as novas tecnologias da informação e da 
comunicação. Assim, na condição de mestres do amanhã, os estudantes deverão 
estar atentos para o fato de que:
As pesquisas atuais em didática da literatura, fundadas no 
estudo muito preciso de transcrições de curso, mostram 
que é a atenção dada ao aluno, enquanto sujeito, a sua 
fala e a seu pensamento construído na e pela escrita que 
favorece seu investimento na leitura. A importância do 
clima estabelecido no interior da comunidade interpretativa 
(a classe, o professor) é enfatizada: um contexto onde 
reinam a confiança, o respeito e a escuta mútuos é 
propício ao encontro com os textos literários — e é mesmo 
determinante. [...] E é sobre a emoção e a intelecção que 
se constroem a relação estética e a literatura. Pela leitura 
sensível da literatura, o sujeito leitor se constrói e constrói 
sua humanidade. (ROUXEL, 2013, p. 32-33)
Por fim, de modo sempre presente, pretendemos que você, nosso estudante, 
possa envolver-se efetivamente em atividades de formação continuada voltadas 
para o ensino da literatura, identificando as demandas da sociedade e formulando 
permanentemente perspectivas comprometidas com os enfrentamentos dos 
deveres e dos dilemas éticos da profissão. 
28
Resumo da Unidade 1
Nesta unidade da disciplina Literatura Brasileira e Modernidade, abordamos especifici-
dades da relação entre forma e conteúdo ou, ainda, texto e contexto da ficção e da poesia 
brasileiras de fins do século XIX e início do século XX, englobando as estéticas do Realis-
mo, do Simbolismo e do Pré-Modernismo brasileiros. Os autores aqui abordados foram 
Machado de Assis (1839-1908), Cruz e Sousa (1861-1898) e Lima Barreto (1881-1922). Es-
critores hoje considerados canônicos, sua assimilação ao que se poderia chamar de “pai-
deuma” de uma época, na expressão de Ezra Pound, aconteceu graças ao trabalho sis-
temático de grandes intérpretes de suas obras. Vozes originais, cada qual ao seu modo, 
interagiram com o sistema literário brasileiro. Como resultado, Machado de Assis, Cruz 
e Sousa e Lima Barreto — todos afrodescendentes em um espaço ainda bastante hostil 
à raça negra e seus descendentes — construíram vozes ficcionais ou líricas — em meio 
a uma diversidade de gêneros aos quais se dedicaram, como crônicas, epistolografias e 
ensaios — insubmissas, irônicas e heroicas, que comunicaram ao passado e continuam 
a comunicar hoje, com contundência, às gerações do presente e do futuro. 
Esta disciplina oferece perspectivas críticas sobre autores e obras considerados re-
presentativos dos fins do século XIX à primeira metade do século XX. Os seguintes 
autores, conceitos e processos histórico-literários foram abordados e relacionados, 
em perspectiva crítica, na Unidade 1: formação do cânone da literatura brasileira; Rea-
lismo; Simbolismo;Pré-Modernismo; Modernismo; Machado de Assis; literatura da 
Belle Époque brasileira; Machado de Assis; Cruz e Sousa; Lima Barreto.
CONCEITO
29
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https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/180893
Tensões brasileiras: 
tradição e vanguarda
UNIDADE 2
33
Ao longo da Unidade 2 da disciplina Literatura Brasileira e Modernidade, você terá 
oportunidade de entrar em contato com vertentes contemporâneas de teoria e crítica da 
literatura brasileira dedicadas a compreender obras e trajetórias conectadas ao processo 
de modernização literária no Brasil. 
Esperamos que você, estudante, esteja preparado, do ponto de vista da sensibilidade 
estética e do rigor intelectual, a interpretar o sentido e o alcance das inovações formais 
e temáticas introduzidas sob diversos prismas e matizes do movimento modernista 
brasileiro e de seus autores fundamentais, como Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald 
de Andrade (1890-1954), observando tensões e contradições nos discursos produzidos 
concomitantemente a grandes movimentos internacionais.
Nesse processo, esteja atento para dinamizar leituras inter, multi e transdisciplinares, 
relacionando a literatura aqui apresentada à produção artística da época. Também observe 
como os autores apresentam, como um dos grandes desafios, a aproximação do erudito 
ao popular. A brasilidade desenhada desde a literatura romântica aqui se moderniza, 
propondo-se, inclusive, a abordar o avesso da literatura até então reconhecida como 
merecedora de estudo e de circulação em rodas de sociabilidade literária, na imprensa e 
na academia.
Nesse ponto, pode-se afirmar: o Modernismo impulsionou uma verdadeira revolução 
estética e crítica, com diversas facetas, que não apenas queria modernizar a técnica, 
mas também desejava construir uma literatura nacional autêntica, que fosse às raízes 
da constituição de nossa brasilidade. Entretanto, não foi uma voz unívoca nem reputada 
como o único elemento catalizador de importantes mudanças. Nesse sentido, também 
daremos espaço a questionamentos, rupturas e vozes dissonantes que possam tornar 
mais complexa a leitura crítica do período que será debatido nesta unidade.
INTRODUçãO
34
OBjETIVO
Nesta unidade, você será capaz de:
• Interpretar o sentido e o alcance das inovações formais e temáticas introduzidas 
sob os prismas do movimento modernista brasileiro e de seus autores funda-
mentais, como Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954), 
observando tensões e contradições nos discursos produzidos concomitante-
mente a grandes movimentos internacionais.
35
As tendências de ruptura vanguardista bra-
sileira: a Semana de Arte Moderna de 1922 e 
suas consequências 
Figura 1: Cartaz da Semana de Arte Moderna. Brasil, cidade de São Paulo, 1922.
Fonte: wikipedia.org
O que a Semana de Arte Moderna de 1922 significou para o panorama 
literário brasileiro ao longo do século XX? Em que direção vão os estudos 
acadêmicos hoje para que possamos compreender o alcance e o enraiza-
mento de suas propostas para as décadas subsequentes?
https://pt.wikipedia.org/wiki/Semana_de_Arte_Moderna#/media/File:Arte-moderna-8.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Semana_de_Arte_Moderna#/media/File:Arte-moderna-8.jpg36
O país — que se modernizava, como sabemos, a passos lentos, com muitos parado-
xos que ainda hoje permanecem — apresentou configurações estéticas e ideológi-
cas bastante diversas da experimentação levada a cabo, por exemplo, pelos mo-
vimentos vanguardistas europeus da época. A Semana de Arte Moderna de 1922, 
realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, foi, em geral, celebrada como um marco.
Nessa data, entretanto, vemos uma série de estudos e reavaliações que procuram ofere-
cer novas perspectivas para velhas questões. 
Nesse sentido, podemos apontar críticos que retomam o marco modernista para ba-
lanço, como Silviano Santiago. Não há, assim, avaliações unívocas sobre a importância 
desse marco temporal, ora visto como essencial, ora visto como incidental, no panorama 
da historiografia literária brasileira. Sobre como o evento ganha as páginas da imprensa, 
sendo divulgado na arena pública, leiam-se as palavras do jornalista Marcos Augusto 
Gonçalves, autor de 1922: a semana que não terminou (2012): 
Na madrugada de 27 de janeiro de 1922, a cidade de São Paulo foi acor-
dada com um tremor. Janelas trepidaram, frascos de remédios pularam 
das prateleiras, ornamentos caíram de fachadas e animais entraram em 
alvoroço. [...] 
O tremor, é claro, virou o assunto da cidade. [...]
No domingo, dois dias depois do terremoto, o Correio Paulistano noti-
ciava que “diversos intelectuais de São Paulo e do Rio, devido à iniciati-
va do escritor Graça Aranha”, pretendiam apresentar no Municipal uma 
demonstração do que haveria “rigorosamente atual” no mundo artístico, 
da escultura à literatura, passando pela música, pela arquitetura e pela 
pintura. (GONÇALVES, 2012, p. 16)
O movimento, de fato, causaria abalo artístico-cultural paralelo ao terremoto acontecido 
poucos dias antes. Publicada 90 anos depois do evento, a obra 1922 apresenta um pano-
rama amplo dos antecedentes, além de fatos e movimentos posteriores ao evento. Situa 
o papel de expoentes, como o de Graça Aranha, que morava no Rio de Janeiro, e nomes 
que viviam na própria capital paulista, como Guilherme de Almeida (1890-1969), Victor 
Brecheret (1894-1955), Anita Malfatti (1889-1964), Tarsila do Amaral (1886-1973), Menotti 
del Picchia (1892-1988), Oswald de Andrade (1890-1954) e Mário de Andrade (1893-1945), 
entre outros. 
37
Vejamos como críticos de renome avaliam a Semana de Arte Moderna. Antonio Candi-
do — com sua criteriosa leitura de textos de modernistas, avaliados com a lupa de quem 
domina um repertório amplo de autores do cânone moderno europeu — assim analisa o 
movimento: 
A Semana da Arte Moderna (São Paulo, 1922) foi realmente o catalisador 
da nova literatura, coordenando, graças ao seu dinamismo e à ousadia de 
alguns protagonistas, as tendências mais vivas capazes de renovação, 
na poesia, no ensaio, na música, nas artes plásticas. Integram o movi-
mento alguns escritores intimistas como Manuel Bandeira, Guilherme de 
Almeida; outros, mais conservadores, como Ronald de Carvalho, Menotti 
del Picchia, Cassiano Ricardo; e alguns novos que estrearam com livre e 
por vezes desbragada fantasia: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, na 
poesia e na ficção; Sérgio Milliet, Sérgio Buarque de Holanda, Prudente 
de Moraes, neto, no ensaio. Dirigindo aparentemente por um momento, 
e por muito tempo proclamando e divulgando, um escritor famoso da 
geração passada: Graça Aranha. (CANDIDO, 2006, p. 124)
Silviano Santiago, por seu turno, anos depois e por outra chave, procuraria situar o movi-
mento como expressão de um entre-lugar, demarcando a necessidade de superar a crítica 
literária de viés modernista para lançar-se no que se pode denominar pós-modernidade:
Entre o sacrifício e o jogo, entre a prisão e a transgressão, entre a submis-
são ao código e a agressão, entre a obediência e a expressão — ali, nesse 
lugar aparentemente vazio, seu templo e seu lugar de clandestinidade, ali 
se realiza o ritual antropófago da literatura latino-americana. (SANTIAGO, 
2013, p. 30)
De qualquer modo, é o caso de reconhecer, logo de partida, que podemos reler critica-
mente as proposições estéticas introduzidas por participantes da Semana de Arte Mo-
derna de 1922, mas é fato que suas consequências para o panorama da literatura e da 
arte brasileiras no século XX foram e continuam sendo duradouras, sobretudo porque 
inseriram, nas artes e na cultura, um vivo desejo de revitalizar-se e de lutar contra um 
passado patriarcal e fundamentalmente baseado nas relações pessoais, matizado por 
uma máscara de republicanismo apenas de fachada: 
A combinação de uma nova perspectiva histórica, o novo espaço-tempo 
da cidade grande de pós-guerra, com uma bateria de estímulos artísticos 
38
europeus, tornou possível, historicamente, a Semana de Arte Moderna de 
1922. Como a tônica do grupo foi a modernização da linguagem, o segundo 
fator, estético, tem aparecido sempre como sobre determinante. A Semana 
pretendeu ser a abolição da República Velha das Letras. (BOSI, 2003, p. 210)
Importa ainda apontar para perspectivas críticas abertas por pesquisas recentes desen-
volvidas nos campos da literatura e da cultura brasileiras. A produção dos escritores mo-
dernistas (ou simplesmente modernos, sobretudo quando as propostas estão em campo 
crítico com relação a certo cosmopolitismo de natureza estetizante) é exemplar de uma 
produção ao rés do chão e de caráter mais informal se compararmos com a geração 
amadurecida nas décadas anteriores, por volta de 1900. Tal como foi apontado por Júlio 
Castañon Guimarães em Contrapontos: notas sobre correspondência no modernismo 
(2004), ao falar da importância da escrita epistolográfica para a geração modernista, é 
praticamente impossível não mencionar uma sociabilidade peculiar dessa geração, que 
troca impressões e se fortalece por meio de documentos que percorrem a vida privada, e 
não só por obras que circulam no mercado de bens simbólicos, ainda incipiente no país. 
Para Guimarães: “Em termos amplos, pode-se falar, em relação à carta, da ‘instabilidade 
de suas formas’, ‘dessa forma sempre em movimento’, do ‘caráter essencialmente híbrido 
do gênero’ e de ‘gênero de fronteira’.” (GUIMARÃES, 2004, p. 11). 
Desse modo, uma leitura atenta da correspondência e de outros documentos inéditos 
de arquivos de escritores ligados à modernização no Brasil permitiria delimitar o contex-
to em que se forma uma narrativa solta, aparentemente despropositada, comprometida 
com a comunicabilidade, oferecendo suporte para se avaliar a importância de autores 
diversos, com perspectivas e anseios diferenciados. A obra efetivamente publicada pode, 
então, ganhar novos destaques e balizas.
39
Sobre as possibilidades abertas com estudos 
sobre a epistolografia de escritores brasileiros (e 
outros documentos de arquivos pessoais, por ex-
tensão), é esclarecedora a afirmação do pesqui-
sador e professor universitário Marcos Antonio de 
Moraes: 
A correspondência de escritores, artistas plásticos e músicos, 
documentação de caráter privado que vem suscitando grande 
interesse editorial no Brasil, abre-se para pelo menos três fecun-
das perspectivas de estudo. Pode-se, inicialmente, recuperar na 
carta a expressão testemunhal que define um perfil biográfico. 
Confidências e impressões espalhadas pela correspondência 
de um artista contam a trajetória de uma vida, delineando uma 
psicologia singular que ajuda a compreender os meandros da 
criação da obra. A segunda possibilidade de exploração do gêne-
ro epistolar procura apreender a movimentação nos bastidores 
da vida artística de um determinado período. Nesse sentido, as 
estratégias de divulgação de um projeto estético, as dissensões 
nos grupos e os comentários acerca da produção contemporâ-
nea aos diálogos contribuem para que se possa compreender 
que a cena artística (livros e periódicos, exposições, audições, al-
tercações públicas) tem raízes profundas nos “bastidores”, onde, 
muitas vezes, situam-se as linhas de força do movimento. Um 
terceiro viés interpretativovê o gênero epistolar como “arquivo 
da criação”, espaço onde se encontram fixadas a gênese e as 
diversas etapas de elaboração de uma obra artística, desde o 
embrião do projeto até o debate sobre a recepção crítica favore-
cendo a sua eventual reelaboração. A carta, nesse sentido, ocu-
pa o estatuto de crônica da obra de arte. A crítica genética, ao 
considerar a epistolografia um “canteiro de obras” ou um “ateliê”, 
busca descortinar a trama da invenção, o desenho de um ideal 
estético, quando examina as faces dos processos da criação. 
(MORAES, 2007, p. 30)
Saiba mais
40
Por fim, vale dizer que discursos de fronteira como cartas, anotações, diários, crônicas 
etc. podem oferecer uma base precisa para o desenvolvimento de novos e originais es-
tudos, atentos para movimentos públicos e de bastidores, para declarações abertas e 
para reflexões íntimas, para o manifesto e o sub-reptício, de modo a flagrar a literatura — 
sempre em movimento — como um terreno de manifestação da complexidade humana. 
Elas colaborarão para dinamizar os estudos acadêmicos sobre o período, abrindo novas 
sendas de leitura e interpretação. Leia-se, nesse sentido, a apreciação crítica realizada a 
partir de leituras das cartas de Mário de Andrade enviadas a Henrique Lisboa, quando a 
estudiosa Eneida Maria de Souza tece considerações precisas sobre a relação complexa 
de Mário de Andrade com o nacionalismo:
O projeto estético de Mário de Andrade, amadurecido e divulgado não 
apenas pela sua obra como pelas discussões em artigos, livros e cartas, 
persistiu até a sua morte, como pode-se comprovar por uma das car-
tas endereçadas a Henriqueta, em 1944. Na realidade, o nacionalismo 
que presidia esse projeto não impedia o olhar para fora, ao contrário, se 
construía a partir da articulação entre os dois polos. Por ocasião da guer-
ra, ao projeto estético se acrescenta a ideologia política, o que irá tornar 
o intelectual mais empenhado na defesa de uma literatura de combate. 
(SOUZA, 2000, p. 303)
Portanto, convém sempre ler nas linhas e nas entrelinhas como as trajetórias moder-
nas se constroem ao longo do tempo, inclusive como releem sua atuação. A apreciação 
crítica de Eneida Maria de Souza joga luz para o fato de que o compromisso estético e 
ideológico não é uma via de mão única; de outro modo, delineia-se, às vezes, no calor da 
hora, conforme os projetos se articulam e espaços são abertos, em diálogo com a tradi-
ção e com as perspectivas inovadoras que se abrem em contato com um mundo cada 
vez mais interligado, conectado, globalizado.
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professor nas Mídias 1 e 2.
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Vozes altissonantes do Modernismo brasi-
leiro: Mário de Andrade e Oswald de Andrade 
Nomes consagrados no panteão de escritores modernistas, Mário de Andrade (1893-
1945) e Oswald de Andrade (1890-1954) foram amigos durante os anos mais combativos 
da década de 1920. Participaram ativamente do movimento modernista, tendo formado 
com outros modernistas — como o chamado Grupo dos Cinco, composto por Tarsila 
do Amaral (1886-1973), Anita Malfatti (1889-1964), Menotti del Picchia (1892-1988) e os 
próprios Oswald e Mário — um laço de profunda amizade e de trabalho. Entretanto, diver-
gências em princípio pessoais — mas que guardam nítidas discordâncias no campo da 
criação literária, como ficaria visível nos anos subsequentes — os afastariam. Oswald de 
Andrade caminha para um estilo mais experimental, ao passo que Mário de Andrade se 
nacionaliza, com uma voz própria, cada vez mais atenta à diversidade brasileira. 
Os nomes elencados apontam as linhas gerais da atualização estética em voga na dé-
cada de 1920 no Brasil. Nesse contexto, as obras de Mário de Andrade e de Oswald de 
Andrade produzidas em finais da década de 1920 tornam-se paradigmáticas do nosso 
Modernismo, de modo que, retomadas, estudos críticos e releituras continuariam a ser 
realizados subsequentemente. 
Figura 2: Mário de Andrade.
Fonte: www.cartaeducacao.com.br
http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/medio/o-poeta-mario-de-andrade/
http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/medio/o-poeta-mario-de-andrade/
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Mário de Andrade normalmente é apontado como o grande nome da Semana de Arte 
Moderna. Curioso e inquieto, em 1922 já tinha se lançado como poeta quando funcionou 
como uma espécie de elemento aglutinador modernista. Saiu em defesa da amiga Ani-
ta Malfatti quando esta foi publicamente criticada por Monteiro Lobato. Segundo João 
César de Castro Rocha (2011), Monteiro Lobato teria relativamente acertado ao desferir 
uma crítica àqueles que preferiam emular as escolas estrangeiras em vez de retratar o 
Brasil “bem brasileiro”. O criador do Jeca Tatu começava assim seu texto mais conhecido 
desferido contra a jovem pintora Anita Malfatti, apontando “duas espécies de artistas”:
Uma é composta dos que veem normalmente as coisas e em consequên-
cia fazem arte pura [...]. A outra espécie é formada dos que veem anor-
malmente a natureza e a interpretam à luz de teorias efêmeras, sob a su-
gestão de escolas rebeldes, surgidas lá e cá como furúnculos da cultura 
excessiva. São produtos de cansaço e do sadismo de todos os períodos 
de decadência: são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. 
(LOBATO, 1917)
 
Uma das reações a essa crítica lobatiana foi unir os amigos modernistas em defesa de 
Anita. A crítica teria agido como um catalisador do movimento, a fim de se defender dos 
ataques e buscar solidificar perspectivas modernas a partir do Brasil. Muitos foram os 
acontecimentos, eventos e obras que vieram a reboque. A técnica se fortalecia, enquan-
to o movimento criativo percorria novas sendas, como as pesquisas empreendidas por 
Mário de Andrade — sobretudo após meados da década — para estudar a cultura e a arte 
popular brasileiras. Desse seu interesse e de sua perspicácia, nasce o belo Macunaíma, 
publicado em 1928. 
Figura 3: Capa da primeira edição de Macunaíma.
Fonte: wikipedia.org 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Macuna%C3%ADma#/media/File:Capa_de_Macuna%C3%ADma_2.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Macuna%C3%ADma#/media/File:Capa_de_Macuna%C3%ADma_2.jpg
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Segundo Alfredo Bosi, Macunaíma combina dois projetos (BOSI, 2003, p. 188): 
•	 Um motivado pela narração, que é “lúdica e estética”. 
•	 Outro motivado pela interpretação, “que é histórica e ideológica”.
Para esse crítico literário brasileiro e professor: “Há em Macunaíma um tratamento nar-
rativo da matéria e uma estilização da linguagem que nasceram de certas opções artís-
ticas impensáveis sem a referência direta às poéticas de vanguarda modernista.” (BOSI, 
2003, p. 189). O subtítulo do livro, “sem nenhum caráter”, aliás, seria explicado pelo pró-
prio autor em texto de prefácio fixado, em 1972, pela pesquisadora e professora Marta 
Rossetti Batista:
O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria 
nem consciência tradicional. Os franceses têm caráter e assim os joru-
bas e os mexicanos. Seja porque civilização própria, perigo iminente, ou 
consciência de séculos tenha auxiliado, o certo é que esses uns têm ca-
ráter. Brasileiro (não). Está que nem o rapaz de vinte anos: a gente mais 
ou menos pode perceber tendências gerais, mas ainda não é tempo de 
afirmar coisa nenhuma. (ANDRADE, 2016, p. 250)
Mário de Andrade propõe-se a captar a alma do trickster, “frequente arquétipo mitológico, 
encontrado em diversas culturas, que surge como um mediador, para resolver contra-
dições” (BARRETO, 2016, p. 202). No entanto, como afirma Barreto, o personagem não 
consegue realizar o ciclo completo do trickster, que migra do princípio do prazer para o 
princípio da realidade. Assim o é quando é derrotado por Vei, a Sol: 
Dizem que um professor naturalmente alemão andou falando por aí por 
causa da perna só da Ursa Maior que ela é o saci... Não é não! Saci inda 
para neste mundo espalhando fogueira e trançando crina de bagual... A 
Ursa Maior é Macunaíma. É mesmo o herói capenga que, de tantopenar 
na terra sem saúde e com muita saúva, se aborreceu de tudo, foi-se em-
bora e banza solitário no campo vasto do céu. (ANDRADE, 2016, p. 243)
44
Figura 4: Oswald de Andrade.
Fonte: wikipedia.org
No mesmo ano da publicação de Macunaíma, em 1928, Oswald de Andrade, na Revista 
de Antropofagia, lançaria o Manifesto antropófago, em que propõe a fusão entre passa-
do e presente, entre o culto e o popular, as referências consideradas nobres e as profanas. 
Não há, como podemos perceber, uma ênfase à razão e à cronologia; o manifesto propõe, 
outrossim, a subversão, uma assimilação cultural que recusa estabelecer dualidades e se 
sintonizar com uma ideia ilustrada de modernização:
[...] Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto 
a felicidade.
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de 
Médicis e genro de D. Antônio de Mariz. 
A alegria é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama.
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.
Somos concretistas. As ideias tomam conta, reagem, queimam gente nas 
praças públicas. Suprimamos as ideias e as outras paralisias. Pelos rotei-
ros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas. (AN-
DRADE, 1928)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_de_Andrade#/media/File:Oswald_de_andrade_1920.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Oswald_de_Andrade#/media/File:Oswald_de_andrade_1920.jpg
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Sua obra adensa-se e, muito embora tenha passado por relativo ocaso nas décadas de 
1930 e 1950, passa a ser relida, com inteligência, por artistas e intelectuais sobretudo 
após 1950, como é o caso dos concretistas — faziam parte do movimento concretista 
os irmãos Campos, Augusto (1931) e Haroldo (1929-2003), e Décio Pignatari (1927-
2012) — e da Tropicália, movimento cultural brasileiro multidimensional levado a cabo 
por artistas e intelectuais como Caetano Veloso (1942), Gilberto Gil (1942), Hélio Oiticica 
(1937-1980), Glauber Rocha (1939-1981), José Celso Martinez Corrêa (1937) e Torqua-
to Neto (1944-1972).
Contudo, em meio a intelectuais, artistas e escritores que passaram a ser conhecidos em 
território nacional, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade, há outros que também 
surgiram como pontas de lança do movimento de renovação artística e cultural no Brasil 
das décadas de 1920 e 1930. Esse é o caso do sociólogo, antropólogo e ensaísta Gilber-
to Freyre, que proporcionou outro sentido (e alternativa, como veremos a seguir) para a 
experiência moderna brasileira.
Agora, vamos refletir sobre a seguinte questão: houve outros projetos de 
modernização, concomitantes àqueles do eixo Rio de Janeiro-São Paulo, 
circulando pelo Brasil da primeira metade do século XX? Quais teriam 
sido suas características, suas ideias principais e suas consequências 
mais visíveis?
Destacar problemáticas estéticas e ideológicas presentes em obras produzidas fora do 
eixo Rio de Janeiro-São Paulo — o qual concentrou os influxos da modernidade vanguar-
dista no Brasil — é nosso objetivo neste momento. Um conceito que pode colaborar com 
o nosso mapeamento é o de modernidades alternativas. Portanto, será mister aprofundar 
uma dinâmica de leitura inter e transdisciplinar, visto que a literatura — em especial fora 
do mercado de produtos simbólicos de paulistas e cariocas — se mistura com os outros 
campos artísticos e intelectuais, como artes plásticas, planejamento urbano, arquitetura, 
música popular, história, política etc.
Desenvolveremos algumas reflexões nesse sentido no próximo tópico, recordando que 
será fundamental, a partir de agora, sedimentar um discurso que se liberte do texto pro-
priamente verbal, procurando flagrar possibilidades, conexões e leituras que agreguem 
formas, propostas e possibilidades elaboradas para além das fronteiras disciplinares. As-
sim, o próprio modelo de sala de aula física como ambiente colaborativo pode reverberar 
o que buscamos no espaço virtual, estimulando a busca por informações a fim de que se 
transformem em conhecimento:
46
Esse compartilhamento constante entre os professores passa a ser com-
preendido pelos estudantes como uma forma mais ampla de acesso aos 
conhecimentos. A perspectiva interdisciplinar busca quebrar o paradig-
ma de que as disciplinas devem ser apresentadas separadamente, como 
se não tivessem relações entre si. (GONÇALVES; SILVA, 2018) 
Nessa direção, caminhamos para o entendimento de que, para compreender a multiplici-
dade que as produções estéticas modernistas nos colocam, é fundamental buscar pers-
pectivas interdisciplinares a fim de quebrar paradigmas redutores em prol do protagonis-
mo dos estudantes. Tal postura de compartilhamento de saberes, abertura e empatia, 
sem dúvida, é crucial nos dias de hoje, quando o desempenho profissional exige a inte-
gração, a convivência e o aprofundamento compartilhado de saberes. Nesse sentido, as 
leituras literárias podem colaborar para o desenvolvimento de habilidades, competências 
e saberes.
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47
A província entre passado e futuro: moder-
nidades alternativas a partir de produções 
periféricas 
Neste tópico, daremos destaques ao que denominamos como modernidades alternati-
vas, ou seja, aos discursos sobre a modernidade brasileira que acrescentam elementos 
diferentes àqueles sedimentados no esteio das obras produzidas por Mário de Andrade 
ou Oswald de Andrade.
No diálogo da literatura com outros campos do saber, até mesmo a culinária é fonte de pro-
postas modernizadoras que seriam digeridas ao longo das décadas posteriores no Brasil 
do século XX. Esse fato nos permite chegar a uma leitura mais complexa sobre o processo 
modernizador brasileiro: ele não foi um movimento de uma única direção, mas se caracteri-
zou por uma diversidade de propostas, de leituras, de posturas estéticas e ideológicas, por 
buscas formais e críticas que fossem diferentes daquelas que chegavam sob a roupagem 
dos movimentos vanguardistas internacionais — como o Futurismo, o Surrealismo, o Da-
daísmo, o Cubismo e outras propostas estéticas em voga naquele momento. 
Figura 5: Gilberto Freyre.
Fonte: wikipedia.org 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gilberto_Freyre#/media/File:Gilberto_Freyre1.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gilberto_Freyre#/media/File:Gilberto_Freyre1.jpg
48
Nesse sentido, afirma, de modo esclarecedor, o crítico literário e professor universitário 
Antonio Dimas sobre a obra do ensaísta pernambucano Gilberto Freyre, que se moldou 
como uma das vozes mais proeminentes no questionamento da ânsia modernizadora 
superficial que teria se apossado do Brasil na década de 1920:
Na particularização a que desce, Gilberto se compraz em esmiuçar fun-
ções consideradas menos nobres que o exercício do intelecto. Dessa for-
ma, ao esquadrinhar a diversificada culinária regional brasileira, sua inquie-
tude renovadora não apregoa, como de costume, a erradicação de hábitos 
europeus consolidados, que funcionam como verniz superficial sobre nos-
sa efusiva indigência mental e cultural, mas apregoa, sim, um mergulho 
no nosso próprio ethos. Em resumo, o que Gilberto propõe é que nos des-
vencilhemos de um passado europeizado recente que, eventualmente, nos 
descaracteriza. Sua proposta vai mais fundo, porque busca num passado 
mais distante os elementos coloniais que concorreram para constituir nos-
sa então incipiente nacionalidade. Nostálgico do campo, seu comporta-
mento metodológico leva-o para junto de muitos daqueles historiadores 
ingleses como Raymond Williams ou Keith Thomas, que nunca despre-
zaram e nem omitiram o envolvimento pessoal confesso na restauração 
intelectual do passado nacional. (DIMAS, 2004, p. 22-23)
Como afirma o próprio Antonio Dimas (2004), a provocação maior de Gilberto Freyre 
— autor da obra-prima de interpretação do Brasil Casa-grande & senzala (1933) — não 
era propriamente dirigida ao intelecto. Diferentemente, seus estímulos — apesarde uma 
atuação bastante ligada à produção escrita muito atuante na vida pública por meio da 
imprensa periódica — seriam sensoriais, atuando nas experiências relacionadas ao coti-
diano, à vida comezinha, aos processos de amadurecimento subjetivo fortemente ligados 
à atuação social, ao ser em interação com seu meio — homens, animais, plantas, comi-
das, sons da infância e da vida popular, festas, manifestações religiosas autênticas etc. 
O burburinho da rua entra, portanto, no espaço doméstico sem que seja possível separar 
o que é público e o que é privado; o que é rural e o que é urbano; o que é tradição e o 
que é vanguarda. Desse modo, é fato que, em torno do sociólogo formado nos Estados 
Unidos, reuniu-se um conjunto de intelectuais fortemente engajados em compor leituras 
historicamente sensíveis de espaços múltiplos, reverberando de espaços como Recife e 
outros, de modo a combinar originalmente estética e história — como bem afirma João 
Alexandre Barbosa no texto Gilberto Freyre e a literatura: alguns conceitos (Cf. BARBO-
SA, 2004), em movimento pendular, compreensivo, agregador, reflexivo e crítico:
49
Se, por um lado, São Paulo prega uma renovação essencialmente literá-
ria, por outro, Pernambuco acrescenta a História no centro do debate, de 
modo que Estética e História passam a ser, uma para a outra, o ponto de 
tensão que garantiria o exercício, bem logrado, de leituras modernas do 
passado e da cultura popular do país. [...] O aspecto provinciano, pois, en-
fatizaria o primeiro lado da tensão, mas, se observarmos que o conceito 
dava abertura para a vanguarda cosmopolita em seu interior, o próprio 
termo “provinciano” estaria, em movimento pendular entre Estética e His-
tória, procurando o justo e sempre problemático equilíbrio entre ambos 
os paradigmas. (DIAS, 2017, p. 322)
Diante do exposto, pergunta-se: o que significam modernidades alterna-
tivas? Estaríamos diante de configurações alternativas de modernidade 
quando discorremos sobre autores que se dedicaram a problemas regio-
nais ou brasileiros em contraposição à tendência cosmopolita em voga?
O conceito, correntemente empregado na área de estudos de sociedades, culturas e his-
tória, destaca que pode haver projetos de modernização em disputa no globo — segundo 
concepção presente no livro organizado por Daniel Aarão Reis e Denis Rolland (2008) — 
desde pelo menos o século XVII, quando os primeiros movimentos liberais começavam 
a tomar forma sobretudo em território europeu, como Inglaterra e França. Tomando em-
prestado o termo para a seara da análise literária, é possível observarem-se diferentes lei-
turas e apropriações do conceito de modernidade, o que nos permitiria compreender que, 
no Brasil daquele período, já era possível antever a natureza heteróclita das proposições 
modernas, em diálogo permanente entre si, apesar da diversidade de posturas estéticas e 
de visões éticas: por exemplo, enquanto a modernidade centrada em São Paulo era mais 
ligada à direção apontada pelas vanguardas estéticas internacionais, que questionavam 
fortemente as convenções literárias tradicionais, ocorriam outras visões de modernidade 
abertas a conciliar vertentes mais ligadas à tradição, sem rupturas substanciais. 
Nesse sentido, o conceito de identidades múltiplas, trabalhado pelas autoras Mariza Ve-
loso e Angélica Madeira (1999), pode render leituras renovadas da obra de Gilberto Freyre, 
como afirma Sérgio Paulo Rouanet em prefácio ao livro Leituras brasileiras, das autoras 
supracitadas:
Enfim, o conceito de identidades múltiplas é indiretamente introduzido 
por uma citação de Gilberto Freyre, destinada a ilustrar o perspectivismo 
metodológico do autor, sua capacidade de assumir, por empatia, diferen-
50
tes pontos de vista. Ele se coloca do ponto de vista “do homem, do adulto, 
do branco, mas também do menino, da mulher, do indígena, do negro, do 
afeminado e do escravo”. É quase o interacionismo de George Herbert 
Mead, que supõe a capacidade de role-taking, de assumir a perspectiva 
de vários Outros, até que o processo se consume com a internalização do 
ponto de vista do generalized Other, o ponto de vista do gênero humano 
como um todo. Pode-se imaginar que em nosso mundo globalizado, em 
que o sujeito cartesiano se desfaz em mil estilhaços, a experiência das 
identidades múltiplas venha a rotinizar-se, e que o pluriperspectivismo de 
Gilberto se transforme no protótipo de uma subjetividade pós-moderna, 
congruente com os processos globais de internacionalização e fragmen-
tação. (ROUANET, 1999, p. 24)
Para Ricardo Benzaquen de Araújo, sem dúvida, ao focarmos a obra de Gilberto Freyre, 
estamos “lidando com uma modernidade alternativa, polifônica e nada estetizante, capaz 
de aliar a degustação de iguarias estrangeiras com o consumo da comida regional, o en-
volvimento pessoal com a distância acadêmica, a ciência, enfim, com a boemia” (ARAÚ-
JO, 1994, p. 197).
Esse viés alternativo de Gilberto Freyre acaba por reverberar em outros autores. Um gran-
de exemplo da junção de perspectivas cosmopolitas e provincianas em nossa literatura 
é a poesia de Manuel Bandeira (1886-1968). A trajetória do poeta pernambucano — que 
será, inclusive, objeto de reflexões mais detidas em outro momento — percorre uma pau-
latina aproximação de elementos do cotidiano popular por meio das memórias da infân-
cia, que se refletem e refratam (por meio da forma literária esteticamente trabalhada) a 
riqueza do meio social em transformação, que busca uma voz brasileira e um espaço 
autenticamente nacional. Nesse sentido, não é surpreendente notar que os modernistas 
brasileiros — entre eles, o próprio Manuel Bandeira, que via com ressalvas esse rótulo, 
embora fosse um moderno da primeira fila — tenham tido uma enorme sensibilidade 
crítica ao discorrer sobre as especificidades da língua portuguesa do Brasil. Em outras 
palavras, há um contorno nítido a uma crítica que procura destacar as características 
próprias do português brasileiro, afeito à oralidade, de ritmo próprio, mais maleável em 
sua multiplicidade de contatos com outras vertentes além da portuguesa europeia, como 
as línguas africanas e as indígenas:
51
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
 Ao passo que nós
 O que fazemos
 É macaquear
 A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam. (BANDEIRA, 2017, p. 259)
No poema de Manuel Bandeira, é visível como a voz lírica busca a coloquialidade e o co-
tidiano. Em outras palavras, a voz do homem simples, à margem do processo de moder-
nização excludente, ganha contornos próprios, que permitiriam observar a realidade por 
perspectivas diferentes. No poema, a métrica é livre, há inúmeras imagens evocativas 
e a narratividade flui a partir de elementos do cotidiano — que se mostram à rua — por 
meio de versos longos que se alternam com versos curtos, de sintaxe entrecortada. Ao 
longo de 80 versos, o olhar percorre retratos e paisagens heterogêneas (vendedores de 
rua, logradouros, os contornos da mulher brasileira, comidas etc.), e a perspectiva subje-
tiva multiplica-se ao se abrir para o que ocorre à sua volta com empatia e aceitação do 
diferente. 
Como afirmamos em outra ocasião, é como se, em um poema como Evocação do Reci-
fe, pudéssemos constatar dois grandes movimentos tensivos da modernidade brasileira 
em ação: a região e a tradição de Freyre e o aspecto estético do modernismo paulista, 
presentificados, por exemplo, na cadência entrecortada do verso livre e no recurso à co-
lagem (DIAS, 2017, p. 322). O éthos da nacionalidade, assim, passa a ganhar contornos a 
partir de um encontro entre o eu e o outro, o subjetivo e o objetivo, a voz lírica e a história, 
processo este que deixaria marcas profundas na literatura do período e depois. Se essa 
vertente seria uma a mais ao longo da década de 1920, ganha contornos