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HIPERTENSÃO ARTERIAL NA APS Internato de Atenção Primária Prof. Dimítria Lengruber Sesquim Médica de Família e Comunidade, CRM 13.007, RQE 10182. Mestre em Políticas Públicas http://lattes.cnpq.br/2512056062614499 http://lattes.cnpq.br/2512056062614499 CASO CLÍNICO: Doralice • Mulher, 50 anos, sem comorbidades, procura atendimento médico na UBS do seu bairro pois está apresentando dor de cabeça e acredita que sua pressão possa estar alta. • Relata comer de tudo, nega restrições, • “Sou cozinheira de mão cheia” • Nega prática de atividade física de forma regular, nega tabagismo ou etilismo. • Trabalha realizando faxina. • Nega exames laboratoriais recentes, não costuma ir na UBS para consultar. • Durante a consulta.... • IMC 32 • PA MMSSD: 150 x 95 mmHg Qual o diagnóstico? O que você faria? Vamos discutir? Como você orientaria o seu paciente a respeito da medida de pressão arterial? • Recomenda-se que a PA no consultório seja medida em ambos os braços pelo menos na primeira consulta, porque uma diferença de PAS entre os braços > 15 mmHg é sugestiva de doença ateromatosa e está associada a um risco CV aumentado. • Se uma diferença entre os braços < 15mmHg da PA for registrada, recomenda-se que todas as leituras subsequentes da PA usem o braço com uma leitura mais alta da PA. • Recomenda-se que o diagnóstico de HA seja baseado em medições repetidas da PA em consultório em mais de uma consulta, exceto quando é HA estágio 3 e especialmente em pacientes de alto risco. Em cada consulta, três medidas da PA devem ser registradas, com 1 a 2 minutos de intervalo, e medidas adicionais devem ser realizadas se as duas primeiras leituras diferirem em > 10 mmHg. A PA do paciente é a média das duas últimas leituras da PA. • Recomenda-se que o diagnóstico de HA seja baseado em medição de PA fora do consultório com MAPA e/ou MRPA, desde que essas medidas sejam viáveis (logisticamente e economicamente). Qual vantagem ou desvantagem de cada método? Como você orientaria o seu paciente a realizar MRPA? MRPA *6ª DIRETRIZES DE MONITORIZAÇÃO AMBULATORIAL DA PRESSÃO ARTERIAL E 4ª DIRETRIZES DE MONITORIZAÇÃO RESIDENCIAL DA PRESSÃO ARTERIAL Diagnóstico dos vários tipos de comportamento da PA • A avaliação complementar tem como objetivo detectar lesões clínicas ou subclínicas em órgãos-alvo, no sentido de melhor estratificar o risco cardiovascular (CV). A avaliação laboratorial básica deve fazer parte da rotina inicial de todo paciente hipertenso: Doralice retorna ... • K+ 4.3, CR 0,80, GJ 97, CT 200, LDL 115, HDL 43, TG 160, AC úrico 5, EAS sem alteração. • MRPA: 130x80, 145x90, 149x93, 150x95, 155x90, 135x85, 130x90... • PA na consulta: 145x95 mmHg Qual é o diagnóstico? Qual é a função renal ? Qual é o Risco cardiovascular? Como você iniciaria o tratamento? Qual é a meta pressórica? OBS: PA consultório x MAPA (vigília/sono) X MRPA Doralice: HAS estágio 1 Função Renal • CKD-EPI Verde: bom prognóstico e baixo risco; Amarelo: risco intermediário, devendo-se monitorizar o paciente; Laranja: alto risco, mau prognóstico, com obrigatoriedade de referenciar para o especialista; Vermelho: risco muito alto, mau prognóstico e obrigatoriedade de referenciar para o especialista Risco Cardiovascular • Risco Global • Framingham • Fatores de risco - Estimar o risco de eventos cardiovasculares em médio e longo prazos; - Determinar o nível de atenção à saúde, como frequência dos atendimentos; - Determinar a precocidade de início do tratamento farmacológico; - Determinar a intensidade do controle dos fatores de risco modificáveis. Porque estimar Risco cardiovascular? Doralice: HAS 1 Dislipidemia IMC > 30 TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO OBS: 30g/dia de etanol = 625ml de cerveja (um pouco menos de duas latas), 93,7ml de uísque (pouco menos de duas doses), 312,5ml de vinho. Alimentos ricos em K+: damasco, abacate, melão, leite desnatado, iogurte desnatado, folhas verdes, peixes (linguado e atum), feijão, laranja, ervilha, ameixa, espinafre, tomate e uva-passa. Identificar recursos na comunidade TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Medicações disponíveis nas UBSs da PMV oDiurético Tiazídico -> Hidroclorotiazida oAntagonista da aldosterona -> espironolactona oBeta bloqueadores -> Propranolol, Atenolol oIECA -> captopril, enalapril oBRAII -> Losartana oBetabloqueadores de Canais de Cálcio -> Anlodipina oVasodilatador direto -> Hidralazina oAntiadrenérgico central -> Metildopa oDiurético de Alça -> Furosemida Monoterapia • Monoterapia: estratégia anti-hipertensiva inicial para pacientes com HA estágio 1 com risco CV baixo ou com PA 130-139/85-89 mmHg de risco CV alto, ou para indivíduos idosos e/ou frágeis. • Na ausência de uma condição clínica específica, as principais classes de medicamentos para início de monoterapia são: ➢Diurético Tiazídico ➢IECA ➢BRA ➢Bloqueador do canal de cálcio Escolhendo o Anti-hipertensivo... ❖Younger patients (eg, <50 years) respond best to ACE inhibitors or ARBs and beta blockers. ❖Black patients and older adults (ie, age ≥60 years) often respond best to a thiazide diuretic or long-acting calcium channel blocker. However, many older hypertensive patients have a specific indication for an ACE inhibitor or ARB, including heart failure, prior myocardial infarction, and proteinuric chronic kidney disease. In the absence of such indications, thiazide diuretics or long- acting calcium channel blockers are reasonable initial drugs. IECA: Reduz a morbidade e mortalidade CV. Comprovadamente úteis em ICFEr e antirremodelamento cardíaco pós-IAM, além de possíveis propriedades antiateroscleróticas. Também retardam o declínio da função renal em pacientes com doença renal do diabetes ou de outras etiologias, especialmente na presença de albuminúria (vasodilatação da arteríola eferente e redução da pressão de filtração glomerular) CONTUDO... o 5 -20% dos pacientes podem ter tosse seca o Se a perda da função renal for importante (> 30%), deve-se retirar o medicamento e investigar a possibilidade de estenose bilateral das artérias renais ou estenose de artéria renal em rim único funcionante. o Diminui a eliminação de potássio, não causa depleção de magnésio. o Podem provocar hiperpotassemia em pacientes com insuficiência renal, sobretudo nos diabéticos, e o uso é contraindicado na gravidez, pelo risco de complicações fetais. BRAII: oIndicações e eficácia similares com IECA. oSe paciente bem adaptado e com boa resposta ao IECA, não deve-se mudar para BRAII. oParticularmente indicado nos pacientes que não toleramos efeitos adversos do IECA (tosse) oTambém contraindicado na gravidez, orientar cuidados nas mulheres em período fértil. DIURÉTICOS: oHidroclorotiazida é menos potente e tem meia-vida menor que DIU-like (clortalidona e indapamida). oDIU-Like são mais indicados em HÁ resistente ou refratária oDIU-Like/ HCTZ e osteoporose (reabsorção de cálcio no túbulo distal diminuindo excreção urinária de cálcio) oDIU de alça (furosemida) está indicada nas condições clínicas com retenção de sódio e água, como a insuficiência renal (creatinina > 2,0 mg/dL ou o ritmo de filtração glomerular estimado ≤ 30 mL/min/1,73m2) e situações de edema (IC, síndrome nefrítica). OBS CKD-EPI. oOs DIU poupadores de potássio (espironolactona) podem ser utilizados em associação aos tiazídicos ou DIU de alça. A espironolactona tem sido habitualmente utilizada como o quarto medicamento a ser associado aos pacientes com HA resistente e refratária. CONTUDO... oFraqueza, cãibras, hipovolemia e disfunçãoerétil. oHipopotassemia é o efeito metabólico mais comum (principalmente DIU de alça- furosemida) e, frequentemente acompanhada de hipomagnesemia, que podem provocar arritmias ventriculares, sobretudo a extrassistolia. A hipopotassemia também reduz a liberação de insulina, aumentando a intolerância à glicose oDIU poupadores de potássio (espironolactona) estão associados com hiperpotassemia e pode causar ginecomastia masculina (ação anti- androgênica). oO aumento do ácido úrico é um efeito quase universal dos DIU, podendo precipitar crises de gota nos indivíduos com predisposição. BLOQUEADOR DO CANAL DE CÁLCIO: oOs dihidropiridínicos (anlodipino, nifedipino) exercem efeito vasodilatador predominante, com mínima interferência na FC e na função sistólica, sendo, por isso, mais frequentemente usados como medicamentos anti-hipertensivos. oOs não di-hidropiridínicos (verapamila, diltiazem), têm menor efeito vasodilatador e agem na musculatura e no sistema de condução cardíacos. Por isso, reduzem a FC, exercem efeitos antiarrítmicos e podem deprimir a função sistólica, principalmente nos pacientes que já tenham disfunção miocárdica, devendo ser evitados nessa condição. CONTUDO... Edema maleolar, hipercromia do terço distal das pernas (dermatite ocre) e a hipertrofia gengival são efeitos adversos ocasionais. Os não di-hidropiridínicos podem agravar a IC, além de causar bradicardia e bloqueio atrioventricular. Também associados com constipação e rubor facial. BETA BLOQUEADOR: oIndicado no paciente pós-infarto agudo do miocárdio e angina do peito, IC com fração de ejeção reduzida, fibrilação atrial, controle da frequência cardíaca, tremor essencial, e em mulheres com potencial de engravidar. • Não seletivos (receptores adrenérgicos beta-1 cardíaco e beta-2 músculo liso/pulmão/vasos) –> propranolol • Cardiosseletivos (receptores adrenérgicos beta-1) –> atenolol, metoprolol, bisoprolol • Ação vasodilatadora (antagonismo ao receptor alfa-1 periférico) -> carvedilol, nebivolol CONTUDO... Broncoespasmo, insuficiência circulatória periférica, bradiarritmias, insônia. Contraindicados em pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e bloqueio atrioventricular de segundo e terceiro graus. • JNC 8 Hypertension Guideline Combinação de fármacos A combinação de fármacos é a estratégia terapêutica preferencial para a maioria dos hipertensos, independentemente do estágio da HA e do risco CV associado. Meta pressórica - Associação americana: Todos < 130x80 mmHg // Muito idoso >80 anos, tolerável 150x90 - Em idosos, o correto é tratar metas como individuais, considerando- se a qualidade de vida do paciente, o risco de quedas, a fragilidade, a independência e a presença de comorbidades! Doralice retorna após 2 meses na consulta de demanda.... • Doutora estou preocupada, minha pressão deu 18 x 10 lá fora! • Mas como doutor? Eu já não como nada... • Se bem que...Eu esqueço de tomar o remédio em alguns dias... • Inclusive minha receita acabou e eu estou sem remédio há 1 semana • Tenho que cuidar da casa, trabalhar • é muita coisa pra eu fazer doutor! • Além disso meus filhos me dão trabalho, fico preocupada... • Exame físico cuidadoso foi realizado sem encontrar alterações. O que você faria? Estratégias para melhorar adesão ➢ Sugerir que as pessoas registrem suas tomadas de medicação. ➢ Encorajar o auto monitoramento da doença (ex., por meio de medidores automáticos). ➢ Simplificar a posologia. ➢ Preparar caixas de medicações com compartimentos para cada medicação e horário. ➢ Redigir as receitas com linguagem mais clara, especificando horários ou com símbolos para pacientes que não souberem ler. Crise Hipertensiva PA sistólica (PAS) ≥ 180 e/ou diastólica (PAD) ≥ 120 mm Hg O tratamento da URGÊNCIA deve ser iniciado após um período de observação clínica em ambiente calmo, condição que ajuda a afastar casos de pseudocrise (tratados somente com repouso ou uso de analgésicos ou tranquilizantes). Captopril (ORAL), clonidina e BB são os anti- hipertensivos orais usados para reduzir gradualmente a PA em 24 a 48 horas. O uso de gotas de cápsulas de nifedipino de liberação rápida na UH deve ser proscrito no tratamento das UH, por não ser seguro nem eficaz, além de provocar reduções rápidas e acentuadas da PA, o que pode resultar em isquemia tecidual • O tratamento dos pacientes com EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA visa redução rápida da PA, com a finalidade de impedir a progressão das LOA. QUANDO REFERENCIAR? PA RESISTENTE: PA de consultório NÃO CONTROLADA apesar do uso de TRÊS OU MAIS ANTI- HIPERTENSIVOS em doses adequadas (incluindo preferencialmente um diurético) OU PA de consultório EM USO DE QUATRO OU MAIS MEDICAMENTOS COM CONTROLE PRESSÓRICO. PA REFRATÁRIA: PA não controlada sob o uso de CINCO OU MAIS ANTI- HIPERTENSIVOS: MAPA. HAS SECUNDÁRIA: -Hipertensão resistente. -Piora do controle em pacientes previamente estáveis. -Início antes dos 20 ou após os 50 anos. -Presença de lesões significativas em órgãos- alvo. -Ausência de história familiar de HAS. -Achados clínicos ou laboratoriais sugestivos. Pacientes com hipertensão arterial raras Pacientes com doença clínica grave não controlável em atenção primária. Referências • 8ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Novembro, 2020. • American Heart Association hypertension guidelines, 2021. • 4ª Diretrizes de monitorização residencial da pressão arterial. • DUNCAN, Bruce Bartholow et al. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. • GUSSO, Gustavo D. F., LOPES, Jose M. C. Tratado de Medicina de Família e Comunidade – Princípios, Formação e Pratica. Porto Alegre: ARTMED, 2019. Slide 1 Slide 2: CASO CLÍNICO: Doralice Slide 3 Slide 4: Vamos discutir? Slide 5 Slide 6 Slide 7: MRPA Slide 8: Diagnóstico dos vários tipos de comportamento da PA Slide 9 Slide 10: Doralice retorna ... Slide 11 Slide 12: Função Renal Slide 13: Risco Cardiovascular Slide 14 Slide 15: TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO Slide 16 Slide 17: Identificar recursos na comunidade Slide 18: TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Slide 19: Medicações disponíveis nas UBSs da PMV Slide 20: Monoterapia Slide 21: Escolhendo o Anti-hipertensivo... Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31: Combinação de fármacos Slide 32 Slide 33: Meta pressórica Slide 34: Doralice retorna após 2 meses na consulta de demanda.... Slide 35: Estratégias para melhorar adesão Slide 36: Crise Hipertensiva Slide 37 Slide 38 Slide 39: QUANDO REFERENCIAR? Slide 40: Referências Slide 41 Slide 42