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Desenvolvimento Humano e Religiosidade Linda Siokmey Tjhio Cesar Pestana REVISÃO Msc. Rafael José Oliveira Ofemann PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Msc. Flávio Santos UNICAP DIGITAL Rua do Príncipe, 526 - Bloco C - Salas 303 a 305 Boa Vista - Recife-PE - Cep: 50050-900 Telefone +55 81 2119.4335 1ª Edição Copyright © 2023 de Universidade Católica de Pernambuco Copyright © 2023 de UNICAP DIGITAL Sumário Unidade 1 4 Objetivos da Unidade 5 1. Introdução 6 1.1 Teorias psicológicas da religiosidade 10 1.2 Desenvolvimento cognitivo e religiosidade 20 Síntese da Unidade 24 Referências 25 Unidade 2 27 Objetivos da unidade 28 Introdução 29 1. O ser humano nas religiões e culturas 30 2. Visões do ser humano nas tradições religiosas 39 Síntese da Unidade 46 Referências 48 Unidade 3 50 Objetivos da unidade 51 1. Representações do sagrado e profano na perspectiva da finitude humana 52 2. A sacralização do tempo e do espaço 68 Síntese da Unidade 72 Referências 72 Unidade 4 74 Objetivos da unidade 75 1. Experiência do sagrado, subjetividade e intersubjetividade 76 2. Desenvolvimento humano e educação religiosa 86 Conclusão – Transdisciplinaridade e Ensino Religioso 91 Referências 92 Unidade 1 Formação da personalidade e religiosidade Bem-vindo e bem-vinda, estudante! Desenvolvimento humano e religiosidade é um tema vasto e com inúmeras possibilidades de enfoque. Sem a pretensão de abarcar tudo, este Guia de Estudo, como o nome já diz, foi preparado para servir como um roteiro a partir do qual cada estudante poderá desenvolver seus aprofundamentos. Esperamos que você aproveite cada vídeo, figura, leitura e atividade proposta aqui! Nesta disciplina, iremos pensar em duas questões básicas: • Qual a relação e a interação entre desenvolvimento humano e religiosidade? • Quais as implicações dessa ligação no ensino-aprendizagem da Educação Básica? Ao longo das quatro Unidades, tomaremos contato com a relação da religiosidade com teorias de formação da personalidade e desenvolvimento cognitivo; a visão de ser humano nas várias religiões e tradições culturais; representações do sagrado e profano na perspectiva da finitude humana, sacralização do tempo e do espaço; a experiência do sagrado, subjetividade e intersubjetividades para sonharmos juntos um Ensino Religioso transdisciplinar e transformador para nossos estudantes. Mas, iremos com calma. A cada Unidade, um novo saber, combinado? Então, convido você a respirar fundo e mergulhar juntos nesta primeira e agradável aventura de descobertas e experiências pelos meandros da formação da personalidade, desenvolvimento cognitivo e religiosidade. Vamos lá! Objetivos da unidade • Compreender a importância da espiritualidade/religiosidade na formação humana e pensar, criativamente, em aplicações práticas que favoreçam a educação integral de estudantes na Educação Básica. • Conhecer algumas teorias psicológicas da religião e seus autores. • Perceber ligações entre formação da personalidade, desenvolvimento cognitivo- comportamental e religiosidade. 6 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade 1. Introdução Iniciaremos nossa conversa falando sobre educação integral humana e a participação do Ensino Religioso (ER) na formação de estudantes conforme a BNCC, então, observaremos as relações entre desenvolvimento psicológico-cognitivo- comportamental e religiosidade conforme alguns autores; tudo isso, em meio às preciosas reflexões pessoais de cada aprendiz, que são essenciais para o melhor aproveitamento desta disciplina. Atualmente, não tem como pensar em educação sem levar em conta o desenvolvimento humano em sua integralidade, ou seja, em todas as suas dimensões (física, emocional, mental e espiritual). Dentre essas, daremos destaque à dimensão espiritual, uma vez que ela guia e organiza as demais. A dimensão espiritual ou espiritualidade é inerente a todo ser humano, e pode ser desenvolvida de forma secular ou atrelada a uma religião, quando recebe o nome de religiosidade. Manifestamos nossa espiritualidade através de valores, ética, crenças, práticas e comportamentos que adotamos nas nossas relações conosco, com os outros, com a natureza e com o transcendente, e que interferem profundamente em nosso desempenho social, laboral e acadêmico desde o Ensino Fundamental até a velhice. Por essa razão, há séculos, educadores e filósofos têm se empenhado em propor uma educação que forme seres humanos com pensamento crítico, cidadania, ética, liberdade, piedade e igualdade, os quais fazem parte da dimensão espiritual. Vejamos alguns exemplos: Desde o século V, Agostinho, em De Magistro (1973, p. 319-356), destacou a importância da maiêutica socrática no processo de parir o pensar, recordar, questionar, falar, intuir e atuar do educando. Mais tarde, no século XVII, Comenius, em Didactica Magna (2001, p. 101-110, 119-126, 204-329), afirmava que para “ensinar tudo a todos” como direito e cidadania, era preciso semear e regar fundamentos com naturalidade e arte, pois o resultado seria o desenvolvimento de inteligência, memória, língua e prática de bons costumes e piedade. No século XVIII, Rousseau (1995, p. 5-57) questionou a pedagogia imposta pelo poder sociopolítico marcado por maldade, tirania e servidão do absolutismo e feudalismo, propondo uma formação voltada para virtude, ética, liberdade e participação igualitária. Essas são algumas das sementes lançadas no passado, que têm contribuído para tantos movimentos que têm ampliado a visão sobre a educação e resultaram no ER que temos hoje: uma área de conhecimento voltada à educação integral humana e à capacidade 7 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade de lidar com a diversidade cultural/religiosa desvinculada de proselitismos, num contexto de democracia, inclusão, ética, estética, autonomia e cidadania. Em 2010, celebramos o reconhecimento do ER como uma das cinco áreas de conhecimento do Ensino Fundamental (BRASIL, 2018, p. 435); e por 20 anos (de 2017 a 2037), essa disciplina obrigatória e de matrícula facultativa nas escolas públicas deverá permanecer inserida na BNCC (BRASIL, 2018). Que grande conquista, não é mesmo? Recentemente, o educador e filósofo Ferdinand Röhr (2013) defendeu a educação que liga imanência com transcendência e possibilita ao indivíduo sair de si em direção ao outro num percurso que desenvolve suas cinco dimensões humanas (física material/biológica, física sensorial, emocional, mental e espiritual), sobretudo, a espiritual. Para esse docente, a espiritualidade potencializa o processo educativo- formativo de estudantes, pois os ajuda a transcender em amor, serviço, perdão, alegria, criatividade, intuição, liberdade, compaixão e empatia, os quais tornam o contexto ensino-aprendizagem mais afetivo e efetivo. De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p. 441), os códigos de ética e moral das filosofias de vida e das religiosidades funcionam como “balizadores de comportamento” que favorecem “o respeito à vida e à dignidade humana, o tratamento igualitário das pessoas, a liberdade de consciência, crença e convicções, e os direitos individuais e coletivos”. Aliás, você conhece a BNCC e o que ela diz sobre o Ensino Religioso? Em consonância com o Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire (2002), vale a pena promover em sala de aula, um ambiente de partilhas horizontais, empáticas, igualitárias e solidárias entre diferentes, uma vez que todos somos sujeitos inacabados numa teia de relações com diversas etnias, gêneros e culturas que nos enriquecem como seres humanos. Enquanto todos ensinam e aprendem mutuamente em meio à diversidade, construímos coletivamente, um mundo melhor, recheado de pessoas mais criativas, livres, praticantes de ética, respeito, inclusão, escuta, reflexão crítica, humanização, autonomia, defesa dos direitos humanos e prevenção de violências de várias naturezas. Antes de prosseguir, acesseeste link abaixo e dê uma olhada nas informações sobre o Ensino Religioso conforme a BNCC (BRASIL, 2018, p. 435-459). Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base 8 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Percebe a importância do que estamos estudando? As interações entre desenvolvimento humano e espiritualidade/religiosidade afetam os processos de aprendizagem na Educação Básica e a qualidade das relações de um indivíduo ao longo de toda a sua existência. Nesta jornada tudo está interligado: o início, o fim e tudo ao redor. Para facilitar a nossa comunicação, usaremos as definições de espiritualidade e religiosidade adotadas por Hill e Pargament et al. (2000), onde religiosidade está mais ligada a contextos institucionais estabelecidos e tradicionais, e espiritualidade refere-se a contextos não tradicionais. Ambas envolvem crenças, práticas, experiências, busca por transcendência e sentido que interferem na forma como um sujeito se enxerga, compreende o mundo, age, se comporta e se conecta com o que há de sagrado nos seres vivos e no universo. Conforme esses autores, a religiosidade é uma forma de espiritualidade onde a identidade, o senso de pertença, o sentido da vida e o bem-estar estão atrelados a um viver consagrado que aproxima o humano do divino em contextos institucionais estabelecidos e tradicionais à luz de dogmas, rituais particulares ou coletivos de fé e adoração ao divino/sobrenatural, envolvendo orações/rezas, leitura de textos sagrados, Para refletir sobre como tudo está interligado e tem consequências, assista: “Velhice, como se preparar?” preparado pela autora, com carinho, para que no futuro, cada um/a de nós não se torne uma “mala sem alça”, mas sim, uma mala de rodinhas, gostosinha de levar para passear por todo canto (duração de 10m37s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=50chugGm2rQ A dimensão espiritual, ou espiritualidade, guia e organiza as demais dimensões humanas (física material/sensorial, emocional e mental). Ela é inerente a todo ser humano e pode ser desenvolvida de forma secular ou atrelada a uma religião, quando recebe o nome de religiosidade. Manifestamos nossa espiritualidade através de valores, ética, crenças, práticas e comportamentos que adotamos nas nossas relações conosco, com os outros, com a natureza e com o transcendente, e que interferem em nossa personalidade, nosso desempenho social, laboral e acadêmico desde o Ensino Fundamental até a velhice. https://www.youtube.com/watch?v=50chugGm2rQ 9 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade normas específicas de comportamento, práticas de apoio mútuo baseadas em promessas e mandamentos divinos. A espiritualidade secular e desvinculada de religião também envolve crenças, pensamentos, práticas, comportamentos, sentimentos, experiências, ajuda mútua, altruísmo, busca por transcendência, autocompreensão e sentido, mas, realiza-se em contextos não tradicionais e sem conotação religiosa, através de técnicas seculares de relaxamento e meditação transcendental. Ambas podem ser complementares no desenvolvimento da personalidade e crescimento pessoal, uma vez que, conforme o indivíduo e a situação, uma ou outra oferecem uma melhor contribuição. Também, o fato de uma pessoa ser religiosa não a impede de buscar espiritualidades seculares e vice-versa. Uma coisa não exclui a outra, mas pode levar e se somar à outra com equilíbrio e adaptação, numa parceria dialogal, inclusiva e respeitosa que, aliás, combina muito bem conosco, cientistas da religião, não é mesmo? Desde o século passado, estudiosos têm observado que a adesão a religiões institucionalizadas e tradicionais tem diminuído, enquanto o número de adeptos a práticas de espiritualidades ligadas ao budismo, hinduísmo e islamismo têm crescido muito. Nos últimos 30 anos, especialmente, percebe-se que a geração de baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964, após a Segunda Guerra Mundial) afirma ter fé, mas, pratica sua espiritualidade de forma mais espontânea, personalizada e privada, sem os dogmatismos da religião, por meio de meditação transcendental, ioga, teosofia, bioenergética, envolvimento com movimentos sociopolíticos, entre outros (ZINNBAUER; PARGAMENT; SCOTT, 1999). É interessante notar que há aspectos positivos e negativos ligados à espiritualidade e religiosidade. A religiosidade pode promover intimidade com Deus, pertença à uma comunidade de apoio, senso de missão, fé baseada em promessas e mandamentos divinos, vínculos afetivos baseados em valores e ética considerados elevados, sustentando fiéis, especialmente, nas piores crises; por outro lado, ela também tem sido associada a intolerância, violências e a uma vigilância que oprime, gera culpa e neurotiza. Já a espiritualidade tem sido associada à obtenção de paz, harmonia e redução de estresse, mas, por ser tão eclética, seu reforço quanto a identidade, senso de pertença e sentido da vida das pessoas não é tão evidente/eficiente. Ou seja, cada uma tem vantagens e desvantagens, dependendo do que e como estamos analisando cada uma delas (HILL, PARGAMENT et al., 2000). Para legitimar cientificamente a relação entre espiritualidade/religiosidade e saúde, psicólogos da religião têm investido em métodos e ferramentas de medição. Hill e Pargament (2017, p. 53-58) destacam que essas pesquisas relacionam a capacidade de transcender e a conexão com o sagrado à personalidade das pessoas, à forma de manifestar afeto, sociabilidade, apego, autoestima, vulnerabilidade ao estresse, 10 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade autorregulação, ansiedade, amabilidade, maturidade, trabalho, cognição, crenças e experiências sagradas, que, por sua vez, sofrem influências das tradições religiosas e das regiões envolvidas. A espiritualidade e a religiosidade têm uma participação positiva no enfrentamento de desafios, bem-estar e sentido da vida, mas também, há os que as criticam como responsáveis por gerar negação da realidade, preconceitos, fundamentalismos, tensões intergrupais, depressão, sentimento de culpa, medo, suicídio etc. Por isso, é interessante acompanhar os avanços em medição, teoria, pesquisa e prática de espiritualidade/religiosidade, pois ajudam a investigar, comparar e compreender as relações delas com a vida das pessoas (HILL, PARGAMENT, 2017, p. 68-69). 1.1 Teorias psicológicas da religiosidade Pesquisadores do desenvolvimento humano e crescimento pessoal têm apresentado conceitos e técnicas diferentes que, necessariamente, não se opõem, mas se complementam. Cada autor apresenta uma teoria da personalidade – um conjunto de conceitos e suposições referentes ao comportamento humano nas relações sociais – que nos ajuda a compreender e lidar melhor com o ser humano que somos. Por exemplo, enquanto psicólogos ocidentais visam fortalecer o ego por meio de técnicas voltadas à autonomia, autodeterminação, autorrealização, domínio, libertação de neuroses; os orientais se concentram no desenvolvimento transpessoal (além do ego e da personalidade) onde, pela meditação e outras disciplinas da Num experimento de duas semanas, envolvendo três grupos de voluntários que, por 20 minutos diários, praticavam (meditação religiosa/espiritual, meditação secular e técnicas de relaxamento), foi pedido que mantivessem a mão em água gelada (2 C) pelo tempo que aguentassem. Os dois últimos grupos apresentaram resultados semelhantes, porém, o primeiro mostrou o dobro de eficiência na diminuição da resposta cardíaca à dor e à ansiedade. Assim, apontou-se que práticas religiosas associadas a promessas e mandamentos sagrados podem ter um efeito maior do que as frases e práticas seculares de meditação/relaxamento e pensamento positivo, quanto a tolerância à dor, ao estresse, à ansiedade e ao desânimo em meio às demandas do cotidiano. Fonte: WACHHOLTZ, AmyB. PARGAMENT, Kenneth I.. Is Spirituality a Critical Ingredient of Meditation? Comparing the Effects of Spiritual Meditation, Secular Meditation, and Relaxation on Spiritual, Psychological, Cardiac, and Pain Outcomes. Journal of Behavioral Medicine, Vol. 28, No. 4, August 2005, p. 369-384). 11 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade consciência, o sujeito transcende a experiência pessoal cotidiana e busca a harmonia com o todo. Levando em conta o ser integral, cada indivíduo tem oportunidade de viver sua imanência (a interioridade e concretude do ser), a transcendência (a busca pelo que está além do mundo material e do controle humano), a existência (a própria história desde o nascimento até a morte) e a essência (a condição humana de criatura em relação ao Criador). Fadiman e Frager (2004, p. 19-20) destacam as virtudes e a eficácia de cada abordagem, comparando-as a perspectivas de cegos apalpando partes diferentes de um mesmo elefante; ainda que diversos, cada ponto de vista tem sua relevância dependendo da pessoa e da circunstância em análise. Consideram que além do padrão biológico inato de crescimento, nós possuímos uma tendência para o desenvolvimento psicológico “descrita como esforço para a autorrealização, ou seja, o desejo de compreender a si mesmo e a necessidade de utilizar ao máximo a nossa capacidade”. Nestas abordagens, o self (a totalidade do ser) tem significados diferenciados conforme o autor. Para quem tiver interesse em aprender sobre as várias teorias da personalidade e do crescimento/desenvolvimento humano, Fadiman e Frager (2004) apresentam e comparam de forma clara, interativa e bem interessante as diferentes abordagens, os principais conceitos, fatores que atrapalham o crescimento, as histórias de seus precursores, sugestões de reflexões/atividades práticas para serem realizadas individualmente ou em grupo. São 519 páginas de conhecimentos esclarecedores que convidam a reflexões e transformações terapêuticas fascinantes. Vale a pena conferir! A obra está disponível na forma de eBook em “Minha Biblioteca”, integrada à Unicap: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/user/check? userCheckReturnTo=/reader/books/9788536317939/pageid/0. Acesso em: 25 nov. 2021. FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Personalidade e crescimento pessoal. [Tradução de Daniel Bueno]. 5. ed.. Porto Alegre: Artmed, 2004. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/user/check?userCheckReturnTo=/reader/books/9788536317939/pageid/0 12 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Segue uma “palhinha” do conteúdo da obra (FADIMAN; FRAGER, 2004) para que você possa ter uma ideia do que diz cada autor/a da teoria: Freud mostrou que comportamentos irracionais e doenças mentais decorriam de conteúdos inconscientes reprimidos/recalcados e pulsões (sexual/vida e destrutiva/ morte) numa estrutura mental composta por id, ego e superego em constantes conflitos e conciliações ao longo das fases de desenvolvimento (oral, anal, fálica, genital). Para ele, o ego é a parte da psique que necessita ser fortalecida para equilibrar as demandas do id (pulsões), do superego (códigos morais) e da realidade externa para garantir a saúde da personalidade. Anna Freud apresentou os mecanismos de defesa do ego (repressão, negação, racionalização, formação reativa, projeção, isolamento, regressão, sublimação) que podem estar presentes numa pessoa saudável, mas, se utilizados sem consciência e autocompreensão, podem dominar o ego, obscurecer a realidade, obstruir nossa capacidade de funcionar com flexibilidade, gerando neuroses. Winnicott observou que a identidade pessoal – o sentido de ser – prospera num ambiente de amor e brincadeiras, especialmente, de espelhamento da atenção da “mãe suficientemente boa” (ou do/a cuidador/a direto/a). Com as adequadas transições, entre o “eu informe” para o “eu plenamente formado”, entre a subjetividade e o mundo externo, pessoas escapam de viver um falso self (voltado apenas para a reação dos outros), para desenvolver o verdadeiro self. Carl Jung propõe o processo de “individuação” e fortalecimento da personalidade (introvertida ou extrovertida) nas quatro funções (pensamento, sentimento, intuição, sensação) pela integração de todas as partes da psique (conscientes e inconscientes), rumo à completude. Ele ofereceu chaves de decodificação ao apresentar o poder dos símbolos, os arquétipos da personalidade (ego, persona, sombra, anima/animus, self), o inconsciente coletivo, associando a libido não só com a energia sexual (como fez Freud), mas à energia psíquica generalizada vinda de fenômenos místicos e religiosos. Adler explica que as percepções (metas e expectativas) determinam o comportamento das pessoas mais do que as experiências passadas. O impulso por poder e superioridade/perfeição, a agressividade, o complexo de inferioridade e a compensação movimentam, positivamente, indivíduos para superação, a criatividade, a adaptação, o sentido de valor próprio e a autorrealização desde que estejam num contexto de comunidade, interesse e cooperação sociais, nunca isolados. Erik Erikson mostra o ciclo de oito estágios de desenvolvimento contínuo da personalidade desde o nascimento até a velhice. A cada estágio, indivíduos se equilibram entre dois extremos (crise) e aprimoram virtudes que funcionam como forças inerentes do desenvolvimento positivo e saudável do senso de identidade, e que possibilitam o ingresso para o próximo estágio. Os elementos das crises e as respectivas virtudes relacionadas entre parênteses são: Confiança básica/ 13 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Desconfiança básica (Esperança), Autonomia/Vergonha e dúvida (Vontade), Iniciativa/ Culpa (Finalidade), Diligência/Inferioridade (Competência), Identidade/Confusão de identidade (Fidelidade), Intimidade/Isolamento (Amor), Geratividade/Estagnação (Consideração), Integridade/Desespero (Sabedoria). Reich aponta que sensações e emoções se manifestam no corpo em forma de tensões musculares – “couraça corporal” – ligadas a inibições de instintos, sobretudo, sexuais. São sete anéis de contração muscular (ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal, pélvico) que sinalizam proteção e repressão de sentimentos/ comportamentos contra experiências desagradáveis, mas que resultam em diminuição na capacidade de prazer no organismo, que, por sua vez, afeta as funções mentais e vegetativas. Para uma pessoa se desenvolver, é preciso saber equilibrar controle e liberação de energia das emoções, do corpo e da mente. William James identifica o self como aquele que reconhecemos ao despertar. O self apresenta os níveis: biológico, material, social, espiritual. Para ele, os estados alterados de consciência e intuitivos são úteis para se ter uma ideia da vontade humana (resultado de esforço e atenção), a qual é muito influenciada pelas emoções, as quais, por sua vez, dependem do feedback do corpo. Numa concepção pragmática, a personalidade é definida por emoções, manifestações físicas, percepções, comportamentos e pensamentos que fluem. Skinner criou modos de medir, prever e compreender o comportamento humano observável (behaviorismo), onde mente e corpo não são separáveis. Ele aponta a importância do reforço positivo na construção da personalidade e critica as “ficções explanatórias” (liberdade, homem autônomo, dignidade, criatividade, self), que não levam em conta os elementos reforçadores que precedem e sucedem o comportamento em questão. De acordo com ele, castigos não funcionam para eliminar comportamentos inadequados e sim, o retorno positivo preciso e imediato que acelera o processo de aprendizagem, a capacidade de minimizar condições adversas, o esclarecimento do pensamento para o controle de si e do ambiente. Carl Rogers acreditava que pela auto-observação e autoavaliação de suas próprias experiências cada pessoa podese desenvolver natural e positivamente, pela consciência de suas emoções e da realidade de seu ser. O self ideal é o que um indivíduo almeja e o impulsiona a se desenvolver, porém, se é muito diferente do self real, pode levá-lo a sentir-se desconfortável e inibir seu crescimento. A personalidade equilibrada e a saúde mental decorrem da congruência entre experiência, comunicação e consciência, onde cada pessoa se vê com precisão, assume o poder pessoal para transformações necessárias, sente-se confortável consigo mesma na sua forma de ser, pensar e agir sem ter que negar-se ou dissimular sentimentos em função das expectativas dos outros. Maslow propôs a pirâmide de necessidades (fisiológica, segurança, afiliação e amor, estima e autorrealização) onde pessoas desenvolvem seu self mais profundo à medida em que suprem suas necessidades das mais básicas para aquelas que as 14 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade tornam plenas, maduras e integradas. Com uma visão clara da vida e transpessoal (para além de si mesmas), atuam com criatividade, espontaneidade, concentração, coragem, amor, altruísmo e trabalho árduo equilibrado com escolhas favoráveis ao seu crescimento. Ao contrário das pressões e maus-hábitos que inibem o crescimento, o sagrado/misticismo e as realizações culturais/sociais contribuem para a saúde e o bem-estar, percebidos por uma melhor eficiência biológica (longevidade, sono, apetite), envolvimento emocional mais profundo com o mundo, pensamento holístico, maior sentido de mistério (espiritualidade), respeito/admiração/apreciação, satisfação, humildade, alegria, entre outras experiências transcendentes. Ioga e a Tradição Hindu enfatiza a tranquilização da mente, a fluidez da energia vital pelos sete Chacras, a concentração da consciência, a alegria e a autorrealização no self (essência imortal e imutável da pessoa), através de técnicas de respiração, meditação, disciplina e posturas corporais que nos purificam psicológica e espiritualmente. É importante diminuir as tendências subconscientes (vindas de experiências passadas que moldam negativamente a mente), e desenvolver a compreensão pela experiência e não pelo excesso de informações. Os cinco sofrimentos que atrapalham o crescimento – ignorância, egoísmo, desejo/aversão, apego e medo – devem ser transmutados através de mudanças da consciência para se alcançar e transmitir profunda paz e alegria interior. Zen e a Tradição Budista têm por alvo principal a compreensão direta e pessoal da verdade (iluminação), e a transformação em um ser humano completamente maduro por meio de meditação e prática experiencial da espiritualidade. As principais características são: impermanência (tudo em constante transformação), impessoalidade (ausência de um self ou alma imortal/imutável) e insatisfação. Dessas características decorrem os princípios básicos: insatisfação/sofrimento é inevitável, insatisfação vem do desejo, elimine o desejo para extinguir a insatisfação/sofrimento, caminho óctuplo (caminho do meio, da moderação). Os principais obstáculos ao crescimento são: ganância, ódio, delusão (vacilação). Esses obstáculos podem levar a psicoses transitórias, por isso devem ser confrontados e transformados: ganância em compaixão, ódio em amor, delusão em sabedoria (seguindo os preceitos de Buda). Sufismo e a Tradição Islâmica é um caminho do conhecimento útil, que busca a transformação pelo amor, pela devoção ao Criador no cuidado com a criação, pela experiência real de estados espirituais que transcendem as limitações e perspectivas pessoais, levando à fusão do self/identidade individual com Deus/totalidade da realidade. O desenvolvimento pessoal se dá em meio a estágios que treinam/expõem facetas do caráter e da percepção do aspirante. Os estágios são: Despertar inicial (em geral, após uma crise existencial pessoal); Paciência e gratidão (a transformação leva tempo); Medo e esperança (temor de perder a Deus; esperança apesar dos defeitos); Autonegação e pobreza (servir a outros para agradar a Deus e não para se autopromover; coração desapegado e aberto a Deus); Confiança (total) em Deus; Amor, inspiração, intimidade e satisfação (só em Deus); Intenção, sinceridade e veracidade (dão significado às ações); Contemplação e autoanálise (mente sem distrações); A recordação da morte (a consciência que liberta de hábitos e atitudes indesejáveis). Os 15 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade obstáculos ao crescimento são: Desatenção (esquecimento), Self inferior/Nafs (essência, natureza) que são o centro de traços negativos que precisam ser transformados em positivos. Ufa, “palhinha” comprida, não? Foi só para dar uma ideia da riqueza dessas abordagens e deixar um “gostinho de quero mais”, para cada estudante buscar mais aprendizados conforme seu interesse. Com qual(is) teoria(s) você mais se identificou? Que tal escolher uma das teorias e analisar a sua personalidade a partir dela? Bem, não sei sobre você, mas, ao me analisar por quaisquer dessas teorias, através de relatos ou assistindo a filmes, descubro qualidades, mas, também, tantas falhas em minha personalidade e na forma como cuidei de meus pequenos que quase desanimo. Daí, lembro-me: ninguém é perfeito! Essas teorias estão aí para nos incentivar a melhorar, buscando fazer o que é possível a partir de agora, combinado? Assista ao trailer (trinta segundos) do filme “Duas Vidas” (com Bruce Willis, 2000), que conta a história de um adulto bem- sucedido, que se encontra com ele mesmo aos oito anos de idade. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=a1H1QYv8Jhk. Acesso em: 25 nov. 2021. Depois, ouça essas dicas interessantes sobre nosso crescimento neste vídeo (6min20s). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iq1YHOOih_M. Acesso em: 25 nov. 2021. Quando tiver um tempinho, não deixe de ver o filme todo, é divertido, intrigante e dá o que pensar! (tem grátis no Vimeo) https://www.youtube.com/watch?v=a1H1QYv8Jhk https://www.youtube.com/watch?v=iq1YHOOih_M 16 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Agora, apresentaremos algumas interfaces entre teorias psicológicas e religiosidade relatadas por Paulo Dalgalarrondo (2008, p. 55-89), professor de Psicopatologia da UNICAMP em seu livro “Religião, psicopatologia e saúde mental”: Freud observou semelhanças entre sintomas/atos obsessivos e rituais religiosos carregados de angústia da consciência moral e do desamparo constitutivo, por isso, associou a religião centrada em Deus-Pai como forma de dar vazão inconsciente às pulsões eróticas, agressivas e egoísticas reprimidas e consideradas tabu/proibição ancestral. Como mecanismos de defesa, a regressão a um modo infantil de funcionamento para obter a proteção desejada, e a sublimação – estratégia válida para desviar a pulsão para outros fins sem que ela perca a sua força – onde pessoas se ligam por laços libidinais e obedecem ao líder da religião, a Deus-Pai. Para Erik Erikson, a base das religiões está na relação do bebê com a mãe, como fonte paradisíaca de completude, alegria, prazer e satisfação em contraste com a situação infernal de desamparo e culpa, depois que a criança mordeu e perdeu o seio materno. A religião remete a essa atitude humilde e suplicante da criança dependente de cuidado, mas, perdoada de seus pecados e resgatada pela providência divina, numa relação saudável e curativa de confiança e aceitação incondicionais com Deus (ou com seu puro self na religiosidade oriental) sem ansiedades, dúvidas, culpas ou vergonha. Da perspectiva de Jung, religiosidade é uma parte constitutiva e essencial do psiquismo humano, embora influenciada pela construção social. No caso, deuses, demônios, experiências de sofrimentos e aprendizados ficam armazenados no inconsciente coletivo de cada indivíduo, dentre os quais estão os arquétipos, rituais e dogmas religiosos (Cristo, Maria,Shiva, Buda...), que se manifestam individualmente (sonhos) e nas relações sociais como fatores de promoção de saúde mental. Se você pudesse encontrar com você mesmo/a quando criança, o que você diria a ela? DALGALARRONDO, Paulo. Religião, Psicopatologia e Saúde Mental. Porto Alegre: Artmed, 2018. Disponível na forma de eBook em “Minha Biblioteca”, integrada à Unicap: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/ 9788536312248/pageid/0. Acesso em: 25 nov. 2021. https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788536312248/pageid/0 17 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Em Winnicott, o brincar, a criatividade e a experiência cultural/artística/religiosa são fundamentais para a criança simbolizar e passar pelos estágios de progressiva independência da mãe em direção ao senso de uma realidade exterior separada de sua pessoa. É nesse meandro entre a realidade psíquica interna/subjetiva e a realidade externa/objetiva, que a religião contribui na estrutura e no mecanismo psíquico, especialmente, nos momentos de sofrimento mental (ansiedade, depressão e outros), onde a relação com Deus favorece o sentido da vida. Aproveitando o gancho do brincar associado à criatividade, podemos pensar que a religião que proporciona experiências lúdico-transcendentes potencializa a criatividade, a sensação de segurança e bem-estar, que favorecem o pensamento crítico para hermenêuticas e práticas libertadoras, pois brotam, espontaneamente, como respostas fisiológicas naturais, como ocorre na criança que libera “hormônios da felicidade” enquanto ela brinca. Figura 1 – feita pela autora a partir de conteúdo disponível em: https://brainly.com.br/tarefa/28898015 sobre a imagem disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/criancas-brincando-com-baloes-no-campo-de- grama-verde-6299265/. Acessos em: 25 nov. 2021. 18 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Na óptica de James Williams, o comportamento humano é determinado por pensamentos e sentimentos que as pessoas experimentam. Para ele, a dimensão afetiva das experiências religiosas importa mais que explicações teóricas, racionais e lógicas. Assim, a disposição interna, a consciência íntima/mística, a impotência perante a vida, as emoções de incompletude e o desamparo, são fatores relevantes na relação pessoal com a divindade/o sagrado. Allport observou que a religiosidade imatura/extrínseca (própria de frequentadores assíduos de igreja) se caracteriza por fiéis infantis, regressivos e de fuga, que adotam uma divindade para desenvolver sua própria autoestima, enquanto agem com discriminação preconceituosa, menos afeto, menos segurança emocional, menos humor, menos autocompreensão e menos percepção realista. A religiosidade madura/intrínseca se mostra mais compreensiva, integradora, produtiva, criativa e motivacional no desejo intrínseco de conhecer, compreender e ajudar os outros. James Fowler propôs estágios de desenvolvimento da fé religiosa ao longo do ciclo vital: imaginação fantasiosa e egocêntrica da criança; interpretação literal do pré- adolescente; centrada em ideologias e no outro igual do adolescente; busca por autoridade moral dos adultos; compreensão mais ampla e profunda da vida de idosos, mesmo em face da morte iminente. Vimos apenas alguns de inúmeros estudos em psicologia da religião que nos ajudam a analisar criticamente a relação entre personalidade e religiosidade, levando em conta o desenvolvimento cognitivo, emocional, de interação social, do senso ético e da moralidade nos mais diversos contextos etários, étnicos, religiosos e culturais. Vídeo que fala sobre a descarga de oxitocina (“hormônio do parto”) quando pessoas fazem o bem sem esperar recompensa. Duração de quatro minutos. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=leZFE0ZEdo8 Algumas pessoas apontam a religião como a causa de desequilíbrios no desenvolvimento da personalidade. Outras dizem que a religião não desencadeia, mas estabiliza os desequilíbrios. E você, o que acha? https://www.youtube.com/watch?v=leZFE0ZEdo8 19 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Há um consenso de que a religiosidade pode ter um papel protetor – religious coping – da saúde física e mental da pessoa idosa; pode reforçar a identidade, a necessidade de segurança, a autoestima e o senso de pertença de adolescentes diante das pressões familiares, sociais e culturais, prevenindo comportamentos de risco (delinquência, suicídio, uso/abuso de drogas e sexo inseguro), e que mulheres se mostram mais religiosas que os homens (DALGALARRONDO, 2008, p. 89-95). Além disso, percebeu-se que umas práticas religiosas atendem melhor a algumas personalidades do que outras. Por exemplo, Dalgalarrondo (2008, p. 97-98) observou que pessoas com perfil ideológico conservador possuem um ego mais frágil, um superego mais severo, e tendem a se filiar em instituições religiosas mais organizadas; já indivíduos que se sentem ameaçados por pressões externas ou impulsos internos tendem a buscar ajuda em denominações religiosas mais dogmáticas; enquanto os de personalidade rígida, sugestionável, com estreiteza intelectual e inadequação social aderem-se mais a instituições conservadoras; e os que são mais impulsivos e tomam sobre si as muitas responsabilidades, buscam os grupos que praticam curas, glossolalia, estados de transe e conversões emocionalmente intensas. Esses dados reforçam a existência da ligação entre religiosidade e a personalidade humana e nos levam a refletir sobre a importância terapêutica dessa relação. Em seu livro “Neuroses eclesiásticas e o evangelho para crentes”, o teólogo e psicólogo Karl Kepler mostra que a igreja tem ajudado muitas pessoas, aproximando-as de Deus e de uma comunidade de fé, mas também tem adoecido emocionalmente muita gente. KEPLER, Karl. Neuroses eclesiásticas e o evangelho para crentes. 2. ed. ampliada. Joinville: Grafar. 2019. Você pode ler 3 dos 15 excertos do livro disponíveis nos links abaixo. Acessos em: 25 nov. 2021: http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses- eclesisticas-1.html http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses- eclesisticas-2.html http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses- eclesisticas-3.html http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-eclesisticas-1.html http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-eclesisticas-2.html http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-eclesisticas-3.html 20 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade 1.2 Desenvolvimento cognitivo e religiosidade É isso aí, enquanto refletimos juntos sobre esses temas relevantes, participamos de nossa própria construção humana, e nos inspiramos a ensinar nossos educandos e educandas a lidarem melhor consigo mesmos, com os outros, com o mundo ao redor e com o transcendente, contribuindo para um cotidiano e um porvir melhor para todos. Percebemos que ao longo da vida cada indivíduo participa de seu crescimento pessoal de maneira consciente/racional e inconsciente/irracional, enquanto busca alcançar o equilíbrio e a autorrealização associados a ampliação de prazer e diminuição de tensões. Nesse processo, o que e como pensamos, observamos, nos ocupamos e lembramos geram emoções, sentimentos, comportamentos e eventos que compõem o ser humano, conforme vemos esquematizado abaixo: Esse modelo adotado por psicólogos cognitivos (que visam compreender a estrutura do intelecto e da personalidade humana) mostra como tudo está conectado e o impacto de cada item sobre o todo: o evento (uma alteração física, mental ou emocional) afeta a cognição (pensamentos, ideias, raciocínios, lembranças, imagens que surgem espontaneamente), a qual desencadeia alguma emoção (alegria, medo, raiva, tristeza, nojo) associada a alterações fisiológicas, gerando comportamentos (ações decorrentes), novos eventos, maisprocessos cognitivos, outras emoções e por aí vai. Figura 2 – Esquema elaborado pela autora a partir do modelo apresentado por Fadiman e Frager (2004, p. 20, 315-324). 21 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 95-97, 174-175), as experiências religiosas estimulam diferentes áreas cerebrais conforme a atividade e a cultura em questão: o Lobo frontal, estimulado em atividades cognitivas, favorece o reconhecimento de normas sociais, o monitoramento de regras de conduta e costumes, o pensamento reflexivo, a emoção ao ler um texto sagrado, a capacidade de inferir estados mentais de outros, os sentimentos de altruísmo e compaixão por outros; o Lobo parietal, ativado em experiências místicas, leva a estados de “atemporalidade” e à “sensação de infinito total” com diminuição da percepção de limites (entre self e mundo) durante a meditação profunda; o Lobo temporolímbico, estimulado nas vivências religiosas, tem relação com estados alterados de consciência (EACs) místicos e meditativos de êxtase, transe, epilepsia, alucinações, despersonalização, experiências de quase-morte (EQM), e acrescenta uma sensação de profundidade e importância às atividades cotidianas. Se as experiências religiosas forem agradáveis, haverá ativação dos processos endógenos do Sistema Nervoso Central (SNC) pela liberação de hormônios de bem- estar (endorfina, oxitocina, dopamina e serotonina), com melhora nos processos fisiológicos (metabolismo e funcionamento de órgãos) e nos processos psicológicos (cognitivos e comportamentais), e uma maior consciência da própria integridade e autenticidade, resultando num pensar, sentir e agir mais fluidos e saudáveis, que afinal, fazem parte dos alvos e frutos desejáveis no desenvolvimento da educação e da saúde humana (CSORDAS, 2008). Figura 3 – feita pela autora com dados baseados em Dalgalarrondo (2008, p. 95-97) sobre a imagem disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/silhueta-do-homem-durante-o-dia-1051838/. Acesso em: 25 nov. 2021. 22 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade A observação desses dados não nos deve levar a julgamentos simplistas sobre a saúde mental desse ou daquele indivíduo, nessa ou naquela religião, pelo contrário, fornecem pistas que apontam a religiosidade como fator de estabilização da personalidade de adeptos, inclusive naqueles que apresentam algum transtorno mental. Personalidades que aceitam regras e apresentam sociabilidade, agradabilidade e conscienciosidade/escrupulosidade são as que mais buscam alguma religiosidade. Pessoas rígidas, ansiosas e tensas buscam religiosidades convencionais e fundamentalistas, e pessoas mais abertas voltam-se para religiosidades e espiritualidades maduras/intrínsecas, conforme a análise de Allport (DALGALARRONDO, 2008, p. 100, 153-158). Há seitas religiosas radicais que impõem processos intensos de incorporação de ideologias, mas não são elas que desencadeiam transtornos mentais ou desorganização na estrutura cognitiva, pelo contrário, pesquisas empíricas apontam que pessoas religiosas têm menos “psicoticismo” (traços psicóticos, autonegligência, descaso pelo senso comum, expressão incomum de emoções), mais agradabilidade (é gentil, confiável, valorizador, generoso, empático, perdoador), conscienciosidade/ escrupulosidade (é organizado, eficiente, responsável, confiável, planejador), extroversão, maturidade/estabilidade emocional, compassividade e brandura social (DALGALARRONDO, 2008, p. 99-100, 165, 172-173). De acordo com os psicólogos Alminhama e Menezes Júnior (2016, p. 123-127, 130-134, 139-140), o EAC (Estado Alterado de Consciência) alcançado em contextos rituais litúrgicos não causam dissociações patológicas, pelo contrário, os efeitos de transe religioso nas experiências de possessão nas religiões mediúnicas (Umbanda, Candomblé, Espiritismo) e nas religiões evangélicas (pentecostais/neopentecostais) ocorrem de forma controlada, autônoma, por curto tempo, sem sofrimento ou prejuízos cognitivos na vida do praticante. As pessoas, em geral, sentem-se melhor após o transe. Ainda sobre o caráter terapêutico das religiosidades, Donard (2010, p. 117-130) ressalta que pacientes que sofreram abusos sexuais na tenra infância têm o registro corpóreo da violência e que a mente pode recalcar o fato por não conseguir processá-lo. Mais Se as experiências religiosas forem agradáveis, haverá liberação de hormônios de bem-estar (endorfina, oxitocina, dopamina e serotonina), melhora no metabolismo e funcionamento de órgãos, assim como nos processos cognitivos e comportamentais, além de uma maior consciência da própria integridade e autenticidade, resultando num pensar, sentir e agir mais fluidos e saudáveis. Dados apontam a religiosidade como fator de estabilização da personalidade de adeptos, inclusive naqueles que apresentam algum transtorno mental. 23 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade tarde, quando esses indivíduos reportam visões e possessões demoníacas, que bem podem ser expressões da violência sofrida, beneficiam-se pela ação conjunta (interdisciplinar e terapêutica) de agentes da religião, da psicologia, da psiquiatria, entre outros que os ajudam a reestruturar a mente pela tomada de consciência, expressão do evento e até perdão. Conforme o “paradigma da corporeidade” de Csordas (2008, p. 11-24, 102-146, 335-338), a corporeidade é fenomênica: é o próprio sujeito que interage, constitui e transforma o indivíduo e a cultura. As experiências no corpo podem alterar a linguagem, as emoções, a imaginação, a memória de pessoas, como no caso daquelas que diante de uma oração carismática são inundadas por uma sensação de amor reacendendo, no seu interior, a cessação de sintomas desagradáveis, motivação, empoderamento, substituição de medo por paz, gratidão e alegria (CSORDAS, 2008, p. 286-287, 294). Reforçando a nossa atuação como cientistas da religião, não nos cabe eleger uma personalidade, religiosidade ou espiritualidade como melhor ou pior com base em julgamentos de valor, mas, sim, ampliar a nossa visão para analisar e compreender várias realidades e, assim, promover respeito, diálogo e bem-estar em favor de todas as pessoas. Na medicina, médicos têm defendido o efeito curativo da espiritualidade que desperta emoções positivas e a formação de vínculos comunitários solidários, empáticos, compassivos e amorosos, onde a alegria, o perdão, a gratidão, a esperança e a criatividade brotam espontaneamente e transcendem as emoções negativas do cotidiano (VALLIANT, 2010, p. 17-18, 21-40, 190-212). Já pensou se as aulas de Ensino Religioso forem comparáveis àquelas narradas nos Evangelhos, quando a presença, as palavras, o olhar, os gestos, a escuta e a compaixão do Mestre restauravam a vida de leprosos mortos-vivos, pescadores fracassados e mulheres abandonadas? É claro que não somos Cristo nem temos poder para operar milagres, mas podemos ser pontes que aproximam pessoas de si mesmas, de outros (semelhantes e diferentes), do mundo ao redor, do transcendente, do divino, como propõe Pestana (2017). Enfim, há tanto mais a se falar, mas, por ora, vamos ficar por aqui com essas provocações, suficientes para que nos inspiremos a cuidar melhor de nós mesmos/as e de nossos/as educandos/as com essa visão abrangente e transformadora da formação integral humana. 24 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Síntese da Unidade Nesta Unidade, vimos a importância da educação integral humana, envolvendo todas as dimensões: mental, física, emocional e espiritual, dentre as quais destacamos a espiritualidade como a que guia e organiza as demais. Definimos algumas diferenças e semelhanças entre religiosidade e espiritualidade, sendo a primeira mais ligada a instituições religiosas e a segunda a atividades transcendentes em geral. Sobrevoamos algumas teorias da personalidade,suas relações com a religiosidade/ espiritualidade e dessa com a cognição humana, destacando os efeitos positivos dessas interações. Percebemos a importância de proporcionarmos um Ensino Religioso de forma criativa, lúdica, reflexiva e transformadora que acolha, respeite e dialogue com as características de cada estudante, para que o ambiente de ensino-aprendizagem seja afetivo e efetivo para potencializar a formação integral de cada indivíduo e a construção de uma coexistência pacífica e solidária no mundo. Já nos despedindo e com saudades, recomendamos que cada estudante aproveite este conteúdo recheado de leituras, atividades e reflexões para o seu próprio crescimento e aprofundamentos. Na próxima Unidade, vamos tomar contato com valores humanos comuns às religiosidades que perpassam o hinduísmo, o confucionismo, o taoísmo, o budismo, o judaísmo, o cristianismo, o islamismo, o ateísmo, as tradições africanas e indígenas... até lá! Figura 4 de RODNAE Productions no Pexels e Figura 5 de Yan Krukov no Pexels Fotos disponíveis em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/garoto-menino-rapaz-filhos-6936068/ e https:// www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-livro-criancas-filhos-8613083/. Acessos em: 25 nov. 2021. 25 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Referências AGOSTINHO. De Magistro [Tradução de Ângelo Ricci]. In: Os Pensadores VI. São Paulo: Abril, 1973. ALMINHANA, Letícia Oliveira; MENEZES JÚNIOR. Adair. Experiências Religiosas/Espirituais: dissociação saudável ou patológica? Rev. Horizonte, Belo Horizonte, v. 14, n. 41, p. 122-143, Jan./Mar. 2016. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Histórico. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/9. Acesso em 15 out. 2021. COMENIUS, Iohannis Amos. Didactica Magna. [Tradução de Joaquim Ferreira Gomes]. Versão para eBook digitalizada por Calouste Gulbenkian, 2001. 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Nesta Unidade, vamos tomar contato com a forma como as religiosidades veem a humanidade e a visão do ser humano em relação à religião, perpassando a consciência cósmica e os rituais do Hinduísmo; a devoção ética humanista do Confucionismo; a harmonia nas relações humanas com a natureza no Taoísmo; o equilíbrio associado a desapego, tolerância e bondade no Budismo; a missão do povo em cumprir sua boa relação com Deus e com os semelhantes no Judaísmo; a fé que imita a Jesus no Cristianismo; a submissão de seguidores à palavra de Deus que se tornou Livro no Islamismo; e os mitos e ritos que harmonizam pessoas entre si, com ancestrais, espíritos e a natureza nas tradições africanas e indígenas. Com esse panorama em mente e considerando a BNCC, Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017, p. 436), cabe a nós, cientistas da religião, investir em um Ensino Religioso que apresente como as diversas religiões consideram o desenvolvimento humano e como a humanidade encara a religiosidade, numa visão ampla, ética e estética que leve em conta o pluralismo religioso e a diversidade cultural, promovendo diálogo, respeito, valores e cidadania de educandas e educandos desde o Ensino Fundamental. À luz da BNCC, esperamos que este Guia de Estudo contribua na sua aprendizagem sobre conhecimentos religiosos, culturais e estéticos; sobre o direito à liberdade de consciência e de crença no constante propósito de promoção dos direitos humanos; no desenvolvimento de competências e habilidades ligadas ao diálogo entre perspectivas religiosas e seculares de vida, com o devido respeito à liberdade de concepções e ao pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal; e na construção de sentidos pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e da cidadania (BRASIL, 2017, p. 436). Objetivos da unidade • Desenvolver a capacidade de identificar, explicitar e acolher as diferenças socioculturais que são inerentes às várias religiosidades e espiritualidades; • Acolher uma visão empática e inclusiva de diferentes questionamentos humanos e respostas das culturas religiosas para o desenvolvimento da humanidade; • Atuar para superar exclusões culturais e religiosas, promovendo o diálogo respeitoso entre as diversas propostas de formação humana oferecidas pelas diferentes espiritualidades. 29 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Introdução Primeiramente, lembremos que o fenômeno ou fato religioso tem sido objeto de estudo na história, na etnologia, na psicologia e em outras ciências humanas, pois sua presença/importância é incontestável e universal (WILGES; COLOMBO, 1980, p. 11). O relacionamento dos seres humanos com as religiões é complexo e difícil de analisar, porque ‘não existe uma definição simples de religião que expresse todas as suas dimensões’ (WERNER, 2016, p.12); também, as respostas humanas a elas são múltiplas, variando desde a adesão fundamentalista à oposição descrente. De acordo com Dionizio (2020, p. 96), as doutrinas de uma religião têm a ver com a cultura, e a cultura sofre influência da religião; dessa maneira, as práticas doutrinárias e dogmas expressam elementos que fazem parte da cultura e do povo, e uma coisa nos ajuda a enxergar outra. Assim, não aconteceu o imaginado desencantamento do mundo, onde as religiões “sumiriam”, propagado por alguns cientistas sociais e até por cientistas da(s) Dê uma olhada nestas 105 lâminas que percorrem sinteticamente diferentes religiosidades e nos convidam a vislumbrarcomo a diversidade no mundo é bela e corrobora a promoção da cultura de paz entre as nações. Segundo Küng (1990), isso só é possível se houver respeito, diálogo, justiça, ética mundial entre e além das religiões. Disponível em: https://www.slideshare.net/GilbrazArago/religies-e-tica Figura 1 – A “regra de ouro” nas religiões mundiais. Slide 105. Disponível em https://www.slideshare.net/ GilbrazArago/religies-e-tica. Acesso em: dez. 2021. https://www.slideshare.net/GilbrazArago/religies-e-tica 30 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade religião(ões) nos Séculos XIX e XX; pelo contrário, as mudanças que ocorreram no mundo e no modo como a humanidade tem lidado com a religião transcenderam as previsões sobre o fim das religiões. Conforme apontou Berger (2017, p. 48-74), o que aconteceu não foi um abandono das religiões, mas a reconfiguração delas diante do pluralismo que muda mais o “como” do que “o quê” da crença de um indivíduo, ou seja, transforma o jeito de ele seguir crendo. Portanto, ao falar em desenvolvimento humano, precisamos respeitar a diversidade de experiências e da atitude assumida por cada sujeito em relação à religião e vice- versa. Nesse viés, apresentaremos as perspectivas da “humanidade” e da “religiosidade”, uma em relação à outra: o ser humano nas religiões e culturas, e visões do ser humano nas tradições religiosas, respectivamente: Numa primeira instância, observaremos como o ser humano tem lidado com a religião, a religiosidade, a espiritualidade e os fenômenos culturais relacionados. Depois, apresentaremos um panorama das visões das religiões e culturas atuais acerca dos seres humanos. Vamos lá?! 1. O ser humano nas religiões e culturas Para observar como a humanidade tem praticado ou lidado com a religião em diferentes contextos, alguns autores apontam o estudo da história das religiões como um caminho. Também, estudos na área da arqueologia e da paleontologia têm nos ajudado a ver como as antigas religiões pré-históricas já demonstravam interesse em rituais ligados à caça, ao plantio, aos funerais, às estações, aos costumes e à cosmovisão da comunidade. A religião oferecia uma resposta, práticas e a esperança de exercer certo controle sobre o mundo, a vida, a morte e outras questões humanas, inclusive, através de espíritos, deuses e outras entidades (PROTHERO, 2020, p. 76-77; WERNER, 2016, p.12-15; DESROCHE, 1985, p. 20-36). O processo civilizatório que ocorreu pelos avanços na agricultura, na irrigação e na formação de cidades com o sedentarismo (em contraste com o nomadismo) contribuiu para que a religião passasse a assumir um papel regulador e estabilizador da sociedade, adaptando-se a novos tempos e necessidades. Nesse momento, a religião exercia uma forte influência sobre a estratificação social do O ser humano nas religiões e culturas Visões do ser humano nas tradições religiosas Como a Humanidade ⇩ enxerga A Religiosidade/Cultura Como a Religiosidade/Cultura ⇩ enxerga A Humanidade Tabela 1 – Visão do ser humano em relação à religião e da religião em relação ao ser humano. 31 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade clero, da nobreza e de outros membros da sociedade, além de oferecer códigos de conduta, de justiça e de outros aspectos da cultura que controlavam segmentos importantes da vida sociopolítica. Veja como a religião tem participado como elemento organizador da vida humana em vários agrupamentos humanos pelo mundo: Agrupando as grandes religiões As antigas religiões das civilizações do regadio, no Egito e na Mesopotâmia, corroboraram a formação e a sustentação da ideologia imperial nessas sociedades. Uma vez que os reis eram relacionados com o divino, a sociedade acreditava que a efetividade da agricultura dependia do controle deles sobre o Estado. No processo, o excedente de produção dessas civilizações proporcionou a formação de exércitos que transformaram esses ajuntamentos humanos em grandes impérios. Na Índia, grandes religiões de libertação se desenvolveram em um processo secular o que gerou desdobramentos que perduram ainda hoje. Elas visam escapar do ciclo interminável e insatisfatório de nascimento, vida, morte e renascimento, onde o mundo mais parece uma prisão. O hinduísmo propôs um escape por meio da devoção religiosa e ritual; enquanto o budismo, na tentativa de reformar o hinduísmo, apresentou sua forma de libertação e iluminação como um despertamento para a realidade. A libertação é o grande alvo dessas religiosidades para a humanidade. Já os grandes monoteísmos que se desenvolveram no Oriente Médio são as chamadas religiões de reparo por meio de revelações. Para elas, algo está errado com esse mundo e o Deus único ofereceu o conserto por meio de revelações. No caso do judaísmo, a revelação está na Torá e a humanidade precisa experimentar o caminho do exílio e do retorno - “reparação do mundo”, tikkun olam - conforme se vê na própria história do povo judeu onde essa experiência é recorrente. Para o cristianismo, a revelação está em Jesus Cristo e basta seguir seus passos e suas palavras para alcançar a salvação. Já, de acordo com o islamismo, a revelação está no Corão, o livro sagrado por excelência, que mostra a forma de reparar o mundo pela submissão a Deus e a seu profeta. Assim, nos grandes monoteísmos, a humanidade tem buscado a revelação religiosa para reparar algo que está estragado, rompido ou quebrado. Dentre as religiões monoteístas de reparo, podemos incluir o zoroastrismo, nascido na antiga Pérsia, que também apresenta uma revelação, indicando o caminho para o bom relacionamento com o divino por meio da prática daquilo que é a orientação de Deus. Na China, desenvolveram-se as religiões de reversão que buscam um retorno à condição idílica e próspera de dias anteriores. O confucionismo investiu no cultivo de ritos apropriados e diferenciados para cada relacionamento e atividade humana, visando reverter o caos através do cultivo de valores da humanidade, da ordem 32 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade pública, política e familiar essenciais para o bom funcionamento de uma sociedade. No caso do daoísmo/taoísmo, o desejo é retornar ao Dao/Tao (caminho) em harmonia com o universo para o florescimento de uma vida longa e boa. Essas religiões de reversão têm pouco interesse no além-túmulo, e concentram-se na cultura e no convívio social harmônico e próspero nesta vida. As religiões de tradições indígenas e afrodescendentes desenvolvidas nas Américas pelos povos originários ou por pessoas que foram escravizadas e trazidas para essas terras também podem ser encaradas como religiões de reversão. Por exemplo, as várias religiões de matriz africana aculturadas no Brasil buscam um caminho de reforço da sua identidade, já que foram tiradas à força da sociedade e do local onde estavam sua ancestralidade e suas raízes. Semelhantemente, as religiões ameríndias tentam reverter o desequilíbrio causado pelo invasor europeu, buscando o caminho da harmonia com a terra; na América do Norte, por exemplo, os navarros almejam esse retorno à beleza e ao equilíbrio original em que viviam. Finalmente, há as religiosidades que rejeitam a religião e constituem as religiões de negação - o caminho do não caminho - dentre os quais, o ateísmo e certas atitudes filosófico-políticas da atualidade afirmam que um dos grandes problemas que atinge a humanidade é a religião e ela deve ser negada. Assim, completamos esse quadro que é uma adaptação do pensamento de Stephen Prothero (2020, p. 76-77), onde além das religiões de Libertação, de Reparo, de Reversão e de Negação que ele propõe, acrescentamos as religiões das civilizações do regadio. Embora essa síntese seja uma generalização da complexidade de fenômenos religiosos, ela é útil para uma visão de conjunto das principais orientações e tendências de cada religião mencionada. Religiões dascivilizações do regadio (Egito e Mesopotâmia): • O caminho da formação e sustentação da ideologia imperial. • O caminho da divinização de reis. Religiões de Libertação (Índia): • O caminho da devoção: hinduísmo. • O caminho do despertamento: budismo. Religiões de Reparo (Oriente Médio): • O caminho do exílio e retorno: judaísmo. • O caminho da salvação: cristianismo. • O caminho da submissão; islamismo Religiões de Reversão (China, Américas): • O caminho dos ritos apropriados: confucionismo. • O caminho do florescimento: daoísmo/taoísmo. • O caminho da identidade e ancestralidade: religiões afro-brasileiras e indígenas. Religiões de Negação: • O caminho do não-caminho: ateísmo 33 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Religião e cultura moderna As religiões e as culturas estão amalgamadas entre si de tal forma que seja impossível separá-las; uma faz parte da outra e ambas contribuem para compor o ser humano em sua integralidade. Com o passar dos tempos, as religiões tradicionais têm sofrido transformações com perdas e ganhos, como veremos adiante. O historiador Yuval Noah Harari (2018, p. 164-177) fala sobre os grandes problemas do século XXI, classificando-os em três categorias de problemas: técnicos, políticos e identitários. Em sua avaliação, as religiões têm menos influência e relevância diretas sobre as duas primeiras categorias (problemas técnicos e políticos), em comparação ao quanto afeta, imensa e profundamente, sobre quem somos “nós” e quem são “eles”, ou seja, nas questões identitárias. Por um lado, a ciência tem suplantado a religião, já que a agricultura moderna não mais depende dos rituais ou danças da chuva e tudo se resolve com maquinário, adubo, agrotóxicos e tecnologias de estocagem e manejo. Semelhantemente, a religião não tem ocupado um lugar de destaque na medicina, na engenharia, na nutrição, em muitas áreas acadêmicas, políticas e econômicas. Os livros sagrados outrora considerados guias e organizadores de sociedades, já não interferem tanto nas políticas econômicas de países religiosamente distintos como o Irã xiita, a Arábia Saudita sunita, o Israel judaico, a Índia hinduísta e a América cristã, tampouco se vê muita diferença no comportamento dessas nações em relação ao mercado mundial. Eventualmente, um ou outro grupo religioso assume alguma postura na ciência ou na economia como dogma para sua agremiação, mas, em geral, essa não é a norma de conduta das nações e das comunidades, reforçando o fato de que a religião perdeu terreno para a ciência, economia, outros saberes e instituições. Mas, perdura um poder da religião ainda não suplantado por quaisquer outras instituições ou saberes: a capacidade da religião em marcar a identidade e o senso de pertença nos grupos humanos. Tanto esse é um fato que, historicamente, os nacionalismos têm se aproveitado desse valor para fazer da religião o cimento social da identidade nacional. Infelizmente, também as identidades religiosas têm se tornado objeto de manipulação e conflito ao considerar o “outro” como aquele a quem se deve repelir, excluir e combater. Por isso, é tão importante que nós, cientistas da religião, participemos com conhecimentos e propostas que favoreçam o diálogo, o respeito, a solidariedade e a paz nas relações humanas. 34 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Essas observações à luz de Harari (2018) apontam o valor da religião na definição da identidade do indivíduo e dos grupos sociais. Mesmo com a perda de sua influência histórica milenar, a religião e os indivíduos que a sustentam ainda exercem uma forte influência sobre a cultura, como podemos observar nas datas comemorativas, na cosmovisão, na culinária, na vida familiar, nas questões de estética, ética, valores e moral de uma comunidade. Afinal, como bem diz Meslin (2014, p. 68), “a fronteira entre cultura e religião é frágil” e a “religião, portanto, não deixa de informar a cultura”, ou seja, uma está intimamente ligada à outra. Como vimos, as religiões eram detentoras e guardiãs das verdades em relação às certezas dogmáticas que guiavam e organizavam as sociedades. Mas, com a globalização que se instalou no século XX, as religiões perderam para outras instituições algumas de suas funções (sociais, políticas, educacionais, beneficentes, entre outras) e seus dogmas foram desafiados pelo pluralismo. Para refletir sobre o impacto da globalização e do pluralismo no cenário mundial e sobre as novas configurações da religião, usaremos algumas ideias apresentadas por Peter L. Berger (2017). Figura 2 – Diversidade Religiosa. Fonte: PORFÍRIO, Francisco. "Estado laico"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/estado-laico.htm. Acesso em 08 de dezembro de 2021. Trata-se de uma leitura preciosa para compreender os rumos das religiões na modernidade, escrita em estilo claro, límpido e dialogal... Vale a pena conferir! BERGER, Peter L. Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma da religião numa sociedade pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017. 35 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Segundo cientistas sociais e da religião, esse processo começa com o primeiro passo: a “contaminação cognitiva”, quando a globalização (a urbanização e o intenso trânsito de comunicação) alcança um grupo social/religioso homogêneo, isolado e pouco desafiado em suas certezas de fé, fazendo com que indivíduos, outrora separados, tenham contato com diferentes sujeitos, grupos sociais, religiões e crenças e, consciente ou inconscientemente, agreguem novas ideias que até podem levá-los a um “choque cultural”. Surge então a “dissonância cognitiva”, quando o que se crê/cria não combina com o que se vivencia/percebe no convívio com o outro, ou seja, as antigas certezas se tornam desconfortáveis nas novas relações. As estratégias para atenuar o desconforto dessa “dissonância cognitiva” podem resultar em ações sem diálogo tais como a negação da legitimidade da nova informação perturbadora, a saída dos sujeitos incomodados (os incomodados se retiram), e em ações que tentam impor, converter ou eliminar os sujeitos dissonantes, corroborando fundamentalismos. Outra possibilidade é a tentativa de negociação através da “barganha cognitiva” que pode levar a posturas extremadas e opostas como relativismos (relativização de crenças) e fundamentalismos (recrudescimento dogmático), mas, em sua maioria, as pessoas ficam no meio-termo dos acordos e das concessões para conviverem de forma duradoura e pacífica na pluralidade. Nesse caso, temas que antes eram certezas “absolutas” e fundamentados em dogmas religiosos, passam a ser considerados “preferências ou opiniões” para evitar os extremismos de uns e a anomia (perda de identidade) de outros, afinal, “conversando, a gente se entende”, não é mesmo? Essa análise é importante já que, na atualidade, “quase dois terços da humanidade professam uma religião que é estranha ao solo nacional” (MESLIN, 2014, p. 268), Figura 3 - Charge de Carlos Ruas nos mostra como ocorre o pensamento etnocêntrico. Disponível em: https:// www.todamateria.com.br/etnocentrismo/. Acesso em: 8 dez. 2021. 36 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade implicando em variadas formas de relacionamento das religiões com as culturas. Não há como evitar a “aculturação religiosa”, onde elementos de uma religião ou cultura são assimilados em sincretismos, combinações, bricolagens e outras formas de negociação dos conteúdos, práticas e ritos das religiões. Mesmo quando um grupo reage negativamente a outro, também sofre mudanças internas por influência desse, pois desenvolverá estratégias de resistência e oposição, reconfigurando-se. Assim, seja na assimilação ou no combate entre religião e cultura, sempre surgem novos elementos religiosos e culturais, ou seja, uma aculturação religiosa. Ambos, religiõese seres humanos, sofrem mudanças no contato com a diversidade cultural-religiosa, quanto mais interação com culturas e religiosidades diferentes, mais mudanças ocorrerão, as quais terão encaminhamentos diferentes conforme a reação de cada um em relação ao outro. Então, por mais contraditório que pareça ser, as religiões que mais almejam a universalização, ou seja, as que querem converter o mundo todo, são as que mais experimentam clivagens, divisões dentro delas mesmas por causa da maior interação com as diferentes realidades (DESROCHE, 1985, p. 373638). Há, também, a religião popular que mostra como a humanidade lida criativamente e dinamicamente com as religiões. Religião popular pode ser a religião de um povo, de um extrato social carente de riqueza e cultura, ou de quem se opõe/desvia da religião oficial. As configurações e formações de religiões populares decorrem de inúmeros fatores, desde as aculturações religiosas mencionadas anteriormente, até a resistência de um segmento humano contra outro dentro de uma mesma religião (MESLIN, 2014, p. 296-299). 37 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Figura 4 – Esquema elaborado pela autora a partir de Berger (2007) e Meslin (2014). Se as religiões que mais buscam a universalização são as que mais se dividem internamente por causa do contato com novas realidades, qual o paralelo disso com o ser humano que amplia seus relacionamentos com pessoas, culturas e religiosidades diversas? A interação com o diferente faz indivíduos se tornarem mais fundamentalistas, mais relativistas ou mais capazes de conviver, dialogar, respeitar ao outro sem perder a sua identidade? Como isso se aplica a você, estudante? 38 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade Religião e o futuro Afinal, o que será da religião no futuro? Contrariamente ao que alguns estudiosos do passado disseram sobre o fim da religião, o mundo vive uma “fase de extinção das ideologias e retorno das religiões. Ele está passando exatamente pelo oposto do que as filosofias da história de Hegel, Comte e Marx previram” (KOSLOWSKI, 2001, p. 2). Logo, toda tentativa de falar sobre o futuro da religião deve ser feita com toda a cautela e prudência, a exemplo de outros que já se equivocaram nas previsões. Dois autores que se propuseram a falar sobre o futuro das religiões listaram sete megatendências nas questões religiosas (BAKAS, BUWALDA, 2011, p. 7). São estas: 1 - Tendência à individualização da religião e a um cenário religioso multiforme; 2 - Tendência a novas ortodoxias e à politização da religião; 3 - Tendência à comercialização da religião e à midiatização da religião; 4 - Tendência à ascensão do Deus Verde; 5 - Tendência a um mercado crescente de crenças apocalípticas e ao desenvolvimento de uma consciência mais elevada; 6 - Tendência de deslocar o foco da doutrina para a experiência religiosa; 7 - Tendência de haver religião influenciada por superpotências multiculturais e de ascensão de moralismo. O que se constata nessa lista é o processo de mutabilidade e adaptação da religião aos novos tempos, além de sua presença junto a movimentos, instituições e outras grandes forças nesse mundo, utilizando-os e deixando-se utilizar por eles. Ela é objeto de comercialização, politização, individualização e alvo de manipulação por grandes interesses. Tanto se associa às novas tomadas de consciência da ecologia e da valorização da experiência pessoal, quanto participa na retomada de moralismos e ortodoxias. Se algum desenvolvimento humano for almejado e trabalhado pelas instituições de ensino e de desenvolvimento humano e social, a religião é um elemento inseparável e chave para a consecução bem-sucedida do projeto. Pois é, a religião está em todas! Apesar de a religião ter perdido muito de sua relevância e importância na atualidade, quando comparamos com seu papel nas comunidades mais antigas, ela ainda é elemento fundamental da humanidade tanto em termos da cultura como em termos da identidade, pertença e sentido de vida. Pesquisadores apontam que, de uma forma ou outra, a religião está sempre presente nas grandes transformações das sociedades, instituições e culturas. A humanidade só poderá ter paz e um convívio adequado quando as religiões também estiverem alinhadas com este projeto de coexistência pacífica. 39 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade 2. Visões do ser humano nas tradições religiosas As visões das religiões acerca do ser humano e seu desenvolvimento são tão variadas quanto elas mesmas são. Uma antropologia a partir das religiões evidenciará não só as diferentes cosmovisões das religiões em suas respectivas culturas, mas também as distintas propostas delas para a humanidade, para o indivíduo humano. Os fenômenos religiosos são muito complexos e até contraditórios dentro de cada tradição religiosa, contudo, ousaremos apresentá-los num quadro sinótico para que a visão de conjunto nos ajude a comparar e ponderar as diferentes ênfases e interesses de cada agrupamento religioso. Uma visão sintética sobre como dez grandes religiões veem o ser humano amplia nosso saber sobre essa relação, afinal, quem só conhece uma religião, não conhece nenhuma, como já diziam os fundadores das ciências da religião. Para sistematizar esta nossa conversa, adaptamos um modelo de estudo comparativo das religiões proposto por Stephen Prothero (2020, p. 71), através do qual buscaremos responder às seguintes questões: • Qual a condição do ser humano? • Qual o problema da humanidade? • Qual a solução para a humanidade? • Qual o caminho para ajudar a humanidade? Relação do homem com a natureza (duração de 18 min e 11 s). Esse vídeo apresenta como é essa relação do ponto de vista de algumas religiosidades: budista, indígena, de matriz africana, cristã, entre outras. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FPJJ9Xydv8Q https://www.youtube.com/watch?v=FPJJ9Xydv8Q 40 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Desenvolvimento Humano e Religiosidade QUESTÕES → RELIGIÕES↓ Qual a natureza da humanidade? Qual o problema da humanidade? Qual a solução para a humanidade? Quais as ações úteis para a humanidade? Hinduísmo O homem, o mundo e o divino são partes do mesmo um. Como escapar do renascimento e da morte (samsara)? Atingir o moksha, libertação total. As disciplinas do karma (ação), da jnana (sabedoria) e bhakti (devoção). Confucionismo O homem é inerentemente bom (HUME, 1980, p. 125). Como tornar-se verdadeiramente humano e escapar do caos social? Buscar a harmonia social. Sabedoria, justiça, integridade, cultivo da humanidade, dos ritos adequados e do autodesenvolvimento. Daoísmo (Taoísmo) Há homens superiores, medianos e inferiores. Como viver uma vida longa e florescer? Florescer e ter vida em equilíbrio: wu wei. Alinhar-se ao Dao (Tao): meditação, visualização, alimentos bons, exercícios e rituais. Budismo O homem é um ser em constante transformação. Como eliminar o sofrimento? Atingir o nirvana, a extinção do sofrimento. Meditação, canto, visualização, dieta, devoção. O “caminho do meio”. Judaísmo O homem é criação à imagem de Deus. Como retornar a Deus e reparar o mundo? Retornar a Deus e ao seu povo. Seguir a Torah, comunidades de devoção. Cristianismo O homem é criação à imagem de Deus. O que fazer para ser salvo do pecado? Acolher a salvação de Jesus Cristo. Fé e prática do ensino de Jesus. Islamismo O homem é criação à imagem de Deus. Como ter sucesso nesta vida e no porvir? Submeter-se a Deus conforme o Corão. Praticar os “cinco pilares” do islamismo. Africanas O homem tem parentesco com a natureza. Como reencontrar a ancestralidade? Retomar os ritos e práticas que nos ligam aos ancestrais. Resistência e luta para praticar a religião e reencontrar a identidade. Indígenas