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Desenvolvimento Humano e Religiosidade

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Desenvolvimento 
Humano e 
Religiosidade
Linda Siokmey Tjhio Cesar Pestana
REVISÃO 
Msc. Rafael José Oliveira Ofemann
PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Msc. Flávio Santos
UNICAP DIGITAL
Rua do Príncipe, 526 - Bloco C - Salas 303 a 305
Boa Vista - Recife-PE - Cep: 50050-900
Telefone +55 81 2119.4335
1ª Edição
Copyright © 2023 de Universidade Católica de Pernambuco
Copyright © 2023 de UNICAP DIGITAL
Sumário
Unidade 1 4
Objetivos da Unidade 5
1. Introdução 6
1.1 Teorias psicológicas da religiosidade 10
1.2 Desenvolvimento cognitivo e religiosidade 20
Síntese da Unidade 24
Referências 25
Unidade 2 27
Objetivos da unidade 28
Introdução 29
1. O ser humano nas religiões e culturas 30
2. Visões do ser humano nas tradições religiosas 39
Síntese da Unidade 46
Referências 48
Unidade 3 50
Objetivos da unidade 51
1. Representações do sagrado e profano na perspectiva da finitude humana 52
2. A sacralização do tempo e do espaço 68
Síntese da Unidade 72
Referências 72
Unidade 4 74
Objetivos da unidade 75
1. Experiência do sagrado, subjetividade e intersubjetividade 76
2. Desenvolvimento humano e educação religiosa 86
Conclusão – Transdisciplinaridade e Ensino Religioso 91
Referências 92
Unidade 1
Formação da personalidade e religiosidade
Bem-vindo e bem-vinda, estudante!
Desenvolvimento humano e religiosidade é um tema vasto e com inúmeras 
possibilidades de enfoque. Sem a pretensão de abarcar tudo, este Guia de Estudo, 
como o nome já diz, foi preparado para servir como um roteiro a partir do qual cada 
estudante poderá desenvolver seus aprofundamentos. Esperamos que você aproveite 
cada vídeo, figura, leitura e atividade proposta aqui!
Nesta disciplina, iremos pensar em duas questões básicas:
• Qual a relação e a interação entre desenvolvimento humano e religiosidade?
• Quais as implicações dessa ligação no ensino-aprendizagem da Educação Básica?
Ao longo das quatro Unidades, tomaremos contato com a relação da religiosidade 
com teorias de formação da personalidade e desenvolvimento cognitivo; a visão de 
ser humano nas várias religiões e tradições culturais; representações do sagrado e 
profano na perspectiva da finitude humana, sacralização do tempo e do espaço; a 
experiência do sagrado, subjetividade e intersubjetividades para sonharmos juntos 
um Ensino Religioso transdisciplinar e transformador para nossos estudantes.
Mas, iremos com calma. A cada Unidade, um novo saber, combinado?
Então, convido você a respirar fundo e mergulhar juntos nesta primeira e agradável 
aventura de descobertas e experiências pelos meandros da formação da 
personalidade, desenvolvimento cognitivo e religiosidade. Vamos lá!
Objetivos da unidade
• Compreender a importância da espiritualidade/religiosidade na formação humana 
e pensar, criativamente, em aplicações práticas que favoreçam a educação integral 
de estudantes na Educação Básica.
• Conhecer algumas teorias psicológicas da religião e seus autores.
• Perceber ligações entre formação da personalidade, desenvolvimento cognitivo-
comportamental e religiosidade. 
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
1. Introdução
Iniciaremos nossa conversa falando sobre educação integral humana e a participação 
do Ensino Religioso (ER) na formação de estudantes conforme a BNCC, então, 
observaremos as relações entre desenvolvimento psicológico-cognitivo-
comportamental e religiosidade conforme alguns autores; tudo isso, em meio às 
preciosas reflexões pessoais de cada aprendiz, que são essenciais para o melhor 
aproveitamento desta disciplina.
Atualmente, não tem como pensar em educação sem levar em conta o 
desenvolvimento humano em sua integralidade, ou seja, em todas as suas 
dimensões (física, emocional, mental e espiritual). Dentre essas, daremos destaque à 
dimensão espiritual, uma vez que ela guia e organiza as demais.
A dimensão espiritual ou espiritualidade é inerente a todo ser humano, e pode ser 
desenvolvida de forma secular ou atrelada a uma religião, quando recebe o nome 
de religiosidade. Manifestamos nossa espiritualidade através de valores, ética, 
crenças, práticas e comportamentos que adotamos nas nossas relações conosco, 
com os outros, com a natureza e com o transcendente, e que interferem 
profundamente em nosso desempenho social, laboral e acadêmico desde o Ensino 
Fundamental até a velhice.
Por essa razão, há séculos, educadores e filósofos têm se empenhado em propor uma 
educação que forme seres humanos com pensamento crítico, cidadania, ética, 
liberdade, piedade e igualdade, os quais fazem parte da dimensão espiritual.
Vejamos alguns exemplos:
Desde o século V, Agostinho, em De Magistro (1973, p. 319-356), destacou a 
importância da maiêutica socrática no processo de parir o pensar, recordar, 
questionar, falar, intuir e atuar do educando.
Mais tarde, no século XVII, Comenius, em Didactica Magna (2001, p. 101-110, 119-126, 
204-329), afirmava que para “ensinar tudo a todos” como direito e cidadania, era 
preciso semear e regar fundamentos com naturalidade e arte, pois o resultado 
seria o desenvolvimento de inteligência, memória, língua e prática de bons 
costumes e piedade.
No século XVIII, Rousseau (1995, p. 5-57) questionou a pedagogia imposta pelo 
poder sociopolítico marcado por maldade, tirania e servidão do absolutismo e 
feudalismo, propondo uma formação voltada para virtude, ética, liberdade e 
participação igualitária.
Essas são algumas das sementes lançadas no passado, que têm contribuído para tantos 
movimentos que têm ampliado a visão sobre a educação e resultaram no ER que temos 
hoje: uma área de conhecimento voltada à educação integral humana e à capacidade 
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de lidar com a diversidade cultural/religiosa desvinculada de proselitismos, num contexto 
de democracia, inclusão, ética, estética, autonomia e cidadania. Em 2010, celebramos o 
reconhecimento do ER como uma das cinco áreas de conhecimento do Ensino 
Fundamental (BRASIL, 2018, p. 435); e por 20 anos (de 2017 a 2037), essa disciplina 
obrigatória e de matrícula facultativa nas escolas públicas deverá permanecer inserida na 
BNCC (BRASIL, 2018).
Que grande conquista, não é mesmo?
Recentemente, o educador e filósofo Ferdinand Röhr (2013) defendeu a educação 
que liga imanência com transcendência e possibilita ao indivíduo sair de si em 
direção ao outro num percurso que desenvolve suas cinco dimensões humanas 
(física material/biológica, física sensorial, emocional, mental e espiritual), sobretudo, a 
espiritual. Para esse docente, a espiritualidade potencializa o processo educativo-
formativo de estudantes, pois os ajuda a transcender em amor, serviço, perdão, 
alegria, criatividade, intuição, liberdade, compaixão e empatia, os quais tornam o 
contexto ensino-aprendizagem mais afetivo e efetivo.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018, p. 441), os códigos 
de ética e moral das filosofias de vida e das religiosidades funcionam como 
“balizadores de comportamento” que favorecem “o respeito à vida e à dignidade 
humana, o tratamento igualitário das pessoas, a liberdade de consciência, crença e 
convicções, e os direitos individuais e coletivos”.
Aliás, você conhece a BNCC e o que ela diz sobre o Ensino Religioso? 
Em consonância com o Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire (2002), vale a 
pena promover em sala de aula, um ambiente de partilhas horizontais, empáticas, 
igualitárias e solidárias entre diferentes, uma vez que todos somos sujeitos 
inacabados numa teia de relações com diversas etnias, gêneros e culturas que nos 
enriquecem como seres humanos. Enquanto todos ensinam e aprendem 
mutuamente em meio à diversidade, construímos coletivamente, um mundo 
melhor, recheado de pessoas mais criativas, livres, praticantes de ética, respeito, 
inclusão, escuta, reflexão crítica, humanização, autonomia, defesa dos direitos 
humanos e prevenção de violências de várias naturezas.
Antes de prosseguir, acesseeste link abaixo e dê uma olhada 
nas informações sobre o Ensino Religioso conforme a BNCC 
(BRASIL, 2018, p. 435-459). Disponível em: 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Percebe a importância do que estamos estudando?
As interações entre desenvolvimento humano e espiritualidade/religiosidade afetam os 
processos de aprendizagem na Educação Básica e a qualidade das relações de um 
indivíduo ao longo de toda a sua existência. Nesta jornada tudo está interligado: o 
início, o fim e tudo ao redor.
Para facilitar a nossa comunicação, usaremos as definições de espiritualidade e 
religiosidade adotadas por Hill e Pargament et al. (2000), onde religiosidade está 
mais ligada a contextos institucionais estabelecidos e tradicionais, e espiritualidade 
refere-se a contextos não tradicionais. Ambas envolvem crenças, práticas, 
experiências, busca por transcendência e sentido que interferem na forma como um 
sujeito se enxerga, compreende o mundo, age, se comporta e se conecta com o que 
há de sagrado nos seres vivos e no universo.
Conforme esses autores, a religiosidade é uma forma de espiritualidade onde a 
identidade, o senso de pertença, o sentido da vida e o bem-estar estão atrelados a 
um viver consagrado que aproxima o humano do divino em contextos institucionais 
estabelecidos e tradicionais à luz de dogmas, rituais particulares ou coletivos de fé e 
adoração ao divino/sobrenatural, envolvendo orações/rezas, leitura de textos sagrados, 
Para refletir sobre como tudo está interligado e tem 
consequências, assista: “Velhice, como se preparar?” preparado 
pela autora, com carinho, para que no futuro, cada um/a de nós 
não se torne uma “mala sem alça”, mas sim, uma mala de 
rodinhas, gostosinha de levar para passear por todo canto 
(duração de 10m37s). Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=50chugGm2rQ
A dimensão espiritual, ou espiritualidade, guia e organiza as demais dimensões 
humanas (física material/sensorial, emocional e mental). Ela é inerente a todo ser 
humano e pode ser desenvolvida de forma secular ou atrelada a uma religião, 
quando recebe o nome de religiosidade. Manifestamos nossa espiritualidade 
através de valores, ética, crenças, práticas e comportamentos que adotamos nas 
nossas relações conosco, com os outros, com a natureza e com o transcendente, e 
que interferem em nossa personalidade, nosso desempenho social, laboral e 
acadêmico desde o Ensino Fundamental até a velhice.
https://www.youtube.com/watch?v=50chugGm2rQ
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normas específicas de comportamento, práticas de apoio mútuo baseadas em 
promessas e mandamentos divinos.
A espiritualidade secular e desvinculada de religião também envolve crenças, 
pensamentos, práticas, comportamentos, sentimentos, experiências, ajuda mútua, 
altruísmo, busca por transcendência, autocompreensão e sentido, mas, realiza-se em 
contextos não tradicionais e sem conotação religiosa, através de técnicas seculares de 
relaxamento e meditação transcendental.
Ambas podem ser complementares no desenvolvimento da personalidade e 
crescimento pessoal, uma vez que, conforme o indivíduo e a situação, uma ou outra 
oferecem uma melhor contribuição. Também, o fato de uma pessoa ser religiosa não 
a impede de buscar espiritualidades seculares e vice-versa. Uma coisa não exclui a 
outra, mas pode levar e se somar à outra com equilíbrio e adaptação, numa parceria 
dialogal, inclusiva e respeitosa que, aliás, combina muito bem conosco, cientistas da 
religião, não é mesmo?
Desde o século passado, estudiosos têm observado que a adesão a religiões 
institucionalizadas e tradicionais tem diminuído, enquanto o número de adeptos a 
práticas de espiritualidades ligadas ao budismo, hinduísmo e islamismo têm crescido 
muito. Nos últimos 30 anos, especialmente, percebe-se que a geração de baby 
boomers (nascidos entre 1945 e 1964, após a Segunda Guerra Mundial) afirma ter fé, 
mas, pratica sua espiritualidade de forma mais espontânea, personalizada e privada, 
sem os dogmatismos da religião, por meio de meditação transcendental, ioga, teosofia, 
bioenergética, envolvimento com movimentos sociopolíticos, entre outros 
(ZINNBAUER; PARGAMENT; SCOTT, 1999).
É interessante notar que há aspectos positivos e negativos ligados à espiritualidade 
e religiosidade. A religiosidade pode promover intimidade com Deus, pertença à 
uma comunidade de apoio, senso de missão, fé baseada em promessas e 
mandamentos divinos, vínculos afetivos baseados em valores e ética considerados 
elevados, sustentando fiéis, especialmente, nas piores crises; por outro lado, ela 
também tem sido associada a intolerância, violências e a uma vigilância que 
oprime, gera culpa e neurotiza.
Já a espiritualidade tem sido associada à obtenção de paz, harmonia e redução de 
estresse, mas, por ser tão eclética, seu reforço quanto a identidade, senso de pertença 
e sentido da vida das pessoas não é tão evidente/eficiente. Ou seja, cada uma tem 
vantagens e desvantagens, dependendo do que e como estamos analisando cada 
uma delas (HILL, PARGAMENT et al., 2000).
Para legitimar cientificamente a relação entre espiritualidade/religiosidade e saúde, 
psicólogos da religião têm investido em métodos e ferramentas de medição. Hill e 
Pargament (2017, p. 53-58) destacam que essas pesquisas relacionam a capacidade 
de transcender e a conexão com o sagrado à personalidade das pessoas, à forma de 
manifestar afeto, sociabilidade, apego, autoestima, vulnerabilidade ao estresse, 
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autorregulação, ansiedade, amabilidade, maturidade, trabalho, cognição, crenças e 
experiências sagradas, que, por sua vez, sofrem influências das tradições religiosas e 
das regiões envolvidas.
A espiritualidade e a religiosidade têm uma participação positiva no enfrentamento 
de desafios, bem-estar e sentido da vida, mas também, há os que as criticam como 
responsáveis por gerar negação da realidade, preconceitos, fundamentalismos, 
tensões intergrupais, depressão, sentimento de culpa, medo, suicídio etc. Por isso, é 
interessante acompanhar os avanços em medição, teoria, pesquisa e prática de 
espiritualidade/religiosidade, pois ajudam a investigar, comparar e compreender as 
relações delas com a vida das pessoas (HILL, PARGAMENT, 2017, p. 68-69).
1.1 Teorias psicológicas da religiosidade
Pesquisadores do desenvolvimento humano e crescimento pessoal têm apresentado 
conceitos e técnicas diferentes que, necessariamente, não se opõem, mas se 
complementam. Cada autor apresenta uma teoria da personalidade – um conjunto 
de conceitos e suposições referentes ao comportamento humano nas relações 
sociais – que nos ajuda a compreender e lidar melhor com o ser humano que somos.
Por exemplo, enquanto psicólogos ocidentais visam fortalecer o ego por meio de 
técnicas voltadas à autonomia, autodeterminação, autorrealização, domínio, 
libertação de neuroses; os orientais se concentram no desenvolvimento transpessoal 
(além do ego e da personalidade) onde, pela meditação e outras disciplinas da 
Num experimento de duas semanas, envolvendo três grupos de voluntários 
que, por 20 minutos diários, praticavam (meditação religiosa/espiritual, 
meditação secular e técnicas de relaxamento), foi pedido que mantivessem a 
mão em água gelada (2 C) pelo tempo que aguentassem. Os dois últimos 
grupos apresentaram resultados semelhantes, porém, o primeiro mostrou o 
dobro de eficiência na diminuição da resposta cardíaca à dor e à ansiedade. 
Assim, apontou-se que práticas religiosas associadas a promessas e 
mandamentos sagrados podem ter um efeito maior do que as frases e práticas 
seculares de meditação/relaxamento e pensamento positivo, quanto a 
tolerância à dor, ao estresse, à ansiedade e ao desânimo em meio às demandas 
do cotidiano.
Fonte: WACHHOLTZ, AmyB. PARGAMENT, Kenneth I.. Is Spirituality a Critical 
Ingredient of Meditation? Comparing the Effects of Spiritual Meditation, Secular 
Meditation, and Relaxation on Spiritual, Psychological, Cardiac, and Pain 
Outcomes. Journal of Behavioral Medicine, Vol. 28, No. 4, August 2005, p. 369-384).
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consciência, o sujeito transcende a experiência pessoal cotidiana e busca a harmonia 
com o todo.
Levando em conta o ser integral, cada indivíduo tem oportunidade de viver sua 
imanência (a interioridade e concretude do ser), a transcendência (a busca pelo 
que está além do mundo material e do controle humano), a existência (a própria 
história desde o nascimento até a morte) e a essência (a condição humana de 
criatura em relação ao Criador).
Fadiman e Frager (2004, p. 19-20) destacam as virtudes e a eficácia de cada 
abordagem, comparando-as a perspectivas de cegos apalpando partes diferentes de 
um mesmo elefante; ainda que diversos, cada ponto de vista tem sua relevância 
dependendo da pessoa e da circunstância em análise. Consideram que além do 
padrão biológico inato de crescimento, nós possuímos uma tendência para o 
desenvolvimento psicológico “descrita como esforço para a autorrealização, ou 
seja, o desejo de compreender a si mesmo e a necessidade de utilizar ao máximo a 
nossa capacidade”. Nestas abordagens, o self (a totalidade do ser) tem significados 
diferenciados conforme o autor.
Para quem tiver interesse em aprender sobre as várias teorias da 
personalidade e do crescimento/desenvolvimento humano, 
Fadiman e Frager (2004) apresentam e comparam de forma 
clara, interativa e bem interessante as diferentes abordagens, os 
principais conceitos, fatores que atrapalham o crescimento, as 
histórias de seus precursores, sugestões de reflexões/atividades 
práticas para serem realizadas individualmente ou em grupo. 
São 519 páginas de conhecimentos esclarecedores que 
convidam a reflexões e transformações terapêuticas fascinantes. 
Vale a pena conferir!
A obra está disponível na forma de eBook em “Minha 
Biblioteca”, integrada à Unicap: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/user/check?
userCheckReturnTo=/reader/books/9788536317939/pageid/0. 
Acesso em: 25 nov. 2021.
FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Personalidade e 
crescimento pessoal. [Tradução de Daniel Bueno]. 5. ed.. Porto 
Alegre: Artmed, 2004.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/user/check?userCheckReturnTo=/reader/books/9788536317939/pageid/0
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Segue uma “palhinha” do conteúdo da obra (FADIMAN; FRAGER, 2004) para que 
você possa ter uma ideia do que diz cada autor/a da teoria:
Freud mostrou que comportamentos irracionais e doenças mentais decorriam de 
conteúdos inconscientes reprimidos/recalcados e pulsões (sexual/vida e destrutiva/
morte) numa estrutura mental composta por id, ego e superego em constantes 
conflitos e conciliações ao longo das fases de desenvolvimento (oral, anal, fálica, 
genital). Para ele, o ego é a parte da psique que necessita ser fortalecida para 
equilibrar as demandas do id (pulsões), do superego (códigos morais) e da realidade 
externa para garantir a saúde da personalidade.
Anna Freud apresentou os mecanismos de defesa do ego (repressão, negação, 
racionalização, formação reativa, projeção, isolamento, regressão, sublimação) que 
podem estar presentes numa pessoa saudável, mas, se utilizados sem consciência e 
autocompreensão, podem dominar o ego, obscurecer a realidade, obstruir nossa 
capacidade de funcionar com flexibilidade, gerando neuroses.
Winnicott observou que a identidade pessoal – o sentido de ser – prospera num 
ambiente de amor e brincadeiras, especialmente, de espelhamento da atenção da 
“mãe suficientemente boa” (ou do/a cuidador/a direto/a). Com as adequadas 
transições, entre o “eu informe” para o “eu plenamente formado”, entre a 
subjetividade e o mundo externo, pessoas escapam de viver um falso self (voltado 
apenas para a reação dos outros), para desenvolver o verdadeiro self.
Carl Jung propõe o processo de “individuação” e fortalecimento da personalidade 
(introvertida ou extrovertida) nas quatro funções (pensamento, sentimento, 
intuição, sensação) pela integração de todas as partes da psique (conscientes e 
inconscientes), rumo à completude. Ele ofereceu chaves de decodificação ao 
apresentar o poder dos símbolos, os arquétipos da personalidade (ego, persona, 
sombra, anima/animus, self), o inconsciente coletivo, associando a libido não só com 
a energia sexual (como fez Freud), mas à energia psíquica generalizada vinda de 
fenômenos místicos e religiosos.
Adler explica que as percepções (metas e expectativas) determinam o 
comportamento das pessoas mais do que as experiências passadas. O impulso por 
poder e superioridade/perfeição, a agressividade, o complexo de inferioridade e a 
compensação movimentam, positivamente, indivíduos para superação, a criatividade, 
a adaptação, o sentido de valor próprio e a autorrealização desde que estejam num 
contexto de comunidade, interesse e cooperação sociais, nunca isolados.
Erik Erikson mostra o ciclo de oito estágios de desenvolvimento contínuo da 
personalidade desde o nascimento até a velhice. A cada estágio, indivíduos se 
equilibram entre dois extremos (crise) e aprimoram virtudes que funcionam como 
forças inerentes do desenvolvimento positivo e saudável do senso de identidade, e 
que possibilitam o ingresso para o próximo estágio. Os elementos das crises e as 
respectivas virtudes relacionadas entre parênteses são: Confiança básica/
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Desconfiança básica (Esperança), Autonomia/Vergonha e dúvida (Vontade), Iniciativa/
Culpa (Finalidade), Diligência/Inferioridade (Competência), Identidade/Confusão de 
identidade (Fidelidade), Intimidade/Isolamento (Amor), Geratividade/Estagnação 
(Consideração), Integridade/Desespero (Sabedoria).
Reich aponta que sensações e emoções se manifestam no corpo em forma de tensões 
musculares – “couraça corporal” – ligadas a inibições de instintos, sobretudo, sexuais. 
São sete anéis de contração muscular (ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, 
abdominal, pélvico) que sinalizam proteção e repressão de sentimentos/
comportamentos contra experiências desagradáveis, mas que resultam em 
diminuição na capacidade de prazer no organismo, que, por sua vez, afeta as funções 
mentais e vegetativas. Para uma pessoa se desenvolver, é preciso saber equilibrar 
controle e liberação de energia das emoções, do corpo e da mente.
William James identifica o self como aquele que reconhecemos ao despertar. O self 
apresenta os níveis: biológico, material, social, espiritual. Para ele, os estados alterados 
de consciência e intuitivos são úteis para se ter uma ideia da vontade humana 
(resultado de esforço e atenção), a qual é muito influenciada pelas emoções, as quais, 
por sua vez, dependem do feedback do corpo. Numa concepção pragmática, a 
personalidade é definida por emoções, manifestações físicas, percepções, 
comportamentos e pensamentos que fluem.
Skinner criou modos de medir, prever e compreender o comportamento humano 
observável (behaviorismo), onde mente e corpo não são separáveis. Ele aponta a 
importância do reforço positivo na construção da personalidade e critica as “ficções 
explanatórias” (liberdade, homem autônomo, dignidade, criatividade, self), que não 
levam em conta os elementos reforçadores que precedem e sucedem o 
comportamento em questão. De acordo com ele, castigos não funcionam para 
eliminar comportamentos inadequados e sim, o retorno positivo preciso e imediato 
que acelera o processo de aprendizagem, a capacidade de minimizar condições 
adversas, o esclarecimento do pensamento para o controle de si e do ambiente.
Carl Rogers acreditava que pela auto-observação e autoavaliação de suas próprias 
experiências cada pessoa podese desenvolver natural e positivamente, pela 
consciência de suas emoções e da realidade de seu ser. O self ideal é o que um 
indivíduo almeja e o impulsiona a se desenvolver, porém, se é muito diferente do 
self real, pode levá-lo a sentir-se desconfortável e inibir seu crescimento. A 
personalidade equilibrada e a saúde mental decorrem da congruência entre 
experiência, comunicação e consciência, onde cada pessoa se vê com precisão, 
assume o poder pessoal para transformações necessárias, sente-se confortável 
consigo mesma na sua forma de ser, pensar e agir sem ter que negar-se ou 
dissimular sentimentos em função das expectativas dos outros.
Maslow propôs a pirâmide de necessidades (fisiológica, segurança, afiliação e amor, 
estima e autorrealização) onde pessoas desenvolvem seu self mais profundo à 
medida em que suprem suas necessidades das mais básicas para aquelas que as 
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tornam plenas, maduras e integradas. Com uma visão clara da vida e transpessoal 
(para além de si mesmas), atuam com criatividade, espontaneidade, concentração, 
coragem, amor, altruísmo e trabalho árduo equilibrado com escolhas favoráveis ao 
seu crescimento. Ao contrário das pressões e maus-hábitos que inibem o 
crescimento, o sagrado/misticismo e as realizações culturais/sociais contribuem para 
a saúde e o bem-estar, percebidos por uma melhor eficiência biológica (longevidade, 
sono, apetite), envolvimento emocional mais profundo com o mundo, pensamento 
holístico, maior sentido de mistério (espiritualidade), respeito/admiração/apreciação, 
satisfação, humildade, alegria, entre outras experiências transcendentes.
Ioga e a Tradição Hindu enfatiza a tranquilização da mente, a fluidez da energia vital 
pelos sete Chacras, a concentração da consciência, a alegria e a autorrealização no 
self (essência imortal e imutável da pessoa), através de técnicas de respiração, 
meditação, disciplina e posturas corporais que nos purificam psicológica e 
espiritualmente. É importante diminuir as tendências subconscientes (vindas de 
experiências passadas que moldam negativamente a mente), e desenvolver a 
compreensão pela experiência e não pelo excesso de informações. Os cinco 
sofrimentos que atrapalham o crescimento – ignorância, egoísmo, desejo/aversão, 
apego e medo – devem ser transmutados através de mudanças da consciência para 
se alcançar e transmitir profunda paz e alegria interior.
Zen e a Tradição Budista têm por alvo principal a compreensão direta e pessoal da 
verdade (iluminação), e a transformação em um ser humano completamente 
maduro por meio de meditação e prática experiencial da espiritualidade. As 
principais características são: impermanência (tudo em constante transformação), 
impessoalidade (ausência de um self ou alma imortal/imutável) e insatisfação. Dessas 
características decorrem os princípios básicos: insatisfação/sofrimento é inevitável, 
insatisfação vem do desejo, elimine o desejo para extinguir a insatisfação/sofrimento, 
caminho óctuplo (caminho do meio, da moderação). Os principais obstáculos ao 
crescimento são: ganância, ódio, delusão (vacilação). Esses obstáculos podem levar a 
psicoses transitórias, por isso devem ser confrontados e transformados: ganância em 
compaixão, ódio em amor, delusão em sabedoria (seguindo os preceitos de Buda).
Sufismo e a Tradição Islâmica é um caminho do conhecimento útil, que busca a 
transformação pelo amor, pela devoção ao Criador no cuidado com a criação, pela 
experiência real de estados espirituais que transcendem as limitações e perspectivas 
pessoais, levando à fusão do self/identidade individual com Deus/totalidade da 
realidade. O desenvolvimento pessoal se dá em meio a estágios que treinam/expõem 
facetas do caráter e da percepção do aspirante. Os estágios são: Despertar inicial (em 
geral, após uma crise existencial pessoal); Paciência e gratidão (a transformação leva 
tempo); Medo e esperança (temor de perder a Deus; esperança apesar dos defeitos); 
Autonegação e pobreza (servir a outros para agradar a Deus e não para se 
autopromover; coração desapegado e aberto a Deus); Confiança (total) em Deus; Amor, 
inspiração, intimidade e satisfação (só em Deus); Intenção, sinceridade e veracidade 
(dão significado às ações); Contemplação e autoanálise (mente sem distrações); A 
recordação da morte (a consciência que liberta de hábitos e atitudes indesejáveis). Os 
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obstáculos ao crescimento são: Desatenção (esquecimento), Self inferior/Nafs (essência, 
natureza) que são o centro de traços negativos que precisam ser transformados em 
positivos.
Ufa, “palhinha” comprida, não?
Foi só para dar uma ideia da riqueza dessas abordagens e deixar um “gostinho de 
quero mais”, para cada estudante buscar mais aprendizados conforme seu interesse.
Com qual(is) teoria(s) você mais se identificou?
Que tal escolher uma das teorias e analisar a sua personalidade a partir dela?
Bem, não sei sobre você, mas, ao me analisar por quaisquer dessas teorias, 
através de relatos ou assistindo a filmes, descubro qualidades, mas, também, 
tantas falhas em minha personalidade e na forma como cuidei de meus 
pequenos que quase desanimo.
Daí, lembro-me: ninguém é perfeito!
Essas teorias estão aí para nos incentivar a melhorar, buscando fazer o que é 
possível a partir de agora, combinado?
Assista ao trailer (trinta segundos) do filme “Duas Vidas” (com 
Bruce Willis, 2000), que conta a história de um adulto bem-
sucedido, que se encontra com ele mesmo aos oito anos de 
idade. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=a1H1QYv8Jhk. 
Acesso em: 25 nov. 2021.
Depois, ouça essas dicas interessantes sobre nosso crescimento 
neste vídeo (6min20s). Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=iq1YHOOih_M.
 Acesso em: 25 nov. 2021.
Quando tiver um tempinho, não deixe de ver o filme todo, é 
divertido, intrigante e dá o que pensar! (tem grátis no Vimeo)
https://www.youtube.com/watch?v=a1H1QYv8Jhk
https://www.youtube.com/watch?v=iq1YHOOih_M
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Agora, apresentaremos algumas interfaces entre teorias psicológicas e religiosidade 
relatadas por Paulo Dalgalarrondo (2008, p. 55-89), professor de Psicopatologia da 
UNICAMP em seu livro “Religião, psicopatologia e saúde mental”:
Freud observou semelhanças entre sintomas/atos obsessivos e rituais religiosos 
carregados de angústia da consciência moral e do desamparo constitutivo, por isso, 
associou a religião centrada em Deus-Pai como forma de dar vazão inconsciente às 
pulsões eróticas, agressivas e egoísticas reprimidas e consideradas tabu/proibição 
ancestral. Como mecanismos de defesa, a regressão a um modo infantil de 
funcionamento para obter a proteção desejada, e a sublimação – estratégia válida 
para desviar a pulsão para outros fins sem que ela perca a sua força – onde pessoas se 
ligam por laços libidinais e obedecem ao líder da religião, a Deus-Pai.
Para Erik Erikson, a base das religiões está na relação do bebê com a mãe, como 
fonte paradisíaca de completude, alegria, prazer e satisfação em contraste com a 
situação infernal de desamparo e culpa, depois que a criança mordeu e perdeu o seio 
materno. A religião remete a essa atitude humilde e suplicante da criança 
dependente de cuidado, mas, perdoada de seus pecados e resgatada pela 
providência divina, numa relação saudável e curativa de confiança e aceitação 
incondicionais com Deus (ou com seu puro self na religiosidade oriental) sem 
ansiedades, dúvidas, culpas ou vergonha.
Da perspectiva de Jung, religiosidade é uma parte constitutiva e essencial do 
psiquismo humano, embora influenciada pela construção social. No caso, deuses, 
demônios, experiências de sofrimentos e aprendizados ficam armazenados no 
inconsciente coletivo de cada indivíduo, dentre os quais estão os arquétipos, rituais e 
dogmas religiosos (Cristo, Maria,Shiva, Buda...), que se manifestam individualmente 
(sonhos) e nas relações sociais como fatores de promoção de saúde mental.
Se você pudesse encontrar com você mesmo/a quando criança, o que você diria 
a ela?
DALGALARRONDO, Paulo. Religião, Psicopatologia e Saúde 
Mental. Porto Alegre: Artmed, 2018. Disponível na forma de 
eBook em “Minha Biblioteca”, integrada à Unicap: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/
9788536312248/pageid/0. Acesso em: 25 nov. 2021.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788536312248/pageid/0
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Em Winnicott, o brincar, a criatividade e a experiência cultural/artística/religiosa são 
fundamentais para a criança simbolizar e passar pelos estágios de progressiva 
independência da mãe em direção ao senso de uma realidade exterior separada de 
sua pessoa. É nesse meandro entre a realidade psíquica interna/subjetiva e a 
realidade externa/objetiva, que a religião contribui na estrutura e no mecanismo 
psíquico, especialmente, nos momentos de sofrimento mental (ansiedade, depressão 
e outros), onde a relação com Deus favorece o sentido da vida.
Aproveitando o gancho do brincar associado à criatividade, podemos pensar que a 
religião que proporciona experiências lúdico-transcendentes potencializa a criatividade, a 
sensação de segurança e bem-estar, que favorecem o pensamento crítico para 
hermenêuticas e práticas libertadoras, pois brotam, espontaneamente, como respostas 
fisiológicas naturais, como ocorre na criança que libera “hormônios da felicidade” 
enquanto ela brinca.
Figura 1 – feita pela autora a partir de conteúdo disponível em: https://brainly.com.br/tarefa/28898015 sobre a 
imagem disponível em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/criancas-brincando-com-baloes-no-campo-de-
grama-verde-6299265/. Acessos em: 25 nov. 2021.
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Na óptica de James Williams, o comportamento humano é determinado por 
pensamentos e sentimentos que as pessoas experimentam. Para ele, a dimensão 
afetiva das experiências religiosas importa mais que explicações teóricas, racionais e 
lógicas. Assim, a disposição interna, a consciência íntima/mística, a impotência 
perante a vida, as emoções de incompletude e o desamparo, são fatores relevantes na 
relação pessoal com a divindade/o sagrado.
Allport observou que a religiosidade imatura/extrínseca (própria de frequentadores 
assíduos de igreja) se caracteriza por fiéis infantis, regressivos e de fuga, que adotam uma 
divindade para desenvolver sua própria autoestima, enquanto agem com discriminação 
preconceituosa, menos afeto, menos segurança emocional, menos humor, menos 
autocompreensão e menos percepção realista. A religiosidade madura/intrínseca se 
mostra mais compreensiva, integradora, produtiva, criativa e motivacional no desejo 
intrínseco de conhecer, compreender e ajudar os outros.
James Fowler propôs estágios de desenvolvimento da fé religiosa ao longo do ciclo 
vital: imaginação fantasiosa e egocêntrica da criança; interpretação literal do pré-
adolescente; centrada em ideologias e no outro igual do adolescente; busca por 
autoridade moral dos adultos; compreensão mais ampla e profunda da vida de 
idosos, mesmo em face da morte iminente.
Vimos apenas alguns de inúmeros estudos em psicologia da religião que nos ajudam 
a analisar criticamente a relação entre personalidade e religiosidade, levando em 
conta o desenvolvimento cognitivo, emocional, de interação social, do senso ético e 
da moralidade nos mais diversos contextos etários, étnicos, religiosos e culturais.
Vídeo que fala sobre a descarga de oxitocina (“hormônio do 
parto”) quando pessoas fazem o bem sem esperar 
recompensa. Duração de quatro minutos. Disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=leZFE0ZEdo8
Algumas pessoas apontam a religião como a causa de desequilíbrios no 
desenvolvimento da personalidade. Outras dizem que a religião não 
desencadeia, mas estabiliza os desequilíbrios. E você, o que acha?
https://www.youtube.com/watch?v=leZFE0ZEdo8
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Há um consenso de que a religiosidade pode ter um papel protetor – religious coping 
– da saúde física e mental da pessoa idosa; pode reforçar a identidade, a necessidade 
de segurança, a autoestima e o senso de pertença de adolescentes diante das 
pressões familiares, sociais e culturais, prevenindo comportamentos de risco 
(delinquência, suicídio, uso/abuso de drogas e sexo inseguro), e que mulheres se 
mostram mais religiosas que os homens (DALGALARRONDO, 2008, p. 89-95).
Além disso, percebeu-se que umas práticas religiosas atendem melhor a algumas 
personalidades do que outras. Por exemplo, Dalgalarrondo (2008, p. 97-98) observou 
que pessoas com perfil ideológico conservador possuem um ego mais frágil, um 
superego mais severo, e tendem a se filiar em instituições religiosas mais 
organizadas; já indivíduos que se sentem ameaçados por pressões externas ou 
impulsos internos tendem a buscar ajuda em denominações religiosas mais 
dogmáticas; enquanto os de personalidade rígida, sugestionável, com estreiteza 
intelectual e inadequação social aderem-se mais a instituições conservadoras; e os 
que são mais impulsivos e tomam sobre si as muitas responsabilidades, buscam os 
grupos que praticam curas, glossolalia, estados de transe e conversões 
emocionalmente intensas. Esses dados reforçam a existência da ligação entre 
religiosidade e a personalidade humana e nos levam a refletir sobre a importância 
terapêutica dessa relação.
Em seu livro “Neuroses eclesiásticas e o evangelho para 
crentes”, o teólogo e psicólogo Karl Kepler mostra que a igreja 
tem ajudado muitas pessoas, aproximando-as de Deus e de 
uma comunidade de fé, mas também tem adoecido 
emocionalmente muita gente.
KEPLER, Karl. Neuroses eclesiásticas e o evangelho para 
crentes. 2. ed. ampliada. Joinville: Grafar. 2019.
Você pode ler 3 dos 15 excertos do livro disponíveis nos links 
abaixo. Acessos em: 25 nov. 2021:
http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-
eclesisticas-1.html
http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-
eclesisticas-2.html
http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-
eclesisticas-3.html
http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-eclesisticas-1.html
http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-eclesisticas-2.html
http://ecclesiareformanda.blogspot.com/2008/12/neuroses-eclesisticas-3.html
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1.2 Desenvolvimento cognitivo e religiosidade
É isso aí, enquanto refletimos juntos sobre esses temas relevantes, participamos de 
nossa própria construção humana, e nos inspiramos a ensinar nossos educandos e 
educandas a lidarem melhor consigo mesmos, com os outros, com o mundo ao 
redor e com o transcendente, contribuindo para um cotidiano e um porvir melhor 
para todos.
Percebemos que ao longo da vida cada indivíduo participa de seu crescimento 
pessoal de maneira consciente/racional e inconsciente/irracional, enquanto busca 
alcançar o equilíbrio e a autorrealização associados a ampliação de prazer e 
diminuição de tensões. Nesse processo, o que e como pensamos, observamos, nos 
ocupamos e lembramos geram emoções, sentimentos, comportamentos e eventos 
que compõem o ser humano, conforme vemos esquematizado abaixo:
Esse modelo adotado por psicólogos cognitivos (que visam compreender a estrutura do 
intelecto e da personalidade humana) mostra como tudo está conectado e o impacto de 
cada item sobre o todo: o evento (uma alteração física, mental ou emocional) afeta a 
cognição (pensamentos, ideias, raciocínios, lembranças, imagens que surgem 
espontaneamente), a qual desencadeia alguma emoção (alegria, medo, raiva, tristeza, 
nojo) associada a alterações fisiológicas, gerando comportamentos (ações decorrentes), 
novos eventos, maisprocessos cognitivos, outras emoções e por aí vai.
Figura 2 – Esquema elaborado pela autora a partir do modelo apresentado por Fadiman e Frager (2004, p. 
20, 315-324).
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Segundo Dalgalarrondo (2008, p. 95-97, 174-175), as experiências religiosas 
estimulam diferentes áreas cerebrais conforme a atividade e a cultura em questão: 
o Lobo frontal, estimulado em atividades cognitivas, favorece o reconhecimento de 
normas sociais, o monitoramento de regras de conduta e costumes, o pensamento 
reflexivo, a emoção ao ler um texto sagrado, a capacidade de inferir estados mentais 
de outros, os sentimentos de altruísmo e compaixão por outros; o Lobo parietal, 
ativado em experiências místicas, leva a estados de “atemporalidade” e à “sensação 
de infinito total” com diminuição da percepção de limites (entre self e mundo) 
durante a meditação profunda; o Lobo temporolímbico, estimulado nas vivências 
religiosas, tem relação com estados alterados de consciência (EACs) místicos e 
meditativos de êxtase, transe, epilepsia, alucinações, despersonalização, 
experiências de quase-morte (EQM), e acrescenta uma sensação de profundidade e 
importância às atividades cotidianas.
Se as experiências religiosas forem agradáveis, haverá ativação dos processos 
endógenos do Sistema Nervoso Central (SNC) pela liberação de hormônios de bem-
estar (endorfina, oxitocina, dopamina e serotonina), com melhora nos processos 
fisiológicos (metabolismo e funcionamento de órgãos) e nos processos psicológicos 
(cognitivos e comportamentais), e uma maior consciência da própria integridade e 
autenticidade, resultando num pensar, sentir e agir mais fluidos e saudáveis, que 
afinal, fazem parte dos alvos e frutos desejáveis no desenvolvimento da educação e 
da saúde humana (CSORDAS, 2008).
Figura 3 – feita pela autora com dados baseados em Dalgalarrondo (2008, p. 95-97) sobre a imagem disponível 
em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/silhueta-do-homem-durante-o-dia-1051838/. Acesso em: 25 nov. 2021.
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A observação desses dados não nos deve levar a julgamentos simplistas sobre a 
saúde mental desse ou daquele indivíduo, nessa ou naquela religião, pelo contrário, 
fornecem pistas que apontam a religiosidade como fator de estabilização da 
personalidade de adeptos, inclusive naqueles que apresentam algum transtorno 
mental. Personalidades que aceitam regras e apresentam sociabilidade, 
agradabilidade e conscienciosidade/escrupulosidade são as que mais buscam 
alguma religiosidade. Pessoas rígidas, ansiosas e tensas buscam religiosidades 
convencionais e fundamentalistas, e pessoas mais abertas voltam-se para 
religiosidades e espiritualidades maduras/intrínsecas, conforme a análise de Allport 
(DALGALARRONDO, 2008, p. 100, 153-158).
Há seitas religiosas radicais que impõem processos intensos de incorporação de 
ideologias, mas não são elas que desencadeiam transtornos mentais ou 
desorganização na estrutura cognitiva, pelo contrário, pesquisas empíricas apontam 
que pessoas religiosas têm menos “psicoticismo” (traços psicóticos, autonegligência, 
descaso pelo senso comum, expressão incomum de emoções), mais agradabilidade 
(é gentil, confiável, valorizador, generoso, empático, perdoador), conscienciosidade/
escrupulosidade (é organizado, eficiente, responsável, confiável, planejador), 
extroversão, maturidade/estabilidade emocional, compassividade e brandura social 
(DALGALARRONDO, 2008, p. 99-100, 165, 172-173).
De acordo com os psicólogos Alminhama e Menezes Júnior (2016, p. 123-127, 130-134, 
139-140), o EAC (Estado Alterado de Consciência) alcançado em contextos rituais 
litúrgicos não causam dissociações patológicas, pelo contrário, os efeitos de transe 
religioso nas experiências de possessão nas religiões mediúnicas (Umbanda, 
Candomblé, Espiritismo) e nas religiões evangélicas (pentecostais/neopentecostais) 
ocorrem de forma controlada, autônoma, por curto tempo, sem sofrimento ou 
prejuízos cognitivos na vida do praticante. As pessoas, em geral, sentem-se melhor 
após o transe.
Ainda sobre o caráter terapêutico das religiosidades, Donard (2010, p. 117-130) ressalta 
que pacientes que sofreram abusos sexuais na tenra infância têm o registro corpóreo 
da violência e que a mente pode recalcar o fato por não conseguir processá-lo. Mais 
Se as experiências religiosas forem agradáveis, haverá liberação de hormônios 
de bem-estar (endorfina, oxitocina, dopamina e serotonina), melhora no 
metabolismo e funcionamento de órgãos, assim como nos processos cognitivos 
e comportamentais, além de uma maior consciência da própria integridade e 
autenticidade, resultando num pensar, sentir e agir mais fluidos e saudáveis. 
Dados apontam a religiosidade como fator de estabilização da personalidade 
de adeptos, inclusive naqueles que apresentam algum transtorno mental.
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
tarde, quando esses indivíduos reportam visões e possessões demoníacas, que bem 
podem ser expressões da violência sofrida, beneficiam-se pela ação conjunta 
(interdisciplinar e terapêutica) de agentes da religião, da psicologia, da psiquiatria, 
entre outros que os ajudam a reestruturar a mente pela tomada de consciência, 
expressão do evento e até perdão.
Conforme o “paradigma da corporeidade” de Csordas (2008, p. 11-24, 102-146, 335-338), 
a corporeidade é fenomênica: é o próprio sujeito que interage, constitui e transforma 
o indivíduo e a cultura. As experiências no corpo podem alterar a linguagem, as 
emoções, a imaginação, a memória de pessoas, como no caso daquelas que diante 
de uma oração carismática são inundadas por uma sensação de amor reacendendo, 
no seu interior, a cessação de sintomas desagradáveis, motivação, empoderamento, 
substituição de medo por paz, gratidão e alegria (CSORDAS, 2008, p. 286-287, 294).
Reforçando a nossa atuação como cientistas da religião, não nos cabe eleger uma 
personalidade, religiosidade ou espiritualidade como melhor ou pior com base em 
julgamentos de valor, mas, sim, ampliar a nossa visão para analisar e compreender 
várias realidades e, assim, promover respeito, diálogo e bem-estar em favor de todas 
as pessoas. Na medicina, médicos têm defendido o efeito curativo da espiritualidade 
que desperta emoções positivas e a formação de vínculos comunitários solidários, 
empáticos, compassivos e amorosos, onde a alegria, o perdão, a gratidão, a esperança 
e a criatividade brotam espontaneamente e transcendem as emoções negativas do 
cotidiano (VALLIANT, 2010, p. 17-18, 21-40, 190-212).
Já pensou se as aulas de Ensino Religioso forem comparáveis àquelas narradas nos 
Evangelhos, quando a presença, as palavras, o olhar, os gestos, a escuta e a 
compaixão do Mestre restauravam a vida de leprosos mortos-vivos, pescadores 
fracassados e mulheres abandonadas? É claro que não somos Cristo nem temos 
poder para operar milagres, mas podemos ser pontes que aproximam pessoas de si 
mesmas, de outros (semelhantes e diferentes), do mundo ao redor, do transcendente, 
do divino, como propõe Pestana (2017).
Enfim, há tanto mais a se falar, mas, por ora, vamos ficar por aqui com essas 
provocações, suficientes para que nos inspiremos a cuidar melhor de nós mesmos/as 
e de nossos/as educandos/as com essa visão abrangente e transformadora da 
formação integral humana.
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Síntese da Unidade
Nesta Unidade, vimos a importância da educação integral humana, envolvendo todas 
as dimensões: mental, física, emocional e espiritual, dentre as quais destacamos a 
espiritualidade como a que guia e organiza as demais. Definimos algumas diferenças 
e semelhanças entre religiosidade e espiritualidade, sendo a primeira mais ligada a 
instituições religiosas e a segunda a atividades transcendentes em geral. 
Sobrevoamos algumas teorias da personalidade,suas relações com a religiosidade/
espiritualidade e dessa com a cognição humana, destacando os efeitos positivos 
dessas interações.
Percebemos a importância de proporcionarmos um Ensino Religioso de forma 
criativa, lúdica, reflexiva e transformadora que acolha, respeite e dialogue com as 
características de cada estudante, para que o ambiente de ensino-aprendizagem seja 
afetivo e efetivo para potencializar a formação integral de cada indivíduo e a 
construção de uma coexistência pacífica e solidária no mundo.
Já nos despedindo e com saudades, recomendamos que cada estudante aproveite 
este conteúdo recheado de leituras, atividades e reflexões para o seu próprio 
crescimento e aprofundamentos.
Na próxima Unidade, vamos tomar contato com valores humanos comuns às 
religiosidades que perpassam o hinduísmo, o confucionismo, o taoísmo, o budismo, o 
judaísmo, o cristianismo, o islamismo, o ateísmo, as tradições africanas e indígenas... 
até lá!
Figura 4 de RODNAE Productions no Pexels e Figura 5 de Yan Krukov no Pexels
Fotos disponíveis em: https://www.pexels.com/pt-br/foto/garoto-menino-rapaz-filhos-6936068/ e https://
www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-livro-criancas-filhos-8613083/. Acessos em: 25 nov. 2021.
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Referências
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ALMINHANA, Letícia Oliveira; MENEZES JÚNIOR. Adair. Experiências Religiosas/Espirituais: dissociação 
saudável ou patológica? Rev. Horizonte, Belo Horizonte, v. 14, n. 41, p. 122-143, Jan./Mar. 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Histórico. Disponível em: 
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/9. Acesso em 15 out. 2021.
COMENIUS, Iohannis Amos. Didactica Magna. [Tradução de Joaquim Ferreira Gomes]. Versão para eBook 
digitalizada por Calouste Gulbenkian, 2001. Disponível em: www.ebooksbrasil.org/adobeebook/
didaticamagna.pdf. Acesso em 23 nov. 2021.
CSORDAS, Thomas J. Corpo/Significado/Cura. [Tradução de José Secundino da Fonseca e Ethon Secundino 
da Fonseca]. Porto Alegre: UFRGS, 2008. 
DALGALARRONDO, Paulo. Religião, psicopatologia e saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2008. Disponível 
em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788536312248/pageid/0. Acesso em 23 nov. 2021.
DONARD, Véronique. Elementos sociológicos e psicanalíticos para compreender o discurso de possessão 
diabólica. In: Rev. Revista de Teologia e Ciências da Religião da Unicap Ano IX, n. 2, p. 117-130, jul./dez. 2010. 
Disponível em http://www.unicap.br/revistas/teologia/arquivo/teologia%202010%202.pdf. Acesso em: 24 nov. 
2021.
FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Personalidade e crescimento pessoal. [Tradução de Daniel Bueno]. 5 ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2004. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/
9788536317939/pageid/0. Acesso em: 23 nov. 2021.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23. ed.. São Paulo: Paz e 
Terra, 2002.
HILL, PARGAMENT et al.. Conceptualizing Religion and Spirituality: Points of Commonality, Points of 
Departure. Journal for the Theory of Social Behaviour, vol. 30, n.1, 2000, Oxford: Blackwell Publishers Ltd, USA.
HILL, Peter C.; PARGAMENT, Kenneth I.. Measurement Tools and Issues in the Psychology of Religion and 
Spirituality. In: FINKE, Roger; BADER, Christopher D.. Faithful measures: new methods in the measurement 
of religion. New York: New York University Press, 2017, p. 48-77.
PESTANA, Linda S. T C.. A terapêutica integral: milagres de Jesus e a Terapia Comunitária Integrativa. São 
Paulo: Fonte Editorial, 2017.
RÖHR, Ferdinand. Educação e espiritualidade: contribuições para uma compreensão multidimensional da 
realidade do homem e da educação. Campinas: Mercado de Letras, 2013.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da Educação. [Tradução de Sérgio Milliet]. 3. ed.. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1995.
VAILLANT, George. Fé: evidências científicas. Barueri: Manole, 2010.
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
ZINNBAUER, Brian J.; PARGAMENT, Kenneth I.; SCOTT, Allie B. The Emerging Meanings of Religiousness and 
Spirituality: Problems and Prospects. In: Journal of Personality 67:6, December 1999. Oxford: Blackwell 
Publishers, USA.
Unidade 2
O ser religioso nas culturas
Olá, estudante!
Nesta Unidade, vamos tomar contato com a forma como as religiosidades veem a 
humanidade e a visão do ser humano em relação à religião, perpassando a 
consciência cósmica e os rituais do Hinduísmo; a devoção ética humanista do 
Confucionismo; a harmonia nas relações humanas com a natureza no Taoísmo; o 
equilíbrio associado a desapego, tolerância e bondade no Budismo; a missão do 
povo em cumprir sua boa relação com Deus e com os semelhantes no Judaísmo; a 
fé que imita a Jesus no Cristianismo; a submissão de seguidores à palavra de Deus 
que se tornou Livro no Islamismo; e os mitos e ritos que harmonizam pessoas entre 
si, com ancestrais, espíritos e a natureza nas tradições africanas e indígenas.
Com esse panorama em mente e considerando a BNCC, Base Nacional Comum 
Curricular (BRASIL, 2017, p. 436), cabe a nós, cientistas da religião, investir em um 
Ensino Religioso que apresente como as diversas religiões consideram o 
desenvolvimento humano e como a humanidade encara a religiosidade, numa 
visão ampla, ética e estética que leve em conta o pluralismo religioso e a 
diversidade cultural, promovendo diálogo, respeito, valores e cidadania de 
educandas e educandos desde o Ensino Fundamental.
À luz da BNCC, esperamos que este Guia de Estudo contribua na sua aprendizagem 
sobre conhecimentos religiosos, culturais e estéticos; sobre o direito à liberdade de 
consciência e de crença no constante propósito de promoção dos direitos humanos; 
no desenvolvimento de competências e habilidades ligadas ao diálogo entre 
perspectivas religiosas e seculares de vida, com o devido respeito à liberdade de 
concepções e ao pluralismo de ideias, de acordo com a Constituição Federal; e na 
construção de sentidos pessoais de vida a partir de valores, princípios éticos e da 
cidadania (BRASIL, 2017, p. 436). 
Objetivos da unidade
• Desenvolver a capacidade de identificar, explicitar e acolher as diferenças 
socioculturais que são inerentes às várias religiosidades e espiritualidades;
• Acolher uma visão empática e inclusiva de diferentes questionamentos humanos e 
respostas das culturas religiosas para o desenvolvimento da humanidade;
• Atuar para superar exclusões culturais e religiosas, promovendo o diálogo 
respeitoso entre as diversas propostas de formação humana oferecidas pelas 
diferentes espiritualidades. 
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
Introdução
Primeiramente, lembremos que o fenômeno ou fato religioso tem sido objeto de 
estudo na história, na etnologia, na psicologia e em outras ciências humanas, pois sua 
presença/importância é incontestável e universal (WILGES; COLOMBO, 1980, p. 11). O 
relacionamento dos seres humanos com as religiões é complexo e difícil de analisar, 
porque ‘não existe uma definição simples de religião que expresse todas as suas 
dimensões’ (WERNER, 2016, p.12); também, as respostas humanas a elas são múltiplas, 
variando desde a adesão fundamentalista à oposição descrente. De acordo com 
Dionizio (2020, p. 96), as doutrinas de uma religião têm a ver com a cultura, e a cultura 
sofre influência da religião; dessa maneira, as práticas doutrinárias e dogmas 
expressam elementos que fazem parte da cultura e do povo, e uma coisa nos ajuda a 
enxergar outra.
Assim, não aconteceu o imaginado desencantamento do mundo, onde as religiões 
“sumiriam”, propagado por alguns cientistas sociais e até por cientistas da(s) 
Dê uma olhada nestas 105 lâminas que percorrem 
sinteticamente diferentes religiosidades e nos convidam a 
vislumbrarcomo a diversidade no mundo é bela e corrobora a 
promoção da cultura de paz entre as nações. Segundo Küng 
(1990), isso só é possível se houver respeito, diálogo, justiça, ética 
mundial entre e além das religiões. Disponível em: 
https://www.slideshare.net/GilbrazArago/religies-e-tica
Figura 1 – A “regra de ouro” nas religiões mundiais. Slide 105. Disponível em https://www.slideshare.net/
GilbrazArago/religies-e-tica. Acesso em: dez. 2021.
https://www.slideshare.net/GilbrazArago/religies-e-tica
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Desenvolvimento Humano e Religiosidade
religião(ões) nos Séculos XIX e XX; pelo contrário, as mudanças que ocorreram no 
mundo e no modo como a humanidade tem lidado com a religião transcenderam as 
previsões sobre o fim das religiões. Conforme apontou Berger (2017, p. 48-74), o que 
aconteceu não foi um abandono das religiões, mas a reconfiguração delas diante do 
pluralismo que muda mais o “como” do que “o quê” da crença de um indivíduo, ou 
seja, transforma o jeito de ele seguir crendo.
Portanto, ao falar em desenvolvimento humano, precisamos respeitar a diversidade 
de experiências e da atitude assumida por cada sujeito em relação à religião e vice-
versa. Nesse viés, apresentaremos as perspectivas da “humanidade” e da 
“religiosidade”, uma em relação à outra: o ser humano nas religiões e culturas, e 
visões do ser humano nas tradições religiosas, respectivamente:
Numa primeira instância, observaremos como o ser humano tem lidado com a 
religião, a religiosidade, a espiritualidade e os fenômenos culturais relacionados. 
Depois, apresentaremos um panorama das visões das religiões e culturas atuais 
acerca dos seres humanos.
Vamos lá?!
1. O ser humano nas religiões e culturas
Para observar como a humanidade tem praticado ou lidado com a religião em 
diferentes contextos, alguns autores apontam o estudo da história das religiões como 
um caminho. Também, estudos na área da arqueologia e da paleontologia têm nos 
ajudado a ver como as antigas religiões pré-históricas já demonstravam interesse em 
rituais ligados à caça, ao plantio, aos funerais, às estações, aos costumes e à cosmovisão 
da comunidade. A religião oferecia uma resposta, práticas e a esperança de exercer 
certo controle sobre o mundo, a vida, a morte e outras questões humanas, inclusive, 
através de espíritos, deuses e outras entidades (PROTHERO, 2020, p. 76-77; WERNER, 
2016, p.12-15; DESROCHE, 1985, p. 20-36).
O processo civilizatório que ocorreu pelos avanços na agricultura, na irrigação e na 
formação de cidades com o sedentarismo (em contraste com o nomadismo) 
contribuiu para que a religião passasse a assumir um papel regulador e 
estabilizador da sociedade, adaptando-se a novos tempos e necessidades. Nesse 
momento, a religião exercia uma forte influência sobre a estratificação social do 
O ser humano nas religiões e culturas
Visões do ser humano nas tradições 
religiosas
Como a Humanidade
⇩ enxerga
A Religiosidade/Cultura
Como a Religiosidade/Cultura
⇩ enxerga
A Humanidade
Tabela 1 – Visão do ser humano em relação à religião e da religião em relação ao ser humano.
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clero, da nobreza e de outros membros da sociedade, além de oferecer códigos de 
conduta, de justiça e de outros aspectos da cultura que controlavam segmentos 
importantes da vida sociopolítica.
Veja como a religião tem participado como elemento organizador da vida humana 
em vários agrupamentos humanos pelo mundo:
Agrupando as grandes religiões
As antigas religiões das civilizações do regadio, no Egito e na Mesopotâmia, 
corroboraram a formação e a sustentação da ideologia imperial nessas sociedades. 
Uma vez que os reis eram relacionados com o divino, a sociedade acreditava que a 
efetividade da agricultura dependia do controle deles sobre o Estado. No processo, o 
excedente de produção dessas civilizações proporcionou a formação de exércitos que 
transformaram esses ajuntamentos humanos em grandes impérios.
Na Índia, grandes religiões de libertação se desenvolveram em um processo 
secular o que gerou desdobramentos que perduram ainda hoje. Elas visam escapar 
do ciclo interminável e insatisfatório de nascimento, vida, morte e renascimento, 
onde o mundo mais parece uma prisão. O hinduísmo propôs um escape por meio 
da devoção religiosa e ritual; enquanto o budismo, na tentativa de reformar o 
hinduísmo, apresentou sua forma de libertação e iluminação como um 
despertamento para a realidade. A libertação é o grande alvo dessas religiosidades 
para a humanidade.
Já os grandes monoteísmos que se desenvolveram no Oriente Médio são as 
chamadas religiões de reparo por meio de revelações. Para elas, algo está errado 
com esse mundo e o Deus único ofereceu o conserto por meio de revelações. No 
caso do judaísmo, a revelação está na Torá e a humanidade precisa experimentar o 
caminho do exílio e do retorno - “reparação do mundo”, tikkun olam - conforme se vê 
na própria história do povo judeu onde essa experiência é recorrente. Para o 
cristianismo, a revelação está em Jesus Cristo e basta seguir seus passos e suas 
palavras para alcançar a salvação. Já, de acordo com o islamismo, a revelação está no 
Corão, o livro sagrado por excelência, que mostra a forma de reparar o mundo pela 
submissão a Deus e a seu profeta.
Assim, nos grandes monoteísmos, a humanidade tem buscado a revelação religiosa 
para reparar algo que está estragado, rompido ou quebrado. Dentre as religiões 
monoteístas de reparo, podemos incluir o zoroastrismo, nascido na antiga Pérsia, que 
também apresenta uma revelação, indicando o caminho para o bom relacionamento 
com o divino por meio da prática daquilo que é a orientação de Deus.
Na China, desenvolveram-se as religiões de reversão que buscam um retorno à 
condição idílica e próspera de dias anteriores. O confucionismo investiu no cultivo de 
ritos apropriados e diferenciados para cada relacionamento e atividade humana, 
visando reverter o caos através do cultivo de valores da humanidade, da ordem 
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pública, política e familiar essenciais para o bom funcionamento de uma sociedade. 
No caso do daoísmo/taoísmo, o desejo é retornar ao Dao/Tao (caminho) em harmonia 
com o universo para o florescimento de uma vida longa e boa. Essas religiões de 
reversão têm pouco interesse no além-túmulo, e concentram-se na cultura e no 
convívio social harmônico e próspero nesta vida.
As religiões de tradições indígenas e afrodescendentes desenvolvidas nas Américas 
pelos povos originários ou por pessoas que foram escravizadas e trazidas para essas 
terras também podem ser encaradas como religiões de reversão. Por exemplo, as 
várias religiões de matriz africana aculturadas no Brasil buscam um caminho de 
reforço da sua identidade, já que foram tiradas à força da sociedade e do local onde 
estavam sua ancestralidade e suas raízes. Semelhantemente, as religiões 
ameríndias tentam reverter o desequilíbrio causado pelo invasor europeu, 
buscando o caminho da harmonia com a terra; na América do Norte, por exemplo, 
os navarros almejam esse retorno à beleza e ao equilíbrio original em que viviam.
Finalmente, há as religiosidades que rejeitam a religião e constituem as religiões de 
negação - o caminho do não caminho - dentre os quais, o ateísmo e certas atitudes 
filosófico-políticas da atualidade afirmam que um dos grandes problemas que 
atinge a humanidade é a religião e ela deve ser negada. 
Assim, completamos esse quadro que é uma adaptação do pensamento de Stephen 
Prothero (2020, p. 76-77), onde além das religiões de Libertação, de Reparo, de 
Reversão e de Negação que ele propõe, acrescentamos as religiões das civilizações do 
regadio. Embora essa síntese seja uma generalização da complexidade de 
fenômenos religiosos, ela é útil para uma visão de conjunto das principais orientações 
e tendências de cada religião mencionada.
Religiões dascivilizações do regadio (Egito e Mesopotâmia):
• O caminho da formação e sustentação da ideologia imperial.
• O caminho da divinização de reis.
Religiões de Libertação (Índia): 
• O caminho da devoção: hinduísmo.
• O caminho do despertamento: budismo.
Religiões de Reparo (Oriente Médio):
• O caminho do exílio e retorno: judaísmo.
• O caminho da salvação: cristianismo.
• O caminho da submissão; islamismo
Religiões de Reversão (China, Américas): 
• O caminho dos ritos apropriados: confucionismo.
• O caminho do florescimento: daoísmo/taoísmo.
• O caminho da identidade e ancestralidade: religiões afro-brasileiras e indígenas.
Religiões de Negação:
• O caminho do não-caminho: ateísmo
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Religião e cultura moderna
As religiões e as culturas estão amalgamadas entre si de tal forma que seja impossível 
separá-las; uma faz parte da outra e ambas contribuem para compor o ser humano 
em sua integralidade. Com o passar dos tempos, as religiões tradicionais têm sofrido 
transformações com perdas e ganhos, como veremos adiante.
O historiador Yuval Noah Harari (2018, p. 164-177) fala sobre os grandes problemas do 
século XXI, classificando-os em três categorias de problemas: técnicos, políticos e 
identitários. Em sua avaliação, as religiões têm menos influência e relevância diretas 
sobre as duas primeiras categorias (problemas técnicos e políticos), em comparação 
ao quanto afeta, imensa e profundamente, sobre quem somos “nós” e quem são 
“eles”, ou seja, nas questões identitárias.
Por um lado, a ciência tem suplantado a religião, já que a agricultura moderna não 
mais depende dos rituais ou danças da chuva e tudo se resolve com maquinário, 
adubo, agrotóxicos e tecnologias de estocagem e manejo. Semelhantemente, a 
religião não tem ocupado um lugar de destaque na medicina, na engenharia, na 
nutrição, em muitas áreas acadêmicas, políticas e econômicas.
Os livros sagrados outrora considerados guias e organizadores de sociedades, já não 
interferem tanto nas políticas econômicas de países religiosamente distintos como o Irã 
xiita, a Arábia Saudita sunita, o Israel judaico, a Índia hinduísta e a América cristã, 
tampouco se vê muita diferença no comportamento dessas nações em relação ao 
mercado mundial.
Eventualmente, um ou outro grupo religioso assume alguma postura na ciência ou 
na economia como dogma para sua agremiação, mas, em geral, essa não é a norma 
de conduta das nações e das comunidades, reforçando o fato de que a religião 
perdeu terreno para a ciência, economia, outros saberes e instituições.
Mas, perdura um poder da religião ainda não suplantado por quaisquer outras 
instituições ou saberes: a capacidade da religião em marcar a identidade e o senso 
de pertença nos grupos humanos.
Tanto esse é um fato que, historicamente, os nacionalismos têm se aproveitado desse 
valor para fazer da religião o cimento social da identidade nacional. Infelizmente, 
também as identidades religiosas têm se tornado objeto de manipulação e conflito 
ao considerar o “outro” como aquele a quem se deve repelir, excluir e combater. Por 
isso, é tão importante que nós, cientistas da religião, participemos com 
conhecimentos e propostas que favoreçam o diálogo, o respeito, a solidariedade e a 
paz nas relações humanas.
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Essas observações à luz de Harari (2018) apontam o valor da religião na definição da 
identidade do indivíduo e dos grupos sociais. Mesmo com a perda de sua influência 
histórica milenar, a religião e os indivíduos que a sustentam ainda exercem uma forte 
influência sobre a cultura, como podemos observar nas datas comemorativas, na 
cosmovisão, na culinária, na vida familiar, nas questões de estética, ética, valores e 
moral de uma comunidade. Afinal, como bem diz Meslin (2014, p. 68), “a fronteira 
entre cultura e religião é frágil” e a “religião, portanto, não deixa de informar a 
cultura”, ou seja, uma está intimamente ligada à outra.
Como vimos, as religiões eram detentoras e guardiãs das verdades em relação às 
certezas dogmáticas que guiavam e organizavam as sociedades. Mas, com a 
globalização que se instalou no século XX, as religiões perderam para outras 
instituições algumas de suas funções (sociais, políticas, educacionais, beneficentes, 
entre outras) e seus dogmas foram desafiados pelo pluralismo. Para refletir sobre o 
impacto da globalização e do pluralismo no cenário mundial e sobre as novas 
configurações da religião, usaremos algumas ideias apresentadas por Peter L. 
Berger (2017).
Figura 2 – Diversidade Religiosa. Fonte: PORFÍRIO, Francisco. "Estado laico"; Brasil Escola. Disponível em: 
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/estado-laico.htm. Acesso em 08 de dezembro de 2021.
Trata-se de uma leitura preciosa para compreender os rumos das religiões na 
modernidade, escrita em estilo claro, límpido e dialogal... Vale a pena conferir! 
BERGER, Peter L. Os múltiplos altares da modernidade: rumo a um paradigma 
da religião numa sociedade pluralista. Petrópolis: Vozes, 2017.
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Segundo cientistas sociais e da religião, esse processo começa com o primeiro passo: 
a “contaminação cognitiva”, quando a globalização (a urbanização e o intenso 
trânsito de comunicação) alcança um grupo social/religioso homogêneo, isolado e 
pouco desafiado em suas certezas de fé, fazendo com que indivíduos, outrora 
separados, tenham contato com diferentes sujeitos, grupos sociais, religiões e crenças 
e, consciente ou inconscientemente, agreguem novas ideias que até podem levá-los 
a um “choque cultural”.
Surge então a “dissonância cognitiva”, quando o que se crê/cria não combina com o 
que se vivencia/percebe no convívio com o outro, ou seja, as antigas certezas se 
tornam desconfortáveis nas novas relações. As estratégias para atenuar o desconforto 
dessa “dissonância cognitiva” podem resultar em ações sem diálogo tais como a 
negação da legitimidade da nova informação perturbadora, a saída dos sujeitos 
incomodados (os incomodados se retiram), e em ações que tentam impor, converter 
ou eliminar os sujeitos dissonantes, corroborando fundamentalismos.
Outra possibilidade é a tentativa de negociação através da “barganha cognitiva” que 
pode levar a posturas extremadas e opostas como relativismos (relativização de 
crenças) e fundamentalismos (recrudescimento dogmático), mas, em sua maioria, as 
pessoas ficam no meio-termo dos acordos e das concessões para conviverem de 
forma duradoura e pacífica na pluralidade. Nesse caso, temas que antes eram 
certezas “absolutas” e fundamentados em dogmas religiosos, passam a ser 
considerados “preferências ou opiniões” para evitar os extremismos de uns e a 
anomia (perda de identidade) de outros, afinal, “conversando, a gente se entende”, 
não é mesmo?
Essa análise é importante já que, na atualidade, “quase dois terços da humanidade 
professam uma religião que é estranha ao solo nacional” (MESLIN, 2014, p. 268), 
Figura 3 - Charge de Carlos Ruas nos mostra como ocorre o pensamento etnocêntrico. Disponível em: https://
www.todamateria.com.br/etnocentrismo/. Acesso em: 8 dez. 2021.
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implicando em variadas formas de relacionamento das religiões com as culturas. Não 
há como evitar a “aculturação religiosa”, onde elementos de uma religião ou cultura 
são assimilados em sincretismos, combinações, bricolagens e outras formas de 
negociação dos conteúdos, práticas e ritos das religiões. Mesmo quando um grupo 
reage negativamente a outro, também sofre mudanças internas por influência desse, 
pois desenvolverá estratégias de resistência e oposição, reconfigurando-se. Assim, 
seja na assimilação ou no combate entre religião e cultura, sempre surgem novos 
elementos religiosos e culturais, ou seja, uma aculturação religiosa.
Ambos, religiõese seres humanos, sofrem mudanças no contato com a diversidade 
cultural-religiosa, quanto mais interação com culturas e religiosidades diferentes, 
mais mudanças ocorrerão, as quais terão encaminhamentos diferentes conforme a 
reação de cada um em relação ao outro. Então, por mais contraditório que pareça ser, 
as religiões que mais almejam a universalização, ou seja, as que querem converter o 
mundo todo, são as que mais experimentam clivagens, divisões dentro delas 
mesmas por causa da maior interação com as diferentes realidades (DESROCHE, 
1985, p. 373638).
Há, também, a religião popular que mostra como a humanidade lida criativamente e 
dinamicamente com as religiões. Religião popular pode ser a religião de um povo, de 
um extrato social carente de riqueza e cultura, ou de quem se opõe/desvia da religião 
oficial. As configurações e formações de religiões populares decorrem de inúmeros 
fatores, desde as aculturações religiosas mencionadas anteriormente, até a 
resistência de um segmento humano contra outro dentro de uma mesma religião 
(MESLIN, 2014, p. 296-299).
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Figura 4 – Esquema elaborado pela autora a partir de Berger (2007) e Meslin (2014).
Se as religiões que mais buscam a universalização são as que mais se dividem 
internamente por causa do contato com novas realidades, qual o paralelo 
disso com o ser humano que amplia seus relacionamentos com pessoas, 
culturas e religiosidades diversas? A interação com o diferente faz indivíduos 
se tornarem mais fundamentalistas, mais relativistas ou mais capazes de 
conviver, dialogar, respeitar ao outro sem perder a sua identidade? Como isso 
se aplica a você, estudante?
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Religião e o futuro
Afinal, o que será da religião no futuro? Contrariamente ao que alguns estudiosos do 
passado disseram sobre o fim da religião, o mundo vive uma “fase de extinção das 
ideologias e retorno das religiões. Ele está passando exatamente pelo oposto do que as 
filosofias da história de Hegel, Comte e Marx previram” (KOSLOWSKI, 2001, p. 2). Logo, 
toda tentativa de falar sobre o futuro da religião deve ser feita com toda a cautela e 
prudência, a exemplo de outros que já se equivocaram nas previsões.
Dois autores que se propuseram a falar sobre o futuro das religiões listaram sete 
megatendências nas questões religiosas (BAKAS, BUWALDA, 2011, p. 7). São estas:
1 - Tendência à individualização da religião e a um cenário religioso multiforme;
2 - Tendência a novas ortodoxias e à politização da religião;
3 - Tendência à comercialização da religião e à midiatização da religião;
4 - Tendência à ascensão do Deus Verde;
5 - Tendência a um mercado crescente de crenças apocalípticas e ao desenvolvimento 
de uma consciência mais elevada;
6 - Tendência de deslocar o foco da doutrina para a experiência religiosa;
7 - Tendência de haver religião influenciada por superpotências multiculturais e de 
ascensão de moralismo.
O que se constata nessa lista é o processo de mutabilidade e adaptação da religião aos 
novos tempos, além de sua presença junto a movimentos, instituições e outras grandes 
forças nesse mundo, utilizando-os e deixando-se utilizar por eles. Ela é objeto de 
comercialização, politização, individualização e alvo de manipulação por grandes 
interesses. Tanto se associa às novas tomadas de consciência da ecologia e da valorização 
da experiência pessoal, quanto participa na retomada de moralismos e ortodoxias. Se 
algum desenvolvimento humano for almejado e trabalhado pelas instituições de ensino e 
de desenvolvimento humano e social, a religião é um elemento inseparável e chave para a 
consecução bem-sucedida do projeto. 
Pois é, a religião está em todas!
Apesar de a religião ter perdido muito de sua relevância e importância na 
atualidade, quando comparamos com seu papel nas comunidades mais 
antigas, ela ainda é elemento fundamental da humanidade tanto em termos 
da cultura como em termos da identidade, pertença e sentido de vida. 
Pesquisadores apontam que, de uma forma ou outra, a religião está sempre 
presente nas grandes transformações das sociedades, instituições e culturas. A 
humanidade só poderá ter paz e um convívio adequado quando as religiões 
também estiverem alinhadas com este projeto de coexistência pacífica.
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2. Visões do ser humano nas tradições religiosas
As visões das religiões acerca do ser humano e seu desenvolvimento são tão variadas 
quanto elas mesmas são. Uma antropologia a partir das religiões evidenciará não só 
as diferentes cosmovisões das religiões em suas respectivas culturas, mas também as 
distintas propostas delas para a humanidade, para o indivíduo humano.
Os fenômenos religiosos são muito complexos e até contraditórios dentro de cada 
tradição religiosa, contudo, ousaremos apresentá-los num quadro sinótico para que 
a visão de conjunto nos ajude a comparar e ponderar as diferentes ênfases e 
interesses de cada agrupamento religioso. Uma visão sintética sobre como dez 
grandes religiões veem o ser humano amplia nosso saber sobre essa relação, afinal, 
quem só conhece uma religião, não conhece nenhuma, como já diziam os 
fundadores das ciências da religião. 
Para sistematizar esta nossa conversa, adaptamos um modelo de estudo 
comparativo das religiões proposto por Stephen Prothero (2020, p. 71), através do qual 
buscaremos responder às seguintes questões:
• Qual a condição do ser humano?
• Qual o problema da humanidade?
• Qual a solução para a humanidade?
• Qual o caminho para ajudar a humanidade?
Relação do homem com a natureza (duração de 18 min e 11 s).
Esse vídeo apresenta como é essa relação do ponto de vista de 
algumas religiosidades: budista, indígena, de matriz africana, 
cristã, entre outras. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=FPJJ9Xydv8Q
https://www.youtube.com/watch?v=FPJJ9Xydv8Q
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QUESTÕES →
RELIGIÕES↓
Qual a natureza 
da humanidade?
Qual o problema 
da humanidade?
Qual a solução 
para a 
humanidade?
Quais as ações 
úteis para a 
humanidade?
Hinduísmo
O homem, o 
mundo e o divino 
são partes do 
mesmo um.
Como escapar do 
renascimento e 
da morte 
(samsara)?
Atingir o moksha, 
libertação total.
As disciplinas do 
karma (ação), da 
jnana (sabedoria) e 
bhakti (devoção).
Confucionismo
O homem é 
inerentemente 
bom (HUME, 1980, 
p. 125).
Como tornar-se 
verdadeiramente 
humano e 
escapar do caos 
social?
Buscar a 
harmonia social.
Sabedoria, justiça, 
integridade, cultivo da 
humanidade, dos ritos 
adequados e do 
autodesenvolvimento.
Daoísmo
(Taoísmo)
Há homens 
superiores, 
medianos e 
inferiores.
Como viver uma 
vida longa e 
florescer?
Florescer e ter 
vida em 
equilíbrio: wu wei.
Alinhar-se ao Dao 
(Tao): meditação, 
visualização, 
alimentos bons, 
exercícios e rituais.
Budismo
O homem é um 
ser em constante 
transformação.
Como eliminar o 
sofrimento?
Atingir o nirvana, 
a extinção do 
sofrimento.
Meditação, canto, 
visualização, dieta, 
devoção. O 
“caminho do meio”. 
Judaísmo
O homem é 
criação à imagem 
de Deus.
Como retornar a 
Deus e reparar o 
mundo?
Retornar a Deus e 
ao seu povo.
Seguir a Torah, 
comunidades de 
devoção.
Cristianismo
O homem é 
criação à imagem 
de Deus.
O que fazer para 
ser salvo do 
pecado?
Acolher a 
salvação de Jesus 
Cristo.
Fé e prática do 
ensino de Jesus.
Islamismo
O homem é 
criação à imagem 
de Deus.
Como ter sucesso 
nesta vida e no 
porvir?
Submeter-se a 
Deus conforme o 
Corão.
Praticar os “cinco 
pilares” do 
islamismo.
Africanas
O homem tem 
parentesco com a 
natureza.
Como 
reencontrar a 
ancestralidade?
Retomar os ritos e 
práticas que nos 
ligam aos 
ancestrais.
Resistência e luta 
para praticar a 
religião e 
reencontrar a 
identidade.
Indígenas

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