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LITERATURA BRASILEIRA INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 2 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Sumário 1 O TEXTO LITERÁRIO ..................................................................................... 3 2 A ARTE E A LINGUAGEM DA LITERATURA ................................................. 7 3 A LITERATURA COMO GÊNERO E EXPRESSÃO DE UMA ÉPOCA ......... 11 3.1 Gêneros .................................................................................................. 11 3.1.1 Épico ................................................................................................ 12 3.1.2 Lírico ................................................................................................ 15 3.1.3 Dramático ......................................................................................... 16 3.2 Expressão de uma época ....................................................................... 17 4 AS ORIGENS EUROPÉIAS DA LITERATURA ............................................. 18 4.1 Idade Média ............................................................................................ 18 4.2 Humanismo ............................................................................................. 21 4.3 Classicismo ............................................................................................. 22 5 A LITERATURA BRASILEIRA DO QUINHENTISMO AO MODERNISMO ... 24 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ........................................... 35 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 3 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 1 O TEXTO LITERÁRIO A literatura brasileira, ao mesmo tempo em que é influenciada, ela também exerce grande influência na história cultural, social, política e econômica de todos, pois é de forte contribuição ao desenvolvimento da sociedade, refletindo sobre os valores vigentes, indagando a respeito de questões sociais, de relações humanas e de conflitos oriundos desta. Na realidade, o texto literário, em especial, é a escrita da vivência, reflexão, entendimento e questionamento de cada indivíduo na sociedade, é a escrita de tribulações, amores, pensamentos, ideais, lutas, etc. (OLIVEIRA et al, 2008). Pois bem, parece simples que introduzir o letramento literário na escola aconteça em quatro passos básicos e que seja fácil tanto para professores quanto para alunos executa-los: motivação, introdução, leitura e interpretação, entretanto, realizar estas ações exige comprometimento, vontade e disposição, e sejamos sinceros, não temos observado nas escolas interesse de ambas as partes, mas todos esquecem que vivemos em uma sociedade letrada, onde as possibilidades de exercício da linguagem é muito mais importante, a necessidade da linguagem se faz exigente. Como diz Cosson (2006) todas as transações humanas passam, de uma maneira ou de outra, pela escrita, mesmo aquelas que aparentemente são orais ou imagéticas. A linguagem, a comunicação e a escrita encontram na literatura seu mais perfeito exercício. A literatura não apenas tem a palavra em sua constituição material, como também a escrita é seu veículo predominante. A prática da literatura, seja pela leitura, seja pela escritura, consiste exatamente em uma exploração das potencialidades da linguagem, da palavra e da escrita, que não tem paralelo em outra atividade humana. É no exercício da leitura e da escrita dos textos literários que se desvela a arbitrariedade das regras impostas pelos discursos padronizados da INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 4 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 sociedade letrada e se constrói um modo próprio de se fazer dono da linguagem que, sendo minha, é também de todos (COSSON, 2006). Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade. Vamos então, à definição da especificidade do texto literário que pode partir dos seguintes princípios orientadores: 1. Tradicionalmente, o texto literário distingue-se do texto das ciências da história, da filosofia, da psicologia, sociologia, etc. Contudo, caracteriza- o um campo de ação criativa tal que pode ir buscar a todos os outros campos os termos que hão de ajudar a construir a sua especificidade. 2. O texto literário é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de forma e estrutura) e diferente de todos (pela linguagem); é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de uso de uma linguagem) e diferente de todos (pela procura de uma forma e estrutura peculiares); é ao mesmo tempo igual a todos os outros (em termos de forma e estrutura e uso da linguagem) e diferente de todos (em termos de forma e estrutura e uso da linguagem). Vale este princípio complexo como o princípio dos paradoxos da definição referencial de literatura, que anula qualquer tentativa de institucionalização da literariedade como explicação do fenômeno literário. 3. O texto literário não é um registro linguístico efêmero, pois tem por objetivo ser preservado na tradição oral e/ou escrita. Neste sentido, é intemporal. 4. Em relação ao leitor, por exemplo, a especificidade do texto literário pode dizer respeito ao efeito catártico que conduz à crença de que a literatura pode purificar e reeducar a sociedade (assim acreditaram os neorrealistas). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 5 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 5. Em relação aos autores, tal especificidade, pode traduzir-se no fato de o texto literário poder ser expressivo (propriedade não formal, mas referente aos registros diretos das experiências pessoais e do caráter do escritor) ou impessoal (criações que ofuscam a individualidade do escritor). No primeiro caso, estariam autores como Eça de Queirós ou Almeida Garrett; no segundo, os escritores surrealistas ou os concretistas, por exemplo. 6. O fato literário de um texto pode explicar-se como forma de persuasão (na tradição retórica, mas não na tradição da psicogagia1 sofística) simplesmente para apresentar um ponto de vista (Antero proudhoniano2) ou para tentar mudar o mundo (o caso dos poetas futuristas, por exemplo) (CEIA, 2005). O uso da literatura como matéria educativa tem longa história, a qual antecede a existência formal da escola. Zilberman (1990) no seu livro “Sim, a literatura educa” nos lembra que as tragédias gregas tinham o princípio básico de educar moral e socialmente o povo. Daí a subvenção dos dramaturgos pelo Estado e a importância do teatro entre os gregos. Essa tradição cristaliza-se no ensino da língua nas escolas com um duplo pressuposto: a literatura serve tanto para ensinar a ler e a escrever quanto para formar culturalmente o indivíduo. Foi assim com o latim e o grego antigo, cujo ensino se apoiava nos textos da Era Clássica, para o aprendizado dessas línguas de uso restrito e para o conhecimento produzido nelas. A literatura tem sido assim na escola: no ensino fundamental tem a função de sustentar a formação do leitor e no ensino médio, integra esse leitor à cultura literária brasileira, constituindo-se, em alguns currículos, uma disciplina à parte da Língua Portuguesa. No ensino fundamental, a literatura tem um sentido tão extenso que engloba qualquer texto escrito que apresente parentesco com ficção ou poesia, ambas sendo compatíveis com os interesses da criança, do professore da 1 O poder de erros, de errar. 2 Relativo à doutrina econômica de P. J. Proudhon, economista francês (1809-1865) INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 6 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 escola. Os textos são curtos, contemporâneos e divertidos, encontrando na crônica um dos favoritos da leitura escolar. No ensino médio, o ensino de literatura limita-se à literatura brasileira, ou melhor, à história da literatura brasileira, usualmente na sua forma mais indigente, quase como apenas uma cronologia literária, em uma sucessão dicotômica entre estilos de época, cânone e dados biográficos dos autores. Os textos literários, quando comparecem, são fragmentos e servem prioritariamente para comprovar as características dos períodos literários. Estas críticas pontuadas por Cosson (2006) nos fazem refletir que realmente ainda é esse o caminho que a escola vem seguindo e que algo precisa ser feito urgente, pelo menos selecionar um livro, trabalhá-lo adequadamente em sala de aula. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Língua Portuguesa (PCNs) é importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário (BRASIL, 1997). A literatura não é cópia do real, nem puro exercício de linguagem, tampouco mera fantasia que se asilou dos sentidos do mundo e da história dos homens. Se tomada como uma maneira particular de compor o conhecimento, é necessário reconhecer que sua relação com o real é indireta. Ou seja, o plano da realidade pode ser apropriado e transgredido pelo plano do imaginário como uma instância concretamente formulada pela mediação dos signos verbais (ou mesmo não verbais conforme algumas manifestações da poesia contemporânea) (BRASIL, 1997). Pensar sobre a literatura a partir dessa autonomia relativa ante o real implica dizer que se está diante de um inusitado tipo de diálogo regido por jogos de aproximações e afastamentos, em que as invenções de linguagem, a expressão das subjetividades, o trânsito das sensações, os mecanismos INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 7 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 ficcionais podem estar misturados a procedimentos racionalizantes, referências indiciais, citações do cotidiano do mundo dos homens. A questão do ensino da literatura ou da leitura literária envolve, portanto, esse exercício de reconhecimento das singularidades e das propriedades compositivas que matizam um tipo particular de escrita. Com isso, é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do “prazer do texto”, etc. Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias (BRASIL, 1997). 2 A ARTE E A LINGUAGEM DA LITERATURA Como acontece com as outras artes, todas as sociedades, todas as culturas, em todos os tempos e lugares, produziram literatura em sua forma oral ou escrita. O fato de ter sido produzida por várias culturas em várias épocas e lugares nos leva a inferir que ela cumpre funções muito importantes nas diversas sociedades humanas. Vamos a essas funções, entendidas aqui como o papel que a literatura desempenha de acordo com o que o público reconheceu como valor. 1 - A literatura nos faz sonhar! Os textos têm o poder de transportar o leitor, provocar alegria ou tristeza, divertir ou emocionar. Em outras palavras, a literatura nos permite “viver” outras vidas, sentir outras emoções e sensações. Ela oferece um descanso dos problemas cotidianos, quando nos descortina o espaço do sonho e da fantasia. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 8 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 2 – A literatura provoca nossa reflexão! Embora a literatura não tenha o poder de modificar a realidade, como Reconhece Saramago (2004), certamente é capaz de fazer com que as pessoas reavaliem a própria vida e mudem de comportamento. Se esse efeito é alcançado, o texto literário desempenha um importante papel transformador, ainda que de modo indireto. Por isso dizemos que ela pode provocar a reflexão e responder, por meio de construções simbólicas, a perguntas que inquietam os seres humanos. 3 – A literatura diverte! A experiência apaixonante de passar horas lendo um bom livro é familiar a muitas pessoas em todo o mundo. Ao acompanhar as investigações de um detetive com uma mente lógica como a de Sherlock Holmes, por exemplo, ou as análises psicológicas do investigador Poirot, o leitor se vê preso às páginas do livro para conhecer o desfecho. Mais recentemente, O Senhor dos anéis e A saga de Harry Potter levaram milhares de leitores, não só adolescentes a embarcarem nas aventuras propostas pelos livros. 4 – A literatura nos ajuda a construir nossa identidade! É bem verdade que um dos maiores desafios do ser humano está no enfrentamento e compreensão (não necessariamente nesta ordem) das leis e regras que deve seguir, ou decidir se deve seguir. Nos textos literários, de certo modo entramos em contato com a nossa história, o que nos dá chance de compreender melhor o nosso tempo, nossa trajetória como nação. Para Abaurre e Pontara (2005) o interessante, porém, é que essa história coletiva é recriada por meios das histórias individuais, das INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 9 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 inúmeras personagens presentes nos textos que lemos, ou pelos poemas que nos tocam de alguma maneira. Como leitores, interagimos com o que lemos. Somos tocados pelas experiências de leituras que, muitas vezes, evocam vivências pessoais e nos ajudam a refletir sobre nossa identidade individual e também a construí-la. 5 – A literatura nos ensina a viver! Como toda manifestação artística, a literatura acompanha a trajetória humana e, por meio de palavras, constrói mundos familiares, em que pessoas semelhantes a nós vivem problemas idênticos aos nossos, e mundos fantásticos, povoados por seres imaginários, cuja existência é garantida somente por meio das palavras que lhes dão vida. Também exprime, pela criação poética, reflexões e emoções que parecem ser tão nossas quanto de quem as registrou. Por meio da convivência com poemas e histórias que traçam tantos e diversos destinos, a literatura acaba por nos oferecer possibilidades de resposta a indagações comuns a todos os seres humanos. Na literatura esperamos encontrar, em algumas de suas manifestações, uma resposta que dê sentido a nossa existência, que nos ajude a compreender um pouco mais de nos mesmos e de nossas vidas. Trilhar esses caminhos da literatura nos põe em contato direto com a nossa humanidade e ajuda a revelar um pouco de nós a nós mesmos. 6 – A literatura denuncia a realidade! Em diferentes momentos da história humana, a literatura teve um papel fundamental: o de denunciar a realidade, sobretudo quando setores da sociedade tentam ocultá-la. Foi o que ocorreu, por exemplo, durante o período da ditadura militar no Brasil. Naquele momento, inúmeros escritores arriscaram aprópria vida para denunciar, em suas obras, a violência que tornava a existência uma aventura arriscada. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 10 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 A leitura dessas obras, mesmo que vivamos em uma sociedade democrática e livre, nos ensina a valorizar nossos direitos individuais, nos ajuda a desenvolver uma melhor consciência política e social. Em resumo, ela permite que olhemos para a nossa história e, conhecendo algumas de suas passagens mais aterradoras, busquemos construir um futuro melhor. Mas não é apenas em momentos de opressão política que a literatura denuncia a realidade. Graciliano Ramos, por exemplo, ao contar a saga de Fabiano e sua família, em Vidas Secas, enuncia a triste realidade de uma parte do nordeste brasileiro, até hoje condenada à seca e à falta de perspectivas. O poeta Ferreira Goulart, em vários de seus poemas, aponta para as injustiças e as estreitas possibilidades de realização das pessoas limitadas por uma realidade social adversa. Quanto a linguagem da literatura, a essência da arte literária está na palavra que estabelece a relação entre um autor e seus leitores/ouvintes. Podemos usar a palavra com sentido conotativo/figurado ou denotativo/literal. O sentido conotativo é uma característica essencial da linguagem literária. É aquele em que as palavras e expressões adquirem em um dado contexto, quando o seu sentido literal é modificado. Nos textos literários, predomina o sentido conotativo. A linguagem conotativa é característica de textos com função estética, ou seja, que exploram diferentes recursos linguísticos e estilísticos para produzir um efeito artístico. Em textos não literários, o que predomina é o sentido denotativo ou literal, ou seja, a palavra é usada no seu sentido básico. A linguagem denotativa é típica de textos com função utilitária, ou seja, que têm como finalidade predominante satisfazer a alguma necessidade específica, como informar, argumentar, etc. (ABAURRE; PONTARA, 2005). As metáforas são recursos linguísticos que exploram as possibilidades criativas da linguagem. Em grego metaphorá significa mudança transposição, ou seja, quando se faz uso da metáfora estamos em um processo de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 11 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 substituição; aproximam-se dois elementos que, em um contexto específico, guardam alguma relação de semelhança, transferindo-se, para um deles, características do outro. 3 A LITERATURA COMO GÊNERO E EXPRESSÃO DE UMA ÉPOCA 3.1 Gêneros A palavra gênero, etimologicamente, significa família, raça ou conjunto de seres dotados de características comuns, daí pode-se inferir que gênero literário é um conjunto de obras dotadas de características comuns (BENEMANN E CADORE, 1984). Quanto à forma, um texto pode apresentar-se em prosa ou verso. Quanto ao conteúdo e estrutura e segundo alguns estudiosos clássicos, ele pode ser enquadrado em três gêneros: lírico, dramático e épico. Platão foi o primeiro a se preocupar em separar as obras literárias na divisão acima, a qual prevaleceu até o Renascimento (BRASIL, 1979). Já no século XVIII, estabeleceu-se de modo rigoroso, a tríade dramática, épica e lírica. Goethe denominou esses gêneros de ‘Formas naturais da poesia’, o que aponta para o grau de confusão que se fazia na época entre história e definição ontológica dos gêneros. A poesia lírica seria aquela na qual apenas o autor fala; a dramática, aquela onde os personagens falam e a épica aquela onde autor e personagens falam. Contra essa concepção, na virada do século XVIII para o XIX, Friedrich Schlegel e Novalis utilizaram os gêneros de um ponto de vista muito mais livre e criativo e os transformaram em tons: cada obra poderia ter mais do que um desses tons atuando na sua estruturação. Com esses autores a poética deixou de ser uma prescritora de regras para o autor e este se tornou livre para compor conforme o seu “gênio”. Não devemos esquecer que foram esses românticos que introduziram uma teoria e concepção fortes do romance como gênero por excelência na modernidade. Ele representaria justamente a mistura e superação dos demais gêneros literários. Para Schlegel: “Todos os tipos de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 12 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 poesia clássicos, na sua pureza estrita, são agora risíveis”, afirmou ele em 1797, e no mesmo ano ainda: “Sentido para a individualidade poética tem-se apenas com os modernos”. Ou seja, na modernidade o gênero é dissolvido pela força da individualidade e do estilo de cada texto. Vale a pena ler mais uma das suas frases bombásticas: “Pode-se tanto dizer que existem infinitos tipos de poesia ou que só existe um tipo progressivo. Portanto não existe nenhum” (BENEMANN E CADORE, 1984). Ainda segundo Benemann e Cadore (1984), críticos modernos ensinam que os gêneros literários devem ser estudados indutivamente, a partir das características da obra e não a partir de nomes classificatórios. Nos dias atuais e numa divisão mais didática temos quatro gêneros ao desmembrar do épico, o narrativo. 3.1.1 Épico O termo Épico vem do grego Epos, narrativa ou recitação. A poesia épica nasceu no Ocidente com Homero, poeta grego autor do que seriam os primeiros modelos deste gênero: Ilíada e a Odisseia (BRASIL, 1979). Já no entendimento de Souza (2007), a palavra epopeia vem do grego épos, ‘verso’+ poieô, ‘faço’ e se refere à narrativa em forma de versos, de um fato grandioso e maravilhoso que interessa a um povo. É uma poesia objetiva, impessoal, cuja característica maior é a presença de um narrador falando do passado (os verbos aparecem no pretérito). O tema é, normalmente, um episódio grandioso e heroico da história de um povo. Na Idade Média, principalmente entre os séculos XII à XIV, surgiram várias narrativas que se afastavam dos padrões clássicos. Eram inspirados em façanhas de guerra da cavalaria andante. Os mais conhecidos são: a Canção de Rolando, o Romance de Alexandre e os Romances da Távola Redonda (BRASIL, 1979). Segundo Souza (2007), as epopeias têm como tema, os feitos históricos e os grandes ideais de um povo, ou seja, a narrativa é de fundo histórico. O narrador mantém um distanciamento em relação aos acontecimentos (esse INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 13 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 distanciamento é reforçado, naturalmente, pelo aspecto temporal: (os fatos narrados situam-se no passado). Temos um Poeta-observador voltado, portanto, para o mundo exterior, tornando a narrativa objetiva. A objetividade é característica marcante do gênero épico. A épica já foi definida como a poesia da “terceira pessoa do tempo passado”. Dentre as principais epopeias (ou poemas épicos), destacam-se: Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia; narrativas sobre a guerra entre Grécia e Tróia). Eneida (Virgílio, Roma; narrativa dos feitos romanos) Paraíso Perdido (Milton, Inglaterra) Orlando Furioso (Ludovico Ariosto, Itália) Os Lusíadas (Camões, Portugal) Na literatura brasileira, as principais epopeias foram escritas no século XVIII: Caramuru (Santa Rita Durão) e O Uraguai (Basílio da Gama) O gênero narrativo é visto como uma variante do gênero épico, enquadrando, neste caso, as narrativas em prosa. Dependendo da estrutura, da forma e da extensão, as principais manifestações narrativas são o romance, a novela, o conto e a fábula (SOUZA, 2007). Em qualquer das três modalidades acima, tem-se representações da vida comum, de um mundo mais individualizado e particularizado, ao contrário da universalidade das grandiosas narrativasépicas, marcadas pela representação de um mundo maravilhoso, povoado de heróis e deuses. As narrativas em prosa, que conheceram um notável desenvolvimento desde o final do século XVIII, são também comumente chamadas de narrativas de ficção. São elas: Romance: narração de um fato imaginário, mas verossímil, que representa quaisquer aspectos da vida familiar e social do homem. Comparado à novela, o romance apresenta um corte mais amplo da vida, com personagens e situações mais densas e complexas, com INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 14 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 passagem mais lenta do tempo. Dependendo da importância dada ao personagem ou à ação ou, ainda, ao espaço, podemos ter romance de costumes, romance psicológico, romance policial, romance regionalista, romance de cavalaria, romance histórico, etc. Novela: na literatura em língua portuguesa, a principal distinção entre novela e romance é quantitativa: vale a extensão ou o número de páginas. Entretanto, podemos perceber características qualitativas: na novela, temos a valorização de um evento, um corte mais limitado da vida, a passagem do tempo é mais rápida, e o que é mais importante, na novela o narrador assume uma maior importância como contador de um fato passado. Conto: é a mais breve e simples narrativa centrada em um episódio da vida. O crítico Alfredo Bosi (2006), em seu livro O conto brasileiro contemporâneo, afirma que o caráter múltiplo do conto “já desnorteou mais de um teórico da literatura ansioso por encaixar a forma conto no interior de um quadro fixo de gêneros. Na verdade, se comparada à novela e ao romance, a narrativa curta condensa e potencia no seu espaço todas as possibilidades da ficção”. Fábula: narrativa inverossímil, com fundo didático, que tem como objetivo transmitir uma lição moral. Normalmente a fábula trabalha com animais como personagens. Quando os personagens são seres inanimados, objetos, a fábula recebe a denominação de apólogo. Dar-se-á uma importância particular à fábula, uma das mais antigas narrativas, coincidindo seu aparecimento, segundo alguns estudiosos, com o da própria linguagem, devido seu uso em sala de aula, o que muito contribui com o desenvolvimento geral dos alunos, tanto no sentido de enriquecimento de vocabulário quanto da imaginação. No mundo ocidental, o primeiro grande nome da fábula foi Esopo, um escravo grego que teria vivido no século VI a.C. Modernamente, muitas das fábulas de Esopo foram retomadas por La Fontaine, poeta francês que viveu de 1621 a 1695. O grande mérito de La Fontaine reside no apurado trabalho realizado com a linguagem, ao recriar os temas tradicionais da fábula. No INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 15 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Brasil, Monteiro Lobato realizou tarefa semelhante, acrescentando, às fábulas tradicionais, curiosos e certeiros comentários dos personagens que viviam no Sítio do Pica-pau Amarelo, as quais tem lugar cativo nas salas de aula e bibliotecas escolares (SOUZA, 2007). 3.1.2 Lírico A palavra lírico vem do latim, que significa lira; instrumento musical usado para acompanhar as canções dos poetas da Grécia antiga, e retomado na Idade Média pelos trovadores. Pode-se dizer que o gênero lírico é a expressão do sentimento pessoal. “É a maneira como a alma, com seus juízos subjetivos, alegrias e admirações, dores e sensações, toma consciência de si mesma no âmago deste conteúdo” (HEGEL apud BRASIL, 1979). De fato, o poeta lírico é o indivíduo isolado que interessa somente pelos estados da alma. É aquele que preocupa demasiadamente com as próprias sensações voltado para si. O universo exterior só é considerado quando existe uma identificação, ou é passível de ser interiorizado pelo poeta. Segundo Cunha (1979), a subjetividade lírica é estruturada com ideias, sentimentos, emoções, recordações, desejos, profundos estados de espírito que, em muitos casos, chegam ao indefinível, o inefável e que só podem ser expressos pela musicalidade, pela metáfora e pela poesia. Por essa razão é que o lirismo encontrou, durante a evolução histórica, a sua mais perfeita e generalizada forma de expressão no verso, com seu ritmo e rima próprios. Se a prosa rejeita a rima, o verso a busca, exatamente como instrumento de expressão das emoções, as quais se afirmam mais pela repetição e pela simbologia do que pela descrição ou pelo recurso à caracterização ambiental. Consequentemente, no poema lírico, não há protagonistas, como na literatura de ficção, não há ambiente físico caracterizado, nem episódio, nem enredo, nem temporalidade definida. As emoções profundas do poeta, seu “eu’’, sua visão do mundo (e não o mundo) são o que vale. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 16 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Ainda segundo Cunha (1979), a linguagem poética é, assim, muito particular. Se quisermos entendê-la, é preciso que nos familiarizemos com ela e isso só será possível mediante uma leitura cuidadosa e frequente de poemas. 3.1.3 Dramático Drama, em grego, significa ‘ação’. Ao gênero dramático pertencem os textos, em poesia ou prosa, feitos para serem representados. Isso significa que entre autor e público desempenha papel fundamental o elenco (incluindo diretor, cenógrafo e atores) que representará o texto. O gênero dramático compreende as seguintes modalidades: Tragédia: é a representação de um fato trágico, suscetível de provocar compaixão e terror. Aristóteles afirmava que a tragédia era “uma representação duma ação grave, de alguma extensão e completa, em linguagem figurada, com atores agindo, não narrando, inspirando dó e terror”. Comédia: é a representação de um fato inspirado na vida e no sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes. Sua origem grega está ligada às festas populares, celebrando a fecundidade da natureza. Tragicomédia: modalidade em que se misturam elementos trágicos e cômicos. Originalmente, significava a mistura do real com o imaginário. Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, que crítica a sociedade e seus costumes; baseia-se no lema latino Ridendo castigat mores (Rindo, castigam-se os costumes) (SOUZA, 2007). O gênero dramático, desde a Antiguidade clássica, teve grande importância, pois, tanto em suas origens gregas e latinas como medievais, esteve sempre associado à problemática religiosa, transformando-se, não raras vezes, em verdadeiro ritual. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 17 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 No poema dramático, a história é contada através das falas dos personagens. As peças de teatro, escritas em verso, constituem forma de poesia dramática (BRASIL, 1979). É importante observar ainda que, no teatro, o autor faz uma tentativa de representar mais a língua falada do que a escrita. Daí os recursos próprios para enfatizar a entonação, a voz, a mímica, os gestos, etc. Na Idade Média, o teatro tinha as modalidades de auto (milagre ou mistério) e farsa. No Classicismo, predominaram a tragédia e a comédia, de cuja fusão surge, no Romantismo, o drama (CONSOLARO, 2007). 3.2 Expressão de uma época A literatura tem a incrível capacidade de nos revelar como viveram e o que pensaram as pessoas em diferentes épocas e sociedades. Essas informações que ficam registradas nos textos literários e sobrevivem à passagem do tempo, nos ajudam a entender quem fomos e a avaliar quem somos (ABAURRE; PONTARA, 2005). Já que ela é expressão de época, precisamos falar de estilo de época, que nada mais é do que a constatação de traços comunsna produção de uma mesma época. O estudo da literatura depende do reconhecimento dos padrões e das semelhanças que constituem um estilo de época. Já o uso particular que um escritor faz dos elementos que distinguem uma estética define o estilo individual de um autor, sempre marcado pelo olhar específico que dirige aos temas característicos de um período e pelo uso singular que faz dos recursos de linguagem associados a uma determinada estética literária. Um estilo de época pode estar associado a uma escola literária ou a um movimento literário. Damos o nome de historiografia literária ao estudo e descrição das características estéticas das diferentes escolas ou movimentos literários. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 18 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Quando estudamos os estilos de época e os movimentos literários, conhecemos os temas e os recursos expressivos preferidos dos autores. À medida que vamos tendo contato com uma maior quantidade de textos, observamos que há um número limitado de temas e recursos expressivos que, de tempos em tempos, são retomados por autores de diferentes épocas. 4 AS ORIGENS EUROPÉIAS DA LITERATURA 4.1 Idade Média A Idade Média é um período que tem início com a conquista de Roma, capital do Império Romano do Ocidente, pelos comandantes germânicos no ano de 476 (século V) e termina com a queda de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, tomada pelos turcos em 1453. Segundo Abaurre e Pontara (2005) uma das heranças do período de dominação romana na Europa durante a Idade Média foi o cristianismo. Aos poucos, a Igreja Católica cresceu, acumulou vastas extensões de terra, enriqueceu e concentrou um grande poder religioso e secular3. Essa herança conviveu com mudanças na ordem social que tiveram expressão significativa na literatura do período. A literatura desta época era composta de escritos religiosos bem como de obras seculares. Da mesma forma que a literatura moderna, é um complexo e rico campo de estudo que vai do totalmente sagrado ao exuberantemente 3 A palavra “secular” vem do latim saecularis (relative a mundo, mundano). Nesse sentido, faz referência a tudo aquilo que é profano, que se distancia do espírito e, portanto, não está subordinado à religião. Na Idade Média, a expressão poder secular designava a autoridade que príncipes, reis e imperadores recebiam do papa para fazer cumprir, no mundo profano, a vontade de Deus. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 19 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 profano, passando por todos os pontos intermediários. Por causa da vasta extensão de tempo e espaço é difícil falar em termos gerais sem simplificar em demasia e assim, a literatura é melhor caracterizada por seu lugar de origem e/ou linguagem, bem como por seu gênero. Outra característica desta época é o uso do latim como língua literária, decorrente da dominação romana, o que contribuiu para dificultar o acesso aos textos. Aqui cabe lembrarmos-nos do Trovadorismo que encerra alguns elementos definidores de seu projeto literário: legitimar, por meio da literatura, uma nova ordem que redefinisse as funções sociais dos cavaleiros na corte do senhor feudal, elementos estes ilustrados no quadro abaixo: PROJETO LITERÁRIO DO TROVADORISMO Literatura oral para entreter os homens e as mulheres da nobreza Redefinição do papel dos cavaleiros nas cortes. Criação de estruturas literárias equivalentes às da relação de vassalagem. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 20 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Sociedade: subserviência total a Deus (teocentrismo), representado literariamente pela submissão do trovador à dama (poesia) ou do cavaleiro à donzela (novelas de calavaria). Nesta época temos o nascimento da literatura portuguesa, decorrente da separação ocorrida em 1140 do reino de Leão e Castela, quando Portugal se tornou país independente. Os trovadores galego-portugueses desenvolveram sua lírica amorosa claramente influenciados pela literatura provençal. Acredita-se que o primeiro texto literário galego-português, seja a “Cantiga da Ribeirinha” que se supõe ter sido composta em 1198. Ainda dessa época temos as cantigas líricas divididas em cantigas de amor e cantigas de amigo e as cantigas satíricas, divididas em cantigas de escárnio e maldizer. As novelas de cavalaria foram os primeiros romances, ou seja, longas narrativas em verso, surgidas no século XII. Elam contam as aventuras vividas pelos cavaleiros andantes e tiveram origem no declínio do prestígio da poesia dos trovadores. Tiveram intensa circulação pelas cortes medievais e ajudaram divulgar os valores e a visão de mundo característico da sociedade desse período. Abaurre e Pontara (2005) ressaltam alguns textos e caráter mais documental que foram produzidos na Idade Média, conhecidos como cronicões e nobiliários. Os primeiros registravam os acontecimentos marcantes da vida dos nobres e dos reis em ordem cronológica. Os segundos, registravam os nascimentos, os casamentos e as mortes de uma determinada família de nobres. Por fim, temos as hagiografias, textos que circulavam pelas cortes medievais relatando a vida dos santos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 21 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 4.2 Humanismo Movimento artístico e intelectual que surgiu na Itália no final da Idade Média (século XIV) e alcançou plena maturidade no Renascimento. É um momento de transição entre o mundo medieval e o moderno. O projeto humanista não tem características completamente definidas: convivem o velho e o novo, provocando uma tensão que se evidencia na produção artística e cultural. São características do projeto humanístico de literatura: Abandono da subordinação absoluta à Igreja Católica; Resgate dos valores clássicos. O contexto de produção da literatura humanista é o mesmo do Trovadorismo: as cortes e os palácios, mas os objetivos da produção se modificam. A literatura volta-se para o prazer e a diversão dos aristocratas, ou seja, o público continua sendo o mesmo, os nobres. A invenção da imprensa, em 1450, por Johann Gutenberg, revoluciona a produção de livros na Europa, fazendo com que a cultura oral comece a perder espaço para a cultura escrita. Essa mudança no contexto de circulação das obras possibilita aos escritores e poetas explorarem novos recursos de linguagem, principalmente porque não dependem mais da oralidade e da memória. A novidade da literatura humanista fica por conta também da adoção do soneto como forma poética fixa e o uso da metonímia4. Quando o humanismo chegou a Portugal, o país passava por uma crise poética e entre 1350 e 1450 não se tem notícia de circulação de textos poéticos. Foi um período em que Portugal vivenciou o apogeu da crônica historiográfica e da prosa doutrinária, tipo de manual escrito por reis e nobres 4 Relembrando o que é metonímia…. Ela ocorre quando se opta por utilizar uma palavra no lugar de outra. Pode ser empregada em várias situações. Uma delas é quando a parte é utilizada para representar o todo. Nas cantigas do humanismo, os poetas recorrem às metonímias para melhor ilustrar os efeitos do amor no eu lírico. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 22 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 que apresentava normas e modelos de comportamento para os fidalgos da corte. O ressurgimento da poesia se deu no século XV, impulsionado pela renovação cultural promovida na corte portuguesa durante o reinado de D. Afonso V.Lembremos que no humanismo prevaleceu o antropocentrismo (doutrina que considera o ser humano o centro do universo) sobre o teocentrismo. Portugal teve cronistas famosos como Fernão Lopes que era, ao mesmo tempo, cronista de reis e do povo. Gil Vicente com seu teatro crítico e voltado para o humor, que explorava o uso das alegorias, ou seja, das representações, por meio de personagens ou objetos, de ideias abstratas geralmente relacionadas aos vícios e virtudes humanas. 4.3 Classicismo A mudança de mentalidade, trazendo o ser humano para o centro dos acontecimentos (relegando Deus todo poderoso para segundo plano), que começou com o humanismo, chega ao apogeu com o Renascimento do século XV. Classicismo é a denominação da tendência artística que revitalizou a tradição clássica de afirmar a superioridade humana. Ele valoriza as proporções, o equilíbrio das composições, a harmonia das formas e a idealização da realidade. O fascínio pela vida das cidades e o desejo de desfrutar os prazeres que o dinheiro podia proporcionar levaram a sociedade renascentista a cultivar cada vez mais os valores terrenos. O projeto literário do Classicismo revela em seu nome, a principal característica: retomada dos modelos da Antiguidade Clássica. No modelo medieval, o homem era atormentado, sempre ajoelhado aos pés de Deus, ansioso por ver seus pecados perdoados. Essa visão cristã, de uma vida marcada pelo sofrimento é que permitia a purificação dos pecados. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 23 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 A circulação das obras literárias continua sob o impacto da invenção da imprensa, a maior facilidade de impressão faz com que mais cópias sejam produzidas, barateando os custos dos livros e tornando-os mais acessíveis a um maior número de pessoas. O conceito de originalidade na criação literária desse período é uma invenção moderna. Os escritores investiram na recriação de temas clássicos e, retomaram em suas obras, o princípio aristotélico da mimese. O paradoxo5 e a antítese6 foram duas figuras de linguagem muito usadas pelos poetas do classicismo. Em Portugal o classicismo chega junto das grandes navegações, as descobertas do mundo novo. Encontramos Camões, considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, o qual imortalizou em suas obras, as glórias do seu povo; registrou os sofrimentos amorosos e indagou sobre as inconstâncias e incertezas da vida. O quadro abaixo apresenta, mesmo que de forma reduzida, as escolas literárias de acordo com o momento histórico em que se manifestaram. CARACTERÍSTICAS IDADE MEDIEVAL IDADE MODERNA IDADE CONTEMPORÂNEA Trovadorismo Teocentrismo, Arte gótica, Ambiente palaciano, Produção oral, Cantigas trovadorescas, Novelas de cavalaria, Hagiografias. X X Classicismo X Antropocentrismo, Arte renascentista, Recuperação de modelos da Antiguidade, Separação entre literatura e música, clareza, harmonia e equilíbrio. X 5 Associação de ideias contraditórias que foi usada numa tentativa de conciliar razão e sentimento. 6 Utilizada para apresentar imagens ou características que se opõem. A diferença entre ambas é mínima: na antítese o amor é bom ou mal, no paradoxo o amor é bom e mau. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 24 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Barroco X Retomada dos valores cristãos, Tensão, Angústia, Rebuscamento, Conceptismo, Cultismo. X Arcadismo X Iluminismo, Retomada de postura racional, Equilíbrio entre razão e sentimento, Arte como imitação da natureza, Recuperação dos modelos clássicos, Simplicidade formal. X Romantismo X X Predomínio da emoção e subjetividade, Nacionalismo, Gosto pelo exótico, fascínio pela morte. Realismo/ Naturalismo X X Predomínio da razão, Objetividade, Cientificismo, Determinismo, Análise minuciosa. Simbolismo X X Impressionista, Subjetividade, Fascínio pela morte e pelo sonho, Valorização das sensações Modernismo X X Retomada das questões sociais, Visão crítica da realidade, Originalidade, humor, ruptura com o passado, liberdade formal e expressiva. 5 A LITERATURA BRASILEIRA DO QUINHENTISMO AO MODERNISMO INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 25 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Evidentemente que nossa historia literária começa logo após o descobrimento do Brasil, em 1500, deste modo, abaixo temos uma breve linha do tempo mostrando os períodos que vamos estudar a partir de agora. 1500 1601 1768 1836 1881 1893 1902 1922 Q ui nh en tis m o e Li te ra tu ra d e In fo rm aç ão Ba rro co Ar ca di sm o R om an tis m o R ea lis m o N at ur al is m o Pa rn as ia ni sm o Si m bo lis m o Pr é- m od er ni sm o M od er ni sm o Fonte: De Nicola, 1998, p. 503. QUINHENTISMO O Quinhentismo é um movimento paralelo ao Classicismo português e possui ideias relacionadas ao Renascimento, que vivia o seu auge na Europa. A literatura do Quinhentismo tem como tema central os próprios objetivos da expansão marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da política portuguesa da Contra-Reforma e representada pela literatura jesuítica da Companhia de Jesus (DE NICOLA, 1998). Ao longo do século XVI, diversas expedições foram enviadas para as terras brasileiras, e nestas, cada viajante tinha uma missão: descrever a terra e INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 26 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 o povo nativo; catalogar espécimes da fauna e da flora, identificar possíveis interesses econômicos para a coroa portuguesa. Os relatos dessas viagens são o que chamamos de Literatura de Informação e se caracterizavam como uma espécie de crônica histórica. Assim, o objetivo da literatura de viagem era exatamente este: informar. E isto, segundo Abaurre e Pontara (2005) levou os autores a um grande desafio: como, por meio de palavras, apresentar um retrato compreensível de uma realidade inteiramente desconhecida e estranha? Podemos dizer que a característica da estrutura descritiva desses relatos foi o que, primeiramente, chamou a atenção, pois nada melhor do que a descrição e na sequência, a comparação para mostrar o novo mundo. Dentre os principais relatos ou textos escritos, dessa época, além da Carta de Pero Vaz de Caminha, nós temos: Carta de Lisboa (1502) – Américo Vespúcio; Tratado da Terra do Brasil (escrito provavelmente em 1570, publicado apenas em 1826) e História da Província Santa Cruz a vulgarmente chamamos Brasil – 1576 de Pero de Magalhães Gandavo. Duas viagens ao Brasil (1557) – do alemão Hans Staden; Viagem à Terra do Brasil (1578) – do francês Jean de Lévy. Narrativa Epistolar (1583) – Fernão Cardim; Tratado descritivo do Brasil (1587) – Gabriel Soares de Sousa; Aos textos escritos pelos jesuítas com o objetivo de converter os índios brasileiros conhecemos como literatura de catequese. Aqui se incluem os textos literários do Padre José de Anchieta, apóstolo e poeta que escrever poemas líricos e das primeiras peças teatrais encenadas no Brasil. Uma obra de grande importância escrita por Anchieta foi Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil, em 1595 (a primeira gramática da língua tupi). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 27 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 BARROCO A literatura barroca (em Portugal conhecida como Seiscentismo) no Brasil foi introduzida pelos portugueses, quando não havia uma produçãocultural significante no país. Por isso, refletindo a literatura portuguesa, a produção literária nesse período não é reconhecida como genuinamente nacional, mas um estilo absorvido e resultante do período colonial (VERÍSSIMO, 1998). Sua linguagem é rebuscada e ambígua. Como em Portugal, o barroco caracteriza-se em terras tupiniquins por utilizar largamente figuras de linguagem: metáfora; antítese; o paradoxo; e a sinestesia. Destacam-se Gregório de Mattos e Padre Antônio Vieira. O poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, publicado em 1601, apesar de considerado um documento de pouco valor literário, é indicado como o início do Barroco na Literatura Brasileira. E também é considerado uma cópia mal elaborada de Os Lusíadas de Camões. Aqui cabe lembrar da expressão latina Carpe diem, que significa “aproveita o dia (presente)”, que é um dos temas frequentes da arte barroca. A mocidade ou a juventude é frequentemente comparada à flor que é bonita por pouco tempo e logo morre. Daí o apelo dos poetas barrocos. O Carpe Diem é um tema que vinha já da Antiguidade, mas no Barroco foi desenvolvido de forma angustiada, pois era uma tentativa de fundir os opostos, de conciliar o que, no fundo, é inconciliável: a razão e a fé, a matéria e o espírito, a vida carnal e a vida espiritual. São características da literatura barroca: Culto do contraste: o dualismo barroco coloca em contraste a matéria e o espírito, o bem e o mal, Deus e o Diabo, céu e a terra, pureza e o pecado, a alegria e a tristeza, a vida e a morte. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 28 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Consciência da transitoriedade da vida: a ideia de que o tempo consome, tudo leva consigo, e que conduz irrevogavelmente a morte, reafirma os ideais de humildade e desvalorização dos bens materiais, ou seja sem apego aos bens materiais. Gosto pela grandiosidade: característica comum expressa com o auxilio de hipérboles, ou seja, exageros, figura de linguagem que consiste em aumentar exageradamente algo a que se está referindo. Frases interrogativas: que refletem dúvidas e incertezas, questionamentos: que amor sigo? Que busco? Que desejo? O que quero da vida? Cultismo: é o jogo de palavras, o estilo trabalhado. Predominam hipérbole, hipérbatos (isto é, alteração da ordem natural das palavras na frase ou das orações no período) e metáforas (comparações), como: diamantes que significam dentes ou olhos. Conceptismo: é o jogo de ideias ou conceitos, de conformidade com a técnica de argumentação. É comum o uso de antítese, ou seja, ideias contrárias, paradoxos. Enquanto os cultistas tinham a visão direcionada aos sentidos, já os conceptistas eram direcionados a inteligência (ARAÚJO, 2006). ARCADISMO Arcadismo ou movimento neoclássico mineiro tem início com a publicação das Obras Poéticas de Claudio Manoel da Costa e fundação da Arcádia Ultramarina, movimento poético-literário que dá início ao Arcadismo, em 1768. O Arcadismo no Brasil desenvolveu-se concomitantemente ao chamado ciclo do ouro, em Minas Gerais e teve em Vila Rica (atual Ouro Preto) seu principal centro de difusão. Alguns de seus integrantes estiveram ligados à Inconfidência Mineira, principal evento político do século XVIII no Brasil (OLIVEIRA, 2010). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 29 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 A riqueza gerada pela mineração criou tardiamente obras arquitetônicas, esculturas e pinturas no estilo barroco, como se pode ver ainda hoje nas cidades históricas mineiras. No âmbito das ideias e da literatura, porém, já sopravam os ventos do iluminismo. O iluminismo, que valorizava a razão, significava uma ruptura com o barroco, marcadamente religioso. Nesse sentido, resgatava os ideais do classicismo, inaugurando um neoclassicismo, sob a inspiração da civilização greco-romana. Entre as características que se destacam nas obras árcades brasileira, uma é a valorização da natureza - que reflete o primeiro desencanto da humanidade com a civilização urbana. Elementos como os campos, rios, vales e flores têm presença constante nas obras desse período. Por esta razão, era comum aos poetas árcades, ficcionalmente, assumirem o papel de pastores da Arcádia - uma região da Grécia antiga. Nos poemas, marcadamente líricos, expressavam o amor por suas pastoras. Finalmente, marcam o estilo dos autores árcades a simplicidade da vida bucólica, versos simples, que propiciassem a integração da poesia com a música e se contrapusessem ao estilo rebuscado do barroco. ROMANTISMO O Romantismo surge por aqui logo após a independência do Brasil (1822). O Romantismo assumiu em nossa literatura um significado secundário, de um movimento anticolonialista e antilusitano, de rejeição à literatura produzida na época colonial, aos modelos culturais portugueses. Por isso a primeira geração romântica tinha a preocupação de garantir uma identidade nacional que nos separassem de Portugal, buscam no passado histórico elementos de origem nacional. São apontadas três gerações de escritores românticos: Primeira geração: nacionalista, indianista e religiosa. Os poetas que se destacam são: Gonçalves Dias e Gonçalves de Magalhães. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 30 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Segunda geração: é um período marcado pelo mal do século, apresenta egocentrismo irritado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Os poetas que se destacam são: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire. Terceira geração: esse período desenvolve uma poesia com caráter político e social, é formada pelo grupo condoreiro7. O maior representante dessa fase é Castro Alves (MUNDO EDUCAÇÃO, 2010). Essas três gerações citadas acima, apenas se aplicam para a poesia romântica, pois a prosa no Brasil, não foi marcada por gerações, e sim por estilos de textos - indianista, urbano ou regional - que aconteceram todos simultaneamente. José de Alencar foi o principal romancista romântico. Romances urbanos: Lucíola; A Viuvinha; Cinco Minutos; Senhora. Romances regionalistas: O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê. Romances históricos: A Guerra dos Mascates; As Minas de Prata. Romances indianistas: O Guarani, Iracema e o Ubirajara. No país, entretanto, o romantismo perdurará até à década de 1880. Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, por Machado de Assis, em 1881, ocorre formalmente a passagem para o período realista. REALISMO / NATURALISMO / PARNASIANISMO Iniciou no Brasil na segunda metade do século XIX quando entraram em crise o romantismo e seus ideais. O realismo manifesta-se na prosa. A poesia da época vive o parnasianismo e o simbolismo. O romance – social, psicológico e de tese – é a principal forma de expressão. Deixa de ser apenas distração e se torna veículo de crítica a instituições, como a Igreja Católica, e à hipocrisia burguesa. A escravidão, os preconceitos raciais e a sexualidade são os principais temas, tratados com linguagem clara e direta. 7 Se associa ao condor, símbolo desse grupo da terceira geração. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 31 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Os escritores e poetas realistas começam a falar da realidade social e dos principais problemas e conflitos do ser humano. Como características desta fase, podemos citar: Objetivismo, Linguagem popular, Trama psicológica, Valorização de personagens inspirados na realidade, Uso de cenas cotidianas, Crítica social, Visão irônica da realidade. O principal representante desta fase foi Machadode Assis com as obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e O Alienista. Podemos citar ainda como escritores realistas Aluisio de Azedo autor de O Mulato e O Cortiço e Raul Pompéia autor de O Ateneu. O parnasianismo (final do século XIX e início do século XX) buscou os temas clássicos, valorizando o rigor formal e a poesia descritiva. Os autores parnasianos usavam uma linguagem rebuscada, vocabulário culto, temas mitológicos e descrições detalhadas. Diziam que faziam a arte pela arte. Graças a esta postura foram chamados de criadores de uma literatura alienada, pois não retratavam os problemas sociais que ocorriam naquela época. Os principais autores parnasianos são: Olavo Bilac, Raimundo Correa, Alberto de Oliveira e Vicente de Carvalho. No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciadas pela leitura de Émile Zola. O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores marcos da literatura brasileira: O cortiço. Os romances naturalistas são, com frequência, caracterizados como literatura de tese, porque desenvolvem uma estrutura pensada para provar ao INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 32 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 leitor a visão determinista da sociedade. O aviltamento e a perda da dignidade dos indivíduos que vivem em um meio degradante é a grande tese exposta nesses romances (ABAURRE; PONTARA, 2005). SIMBOLISMO A fase literária do simbolismo (fins do século XIX) inicia-se com a publicação de Missal e Broqueis de João da Cruz e Souza. Os poetas simbolistas usavam uma linguagem abstrata e sugestiva, enchendo suas obras de misticismo e religiosidade. Valorizavam muito os mistérios da morte e dos sonhos, carregando os textos de subjetivismo. Os principais representantes do simbolismo foram: Cruz e Souza, Augusto dos Anjos e Alphonsus de Guimaraens. PRÉ-MODERNISMO As grandes mudanças políticas, sociais e econômicas decorrentes dos primeiros anos da república não deixavam mais espaço para a idealização. Era o momento de buscar um conhecimento mais real e profundo das condições de vida que podiam ser observadas em um país tão grande. Por isso, o foco da produção literária se fragmenta e os autores escrevem sobre as diferentes regiões, os centros urbanos, os funcionários públicos, os sertanejos, os caboclos e os imigrantes. Tudo era motivo de interesse para escritores como Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Graça Aranha e Augusto dos Anjos. Para Abaurre e Pontara (2005) essa multiplicidade de focos e de interesses torna impossível tratar o Pré-modernismo como uma escola literária, por isso é considerado um período de transição: conserva algumas tendências das estéticas da segunda metade do século XIX e ao mesmo tempo, antecipa outras que serão aprofundadas no modernismo. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 33 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 Vimos falando ao longo deste tópico sobre projeto literário, pois bem, mesmo não tratando o pré-modernismo como escola e entendendo projeto como intenção, podemos falar em projeto literário para o pré-modernismo que era o desejo de revelar o verdadeiro Brasil do século XX: olhar para o Brasil e usar a literatura como meio para torná-lo mais conhecido pelos brasileiros. Uma das maneiras foi desviar o olhar dos romances que focava as classes mais privilegiadas para os personagens de menor expressão. MODERNISMO O modernismo foi um movimento literário e artístico do início do séc. XX, cujo objetivo era o rompimento com o tradicionalismo (parnasianismo, simbolismo e a arte acadêmica), a libertação estética, a experimentação constante e, principalmente, a independência cultural do país. Apesar da força do movimento literário modernista a base deste movimento se encontra nas artes plásticas, com destaque para a pintura. No Brasil, este movimento possui como marco simbólico a Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, na cidade de São Paulo, devido ao Centenário da Independência. No entanto, devemos lembrar que o modernismo já se mostrava presente muito antes do movimento de 1922. As primeiras mudanças na cultura brasileira que tenderam para o modernismo datam de 1913 com as obras do pintor Lasar Segall; e no ano de 1917, a pintora Anita Malfatti, recém-chegada da Europa, provoca uma renovação artística com a exposição de seus quadros. A este período chamamos de Pré-Modernismo (1902-1922), no qual se destacam literariamente, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos; nesse período ainda podemos notar certa influência de movimentos anteriores como realismo/naturalismo, parnasianismo e simbolismo. A partir de 1922, com a Semana de Arte Moderna tem início o que chamamos de Primeira Fase do Modernismo ou Fase Heroica (1922-1930), esta fase caracteriza-se por um maior compromisso dos artistas com a renovação estética que se beneficia pelas estreitas relações com as INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 34 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo, etc.), na literatura há a criação de uma forma de linguagem, que rompe com o tradicional, transformando a forma como até então se escrevia; algumas dessas mudanças são: a Liberdade Formal (utilização do verso livre, quase abandono das formas fixas – como o soneto, a fala coloquial, ausência de pontuação, etc.), a valorização do cotidiano, a reescritura de textos do passado, e diversas outras; este período caracteriza-se também pela formação de grupos do movimento modernista: Pau-Brasil, Antropófago, Verde-Amarelo, Grupo de Porto Alegre e Grupo Modernista-Regionalista de Recife (FARIA, 2007). Na década de 1930, temos o início do período conhecido como Segunda Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-1945), que é caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção. A partir deste período, os ideais difundidos em 1922 se espalham e se normalizam, os esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se une a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se um amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase, que continuam produzindo, e também o surgimento de novos poetas, entre eles Carlos Drummond de Andrade. Temos ainda a Terceira Fase do Modernismo (1945- até 1960); alguns estudiosos consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós- Modernista, no entanto, outras fontes, tratam como Terceira Fase do Modernismo o período compreendido entre 1945 e 1960 e como Tendências Contemporâneas o período de 1960 até os dias de hoje. Nesta terceira fase, a prosa dá sequência às três tendências observadas no período anterior – prosa urbana, prosa intimista e prosa regionalista, com uma certa renovação formal; na poesia temos a permanência de poetas da fase anterior, que se encontram em constante renovação, e a criação de um grupo de escritores que se autodenomina “geração de 45”, e que buscam uma poesia mais equilibrada e séria, sendo chamados de neoparnasianos (FARIA, 2007). Principais representantes da literatura do pré-modernismo e do modernismo no Brasil: Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Lima Barreto, Augusto dos Anjos, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Alcântara Machado, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Carlos D. de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Morais, Murilo Mendes, Graciliano Ramos, Rachel de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 35 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31)3272-9521 Queiroz, Jorge de Lima, José Lins do Rego, Thiago de Mello, Ledo Ivo, Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Olavo Bilac, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Raul Bopp, Graça Aranha, Murilo Leite, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, Érico Veríssimo. Bom, chegamos ao fim de uma apostila que deveria ser o começo de uma longa jornada para todos nós. Passamos longe, muito longe de esgotar esse assunto tão vasto e “gostoso” que é a trajetória da literatura brasileira. Em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as culturas, homens e mulheres produziram arte e dentre suas manifestações temos a literatura com seu mágico poder de provocação, de ser espaço de reflexão e de interrogação. Esperamos que tenham compreendido que a literatura encontra na palavra a sua essência, que ela pode estabelecer relações, que tem o potencial de nos fazer sonhar e ao mesmo tempo nos decepcionar, nos transporta a mundos distantes, nos apresenta realidades próximas que insistimos não existir. Enfim, que usem o poder da literatura para incutir nos alunos o gosto pela palavra, pela leitura e pelas inúmeras possibilidades advindas dela. REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO LITERATURA BRASILEIRA 36 WWW.INSTITUTOINE.COM.BR – (31) 3272-9521 ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura Brasileira: tempos, leitores e leituras. Ensino Médio. São Paulo: Moderna, 2005. ARAÚJO, Adriene Pereira de. Introdução aos estudos literários - Movimentos literários. Disponível em: <http://www.juliobattisti.com.br/tutoriais/adrienearaujo/literatura005.asp> Acesso em: 04 jul. 2010. BENEMANN, Milton; CADORE, Luís Agostinho. Estudo Dirigido de Português, vol. 1, J.São Paulo: Editora Ática, 1984. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 45 ed. São Paulo: Cultrix, 2006. BRASIL, Assis. Vocabulário técnico de literatura. São Paulo: Tecnoprint, 1979. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua Portuguesa. Brasília: MEC, 1997. CEIA, Carlos. Texto literário e texto não literário. Disponível em: <http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/T/texto_literario_texto_nao_lit.htm> Acesso em: 18 jun. 2010. CONSOLARO, Hélio. Coesão textual. 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