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FUNDAMENTOS DA HARMONIA AULA 4 Prof. Anderson Roberto Zabrocki Rosa 2 CONVERSA INICIAL Harmonia funcional Nesta aula, ampliaremos o conhecimento sobre as tríades e as tétrades, fixando os seus graus e as suas funções harmônicas de tônica, subdominante e dominante. Também estudaremos os principais movimentos utilizados em progressões harmônicas, veremos o que é o intervalo de trítono, em quais acordes ele se encontra e qual a sua função, e, enfim, abordaremos as principais cadências da harmonia da música popular: cadência autêntica, cadência interrompida e a semicadência. Com tudo isso, estaremos prontos a iniciar o nosso processo de harmonização de melodias e para explorar os acordes possíveis para cada nota e a sonoridade das progressões harmônicas. TEMA 1 – TRÍADES DIATÔNICAS Os acordes diatônicos são obtidos dos graus de uma escala diatônica e indicados em algarismos romanos. Sobre cada um dos graus são acrescentadas terças e quintas (tríades) e sétimas (tétrades). Figura 1 — Tríades diatônicas Observemos que as tríades diatônicas no modo maior apresentam três qualidades: a) maiores: I,IV e V; b) menores: ii, iii, vi c) diminuta: vii. Os acordes maiores I, IV e V são chamados de tônica, subdominante e dominante: as três funções harmônicas. Se observarmos a constituição desses três acordes, percebemos que eles contêm todas as notas de uma escala 3 diatônica, ou seja, com os três acordes podemos harmonizar qualquer melodia diatônica. Isso fica mais claro nas figuras 2 e 3. Figura 2 — Representação dos três graus tonais Figura 3 — Representação de todas as notas de uma escala diatônica presentes nesses acordes O primeiro grau ( I ) desempenha a função tônica, o grau mais importante, e pode ser facilmente percebido por sua estabilidade e sensação de repouso. O quinto grau (V) desempenha a função dominante, um acorde tenso e instável, que busca a sua resolução dirigindo-se ao acorde de tônica. O quarto grau (IV) desempenha a função subdominante, descrito geralmente como um acorde de afastamento, que se encaminha para a dominante, que, por fim, retorna para a tônica. A Figura 4 representa a base harmônica presente em quase toda a música ocidental: T > SD > D > T. Figura 4 — Principal base harmônica da música ocidental T SD D 4 Os outros graus da escala são secundários, desempenhando as funções já mencionadas (tônica, dominante ou subdominante), como vemos no Quadro 1. Quadro 1 — Graus principais e secundários Funções Graus principais Graus secundários Tônica I iii, iv Subdominante IV ii Dominante V viiº TEMA 2 – MOVIMENTOS DE FUNDAMENTAIS E O TRÍTONO Os movimentos fundamentais podem ser classificados em dois grupos: estruturais e estruturais secundários. Explicamos os dois rapidamente a seguir. 2.1 Movimentos estruturais a) Quarta ascendente (4 ) – é o principal movimento de fundamentais. G > C > F > Bb > E > A > D > G b) Segunda (2 ou 2 ) ascendente ou descendente, maior ou menor. C > Dm | G > Am | Bm(b5) > Am | c) Terça descendente (3 ). C > Am | G > Em | F > Dm | 2.2 Movimentos estruturais secundários a) Quarta descendente (4 ) C > G > D > A etc. b) Terça ascendente (3 ) F > Am | III > V | 5 2.3 Trítono O trítono é o intervalo de três tons formado entre os IV e VII graus de uma escala diatônica maior, o que resulta em uma quarta aumentada ou uma quinta diminuta. Nas tríades, o trítono é um intervalo encontrado exclusivamente sob o sétimo grau (viiº). Nas tétrades ele ocorre também nos acordes dominante (V7), dominantes secundárias, nas tétrades diminutas, nos acordes SubV e em outras variantes. A grande importância do trítono se dá por sua tensão harmônica, que exige uma resolução nas notas do acorde de tônica (fundamental e terça). Figura 5 — Representação do trítono TEMA 3 – CADÊNCIAS As cadências podem ser consideradas pontuações harmônicas, como aquelas que utilizamos na linguagem falada e escrita. Trataremos aqui das cadências mais utilizadas na música popular. 3.1 Cadência autêntica A cadência autêntica é a cadência conclusiva, o ponto final musical. Se realiza por meio dos acordes de dominante e tônica, V e I, em estado fundamental: D > T V > I 6 Figura 6 — Exemplo de cadência perfeita A cadência autêntica tem as seguintes variações: a) viiº > I b) SD > D > T: Uma versão ampliada e enriquecida da cadência autêntica, incluindo a subdominante. Muitos consideram esse o modelo verdadeiro de cadência autêntica. IV > V > I ou ii > V > I 3.2 Semicadência ou cadência dominante Na semicadência, ou cadência dominante, a conclusão de uma sequência de acordes ocorre sobre a dominante. Teoricamente, qualquer acorde pode anteceder o V, mas as fórmulas mais utilizadas são: I > V vi > V II > V I V7 I 7 Figura 7 — Exemplo de cadência dominante 3.3 Cadência interrompida Essa cadência passa a sensação de que uma cadência autêntica vai ser realizada, mas, ao invés da dominante ir para a tônica, vai para o sexto grau vi (relativa menor), para o IV grau, e com menos frequência para o terceiro grau iii. V > vi V > IV V > iii Figura 8 — Exemplo de cadência interrompida Prelúdio Bwv 924ª (J.S Bach) TEMA 4 – TÉTRADES DIATÔNICAS Não há grandes mudanças no trabalho com as tétrades em comparação ao que foi estabelecido com as tríades. Acrescenta-se uma terça em cada uma das tríades dos graus da escala e obtemos as tétrades diatônicas, como vemos na figura a seguir. G C G/B D7/A G D I V7 vi C G7 Am I IV I V7 I V 8 Figura 9 — Representação de tétrade diatônica É importante lembrar que, trabalhando com tétrades, podemos ter uma terceira inversão, em que a sétima do acorde é realizada como a nota mais grave (ver conteúdo sobre inversões). Nas tétrades, o acorde de dominante (V7) possui o trítono entre a sua terça e a sétima. TEMA 5 – HARMONIZAÇÃO DE MELODIAS Agora que já conhecemos a formação de tríades e tétrades, os movimentos fundamentais, o trítono e as cadências, temos o necessário para iniciar a harmonização de melodias. Vamos com uma melodia em semibreves (Dó maior), utilizando apenas tríades. Figura 10 — Melodia em tríades Para harmonizar a primeira nota, precisamos escolher um dos acordes do campo harmônico de Dó maior que tenham a nota sol, no caso: C, Em ou G. Vamos repetir o processo em cada uma das notas subsequentes, verificando quais acordes poderíamos utilizar na harmonização de cada uma delas. Figura 11 — Processo de harmonização 9 Cada nota pode ser harmonizada por três tríades. A escolha da sequência de acordes fica a critério do intérprete, compositor ou arranjador. É importante tocar cada possibilidade, preferencialmente cantando a melodia, para explorar e conhecer bem as diferentes combinações de acordes. O mesmo exercício pode ser realizado utilizando as tétrades. Na harmonização mais usual para a música “Cai cai, balão” (Figura 12), são usadas apenas tônica, dominante e subdominante. É importante observar que, mesmo quando trabalhamos com tríades, é comum o uso do quinto grau (V) com sétima — função dominante. Neste exemplo, a própria melodia “chama” o uso do acorde V com sétima (nota ré, compasso 5, 6 e 7). Figura 12 — Cai cai, balão NA PRÁTICA Vamos praticar a harmonização de diferentes melodias de músicas folclóricas. Como sugestões, trazemos: “Atirei o pau no gato”, “Boi da cara preta”, “A canoa virou”, entre outras. É recomendado fazer como no primeiro exemplo, listandotodas as possibilidades de acorde para as notas principais (notas dos tempos fortes). 10 Harmonização padrão: Acordes opcionais: 11 FINALIZANDO Nesta aula, trabalhamos a construção das tríades e das tétrades, tomando como base a escala diatônica, prestando atenção em seus graus, suas qualidades e funções. Conhecemos as três funções que os acordes podem desempenhar: tônica, subdominante e dominante, tendo como graus principais o I, IV e V da escala. Dentro dos acordes de I, IV e V, podem ser encontradas todas as notas da escala diatônica e, por isso, podemos harmonizar uma grande variedade de músicas apenas com três acordes. Também abordamos os movimentos fundamentais, elencando os movimentos mais utilizados nas progressões harmônicas. Conhecemos melhor o trítono, intervalo essencial, encontrado sob o sétimo (viiº) e o quinto (V7) graus, que deve ser resolvido em um acorde de tônica. Conhecemos as principais cadências na música popular: autêntica, semicadência e cadência interrompida. No trabalho com as tétrades diatônicas, vimos que há mínimas diferenças em relação ao trabalho com as tríades, essencialmente: acrescenta-se uma sétima em todos os acordes; uma terceira inversão se torna possível (sétima no baixo); e o acorde de quinto grau (V7) passa a ter um trítono, sendo o acorde de função dominante mais utilizado, recorrente até mesmo em músicas de harmonia triádica. Por fim, conhecemos o processo de harmonização de melodias no qual exploramos cada acorde possível em cada nota, explorando também os diferentes caminhos, movimentos fundamentais e cadências mencionadas nesta aula. 12 REFERÊNCIAS ALMADA, C. Harmonia funcional. 2. ed. Campinas: Editora Unicamp, 2012. GUEST, I. Harmonia, 1: método prático. São Paulo: Irmãos Vitale, 2010. SANTOS, T. Violão amigo: cantigas de roda do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.