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A SUSPENSÃO PROVOCADA PELO ART. 366 DO CPP Luciano Alves Rodrigues dos Santos 1 Muitos encontram dificuldades para que o cálculo do prazo prescricional seja efetuado quando surge no cenário processual a figura emblemática do art. 366 do CPP, embora seja tarefa descomplicada, pautada por uma regra simples de disposição jurídico-matemática. Vale lembrar, também, que, em regra, todo crime é prescritível, à exceção do que prevê a Constituição Federal no que concerne à prática de racismo (CF, art. 5.º, XLII; Lei n. 7.716/1989) e à ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (CF, art. 5.º, XLIV). Dessa forma, para que não criemos outras formas penais imprescritíveis, a suspensão do prazo prescricional ditada pelo mencionado art. 366 deve estar pautada pelo que alude a Súmula 415 do STJ: “O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada”. Além disso, como esse dispositivo ainda dispõe que o processo também deva ficar sobrestado, temos, por óbvio, que empregar a mesma ordem sumular. Quando, então, houver a decretação do art. 366 do CPP nos autos, temos de criar dois blocos distintos: o primeiro, para a suspensão do processo; e o segundo, para a retomada do prazo prescricional. Ambos, contudo, devem ter como interstício máximo o tempo prescricional contido no art. 109 do CP, calculado conforme o delito praticado, sem prejuízo do que dita o art. 115 do mesmo Codex. Passemos, então, à edificação das regras, cálculos e gráficos que ilustrarão o problema. 1 Advogado Criminalista (OAB/RO 8.205). Mestre em Direito Negocial (ênfase em Direito Processual Civil) pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Ciências Criminais pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Professor de Direito Penal e Processual Penal das Faculdades Integradas de Cacoal (UNESC). 1. Primeiramente, devemos edificar o gráfico para crimes de ação penal pública incondicionada (fora do âmbito da Lei n. 9.099/1995): -------|-------------------------|-------------------------|------------------------------|-------------------------||-------------------------| 2. Em seguida, edificamos o gráfico para crimes de ação penal pública condicionada à representação (fora do âmbito da Lei n. 9.099/1995): -------|-------------------------|-------------------------|-------------------------|------------------------------|-------------------------||-------------------------| Cometimento do crime Oferecimento da denúncia ou queixa Recebimento da denúncia Citação por Edital Decretação do art. 366 Prazo de prescrição Prazo de prescrição Suspensão do Processo Retomada da Prescrição Cometimento do crime Oferecimento da denúncia Recebimento da denúncia Citação por Edital Decretação do art. 366 Prazo de prescrição Prazo de prescrição Suspensão do Processo Retomada da Prescrição CP, art. 107, IV CP, art. 107, IV Representação Prazo decadencial 3. Agora, o gráfico para crimes de ação penal privada (fora do âmbito da Lei n. 9.099/1995): -------|--------------------------------------------------|-------------------------|------------------------------|-------------------------||-------------------------| 4. Por fim, o gráfico para crimes de ação pública condicionada à requisição (fora do âmbito da Lei n. 9.099/1995): -------|--------------------------------------------------|-------------------------|------------------------------|-------------------------||-------------------------| Cometimento do crime Oferecimento da queixa Recebimento da queixa Citação por Edital Decretação do art. 366 Prazo de prescrição Prazo de prescrição Suspensão do Processo Retomada da Prescrição CP, art. 107, IV Prazo decadencial Cometimento do crime Oferecimento da denúncia Recebimento da denúncia Citação por Edital Decretação do art. 366 Prazo de prescrição Prazo de prescrição Suspensão do Processo Retomada da Prescrição CP, art. 107, IV Prazo prescricional da requisição 5. Passemos, então, à análise do prazo da prescrição in abstrato da pretensão punitiva do Estado: a. O primeiro passo é verificarmos o crime cometido; b. Em seguida, devemos analisar o prazo de prescrição contido no art. 109 do CP, usando como base a pena máxima (in abstrato) cominada pelo legislador; e, ainda, a idade do infrator, nos termos do art. 115 do CP; c. Depois, analisamos se o crime praticado possui causa de aumento e/ou de diminuição de pena e/ou qualificadora, bem como continuidade, permanência etc. Vejamos cada regra separadamente: i. Crime praticado no modo simples: 1. CP, art. 157, caput: a. Pena máxima: 10 anos; b. Prazo de prescrição: 16 anos (CP, art. 109, II). 2. CP, art. 155, caput: a. Pena máxima: 04 anos; b. Prazo de prescrição: 08 anos (CP, art. 109, IV). ii. Crime continuado: segundo a Súmula 497 do STF,2 não devemos impor nenhum acréscimo para que seja efetuado o cálculo do prazo de prescrição. Por isso, não utilizaremos os aumentos previstos no art. 71 do CP. Para complementarmos o assunto, conforme a Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do Código Penal, o de número 102 possui como redação: “O prazo de prescrição no crime continuado, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, não mais terá como termo inicial a data em que cessou a continuação (Código Penal, artigo 111, letra c)”. Vejamos um exemplo: 2 “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da continuação”. 1. CP, arts. 312, caput, e 71: a. Pena máxima: 12 anos; b. Prazo de prescrição: 16 anos (CP, art. 109, II). iii. Crimes praticados em concurso formal: devemos fazer uma separação dos crimes, como se tivessem sido praticados em concurso material, e, em seguida, efetuamos o cálculo prescricional de cada um, separadamente, conforme dispõe o art. 119 do CP. Vejamos um exemplo: 1. CP, arts. 121, caput, e 70 (02 pessoas mortas): a. Devemos considerar 02 homicídios praticados; b. Aplicamos, em seguida, o que dispõe o art. 69 do CP (concurso material): i. Homicídio n. 01: pena máxima = 12 anos; ii. Homicídio n. 02: pena máxima = 12 anos. c. Calculamos, em seguida, os prazos prescricionais de cada um, separadamente: i. Homicídio n. 01: prazo prescricional = 20 anos (CP, art. 109, I); ii. Homicídio n. 01: prazo prescricional = 20 anos (CP, art. 109, I). iv. Crime com causa de aumento de pena: devemos aplicar o acréscimo máximo disciplinado pelo legislador, e, em seguida, efetuamos o cálculo prescricional. Ocorre, entretanto, que as causas de aumento são representadas por frações (1/6, 1/3), múltiplos (dobro, triplo) ou intervalos fracionais (1/3 a 1/6, 1/3 a 1/2), o que nos remete à confecção desse cálculo, passo a passo: 1. Suponha que o crime praticado tenha uma pena máxima de 10 anos e precisamos aumentá-la de 1/3: a. O primeiro passo é convertermos a base “ano” para a base “mês”. Se 01 ano corresponde a 12 meses, 10 anos correspondem a “10 x 12”, o que nos dará um total de 120 meses; b. Em seguida, devemos dividir 120 por três (1/3 de 120), que é igual a 40; c. A partir daí, somamos esse resultado (40) ao total (120) e obtemos 160 meses, que correspondem ao período de 10 anos, aumentado de 1/3. 2. Agora, temos de converter os 160 meses para a base “ano” novamente, verificando, também, os meses que sobrarem desse cálculo: a. Temos, primeiramente, de dividir 160 por 12 (sempre 12, que corresponde a 01 ano, convertido em meses); b. Do resultado da divisão, pegamos apenas o númerointeiro, esquecendo do que vem após a vírgula. Obtemos, então, o valor 13; c. Em seguida, multiplicamos 13 por 12 (sempre 12, que corresponde a 01 ano, convertido em meses), que nos dará um resultado de 156 meses; d. Agora, subtraímos 156 de 160 e obtemos 04 meses; e. Logo, podemos afirmar que 10 + 1/3 corresponde a 13 anos e 04 meses. 3. Retornamos, agora, aos prazos prescricionais: a. CP, art. 157, § 2.º, I: i. Vemos que a pena máxima é de 10 anos para o crime praticado no modo simples; ii. Devemos empregar a causa de aumento ao máximo, que corresponde à metade da pena máxima cominada. Chegamos, então, à pena de 15 anos; iii. Obtemos um prazo prescricional de 20 anos (CP, art. 109, I). b. CP, art. 171, § 3.º: i. A pena máxima é de 05 anos para o crime praticado no modo simples; ii. Devemos empregar a causa de aumento, que aqui é única e corresponde a 1/3. Chegamos, então, à pena de 06 anos e 08 meses; iii. Obtemos um prazo prescricional igual ao modo simples, ou seja, de 12 anos (CP, art. 109, III). c. CP, art. 207, § 2.º: i. A pena máxima é de 03 anos para o crime praticado no modo simples; ii. Devemos empregar a causa de aumento ao máximo, que corresponde a 1/3. Chegamos, então, à pena de 04 anos; iii. Obtemos um prazo prescricional igual ao modo simples, ou seja, de 08 anos (CP, art. 109, IV). d. CP, arts. 138 e 141, III: i. A pena máxima é de 02 anos para o crime praticado no modo simples (lembrando que esse crime depende de queixa, por se tratar de ação penal privada. A queixa possui prazo decadencial de 06 meses para ser ajuizada); ii. Devemos empregar a causa de aumento, que aqui é única e corresponde a 1/3. Chegamos, então, à pena de 02 anos e 08 meses; iii. Obtemos um prazo prescricional de 08 anos (CP, art. 109, IV). v. Crime com causa de diminuição de pena: devemos aplicar a diminuição ao mínimo, conforme disciplinado pelo legislador, e, em seguida, efetuamos o cálculo prescricional, que possui relação de proximidade com a causa de aumento. Vejamos: 1. Suponha que o crime praticado tenha uma pena máxima de 10 anos e precisamos diminuí-la de 1/3: a. O primeiro passo é convertermos a base “ano” para a base “mês”. Se 01 ano corresponde a 12 meses, 10 anos correspondem a “10 x 12”, o que nos dará um total de 120 meses; b. Em seguida, devemos dividir 120 por três (1/3 de 120), que é igual a 40; c. A partir daí, subtraímos esse resultado (40) do total (120) e obtemos 80 meses, que correspondem ao período de 10 anos, diminuído de 1/3. 2. Agora, temos de converter os 80 meses para a base “ano” novamente, verificando, também, os meses que sobrarem desse cálculo: a. Temos, primeiramente, de dividir 80 por 12 (sempre 12, que corresponde a 01 ano, convertido em meses); b. Do resultado da divisão, pegamos apenas o número inteiro, esquecendo do que vem após a vírgula. Obtemos, então, o valor 06; c. Em seguida, multiplicamos 06 por 12 (sempre 12, que corresponde a 01 ano, convertido em meses), que nos dará um resultado de 72 meses; d. Agora, subtraímos 72 de 80 e obtemos 08 meses; e. Logo, podemos afirmar que 10 - 1/3 corresponde a 06 anos e 08 meses. 3. Retornamos, agora, aos prazos prescricionais: a. CP, art. 157, caput, praticado por semi-imputável (CP, art. 26, parágrafo único): i. Vemos que a pena máxima é de 10 anos; ii. Devemos empregar a causa de diminuição ao mínimo, que corresponde a 1/3. Chegamos, então, à pena de 06 anos e 08 meses; iii. Obtemos, então, um prazo prescricional de 12 anos (CP, art. 109, III). vi. Crime com causa de aumento e de diminuição de pena: devemos empregar o máximo do acréscimo determinado pelo legislador, e, em seguida, o mínimo de redução. Vejamos um exemplo: 1. CP, art. 171, § 4.º, praticado por semi-imputável (CP, art. 26, parágrafo único): a. Vemos que a pena máxima é de 05 anos para o crime praticado no modo simples; b. Devemos empregar a causa de aumento, que corresponde ao dobro da pena máxima cominada. Chegamos, então, à pena de 10 anos; c. Em seguida, devemos empregar a causa de diminuição ao mínimo, que corresponde a 1/3. Obtemos, assim, um total de 06 anos e 08 meses; d. Logo, o prazo prescricional é de 12 anos (CP, art. 109, III). vii. Crime qualificado: uma qualificadora provoca aumento no mínimo e no máximo da pena cominada, constituindo-se verdadeiro tipo penal isolado, o que não traz complicação alguma para que seja verificado o prazo prescricional. Basta olharmos a pena máxima disciplinada. Vejamos um exemplo: 1. CP, art. 129, § 1.º, I: a. Vemos que a pena máxima é de 05 anos; b. Logo, o prazo prescricional é de 12 anos (CP, art. 109, III). viii. Crime qualificado-privilegiado: para que isso ocorra, as qualificadoras devem ser de modo objetivo, já que todo privilégio é subjetivo. Exemplo: 1. CP, art. 129, § 1.º, III e § 4.º (violenta emoção): a. Vemos que a pena máxima é de 05 anos; b. Devemos empregar a causa de diminuição ao mínimo, que corresponde a 1/6. Chegamos, assim, a um total de 04 anos e 02 meses; c. Obtemos um prazo prescricional de 12 anos (CP, art. 109, III). ix. Agravantes e atenuantes genéricas: estas são desprezadas e não provocam influência no cálculo do prazo prescricional. As únicas atenuantes genéricas que devem ser empregadas são de ordem etária e estão dispostas no art. 115 do CP. x. Crime tentado: devemos realizar um abatimento de 1/3 da pena máxima cominada pelo legislador (abatimento mínimo contido no parágrafo único do art. 14 do CP). Vejamos alguns exemplos: 1. CP, arts. 146, caput, e 14, II: a. Pena máxima: 01 ano; b. Redução de 1/3 da pena máxima: 08 meses; c. Prazo de prescrição: 03 anos (CP, art. 109, VI). 2. CP, arts. 155, caput, e 14, II: a. Pena máxima: 04 anos; b. Redução de 1/3 da pena máxima: 02 anos e 08 meses; c. Prazo de prescrição: 08 anos (CP, art. 109, IV). 3. CP, arts. 121, § 2.º, I e 14, II: a. Pena máxima: 30 anos; b. Redução de 1/3 da pena máxima: 20 anos; c. Prazo de prescrição: 20 anos (CP, art. 109, I). 6. Finalizadas essas explicações, vamos iniciar a parte final do cálculo do prazo de prescrição, atentando que: a. Quando se tratar de crime de ação penal pública condicionada à representação, o prazo de representação começará a correr quando o ofendido tomar conhecimento de quem foi o autor do crime (CPP, art. 38). Entretanto, o ofendido deverá tomar conhecimento de quem foi o autor do delito enquanto não ocorrer a prescrição; b. Enquanto não ocorrer o trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a acusação (ou se improvido for o seu recurso de apelação), o início do prazo prescricional será regulado pela data da consumação do delito (CP, arts. 10 e 111, I), desde que nenhuma causa interrompa o seu curso, as quais se encontram no art. 117 do CP. Em caso de tentativa, o cômputo é regulado pelo art. 111, II do CP; e, em caso de crime permanente, pelo art. 111, III do CP; c. Nos crimes contra a dignidade sexual de menores de 18 (dezoito) anos, a prescrição não se inicia enquanto o ofendido não completar 18 (dezoito) anos, salvo se a ação penal for intentada antes (CP, art. 111, V). Nesse caso, o oferecimento da denúncia ou queixa delimitará a data inicial do prazo prescricional; d. Para o crime de bigamia (CP, art. 235) e de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil (CP, art. 297 (vide art. 299, parágrafo único, do CP; Lei n. 6.815/1980, art. 125, XIII), o prazo começa a fluir do dia em que o fato se tornou conhecido (CP, art. 111, IV); e. No caso de contravenção, a prescrição irá depender da pena cominada no Decreto-lei n. 3.688/1941: i. De Multa: a prescrição deve ser calculada conforme o art. 114, I do CP; ii. De prisão simples: a prescrição deve ser calculada pela regra geral contida no art. 109 do CP, conforme o limite máximo da pena dispostano artigo de lei. f. Para o cálculo relacionado ao art. 366 do CPP, será empregado o inciso I do art. 117 do CP. 7. Edifiquemos, então, o gráfico para crimes de ação penal pública incondicionada, usando como exemplo o art. 155, caput, do CP (infrator com 30 anos de idade). Como anteriormente visto, esse crime prescreve em 08 anos (CP, art. 109, IV). Vejamos: -------|-------------------------|-------------------------|--------------------------------------|-------------------------||-------------------------| Cometimento do crime 11-02-2009 Oferecimento da denúncia 16-04-2009 Recebimento da denúncia 21-04-2009 CP, art. 117, I Citação por Edital Acusado foragido Decretação do art. 366 do CPP 05-08-2009 Suspensão da Prescrição Prazo de prescrição 08 anos Prazo de prescrição 08 anos Suspensão do Processo Retomada da Prescrição CP, art. 107, IV Acusado solto Calcular Este resultado deve ser subtraído deste bloco: 08 anos – (resultado obtido) 8. O cálculo de datas para aferição da prescrição deve ser feito da seguinte forma: a. Devemos tomar a data final e subtrairmo-na da data inicial (é importante efetuarmos esse cálculo entre cada intervalo de datas encontrado no problema, de modo que verifiquemos se houve prescrição ou não, lembrando que o recebimento da denúncia a interrompe, ou seja, faz com que volte a contar do zero); b. O cálculo é feito da direita para a esquerda, ou seja, primeiro são subtraídos os dias, depois os meses, e, por fim, os anos, do seguinte modo: i. Exemplo 01: Dia Mês Ano 16 04 2009 (data final) 11 02 2009 (data inicial) 05 02 0 (foram passados 02 meses e 05 dias) c. Quando o “dia” da data final for menor que o da inicial, devemos fazer um empréstimo de 01 mês da coluna “mês” (transformando-o em dias) (01 mês será sempre equivalente a 30 dias) (como houve empréstimo de 01 mês, devemos subtraí-lo do número que o cedeu); d. Quando o “mês” da data final for menor que o da inicial, devemos fazer um empréstimo de 01 ano da coluna “ano” (transformando-o em meses) (01 ano será sempre equivalente a 12 meses) (como houve empréstimo de 01 ano, devemos subtraí-lo do número que o cedeu). Vejamos: Dia Mês Ano 12 30 00 2011 09 01 2012 (data final) 11 02 2009 (data inicial) 28 10 02 (foram passados 02 anos, 10 meses e 28 dias) — — + + e. Como dissemos anteriormente, devemos efetuar o cálculo entre todos os trechos, pois, se houver prescrição em qualquer um deles, nada mais será válido para fins de condenação. O mesmo será aplicado para crimes que dependam de representação e esta não tenha sido ofertada no interstício decadencial de 06 meses. 9. Voltando à edificação dos cálculos para o exemplo dado acima, temos: -------|-------------------------|-------------------------|--------------------------------------|-------------------------||-------------------------| Cometimento do crime 11-02-2009 Oferecimento da denúncia 16-04-2009 Recebimento da denúncia 21-04-2009 CP, art. 117, I Citação por Edital Acusado foragido Decretação do art. 366 do CPP 05-08-2009 Suspensão da Prescrição Prazo de prescrição 08 anos Prazo de prescrição 08 anos Suspensão do Processo Retomada da Prescrição CP, art. 107, IV Acusado solto Calcular Este resultado deve ser subtraído deste bloco: 08 anos – (resultado obtido) a. É necessário, a partir daqui, que efetuemos os cálculos entre cada trecho apontado no problema, observando que o recebimento da denúncia interromperá a prescrição; e, que a decretação do art. 366 do CPP apenas a suspenderá, a qual voltará a correr quando do término do primeiro bloco de 08 anos (suspensão do processo). O valor 08 é empregado nos dois blocos, por se tratar do prazo de prescrição do crime cometido. Vejamos os cálculos, conforme as datas fornecidas no gráfico: Dia Mês Ano (cálculo do dia da consumação do delito ao dia do oferecimento da denúncia) 16 04 2009 11 02 2009 05 02 0 (não houve prescrição) Dia Mês Ano (cálculo do dia do oferecimento da denúncia ao seu recebimento) 21 04 2009 16 04 2009 05 0 0 (não houve prescrição) Dia Mês Ano (cálculo do dia do recebimento da denúncia à data de consumação do delito) 21 04 2009 11 02 2009 10 02 0 (não houve prescrição) Dia Mês Ano (cálculo do dia da decretação do art. 366 do CPP ao dia do recebimento da denúncia) 30 07 05 08 2009 21 04 2009 14 03 0 (não houve prescrição) (este é o período transcorrido desde que a prescrição foi interrompida, até o dia de decretação do art. 366 do CPP, que provocou a sua suspensão) — — — — + b. Neste último ponto, o período transcorrido será subtraído do último bloco, que representa a retomada da prescrição, que estava suspensa: i. Devemos, então, efetuar o seguinte cálculo: 08 anos — (03 meses e 14 dias). Isso é feito para sabermos quanto tempo ainda resta para que o crime cometido prescreva. Mas, como esse cálculo é feito? ii. Vamos utilizar as expressões matemáticas corretas, dispondo a equação de pé, sendo que a base “ano” deverá ser posta embaixo da base “ano”; a base “mês” posta embaixo da base “mês”; e, a base “dia” embaixo da base “dia”; iii. Diferentemente do cálculo anterior, a base “ano” inicia a equação, seguida da base “mês” e da base “dia”. Do mesmo modo, o cálculo é feito da esquerda para a direita. Vejamos um exemplo prático, passo a passo, antes de começarmos o cálculo acima: Ano Mês Dia 08 (minuendo) 02 06 16 (subtraendo) 06 06 16 (diferença ou resto) iv. O minuendo será sempre o valor do prazo prescricional; o subtraendo, o resultado obtido do cálculo do dia da decretação do art. 366 do CPP ao dia do recebimento da denúncia; v. Note que, sempre que houver base “ano” no minuendo e no subtraendo, fazemos o cálculo diretamente. As demais bases são novamente copiadas. Vejamos: Ano Mês Dia 08 (minuendo) 02 06 16 (subtraendo) 06 06 16 (diferença ou resto) (os valores das bases “mês” e “dia” foram copiados sem alteração) — — vi. Temos, agora, de calcular: 06 anos — (06 meses e 16 dias). Devemos montar a equação novamente, e, onde não houver número, iremos inserir um 0 (zero) (em cima e/ou embaixo). Vejamos: Ano Mês Dia 06 0 0 (minuendo) 0 06 16 (subtraendo) vii. Como já fizemos o cálculo da base “ano”, devemos, então, começar pela base “mês”. Entretanto, 0 (zero) não pode subtrair 06. Devemos, então, fazer um empréstimo de 01 ano da base “ano”, transformando-o em mês, como anteriormente aprendemos. O valor do dia será copiado, pois ainda não estamos trabalhando com essa base. Vejamos: Ano Mês Dia 05 12 06 0 0 (minuendo) 0 06 16 (subtraendo) 05 06 16 (diferença ou resto) viii. Agora, resta o cálculo da base “dia”. Do mesmo modo, montamos a equação, sabendo que temos de subtrair 16 dias dos 06 meses que restaram. Porém, como 0 (zero) não pode subtrair 16, devemos, então, fazer um empréstimo de 01 mês da base “mês”, transformando-o em dia: Ano Mês Dia 05 30 05 0 0 (minuendo) 0 06 16 (subtraendo) 05 05 14 (diferença ou resto) ix. Restam, então, 05 anos, 05 meses e 14 dias para que o delito prescreva depois de decorrido prazo de suspensão do processo. — — — x. Voltamos, então, ao problema dado: Temos de efetuar o cálculo: 08 anos — (03 meses e 14 dias). Como não há “ano” a ser subtraído, montamos a equação do modo como aprendemos acima, isto é, adicionando zeros aos espaços em branco. Vejamos: Ano Mês Dia 07 12 08 0 0 (minuendo) 0 03 14 (subtraendo) 07 09 14 (diferença ou resto) xi. Fizemos o empréstimo de 01 ano para que os meses pudessem ser calculados. Agora, o cálculo dos dias: Ano Mês Dia 08 30 07 0 0 (minuendo) 0 09 14 (subtraendo) 07 08 16 (diferença ou resto) xii. Fizemos o empréstimo de 01 mês para que os dias pudessem ser calculados.xiii. Restam, então, 07 anos, 08 meses e 16 dias para que o delito prescreva depois de decorrido prazo de suspensão do processo. xiv. Vamos montar novamente o gráfico para ilustrarmos o problema: — — -------|-------------------------|-------------------------|--------------------------------------|-------------------------||-------------------------| REFERÊNCIAS BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito Penal: Parte Geral. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Fim! _______________________________________________________________________________________________________________________________ Cometimento do crime 11-02-2009 Oferecimento da denúncia 16-04-2009 Recebimento da denúncia 21-04-2009 CP, art. 117, I Citação por Edital Acusado foragido Decretação do art. 366 do CPP 05-08-2009 Suspensão da Prescrição Prazo de prescrição 08 anos Prazo de prescrição 08 anos Suspensão do Processo Retomada da Prescrição CP, art. 107, IV Acusado solto 07 anos 08 meses e 16 dias