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30 Temas de Processo Penal

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30 Temas de Processo Penal Certos em Provas 
Estratégia Carreira Jurídica 
 
 
 
30 Temas de Processo Penal Certos em Provas 
 
1 
67 
Olá, pessoal! Tudo bem? 
Aqui é Leonardo Tavares, Professor do Estratégia Carreira Jurídica. 
Não obstante a amplitude da matéria de processo penal, fizemos aqui 
algumas ‘apostas’, com base na experiência e em levantamentos da equipe, 
em relação a temas que acreditamos mais recorrentes nas provas dos 
concursos para carreiras jurídicas. 
Trinta (30) temas serão abordados, de forma muito pontual e sem qualquer 
pretensão de esgotá-los. Estamos apenas colocando a nossa experiência a seu serviço, na dificílima tarefa de 
antecipar algumas questões com ideias e compreensões consolidadas neste material. 
♾ Aproveito, ainda, para dar um aviso importante: a Assinatura Jurídica Vitalícia está de volta. Depois de 
muitos pedidos dos nossos alunos, o produto que dá acesso perpétuo a todos os materiais e ferramentas do 
Estratégia Carreira Jurídica ficará disponível por tempo limitado. 
💎 Anote na agenda o dia 15/05/2023, às 10h, e prepare-se para fazer o último investimento da sua vida na 
preparação para concursos jurídicos. 
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lá divulgaremos tudo em primeira mão. É só clicar nos botões abaixo ou no QR Code: 
 
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Grande abraço, 
Leonardo Tavares 
https://t.me/vitaliciajuridica
https://www.redirectmais.com/wpp/vitalicia-ecj
https://t.me/vitaliciajuridica
https://www.redirectmais.com/wpp/vitalicia-ecj
 
 
 
30 Temas de Processo Penal Certos em Provas 
Estratégia Carreira Jurídica 
 
 
 
30 Temas de Processo Penal Certos em Provas 
 
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Sumário 
30 Temas de Processo Penal Certos em Provas ................................................................................................. 4 
1 – Provas ....................................................................................................................................................... 4 
2 – Institutos despenalizadores ...................................................................................................................... 9 
3 – Características do Inquérito Policial ....................................................................................................... 11 
4 – Desarquivamento do inquérito policial e novas provas ......................................................................... 13 
5 - Revista pessoal e acesso aos dados do telefone celular do autuado ..................................................... 15 
6 – Busca e apreensão – busca domiciliar.................................................................................................... 18 
7 – Reconhecimento de pessoas – procedimento, inobservância e consequências .................................... 21 
8 – Conexão x continência ............................................................................................................................ 25 
9 – Competência da Justiça Federal - Embarcações e aeronaves ................................................................ 26 
10 – Competência nos crimes de estelionato ............................................................................................... 30 
11 – Prisão em flagrante .............................................................................................................................. 32 
12 – Prisão Preventiva .................................................................................................................................. 33 
13 – Prisão Domiciliar .................................................................................................................................. 35 
14 – Características das medidas cautelares ............................................................................................... 36 
15 – Pressupostos genéricos das medidas cautelares ................................................................................. 37 
16 – Nulidades .............................................................................................................................................. 40 
17 – Recursos................................................................................................................................................ 41 
18 – Emendatio Libelli e Mutatio Libelli ....................................................................................................... 45 
19 – Princípios Constitucionais do Tribunal do Júri ...................................................................................... 48 
20 – ‘Habeas Corpus’ .................................................................................................................................... 48 
21 – Principais características das ações penais .......................................................................................... 50 
22 – Extinção da punibilidade nas ações penais privadas ........................................................................... 51 
 
 
 
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Estratégia Carreira Jurídica 
 
 
 
30 Temas de Processo Penal Certos em Provas 
 
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23 – Princípios fundamentais no processo penal ......................................................................................... 52 
24 – Revisão criminal ................................................................................................................................... 54 
25 – Pronúncia .............................................................................................................................................. 54 
26 – Assistente de acusação ........................................................................................................................ 56 
27 – Incidente de insanidade mental ........................................................................................................... 57 
28 – Sentença penal ..................................................................................................................................... 59 
29 – Incidentes relativos à fiança ................................................................................................................. 63 
30 – Revelia no processo penal .................................................................................................................... 66 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Estratégia Carreira Jurídica 
 
 
 
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30 TEMAS DE PROCESSO PENAL CERTOS EM PROVAS 
1 – PROVAS 
Definição de prova 
Normalmente relacionada à ideia de reconstrução dos fatos pretéritos para viabilizar convicção do juiz. 
Noção criticada na atualidade, reconhecendo-se a 
impossibilidade de se recuperar o que já passou. 
A prova consiste, pois, na demonstração de existência 
ou da veracidade daquilo que se alega como 
fundamento do direito que se defende ou que se 
contesta. E, nesta razão, no sentido processual, designa 
também os meios, indicados em lei, para realização 
dessa demonstração. 
A palavra ‘prova’ normalmente tem 3 sentidos: 
atividade probatória, meio de prova e resultado, este a 
representar o convencimento. 
Finalidade da prova 
Formar a convicção do juiz, mediante uma reconstituição histórica do fato criminoso (visão ortodoxa). 
Trabalha-se com uma verdade processual, cuja ‘certeza’ é de natureza jurídica – com materialização da 
prova. A “função da prova é permitir o embasamento concreto das proposições formuladas, de forma a 
convencer o juiz de sua validade” - uma espécie de apoio à retórica. A finalidade da provavaria de acordo 
com a concepção que se tenha do processo. 
Destinatários da prova 
O principal destinatário é o juiz; secundariamente a prova também 
se dirige às partes, que dela podem extrair convicções e 
consectários legais. 
Objeto da prova 
Se dá em relação a questões de fato surgidas no processo. São “os 
fatos, principais ou secundários, que reclamem uma apreciação 
judicial e exijam uma comprovação” – aqueles que as partes 
pretendem demonstrar. Objeto in concreto são os fatos relevantes 
para a decisão. 
Para corrente minoritária o objeto da prova são as afirmações e 
asserções das partes sobre fatos, em relação àquelas que 
interessam para a solução da causa. 
Thema probandum se constitui pela imputação constante da peça acusatória. 
Elementos de prova 
n
ão
 d
ep
en
d
em
 d
e 
p
ro
va
 o
s 
fa
to
s
axiomáticos/intuitivos
irrelevantes/inúteis
notórios
presunções legais
PROVA
ótica 
objetiva
atividade 
probatória
meio
ótica 
subjetiva
resultado da 
ação de 
provar
 
 
 
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São os dados objetivos que confirmam ou negam uma asserção a respeito de um fato. 
Instrução criminal 
“O conjunto de atos processuais que têm por objeto recolher as provas com que deve ser decidido o litígio”. 
Fase própria, dentro do processo, para a produção das provas. A fase de instrução criminal, no processo, tem 
início com a apresentação de provas por parte do réu (o que normalmente ocorre com a resposta à acusação, 
art. 396-A do CPP) e vai até o encerramento da instrução complementar (eventualmente requerida com base 
no art. 402 do CPP). 
Classificação e terminologia das provas 
Direta: aquela que, por si e com uma única operação inferencial, demonstram o fato objeto da investigação. 
Indireta: não demonstra o fato diretamente, exige dedução, raciocínio lógico (ex. álibi). 
Plena: completa e convincente acerca dos fatos, permitindo juízo de certeza. 
Não plena: ou semiplena, é a prova mais tênue que gera juízo de probabilidade. 
Real: decorre de coisas materiais (ex. arma), com os sinais nelas deixados. 
Pessoal: decorre de pessoas (ex. interrogatório, testemunha) e suas impressões. 
Positiva: procura demonstrar a existência do fato. 
Negativa: visa demonstrar a inexistência do fato – é a contraprova. 
Prova emprestada 
Aquela que é produzida num determinado processo/procedimento e acaba sendo utilizada em outro. 
Doutrina majoritária defende que ela tem o mesmo ‘valor’ da prova originária e que isso só seria possível em 
casos de procedimentos com as mesmas partes em que tenha havido contraditório. 
O art. 372 do Código de Processo Civil diz o seguinte: “O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida 
em outro processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o contraditório”. 
A jurisprudência mais recente tem admitido o uso da prova emprestada mesmo entre casos sem identidades 
de partes (para não restringir demais sua utilização), com o contraditório diferido. MARINONI recomenda a 
observância dos direitos em jogo na admissão da prova emprestada. 
PROVAS CAUTELARES NÃO REPETÍVEIS ANTECIPADAS 
Modo de produção: acautelatório oficioso antecipado 
Momento: investigação/processo investigação/processo investigação/processo 
Autorização judicial: depende não depende depende 
Repetição: difícil, em tese viável inviável difícil, em tese viável 
Contraditório: diferido/postergado diferido/postergado real e temporâneo 
Exemplo: interceptação telef. necropsia depoimento urgente 
 
 
 
 
 
 
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Ônus da prova 
Posição ativa que confere ao sujeito processual uma faculdade em relação à prova que pode resultar em 
algum resultado favorável – imperativo de próprio interesse. O descumprimento não implica sanção (nem 
ilicitude), porque não é dever, apenas risco de um resultado desfavorável (que pode não acontecer). 
Subjetivo = regra de conduta, encargo de provas que 
pesa sobre as partes. 
Objetivo = regra de julgamento a ser observada pelo 
juiz nos casos de dúvida. Não é para fixar quem deve 
produzir a prova, mas sim de quem assume o risco da 
sua falta. 
Perfeito/absoluto = resultado do descumprimento é 
necessário e inevitável. 
Imperfeito/relativo = resultado do descumprimento não é necessário e obrigatório (pode ocorrer, mas não 
necessariamente). 
Distribuído: quanto ocorre distribuição da carga probatória entre as partes do processo (não fica para uma 
só), com base no art. 156 do CPP e disposições do Código de Processo Civil. 
 
Exclusivo da acusação: (corrente minoritária) em razão da presunção de inocência e do in dubio pro reo o 
ônus da prova seria exclusivamente da acusação. Fazendo alusão ao art. 41 do CPP também sustentam que 
a acusação deve comprovar tipicidade, ilicitude e culpabilidade. 
Nível de prova: para a acusação se exige prova acima de dúvida razoável; para a defesa basta que consiga 
lançar dúvida fundada a respeito de suas teses – in dubio pro reo. 
Inversão do ônus da prova? Lei 9.613/2008, art. 4º, § 2º. O juiz determinará a liberação total ou parcial dos 
bens, direitos e valores quando comprovada a licitude de sua origem, mantendo-se a constrição dos bens, 
direitos e valores necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de prestações pecuniárias, 
multas e custas decorrentes da infração penal. 
ÔNUS DA 
PROVA
subjetivo
partes
regra de 
conduta
objetivo
juiz
regra de 
julgamento
ACUSAÇÃO
existência do fato penalmente ilícito
autoria
relação de causalidade
culpa (stricto sensu - negligência,
imprudência e imperícia); dolo é
presumido
DEFESA
fatos impeditivos: exclusão da vontade
e exclusão da culpa
fatos modificativos: exclusão da
antijuridicidade, causas supralegais etc.
fatos extintivos: prescrição, decadência
etc.
 
 
 
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Iniciativa probatória do juiz 
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas 
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade 
da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de 
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. 
Sistemas de avaliação da prova 
 Íntima convicção: também denominado de “sistema de livre convicção” ou “sistema da certeza moral do 
juiz”, é marcado pela ampla liberdade do julgador na análise e valoração das provas. Não há motivação ou 
fundamentação da decisão; a convicção é íntima e reservada. Admite-se, inclusive, a apreciação de provas 
estranhas ao processo. 
É o sistema adotado no Tribunal do Júri (e apenas aí); constituindo um corolário do princípio do sigilo das 
votações, inerente ao próprio Tribunal do Júri, que se encontra estampado no art. 5º, XXXVIII, ‘b’ da 
Constituição Federal. 
 Prova tarifada: também conhecido por “sistema da prova legal”, “da certeza moral do legislador”, “da 
verdade legal” e “da verdade formal”, tem como traço característico a fixação antecipada e em abstrato, 
pelo próprio legislador, do valor e força probatória dos diversos tipos de provas. Nesse sistema, retira-se a 
liberdade apreciativa do juiz, que acaba ficando incumbido apenas de conferir às provas o valor estabelecido 
pelo legislador quando da edição da norma. 
Não é o sistema adotado como regra no direito processual penal brasileiro, não obstante existam resquícios 
desse método em alguns dispositivos do CPP, como, por exemplo, o art. 158 (vinculação do juiz ao exame de 
corpo de delito em crimes que deixam vestígios) e art. 155, parágrafo único (prova do estado depessoas 
apenas por certidão, e não por testemunhas). 
 Convencimento motivado ou persuasão racional do juiz: é o sistema adotado como regra no processo 
penal brasileiro, conforme se depreende do art. 155, caput do CPP e art. 93, IX da CF. Constitui um justo-
meio entre os demais sistemas; nele é devolvida a liberdade de convicção ao magistrado, que tem autonomia 
para valorar racionalmente as provas a ele submetidas. 
A liberdade de convicção, contudo, não é absoluta e ilimitada. A uma, porque a devida fundamentação da 
decisão constitui requisito imprescindível ao decisum, sendo, inclusive, pressuposto de sua validade; a duas, 
porquanto não pode o magistrado se valer de elementos probatórios estranhos ao processo para formar sua 
convicção, estando ele atrelado às provas produzidas em seu bojo; a três, pois, conforme o próprio art. 155 
do CPP, não pode o juiz fundar sua convicção exclusivamente nos elementos informativos amealhados em 
sede de investigação preliminar. Nesse sistema não há hierarquia entre as provas; são todas relativas e serão 
apreciadas e valoradas considerando-se as peculiaridades de cada caso. 
Prova vedada/ilegal 
 Serendipidade – encontro fortuito de provas: essa teoria é usada “nos casos em que, no cumprimento 
de uma diligência relativa a um delito, a autoridade policial casualmente encontra provas pertinentes à outra 
 
 
 
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infração penal, que não estavam na linha de desdobramento normal da investigação”. “Nesses casos, a 
validade da prova inesperadamente obtida está condicionada à forma como foi realizada a diligência: se 
houve desvio de finalidade, abuso de autoridade, a prova não deve ser considerada válida; se o encontro da 
prova foi casual, fortuito, a prova é válida”. Tem sido usada, principalmente, em casos de interceptação 
telefônica. 
 Princípio da proporcionalidade: a doutrina e a jurisprudência majoritárias há longo tempo têm 
considerado possível a utilização das provas ilícitas em favor do réu quando se tratar da única forma de 
absolvê-lo ou de comprovar um fato importante à sua defesa. Do mesmo modo que tendem a não aceitar o 
princípio da proporcionalidade como fator capaz de justificar a utilização da prova ilícita em favor da 
sociedade, ainda que se trate do único elemento probatório carreado aos autos passível de conduzir à 
condenação do réu. “No Brasil, atualmente, a jurisprudência não aceita, ainda, a utilização de critérios de 
ponderação para o aproveitamento da prova ilícita, quando em desfavor do acusado. Nem como regra, o 
que é absolutamente correto, nem como – muito menos, na verdade – exceção”. 
 Prova ilícita por derivação: famosa ‘teoria dos frutos da árvore envenenada’. Teoria que surgiu no direito 
norte-americano e que estabelece que todas as provas que sejam derivadas (no sentido de provenientes, 
consequenciais) das ilícitas também não poderão ser aceitas/admitidas no processo. 
Incorporado no nosso sistema, inclusive pela lei que, no § 1º do art. 157, diz que “são também inadmissíveis 
as provas derivadas das ilícitas”. 
 
 Teoria da fonte independente: fonte de prova independente = prova não relacionada com os fatos que 
geraram a produção da prova contaminada. Segundo a lei, a prova derivada poderá ser admitida quando 
puder ser obtida por uma fonte independente da prova ilícita (art. 157, § 1º, CPP). 
 Teoria da descoberta inevitável: admite-se que “a segunda prova deriva da ilícita, porém se entende que 
não há razão para reputá-la nula ou ineficaz. Isso porque a descoberta por ela constatada ocorreria mais 
cedo ou mais tarde. A lógica do salvamento da segunda prova está em que não há motivo para retirar eficácia 
de uma prova, que trouxe uma descoberta que muito provavelmente seria obtida de qualquer maneira”. 
PROVAS ILÍCITAS
violação regras de direito 
material
violação na obtenção/coleta
normalmente antes/fora do 
processo
inadmissíveis no processo
não podem ser 
refeitas/convalidadas
PROVAS ILEGÍTIMAS
violação regras de direito 
processual
violação na produção
normalmente durante o 
processo
carregam nulidade, podem ser 
admitidas
podem ser 
refeitas/convalidadas
 
 
 
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 Por essas teorias se poderia dizer “que nem todos os frutos da árvore venenosa são proibidos, pois alguns 
podem ser aproveitados”. 
 Teoria do nexo causal atenuado: “quando a ligação entre a prova ilícita e a que dela deriva for de tal 
maneira tênue, não há que se falar em derivação da prova ilícita”; reflete “situações em que o nexo seja tão 
distante entre a prova ilícita e a prova obtida que se poderia pensar em um afastamento (ao menos 
normativo) deste nexo”. 
Teria sido positivada no § 1º do art. 157, quando diz que é admissível a prova ilícita por derivação quando 
“não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras”. 
 Inutilização da prova ilícita: art. 157, § 3º. Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada 
inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. 
 Informativo 603 STJ: obrigar o suspeito a colocar seu celular em “viva voz” no momento de uma ligação 
é considerado prova ilícita (STJ. 5ª Turma. REsp 1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 
18/4/2017). 
2 – INSTITUTOS DESPENALIZADORES 
Com o advento da Lei 13.964/2019 e o acréscimo do art. 28-A ao Código de Processo Penal, tivemos a 
consolidação de mais um instituto despenalizador: o acordo de não persecução penal (ANPP). Confira uma 
tabela que preparamos a respeito das principais diferenças e semelhanças entre os ‘benefícios’ que hoje 
temos: 
TRANSAÇÃO PENAL 
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO 
PROCESSO 
ANPP 
prevista no art. 76 da Lei 9.099/95 prevista no art. 89 da Lei 9.099/95 previsto no art. 28-A do CPP 
aplicável à infração de menor 
potencial ofensivo 
aplicável a todos os delitos, salvo 
exceções (médio potencial) 
aplicável a infrações penais sem 
violência ou grave ameaça 
pena máxima de 2 anos de pena 
pena mínima não superior a 1 ano 
(ou alternativa de multa) 
pena mínima inferior a 4 anos 
causas de aumento/diminuição 
devem ser consideradas 
causas de aumento/diminuição 
devem ser consideradas 
causas de aumento/diminuição 
devem ser consideradas (§ 1º) 
conexão/concurso IMPO: soma 
penas, > 2 anos impede 
concurso: soma penas, > 1 ano de 
pena mínima, impede: 723/STF e 
243/STJ 
concurso: soma penas, > 4 anos 
de pena mínima, impede 
não se aplica em crimes militares 
e de violência doméstica 
não se aplica em crimes militares 
e de violência doméstica 
não se aplica em crimes de 
violência doméstica e contra a 
mulher (por cond. do sexo) 
aplicável em caso de 
desclassificação do crime 
aplicável em caso de 
desclassificação do crime 
aplicável em caso de 
desclassificação do crime 
 
 
 
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estar sendo processado não 
impede 
estar sendo processado impede 
criminalidade habitual, reiterada 
ou profissional impede (exceto se 
insignificantes as anteriores) 
condenação definitiva (pena 
privativa de liberdade) impede 
condenação anterior impede reincidência impede 
transação penal aceita nos 5 anos 
anteriores impede (art. 76, § 2º, II 
da Lei 9.099/1995) 
o prazo de 5 anos do art. 76, § 2º, 
II também se estende ao sursis 
processual (tese 9, Jurisp. em 
Teses, ed. 93, STJ) 
transação penal, suspensão 
condicional do processo ou ANPP 
aceito nos 5 anos anteriores 
impede (art. 28-A, § 2º, III do CPP) 
tomam-se em conta condições 
pessoais (requisitos subjetivos) 
tomam-se em conta condições 
pessoais (requisitos subjetivos) 
não há referência legal a 
condições pessoais, embora 
possamser avaliadas dentro da 
‘reprovação e prevenção’ (caput). 
deve-se avaliar se não é caso de 
arquivamento (justa causa) 
deve-se avaliar se não é caso de 
arquivamento (justa causa) 
deve-se avaliar se não é caso de 
arquivamento (justa causa) 
não depende de denúncia – fase 
preliminar 
denúncia tem de ser recebida – 
fase judicial 
não depende de denúncia – fase 
preliminar 
oferecida em primeiro lugar nas 
IMPO – antes da denúncia 
oferecida subsidiariamente nas 
IMPO; em primeiro lugar nas 
infrações de médio potencial 
ofensivo – quando da denúncia 
não será oferecido se for cabível 
transação penal, nas IMPO (art. 
28-A, § 2º, I do CPP) 
não tem prazo ou período de 
prova 
período de prova de 2 a 4 anos 
sem prazo, mas prestação de 
serviços corresponderá à pena 
mínima diminuída 1/3 a 2/3 
prescrição corre normalmente 
não corre prescrição no prazo da 
suspensão 
não corre prescrição enquanto 
não cumprido ou rescindido (CP, 
116, IV) 
juiz pode reduzir multa até 
metade 
juiz pode fixar condição 
judicial/facultativa 
juiz não interfere diretamente nas 
condições, mas pode devolver ou 
recusar homologação (§§ 5º e 7º) 
cumprimento: extinção da 
punibilidade (jurisprudência) 
cumprimento: extinção da 
punibilidade (art. 89, § 5º) 
cumprimento: extinção da 
punibilidade (art. 28-A, § 13) 
não caracteriza reincidência não caracteriza reincidência não caracteriza reincidência 
não implica reconhecimento de 
culpa ou responsabilidade civil 
não implica reconhecimento de 
culpa ou responsabilidade civil 
não implica reconhecimento de 
culpa ou responsabilidade civil, 
embora exija confissão formal e 
circunstanciada (extrajudicial) 
natureza jurídica: poder-dever do 
MP (definida pela jurisprudência) 
natureza jurídica: poder-dever do 
MP (definida pela jurisprudência) 
natureza jurídica: ‘poder-dever’ 
do MP (jurisprudência definirá) 
proposta e legitimidade do 
Ministério Público 
proposta e legitimidade do 
Ministério Público 
proposta e legitimidade do 
Ministério Público 
 
 
 
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vítima normalmente não 
participa, lei não exige 
lei não exige intimação ou 
participação da vítima, mas existe 
reparação do dano (inc. I, art. 89) 
além de reparação do dano (inc. I, 
art. 28-A), vítima deve ser 
intimada da homologação e 
cumprimento (§ 9º) 
3 – CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL 
Características 
Escrito - art. 9º do CPP. 
Dispensável – Não é obrigatório para instruir a ação penal. O que precisa para a ação penal é de peças de 
informação, elementos (justa causa), mas não necessariamente que isso decorra do inquérito. 
Sigiloso – art. 20 do CPP (súmula vinculante 14/STF: é direito do defensor, no interesse do representado, ter 
acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por 
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”). 
Inquisitivo – poderes investigatórios concentrados na autoridade policial, sem contraditório e ampla defesa. 
Oficialidade – investigação somente por órgãos oficiais do Estado. 
Oficiosidade: a investigação, regra geral, não depende de provocação para seu início e desenvolvimento, é 
ofício do agente público. 
Discricionariedade - margem de liberdade, dentro dos limites legais, concedida à autoridade policial na 
condução dos trabalhos investigativos. 
Indisponibilidade - art. 17, CPP - a autoridade policial não poderá mandar arquivar IP. 
Vícios no inquérito policial 
Enquanto procedimento administrativo, assim como outro qualquer, o inquérito policial tem de observar as 
poucas diretrizes legais e, inclusive, os princípios constantes do art. 37 da Constituição Federal, da legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
➔ Cuidando-se de peça meramente informativa, as imperfeições do inquérito policial, regra geral, não 
atingem ou contaminam o processo penal. 
Conclusão do inquérito 
Conforme o artigo 10 do CPP, o inquérito policial tem prazo certo para encerramento. 
 Lembrar que os prazos (10 e 30 dias) são os fixados como regra no CPP. Há várias legislações 
extravagantes que fixam prazos completamente diferentes para a conclusão de inquéritos policiais em 
relação a determinadas espécies de crimes; um claro exemplo é a Lei 11.343/2006 (Drogas), em seu art. 51. 
 INVESTIGADO PRESO INVESTIGADO SOLTO* 
CPP (art. 10, caput) 10 dias 30 dias 
 
 
 
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Inquérito policial federal 15 + 15 30 dias 
Inquérito policial militar 20 dias 40 + 20 
Lei de drogas 30 + 30 90 + 90 
Crimes contra a economia popular 10 10 
Prisão temporária decretada em inquérito 
policial relativo a crimes hediondos e 
equiparados 
30 + 30 Não se aplica. 
* Em se tratando de investigado solto, doutrina e jurisprudência admitem a prorrogação sucessiva do 
prazo para a conclusão do inquérito policial (Lima, 2017). 
Arquivamento do inquérito 
Em razão da indisponibilidade e conforme art. 17 do CPP, a autoridade policial não pode mandar arquivar 
autos de inquérito policial. Do mesmo modo, o juiz, de ofício, não pode tomar essa medida, sendo 
inarredável a manifestação do Ministério Público. 
Efeito jurídico: em regra, o arquivamento do inquérito policial não consolida, definitivamente, a situação 
jurídica do imputado; não opera coisa julgada. 
Todavia, a decisão que homologar pedido de arquivamento de inquérito policial fundado em razões de 
mérito normalmente fará coisa julgada material. 
Exemplos de arquivamento que não fazem coisa julgada por não haver manifestação a respeito do mérito: 
a) ausência de pressupostos processuais ou condições para o exercício da ação penal; 
b) ausência de justa causa. 
Farão coisa julgada material as homologações de arquivamento por: 
a) atipicidade da conduta; 
b) existência de causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade; 
c) existência de causa extintiva de punibilidade. 
 
 
 
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4 – DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL E NOVAS PROVAS 
Nova sistemática da Lei 13.964/2019 – suspensa 
Antes de iniciarmos o assunto, é preciso pontuar que o ‘Pacote Anticrime’ operou grandes inovações no que 
diz respeito ao arquivamento do inquérito policial. Aquilo que hoje ocorre por uma homologação judicial 
pode passar a acontecer sem qualquer intervenção do juiz. Perceba como ficaram as disposições legais já 
sancionadas: 
Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos 
da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à 
autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de 
homologação, na forma da lei. 
§ 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito 
policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria 
à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei 
orgânica. 
§ 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e 
Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do 
órgão a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Repare que, de acordo com a nova redação do art. 28 do CPP, o arquivamento do inquérito policial será 
inicialmente promovido pelo próprio parquet e na sequência submetido à homologação de uma instância de 
revisão ministerial; uma espécie de ‘reexame necessário’ da deliberação de arquivamento que será feito pela 
própria instituição do Ministério Público. 
Deacordo com a Lei nova, permitir-se-á (diferente do que hoje acontece) que a vítima (ou seu representante 
legal), que será intimada sobre o desfecho do caso, reclame em relação à deliberação de arquivamento, 
também submetendo a questão a essa ‘instância revisora’. 
Nesse ponto andou muito bem o legislador. Afinal, permitiu que a vítima, maior interessada na apuração de 
um crime, fiscalize o eventual encerramento prematuro ou indevido da persecução penal. Repare que, 
atualmente, a vítima sequer fica sabendo (não é avisada) do arquivamento do inquérito policial e, mesmo 
que saiba, nada pode fazer – nem mesmo legitimidade para impetração de mandado de segurança a 
jurisprudência reconhece. 
A revisão do arquivamento proposto pelo agente do Ministério Público também poderá ser provocada, nos 
crimes contra entes públicos (União, Estados e Municípios), pela chefia do órgão de representação judicial, 
nos termos do § 2º do art. 28 do CPP. 
O procedimento da lei, dando ênfase ao sistema acusatório, não prevê qualquer intervenção ou ingerência 
do Poder Judiciário. É conveniente, não obstante, que o juiz seja comunicado desse arquivamento, 
justamente para que mantenha o controle das investigações em curso. A comunicação, portanto, não deve 
 
 
 
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se operar somente para a vítima, investigado e autoridade policial, como previsto no caput do art. 28 do CPP 
(com a nova redação). 
Se antes o controle da obrigatoriedade da ação penal pública operava-se como uma função atípica do 
magistrado (por muitos criticada), agora passará a ocorrer interna corporis (pelo próprio Ministério Público), 
também por aqueles que têm direito ou interesse subjetivo na apuração do fato (ofendidos ou 
representantes judiciais de entes públicos). 
Por ora, não convém ir além nos comentários em relação às inovações. Isso porque que essa disposição está 
com a eficácia suspensa (sine die), por medida cautelar concedida pelo Min. LUIZ FUX, relator da ADI 6.305, 
ad referendum do Plenário do STF. Ou seja, sem a manifestação final da Suprema Corte, seria temerário 
estudar a fundo alterações que talvez não sejam implementadas no futuro. 
Atualmente, repare, o arquivamento do inquérito policial continua com a sistemática que 
sempre teve e que analisaremos na sequência. Em outras palavras para que não gere dúvida: 
hoje, ao se arquivar uma investigação, valem as disposições antigas do CPP, em especial o art. 
28, que confere atuação ao magistrado. 
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o 
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de 
considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de 
informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do 
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então 
estará o juiz obrigado a atender. 
O Ministro LUIZ FUX foi expresso nesse sentido, no dispositivo da liminar concedida na ADI 6.305: “[...] a 
redação revogada do artigo 28 do Código de Processo Penal permanece em vigor enquanto perdurar esta 
medida cautelar”. 
Sistemática ainda vigente 
Em razão da indisponibilidade, e conforme estabelece o art. 17 do Código de Processo Penal, 
a autoridade policial não pode mandar arquivar autos de inquérito policial. Do mesmo modo, 
o juiz, de ofício, não pode tomar essa medida, sendo inarredável a manifestação do Ministério 
Público. 
É o Ministério Público que faz juízo de valor em relação aos elementos de informação do 
inquérito policial para efeito de resolver pelo seu arquivamento. Na verdade, como adverte 
BRASILEIRO, “é um ato complexo, que envolve prévio requerimento formulado pelo órgão do Ministério 
Público, e posterior decisão da autoridade judiciária competente. [...] não se afigura possível o arquivamento 
de ofício do inquérito policial pela autoridade judiciária, nem tampouco o arquivamento dos autos pelo 
Ministério Público, sem a apreciação de seu requerimento pelo magistrado” (Lima, 2018). 
 
 
 
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Existe divergência na doutrina quanto à natureza jurídica dessa deliberação do juiz pelo arquivamento1. Uns 
entendem que, na inexistência de processo, isso não passaria de um ato administrativo, onde o magistrado 
exerceria uma função anômala de fiscal da obrigatoriedade da ação pública. A lei (CPP, art. 67, I) se refere a 
essa deliberação como se despacho fosse. Outros compreendem que seria uma decisão judicial, na medida 
em que tem efeitos similares à impronúncia e, em certas situações, pode formar coisa julgada. 
Lembremos que o arquivamento se dá não só com relação ao inquérito policial propriamente dito; também 
é aplicado no desfecho de investigações outras, com relação às peças de informação que tenham sido 
produzidas nesses autos. A referência está no Código de Processo Penal: 
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o 
arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, [...] 
Tanto o arquivamento não é restrito ao inquérito policial que a Lei 9.099/1995 (Lei dos Juizados), no art. 76, 
prevê isso para as infrações de menor potencial ofensivo que, ordinariamente, não são investigadas por 
inquérito policial. Quanto a elas temos apenas o termo circunstanciado. 
5 - REVISTA PESSOAL E ACESSO AOS DADOS DO TELEFONE CELULAR 
DO AUTUADO 
A Constituição Federal consagra, em seu art. 5º, inúmeros direitos e garantias individuais da pessoa humana, 
dentre os quais estão o direito fundamental à inviolabilidade da privacidade e os sigilos de correspondência, 
dados telefônicos e conversas telefônicas: 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o 
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das 
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma 
que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; 
Em relação aos serviços de telecomunicações, a garantia do sigilo ainda foi reforçada na Lei 9.472/1997, que 
prevê: 
Art. 3º O usuário de serviços de telecomunicações tem direito: 
 
 
1 Aliás, é comum que haja divergência quanto à natureza jurídica de vários institutos de Direito Processual 
Penal. 
 
 
 
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V - à inviolabilidade e ao segredo de sua comunicação, salvo nas hipóteses e condições 
constitucional e legalmente previstas; 
Mais recentemente, com a constante evolução e disseminação do acesso à internet, o respectivo sigilo 
desses dados e comunicações, assim como a proteção à intimidade nesse meio também foram objeto de 
tutela legal, como se denota do art. 7º da Lei 12.965/2014 (Marco Civil da Internet): 
Art. 7º O acesso à internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os 
seguintes direitos: 
I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material 
ou moral decorrente de sua violação; 
II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela internet, salvo por ordem judicial, 
na forma da lei; 
III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; 
É inegável que o telefone celular, mormente nos últimos anos, deixou de ser um mero instrumento de 
comunicação telefônica para ser um verdadeiro e rico banco de dados do seu proprietário, além de um 
instrumento de comunicação imediata multinível,potencializada pelo praticamente constante acesso do 
aparelho à internet e seus recursos. 
Nada impede, contudo, que esses aparelhos sejam apreendidos pelas autoridades policiais e seus agentes 
quando tal diligência se mostrar cabível e necessária: 
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: 
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; 
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
Art. 240. § 2º Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém 
oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo 
anterior. 
§ 1º [...] 
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu; [...] 
h) colher qualquer elemento de convicção. 
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver 
fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que 
constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. 
 
 
 
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Sem problemas quanto à possibilidade de apreensão do aparelho celular; mas e o acesso aos seus dados, 
conversas e demais informações? Poderia o agente policial, no momento da revista pessoal e apreensão do 
aparelho, por exemplo, ter acesso às comunicações e mensagens contidos nos seus diversos aplicativos, 
como as conversas de WhatsApp e e-mails? 
Segundo os Tribunais Superiores, esse acesso apenas será válido se houver prévia autorização judicial, 
justamente em razão do sigilo aos dados assegurados constitucional e legalmente: 
Confira os destaques do Informativo 593 e da ed. 111 do Jurisprudência em Teses, ambos do STJ, a esse 
respeito: 
Na ocorrência de autuação de crime em flagrante, ainda que seja dispensável ordem judicial para 
a apreensão de telefone celular, as mensagens armazenadas no aparelho estão protegidas pelo 
sigilo telefônico, que compreende igualmente a transmissão, recepção ou emissão de símbolos, 
caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por meio de 
telefonia fixa ou móvel ou, ainda, por meio de sistemas de informática e telemática (Informativo 
593/STJ, de novembro/2016). 
7) É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho celular, relativos 
a mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos (WhatsApp), e obtida diretamente 
pela polícia, sem prévia autorização judicial (Jurisprudência em Teses, ed. 111). 
Em havendo a devassa indevida ao conteúdo do aparelho celular fora dos parâmetros estabelecidos pela lei 
e pela jurisprudência dos Tribunais Superiores, serão esses elementos e provas considerados ilícitos, assim 
como todas as provas que deles advierem, como evidencia o art. 157 do CPP: 
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim 
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. 
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o 
nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma 
fonte independente das primeiras. 
Por outro lado, admite-se esse acesso quando o aparelho é apreendido em cumprimento a uma decisão 
judicial de busca e apreensão. Nesse sentido: 
[...] V - No presente caso, contudo, não se trata de aparelhos celulares apreendidos no momento 
do flagrante, uma vez que os telefones móveis foram apreendidos em cumprimento a ordem 
judicial que autorizou a busca e apreensão nos endereços ligados ao paciente e aos demais 
corréus. 
VI - Se ocorreu a busca e apreensão da base física dos aparelhos de telefone celular, ante a 
relevância para as investigações, a fortiori, não há óbice para se adentrar ao seu conteúdo já 
armazenado, porquanto necessário ao deslinde do feito, sendo prescindível nova autorização 
judicial para análise e utilização dos dados neles armazenados. (HC 372.762/MG, Rel. Ministro 
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 03/10/2017, DJe 16/10/2017) [grifos nossos] 
 
 
 
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E essa constatação é natural. O aparelho celular em si, sua “carcaça”, de nada serve como elemento de 
informação/convicção ou prova, mas sim os dados nele contidos. Desta forma, autorizada judicialmente a 
sua busca e apreensão, entende-se como automática a autorização para o acesso ao seu conteúdo. 
6 – BUSCA E APREENSÃO – BUSCA DOMICILIAR 
Dispõe o art. 5º, XI da Lei Maior: 
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento 
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante 
o dia, por determinação judicial; 
Ou seja, durante a noite é possível a entrada no domicílio de um indivíduo: 
i. em situação de flagrante delito; 
ii. em situação de desastre; 
iii. para prestar de socorro; 
iv. com o consentimento do morador. 
Durante o dia, além dessas mesmas hipóteses, adiciona-se o cumprimento de mandado judicial (da busca 
domiciliar, nesse caso). 
Pois bem. Algumas questões podem surgir dentro desse contexto delineado pelo dispositivo constitucional. 
Poder-se-ia indagar, por exemplo, qual a definição de ‘dia’, ou mesmo qual a abrangência do termo ‘casa’; 
afinal, são conceitos indeterminados. A doutrina trouxe esclarecimentos; todavia, há divergências. 
Em relação ao conceito de dia (e, via de consequência, de ‘noite’), há significativa divergência de 
entendimentos. AVENA muito bem explicita as diversas posições sobre o tema, inclusive reunindo a visão de 
doutrinadores a esse respeito, sem prejuízo de manifestar a sua visão e a que tem prevalecido: 
Mas o que se compreende por dia? Há três posições a respeito: 
• Primeira: Compreende-se o período entre as 6 horas e as 20 horas, por interpretação analógica 
do art. 172 do CPC/1973 (art. 212 do CPC/2015). Neste sentido: AURY LOPES JR. É, também, a 
posição a que aderimos. 
• Segunda: Deve ser considerado o período entre às 6 horas e às 18 horas, visando-se, com isso, 
a preservar ao máximo a vida privada e a intimidade no âmbito doméstico. Em apertada maioria, 
tem sido esta a orientação dominante. Neste sentido: JOSÉ AFONSO DA SILVA e FERNANDO DA COSTA 
TOURINHO FILHO. 
• Terceira: O critério deve ser o físico-astronômico, considerando-se como dia o período em que 
houver iluminação solar. Neste sentido: GUILHERME DE SOUZA NUCCI e FERNANDO CAPEZ (Avena, 
Processo penal, 2017). 
 
 
 
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A Lei nº 13.869/19 (nova Lei do Abuso de Autoridade) trouxe dispositivo que poderá, dependendo do 
posicionamento adotado pela jurisprudência, pôr fim a essas divergências. 
O inciso III do § 1º do artigo 22 da referida Lei prevê que cometerá crime de abuso de autoridade 
o agente que cumprir mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h ou antes das 5h. 
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do 
ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem 
determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem: 
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes 
das 5h (cinco horas). 
As possibilidades de interpretação são várias; desde aquelas que entendem que esse dispositivo teria 
estabelecido o conceito de dia (5h em diante) e de noite (depois das21h), àquelas que apontam que esses 
horários apenas têm relação com a ‘tipificação do crime’ trazido na nova norma. 
Em resumo, atualmente temos 4 correntes sobre o tema: 
i. 6 às 20h – com base nas regras do processo civil; 
ii. 6 às 18h – com base na tradição de um horário comercial; 
iii. Claridade – com base no momento que o sol nasce e se põe. 
iv. 5 às 21h – com base na Lei de Abuso de Autoridade. 
Pessoalmente, somos adeptos da última corrente, por um raciocínio bastante 
objetivo e pragmático: finalmente temos, em lei criminal, uma definição do que seja ‘dia’ ou ‘noite’ para 
efeito de proteção domiciliar. Não obstante eventuais críticas sobre a amplitude do período, essa foi a opção 
política do legislador e, convenhamos, nenhum absurdo nessa compreensão. O Brasil tem dimensões 
continentais. Existem lugares em que os primeiros raios do sol surgem antes das 5h (Paraíba); em outros 
pontos (sul do país), é possível que o sol perdure até por volta de 20h30, considerando-se o ‘horário de 
verão’. As leis têm abrangência em todo o território nacional (art. 1º do CPP). Diante desses fatos/realidades 
e da presunção de constitucionalidade, não vemos nenhuma afronta direta da lei ao texto constitucional, 
que deve sim ganhar essa interpretação conforme. 
A segurança jurídica neste ponto é fundamental. Melhor um período mais longo e determinado, a um 
período um pouco mais curto, variável e duvidoso que gera incertezas e questionamentos; não só para os 
agentes que cumprem a ordem judicial como também para o cidadão que não sabe a extensão da sua 
garantia de inviolabilidade domiciliar. O parâmetro objeto facilitaria inclusive a prova para a constatação de 
eventuais ilicitudes. Todos ganhariam com isso: o cidadão, para identificar e demonstrar ilicitudes; o agente 
policial para saber precisamente o horário limite para a diligência; o juiz para avaliar eventual prova nesse 
sentido. A questão ainda não está definida; esperamos que a jurisprudência caminhe nesse sentido. 
Em relação ao outro ponto de discussão: qual seria a abrangência do termo “casa”? 
 
 
 
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Extrai-se o conceito de casa do art. 150, § 4º do Código Penal: 
§ 4º - A expressão "casa" compreende: 
I - qualquer compartimento habitado; 
II - aposento ocupado de habitação coletiva; 
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. 
O § 5º do mesmo artigo complementa: 
 § 5º - Não se compreendem na expressão "casa": 
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a 
restrição do n.º II do parágrafo anterior; 
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero. 
Atenção especial deve ser conferida aos escritórios de advocacia. Dispõe o art. 7º da Lei 8.906/1994 – 
Estatuto da Advocacia, em seu inciso II: 
Art. 7º São direitos do advogado: 
II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de 
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas 
ao exercício da advocacia; 
Por outro lado, atente-se ao que dispõe os §§ 6º e 7º do mesmo artigo: 
§ 6º Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de advogado, a 
autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o 
inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, 
específico e pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em 
qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes 
a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que 
contenham informações sobre clientes. 
§ 7º A ressalva constante do § 6º deste artigo não se estende a clientes do advogado averiguado 
que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou coautores pela prática do 
mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade. 
Nesse sentido, as ponderações de BONFIM: 
A inviolabilidade do escritório ou local de trabalho do advogado, entretanto, não é absoluta. Pode 
ser quebrada por ordem judicial, devidamente fundamentada, desde que presentes indícios de 
 
 
 
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autoria e materialidade de infração penal perpetrada por advogado. O magistrado determinará 
a expedição de mandado de busca e apreensão específico e detalhado, a ser cumprido na 
presença de representante da Ordem dos Advogados do Brasil. Ademais, como garantia da 
inviolabilidade do escritório do advogado, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no 
sentido de que o mandado de busca e apreensão não pode ser expedido de modo genérico, 
exigindo uma maior especificidade no seu objeto em relação àquele mandado expedido para 
busca em residência (STF, HC 91.610/BA, Rel. Gilmar Mendes, j. 8.6.2010, Informativo n. 590/STF) 
(Bonfim, 2013). 
7 – RECONHECIMENTO DE PESSOAS – PROCEDIMENTO, 
INOBSERVÂNCIA E CONSEQUÊNCIAS 
Em linhas gerais, o reconhecimento de pessoas é meio de prova destinado à identificação (ou sua 
corroboração) de autores e partícipes do crime pelas vítimas e testemunhas que, em determinado momento 
da prática delitiva, com eles tiveram contato direto ou visual. 
Trata-se de medida cabível tanto nas investigações quanto no curso da ação penal (instrução), como 
estabelecem os arts. 6º, VI e 226 do CPP: 
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: 
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; 
Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á 
pela seguinte forma: [...] 
O art. 226, como se percebe, prevê o procedimento a ser observado durante a referida providência: 
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva 
ser reconhecida; 
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível2, ao lado de outras 
que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento 
a apontá-la; 
 
 
2 Parte da doutrina aponta que a expressão ‘se possível’ refere-se apenas à ‘semelhança’ da pessoa a ser reconhecida com as demais postas ao 
seu lado, e não ao ato de dispô-las junto ao investigado/réu: “A regularidade do procedimento reclama, da autoridade que colhe esse tipo de 
prova, que sempre coloque várias pessoas juntas à apreciação do reconhecedor, para que entre elas possa eventualmente apontar alguma. A 
cláusula – se possível – tem relação com a possibilidade de pessoas que guardem semelhanças entre si. Entenda-se: sempre várias pessoas juntas, 
e, se possível, com semelhanças entre si” (Marcão, 2016). 
 
 
 
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III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de 
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, 
a autoridade providenciará para que esta não veja aquela; 
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela 
pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais. 
Parágrafo único. O disposto no nº III deste artigo não terá aplicação na fase da instrução criminal 
ou em plenário de julgamento. 
Ademais, embora não previsto expressamente nos arts. 226 e seguintes do CPP – até porque os dispositivos 
remetem à redação original do diploma legal, de 1941 –, doutrina e jurisprudência têm admitido o 
reconhecimento fotográfico e fonográfico como meio idôneo de prova, desde que corroborados por outros 
elementos probatórios. 
Poisbem. Introduzido o tema, uma indagação: qual a consequência do não cumprimento dos requisitos 
elencados no art. 226 do CPP? Trata-se de uma recomendação legislativa ou uma imposição legal para a 
validade da prova produzida? 
Historicamente a jurisprudência sempre compreendeu como mera recomendação. Em outubro/2020, 
entretanto, a Sexta Turma do STJ acabou por encampar, de maneira inédita – inclusive com expressa menção 
e sugestão da necessidade de revisão da jurisprudência consolidada no sentido oposto –, a segunda visão 
apresentada; qual seja, de que a “inobservância das formalidades legais para o reconhecimento – garantias 
mínimas para o suspeito da prática de um crime – leva à nulidade do ato”. 
Confira-se a esclarecedora parte inicial da ementa do aludido julgado – HC 598.886/SC: 
1. O reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do 
inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando 
observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo Penal e quando 
corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla 
defesa. 
2. Segundo estudos da Psicologia moderna, são comuns as falhas e os equívocos que podem advir 
da memória humana e da capacidade de armazenamento de informações. Isso porque a 
memória pode, ao longo do tempo, se fragmentar e, por fim, se tornar inacessível para a 
reconstrução do fato. O valor probatório do reconhecimento, portanto, possui considerável grau 
de subjetivismo, a potencializar falhas e distorções do ato e, consequentemente, causar erros 
judiciários de efeitos deletérios e muitas vezes irreversíveis. 
3. O reconhecimento de pessoas deve, portanto, observar o procedimento previsto no art. 226 
do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se vê 
na condição de suspeito da prática de um crime, não se tratando, como se tem compreendido, 
de ‘mera recomendação’ do legislador. Em verdade, a inobservância de tal procedimento enseja 
a nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro para sua condenação, ainda que 
confirmado, em juízo, o ato realizado na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si 
mesmas, conduzam o magistrado a convencer-se acerca da autoria delitiva. Nada obsta, ressalve-
 
 
 
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se, que o juiz realize, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido 
procedimento probatório. 
As formalidades do ato devem, inclusive – e com ainda mais razão –, ser obedecidas nos reconhecimentos 
por fotografia, mutatis mutandis. É dizer, revela-se inidôneo e de frágil sustentação probatória o 
‘reconhecimento’ realizado com base na exibição de uma única fotografia ao reconhecedor3. 
Transpondo-se as providências elencadas no art. 226 do CPP, anteriormente a essa modalidade de 
reconhecimento, deverá o reconhecedor descrever a fisionomia do autor do delito e, posteriormente a isso, 
serão apresentadas fotografias de outros possíveis suspeitos. O reconhecimento, pois, não deve ser uma 
mera ‘confirmação direcionada’, mas, sim, uma efetiva identificação, colhida em meio a outras possibilidades 
e despida de prévio direcionamento pelos agentes estatais. Continua a ementa do referido julgado quanto 
ao ponto: 
[...] 4. O reconhecimento de pessoa por meio fotográfico é ainda mais problemático, máxime 
quando se realiza por simples exibição ao reconhecedor de fotos do conjecturado suspeito 
extraídas de álbuns policiais ou de redes sociais, já previamente selecionadas pela autoridade 
policial. E, mesmo quando se procura seguir, com adaptações, o procedimento indicado no 
Código de Processo Penal para o reconhecimento presencial, não há como ignorar que o caráter 
estático, a qualidade da foto, a ausência de expressões e trejeitos corporais e a quase sempre 
visualização apenas do busto do suspeito podem comprometer a idoneidade e a confiabilidade 
do ato. 
5. De todo urgente, portanto, que se adote um novo rumo na compreensão dos Tribunais acerca 
das consequências da atipicidade procedimental do ato de reconhecimento formal de pessoas; 
não se pode mais referendar a jurisprudência que afirma se tratar de mera recomendação do 
legislador, o que acaba por permitir a perpetuação desse foco de erros judiciários e, 
consequentemente, de graves injustiças. 
[...] 7. Na espécie, o reconhecimento do primeiro paciente se deu por meio fotográfico e não 
seguiu minimamente o roteiro normativo previsto no Código de Processo Penal. Não houve 
prévia descrição da pessoa a ser reconhecida e não se exibiram outras fotografias de possíveis 
suspeitos; ao contrário, escolheu a autoridade policial fotos de um suspeito que já cometera 
outros crimes, mas que absolutamente nada indicava, até então, ter qualquer ligação com o 
roubo investigado. [...] (HC 598866, 6ª Turma, Rel. Min. Rogério Schietti, julgado em 
27/10/2020). 
Ao cabo, podemos sintetizar o tema da seguinte forma: 
 
 
3 Apenas a título de curiosidade, atestando a fragilidade que um reconhecimento feito ao arrepio das formalidades 
legais pode ostentar, um dos pacientes do referido HC, com 1,95m de altura, teria sido ‘reconhecido’, por foto, pelas 
vítimas que alegavam que o referido agente possuiria 1,70m de altura – uma considerável (e extremamente 
perceptível) diferença de 25cm. 
 
 
 
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✓ Era consolidada a jurisprudência, tanto do STF quanto do STJ, acerca da desnecessidade de 
observação das formalidades previstas no art. 226 do CPP para a validade do reconhecimento de 
pessoas. Seriam, tais providências, sugestões legislativas. 
✓ Em outubro/2020, de forma inédita, a 6ª Turma do STJ acabou por inaugurar entendimento em 
sentido contrário; qual seja, de que o reconhecimento de pessoas (seja presencial, seja fotográfico) 
deve obedecer às formalidades do art. 226 do CPP, sob pena de nulidade e consequente inviabilidade 
da prova. A jurisprudência encampou e pacificou essa nova compreensão. 
✓ Para além disso, ainda que o ato observe essas providências, o reconhecimento pessoal feito na fase 
inquisitorial (assim como acontece com o reconhecimento fotográfico, em todos os casos) deverá ser 
corroborado por elementos probatórios colhidos na fase judicial. 
Confiram-se, por fim, as conclusões contidas no corpo do próprio julgado, que resumem a 
posição agora adotada [grifos no original] e que representam uma guinada na jurisprudência 
dos tribunais superiores: 
1) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226 do 
Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem 
se encontra na condição de suspeito da prática de um crime; 
2) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do 
procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da 
pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o 
reconhecimento em juízo; 
3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado 
o devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a 
partir do exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado 
de reconhecimento; 
4) O reconhecimento do suspeito por mera exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de 
dever seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa 
antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em 
ação penal, ainda que confirmado em juízo (HC 598866). 
Em suma: 
✓ quanto ao reconhecimento pessoal - o momento é de mudança de compreensão no que diz respeito 
às consequências dainobservância do procedimento do art. 226 do CPP (nulidade ou não). 
 
 
 
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✓ quanto ao reconhecimento fotográfico - ele ainda é admitido, com ressalvas, devendo, na medida 
do possível, seguir o procedimento do art. 226 adaptado e não podendo servir de única prova para a 
condenação4. Não podendo se dar por mera exibição de fotografia. 
8 – CONEXÃO X CONTINÊNCIA 
Conexão: “é o nexo, a dependência recíproca que a coisas e os fatos guardam entre si [...] existe quando 
duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo que aconselha a junção dos processos, 
propiciando, assim, ao julgador perfeita visão do quadro probatório e, de consequência, melhor 
conhecimento dos fatos, de todos os fatos, de molde a poder entregar a prestação jurisdicional com firmeza 
e justiça” (Filho, 2011). 
Art. 76. A competência será determinada pela conexão: 
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias 
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por 
várias pessoas, umas contra as outras; 
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para 
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; 
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir 
na prova de outra infração. 
Continência: como o próprio nome está a indicar, uma causa está contida na outra, não sendo devida a cisão. 
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às 
partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. 
Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: 
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; 
 
 
4 Convenhamos: toda prova tem valor relativo e normalmente nenhuma pode servir de fundamento isolado para a condenação de ninguém. É o 
conjunto, o contexto probatório como um todo que deve traduzir o veredicto. A credibilidade, o ‘valor’ de cada prova quem outorga, em cada 
caso concreto, é o juiz (livre convencimento motivado). Quer nos parecer, então, que boa parte dessa discussão estaria superada caso houvesse 
uma adequada apreciação dos standards de prova – do ‘quanto’ se exige, em termos probatórios, para se superar o estado de inocência. A 
discussão não deveria ser exatamente se o reconhecimento fotográfico é válido, por exemplo (qualquer juiz com bom senso deve saber que essa 
prova é precária). Deveria ser: de que forma e em que circunstâncias foi feito o reconhecimento fotográfico e o que mais é preciso para uma 
convicção plena, acima de qualquer dúvida razoável, para efeito de condenação. 
 
 
 
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II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 
54 do Código Penal. 
 Efeitos da conexão e da continência: Art. 79. CPP. A conexão e a continência importarão unidade de 
processo e julgamento. Essa reunião dos casos, com eventual prorrogação de competência, para que sejam 
processados e julgados conjuntamente, por um único juízo, é uma consequência natural e adequada às 
próprias razões da criação e da existência dos institutos – não é por outro motivo que a legislação concebe 
a conexão e a continência, senão para viabilizar o julgamento simultâneo (simultaneus processus). 
 Juízo prevalente: Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas 
as seguintes regras: 
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a 
competência do júri; 
II - no concurso de jurisdições da mesma categoria: 
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; 
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas 
forem de igual gravidade; 
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; 
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; 
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. 
9 – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - EMBARCAÇÕES E 
AERONAVES 
Sabe-se que, em relação às embarcações e aeronaves e a competência criminal da Justiça Federal, o art. 109, 
IX da CF dispõe: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça 
Militar; 
Diante disso, questiona-se: basta que o crime seja cometido a bordo desses meios de locomoção para que 
seja fixada a competência da Justiça Federal?5 
 
 
5 Perceba que não adentraremos, aqui, nas questões envolvendo territorialidade e extraterritorialidade da lei penal brasileira; tópicos mais afetos 
ao Direito Penal. Importa-nos, na ocasião, o ponto específico da Justiça brasileira (Estadual ou Federal) competente para o processamento e 
julgamento de ações penais que serão julgadas aqui. 
 
 
 
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A questão não é tão simples. É natural que o dispositivo comporte (e exija) complementações, tanto 
decorrentes de outras normas quanto da doutrina e da jurisprudência. 
Vejamos, então, alguns detalhes importantes sobre o tema. 
Navios 
Em primeiro lugar, o que são navios? Diferem-se eles das embarcações? 
Por uma visão mais acurada, os termos não se confundem. 
Embarcação é gênero do qual navio é espécie. A primeira é deveras abrangente, englobando uma vasta 
gama de construções, como se extrai das disposições das Leis nº 9.537/1997 (sobre segurança no tráfego 
aquaviário) e nº 2.180/1954 (sobre o Tribunal Marítimo): 
Lei 9.537/1997. Art. 2º. Para os efeitos desta Lei, ficam estabelecidos os seguintes conceitos e 
definições: 
V - Embarcação - qualquer construção, inclusive as plataformas flutuantes e, quando rebocadas, 
as fixas, sujeita a inscrição na autoridade marítima e suscetível de se locomover na água, por 
meios próprios ou não, transportando pessoas ou cargas; 
Lei 2.180/1954. Art. 11. Considera-se embarcação mercante toda construção utilizada como 
meio de transporte por água, e destinada à indústria da navegação, quaisquer que sejam as suas 
características e lugar de tráfego. 
O conceito de navio – mormente para os fins do art. 109, IX da CF (que nos interessa) –, por sua vez, não 
encontra previsão legislativa. 
É na jurisprudência do STJ, há muito consolidada, que reside a resposta para o adequado enquadramento de 
uma embarcação como efetivamente ‘navio’6, a ensejar os rigores da previsão constitucional para fixação da 
competência da Justiça Federal. 
Para a Corte Superior, dois requisitos hão de ser cumpridos para que haja a atração da competência da JF 
nos crimes cometidos em navios: 
✓ embarcação de grande porte; 
✓ em deslocamento internacional ou em situação de potencial deslocamento (internacional). 
 
 
6 A propósito, um conceito mais pragmático e simplificado, que não aborda definições mais técnicas e específicas, como navegabilidade e 
flutuabilidade, mais atinentes ao campo do Direito Marítimo. 
 
 
 
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O próprio STJ reconheceu a dificuldade na conceituação de ‘navio’ na doutrina e jurisprudência, mas 
assentou as seguintes balizas para a análise do tema: 
Em razão da imprecisão do termo ‘navio’ utilizado no referido dispositivo constitucional, a 
doutrina e a jurisprudência construíram o entendimento de que ‘navio’ seria embarcação de 
grande porte o que, evidentemente,excluiria a competência para processar e julgar crimes 
cometidos a bordo de outros tipos de embarcações, isto é, aqueles que não tivessem tamanho 
e autonomia consideráveis que pudessem ser deslocados para águas internacionais (CC 
118.503/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, 
DJe 28/04/2015). 
Poder-se-ia indagar, em relação ao primeiro requisito, no que consistiria uma embarcação de grande porte; 
a exemplo das dimensões que deveria possuir, materiais empregados na sua construção etc. Mas não há 
essa definição. 
Perceba que, em verdade, ambos os requisitos convergem em um ponto, que é o tamanho e autonomia 
suficientes para deslocamento em águas internacionais. 
No ponto, ainda em 2005, o STJ decidiu: 
1. A expressão ‘a bordo de navio’, constante do art. 109, inciso IX, da CF/88, significa interior de 
embarcação de grande porte. 
2. Realizando-se uma interpretação teleológica da locução, tem-se que a norma visa abranger 
as hipóteses em que tripulantes e passageiros, pelo potencial marítimo do navio, possam ser 
deslocados para águas territoriais internacionais. 
3. Se à vítima não é implementado este potencial de deslocamento internacional, inexistindo o 
efetivo ingresso no navio, resta afastada a competência da Justiça Federal. (CC 43.404/SP, Rel. 
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/02/2005, DJ 02/03/2005) 
Novamente, em 2011: 
I. Não basta, à determinação da competência da Justiça Federal, apenas o fato de que o eventual 
delito tenha sido cometido no interior de embarcação de grande porte. Faz-se necessário que 
este se encontre em situação de deslocamento internacional ou ao menos em situação de 
potencial deslocamento. 
II. Hipótese na qual a embarcação encontrava-se ancorada, para fins de carregamento, o qual, 
inclusive, estava sendo feito por pessoas - no caso as vítimas - estranhas à embarcação, visto que 
eram estivadores e não passageiros ou funcionários desta. (CC 116.011/SP, Rel. Ministro GILSON 
DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/11/2011, DJe 01/12/2011) 
Mas e o que seria efetivamente uma situação de potencial deslocamento internacional também contemplada 
nessa definição? 
 
 
 
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No julgamento do CC 108.503 (antes citado), em 2015, o Min. Rel. ROGERIO SCHIETTI concluiu em seu voto 
condutor: 
A par da dificuldade de se delimitar a ideia de ‘potencial deslocamento’, cuja análise, a meu juízo, 
impõe seja feita de maneira casuística, revela-se ponto comum na interpretação dada pela 
jurisprudência desta Corte o fato de que a embarcação deve estar apta a realizar viagens 
internacionais, tal como ocorre na hipótese (CC 118.503/PR, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI 
CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 28/04/2015) 
Assim, a análise acerca da competência para processamento e julgamento de crime praticado em 
embarcações de grande porte, segundo esse entendimento – que não encontra antítese em outros julgados 
–, ficaria vinculada à constatação da aptidão/potencial para deslocamento internacional pelo navio, 
mesmo que não seja propriamente essa a intenção da viagem. 
A título de exemplo, uma embarcação de grande porte em deslocamento por águas brasileiras a um destino 
também brasileiro, em tese, poderia caracterizar o conceito de ‘navio’ para os fins do art. 109, IX da CF, desde 
que constatada a potencialidade de seu deslocamento internacional. 
Aeronaves 
O conceito de aeronave está contido no Código Brasileiro de Aeronáutica, que, em seu art. 106, estatui: 
Art. 106. Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e 
circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas. 
A interpretação, aqui, é mais simples. Para a fixação da competência da JF, basta que o crime de fato seja 
praticado a bordo da aeronave, cujo conceito acima transcrito, como se vê, é também abrangente. 
Em tempo: perceba que o fato de a aeronave se encontrar em solo (pousada), quando da 
prática do crime, não afetará a fixação da competência: 
2. A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que "É da competência da Justiça 
Federal processar e julgar delitos cometidos a bordo de aeronaves, nos termos do 
inciso IX do art. 109 da Constituição Federal. Devendo-se ressaltar ser despiciendo se 
a aeronave encontra-se em solo ou sobrevoando." (CC 143.343/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN 
PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, DJe 30/11/2016) (CC 143.400/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, 
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 24/04/2019, DJe 15/05/2019) 
A fortiori, eventual deslocamento da aeronave em espaço aéreo brasileiro também não terá o condão de 
influir nessa definição. Novamente, basta que a prática se dê a bordo de aeronave. 
Note-se, ademais, que o próprio dispositivo constitucional ressalva a competência da Justiça Militar, na sua 
parte final. Assim, eventuais crimes militares praticados a bordo de navios e aeronaves não implicarão 
deslocamento da competência à Justiça Federal; continuarão a ser julgados perante a Justiça Castrense. 
 
 
 
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10 – COMPETÊNCIA NOS CRIMES DE ESTELIONATO 
Eis, no que interessa, o crime previsto no art. 171 do Código Penal – estelionato: 
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou 
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis. 
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem: 
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o 
pagamento. 
Com relação à fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, § 2º, VI, CP), o entendimento da 
jurisprudência havia se consolidado pelas súmulas 521 do STF e 244 do STJ, respectivamente: 
O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão 
dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. 
[superada] 
Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão 
de fundos. [superada] 
Os enunciados não traduziam uma exceção ao princípio geral de que o crime deve ser apurado no lugar da 
consumação. Estelionato é crime material (não formal), de tal maneira que exige a ‘obtenção da vantagem 
ilícita’, a fraude com efetiva lesão patrimonial. Por essa forma de pensar, consuma-se justamente no lugar 
onde deveria ter havido o pagamento e o cheque foi recusado, gerando prejuízo para a vítima. 
Há se distinguir as situações de estelionato, a forma da sua execução. Nesse sentido e reafirmando a regra 
geral, veja-se a súmula 48 do STJ: 
Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido 
mediante falsificação de cheque. 
Ainda, repare na notícia do Informativo 565 desse mesmo Tribunal Superior, em caso de vítima induzida a 
depositar em conta do agente criminoso: 
[...] Compete ao juízo do foro onde se encontra localizada a agência bancária por meio da qual o 
suposto estelionatário recebeu o proveito do crime - e não ao juízo do foro em que está situada 
a agência na qual a vítima possui conta bancária - processar a persecução penal instaurada para 
apurar crime de estelionato no qual a vítima teria sido induzida a depositar determinada quantia 
na conta pessoal do agente do delito. Com efeito, a competência é definida pelo lugar em que se 
consuma a infração, nos termos do art. 70 do CPP. Dessa forma, cuidando-se de crime de 
estelionato, tem-se que a consumação se dá no momento da obtenção da vantagem indevida, 
ou seja, no momento em que o valor é depositado na conta corrente do autor

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