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1 Introdução ao Direito Eleitoral (06-04-2023)

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DIREITO ELEITORAL
INTRODUÇÃO: CONCEITOS, FONTES E PRINCÍPIOS
Por Arthur Cabral Gonçalves
Sumário
1	CONSIDERAÇÕES INICIAIS E CONCEITOS	3
1.1 CONCEITOS IMPORTANTES..................................................................................................................................3 
1.2 CONCEITO DE DOMICÍLIO ELEITORAL..................................................................................................................5
2	FONTES	6
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES...............................................................................................................................6
2.2 ESPÉCIES DE FONTES DO DIREITO ELEITORAL.....................................................................................................7 
3	PRINCÍPIOS	10
DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	14
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA	14
ATUALIZADO EM 04/04/2023[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO ELEITORAL
	1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS E CONCEITOS
Certamente, o direito eleitoral é um dos ramos da ciência jurídica que possui maior relevância no dia-a-dia das pessoas. A cada dois anos, os brasileiros escolhem seus representantes para ocuparem algum cargo político eletivo. Cada vez mais, desde a redemocratização, a promulgação da Constituição de 1988 e a implementação do regime democrático, os cidadãos vêm se interessando em participar mais ativamente do processo político e eleitoral, tendo em vista garantir a proteção dos seus direitos e ver as políticas públicas e as necessidades sociais atendidas.
O Direito Eleitoral é definido como um ramo do Direito Público que contempla todos os temas que envolvem as eleições. 
Pertencem, portanto, ao estudo do Direito Eleitoral as matérias que envolvem o exercício dos direitos políticos, isto é, a capacidade de o cidadão votar (alistabilidade) e de ser votado (elegibilidade), bem como todo o processo eleitoral: os sistemas eleitorais, a formação e o funcionamento dos partidos políticos, registro de candidaturas, propaganda eleitoral, financiamento de campanha, votação, apuração, promulgação de resultados e diplomação dos eleitos.
Joel J. Cândido (2006, p. 26) ensina que “pode-se dizer que o Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público que trata de institutos relacionados com os direitos políticos e das eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha dos titulares dos mandatos eletivos e das instituições do Estado”.
No mesmo sentido, Fávila Ribeiro (1998, p. 4) aponta que o Direito Eleitoral “dedica-se ao estudo das normas e procedimentos que organizam e disciplinam o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo que se estabeleça a precisa equação entre a vontade do povo e a atividade governamental”.
1.1 CONCEITOS IMPORTANTES
Para compreender de modo mais aprofundado o conceito de direito eleitoral, discorrido acima, faz-se necessário ter em mente alguns conceitos adjacentes, os quais serão estudados nesse momento.
DIREITO PÚBLICO
O direito eleitoral é uma espécie que compõe o grande grupo do Direito Público, que engloba o conjunto normativo que regulamenta as atividades estatais ou de interesse direto do Estado, para a preservação da soberania do Estado e do interesse público. O direito romano já aplicava a divisão dos ramos jurídicos entre Direito Público x Direito Privado, este responsável por regulamentar os interesses entre particulares.
Esse conceito é muito importante para se esclarecer a relevância das questões que envolvem o direito eleitoral ante o interesse público, o que justifica, por exemplo, a necessidade de lisura, isonomia e transparência nas propagandas eleitorais e na prestação de contas dos partidos e das campanhas, a fiscalização ampla no alistamento de eleitores e a participação imprescindível do Ministério Público em todas as ações eleitorais.
CIDADANIA
Na teoria política, a noção de cidadania está vinculada à participação do indivíduo na vida política da sociedade em que vive. No âmbito do direito eleitoral brasileiro, compreende-se Cidadania como o status daquele (cidadão) que exerce os seus direitos políticos, na forma de lei, e, portanto, encontra-se apto para votar e ser votado. Assim, pode-se afirmar que, juridicamente, cidadão é aquele que possui título eleitoral, ou seja, está alistado como eleitor e se encontra em pleno gozo dos seus direitos políticos.
SUFRÁGIO
Em sentido jurídico, o sufrágio é o direito subjetivo que o cidadão possui de escolher seus representantes e de ser escolhido. Segundo José Jairo Gomes (2018, p. 94), “o sufrágio é a essência dos direitos políticos, porquanto enseja a participação popular no governo, sendo este responsável pela condução do Estado”.
	O artigo 14 da Constituição de 1988 prescreve que a soberania popular é exercida por meio de sufrágio universal. Isso significa que este direito é conferido ao número mais amplo possível de pessoas. No entanto, em momentos anteriores da história brasileira e em alguns países ainda hoje o sufrágio se define como restrito, seja em razão da capacidade econômica (censitário), seja por grau de escolaridade (capacitário), seja em razão de gênero, ou alguma outra modalidade que impeça que um grupo de nacionais seja detentor de tal direito.
VOTO
O voto é o meio pelo qual o cidadão exerce o seu direito de sufrágio, isto é, materializa-o, torna-o efetivo. O artigo 60, § 4º, inciso II da Constituição da República prescreve que não será objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir o voto direto, secreto, universal e periódico, que garantem a preservação do Estado Democrático de Direito.
#OLHAOAGANCHO: É importante ressaltar que a Constituição veda a tentativa de abolição do voto DIRETO, SECRETO, UNIVERSAL e PERIÓDICO. Não há, portanto, impedimento para que se discuta e, porventura, seja aprovada a extinção do voto OBRIGATÓRIO, tratado no artigo 14, § 1º, inciso I da Constituição, como se discute na PEC nº 18⁄2017, que tramita perante o Senado Federal, por exemplo.
A palavra formada, etimologicamente, pela união dos termos gregos que denominam “povo” (demos) e “poder” (kratos) compreende o conceito de governo em que o povo exerce a soberania popular. Este poder é exercido de forma direta, no qual cumpre a todos os cidadãos exprimem a sua opinião sobre as causas deliberadas e decidem; de forma indireta, através dos representantes escolhidos pelo voto popular; ou semidireta, que engloba mecanismos de participação direta dos cidadãos, embora predomine elementos da democracia representativa.DEMOCRACIA
	O regime inaugurado pela Constituição de 1988 pode ser citado como exemplo de democracia semidireta, como se observa ao ler o parágrafo único do seu artigo 1º: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (grifo nosso). Ademais, em que pese os brasileiros escolham periodicamente os seus representantes para o exercício dos poderes, o artigo 14 da Lei Maior prevê alguns institutos que garantem a participação direta dos cidadãos: o voto, o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular.
1.2 CONCEITO DE DOMICÍLIO ELEITORAL
Um conceito muito importante para o direito eleitoral, que merece ser estudado com mais profundidade, visto que sempre está presente nas provas de concurso é o domicílio eleitoral. O parágrafo único do artigo 42 do Código Eleitoral prescreve que “[...] é domicílio eleitoral o lugar de residênciaou moradia do requerente e, verificado ter o alistando mais de uma, considerar-se-á domicílio qualquer uma delas”.
É importante destacar que o conceito de domicílio eleitoral é mais abrangente que o conceito de domicílio civil e, portanto, com ele não se confunde. Para que se configure o domicílio civil é necessário que a pessoa estabeleça naquele lugar a sua residência com “ânimo definitivo”, conforme se lê no artigo 70 do Código Civil, o que não é exigido pela lei eleitoral. O eleitor pode permanecer em um certo domicílio com quem mantenha raízes familiares ou, ainda, vínculo profissional, afetivo ou político.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Acórdão TSE, de 18.2.2014, no Respe nº 37.481 e, de 5.2.2013, no AgR-AI nº 7.286: “o conceito de domicílio eleitoral é mais elástico que o do Direito Civil, satisfazendo-se com vínculos de natureza política, econômica, social e familiar.”
Em que pese a grande abrangência do que pode ser considerado domicílio eleitoral, o eleitor não se exime do ônus de comprovar minimamente o seu vínculo com aquela localidade, que justifique a sua escolha para o exercício do voto. Como afirma Eduardo Alckmin[footnoteRef:2], “não é uma liberdade total. O cidadão tem que ter uma presença física naquela localidade em que se pretende se estabelecer como eleitor. Não pode simplesmente se ligar a uma cidade qualquer, por gosto ou opções pessoais e então ali ser eleitor. Ele tem que ter um vínculo”. [2: TSE-<http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Agosto/conheca-a-diferenca-entre-o-domicilio-eleitoral-e-o-domicilio-civil> 
] 
Desta feita, a Resolução do TSE nº 21.538/2003, que dispõe sobre o alistamento do eleitorado, estabelece, no artigo 65, a necessidade de comprovação de domicílio “mediante um ou mais documentos dos quais se infira ser o eleitor residente ou ter vínculo profissional, patrimonial ou comunitário no município”. Caso o juiz eleitoral fique em dúvida a respeito da idoneidade do comprovante apresentado ou na falta deste, o parágrafo 4º do mesmo artigo aduz que se pode determinar outras providências necessárias para dirimir a dúvida, inclusive por meio de verificação in loco.
*atualizado em 04/04/2023: A resolução do TSE Nº 23.659, DE 26 DE OUTUBRO DE 2021, que dispõe sobre o alistamento do eleitorado estabelece, no art. 118 que “a comprovação do domicílio poderá ser feita por meio de um ou mais documentos dos quais se infira a existência de vínculo residencial, afetivo, familiar, profissional, comunitário ou de outra natureza que justifique a escolha da localidade pela pessoa para nela exercer seus direitos políticos.” Acrescenta ainda que, “para os fins de comprovação de vínculo residencial, serão aceitas contas de luz, água ou telefone, bem como notas fiscais ou envelopes de correspondência, desde que tenham sido emitidos ou expedidos nos 3 meses anteriores ao comparecimento à revisão.”
Além disso, em caso de mudança de domicílio, o Código Eleitoral prevê, no artigo 55, § 1º, inciso III a “residência mínima de três meses no novo domicílio, atestada pela autoridade policial ou provada por outros meios convincentes.”
Resumindo, o conceito de domicílio eleitoral possui as seguintes características:
 É mais abrangente do que o conceito de domicílio civil
DOMICÍLIO ELEITORAL
Lugar de residência ou de vínculo político, econômico, social, familiar ou afetivo
O vínculo, ainda que mínimo, necessita ser comprovado perante a Justiça Eleitoral
	2 FONTES
Para se referir às fontes, faz-se necessário ter em mente a ideia de local de origem, de onde se pode extrair os fundamentos e os pressupostos do assunto estudado. Portanto, ao se mencionar as fontes do direito, está-se debruçando sobre os locais onde se pode encontrar o direito, delimitá-lo, conhecer a sua origem, o seu autor e o seu destinatário.
As fontes do direito eleitoral seguem a mesma lógica das fontes do direito em geral, com algumas peculiaridades, o que será delineado a seguir.
2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES
Um tema pertinente neste contexto, que é bastante frequente em questões de concurso, diz respeito à classificação das fontes do direito. Estas podem ser consideradas MATERIAIS ou FORMAIS e, ainda, PRIMÁRIAS OU SECUNDÁRIAS.
	FONTES FORMAIS
	FONTES MATERIAIS
	Fatos ou fatores que influenciam na elaboração das leis.
	Norma jurídica formal.
	Ex: “Lei da Ficha Limpa” derivada de apelo popular para o agravamento das hipóteses de inelegibilidade, que resultou em um projeto de lei de iniciativa popular
	Ex: Código Eleitoral, Código de Processo Civil, Lei das Eleições, Minirreforma eleitoral
	FONTES PRIMÁRIAS
	FONTES SECUNDÁRIAS
	Legislação aprovada pelo poder legislativo. PODEM INOVAR NA ORDEM JURÍDICA.
	Regulamentação realizadas para a melhor execução das fontes primárias. NÃO PODEM INOVAR NA ORDEM JURÍDICA.
	Ex: Código Eleitoral, Código de Processo Civil, Lei das Eleições.
	Ex: Decreto do Chefe do Poder Executivo, Resoluções do TSE, Consulta dos Tribunais Eleitorais
2.2 ESPÉCIES DE FONTES DO DIREITO ELEITORAL
Como ocorre nos mais diversos ramos do direito em um sistema constitucional – e não poderia deixar de ser –, a fonte primária e mais importante do direito eleitoral é a Constituição. CONSTITUIÇÃO
O texto constitucional de 1988 traz diversos princípios e fundamentos que orientam o regime democrático e as regras das matérias estudadas pelo direito eleitoral, especialmente, a respeito dos direitos políticos, dos partidos políticos e do processo eleitoral. Além disso, existem várias disposições normativas específicas sobre estes temas que, em razão da superioridade hierárquica, precisam ser respeitadas pelo legislador infraconstitucional. Este tema será amplamente discorrido na próxima FUC.
LEIS
Outras fontes primárias de grande importância para o direito eleitoral são as leis. Por esse motivo, as FUCs seguintes serão organizadas de acordo com os temas específicos previstos na legislação eleitoral, as quais são objeto de grande parte dos temas previstos nos editais e das questões dos concursos. As leis específicas que regem o direito eleitoral mais importantes são:
- Lei nº 4.737⁄1965: Código Eleitoral
- Lei nº 9.504⁄1997: Lei das Eleições
- Lei nº 9.096⁄1995: Lei dos Partidos Políticos
- Lei Complementar nº 64⁄1990: Lei das Inelegibilidades
- Lei nº 6.091⁄1974: Lei sobre o fornecimento gratuito de transporte a eleitores
- Lei nº 7.444⁄1985: Lei de implantação do processamento eletrônico de dados do cadastro de eleitores
- Lei nº 13.165⁄2015 e 13.488⁄2017: Minirreformas eleitorais
- Lei nº 13.487⁄2017: Lei de instituição do Fundo de Financiamento de Campanha
Além disso, o sistema normativo ainda prevê, em alguns casos, a aplicação subsidiária de outros diplomas legais sobre o direito eleitoral, enquanto fontes indiretas, utilizadas como complemento, tais como o Código Civil, Código de Processo Civil, Código Penal, Código de Processo Penal, etc.
A Constituição de 1988 traz três preceitos que devem ser observados quando da elaboração da lei eleitoral, sob pena de incorrer em inconstitucionalidade formal, o que acontece quando algum dos requisitos procedimentais para a elaboração da norma é desrespeitado.
1) VEDAÇÃO À EDIÇÃO DE MEDIDA PROVISÓRIA
Art. 62, § 1º, inciso I, alínea a. É vedada a edição de medida provisória sobre matéria relativa a nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral (...)
	A Constituição da República veda, em qualquer hipótese, a edição de medida provisória pelo Chefe do Poder Executivo, sobre matérias que envolvem o direito eleitoral.
2) COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO
Art. 22, caput, I. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito (...) eleitoral.
	Isso significa que os Estados e Municípios não possuem competência para legislar a respeito de matéria eleitoral, nem mesmo de forma subsidiária e complementar. O parágrafo único do mesmo artigo preceitua que “lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo”. Todavia, NÃO EXISTE em vigor qualquerlei que conceda esta autorização sobre o direito eleitoral, de modo que qualquer legislação estadual ou municipal neste sentido é inconstitucional.
3) LEI COMPLEMENTAR OU LEI ORDINÁRIA?
Art. 14, §9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
Art. 121, caput. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.
	Em regra, a legislação eleitoral infraconstitucional pode ser aprovada na condição de lei ordinária. No entanto, a Constituição prevê dois casos específicos cujas matérias devem ser estabelecidas mediante lei complementar. A primeira delas, prevista no § 9º do artigo 14, diz respeito a outras hipóteses de inelegibilidade além das que prevê o próprio texto constitucional. Por isso, a denominada “lei das inelegibilidades” é a lei complementar nº 64⁄1990, tendo sido alterada substancialmente, pela lei complementar nº 135⁄2010 – a famosa “lei da ficha limpa”.
	Outra matéria que precisa estar disciplinada por lei complementar diz respeito à organização e competência dos tribunais eleitorais, como estabelece o artigo 121, caput. Essa matéria está contemplada pela parte segunda da Lei nº 4.737⁄1965, o Código Eleitoral, que é anterior à promulgação da Constituição e que foi recepcionada em grande parte, incluindo este tema. Diante disso, o Superior Tribunal Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal entenderam que o Código Eleitoral foi recepcionado enquanto lei complementar no tocante à matéria de organização e competência dos tribunais, ao passo que foi recepcionado enquanto lei ordinária no que diz respeito aos demais assuntos.
LEI COMPLEMENTAR, no que disciplina a ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS
CÓDIGO ELEITORAL
LEI ORDINÁRIA, nos demais temas
Sendo assim, a lei eleitoral segue os seguintes parâmetros formais de elaboração:
	ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS
	Lei complementar
	INELEGIBILIDADES
	Lei complementar
	Outras matérias eleitorais
	Lei ordinária
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Mandado de segurança contra ato do presidente da Câmara dos Deputados. [...] O Código Eleitoral, recepcionado como lei material complementar na parte que disciplina a organização e a competência da Justiça Eleitoral (art. 121 da Constituição de 1988), estabelece, no inciso XII do art. 23, entre as competências privativas do TSE “responder, sobre matéria eleitoral às consultas [...]”. (STF MS 26.604, rel. min. Cármen Lúcia, j. 4⁄10⁄2007, p. DJE em 3⁄10⁄2008).
 O Código Eleitoral, no artigo 23, inciso IX, dispõe que “compete, ainda, privativamente ao Tribunal Superior: expedir as instruções que julgar convenientes à execução deste Código.”  Por força deste dispositivo, as Resoluções do TSE são fontes muito importantes do direito eleitoral, tendo em vista o seu caráter regulamentar. A sua importância ainda é mais evidente ao se constatar que, em alguns temas, a legislação vigente é muito antiga e esparsa e não acompanha com a mesma velocidade as constantes evoluções do processo eleitoral. Assim, é comum o TSE editar diversas Resoluções, no ano eleitoral, a fim de disciplinar o pleito, em complementação à lei eleitoral.RESOLUÇÕES DO TSE
Como explica Rafael Barreto (2012), “as resoluções do TSE são normas de caráter regulamentar que a Corte edita para disciplinar a aplicação da legislação eleitoral, normalmente sintetizando, no texto delas, a jurisprudência do Tribunal sobre as matérias versadas”. É importante lembrar que tais Resoluções se destinam a interpretar a norma, não podendo inovar na ordem jurídica.
Quando, ainda assim, persiste alguma dúvida acerca dos procedimentos eleitorais, os tribunais eleitorais possuem competência para responder às consultas, por força do que prescreve o Código Eleitoral:CONSULTA
Art. 23, XII. Compete, ainda, privativamente, ao Tribunal Superior: responder, em matéria eleitoral, às consultas que lhes forem feitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional de partido político.
Art. 30, VIII. Compete, ainda, privativamente, aos Tribunais Regionais: responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que lhes forem feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político.
As Consultas realizadas ao TSE somente podem ser feitas por autoridade com jurisdição nacional ou órgão nacional de partido político, enquanto as Consultas aos TREs podem ser feitas por qualquer autoridade pública ou partido político, ainda que seja por órgão regional.
#OLHAADICA: Legitimidade para Consulta ao TSE, tem de ser NACIONAL.
	CONSULTA AO TSE
	Autoridade com jurisdição nacional ou órgão nacional de partido político
	CONSULTA AO TRE
	Autoridade pública ou partido político
Portanto, a título de exemplo, o Presidente da Assembleia Legislativa de um Estado ou o Diretório Municipal do Partido X somente podem requerer consultas ao respectivo TRE da unidade da federação a que pertence. Por outro lado, o Presidente da República ou o Diretório Nacional do Partido Y têm legitimidade para realizar consultas perante o TSE.
#IMPORTANTE: As consultas somente podem responder a questões EM TESE. Isto é, sem se debruçar sobre casos concretos específicos, mas apenas esclarecendo a correta aplicação da lei, perante a dúvida suscitada sobre matéria em abstrato.
*(Atualizado em 05/05/2022) Apesar do entendimento tradicional ser de que as consultas não possuíam um caráter vinculante, mais recentemente o TSE passou a adotar o entendimento de que as respostas às consultas possuem sim um caráter vinculante, inclusive com base no art. 30 da LINDB, inserido pela Lei 13.655/18, o qual trata da segurança jurídica e da vinculação das respostas das autoridades públicas às consultas.
#DEOLHONAJURIS
1. No decisum monocrático, manteve–se aresto unânime do TRE/RJ em que se deferiu o registro de candidatura do agravado, não eleito ao cargo de vereador de São Pedro da Aldeia/RJ em 2020.
2. O término da contagem dos oito anos de inelegibilidade em momento anterior à nova data das Eleições 2020 (15/11/2020) constitui fato superveniente que autoriza deferir o registro de candidatura, ainda que, no dia originário do pleito (4/10/2020), o prazo ainda estivesse em curso (Consulta 0601143–68/DF, redator para o acórdão Min. Alexandre de Moraes, DJE de 21/10/2020). Ressalva de entendimento deste Relator. 
3. As Consultas respondidas por esta Corte possuem caráter vinculante, nos termos do art. 30 da LINDB.
Acórdão de 07/12/2020 Relator(a) Min. Luis Felipe Salomão.
	3 PRINCÍPIOS
Os princípios são, como ensina o jurista Robert Alexy, “mandamentos de otimização” que possuem um elevado grau de abstração e são importantes para integrar o sistema jurídico e servir de parâmetro para a elaboração das regras legais, bem como para a sua interpretação. Sendo assim, os princípios norteiam o direito desde a sua origem até a sua efetivação em todos os seus ramos, e não poderia ser diferente na seara do direito eleitoral.
A doutrina apresenta diversas nomenclaturas e diferentes classificações acerca dos princípios do direito eleitoral. Para auxiliar o presente estudo, será seguida a classificação do doutrinador Marcos Ramayana (2012, p. 14-28), que reúne os princípios cobrados costumeiramente nos concursos que exigem conhecimento sobre a matéria.
PRINCÍPIO DA LISURA DAS ELEIÇÕES
Este princípio se refere à finalidade mais central de todas as normas do direito eleitoral. Com efeito, toda a atuação da Justiça Eleitoral, do Ministério Público, dos partidos políticos e candidatos, inclusive do eleitor, deve pautar-se na preservação da lisura das eleições. Ademais, toda a legislação eleitoral gravita em torno do objetivo primordial de assegurar que o eleitor possa exercer efetivamente o seu direito de elegeros seus representantes, em um sistema justo, transparente e democrático.
O processo eleitoral deve visar sempre garantir ao eleitor as condições de exercer o seu voto e vê-lo preservado, o que está ligado ao princípio da lisura das eleições. Desse modo, a lei eleitoral deve efetivar mecanismos para sanar ou convalidar possíveis nulidades, de modo a garantir o aproveitamento do voto, como regra. Na dúvida, não se anula uma eleição, mas preserva-se a votação; e para ensejar a nulidade, é imprescindível demonstrar o efetivo prejuízo. É o que está assentado do artigo 219 do Código Eleitoral:PRINCÍPIO DO APROVEITAMENTO DO VOTO
Art. 219. Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo.
Em que pese a celeridade permeie, atualmente, quase todos os ramos do direito, este princípio se manifesta de uma forma peculiar no direito eleitoral. O artigo 257, § 1º, do Código Eleitoral prevê o cumprimento imediato das decisões eleitorais, assim como os prazos processuais são bastante curtos em comparação com o processo civil, o processo penal e o processo do trabalho, por exemplo. Além disso, a Lei das Eleições determina, no artigo 97-A, caput e parágrafo 1º, o prazo de um ano para a duração do processo que possa resultar em perda de mandato eletivo em todas as instâncias, contado da sua apresentação à Justiça Eleitoral.PRINCÍPIO DA CELERIDADE
A celeridade no direito eleitoral é imprescindível para que as questões sejam dirimidas a tempo de manter a lisura do processo eleitoral, permitindo aos eleitores escolherem seus representantes sem contaminação de irregularidades, como também garantindo aos legitimamente eleitos o pleno exercício do mandato. 
Os recursos eleitorais, em regra, não terão efeito suspensivo, mas apenas efeito devolutivo, segundo se depreende da leitura do artigo 257 do Código Eleitoral. Assim, a decisão recorrida deve ser imediatamente executada, enquanto o recurso apenas leva ao Tribunal a análise da matéria.PRINCÍPIO DA DEVOLUTIVIDADE DOS RECURSOS
Pode-se identificar como uma exceção à regra o que consta no artigo 26-C da Lei da Inelegibilidades (LC 64/90), cujo dispositivo foi inserido pela “lei da ficha limpa” (LC 135/2010), onde se lê:
Art. 26-C. O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra decisões colegiadas [...] poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade recursal e desde que a providência tenha sido expressamente requerida [...]
Em correlação direta com o princípio da celeridade, o princípio da preclusão instantânea está explicitado no § 1º do artigo 147, e no artigo 171, ambos do Código Eleitoral.PRINCÍPIO DA PRECLUSÃO INSTANTÂNEA
Art. 147. A impugnação à identidade do eleitor, formulada pelos membros da mesa, fiscais, delegados, candidatos ou qualquer eleitor, será apresentada verbalmente ou por escrito, antes de ser o mesmo admitido a votar.
Art. 171. Não será admitido recurso conta a apuração, se não tiver havido impugnação perante a Junta, no ato da apuração, contra as nulidades arguidas.
Esses dispositivos demonstram que o direito de impugnação preclui com a consumação do ato, isto é, encerra qualquer possibilidade de questionamento tardio, a posteriori. Por isso, conclui-se que a ausência de impugnação imediata enseja na preclusão instantânea.
O artigo 259 do mesmo Código estabelece uma exceção ao caráter preclusivo das questões eleitorais, quando no caso se discutir matéria constitucional.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: Agravo de Instrumento. Recurso contra Expedição de Diploma (RCED). Prefeito e Vice-Prefeito. Inelegibilidade superveniente. [...] Ausente preclusão para interposição do recurso, por se tratar de matéria constitucional de ordem pública, a teor do art. 259 do Código Eleitoral, diante da prática de atos de improbidade administrativa (TSE AI 24214.2016.6060101 Aiuaba/CE, rel. min. Rosa M. Weber, j. 23⁄02⁄2018, p. DJE em 5⁄03⁄2018).
PRINCÍPIO DA ANUALIDADE OU ANTERIORIDADE
O princípio mais importante para o estudo do direito eleitoral reside no artigo 16 da CRFB/1988: 
Art. 16. A Lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até 1 (um) ano da data de sua vigência. 
Assim, é importante destacar que é possível alterar a lei eleitoral no ano que ocorrem as eleições, mas esta não se aplica àquele pleito. Foi o que ocorreu no famoso caso da “lei da ficha limpa”, a Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010, que impôs diversas alterações na Lei das Inelegibilidades. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 633.703 decidiu, por 6 votos a 5, que as alterações das regras de inelegibilidade não poderiam ser aplicadas para o pleito realizado no mesmo ano da aprovação da lei, em observância ao princípio da anualidade ou anterioridade da lei eleitoral.
Marcos Ramayana (2012, p. 19) ressalta que a palavra LEI do artigo 16 da Constituição é um termo genérico que engloba qualquer espécie legislativa (emenda constitucional, lei complementar, lei ordinária); bem como PROCESSO ELEITORAL inclui os períodos pré-eleitoral (filiação partidária e domicílio eleitoral), eleitoral (registro de candidatura, propaganda eleitoral, votação, prestação de contas) e pós-eleitoral (diplomação dos eleitos).
#DEOLHONAJURIS
*Atualizado em 04/04/2023: É constitucional a modificação dos critérios de cálculo para a fixação do limite de gastos com publicidade institucional dos órgãos públicos no primeiro semestre do ano eleitoral, promovendo ajustes na redação do art. 73, VII, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições). Entretanto, essa alteração não se aplica ao pleito eleitoral de 2022, em razão do princípio da anterioridade eleitoral (art. 16 da CF/88).
A ampliação dos limites para gasto com publicidade institucional às vésperas das eleições pode afetar significativamente as condições da disputa eleitoral, sendo necessário postergar, em obediência ao princípio da anterioridade eleitoral (art. 16 da CF/88), a eficácia de alterações normativas nesse sentido.
STF. Plenário. ADI 7178/DF e ADI 7182/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 17/12/2022 (Info 1081).
É importante, ainda, ter em mente a distinção realizada pelo dispositivo constitucional acerca da vigência e da aplicação da lei eleitoral:
	VIGÊNCIA
	Imediata
	APLICABILIDADE
	1 (um) ano da data da vigência
O referido princípio, direcionado à propaganda eleitoral, está expresso no artigo 241 do Código Eleitoral: PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
Art. 241. Toda propaganda eleitoral será realizada sob a responsabilidade dos partidos ou de seus candidatos, e por eles paga, imputando-se-lhes solidariedade nos excessos praticados pelos seus candidatos e adeptos.
O dispositivo prescreve que o partido político e o candidato possuem corresponsabilidade mútua nas esferas administrativa, cível e criminal. Ademais, a Lei das Eleições imputa corresponsabilidade financeira pelas despesas de campanha entre partidos e candidatos (artigo 17), além de prescrever a corresponsabilidade entre ambos na edição de panfletos e outros impressos (artigo 38).
PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE DAS DECISÕES DO TSE
O artigo 121, § 3º da Constituição e o artigo 281 do 	 estabelecem que as decisões do Tribunal Superior Eleitoral são, em regra, irrecorríveis. E isso se justifica em razão da peculiaridade da matéria eleitoral. No entanto, os mesmos dispositivos apresentam duas exceções que estão elencadas abaixo:
	RECURSO EXTRAORDINÁRIO
	Decisão que declara invalidade de lei ou ato contrário à Constituição
	RECURSO ORDINÁRIO
	Decisões que denegarem habeas corpus ou mandado de segurança
O princípio da moralidade eleitoral está expresso no artigo 14, § 9º da Constituição de 1988:PRINCÍPIO DA MORALIDADE ELEITORAL
Art. 14, § 9º. Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato consideradaa vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício da função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
Com base em tal preceito, foi elaborada e aprovada a “lei da ficha limpa”, que agravou substancialmente as hipóteses de inelegibilidade prevista na LC 64/1990. Marcos Ramayana (2012, p. 27) recorda que as inelegibilidades não são restrições penais, razão pela qual muitas vezes prescinde do trânsito em julgado das ações que contemplam possíveis causas de inelegibilidade. Nesse momento, o objetivo da lei eleitoral é garantir a moralidade dos agentes que pleiteiam a eleição para os cargos públicos, visando a lisura do pleito e a probidade administrativa. 
	DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO
	DIPLOMA
	DISPOSITIVOS
	Constituição Federal
	Destacados nesta FUC
	Código Eleitoral
	Destacado nesta FUC 
.
	BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
BARRETO, Rafael. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2012.
CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. Bauru: EDIPRO, 2008.
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. 13. ed. São Paulo: Impetus, 2012.
RAMAYANA, Marcos. Resumo de Direito Eleitoral. 5. ed. São Paulo: Impetus, 2012.
RIBEIRO, Fávila. Direito Eleitoral. 4. ed. São Paulo: Forense, 1997.
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Código Eleitoral anotado e legislação complementar. 13. ed. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2018.
TSE - <http://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2013/Agosto/conheca-a-diferenca-entre-o-domicilio-eleito ral-e-o-domicilio-civil> 
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