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Nulidades no Processo Penal

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
NULIDADES
SUMÁRIO
1. CONCEITO	3
2. SISTEMAS DE AFERIÇÃO DAS NULIDADES	3
3. ESPÉCIES DE ATOS PROCESSUAIS	4
4. PRINCÍPIOS	10
4.1 PRINCÍPIO DO PREJUÍZO (PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF)	10
4.2 PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS	11
4.3 PRINCÍPIO DA EFICÁCIA DOS ATOS PROCESSUAIS	12
4.4 PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE OU CONSEQUENCIALIDADE OU CONTAMINAÇÃO OU DA EXTENSÃO OU EFEITO EXPANSIVO	12
4.5 PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS (CONFINAMENTO DA NULIDADE)	13
4.6 PRINCÍPIO DO INTERESSE	13
4.7 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ	13
4.8 PRINCÍPIO DA CONVALIDAÇÃO	13
5. NULIDADES EM ESPÉCIE	15
5.1 INCOMPETÊNCIA	15
5.2 SUSPEIÇÃO	18
5.3 SUBORNO DO JUIZ	18
5.4 ILEGITIMIDADE DA PARTE	18
5.5 FALTA DA DENÚNCIA, DA QUEIXA, DA REPRESENTAÇÃO E DA REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA:	19
5.6 AUSÊNCIA DO EXAME DE CORPO DE DELITO	19
5.7 AUSÊNCIA DE NOMEAÇÃO DE DEFENSOR AO ACUSADO PRESENTE, QUE NÃO O TIVER, OU AO AUSENTE, E DE CURADOR AO MENOR DE 21 ANOS	20
5.8 NÃO INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO	20
5.9 AUSÊNCIA DE CITAÇÃO, DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO E DE CONCESSÃO DOS PRAZOS À ACUSAÇÃO E À DEFESA	21
5.10 NULIDADES NO PROCEDIMENTO DO JÚRI	25
6. ARGUIÇÃO DAS NULIDADES	26
6.1 ARGUIÇÃO DAS NULIDADES RELATIVAS AO TRIBUNAL DO JÚRI	26
6.2 NULIDADES RELATIVAS AOS PROCEDIMENTOS ESPECIAL E COMUM	28
7. NULIDADES NO INQUÉRITO POLICIAL	30
8. JURISPRUDÊNCIA EM TESES	30
9. JURISPRUDÊNCIA	32
10. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO	42
11. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA	42
ATUALIZADO EM 11/09/2022[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] 
NULIDADES[footnoteRef:2] [2: Tássia N. Neumann Hammes.] 
1. Conceito
Trata-se de espécie de sanção aplicada ao ato processual defeituoso, ocasionando a inaptidão para a produção de seus efeitos regulares. Nesse sentido, em relação aos atos praticados contrários ao modelo previsto, a lei estabelece sanções, que acabam variando de acordo com o grau de intensidade do desvio.
Não obstante à necessidade de se observar a legislação ordinária, não se pode olvidar que a forma do ato processual não é um fim em si mesmo, visando determinada finalidade. Assim, por exemplo, ainda que a citação do acusado tenha sido feita em desacordo com o modelo típico, se acaso o acusado tomar ciência da acusação, não há motivo para se declarar a nulidade do processo, visto que este atingiu sua finalidade.
Em suma, devemos ter em mente que o que deve ser evitado é o excessivo formalismo, de modo a não exigir dos sujeitos do processo a observância de formas inúteis que nada contribuem para a solução da demanda, sob pena de desvirtuamento da própria finalidade do processo.
2. Sistemas de aferição das nulidades
São três os sistemas utilizados no direito comparado para o reconhecimento de um ato como defeituoso:
a) Sistema Formalista: Haverá a predominância do meio sobre o fim. Toda vez que o ato não for praticado da forma determinada em lei, estará viciado, não importando se alcançou ou não seu objetivo.
b) Sistema Legalista: Nulos são apenas os atos que assim considerar a lei, expressamente.
c) Sistema Instrumental (instrumentalidade das formas): O juiz é quem decide pela decretação ou não da nulidade, considerando se o ato foi essencial ou se há prejuízo à parte. A validade ou invalidade do ato fica condicionada ao cumprimento da finalidade prevista pela norma. O fim do ato deve prevalecer sobre a forma como ele é praticado. Esse é o sistema adotado no Brasil, conforme arts. 563 e 566 do CPP.
3. Espécies de atos processuais
a) Atos perfeitos: são aqueles praticados em fiel observância à lei, razão pela qual são válidos e eficazes.
b) Atos meramente irregulares: são aqueles dotados de irregularidades sem consequência, ou de irregularidades que acarretam tão somente sanções extraprocessuais. Ex: parecer do MP sem assinatura.
c) Atos nulos: em razão da inobservância de determinada previsão legal, são passíveis de decretação de ineficácia, reconhecendo sua nulidade absoluta ou relativa. Ex: sentença sem fundamentação.
(i) Nulidade absoluta: trata-se de vício que atinge normas de ordem pública, como as que tutelam garantias ou matérias tratadas pela Constituição Federal. O ato existe, porém, é inválido e ineficaz. A nulidade absoluta pode ser arguida pelos interessados em qualquer tempo e grau de jurisdição. Pode, também, ser declarada ex officio pelo juiz. Ex: Ausência de intimação pessoal do defensor público ou do defensor constituído para a audiência ou sessão de julgamento.
(ii) Nulidade relativa: a nulidade relativa atinge normas que tutelam o interesse privado, ou seja, das partes. Aqui o ato existe, mas sua validade e eficácia dependem da ocorrência de saneamento (ou convalidação). O prejuízo deverá ser comprovado, não sendo possível presumi-lo. Ainda, a nulidade relativa não pode ser decretada de ofício pelo juiz e exige arguição pelo interessado, o que deve ser feito em momento oportuno, sob pena de preclusão. Ex: ausência de intimação do réu para audiência de oitiva de testemunhas quando presente o seu advogado constituído.
#DEOLHONAJURIS: Ainda que o réu tenha constituído advogado antes do oferecimento da denúncia - na data da prisão em flagrante - e o patrono tenha atuado, por determinação do Juiz, durante toda a instrução criminal, é nula a ação penal que tenha condenado o réu sem a sua presença, o qual não foi citado nem compareceu pessoalmente a qualquer ato do processo, inexistindo prova inequívoca de que tomou conhecimento da denúncia. STJ. 6ª Turma. REsp 1.580.435-GO, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/3/2016 (Info 580).
d) Atos inexistentes: nesse caso, a gravidade é tamanha que os atos sequer podem ser tratados como processuais. A hipótese de inexistência do ato não admite convalidação, uma vez que a única forma de sanar o defeito seria que fosse novamente praticado. Ex: ação ajuizada por estagiário da OAB. 
#COLANARETINA:
	IRREGULARIDADE
	NULIDADE RELATIVA
	NULIDADE ABSOLUTA
	INEXISTÊNCIA
	O vício provém da violação a uma regra legal.
	O vício provém da violação a uma regra legal, mas referem-se a elementos acidentais do ato.
	O vício provém de uma violação direta ao Texto Constitucional (referem-se a elementos essenciais do ato).
	O vício processual é tão grave, a ponto de afetar um requisito imprescindível para a existência do ato.
	A formalidade desatendida tem índole infraconstitucional.
	A formalidade desatendida tem índole infraconstitucional.
	Decorre sempre de uma ofensa a princípio constitucional do processo penal, seja ele expresso ou implícito, como p. ex: contraditório, ampla defesa etc.
Obs.: no caso da ampla defesa, há uma exceção na hipótese de deficiência de defesa.
Súmula 523-STF: No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
	O ato, de tão defeituoso, não chega sequer a existir.
Trata-se, portanto, de um não-ato, de um arremedo de ato, de uma aparência de ato.
Eis, então, uma distinção entre atos nulos e atos inexistentes. Estes, exatamente porque inexistentes, não produzem efeito algum, ao contrário dos atos nulos, que não só produzem efeitos até serem anulados, como também implicam consequências jurídicas mesmo após o reconhecimento de sua nulidade.
	A formalidade não tem qualquer finalidade, nem visa garantir direito das partes, e, por esta razão, é irrelevante para o processo.
	A formalidade visa a garantir um interesse predominantementedas partes.
	O prejuízo sempre existe (é presumido), pois a norma violada é de ordem pública.
STJ e STF dizem que aqui também se deve provar o prejuízo.
	Não existe o ato; portanto, desnecessário saber se dele decorreu prejuízo. Com ou sem o prejuízo, o ato continuará não existindo, devendo ser desconsiderado tudo o que seguiu a ele.
	O prejuízo é impossível, já que a formalidade era irrelevante.
	O interesse violado é predominante da parte, devendo esta comprovar o efetivo prejuízo.
	O interesse violado é de ordem pública, sendo o prejuízo presumido.
STJ e STF dizem que aqui também se deve provar o prejuízo.
Pacelli discorda da expressão prejuízo “presumido” pois o que há, na verdade, é uma verdadeira afirmação ou pressuposição da existência do prejuízo. Não se cuida, assim, de inversão do ônus da prova, mas de previsão abstrata da lei, a salvo de qualquer indagação probatória.
	Eventualmente, a aparência do ato pode gerar algum prejuízo, até que se perceba que na realidade nada existe.
	Não invalida o ato, sendo irrelevante o seu reconhecimento.
	A nulidade relativa somente será reconhecida se a parte interessada comprovar o efetivo prejuízo.
	A declaração de nulidade absoluta não depende de demonstração de prejuízo eis que se trata de matéria de ordem pública e este é presumido.
	É irrelevante ter ocorrido prejuízo ou não, pois tão logo se constate o vício, será desconsiderado tudo o que a ele se seguiu.
	O vício é irrelevante e, portanto, deve ser desconsiderado.
	O vício deverá ser arguido pela parte interessada na primeira oportunidade, sob pena de preclusão.
Assim, não são reconhecíveis de ofício.
Obs: entendimento preponderante autoriza a declaração ex officio das nulidades relativas na esfera penal com certa intransigência na preservação do devido processo legal.
Quem deu causa não pode invocá-la.
	O vício jamais preclui, podendo ser conhecido em qualquer fase do processo, de ofício pelo juiz, mesmo que não haja arguição da parte.
Podem ser invocadas a qualquer tempo (sua arguição não preclui), mesmo após a sentença, através de revisão criminal ou habeas corpus, se em favor do réu.
Exceção: 160-STF: É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício.
Nesses casos, mesmo a incompetência absoluta não pode ser reconhecida.
	A inexistência é um vício que jamais preclui, podendo ser reconhecida de ofício a qualquer momento.
	Por ser irrelevante, a irregularidade não é declarada ou, se o for, não produz consequências processuais.
	Necessita de um provimento judicial que a reconheça.
Assim, enquanto o órgão jurisdicional não disser que o ato é nulo, ele valerá.
A relevância disso é que, após o trânsito em julgado, nenhuma nulidade poderá ser reconhecida em prejuízo do réu, pois não existe revisão criminal pro societate.
	A nulidade absoluta precisa de um provimento judicial que a reconheça, logo, a consequência será a mesma apontada no quadro ao lado, referente à nulidade relativa.
A relevância disso é que, após o trânsito em julgado, nenhuma nulidade poderá ser reconhecida em prejuízo do réu, pois não existe revisão criminal pro societate.
	A inexistência não necessita ser declarada judicialmente, bastando que se desconsidere a aparência do ato e se pratique outro em seu lugar.
Pacelli discorda, afirmando que também a inexistência precisa ser declarada.
	
	Exemplos:
Ausência de intimação do Réu para oitiva de testemunhas quando tem advogado constituído;
Falta de intimação de expedição da carta precatória.
	Exemplos:
Incompetência em razão da matéria ou da pessoa;
Realização de interrogatório sem defensor.
	
Exemplos:
- Sentença assinada por quem não é juiz ou por juiz impedido;
- Denúncia oferecida por estagiário ou promotor ad hoc;
- Certidão de trânsito em julgado, no caso de omissão de remessa obrigatória, quando prevista (423-STF).
- Sentença extintiva de punibilidade com base em certidão de óbito falsa.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA:
A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não implica, por si só, nulidade processual. Caso concreto: em ação penal originária que tramitava no TJ, o defensor foi intimado da sessão de julgamento, mas deixou de comparecer e de fazer a sustentação oral; não há nulidade. Intimada a defesa para a sessão de julgamento da ação penal originária, a ausência da sustentação oral prevista no art. 12 da Lei nº 8.038/90 não invalida a condenação. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).
Não há nulidade se o advogado do réu “A” foi devidamente intimado para o interrogatório dos demais corréus (“X”, “Y”, “Z”), mas decide não comparecer. STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 950).
Não há nulidade se o réu possui mais de um advogado constituído nos autos e a intimação para a sessão de julgamento ocorre em nome de apenas um dos causídicos que, no entanto, já havia falecido, mas cuja morte não tinha sido comunicada ao Tribunal. Vale ressaltar que, neste caso não havia pedido da defesa para que todos os advogados fossem intimados ou para que constasse o nome de um causídico em específico nas publicações. Assim, estando o réu representado por mais de um advogado, basta em regra, que a intimação seja realizada em nome de um deles para a validade dos atos processuais, salvo quando houver requerimento expresso para que as publicações sejam feitas de forma diversa. STJ. 5ª Turma. HC 270.534/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/03/2017. STF. 1ª Turma. HC 138097/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/10/2018 (Info 921). Cumpre esclarecer, no entanto, que se, no processo estivesse atuando apenas um advogado, neste caso, haveria nulidade: A intimação do julgamento da apelação em nome do advogado falecido do réu, único causídico constituído nos autos, configura cerceamento de defesa apto a ensejar a nulidade absoluta, já que impossibilitou a interposição de recurso pela defesa. STJ. 5ª Turma. HC 307.461/CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 14/08/2018. STJ. 6ª Turma. HC 301.274/CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 23/10/2018.
HABEAS CORPUS. NARCOTRÁFICO. INOBSERVÂNCIA DO ART. 57 DA LEI 11.343/06. NULIDADE DEPENDENTE DA DEMONSTRAÇÃO OBJETIVA DO PREJUÍZO. PROCESSO QUE OBEDECEU RIGOROSAMENTE OS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PREJUÍZO NÃO DEMONSTRADO. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 563 DO CPP E DA SÚMULA 523/STF. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. PARECER PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 1. No âmbito do Processo Penal, não se deve declarar nulidade quando não resultar prejuízo comprovado para a parte que a alega (arts. 563 e 565 do CPP e Súmula 523/STF). Dessa forma, a inobservância do art. 57 da Lei 11.343/06, à luz de uma interpretação sistemática do capítulo das nulidades do CPP, não traduz nulidade absoluta. 2. O Supremo Tribunal Federal acolhe o entendimento de que o princípio geral norteador das nulidades em Processo Penal - pas de nullité sans grief - é igualmente aplicável em casos de nulidade absoluta (HC 85.155/SP, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJU 15.04.05 e AI-AgR. 559.632/MG, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJU 03.02.06). 3. Os automatismos devem ser evitados em sede de Processo Penal. O que a Constituição reputa indispensável é que se garanta a todo cidadão processado criminalmente a oportunidade efetiva de se contrapor à acusação que lhe é feita. 4. Registre-se que, no caso concreto, foram respeitados os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, com citação regular, interrogatório na presença do Advogado, defesa prévia e alegações finais regularmente oferecidas e intimação da sentença condenatória, além de inexistir sequer insinuação sobre qual seria o prejuízo sofrido, razão pela qual é vazia a alegação de nulidade. 5. Ordem denegada, em consonância com o parecer do MPF. (HC 136649/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNESMAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 18/03/2010, DJe 03/05/2010)
É possível que os Ministros do STJ e STF, em ações penais originárias destes Tribunais, deleguem a realização de atos de instrução aos chamados juízes instrutores, não havendo nulidade nesta prática. Os juízes instrutores atuam como “longa manus” do magistrado relator e, nessa condição, procedem sob sua supervisão. Trata-se, portanto, de delegação limitada a atos de instrução, com poder decisório restrito ao alcance desses objetivos. A atuação dos juízes instrutores encontra respaldo no art. 3º da Lei 8.038/90. STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).
#OLHAOGANCHO: A condução do interrogatório do réu de forma firme e até um tanto rude durante o júri não importa, necessariamente, em quebra da imparcialidade do magistrado e em influência negativa nos jurados. STJ. 6ª Turma. HC 410.161-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/04/2018 (Info 625).
O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. O STF declarou que a expressão “para o interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição Federal. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: • a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade • a ilicitude das provas obtidas • a responsabilidade civil do Estado. Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato processual. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).
É nulo o acórdão que se limita a ratificar a sentença e a adotar o parecer ministerial, sem sequer transcrevê-los, deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar fundamento próprio. Isso porque, nessa hipótese, está caracterizada a nulidade absoluta do acórdão por falta de fundamentação. A jurisprudência admite a chamada fundamentação per relationem, mas desde que o julgado faça referência concreta às peças que pretende encampar, transcrevendo delas partes que julgar interessantes para legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se quer chegar. STJ. 6ª Turma. HC 214.049-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 557).
A participação de magistrado em julgamento de caso em que seu pai já havia atuado é causa de nulidade absoluta, prevista no art. 252, I, do CPP. STF. 2ª Turma. HC 136015/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/5/2019 (Info 940).
4. Princípios
4.1 Princípio do prejuízo (pas de nullité sans grief)
De acordo com esse princípio, não se decreta a nulidade relativa e não se declara a nulidade absoluta sem que haja prejuízo para qualquer das partes (pas de nullité sans grief), devendo isso ser demonstrado pela parte interessada.
#SELIGA: No caso da nulidade absoluta, o prejuízo deve ser demonstrado?
- 1ª Corrente: A nulidade absoluta gera prejuízo presumido às partes, não sendo necessário sua demonstração. Essa presunção, porém, não é absoluta, mas sim relativa, o que significa que admite prova em contrário.
- 2ª Corrente: O princípio geral de que não se declara a nulidade do ato se dele não houver resultado prejuízo para as partes – pas de nullité sans grief – alcança tanto as nulidades relativas como as absolutas. Neste contexto, não se pode falar na existência de uma presunção de prejuízo, impondo-se, em qualquer caso, a devida comprovação. Trata-se da posição adotada pelo STF e pelo STJ.
Art. 563.  Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.
Art. 566. Não será declarada a nulidade de ato processual que não houver influído na apuração da verdade substancial ou na decisão da causa.
Art. 572. As nulidades previstas no art. 564, III, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-se-ão sanadas:
II - se, praticado por outra forma, o ato tiver atingido o seu fim;
4.2 Princípio da instrumentalidade das formas
Em regra, são três os sistemas segundo os quais pode ser imposta a sanção de nulidade:
a) Sistema da legalidade das formas, formalista ou da indeclinabilidade das formas: todos os vícios acarretam a nulidade do ato processual;
b) Sistema da legalidade das formas mitigado: nesse caso, o ato será considerado nulo apenas se a lei assim o declarar, ou seja, ainda que o ato processual seja praticado em desacordo com o modelo típico, caso não seja prescrita a nulidade, o ato será considerado válido;
c) Sistema da instrumentalidade das formas: as irregularidades devem ser distinguidas conforme sua gravidade, não se declarando a nulidade do ato se sua finalidade foi atingida e não houve prejuízo às partes.
Antigamente, adotava-se os dois primeiros sistemas supracitados, reconhecendo-se a nulidade sempre que o ato processual fosse praticado em desacordo com o modelo legal, ou quando a lei assim o declarasse.
Contudo, atualmente utiliza-se o sistema da instrumentalidade das formas, pois o modelo previsto em lei não é um fim em si mesmo, mas visa proteger algum interesse ou atingir determinada finalidade. Em razão disso, antes de ser decretada a ineficácia do ato processual praticado em desacordo com o modelo típico, há de se verificar se o interesse foi protegido ou se a finalidade do ato processual foi atingida. Em caso positivo, não há motivo para se decretar a nulidade do ato processual.
Art. 570.  A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o  adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.
4.3 Princípio da eficácia dos atos processuais
Segundo Calmon de Passos, os atos nulos continuam a produzir efeitos enquanto não houver a declaração de invalidade do ato.
4.4 Princípio da causalidade ou consequencialidade ou contaminação ou da extensão ou efeito expansivo
Segundo esse princípio, a nulidade de um ato provoca a invalidação dos atos que lhe forem consequência ou decorrência.
Por outro lado, caso não haja qualquer relação de causalidade entre o ato anulado e os demais atos processuais, a eficácia destes deve ser preservada (princípio da conservação dos atos processuais). Nesse sentido, fala-se, então, em nulidade originária (aquela do próprio ato) e nulidade derivada (aquela que recai sobre os atos dependentes daquele ato nulo).
#ATENÇÃO: O STJ já se pronunciou no sentido de que, declarado nulo o interrogatório judicial, não há que se falar em nulidade de toda a ação penal, uma vez que a mesma só se verifica quando, em sendo declarada a nulidade de uma parte, esta vier a macular o todo, não sendo possível a substituição da que for defeituosa, ou, então, quando dela depender diretamente.
Art. 573 (...) § 1º - A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência.
§ 2º O juiz que pronunciar a nulidade declarará os atos a que ela se estende.
4.5 Princípio da conservação dos atos processuais (confinamento da nulidade)
Em razão desse princípio, deve ser preservada a validade dos atos processuais que não dependam de ato anterior declarado inválido.
4.6 Princípio do interesse
Nenhuma nulidade pode ser arguida por inobservância de formalidade que só interesse a parte contrária. Esse princípio só se aplica em relação às nulidades relativas, pois somente nestas o reconhecimento da invalidade depende de arguição do interessado. Nas absolutas, o vícioatinge o próprio interesse público, razão pela qual deve ser reconhecido pelo juiz, independentemente de provocação. 
Assim, se a irregularidade resulta da preterição de formalidade instituída para garantia de uma determinada parte, somente esta poderá invocar a nulidade, não sendo possível a outra fazê-lo por simples capricho.
#SELIGA: O princípio do interesse não se aplica ao Ministério Público, pois o art. 127 da Constituição Federal incumbe ao Parquet a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Assim, se ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, aí incluída a observância da tipicidade dos atos processuais, assim como a tutela dos interesses individuais indisponíveis, é evidente que o Parquet tem interesse presumido para pleitear o reconhecimento de nulidade relativa em favor da defesa, seja quando atua como parte (ação penal pública), seja quando atua como fiscal da lei (ação penal privada).
 
4.7 Princípio da boa-fé
Nenhuma das partes pode arguir nulidade a que haja dado causa, ou para a qual tenha concorrido (CPP, art. 565, 1ª parte). Esse princípio não se aplica às nulidades absolutas, pois já que o interesse tutelado pela norma violada é de natureza pública, qualquer parte pode arguir o vício, ainda que tenha concorrido para a sua produção.
Art. 565. Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente à formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.
4.8 Princípio da convalidação
Aplicável somente às nulidades relativas, em virtude do princípio da convalidação, também conhecido como princípio do aproveitamento ou da proteção, não se declara a nulidade quando for possível suprir o defeito ou se não for arguida em tempo oportuno.
São espécies de convalidação, sanação ou saneamento:
a) Suprimento: quando eventuais omissões poderão ser supridas. Ex: na peça acusatória, omissões podem ser supridas a qualquer momento, antes da sentença final (CPP, art. 569);
b) Retificação: através da retificação, uma parte do ato processual defeituoso é corrigida;
c) Ratificação: caso uma queixa-crime seja oferecida por menor de 18 anos, o vício decorrente da falta de legitimidade processual pode ser convalidado mediante a ratificação dos atos processuais por seu representante legal;
d) Preclusão: 
(i) Sentido objetivo: trata-se de fato impeditivo destinado a garantir o avanço progressivo da relação processual e a obstar o seu recuo para fases anteriores do procedimento;
(ii) Sentido subjetivo: é a perda de uma faculdade ou direito processual. São espécies de preclusão:
(ii.1) Preclusão temporal: ocorre quando a nulidade relativa não é arguida nos momentos oportunos previstos no art. 571 do CPP. Porém, vale lembrar que quanto à nulidade absoluta, esta pode ser arguida a qualquer momento, inclusive após o trânsito em julgado de sentença condenatória ou absolutória imprópria.
(ii.2) Preclusão lógica: decorre da incompatibilidade da prática de um ato processual com relação a outro já praticado. Ex: se, por ocasião da oitiva das testemunhas, as partes não se insurgirem quanto à colheita da prova testemunhai por meio do sistema presidencialista, contrariando a regra do exame direto e cruzado do art. 212 do CPP, não poderão se insurgir contra a nulidade relativa a posteriori, visto que, tacitamente, aceitaram seus efeitos.
(ii.3) Preclusão consumativa: ocorre quando a faculdade já foi validamente exercida.
e) Prolação de sentença: Nos termos do art. 282, § 2º, do novo CPC, quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato, ou suprir-lhe a falta. Em razão disso, entende-se que a decisão de mérito em favor da parte prejudicada pelo ato processual defeituoso afasta a conveniência de se proclamar a nulidade. Considerando que o reconhecimento dessa nulidade acabaria por causar desnecessário retrocesso na marcha procedimental, se o juiz antevê que é possível a prolação de sentença em favor da parte prejudicada, isso significa dizer que, a despeito da inobservância do modelo típico, não houve qualquer prejuízo à parte. Assim, em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, não há por que se declarar a nulidade do ato.
#ACEREJADOBOLO: Segundo Paulo Rangel, “se a nulidade for vantajosa ao réu, ou seja, se não lhe trouxer prejuízo, mas sim vantagem, porém o feito estiver suficientemente maduro para uma apreciação de mérito pelo tribunal com provimento do recurso, há de aplicar-se a teoria da causa madura. O que significa dizer: o tribunal, em vez de declarar nulo o processo (ou sentença), absolve, desde logo, o acusado, adotando os princípios da economia e da celeridade processual e do favor libertatis. Assim, adotamos a teoria da causa madura, pois, em vez de o tribunal anular o processo, mesmo que com vantagem ao réu, melhor será a absolvição em face de o recurso encontrar-se suficientemente instruído”.
f) Coisa julgada (preclusão máxima): a coisa julgada funciona como uma causa de saneamento geral, pois a imutabilidade da decisão alcança as irregularidades não alegadas ou não apreciadas durante a tramitação do processo.
#SELIGA: A coisa julgada só funciona como sanativa geral em detrimento da acusação, visto que o ordenamento pátrio não admite a revisão criminal pro societate. Assim, decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade transitada em julgado, ainda que proferida, a título de exemplo, por juízo absolutamente incompetente e suspeito, não pode ser rescindida, visto que não há instrumento processual adequado para a impugnação de tal vício.
*(Atualizado em 11/09/2022) #DEOLHONAJURIS #STJ - É inadmissível a chamada "nulidade de algibeira" - aquela que, podendo ser sanada pela insurgência imediata da defesa após ciência do vício, não é alegada, como estratégia, numa perspectiva de melhor conveniência futura. Trata-se de discussão em que a defesa técnica compareceu ao ato de oitiva de testemunha e não alegou nulidade. Tampouco suscitou a suposta nulidade em fase anterior ao ajuizamento da revisão criminal. Nesse contexto, convém expressar que "esta Corte Federal firmou já entendimento no sentido de que, tratando-se de nulidade relativa, a ausência do réu na audiência de inquirição de testemunhas, além de requisitar a demonstração do efetivo prejuízo, deve ser argüida na primeira oportunidade, sob pena de preclusão. Precedentes" (HC n. 28.127/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 06/02/2006, p. 325). Além disso, a jurisprudência dos Tribunais Superiores não tolera a chamada "nulidade de algibeira" - aquela que, podendo ser sanada pela insurgência imediata da defesa após ciência do vício, não é alegada, como estratégia, numa perspectiva de melhor conveniência futura. Observe-se que tal atitude não encontra ressonância no sistema jurídico vigente, pautado no princípio da boa-fé processual, que exige lealdade de todos os agentes processuais. AgRg no HC 732.642-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe 30/05/2022 (Info. 741). 
5. Nulidades em espécie
No art. 564 do CPP o legislador dispôs um rol exemplificativo de nulidades. São elas:
5.1 Incompetência
Inicialmente, vale dizer que a incompetência ratione loci (territorial) possui natureza relativa, ao passo que as incompetências ratione materiae e ratione personae produzem nulidades absolutas.
a) Incompetências ratione materiae e ratione personae: sendo normas de ordem pública, poderão ser declaradas por meio de arguição do interessado e de ofício pelo juiz.
b) Incompetência ratione loci: tem seu reconhecimento judicial, em tese, condicionado à existência de provocação da parte interessada.
#SELIGA: Em posição minoritária, Grinover, Scarance e Magalhães entendem que a incompetência relativa também pode ser declarada de ofício pelo juiz. Isso porque “no processo penal, em que o foro comum é o da consumaçãodo delito (CPP, art. 70), acima do interesse da defesa, é considerado o interesse público expresso no princípio da verdade real: onde se deram os fatos é mais provável que se consigam provas idôneas. Por isso, mitiga-se, no processo penal, a diferença entre a competência absoluta e a relativa: mesmo esta pode ser reconhecida de ofício pelo juiz (art. 109)”. Essa NÃO é a posição da jurisprudência.
#REVISAQUEPASSA:
#SELIGANOESQUEMA:
Quanto às consequências do reconhecimento da nulidade, os Tribunais Superiores entendem pela aplicação do art. 567 do CPP às três formas de incompetência, no sentido de que o seu reconhecimento importará em nulidade obrigatória apenas dos atos decisórios, sem prejuízo da possibilidade de ratificação dos demais atos praticados no juízo incompetente.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz;
Art. 252.  O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
 IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Art. 253.  Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
5.2 Suspeição
Em regra, as causas de suspeição, contidas no art. 254 do CPP, são circunstâncias subjetivas relacionadas a fatos externos ao processo capazes de prejudicar a imparcialidade do magistrado. Trata-se de causa de nulidade do processo, desde o primeiro ato em que houve intervenção do juiz suspeito.
Art. 254.  O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.
Art. 255.  O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo.
Art. 256.  A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la.
5.3 Suborno do juiz
Trata-se de nulidade absoluta, que pode gerar responsabilização penal tanto do juiz que recebeu a vantagem (corrupção, concussão ou, no mínimo, prevaricação) quanto de quem a ofereceu. Frise-se que não se trata apenas de “propina”, mas de qualquer vantagem que o juiz receba em proveito próprio ou alheio, tais como um emprego a um parente, favores sexuais, etc.
5.4 Ilegitimidade da parte
a) Legitimidade ad causam: refere-se à capacidade de figurar alguém no polo ativo ou no polo passivo da relação processual. Ex: Oferecimento de denúncia pelo Ministério Público em crime de ação penal privada (ilegitimatio ad causam ativa);
b) Ilegitimidade ad processum: decorre da impossibilidade de estar alguém agindo em juízo em nome próprio ou de outrem. Ex: ingresso de queixa-crime, em delito de ação penal privada, sem a juntada de instrumento de mandato confeccionado na forma do art. 44 do CPP.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
II - por ilegitimidade de parte;
5.5 Falta da denúncia, da queixa, da representação e da requisição do Ministro da Justiça:
Nos termos do art. 564, III, “a”, do CPP, a nulidade ocorrerá no caso de falta da denúncia, da queixa, da representação e, nos processos de contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante. Contudo, a parte final desse dispositivo não foi recepcionada pela Constituição Federal, devendo ser interpretada no sentido de que ocorrerá nulidade no caso de falta da denúncia, da queixa, da representação e da requisição do Ministro da Justiça.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a portaria ou o auto de prisão em flagrante;
5.6 Ausência do exame de corpo de delito
Nos termos do art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
#SELIGA: Não obstante a essa previsão, o Código de Processo Penal, no art. 167, prevê a possibilidade de suprimento do referido exame pela prova testemunhal, na hipótese de haverem desaparecido os vestígios.
Quanto ao número de peritos que devem subscrever o laudo, basta um perito oficial (art. 159, CPP). Não havendo peritos oficiais, o laudo poderá ser feito por 2 peritos leigos.
#ATENÇÃO:
1) No processo dos crimes contra a propriedade imaterial de ação penal pública (art. 530-I, do CPP), estabeleceu o art. 530-D do CPP que, “subsequente à apreensão, será realizada, por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa tecnicamente habilitada, perícia sobre todos os bens apreendidos e elaborado o laudo que deverá integrar o inquérito policial ou o processo” (grifamos). A utilização das palavras “perito” e “pessoa” no singular sugere a possibilidade de realização do laudo por apenas um expert, seja ele perito oficial, seja perito leigo. Por outro lado, tratando-se de crime contra a propriedade imaterial de ação penal privada (aos quais deve ser aplicado o rito dos arts. 524 a 530, por força do que reza o art. 530-A, todos do CPP), dispõe o art. 527 do CPP que “a diligência de busca ou de apreensão será realizada por dois peritos nomeados pelo juiz”.
2) Quanto ao crime relacionado ao porte ilegal de drogas, o art. 50, § 1.º, da Lei 11.343/2006 estabelece que, para efeito de lavratura do auto de prisão em flagrante e oferecimento de denúncia (fala-se em estabelecimento de materialidade), bastará o laudo provisório de constatação da natureza da substância apreendida, o qual poderá ser subscrito por apenas um perito, seja oficial, seja leigo. Ressalte-se que, neste caso, para fins de condenação, será preciso o laudo toxicológico definitivo, o qual, por não estar disciplinado na Lei de Drogas, submete-se à regra geral do art. 159 do CPP.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 167;
5.7 Ausência de nomeação de defensor ao acusado presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos
Sabe-se que a defesa técnica é indisponível e irrenunciável no âmbito processual penal, devendo ser também plena e efetiva.
Quanto à parte final do art. 564, III, “c”, do CPP, vale lembrar que não há mais necessidade de nomeação de curador para o indiciado menor de 21 (vinte e um) anos, pois o Código Civil dispõe que a menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos;5.8 Não intervenção do Ministério Público
a) Falta de intervenção do Ministério Público nos crimes de ação penal pública: trata-se de causa de nulidade absoluta. Na hipótese de o órgão do Ministério Público ter sido regularmente notificado para a prática de determinado ato e, mesmo assim, deixar de intervir, tratando-se de atos instrutórios, a doutrina majoritária entende que se trata de mera nulidade relativa.
b) Falta de intervenção do Ministério Público nos casos de ação penal privada subsidiária da pública: trata-se de causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento está condicionado à arguição em tempo oportuno e à comprovação do prejuízo.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública;
5.9 Ausência de citação, do interrogatório do acusado e de concessão dos prazos à acusação e à defesa
a) Falta de citação do acusado para se ver processar: A falta da citação do réu é causa de nulidade absoluta. Contudo, se o acusado, apesar de não ter sido citado, comparecer ao ato do interrogatório, fica sanado o vício decorrente da falta de citação. 
Vale dizer que, em regra, a citação deve ser feita pessoalmente. Não sendo possível a citação pessoal do réu em face de sua não localização, admite-se a citação por edital com prazo de 15 dias. Verificando o oficial de justiça que o réu se oculta para não ser citado, deverá ele certificar essa ocorrência e proceder à citação com hora certa.
#SELIGA: A citação inválida, desprovida de validade e eficácia, tem sido rotulada pela doutrina de citação circunducta (por circunducto compreende-se o ato nulo ou ineficaz, ou seja, que não se realizou de acordo com a regra).
#RESUMEAÍ:
b) Falta de interrogatório do acusado: o interrogatório é ato de defesa do acusado, sendo possível a este utilizar-se do direito ao silêncio, visto que, ao contrário da defesa técnica, a autodefesa é plenamente renunciável.
c) Não concessão de prazos à acusação e à defesa: cuida-se da não abertura ou redução, pelo juiz, dos prazos legais concedidos à acusação ou defesa. A nulidade poderá ser absoluta ou relativa, dependendo do caso concreto.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa;
d) Nulidade pela falta da sentença: trata-se de hipótese de difícil ocorrência, mas não impossível. Nesse caso, por óbvio, trata-se de causa de nulidade absoluta.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
m) a sentença;
e) Nulidade pela ausência do recurso de ofício: prevalece a posição (Súmula 423, STF), no sentido de que o reexame necessário é condição de eficácia da decisão judicial nos casos em que a lei o estabelece.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido;
f) Nulidade pela ausência de intimação das partes quanto às decisões recorríveis: haverá nulidade na falta de intimação nas condições estabelecidas pela lei, para ciência das sentenças e despachos de que caiba recurso, de modo a preservar o contraditório. Observações:
(i) Nos termos do art. 370, § 4º, do CPP, a intimação do defensor nomeado deve ser feita pessoalmente, sendo nula certidão de trânsito em julgado de sentença penal condenatória se o advogado dativo for intimado por meio de publicação no Diário de Justiça;
(ii) A intimação do defensor constituído, dos advogados do querelante e do assistente será feita por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado. Assim, é indispensável que conste da publicação no órgão próprio o nome do acusado, sob pena de nulidade;
(iii) Caso a intimação mediante publicação seja feita em nome de advogado falecido, o ato deve ser considerado ineficaz, pois não é idôneo a produzir o efeito pretendido. Se este advogado for o defensor do acusado, há de se concluir pela ausência de defesa, com a consequente nulidade absoluta do feito, nos termos da súmula n° 523 do STF. Vale lembrar, contudo, que tendo o acusado diversos advogados, basta que conste o nome de apenas um deles na publicação da pauta de julgamento da apelação. Nesse sentido, o falecimento de um dos defensores, justamente aquele em cujo nome ocorrer a publicação, não é capaz de anular o julgamento do apelo;
(iv) Havendo substabelecimento com reserva de poderes, é válida a intimação de qualquer dos advogados, desde que não haja pedido expresso de intimação exclusiva. 
(v) O acusado e seu defensor deverão ser intimados de eventual sentença condenatória ou absolutória imprópria. Por isso, o STJ já decidiu que o acusado que respondeu solto ao processo, ainda que possua advogado constituído, deve ser intimado pessoalmente da condenação, sob pena de nulidade por violação ao princípio da ampla defesa. Caso não haja a intimação do acusado e de seu defensor, a consequência será a nulidade absoluta do feito;
#OLHAOGANCHO: Com a vigência da Lei 11.690/2008, o art. 201, § 2º, do CPP passou a disciplinar que o ofendido será comunicado dos atos processuais relativos à sentença e aos respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem. Ao assim dispor, estabeleceu o legislador ao magistrado a obrigatoriedade de comunicar à vítima do delito – ainda que não habilitada como assistente – das decisões judiciais finais de mérito proferidas no processo. A omissão do julgador quanto à realização dessa comunicação, à semelhança do que ocorre em relação às partes, poderá prejudicar o trânsito em julgado ou, ao menos, retardá-lo para momento posterior.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos de que caiba recurso;
g) Falta do quorum legal para o julgamento nos Tribunais Superiores e nos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais;
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o julgamento;
h) Nulidade em razão da inobservância de formalidade que constitua elemento essencial do ato: Formalidades essenciais são todas aquelas sem as quais o ato processual não pode ser considerado válido e eficaz. Ex: A nomeação de defensor ad hoc, pelo Juízo, antes que seja facultado ao réu o direito de constituir um novo advogado: em razão da ofensa ao princípio da ampla defesa, a nomeação de advogado dativo sem a prévia concessão de oportunidade ao réu para constituir profissional de sua confiança constitui nulidade absoluta, nos termos do art. 564, IV, do CPP.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
i) Nulidade em razão de decisão carente de fundamentação: trata-se de causa de nulidade adicionada pelo #PACOTEANTICRIME #NOVIDADELEGISLATIVA.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
V - em decorrência de decisão carente de fundamentação.    (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
5.10 Nulidades no procedimento do júri
a) Nulidade por falta ou invalidade da decisão de pronúncia: A pronúncia importa no reconhecimento de que é admissível a imputação de ter o réu praticado um crime doloso contra a vida, marcando o encerramento da primeira etapa (judicium acusationes) e inaugurando a segunda fase do rito do júri (judicium causae). Trata-se de condição obrigatória para submissão do acusado a Júri Popular.
#ATENÇÃO: A eloquência acusatória se dá quando o magistrado extrapola os limites da fundamentação na sentençade pronúncia, dando causa à nulidade da sentença, pois influi substancialmente no ânimo dos jurados
b) Nulidade pela não apresentação do libelo ou não entrega da respectiva cópia ao réu: como se sabe, a reforma processual de 2008 extinguiu o libelo acusatório, restando prejudicada esta nulidade.
c) Falta de intimação do acusado para a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri, quando a lei não permitir o julgamento à revelia: essa hipótese de nulidade também resta prejudicada, pois não há mais a vedação no sentido de que o julgamento do réu pela prática de crime doloso contra a vida, se inafiançável, não pode ser realizado à sua revelia.
d) Falta de intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei: as testemunhas de plenário, até o máximo de 5, deverão ser arroladas pelas partes quando intimadas, após o trânsito em julgado da pronúncia. Assim, nos termos do art. 461 do CPP, acusação e defesa poderão proceder de duas formas:
(i) Indicação de testemunhas com cláusula de imprescindibilidade: Trata-se da hipótese em que a parte interessada, ao arrolar uma ou mais testemunhas, declara não precisar dos respectivos depoimentos. Nesse caso, deverá requerer a intimação das testemunhas consideradas imprescindíveis por mandado, a ser cumprido por oficial de justiça nos endereços que indicar. Se, devidamente intimadas, essas testemunhas não comparecerem, caberá ao juiz-presidente adotar uma das seguintes providências: 1ª) Suspender os trabalhos e mandar conduzir imediatamente as testemunhas faltosas; 2ª) Adiar o julgamento para o primeiro dia desimpedido, ordenando, igualmente, a condução coercitiva das testemunhas que, injustificadamente, não se fizeram presentes.
(ii) Indicação de testemunhas sem cláusula de imprescindibilidade: nesse caso, se requerida a intimação das testemunhas pelo interessado e se, apesar de adotadas pelo juízo as providências necessárias a essa intimação, deixarem elas de comparecer à sessão, o julgamento não será adiado, ficando sob a discricionariedade do juiz-presidente ordenar ou não a condução coercitiva.
Por outro lado, havendo requerimento das partes, o juiz deverá adotar as providências necessárias à intimação da testemunha. A ausência das medidas necessárias a essa intimação importará em nulidade processual.
e) Nulidade pela ausência do quorum mínimo de 15 jurados para a constituição do Conselho de Sentença: Ausente este quorum, deverá o magistrado, sob pena de nulidade absoluta, adiar o júri;
f) Nulidade pela ausência de sorteio de sete jurados para composição do Conselho de Sentença;
g) Nulidade pela inobservância do comando legal de incomunicabilidade entre os jurados;
h) Nulidade na formulação dos quesitos aos jurados: Esgotados os debates, o juiz-presidente procederá à leitura dos quesitos que serão submetidos ao Conselho de Sentença para votação. Quanto aos quesitos da acusação, serão formulados a partir dos limites atribuídos na decisão de pronúncia. Por outro lado, no que tange aos quesitos da defesa, devem guardar correspondência com todas as teses incorporadas ao processo.
*(Atualizado em 12/06/2022). #DEOLHONAJURIS: Quesitos complexos, com má redação ou com formulação deficiente, geram a nulidade do julgamento do Tribunal do Júri, por violação ao art. 482, parágrafo único, do CPP. No caso concreto, o 2º quesito, relacionado à autoria, foi redigido nos seguintes termos: “2º quesito: O acusado xxxxx, maior interessado na desocupação do imóvel, de igual sorte, tendo determinado a morte da vítima, contribuiu decisivamente para a prática do crime?” A intenção do legislador ao prever o parágrafo único do art. 482 do CPP é prevenir os chamados “vícios de complexidade”. Assim, os quesitos devem ser redigidos em fórmula “simples”, não compostas, não complexas, sem conotações, sobretudo, porque as respostas serão binárias, na base do “sim” ou “não”. Ademais, em atenção ao direito penal do fato, o juiz presidente do tribunal do júri, ao formular quesitos relativos à autoria delitiva, deve evitar inferências, pressuposições, adjetivações e estereotipagem, concentrando-se apenas nos fatos concretos em julgamento. O caráter do agente e motivos do crime não devem ser considerados para fins de formulação de quesitos do júri, sob pena de ofensa aos princípios da presunção de inocência e do devido processo legal. STJ. 5ª Turma. AREsp 1.883.043-DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 15/03/2022 (Info 730).
i) Nulidade pela ausência da acusação e da defesa, na sessão de julgamento.
6. Arguição das nulidades
O art. 571 do CPP dispõe acerca do tempo de arguição das nulidades, utilizando dois critérios: a natureza do procedimento e a fase em que ocorre o vício.
6.1 Arguição das nulidades relativas ao Tribunal do Júri
a) Nulidades ocorridas até o encerramento da instrução deverão ser arguidas em sede de alegações orais: As nulidades relativas ocorridas até o encerramento da instrução deverão ser arguidas em sede de alegações orais. Quanto às nulidades absolutas, sabe-se que poderão ser suscitadas a qualquer tempo.
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
I - as da instrução criminal dos processos da competência do júri, nos prazos a que se refere o art. 406;
b) Nulidades ocorridas na fase posterior à pronúncia e antes do júri deverão ser invocadas logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes: No caso de a nulidade relativa ocorrer na decisão de pronúncia, deverá ser arguida mediante a interposição de recurso em sentido estrito contra essa decisão (art. 581, IV, do CPP).
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
V - as ocorridas posteriormente à pronúncia, logo depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes (art. 447);
c) Nulidades ocorridas no curso do julgamento pelo júri deverão ser suscitadas logo depois que ocorrerem: Ex: violação ao art. 478 do CPP, que proíbe às partes fazerem referência, durante os debates, à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas, bem como ao silêncio do acusado ou à ausência de seu interrogatório. 
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: É possível que o réu permaneça algemado durante o julgamento no Tribunal do Júri caso existam nos autos informações fornecidas pela polícia no sentido de que o acusado integra milícia, possui extensa folha de antecedentes criminais e foi transferido para presídio federal de segurança máxima justamente em virtude da sua alta periculosidade. Não se pode desconsiderar o que está nos autos do processo e aquilo que foi informado pela polícia. A questão da periculosidade, ou não, do réu é assunto de polícia e não de juiz. Se a polícia informa que o réu é perigoso, o juiz que, normalmente, entra em contato com o réu pela primeira vez, tem de confiar na presunção de legitimidade da informação passada pela autoridade policial. Fora dos casos de abuso patente, é preciso dar credibilidade àquele que tem o encargo de zelar pela segurança pública, inclusive no âmbito do tribunal. Em casos assim, a decisão do juízo que mantém as algemas não viola a súmula vinculante 11. STF. 1ª Turma. Rcl 32970 AgR/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964).
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
d) Nulidades ocorridas após a decisão de primeira instância deverão ser invocadas em preliminares de razões recursais ou logo depois de anunciado o julgamento da impugnação pelo tribunal competente e apregoadas as partes: Tanto as nulidades relativas anteriores, como as posteriores à decisão de primeira instância, poderão integrar as preliminares das razões recursais, desde que, arguidas em tempo certo, não tenham sido atingidas pela preclusão. 
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o julgamentodo recurso e apregoadas as partes;
e) Nulidades no julgamento do recurso pelo tribunal competente deverão ser suscitadas logo depois que ocorrerem. 
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
6.2 Nulidades relativas aos procedimentos especial e comum
#RELEMBRARÉVIVER:
- Procedimento comum:
Procedimento comum ordinário (art. 394, § 1º, I): aplicável aos crimes cuja sanção máxima cominada for IGUAL OU SUPERIOR a 4 anos de pena privativa de liberdade;
Procedimento comum sumário (art. 394, § 1º, II): aplicável aos crimes cuja sanção máxima cominada seja INFERIOR a 4 anos de pena privativa de liberdade;
Procedimento comum sumaríssimo (art. 394, § 1º, III): destinado às infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.
Procedimentos especiais: tratam-se dos procedimentos previstos para apuração de determinadas espécies de crimes. Ex: crimes falimentares, rito do júri, etc.
a) Tempo máximo de arguição das nulidades relativas no rito ordinário (crimes cuja pena máxima cominada for IGUAL OU SUPERIOR a 4 anos de prisão): trata-se do rito padrão, cujas disposições são aplicadas aos demais procedimentos de forma subsidiária.
(i) Nulidades ocorridas até o encerramento da instrução deverão ser arguidas em sede de alegações finais orais (art. 403, caput) ou nos memoriais substitutivos (art. 403, § 3º);
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
II - as da instrução criminal dos processos de competência do juiz singular e dos processos especiais, salvo os dos Capítulos V e Vll do Título II do Livro II, nos prazos a que se refere o art. 500;
(ii) Nulidades ocorridas após a decisão de 1ª instância e antes do julgamento do recurso interposto deverão ser invocadas nas razões recursais ou logo depois de anunciado o julgamento da impugnação e apregoadas as partes. 
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
(iii) Nulidades no julgamento do recurso pelo tribunal competente deverão ser suscitadas logo depois que ocorrerem. 
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
b) Tempo máximo de arguição das nulidades relativas no rito sumário (crimes cuja pena máxima cominada seja INFERIOR a 4 anos de prisão):
(i) Nulidades que ocorram até o encerramento da instrução deverão ser arguidas nos debates a que alude o art. 531. 
(ii) Nulidades que ocorram após a decisão de primeira instância e antes do julgamento do recurso interposto deverão ser invocadas nas razões recursais ou logo depois de anunciado o julgamento da impugnação e apregoadas as partes.
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VII - se verificadas após a decisão da primeira instância, nas razões de recurso ou logo depois de anunciado o julgamento do recurso e apregoadas as partes;
(iii) Nulidades no julgamento do recurso pelo tribunal competente deverão ser suscitadas logo depois que ocorrerem: Trata-se das nulidades relativas que ocorram durante a sessão de julgamento levada a efeito pelo órgão colegiado do tribunal que estiver apreciando o recurso interposto.
Art. 571.  As nulidades deverão ser arguidas:
VIII - as do julgamento em plenário, em audiência ou em sessão do tribunal, logo depois de ocorrerem.
c) Tempo máximo de arguição das nulidades relativas nos procedimentos especiais que adotem as normas relativas ao procedimento ordinário: Nos procedimentos que contenham a referência às normas do rito ordinário, as nulidades relativas deverão ser arguidas nas mesmas oportunidades adequadas àquele rito. Ex: rito dos crimes funcionais.
*(Atualizado em 04/08/2020) #DEOLHONAJURIS: A falta de abertura de prazo, após o encerramento da instrução, para manifestação das partes acerca do interesse na feitura de diligências complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento pressupõe que o inconformismo seja veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações finais. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).
7. Nulidades no inquérito policial
Considerando ser o inquérito policial mera peça informativa, eventuais vícios dele constantes não têm o condão de contaminar o processo penal a que der origem. Assim, em caso de eventual irregularidade em ato praticado no curso do inquérito, mostra-se inviável a anulação do processo penal subsequente. Isso porque as nulidades processuais referem-se, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados ao longo do processo penal condenatório
8. Jurisprudência em teses
1) A decretação da nulidade de ato processual requer prova inequívoca do prejuízo suportado pela parte, em face do princípio pas de nullité sans grief, previsto no art. 563 do Código de Processo Penal.
2) As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal dela decorrente.
3) As irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam nulidade, uma vez que as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras recomendações legais.
4) A ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública ou do defensor dativo sobre os atos do processo gera, via de regra, a sua nulidade.
5) A nulidade decorrente da ausência de intimação - seja a pessoal ou por diário oficial - da data de julgamento do recurso não pode ser arguida a qualquer tempo, sujeitando-se à preclusão temporal.
6) O defensor dativo que declinar expressamente da prerrogativa referente à intimação pessoal dos atos processuais não pode arguir nulidade quando a comunicação ocorrer por meio da imprensa oficial.
7) A ausência de intimação da defesa sobre a expedição de precatória para oitiva de testemunha é causa de nulidade relativa.
8) A falta de intimação do defensor acerca da data da audiência de oitiva de testemunha no juízo deprecado não enseja nulidade processual, desde que a defesa tenha sido cientificada da expedição da carta precatória.
9) A inversão da ordem prevista no art. 400 do CPP, que trata do interrogatório e da oitiva de testemunhas de acusação e de defesa, não configura nulidade quando o ato for realizado por carta precatória, cuja expedição não suspende o processo criminal.
10) O falecimento do único advogado, ainda que não comunicado o fato ao tribunal, poderá dar ensejo à nulidade das intimações realizadas em seu nome.
11) Na intimação pessoal do réu acerca de sentença de pronúncia ou condenatória, a ausência de apresentação do termo de recurso ou a não indagação sobre sua intenção de recorrer não gera nulidade do ato.
12) A inquirição das testemunhas pelo Juiz antes que seja oportunizada às partes a formulação das perguntas, com a inversão da ordem prevista no art. 212 do Código de Processo Penal, constitui nulidade relativa.
13) A falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo.
14) A ausência do oferecimento das alegações finais em processos de competência do Tribunal do Júri não acarreta nulidade, uma vez que a decisão de pronúncia encerra juízo provisório acerca da culpa.
15) As nulidades existentes na decisão de pronúncia devem ser arguidas no momento oportuno e por meio do recurso próprio, sob pena de preclusão.
16) A instauração de inquérito policial em momento anterior à constituição definitiva do crédito tributário não é causa de nulidade da ação penal, se evidenciado que o tributo foi constituído antes de sua propositura.
17) É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção (Súmula n. 706/STF).
18) A utilização da técnica de motivação per relationem não enseja a nulidade do ato decisório, desde que o julgador se reporte a outra decisão ou manifestação dos autos e as adote como razão de decidir.19) São nulas as provas obtidas por meio da extração de dados e de conversas privadas registradas em correio eletrônico e redes sociais (v.g. whatsapp e facebook) sem a prévia autorização judicial.
20) O compartilhamento de dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art. 6º da Lei Complementar n. 105/2001, mediante requisição direta às instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal, é considerado nulo, para fins penais, se não decorrer de expressa determinação judicial.
*Atualizado em 16.06.2020 #ATENÇÃO #JULGADOIMPORTANTE: #DIZERODIREITO #STF: 1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal para fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional. 2. O compartilhamento pela UIF e pela RFB, referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais desvios. STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral – Tema 990) (Info 962).
9. Jurisprudência
*(Atualizado em 09/11/2020): A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Luiz, auditor da receita estadual, estava sendo investigado por supostamente estar recebendo vantagem indevida (“propina”) para reduzir tributos. Ele não sabia que estava sendo investigado. Determinado dia, Luiz foi preso em flagrante por suposto crime sexual (estupro de vulnerável). Depois de preso, o Ministério Público ofereceu a Luiz e sua irmã a possibilidade de fazer um acordo de colaboração premiada. Eles aceitaram. No acordo, Luiz confessou crimes e delatou infrações penais que teriam sido praticadas por outros colegas auditores da receita estadual. Com base nessas declarações prestadas por Luiz e sua irmã, foi deflagrada a “Operação Publicano IV”, no final de 2015, tendo sido decretada a prisão preventiva de diversos auditores da receita estadual. Em maio de 2016, o Ministério Público constatou que Luiz descumpriu os termos do acordo de colaboração premiada. Isso porque, segundo o Parquet, ele teria mentido e omitido fatos e cometido novos crimes após a celebração do acordo. Assim, o acordo foi rescindido. Em fevereiro de 2017, foi realizado o interrogatório judicial de Luiz. Ele declarou que a rescisão do acordo teria sido arbitrária. Acusou os Promotores “de manipular suas declarações e ocultar todos os vídeos dos depoimentos que havia prestado extrajudicialmente”. Posteriormente, o Ministério Público firmou com Luiz novo acordo de delação premiada, sob a condição de que ele se retratasse das mencionadas acusações e ratificasse as declarações que fizeram parte do acordo rescindido. O segundo acordo foi homologado pelo juiz sob o argumento de que seria apenas um “termo aditivo” do primeiro. A defesa de Gilberto, um dos auditores delatados por Luiz, impetrou habeas corpus alegando, dentre outros argumentos: a) a impossibilidade de se aditar acordo de colaboração premiada rescindido; b) a relevância de o delator Luiz, na audiência realizada em fevereiro de 2017, ter exposto supostas ilegalidades que teriam sido cometidas durante o primeiro acordo de colaboração premiada. A 2ª Turma do STF, por empate na votação, concedeu a ordem de habeas corpus para declarar a nulidade da utilização, como meio de prova, do segundo acordo de colaboração premiada firmado. O colegiado reconheceu a ilicitude das declarações incriminatórias prestadas por Luiz e sua irmã. O relator ressaltou que o estabelecimento de balizas legais para o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para garantir a isonomia e evitar a corrupção dos imputados, mediante incentivos desmesurados à colaboração, e dos próprios agentes públicos, aos quais se daria um poder sem limite sobre a vida e a liberdade dos imputados. É preciso respeitar a legalidade, visto que as previsões normativas caracterizam limitação ao poder negocial no processo penal. No caso de ilegalidade manifesta (evidente) em acordo de colaboração premiada, o Poder Judiciário deve agir para a efetiva proteção de direitos fundamentais. O acordo de colaboração premiada é meio de obtenção de prova. Portanto, trata-se de instituto de natureza semelhante, por exemplo, à interceptação telefônica. O STF reconheceu, várias vezes, a ilegalidade de atos relacionados a interceptações telefônicas. Logo, não há motivo para afastar essa possibilidade em ilegalidades que permeiam acordos de colaboração premiada. STF. 2ª Turma. HC 142205, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 25/08/2020 (Info 988).
*(Atualizado em 04/11/2020): Nulidade reconhecida por dois fundamentos: i) juiz, ao analisar a homologação de colaboração premiada, fez diversas perguntas para reforçar a acusação; ii) juiz, depois das alegações finais, determinou a juntada, de ofício, de documentos utilizados para condenar o réu
Paulo foi condenado pelo então Juiz Federal Sérgio Moro por crimes contra o sistema financeiro nacional, no âmbito da operação que ficou conhecida como “Caso Banestado”. A defesa pediu que o STF reconhecesse que o referido magistrado quebrou a imparcialidade e, portanto, a sentença seria nula. Houve um empate na 2ª Turma do STF e, diante disso, prevaleceu a posição mais favorável ao réu. Assim, foi declarada a nulidade da sentença condenatória proferida nos autos do processo penal, por violação à imparcialidade do julgador. O simples fato de o juiz ter feito a homologação dos acordos de colaboração ou mesmo ter realizado as oitivas dos colaboradores não tem o condão de configurar, por si só, a quebra de sua imparcialidade para o julgamento do réu ao qual imputados ilícitos no âmbito dos respectivos acordos. Todavia, as circunstâncias particulares do caso concreto demonstram que o juiz se investiu na função persecutória ainda na fase pré-processual, violando o sistema acusatório. Ao se analisar as atas de depoimentos, percebe-se uma proeminência (um destaque) para a realização de perguntas feitas pelo juiz ao interrogado. O papel do magistrado era apenas o de fazer o controle da legalidade e voluntariedade do acordo de colaboração premiada. No entanto, o que se percebe pelas perguntas realizadas é que o juiz ultrapassou a mera realização dessa função e atuou diretamente reforçando a acusação. Logo, não houve mera supervisão dos atos de produção de prova, mas o direcionamento e a contribuição do magistrado para o estabelecimento e para o fortalecimento da tese acusatória. Além disso, ao final da instrução, depois das alegações finais, o magistrado ordenou a juntada de documentos diretamente relacionados com os fatos criminosos imputados aos réus, sem pedido do Ministério Público ou da defesa. Depois, ao sentenciar, ele utilizou expressamente tais elementos para fundamentar a condenação. Mesmo que se pudesse invocar, em tese, a possibilidade jurídica da produção de prova de ofício pelo julgador com base no art. 156 do CPP, na situação dos autos, sequer é possível falar verdadeiramente em produção probatória. Os documentos juntados não poderiam ter sido utilizados para a formação do juízo de autoria e materialidade das imputações, uma vez encerrada a instrução processual. STF. 2ª Turma. RHC 144615 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2020 (Info 988).
*(Atualizado em 24/10/2020): O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial
Caso concreto: o Tribunal de Paris solicitou cooperação jurídica em matéria penal, na modalidade auxílio direto, a fim de que fossemrealizadas diversas diligências no Brasil, dentre as quais a oitiva de investigado e busca e apreensão no seu endereço, para subsidiar apuração criminal que ocorre na Justiça da França. O pedido da autoridade francesa foi embasado em Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal, na Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção e na Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional. O pleito foi encaminhado ao Ministério da Justiça do Brasil, que o remeteu ao Procurador-Geral da República o qual, por sua vez, designou Procurador da República atuante no Rio de Janeiro para a execução das diligências. O Membro do Ministério Público Federal requereu o deferimento das medidas assecuratórias ao Juízo da 9ª Vara Federal do Rio de Janeiro, no que foi atendido. O investigado impetrou habeas corpus sustentando a nulidade de sua oitiva porque todas as perguntas foram formuladas direta e exclusivamente pela Autoridade Judiciária francesa que acompanhava o Membro do Ministério Público Federal nomeado para realizar as diligências. O STJ concordou com o pedido da defesa. O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial. Trata-se de ato eivado de nulidade absoluta, por ofensa à soberania nacional, o qual não pode produzir efeitos dentro de investigações penais que estejam dentro das atribuições das autoridades brasileiras. STJ. 6ª Turma. RHC 102.322-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
O agente não pode responder a ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro
O agente não pode responder à ação penal no Brasil se já foi processado criminalmente, pelos mesmos fatos, em um Estado estrangeiro. O art. 5º do Código Penal afirma que a lei brasileira se aplica ao crime cometido no território nacional, mas ressalva aquilo que for previsto em “convenções, tratados e regras de direito internacional”. A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) proíbem de forma expressa a dupla persecução penal pelos mesmos fatos. Desse modo, o art. 8º do CP deve ser lido em conformidade com os preceitos convencionais e a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), vedando-se a dupla persecução penal por idênticos fatos. Vale, por fim, fazer um importante alerta: a proibição de dupla persecução penal em âmbito internacional deve ser ponderada com a soberania dos Estados e com as obrigações processuais positivas impostas pela CIDH.Isso significa que, se ficar demonstrado que o Estado que “processou” o autor do fato violou os deveres de investigação e de persecução efetiva, o julgamento realizado no país estrangeiro pode ser considerado ilegítimo. Portanto, se houver a devida comprovação de que o julgamento em outro país sobre os mesmos fatos não se realizou de modo justo e legítimo, desrespeitando obrigações processuais positivas, a vedação de dupla persecução pode ser eventualmente ponderada para complementação em persecução interna. STF. 2ª Turma. HC 171118/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/11/2019 (Info 959).
A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não implica, por si só, nulidade processual
A ausência de defensor, devidamente intimado, à sessão de julgamento não implica, por si só, nulidade processual. Caso concreto: em ação penal originária que tramitava no TJ, o defensor foi intimado da sessão de julgamento, mas deixou de comparecer e de fazer a sustentação oral; não há nulidade. Intimada a defesa para a sessão de julgamento da ação penal originária, a ausência da sustentação oral prevista no art. 12 da Lei nº 8.038/90 não invalida a condenação. STF. 1ª Turma. HC 165534/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2019 (Info 950).
O advogado do réu delatado deverá, obrigatoriamente, estar presente no interrogatório do corréu delator
O advogado de um réu deverá, obrigatoriamente, estar presente no interrogatório do corréu que com ele responde o mesmo processo criminal? REGRA: não. A presença da defesa técnica é imprescindível durante o interrogatório do réu por ela representado, não quanto aos demais. Assim, é obrigatória a presença do advogado no interrogatório do seu cliente. No interrogatório dos demais réus, essa presença é, em regra, facultativa. EXCEÇÃO: se o interrogatório é de um corréu delator, a presença do advogado dos réus delatados é indispensável. Neste caso, deve-se exigir a presença dos advogados dos réus delatados, pois, na colaboração premiada, o delator adere à acusação em troca de um benefício acordado entre as partes e homologado pelo julgador natural. Normalmente, o delator presta contribuições à persecução penal incriminando eventuais corréus, razão pela qual seus advogados devem acompanhar o ato. Se o advogado do corréu não comparece ao interrogatório do réu delator, haverá nulidade? Depende: • Se o corréu foi delatado no interrogatório e seu advogado não compareceu: sim, haverá nulidade. • Se o corréu não foi delatado no interrogatório: não. Isso porque não houve prejuízo. STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 955).
Em ação penal envolvendo réus colaboradores e não colaboradores, o réu delatado tem o direito de apresentar suas alegações finais somente após o réu que firmou acordo de colaboração premiada
O réu delatado tem o direito de apresentar suas alegações finais somente após o réu delator. Os réus colaboradores não podem se manifestar por último (ou no mesmo prazo dos réus delatados) porque as informações trazidas por eles possuem uma carga acusatória. O direito fundamental ao contraditório e à ampla defesa deve permear todo o processo legal, garantindo-se sempre a possibilidade de a defesa se manifestar depois do agente acusador. Vale ressaltar que pouco importa a qualificação jurídica do agente acusador: Ministério Público ou corréu colaborador. Se é um “agente acusador”, a defesa deve falar depois dele. Ao se permitir que os réus colaboradores falem por último (ou simultaneamente com os réus delatados), há uma inversão processual que ocasiona sério prejuízo ao delatado, tendo em vista que ele não terá oportunidade de repelir os argumentos eventualmente incriminatórios trazidos pelo réu delator ou para reforçar os favoráveis à sua defesa. Permitir o oferecimento de memoriais escritos de réus colaboradores, de forma simultânea ou depois da defesa — sobretudo no caso de utilização desse meio de prova para prolação da condenação —, compromete o pleno exercício do contraditório, que pressupõe o direito de a defesa falar por último, a fim de poder reagir às manifestações acusatórias. STF. 2ª Turma.HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/8/2019 (Info 949).
*(Atualizado em 01/01/2021): #PACOTEANTICRIME: Atenção para a nova redação do artigo 4º, §10-A da Lei de Organizações Criminosas:
§ 10-A Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a oportunidade de manifestar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou. 
É nulo o interrogatório travestido de entrevista realizado pela autoridade policial com o investigado, durante a busca e apreensão em sua residência, sem assistência de advogado e sem a comunicação de seus direitos
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade policial com o investigado, durante a busca e apreensão em sua residência, sem que tenha sido assegurado ao investigado o direito à prévia consulta a seu advogado e sem que ele tenha sido comunicado sobre seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo. Trata-se de um “interrogatório travestido de entrevista”, havendo violação do direito ao silêncio e à não autoincriminação. STF. 2ª Turma. Rcl 33711/SP, Rel. Min.

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