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Capítulo OBJETIVOS Formação de palavras II A formação de novas palavras por prefixação e sufixação 1. Qual o efeito de humor criado pela situação representada no cartum? O efeito de humor é construído a partir de um recurso linguístico. ff Que recurso é esse? 2. Qual a diferença entre os morfemas identificados na palavra ilícito, do ponto de vista do modo como funcionam na língua? 3. Dê exemplos de palavras da língua em que o prefixo i(n)- desem- penha função semelhante à que tem em ilícito. O efeito de humor obtido por Caulos é produzido pela análise que ele faz da palavra ilícito em componentes menores. Essa análise permite jogar com uma parte dotada de significação própria (o radical lícito) e com uma parte que modifica o sentido desse radical (o prefixo i(n)-). Neste capítulo, estudaremos o processo de formação de palavras denominado derivação. Iniciaremos nosso estudo com algumas con- siderações gerais sobre palavras primitivas e derivadas. Formação lexical: palavras primitivas e derivadas Do ponto de vista da sua formação, as palavras da língua portuguesa podem ser consideradas primitivas ou derivadas. Leia atentamente o cartum abaixo. Caulos Palavras primitivas Radicais Palavras derivadas Radicais + prefixos e/ou sufixos 10 Ao final do estudo deste capítulo, você deverá ser capaz de: 1. Diferenciar palavras primitivas de derivadas. 2. Explicar a formação de palavras por derivação. 3. Reconhecer ocorrências de derivação prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria. CAULOS. Só dói quando eu respiro. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 54. Tome nota Palavras primitivas são aquelas que não foram formadas a partir de alguma outra já existente na língua. Os radicais das palavras primitivas permitem a for- mação de novas palavras. Exemplos: flor, pedra, fogo, casa. Palavras derivadas são aquelas que se formam a partir de outras palavras da língua, por meio do acréscimo de morfemas derivacionais (prefixos e/ou sufixos). Exemplos: florescer, empedrar, fogaréu, caseiro. 145 C ap ít u lo 1 0 • or m aç ão d e pa la vr as I I R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . I_plus_gramatica_cap10_D.indd 145 28/09/10 2:35:35 PM Derivação No capítulo anterior, estudamos o processo de composição, em que se associam dois radicais para a formação de uma nova palavra. No processo de derivação, a formação de novas palavras se dá pelo acréscimo de afixos (sufixos e/ou prefixos) a um radical. Os processos de derivação parassintética, regressiva e imprópria serão estudados nas próximas seções. Veremos, a seguir, o que caracteriza a derivação prefixal e a derivação sufixal. Derivação prefixal• az-se a derivação prefixal acrescentando um prefixo à palavra primitiva. Essa operação sempre produz alguma alteração no sentido do radical. Por exemplo, após o acréscimo do prefixo des- à palavra primitiva fazer, tem-se a palavra derivada desfazer. O efeito dessa prefixação é o de negar o conteúdo semântico do verbo fazer, pois o prefixo des- traduz a ideia geral de negação. Outros exemplos semelhantes são: desmontar, desconsiderar, desaparecer. Os prefixos gregos e latinos Os prefixos empregados na derivação das palavras da língua são de ori- gem grega ou latina e podem ser encontrados no Anexo 4 — Prefixos gregos e no Anexo 5 — Prefixos latinos, no final deste livro. Muitas vezes, o acréscimo do prefixo a determinados radicais provoca modificações em sua forma. É o que ocorre, por exemplo, quando o prefixo latino in- é associado a palavras que se iniciam pelas consoantes l, m e r. Nesse contexto fonológico, o prefixo se manifesta como i-, perdendo a nasal final: ilegal, imóvel, irreal. Derivação sufixal• az-se a derivação sufixal acrescentando um sufixo à palavra primitiva. Como na derivação prefixal, o acréscimo de um sufixo sempre produz alguma alteração no sentido do radical. FRANK & ERNEST Bob Thaves Derivação Prefixal Sufixal Parassintética Regressiva Imprópria Tome nota Derivação é o processo de formação de palavras que se faz a partir do acréscimo, a um radical, de prefixos ou sufixos derivacionais (inútil: radical útil + prefixo in-; floreira: radical flor + sufixo -eira). A derivação pode ser prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria. Na tirinha, o substantivo meteoritos é obtido pelo acréscimo do sufixo -ito(s), formador de diminutivos, ao radical meteor(o)-. Com o acréscimo, o sentido original do radical é alterado. Deixa de designar o rastro luminoso presente na atmosfera quando ocorre um atrito entre um asteroide e os gases da atmosfera, e passa a designar um fragmento de um determinado corpo celeste (asteroides, cometas ou restos de planetas desintegrados) que atinge a superfície da Terra. THAVES, Bob. Frank & Ernest. São Paulo: Devir, 2009. p. 6. 146 U n id ad e 3 • In tr od uç ão a os e st ud os g ra m at ic ai s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . I_plus_gramatica_cap10_D.indd 146 28/09/10 2:35:36 PM O efeito de humor da tira é provocado pela proposta de uma origem absur- da para os meteoritos: eles seriam criados pelos espirros dos planetas. Os sufixos podem ser nominais, verbais ou adverbiais, de acordo com o resultado do processo de derivação. São nominais os sufixos que derivam substantivos (-eza, em beleza) e adjetivos (-este, em celeste); são verbais os sufixos que derivam verbos (-icar, em bebericar); é adverbial o sufixo que deriva advérbios (-mente, em apressadamente). Os sufixos do português Podemos formar substantivos, adjetivos, verbos e advérbios a partir do acréscimo de diferentes sufixos aos radicais nominais. A principal característica da derivação sufixal é, portanto, a mudança de classe gramatical. Sufixos nominais Os sufixos nominais juntam-se a radicais nominais (substantivos e adje- tivos) ou verbais para derivar substantivos ou adjetivos ou para derivar as formas aumentativas e diminutivas de substantivos e adjetivos. Nos Anexos 6, 7, 8, 9 e 10 — Sufixos nominais, Anexo 11 — Sufixos aumenta- tivos, Anexo 12 — Sufixos diminutivos e Anexo 13 — Sufixos verbais você encon- trará os quadros referentes aos principais sufixos utilizados na língua. Exemplificamos, a seguir, como o emprego de sufixos nominais possibilita a formação de novas palavras ou leva à mudança de grau (aumentativo ou diminutivo) de termos já existentes. Classe original Palavra original Sufixo Termo resultante Nova classe/flexão substantivo papel dinheiro tinta reitor -ada -ama -eiro -ia papelada dinheirama tinteiro reitoria substantivo adjetivo cruel rico velho -dade -eza -ice crueldade riqueza velhice substantivo verbo jogar trair pintar ferir -dor -ção -ura -mento jogador traição pintura ferimento substantivo substantivo Alemanha barba corpo céu Lutero -ão -ado -ento -este -ano alemão barbado corpulento celeste luterano adjetivo verbo fugir pensar durar -io -ivo -ouro fugidio pensativo duradouro adjetivo substantivo boca cão burro lembrança parede -inha -inho -ico -ete -ão boquinha cãozinho burrico lembrete paredão substantivo (grau diminutivo ou aumentativo) adjetivo bobo grande rico -inho -alhão -aço bobinho grandalhão ricaço adjetivo (grau diminutivo ou aumentativo) Conteúdo digital Moderna PLUS http://www.modernaplus.com.br Filme: trecho de Saneamento básico, o filme, de Jorge Furtado. 147 C ap ít u lo 1 0 • or m a o de p al a ra s R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt . 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . I_plus_gramatica_cap10 REIMPRESSÃO.indd 147 2/9/11 3:28:21 PM