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TERRA ROXA 2021 l GRUPO EDUCACIONAL FAVENI RAÍSSA MARELLI PELISSARI PENSÃO ALIMENTÍCIA TERRA ROXA 2021 RAÍSSA MARELLI PELISSARI GRUPO EDUCACIONAL FAVENI PENSÃO ALIMENTÍCIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Futura – Grupo Educacional Faveni, como requisito parcial para obtenção do título de PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PENSÃO ALIMENTÍCIA Raíssa Marelli Pelissari1 1Pós Graduanda em Direito Processual Civil, Faculdade FUTURA, raissa-marelli@hotmail.com RESUMO – A pensão alimentícia é uma prestação paga ao necessitado que não possui condições de se subsidiar sozinho. Esta prestação tem como objetivo custear as despesas com alimentação, educação, saúde, entre outras necessidades vitais do necessitado. É fixada conforme a necessidade do alimentado e a possibilidade do alimentante, sendo assim, o devedor irá contribuir conforme seus recursos. São características dos alimentos a natureza personalíssima, irrenunciabilidade, impenhorabilidade e periodicidade. Ainda, os alimentos são irrenunciáveis e imprescritíveis. No caso de inadimplência da pensão alimentícia pode ocorrer a prisão civil, sendo esta decretada pelo juiz. Para que cesse o dever de alimentar existem algumas causas, sendo que é preciso ingressar no judiciário com a Ação de exoneração. PALAVRAS-CHAVE: Alimentos. Pensão alimentícia. Necessidade. Possibilidade. 4 1 INTRODUÇÃO A pensão alimenticia possui previsão legal no Código Civil, precisamente nos artigos 1.694 a 1.710 , no subtítulo III que trata sobre os alimentos. O presente estudo trata-se da pensão alimentícia, bem como irá trazer conceitos presentes na doutrina brasileira, ainda, as características dos alimentos. Posteriormente será analizado todos os pressupostos da obrigação de alimentar, sendo um exemplo o vínculo jurídico familiar. Por fim, será explanado sobre a extinção da obrigação alimentar, tema este que sempre desperta dúvida e discussão entre o alimentante e alimentado. Enfim, este artigo científico será finalizado com a conclução sobre o tema. Este tema é de grande relevância para a sociedade, pois muitos não sabem que possuem o direito a pensão alimentícia, ou, quando adquirem este direito, muitas vezes o mesmo não é usufluído de forma integral. Por este motivo, o objetivo deste trabalho é esclarecer este direito para que mais pessoas possam ter acesso a ele. 2 DOS ALIMENTOS A legislação brasileira não traz um conceito sobre alimentos, cabendo a doutrina esta importante definição. Sobre o conceito de alimentos, disse de forma completa e objetiva Lobô (2018, p.270): Alimentos, em direito de família, tem o significado de valores, bens ou serviços destinados às necessidades existenciais da pessoa, em virtude de relações de parentesco (direito parental), quando ela própria não pode prover, com seu trabalho ou rendimentos, a própria mantença. Também são considerados alimentos os que decorrem dos deveres de assistência, em razão de ruptura de relações matrimoniais ou de união estável, ou dos deveres de amparo para os idosos (direito assistencial). Os alimentos podem ser em dinheiro, também denominados pensão alimentícia, e in natura, ou naturais, como a entrega de imóvel para moradia e de coisas para consumo humano. O adimplemento da obrigação pode ser direto (quantia em dinheiro) ou indireto (pagamento das mensalidades escolares, de clubes, de academia de ginástica etc.). Ainda sobre o conceito definiu Madaleno (2018, p.418): 5 Na seara dos alimentos dos filhos a doutrina estabelece pertinente diferença entre os conceitos de dever e de obrigação alimentar. O dever alimentar tem origem distinta da obrigação de sustento, pois se vincula ao poder familiar, ao parentesco das pessoas menores e incapazes. No pertinente ao conceito de obrigação alimentar figuram os parentes de graus mais distantes, como avós e irmãos e também os filhos maiores e capazes e fora do poder familiar. De forma resumida, podemos definir direito a alimentos a tudo aquilo que é necessário para que um ser humano se mantenha com vida, mas não pura e simplesmente vida, é assegurado por lei uma vida digna. A fixação dos alimentos deve respeitar o binômio necessidade versus possibilidade, ou seja, de acordo com a necessidade daquele que receberá a verba alimentar e as condições do alimentante. A contribuição se dará na proporção de seus recursos, conforme preve o artigo 1.703 do Código Civil “Para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos.” (BRASIL, 2015). As condições do alimentante e alimentado podem sempre mudar, por este motivo, sempre que necessário é possível rever o valor da pensão alimentícia. É por meio da ação revisional de alimentos que este valor pode ser revisto. 2.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS O direito a receber alimentos possui natureza personalíssima, ou seja, é pessoal e instransferível, não podendo ser transferido a terceiros. O artigo 1.707 do Código Civil prêve outra característica dos alimentos, a irrenunciabilidade, “ Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.” (BRASIL, 2002). Entretanto, existe uma possibilidade de renúncia do direito a alimentos, no caso dos ex-cônjuges haverem ficado com uma quantidade de bens suficientes para se manterem quando se divorciarem. Os alimentos são irrepetíveis, pois uma vez pagos não retornam ao alimentante, com apenas uma exceção, no caso de erro sobre a pessoa. Sendo assim, o alimentando não tem como cobrar do alimentado e este não é obrigado a restituí-lo. Outra caracteristica é a impenhorabilidade, os alimentos não podem ser penhorados, se assim fossem perderiam sua função, que é contribuir para a 6 sobrevivência do alimentado. São imprescrítiveis, conforme discorre Lobô (2018, p.272): A pretensão aos alimentos nunca prescreve. Prescreve, contudo, em dois anos a pretensão para haver as prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem, por força do art. 202, § 2º, do Código Civil, que reduziu o prazo da legislação anterior (cinco anos). Assim, a prescrição é aplicável a cada prestação periódica, sendo exigíveis todas as vencidas dentro dos últimos dois anos. Tambem são periódicos, não sendo possível o pagamento de uma só vez. Geralmente, como no caso da pensão alimentícia, os alimentos são pagos mensalmente, sendo assim viável para que o necessitado possa administrar bem este benefício. 3 PENSÃO ALIMENTÍCIA Possui previsão legal nos artigos 1.694 a 1.710 do Código Civil, e é cabível quando alguém não consegue sobreviver por si só, sendo assim, os parentes prestam este auxílio chamado pensão alimentícia. Neste sentido afirma Madaleno (2018, p.1340): Trata-se de um mínimo familiar existencial intributável, dado que os alimentandos têm gastos imprescindíveis para a sua vida ordinária e não são geradores de rendas tributáveis, pois não são prestadores de serviços e não podem suportar a elevada carga fiscal, que compromete seu custo de vida e o bem-estar social que incide sobre o seu nível de vida, pois considera o montante da pensão alimentícia como um valor mínimo de existência afinada com a dignidade humana, e conta com o total dos alimentos para atendimento exclusivamente das necessidades de subsistência, não havendo sobras para uma bitributação. O autor cita a dignidade humana, este entre outros são principios que regem a obrigação alimentar. O princípio da dignidade da pessoa humana merece destaque, pois é um macroprincípio, sendo um direito fundamental. Seu conceito varia de acordo com o costume de cada povo, maspode ser definido como a garantia das necessidades básicas de cada indivíduo. O nome traz o termo “alimentícia”, mas esta pensão não se limita ao pagamento de alimentos somente, mas sim de tantas outras necessidades, como moradia, educação e saúde. 7 Possui o direito de receber pensão alimentícia os filhos menores de 18 anos, maiores até 24 anos, desde que estejam estudando um curso ou faculdade, ex-cônjuge ou ex- companheiro, gestantes e parentes próximos que necessitem comprovadamente deste auxílio. 3.1 INADIMPLÊNCIA DA PENSÃO ALIMENTÍCIA Ocorre a inadimplência quando aquele que possui a obrigação de pagar a pensão alimentícia ao necessitado deixa de o fazer. Devido a inadimplência pode ocorrer a prisão civil, sendo decretada pelo juiz quando o devedor deixar de pagar a pensão no período dos três últimos meses. A prisão somente ocorrerá quando o devedor não tiver patrimônio ou quando não for apresentada um justificativa plausível do não pagamento. A prisão por não pagamento de pensão alimentícia é prevista no artigo 528 do Código de Processo Civil, que dispõe: Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. § 1º Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517 . § 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade absoluta de pagar justificará o inadimplemento. § 3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. § 4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns. § 5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas. § 6º Paga a prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da ordem de prisão. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art517 8 § 7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo. § 8º O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância da prestação. § 9º Além das opções previstas no art. 516 , parágrafo único, o exequente pode promover o cumprimento da sentença ou decisão que condena ao pagamento de prestação alimentícia no juízo de seu domicílio. A ação de alimentos possui rito especial, sendo regulamentada pela Lei 5.478/68. O artigo 517 do Código de Processo Civil referido no artigo de Lei acima, refere-se a possibilidade de protestar a sentença transitada em julgado. 3.2 EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS Muitos acreditam que a obrigação cessa quando o alimentado completa 18 anos, ou seja, adquire a maioridade civil. Entretanto, o que se extingue neste momento é o poder familiar. Neste sentido discorreu Madaleno (2018, p. 418): A maioridade civil não obsta aos filhos prosseguirem como credores de alimentos, agora não mais por vínculo do poder familiar e pela presunção absoluta de necessidade, mas gerando, doravante, uma obrigação condicional de alimentos, decorrente da relação de parentesco e da permanência de sua dependência alimentar, provavelmente porque seguem seus estudos para o seu completo preparo profissional. O Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 358 para sujeitar à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos, o cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade. Para que ocorra a extinção da obrigação alimentar é necessária uma decisão judicial, sendo assim, não se extingue de forma automática. A ação a ser proposta denomina-se Ação de Exoneração, e de acordo com a Súmula n. 358 o pedido está sujeito a contraditório. Uma das causas de extinção da obrigação alimentar é a maioridade, no entanto, caso o filho comprove que não é capaz de se subsidiar sozinho ou seja estudante, a pensão alimentícia é extendida. Importante ressaltar que esta extinção nunca é definitiva, pois a decisão do juiz não faz coisa julgada, podendo novamente ser concedida a pensão alimentícia caso o http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art516 9 beneficiado venha a necessitar novamente deste auxílio. Outra causa é a morte do alimentante ou do alimentado, explicou do seguinte modo o autor Lobô (2018, p. 283): A morte de qualquer das partes da obrigação alimentar leva, em princípio, à extinção desta por sua natureza personalíssima, mas é transmissível aos herdeiros do alimentante, até às forças da herança. Falecendo o alimentando, seu direito não se transmite aos herdeiros, porque os alimentos tinham por finalidade manter aquele, e tal finalidade deixou de existir. Mas as prestações alimentícias anteriores ao falecimento do alimentando e que lhe não foram adimplidas transmitem-se aos herdeiros, porque já tinham se convertido em direito integrante de seu patrimônio. Contrair novo matrimônio ou união estável ocasiona a extinção, sendo até mesmo um fundamento moral, pois a constituição de nova entidade familiar rompe a ligação que havia com a obrigação alimentar anterior. As relações amorosas que não configuram constituição de família, não exoneram o devedor de alimentos. No caso do credor ser indigno de receber alimentos pode haver a cessação da obrigação. Neste caso também deve haver a Ação de Exoneração, e o Juiz pode determinar a redução do valor a ser pago, ao invés da extinção. Sobre este tipo de cessação disse a doutrinadora Dias (2016, p. 993): Em mais um dispositivo busca o legislador punir o credor dos alimentos: o procedimento indigno para com quem lhe presta alimentos faz cessar o direito (CC 1.708 parágrafo único). O conceito de indignidade deve ser buscado nas causas que dão ensejo ou à revogação da doação (CC 557) ou à declaração de indignidade do herdeiro para afastar o direito à herança (CC 1.814). A postura indigna tanto impede a concessão dos alimentos como serve de justificativa para pleitear a exoneração. Pode ser considerado casos de indignidade a tentativa de homicídio contra o alimentante e seus ascendentes ou descendentes, acusação caluniosa ou cometimento de crime contra a honra do alimentante, utilizar meios fraudulentos para obter alimentos, ofensas físicas, relacionar-se ilicitamente com familiares do alimentante e por fim, desamparar os descendentes que possuem alguma deficiência ou seja enfermo. A última hipótese é a reversão da guarda dos filhos, pois os beneficiários no caso da pensão alimentícia são os filhos, sendo assim, caso a guarda passe de um genitor para outro, nada mais justo que a exoneração de alimentos. 10 4 MATERIAL E MÉTODOS O objeto de estudo foi o instituto da pensão alimentícia, sendo este inserido no Código Civil e em Lei Especial. Este instituto é caracterizado pelo auxílio concedido para os que não possuem condições de se sustentarem sozinhos. Esta pesquisa foi realizada por meio de consulta a diversas doutrinas e analise do Código de Processo Civil e Código Civil. A metodologia utilizada foi o métododedutivo, em que utiliza-se a dedução para se chegar a uma conclusão, sendo esta ao final verdadeira. 11 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Por meio da pesquisa jurídica sobre pensão alimentícia obteve-se diversos resultados, bem como muito conhecimento. Resultou-se a que este instituto é de extrema relevância para toda a sociedade, em especial para aqueles que não conseguem se subsidiar sozinhos. Também é um tema muito abrangente, pois falar de pensão alimentícia não refere-se somente a pensão que o genitor ou a genitora deve ao filho. Tratar sobre este assunto engloba princípios, conceitos e diversos artigos de Lei. O resultado final é a percepção de que ainda é preciso muitos estudos sobre este tema, a fim de que ele seja melhor usufruído, principalmente para os que possuem este direito e ainda não tiveram acesso ao mesmo. 12 6 CONCLUSÃO Conclui-se com esta pesquisa que sem este instituto da pensão alimentícia muitas pessoas, incluindo crianças e adultos, estariam em situação precária. Pois a pensão alimenticia não é somente um auxílio para adquirir alimentos, mas também para tudo o que for necessário para que se tenha uma vida digna. Para que se obrigue o devedor a cumprir com tais obrigações existe a prisão civil do devedor, embora seja uma medida mais rígida, se faz necessária para que o necessidado tenha este auxílio. Por fim, é concluso que a legislação citada no decorrer da pesquisa é quem define todos os detalhes sobre o direito a alimentos, especialmente a Lei Especial 5.478/1968. 13 4 REFERÊNCIAS BRASIL. Código de Direito Civil. Planalto. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. BRASIL. Código de Processo Civil. Planalto. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 21 jun. 2021. DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. LOBÔ, Paulo. Direito Civil: Famílias. 8. ed. São Paulo: Saraiva. 2018. MADALENO, Rolf. Direito de Família. 8. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm