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do pagamento e lugar de pagamento

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DIREITO CIVIL II:
DIREITO DAS 
OBRIGAÇÕES
Magnum Eltz
Revisão técnica:
Gustavo da Silva Santanna
Bacharel em Direito
Especialista em Direito Ambiental Nacional 
e Internacional e em Direito Público
Mestre em Direito
Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito 
Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin — CRB 10/2147
D597 Direito civil II: direito das obrigações [recurso eletrônico ] / 
Marcelo Neves Schneider... [et al.]; [revisão técnica: 
Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH,
2018.
ISBN 978-85-9502-538-7
1. Direito civil. 2. Obrigações (Direito). I. Schneider,
Marcelo Neves.
CDU 347.4
1_Iniciais.indd 2 23/08/2018 11:40:18
Do pagamento: lugar e 
tempo do pagamento
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Explicar onde se deve efetuar o pagamento.
  Analisar quando se deve pagar.
  Explorar a jurisprudência e as normas acerca do lugar e tempo do 
pagamento.
Introdução
O pagamento, em regra, deve ser efetuado no domicílio do devedor. 
Porém, há exceções admitidas no ordenamento jurídico. O tempo do 
pagamento se refere à possibilidade da sua exigibilidade, que pode ser 
imediatamente exigível ou estar vinculada a um termo ou uma condição. 
Neste capítulo, você vai ler sobre a figura do pagamento direto, o seu 
tempo e lugar, pois, para que seja eficaz, deve ser efetuado seguindo 
as regras estabelecidas em lei ou em contrato. Você fará uma análise 
das decisões dos tribunais sobre o pagamento, tempo e lugar do adim-
plemento das obrigações. Além disso, serão abordadas as tendências 
jurisprudenciais nesse aspecto.
Lugar do pagamento
O lugar de pagamento “[...] é o local do cumprimento da obrigação, em re-
gra estipulado no título constitutivo do negócio jurídico, ante o princípio 
de liberdade de eleição” (DINIZ, 2002, p. 223). Como se extrai da doutrina 
italiana de Massimo Bianca — e isso se aplica também ao Brasil —, o lugar do 
pagamento pode ser específi co ou um âmbito territorial. O jurista exemplifi ca 
com a obrigação de não exercitar atividades de concorrência em determinado 
território regional (BIANCA, 2004).
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 131 22/08/2018 13:34:41
Como regra, os instrumentos obrigacionais estipularão o domicílio no 
qual as obrigações deverão ser cumpridas, determinando também, de forma 
implícita, a competência do juízo no qual a ação será proposta, em caso de 
inadimplemento da obrigação (TARTUCE, 2018).
Conforme leitura do art. 327 do Código Civil, como regra, as dívidas são 
quesíveis, isto é, devem ser pagas no domicílio do devedor: “Art. 327 Efetuar-
-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem 
diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou 
das circunstâncias” (BRASIL, 2002, documento on-line). Entretanto, é facul-
tado às partes acordarem para que a dívida seja portable, isto é, seja paga no 
domicílio do credor da obrigação. 
Ressaltamos que, segundo o parágrafo único do mesmo artigo, se ficarem 
estipulados dois lugares para o pagamento, o credor pode escolher qualquer 
um deles:
O princípio fundamental, aqui, é o respeito à convenção, que permite livre-
mente se ajuste onde o devedor tem de cumprir, assentando-se o primado 
da vontade das partes como fundamental e decisivo na fixação do lugar em 
que o pagamento tem de ser feito. Na falta de estipulação, presume-se que 
o devedor deve prestar no seu próprio domicílio, salvo se as circunstâncias 
ou a lei dispuserem o contrário (Código Civil de 2002, art. 327). Mas, se 
houver designação de mais de um lugar, cabe ao credor optar por qualquer 
deles. O artigo 327 do Código contraria disposição do Projeto de Código de 
Obrigações de 1965, que optava pelo domicílio do devedor, atendendo a que 
a indecisão ou a menção alternativa no título não deveria agravar a situação 
do devedor. Tem ainda relevância a resposta à indagação se para evidenciar 
a adimplência tem o devedor de procurar o credor para solver ou se cabe a 
este vir em demanda do recebimento pelo Direito brasileiro, a presunção é 
que o pagamento é quesível, isto é, deve ser procurado pelo credor (dívida 
quérable ou chiedibile), salvo se tiver ficado convencionado o contrário, vale 
dizer que pelo ajuste cumpre ao devedor oferecer o pagamento ao credor 
(dívida portável, portable ou portabile). Ilide-se, também, a presunção, se as 
circunstâncias inequivocamente autorizarem a conclusão de que o devedor 
renunciou ao direito de efetuar o pagamento no seu domicílio. Já em outros 
sistemas não vigora idêntico princípio. No italiano, as somas de dinheiro 
constituem debiti portabili, enquanto outros casos, como o de restituição de 
coisa certa, são de debiti chiedibili (PEREIRA, 2018, p. 181). 
Essa regra foi estabelecida em razão do princípio da menor onerosidade. 
Portanto, se um devedor domiciliado em Santa Catarina deve a um credor 
domiciliado no Pará, ele efetuará o pagamento no seu domicílio, evitando o 
maior ônus para o devedor:
Do pagamento: lugar e tempo do pagamento132
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 132 22/08/2018 13:34:41
a) Obrigação quesível ou quérable — situação em que o pagamento deverá 
ocorrer no domicílio do devedor. De acordo com a lei, há uma presunção 
relativa de que o pagamento é quesível, uma vez que o sujeito passivo deve 
ser procurado pelo credor em seu domicílio para efetuar o pagamento, salvo 
se o instrumento negocial, a natureza da obrigação ou a lei impuserem regra 
em contrário (art. 327, caput, do CC). Assim, “a Lei adjetiva civil, em seu 
artigo 327, encerra uma presunção (legal). Não havendo contratação específica 
quanto ao local do cumprimento da obrigação, esta será considerada quesível, 
ou seja, o credor, quando do vencimento, deve dirigir-se até o domicílio do 
devedor para receber o pagamento que lhe é devido. A própria natureza da 
obrigação sub judice não autoriza o reconhecimento de que o local de seu 
cumprimento seria o domicílio do credor” (BRASIL, 2011, documento on-line). 
A obrigação portável, ou portable, é a situação em que se estipula, por força do ins-
trumento negocial ou pela natureza da obrigação, que o local do cumprimento da 
obrigação será o domicílio do credor. Eventualmente, também recebe essa deno-
minação a obrigação cujo pagamento deva ocorrer no domicílio de terceiro. Nesses 
casos, o sujeito passivo obrigacional deve levar e oferecer o pagamento a esses locais 
(TARTUCE, 2018).
Quando a dívida for relativa à prestação de imóvel ou que consista em 
prestações a serem cumpridas no imóvel, o art. 328 do Código Civil traz solução 
distinta. Assim, nessas hipóteses, o pagamento deve ser efetuado no local da 
situação do imóvel. Concluímos que, se o pagamento for, por exemplo, um 
reparo na fiação elétrica de uma casa, o local do cumprimento da obrigação 
é o lugar da situação do bem.
Também suporta brecha aquela regra geral no caso específico em que a 
natureza da prestação determina o local da solutio: se o pagamento consiste 
na tradição de um imóvel ou em prestações relativas a imóvel, será feita no 
lugar da sua situação (art. 328 do Código Civil de 2002), acrescentando a 
doutrina que as prestações relativas a imóveis devem compreender aquelas 
que se realizam diretamente nele, como serviços em determinado terreno, 
reparações em edifícios, tradição de uma servidão, mas não ficam abrangidas 
outras, como o aluguel, pois nada justifica que se pague compulsoriamente 
no lugar da situação:
133Do pagamento: lugar e tempo do pagamento
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 133 22/08/2018 13:34:41
O artigo 328 do Código Civil de 2002 repete literalmente o seu congênere do 
Código de 1916, não obstante todas as imperfeições que contém. O princípio 
significa que a obrigação cujo cumprimento consiste na tradição de um imóvel 
executa-se no lugar de situação dele, pois que em outro lugar ele não se pode 
achar. A referência às “prestaçõesrelativas a imóvel” no Código revogado 
fora muito criticada, porque nem toda prestação relativa a imóvel se efetua 
no lugar de situação dele, exemplificando-se com os aluguéis, que não são 
obrigatoriamente pagáveis no lugar da situação; somente as que se realizam 
diretamente nele. Por extensão, o disposto quanto aos imóveis é de se aplicar 
à traditio de coisa móvel, que consiste em corpo certo, e é por natureza, ou 
por força das circunstâncias, mantida em determinado lugar (PEREIRA, 
2018, p. 182).
Dessa forma, o cumprimento da obrigação tem um lugar próprio para ser 
efetuado. Entretanto, se o lugar colocar em risco a integridade do devedor ou 
for de difícil acesso, o art. 329 do Código Civil autoriza que o cumprimento 
da obrigação ocorra em outro local. Portanto, em situações de calamidade 
pública, catástrofes naturais, violência extrema, entre outras, o devedor pode 
pagar em outro lugar, previamente informado ao credor.
Obrigado o devedor a pagar no domicílio do credor, ou em outro lugar deter-
minado, aí deve fazê-lo. Se, no entanto, for efetuada iterativamente a solutio 
em local diverso, sem que o credor oponha qualquer ressalva, presume-se que 
renunciou o direito de receber no local convencionado (Código Civil de 2002, 
art. 330). Cuida-se de hipótese específica do princípio da boa-fé objetiva e da 
vedação ao abuso de direito diante da presunção de que o credor renunciou ao 
local convencionado: é a supressio, ou seja, a eliminação de uma faculdade 
jurídica decorrente de condutas do titular que criaram na outra parte legítima 
expectativa quanto ao seu não exercício. Reversamente, se estabelecido que 
se faça no domicílio do devedor, se o credor o exigir em lugar diferente, e o 
devedor se não opuser, considera-se perfeita a solutio, descabendo repetição 
de pagamento, por se entender que houve, da parte do solvens, renúncia ao 
benefício (PEREIRA, 2018, p. 183).
Para finalizar o tema relativo ao lugar do pagamento, o art. 330 do Có-
digo Civil determina que, se o pagamento for reiteradamente aceito em lugar 
diverso do acordado, representa uma espécie de anuência tácita por parte do 
credor na mudança do lugar do pagamento. Trata-se de uma concretização 
do princípio da boa-fé, pois cria no devedor a expectativa de anuência do 
credor na mudança.
Do pagamento: lugar e tempo do pagamento134
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 134 22/08/2018 13:34:41
Para as notas promissórias, prevalece a regra geral de que a vontade das partes é livre 
na escolha do lugar do pagamento, mediante a sua simples menção no título. Omitida, 
porém, considera-se este pagável no domicílio do emitente (art. 54 do Decreto nº. 
2.044, de 31 de dezembro de 1908), o que tem importância para a constituição do 
devedor em mora com a tirada do protesto, bem como para definir a competência 
do foro em que será o devedor demandado (PEREIRA, 2018).
Tempo do pagamento
Conforme Pereira (2018, p. 184):
A questão do tempo, no cumprimento da obrigação, é das mais relevantes, e 
alia o interesse teórico à importância de sua repercussão prática. Já o sentira 
a lógica romana, ao equiparar o retardamento na solução a uma verdadeira 
inadimplência. Claro é que às partes reserva a lei o principal papel na sua 
determinação, deixando-lhes o arbítrio de fixar o momento em que a obriga-
ção é exigível. Na falta de ajuste e na ausência de disposição especial na lei, 
de que resulte o termo decorrente da própria natureza da obrigação, é esta 
exigível imediatamente (Código Civil de 2002, art. 331), pois quod sine die 
debetur statim debetur. A instantaneidade da exigência ou da exigibilidade 
não constitui surpresa para o devedor, porque se a ele cabia defender-se com 
a estipulação de um prazo, e não o fez, sibi imputet e não se queixe da falta 
de intervalo entre a constituição e a execução do obrigado. Pelo nosso direito 
anterior, acreditava-se vexatório o imediatismo da exigibilidade e impunha-se 
ao credor um tempo de espera de dez dias. Outros Códigos admitem o decurso 
de um tempo razoável para a execução. Pelo Código de 1916 estatuiu-se a 
pronta exigibilidade, sempre que a vontade não a afastar, ou o contrário não 
resultasse de disposição legal. A instantaneidade é, com efeito, arredada pela 
própria natureza da prestação, quando ocorre incompatibilidade entre a sua 
realização e a própria obrigação. Embora sem prazo, ninguém dirá que um 
trabalho complexo possa de pronto ser exigido, se a sua execução mesma 
demanda tempo; o que aluga ou empresta uma coisa para determinado fim 
não pode reclamar a sua restituição antes de preenchido; quem encomenda 
mercadoria a ser entregue em praça diversa não pode tê-la à mão no mesmo 
instante em que a obrigação se constitui; quem empresta dinheiro ou pro-
dutos agrícolas há de esperar o prazo de 30 dias ou até a próxima colheita, 
respectivamente. Nestas e noutras hipóteses, a ausência de determinação do 
momento da execução impõe, contudo, ao credor um termo suspensivo da 
exigibilidade da prestação, ao qual se poderia dar o nome de termo moral, 
que o credor deve respeitar.
135Do pagamento: lugar e tempo do pagamento
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 135 22/08/2018 13:34:41
O art. 331 do Código Civil estabelece que, se não vier estipulado no título 
constitutivo da obrigação, esta será imediatamente exigível. Portanto, se nada 
constar sobre o momento do cumprimento da obrigação, o pagamento deve 
ser feito imediatamente, satisfazendo o credor da obrigação.
A disposição do Código é favorável ao credor. Se, porém, na falta de termo 
certo, o devedor tiver interesse em efetuar o pagamento, pode requerer ao 
juiz a intimação daquele, para que lhe fixe a época do pagamento efetuando 
o devedor o pagamento antes do termo estabelecido, não tem direito a repeti-
-lo, presumindo-se que o fez voluntariamente, mesmo se alegar ignorância 
do termo instituído a seu favor (PEREIRA, 2018, p. 184).
As obrigações condicionais, vinculadas à ocorrência de um evento futuro 
e incerto, só se tornam exigíveis no momento do implemento da condição 
suspensiva. Assim, se um pai celebra com um filho um contrato de doação 
de um automóvel caso o filho seja aprovado no vestibular para determinado 
curso, a obrigação só se torna exigível se o filho conseguir ingressar em tal 
curso. Sobre o tema, Pereira (2018, p. 185) afirma o seguinte:
Se a obrigação é condicional, somente poderá demandar-se após o implemento 
da condição, cumprindo ao credor a prova de sua ciência pelo devedor (Código 
Civil de 2002, art. 332). Quando a obrigação é a termo, não é lícito ao credor 
reclamar seu cumprimento antes do respectivo advento, sob pena de ser 
classificado seu procedimento como ilícito, e obrigado a esperar o que faltava 
para o vencimento, bem como descontar os juros correspondentes ao tempo da 
antecipação e a pagar as custas do processo em dobro (Código Civil de 2002, 
art. 939). De grande importância será, na obrigação a prazo, assentar se se 
trata de termo essencial ou não essencial, pois que, no primeiro caso, não pode 
mais o devedor pagar após o decurso do prazo, enquanto no segundo é lícito 
solver, mesmo depois de sua expiração. Para distinguir um do outro, cumpre 
indagar se a prestação é querida para um determinado momento ou se foi 
fixado o quando da solutio em tais moldes, que as circunstâncias autorizariam 
o recebimento mesmo depois de escoado. Positivá-lo é relevante para o desate 
das questões relativas à resolução dos contratos, pois que à essencialidade 
do termo se liga a rescisão pleno iure, o que se não dá na hipótese reversa.
O art. 332 do Código Civil estabelece que as obrigações condicionais se 
cumprem na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de 
que deste teve ciência. A regra diz respeito às obrigações sujeitas à condição 
suspensiva. A condição resolutiva permite ao credor, desde logo, o exercício 
do direito, ou seja, pode o accipiens exigir o imediato pagamento.
Do pagamento: lugar e tempo do pagamento136Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 136 22/08/2018 13:34:41
Suponha que uma empresa se comprometa a pagar um prêmio ao fun-
cionário que conseguir bater determinada meta. O funcionário que alcançar 
o patamar desejado pode, imediatamente, exigir o prêmio, pois ocorreu o 
implemento da condição suspensiva:
Decai o devedor do benefício do termo instituído a seu favor, e tem, portanto, 
o credor o direito de exigir a solução antes do vencimento, em casos excepcio-
nais, que o artigo 333 do Código Civil de 2002 menciona. Convém, todavia, 
ressalvar que a referência ao “concurso de credores” deve ser recebida com a 
cautela necessária. O Código Civil mantém o instituto de concurso creditório 
e o Código de Processo Civil dele cogita, ao aludir à entrega do dinheiro. 
Por outro lado, instituiu a insolvência civil, quando disciplinou a execução 
por quantia certa contra devedor insolvente no diploma processual civil de 
1973. Embora a isto se não refira, é um caso de extensão legal de vencimento 
antecipado das obrigações, análogo às alíneas I e II. A penhora do bem dado 
em garantia real e a cessação ou insuficiência de garantias importam em perda 
ou em redução da segurança do credor quanto ao recebimento, o que só por 
si justifica não tenha de aguardar o vencimento da dívida para procurar obter 
a solução da obrigação. Além dos casos legais de vencimento antecipado da 
dívida, é lícito estipular outros, em cuja ocorrência tem direito o credor a 
exigir o seu pagamento antes do termo. A inexecução no tempo devido implica 
mora do devedor, e sujeita-o às consequências dela (PEREIRA, 2018, p. 187).
Podemos perceber, então, que a obrigação será exigível imediatamente se 
não estiver vinculada a nenhuma condição ou a nenhum termo (evento futuro 
e certo, datas, por exemplo). Porém, excepcionalmente, a obrigação poderá 
ser exigida de forma antecipada, nas hipóteses previstas no rol do art. 333 
do Código Civil:
Art. 333 [...]
I — no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; 
II — se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução 
por outro credor; 
III — se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, 
fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las (BRASIL, 
2002, documento on-line).
Os casos previstos no art. 333 do Código Civil autorizam a antecipação do 
pagamento quando o credor tenha fundado temor de que o devedor não terá 
condições de cumprir a obrigação no prazo avençado. 
137Do pagamento: lugar e tempo do pagamento
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 137 22/08/2018 13:34:41
Nas obrigações solidárias passivas, a ocorrência de alguma das situações 
anteriormente enumeradas com relação a um dos devedores solidários não 
determinará o vencimento antecipado da dívida no que diz respeito aos 
demais devedores solventes. 
Imagine que uma empresa se comprometeu a pagar ao empregado que atingisse 
determinada meta o valor X (condição suspensiva). Atingida a meta, o obreiro poderá, 
desde logo, exigir o pagamento.
Entendimento dos tribunais sobre a matéria
O tema a ser discutido nos tribunais está relacionado ao princípio da boa-fé, 
materializado no art. 330 do Código Civil, que tem a seguinte redação: “Art. 330 
O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor 
relativamente ao previsto no contrato” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Aqui a relação é com o princípio da boa-fé objetiva, com a eticidade. 
Quando se estuda a boa-fé objetiva, surgem conceitos inovadores, relacionados 
com a integração do contrato e da obrigação (conceitos parcelares). Dois desses 
conceitos são a supressio e a surrectio, que estão previstos nesse art. 330 do 
Código Civil, expostos por António Manuel da Rocha e Menezes Cordeiro (2001).
Inicialmente, quanto à supressio (Verwirkung), esta significa a supressão, 
por renúncia tácita, de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não 
exercício com o passar dos tempos. Pelo art. 330 do Código Civil, caso tenha 
sido previsto no instrumento obrigacional o benefício da obrigação portável 
(cujo pagamento deve ser efetuado no domicílio do credor) e havendo o cos-
tume de o credor receber no domicílio do devedor, a obrigação passará a ser 
considerada quesível, aquela cujo pagamento deve ocorrer no domicílio do 
sujeito passivo da relação obrigacional (TARTUCE, 2018).
O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR) firmou entendimento 
sobre o tema na seguinte decisão:
Obrigação propter rem. Natureza obrigacional. Competência do lugar do pa-
gamento. Pagamento reiteradamente realizado no foro de Curitiba. Renúncia 
ao foro previsto em convenção de condomínio. Incidência, por analogia, do 
art. 330 do Código Civil. Recurso conhecido e provido (PARANÁ, 2015, 
documento on-line).
Do pagamento: lugar e tempo do pagamento138
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 138 22/08/2018 13:34:41
O TJPR, portanto, julgou em reconhecimento ao princípio da boa-fé, es-
tabelecido no art. 330 do Código Civil, reconhecendo o supressio por parte 
do credor, que reiteradamente aceitou o pagamento em lugar diverso do esta-
belecido no título constitutivo da obrigação.
O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), em julgado, 
firmou o seguinte entendimento:
Plano de saúde que concordou reiteradamente com o pagamento feito pela 
autora da ação, quanto à forma e ao tempo do pagamento para fins de tutela 
da confiança, devendo incidir a surrectio no presente caso. Art. 330 do Código 
Civil que deve ser interpretado em conjunto com o art. 5º do CPC (RIO DE 
JANEIRO, 2017, documento on-line). 
Assim, no mesmo sentido, o TJRJ julgou em favor do consumidor pela 
mudança do lugar do pagamento, quando reiteradamente feito em lugar diverso 
do estipulado. 
A supressio indica a possibilidade de supressão de uma 
obrigação contratual, na hipótese que o não exercício do 
direito pelo credor gere no devedor a justa expectativa 
de que esse não exercício se prorrogará no tempo. Veja 
mais no link a seguir ou código ao lado.
https://goo.gl/a1j5mU
BIANCA, C. M. Diritto civile: l'obbligazione. Milano: Giuffrè, 2004, v. 4.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 19 jul. 2018.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.101.524/AM, 3ª Turma, Rel. Min. Massami 
Uyeda. Julgado em: 12 abr. 2011.
139Do pagamento: lugar e tempo do pagamento
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 139 22/08/2018 13:34:42
PARANÁ. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento 1337258-0, Curitiba, 9ª Câmara 
Cível, Rel. Juiz Conv. Rafael Vieira de Vasconcellos Pedroso. Julgado em: 16 abr. 2015.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil: teoria geral das obrigações. 30. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2018. v. 2.
RIO DE JANEIRO (Estado). Tribunal de Justiça. Apelação 0120472-37.2014.8.19.0001, Rio 
de Janeiro, 26ª Câmara Cível Consumidor, Rel. Des. Luiz Roberto Ayoub. Julgado em: 
13 jul. 2017.
ROCHA, A. M.; CORDEIRO, M. Da boa fé no Direito Civil. Coimbra: Almedina, 2001. 
TARTUCE, F. Direito Civil: Direito das Obrigações e responsabilidade civil. 12. ed. São 
Paulo: Forense, 2018.
Leituras recomendadas
CORDEIRO, A. M. Direito das Obrigações. Lisboa: Associação Acadêmica da Faculdade 
de Direito de Lisboa, 1980. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 3.
GAGLIANO, P. S. Manual de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2017.
GAGLIANO, P. S. Novo curso de Direito Civil: obrigações. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. v.2
GOMES, O. Obrigações. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 2.
LÔBO, P. Direito Civil: obrigações. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
NERY, R. M. A.; NERY, N. Instituiçõesde Direito Privado. São Paulo: Saraiva, 2015. v. 2.
NORONHA, F. Direito das Obrigações. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 1.
ROSENWALD, N.; FARIAS, C. C. Direito das Obrigações. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2008. 
TEPEDINO, G.; BARBOZA, H. H.; MORAES, M. C. B. (Org.). Código Civil interpretado: conforme 
a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. v. 2.
Do pagamento: lugar e tempo do pagamento140
Direito Civil II Direito das Obrigacoes_BOOK.indb 140 22/08/2018 13:34:42
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