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o espaço entre
as coisas
proposta arquitetônica de 
um edifício de múltiplo uso 
para estímulo de eventos
Bruna Mendonça Negreiros
Heitor de Andrade Silva
Aprovado em 26 de Novembro de 2019.
Trabalho Final de Graduação apresentado à banca exa-
minadora do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orienta-
ção do Profº. Drº. Heitor de Andrade Silva, como requisito 
para obtenção de grau de Arquiteta e Urbanista.
orientador
o espaço entre
as coisas
Banca Examinadora
Profº. Drº. Heitor de Andrade Silva
Profª. Drª. Mônica Maria Fernandes de Lima
Me. Henrique Sérgio Macedo Ramos
Orientador - DARQ/UFRN
Examinadora interna - DARQ/UFRN
Examinador externo - Arquiteto e Urbanista
proposta arquitetônica de 
um edifício de múltiplo uso 
para estímulo de eventos
Negreiros, Bruna Mendonça.
 O espaço entre as coisas: proposta arquitetônica de um
edifício de múltiplo uso para estímulo de eventos / Bruna
Mendonça Negreiros. - Natal, RN, 2019.
 86f.: il.
 Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
 Orientador: Heitor de Andrade Silva.
 1. Edifício de uso misto - Dissertação. 2. Evento -
Dissertação. 3. Programa - Dissertação. 4. Significado -
Dissertação. 5. Múltiplo uso - Dissertação. I. Silva, Heitor de
Andrade. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III.
Título.
RN/UF/BSE15 CDU 725.22
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT
Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344
AGRADECIMENTOS/DEDICATÓRIA
agradecimentos
Com todo o coração, agradeço e dedico este trabalho a 
minha mãe, Sheyla, por cuidar e ensinar o amor de tantas formas, 
pacientemente. Ao meu pai, Océlio, pelo apoio, torcida e inspira-
ção. A minha avó Socorro, pelo suporte e carinho diário. Obrigada 
por todo amor.
À Rodrigo, Miguel, Bárbara, Natália e Adriano, por todos os 
dias de alegria do nosso encontro. 
À Vitória Nogueira, por estar sempre por perto com um olhar 
gentil.
A Maria Evane Medeiros e Ingrid Soares, por acreditarem no 
que eu poderia ser. Pelos ensinamentos e apoio de todos os dias.
À Heitor de Andrade por, pacientemente, orientar e acredi-
tar neste trabalho.
A todos os professores, amigos, colegas que fizeram parte 
da minha formação. Agradeço com todo o amor.
RESUMO
Em uma sociedade contemporânea caracterizada pelo valor efêmero 
e imprevisível das coisas, a rigidez programática baseada no con-
trole e ordenamento das atividades humanas nos espaços tem sido 
questionada no processo de concepção projetual de arquitetura. O 
uso do espaço nem sempre corresponde ao previsto pelo arquiteto, 
sendo este espaço muitas vezes abrigo de eventos, acontecimen-
tos imprevistos, incidentes. Essas atividades imprevistas partem da 
ideia de que as interpretações de um espaço arquitetônico são múl-
tiplas, ambíguas, inconstantes e que a arquitetura que potencializa 
esses múltiplos entendimentos oferece mais autonomia ao usuário. 
Nesse sentido, o presente trabalho tem o objetivo de explorar o al-
cance do conceito de evento para uma proposta arquitetônica de um 
edifício de múltiplo uso no bairro de Lagoa Nova, Natal, Rio Grande 
do Norte. Para isso, foram adotados o método do problem seeking, 
para o desenvolvimento do programa, e o método de Baker, para 
análise de projetos de referência. A proposta consiste na combina-
ção entre usos comerciais, corporativos e institucionais, distribuídos 
em um edifício de cinco pavimentos, com a área total de 1.972,60 
m². No projeto, o programa é organizado entre vazios, conectados 
por circulações aparentes, com a intenção de estimular o movimen-
to dos usuários pelo espaço arquitetônico. O trabalho constitui um 
esforço crítico, que associa teoria e prática, acerca do seu sentido 
programático.
Palavras-Chave: Programa; Evento; Significado; Múltiplos usos.
ABSTRACT
In a contemporary society characterized by ephemerality and unpre-
dictability, the programmatic rigidity based on the control and orde-
ring of human activities in spaces has been questioned in the process 
of architectural design conception. The use of space does not always 
correspond to what the architect intended, and this space is often 
sheltered from events, unforeseen events, incidents. These unforese-
en activities start from the idea that the interpretations of architectural 
spaces are multiple, ambiguous, inconstant and that the architecture 
that enhances these multiple understandings offers more autonomy 
to the user. In this sense, the present work aims to explore the sco-
pe of the event concept for an architectural proposal of a multiple 
use building in Lagoa Nova, Natal, Rio Grande do Norte. For this, we 
adopted the problem seeking method for the program development 
and Baker’s method for the analysis of reference projects. The pro-
posal consists of the combination of commercial, corporate and ins-
titutional uses, distributed in a five-story building, with a total area of 
1,972.60 m². In the project, the program is organized between voids, 
connected by apparent circulations, with the intention of stimulating 
the user’s movement through the architectural space. The work is a 
critical effort, which combines theory and practice, around its pro-
grammatic meaning.
Key-words: Program; Event; Meaning; Multiple Uses.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Le Recyclerie. Antiga estação ferroviária transformada em espaço 
 multicultural
Figura 2 - Uso da ponte para atividade de rapel
Figura 3 - Advertisements for Architecture. Bernard Tschumi, 1976
Figura 4 - Diagrama do sistema de sobreposição do Parque de La Villette
Figura 5 - Folies
Figura 6 - Cobertura do Le Fresnoy
Figura 7 - Le Fresnoy
Figura 8 - Mapa do bairro de Lagoa Nova
Figura 9 - Mapas de gabarito, uso e hierarquia de vias de Lagoa Nova
Figura 10 - Mapa das paradas de ônibus do entorno do terreno
Figura 11 - Mapa dos principais usos do entono imediato do terreno
Figura 12 - Diagrama da topografia, gabarito do entorno e condicionantes am-
bientais do terreno. 45
Figura 13 - Sobreposição do terreno e carta solar de Natal
Figura 14 - Registro do brainstorm
Figura 15 - Diagrama de desenvolvimento do partido
Figura 16 - Croquis preliminares testando a ideia de “caixas dentro da caixa”
Figura 17 - Diagramas de desenvolvimento da proposta arquitetônica de estí-
mulo ao evento
Figura 18 - Projeto inserido no entorno
Figura 19 - Diagrama de projeto das “caixas dentro da caixa”. 
Figura 20 - Fachada do edifício
Figura 21 - Diagrama de circulação do edifício
Figura 22 - Diagrama de circulação do edifício
Figura 23 - Diagrama de corte do edifício
Figura 24 - Diagrama do edifício explodido
Figura 25 - Vista em perspectiva do segundo pavimento
Figura 26 - Vista em perspectiva do terceiro pavimento
Figura 27 - Vista em perspectiva do terceiro pavimento
Figura 28 - Vista em perspectiva do coworking 80
Figura 29 - Vista em perspectiva do térreo. 
17
19
22
27
31
33
35
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41
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62
62
66
67
68
70
73
78
79
80
81
82
SUMÁRIO
3
CONDICIONANTES PROJETUAIS
Considerações iniciais do 
projeto arquitetônico
O terreno e entorno
Condicionantes físicas e 
ambientais
Condicionantes legais
Programa de Necessidades
38
37
39
44
47
48
5
APRESENTAÇÃO DO PROJETO
Projeto e o entorno
O evento no projeto
Soluções funcionais
Estrutura
Acessibilidade
Conforto Ambiental
Instalação Prédiais
Estacionamento
63
61
64
72
74
75
76
76
77
4
CONCEPÇÃO PROJETUAL
Brainstorm
Conceito
Partido
O Entre
52
51
53
54
56
PROJETO como estratégiA PARA O 
ESTÍMULO DE DE EVENTOS
Estratégias para o estímulo 
de eventos
Análise de Projetos 
Correlatos
24
26
21
entre interpretações 
e incertezas
Significadoe Interpretação
Programa e Evento
13
09
14
Introdução
83
84
Considerações Finais
Bibliografia
12 23
Introdução
O programa de necessidades na arquitetura é colocado 
como fase precedente a etapa de concepção projetual, em que é 
levantado um conjunto de necessidades do usuário a serem ana-
lisadas e organizadas. Essa definição abarca diversos entendi-
mentos, nos quais um recorrente é a definição do programa ar-
quitetônico como um sistema de atividades e relações funcionais. 
Na prática, é comum a definição de programa como uma lista de 
ambientes associados a determinados usos que devem compor o 
projeto de arquitetura.
Esse pragmatismo em relação ao programa, contudo, nem 
sempre envolve a complexidade que as atividades humanas e 
suas relações demandam. Podemos dançar na cozinha, preparar 
uma refeição no jardim, dormir na praça, ler no banheiro, sendo 
as combinações entre atividades humanas e os espaços arquite-
tônicos infinitas e, por isso, difíceis de serem previstas. É nesse 
sentido que a ideia da concepção de um determinado ambiente 
para um uso específico, como sugere o ideal funcionalista, pode 
ser conflitante com a natureza inconstante e pouco previsível das 
atividades humanas. Autores como Jacques Derrida, dentro do 
campo do desconstrutivismo, adotam o entendimento de que o 
significado não é inerente à forma, mas culturalmente construído.
As necessidades da sociedade contemporânea têm força-
do um olhar mais atento para esse processo de definição de usos 
para os espaços. O início do século XXI tem sido palco para uma 
série de transformações sociais que têm impactado a forma de 
habitar os espaços, transferindo aos arquitetos o papel de refletir 
sobre os tipos de atividades que permeiam a vida contemporânea, 
quais suas características e como se relacionam com o espaço. 
9
Um caminho para reflexão é o questionamento à rigidez progra-
mática e às condições de permanência da arquitetura, no tempo 
em que a sociedade se caracteriza pela efemeridade, mobilidade, 
mudanças constantes e imprevisibilidade.
Essas foram questões que surgiram ao longo da minha gra-
duação em arquitetura e urbanismo, no qual o caminho foi constru-
ído pelo entrelaçamento de múltiplos ensinamentos. Entre esses 
ensinamentos, um determinante para existência deste trabalho é 
a ideia de que a prática na arquitetura deve estar umbilicalmente 
comprometida com a reflexão sobre seu contexto histórico, assim 
como deve abarcar uma ação política crítica às narrativas estabele-
cidas (SPERLING, 2008). Esta é a posição simultaneamente crítica 
e inventiva do arquiteto e referência central deste TFG, Bernard 
Tschumi, para o qual a arquitetura não é apenas conhecimento 
da forma, mas uma forma de conhecimento. Com esta inspiração, 
este trabalho foi planejado para apresentar uma discussão de base 
teórico-conceitual que dialogasse criticamente com o contexto cultu-
ral contemporâneo e, como canal de experimentação, verificação e 
proposição, fosse desenvolvida uma atividade projetual. 
Então, para construir a discussão, foi adotado o conceito de 
evento, trabalhado por Tschumi, como um acontecimento imprevi-
sível, um incidente. Para o arquiteto, a “confrontação entre espaço 
e usos/atividades/eventos, a disjunção entre os termos, destina-se 
a caracterizar a instabilidade da arquitetura numa sociedade onde 
os programas são mutáveis a todo instante” (FARINA, 2009, p.6).
Com a intenção de unir esses aspectos conceituais e teó-
ricos da arquitetura ao processo de concepção de sua prática e 
técnica, o objeto de estudo deste trabalho é uma proposta arqui-
tetônica de um edifício de múltiplo uso para estímulo de eventos. 
O universo de estudo é delimitado no bairro de Lagoa Nova, área 
central da cidade de Natal que se caracteriza pela multiplicidade 
de usos e intensidade de fluxos proporcionados por grandes ave-
nidas, ruas e calçadas que conectam zonas da cidade. 
Com o objetivo geral de explorar o alcance do conceito de 
10
evento para uma proposta arquitetônica de um edifício de múl-
tiplo uso no bairro de Lagoa Nova, foram definidos como objeti-
vos específicos: compreender o conceito de evento do campo pós-
-estruturalista/desconstrutivista da arquitetura, identificar estratégias 
projetuais para o estímulo de eventos em espaços arquitetônicos e 
aplicar estratégias projetuais para o estímulo de eventos na proposta 
de uma edificação de múltiplo uso no bairro de Lagoa Nova, Natal, 
Rio Grande do Norte.
Para alcançar os objetivos definidos, o trabalho foi elaborado 
em etapas que se sucedem, sendo sua fase inicial marcada pelo 
desenvolvimento do estudo teórico. O capítulo um apresenta o con-
ceito de evento e uma discussão sobre programa, significado e in-
terpretação no campo desconstrutivista da arquitetura, desenvolvida 
por Jacques Derrida e adotada na arquitetura de Bernard Tschumi.
O capítulo dois apresenta uma análise de projetos correlatos 
estruturada a partir da metodologia de Baker, criado para análise 
formal por Geoffrey H. Baker (1988). O capítulo também apresen-
ta uma síntese das estratégias projetuais para estímulo de eventos 
identificadas.
O capítulo três discorre sobre as condicionantes projetuais, 
fatores influentes para o desenvolvimento do projeto. Nesse capítulo 
é apresentada uma breve análise morfológica do entorno do terreno, 
as condicionantes ambientais, legais e o programa de necessida-
des. O processo de programação foi desenvolvido com o método do 
Problem Seeking, de William M. Peña e Steven A. Parshall, no qual a 
partir de uma matriz torna-se possível identificar os problemas funda-
mentais para o projeto.
O capítulo quatro apresenta o processo de concepção pro-
jetual que foi desenvolvido com apoio em Lawson (2011). Essa etapa 
apresenta o modo como as estratégias para estímulo de eventos fo-
ram aplicadas e as justificativas para suas decisões.
O capítulo cinco é referente a apresentação final do trabalho. 
Nessa etapa, é apresentado um memorial descritivo do projeto, de-
senhos técnicos e perspectivas. 
11
1 entre interpretações e incertezas
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO 
O início do século XXI é marcado por uma série de transfor-
mações sociais que mudaram radicalmente a forma do homem se 
relacionar com o espaço, abrindo o questionamento sobre o posi-
cionamento da arquitetura diante dessas transformações. Questões 
como o acesso ampliado à internet, a velocidade das informações, 
as transformações na estrutura familiar e das relações de trabalho 
têm transformado as formas de relacionamento entre as pessoas, 
assim como o espaço entre elas tem sido ressignificado (SPERLING, 
2008). 
Essas transformações são marcas do aspecto de liquidez 
da contemporaneidade, apresentado no conceito de modernidade 
líquida de Zygmunt Bauman (2000). Para o autor, a solidez do esta-
do, das instituições e das estruturas sociais estariam sofrendo um 
“derretimento” para serem substituídas pela lógica do consumo, da 
individualidade e instabilidade social (BAUMAN, 2000). A sociedade 
contemporânea seria caracterizada, então, pela efemeridade, mobili-
dade, mudanças constantes e imprevisibilidade. No âmbito da arqui-
tetura, o questionamento que surge é se, diante da perspectiva de 
uma sociedade acelerada, fluida, em constante mudança, a prática 
arquitetônica é comparativamente rígida, ainda vinculada a solidez 
do desejo do arquiteto pelo controle e total definição do espaço.
Uma reflexão paralela foi desenvolvida no campo da linguísti-
ca pelo filósofo franco-magrebino Jacques Derrida, que influenciou 
arquitetos a partir da segunda metade do século XX. O objeto de 
análise derridiano foi a escrita, mas, na arquitetura, o paralelo é fei-
to com o projeto arquitetônico, numa atuação de campo ampliado1. 
¹ A noção de campo ampliado está vinculada a expansão da atuação de disciplinas artisti-
cas e sociais em campos diversos, atravessando as fronteiras entre linguagens e meios de 
expressão.
13
Para Derrida, a forma de lidar com as constantese inevitáveis trans-
formações seria a construção de textos abertos, sempre em proces-
so, nunca acabados, de forma que se tornassem suportes das su-
posições ainda por vir, apoiadas em situações dinâmicas e instáveis 
(GUATELLI, 2012). 
A tarefa filosófica que se colocou Derrida foi a de des-
construir a linguagem como meio transparente (e, por ex-
tensão, do mundo que mantém) pensada como sistema 
de signos compostos por uma oposição binária signifi-
cante/significado - em relação de um para um, isto é, em 
que um significante porta apenas um significado definido 
e distinto daquele dos demais significantes: uma matéria 
inalterável e irrefutável, fixada por uma autoridade exte-
rior. Esta noção produziu toda a tradição de pensamento 
ocidental baseada em dicotomias como homem-mulher, 
positivo-negativo, puro-impuro, ocidente-oriente, cultu-
ra-natureza, autor-leitor, fala-escrita, dentre outros, e no 
privilégio dado, dentro de sistemas hierárquicos, ao pri-
meiro termo. (SPERLING, 2008, p. 29).
Derrida rejeita a destinação de significados fixos e oposições 
rígidas, já que não se sustentariam quando levados em conta as vari-
áveis do tempo e do lugar que deslocam a base filosófica de objetos 
com significados estáveis para os processos de significação. Para o 
autor, essas dicotomias são estratégias que nos fazem acreditar na 
inteligibilidade do mundo, escondendo seu caráter fictício (MUGE-
RAUER, in NESBITT, 2006). É, então, que Derrida propõe a ênfase na 
ausência de determinações pré-existentes e de significados definiti-
vos em que defende o texto como realidade última, no qual um sen-
tido não pode ser fixado, estando sempre em processo. (SPERLING, 
2008). 
No texto derridiano, a ambiguidade e instabilidade seriam 
acessadas por espaços residuais, espaço entre textos, entre pala-
vras, nas interrupções e contaminações do discurso. Nessa pers-
pectiva, o texto se posiciona antes, entre e depois de outros textos, 
assim como se posiciona também por aquilo que ele não é, aquilo 
que não contém. A prática da desconstrução de Derrida estaria em 
mostrar o que está oculto, expor o processo de significação (GUA-
14
TELLI, 2012).
Diante do universo das coisas e do construído, olhar para a 
arquitetura sob a perspectiva da negação da realidade objetiva e 
do sentido único é um desafio, mas que tem potência para alargar 
perspectivas. Derrida explica que todo o mundo, inclusive objetos e 
edifícios, são textos. Seu significado depende de uma rede de refe-
rências, sendo o mundo um tecido de traços que só tem existência 
autônoma como “coisas” porque se referem ou estão relacionados a 
outros. Por isso, são signos, já que nesta qualidade, o seu ser sem-
pre está em outro lugar. Nenhuma entidade tem uma existência sin-
gular, fora da rede de relações e forças em que está situada. A coisa 
em si escapa. Toda estrutura construída é em si mesma parcialmente 
ausente, já que só se mantém presente e significativa por causa da 
rede de sentidos ou discursos que lhe tecemos ao redor no qual ten-
tamos nos agarrar (MUGERAUER, in NESBITT, 2006). 
Questionar a ideia de significados estáveis é uma proposta de 
liberdade, pois propõe a abertura da possibilidade infinita da exis-
tência do outro. O significar fixo, por outro lado, pode ser visto como 
morte, o fim em si, preso a sistemas de interpretações prévias. O 
significar constante é estar aberto às possibilidades, é criar o novo. 
É nessa perspectiva de liberdade que mora a importância de pensar 
a arquitetura como um espaço para interpretações, algo maior que a 
matéria, vivo, sempre em processo. 
15
PROGRAMA E EVENTO
Programa arquitetônico é uma lista de requisitos funcionais 
derivados da fase de levantamento e organização de informações do 
projeto (MOREIRA, KOWALTOWSKI, 2009). As exigências do progra-
ma, historicamente, refletiram culturas, costumes e valores particula-
res ao meio social e a época, mas que, nem sempre foram traduzidos 
em formas precisas ou tipos ideais (TSCHUMI, 1980). 
Estações ferroviárias e galerias do século XIX são exemplos 
quais, mesmo diante de um complexo programa, não se vinculavam, 
diretamente às formas fixas e controladas especificamente para sua 
programação. Muitas dessas edificações permitiram inúmeras reci-
clagens de uso ao longo do tempo, algumas abrigando hoje funções 
inadmissíveis para a época (GUATELLI, 2012). Um exemplo é a anti-
ga estação Ornano, em Paris, transformada em espaço multicultural 
(figura 1).
Com o florescimento do discurso funcionalista, no início do sé-
culo XX, um novo ideal surge baseado na busca por uma correspon-
dência entre forma e função. De acordo com Guatelli (2012), esse 
momento foi marcado pelo desencorajamento às possibilidades de 
manipulação e intervenção dos espaços por meio dos limites que o 
programa impunha. O papel do programa, nesse contexto, seria o 
de definir a identidade do objeto através de uma lista de atividades 
e funções determinadas a priori, seguindo preceitos funcionalistas e 
utilitaristas (GUATELLI, 2012).
A arquitetura moderna foi ambiciosa na busca pela criação 
de uma “nova linguagem” que influenciasse um ajustamento social 
às novas demandas e às transformações tecnológicas em curso. A 
ideia era formular um novo receituário de comportamento social para 
alcançar total integração entre sociedade e arquitetura. De acordo 
1. Le Recyclerie. 
Antiga estação ferroviá-
ria transformada em es-
paço multicultural. Fonte: 
www.parisladob.com
16
17
com Guatelli (2012), a história mostrou que não existiu relação de 
causa e efeito entre essa arquitetura com formas precisas e ajusta-
das a uma “nova época” e as atividades desempenhadas no espaço 
dessa nova arquitetura. 
[...] uma quantidade suficiente de programas conseguiu 
funcionar em edifícios concebidos para fins completa-
mente diferentes, comprovando o argumento simples de 
que não havia nenhuma relação causal necessária entre 
uma função e uma forma subsequente, ou entre um dado 
tipo construtivo e um uso específico [...] (TSCHUMI,1981, 
p.40 apud NESBITT, 2006, p. 186).
Hoje, apesar das críticas, a herança funcional ainda é pre-
sente na prática da arquitetura, no qual o arquiteto é influenciado 
pelo desejo pelo controle e total definição do espaço, pela busca 
pela adequação entre conteúdo e forma pensados a apropriação 
social manifesta. Contudo, passamos a lidar com a eclosão, cada 
vez mais frequente de eventos, de acontecimento que excedem, 
mediante apropriação e utilização momentânea, usos e funções ini-
cialmente previstos como mais apropriadas para determinado lugar 
(GUATELLI, 2012). O uso de pontes por alpinistas, transformação de 
fábricas em praças ou uso de vias públicas para passeatas e mani-
festações populares são exemplos do rompimento da relação forma 
e conteúdo proposto (Figura 2). 
O arquiteto suíço Bernard Tschumi, desde os anos 1980, de-
fende a ideia de que a discussão sobre programa e a relação entre 
espaço e usos tem sido negligenciada na arquitetura. Tschumi colo-
ca a relação entre espaço, programa e evento como questão central 
de projeto, pois considera que, na experiência no espaço, o corpo, 
é considerado o ponto de partida e chegada da arquitetura. Dar a 
devida atenção ao estudo de programa, espaço e uso seria deslo-
car o entendimento do corpo-como-objeto para o corpo-como-sujeito 
(TSCHUMI, 1981).
Para a abordagem de programa, Tschumi defende a noção 
de evento. Evento é definido pelo arquiteto como um incidente, uma 
ocorrência. Pode abranger usos particulares, funções singulares ou 
2. Uso de ponte para ati-
vidade de rapel. Fonte: 
www.cidadebotucatu.
com.br
18
19
atividades isoladas, podendo ser “um momento de paixão, ato de 
amor ou o instante da morte.” (TSCHUMI, 2001). O espaço do evento 
é mais que o espaço do programa, é o espaço que admite o aleatório 
do movimento e da presença. 
O evento, então, atividade muitas vezes desconsiderada no 
processo projetual, para Tschumi é colocado como determinante. O 
arquitetoafirma que não há arquitetura sem ação, sem evento, sem 
programa, assim como não há arquitetura sem violência. Para Tschu-
mi (1980), qualquer relação entre um edifício e seus usuários é de 
violência, e, qualquer uso significa a intrusão de um corpo humano 
em um dado espaço, a intrusão de uma ordem em outra. Por violên-
cia, ele não se refere a brutalidade que destrói a integridade física 
ou emocional, mas uma metáfora para a intensidade de uma relação 
entre indivíduos e seus espaços circundantes. Tschumi assume que 
há uma associação entre violência e prazer.
Tschumi (2001) defende três níveis de experiência no espaço: 
evento, espaço e movimento. Evento é definido, pelo arquiteto, como 
um incidente, uma ocorrência, como já mencionado. Já o espaço, 
nessa perspectiva, é direcionado como uma projeção sociopolítica, 
não apenas uma projeção tridimensional, é o lugar onde se age e se 
ouve. O movimento, então, é ação, processo, maneira particular de 
se mover. 
[...] o espaço não é simplesmente a projeção tridimen-
sional de uma projeção mental, é algo que se ouve, no 
qual se age. E é o olho que enquadra - a janela, a porta, 
o ritual efêmero de passagem [...] Espaços de movimento 
- corredores, escadas, rampas, passagens, soleiras; é aí 
que começa a articulação entre os espaços de sentido 
e os espaços da sociedade, as danças e os gestos que 
combinam a representação do espaço e o espaço de re-
presentação. Os corpos não somente se movem para o 
seu interior, mas produzem espaços por meio e através 
de seus movimentos. Movimentos - de dança, esporte, 
guerra são a intromissão dos eventos nos espaços ar-
quitetônicos. No limite, esses eventos se transformam em 
cenários ou programas, esvaziados de implicações mo-
rais ou funcionais, independentes, porém inseparáveis 
dos espaços que os encerram. (TSCHUMI,1981, p.40 
apud NESBITT, 2006, p. 186).
20
A manipulação do programa no processo projetual é essencial 
para o relacionamento do espaço com o evento. Função e programa 
não podem ser confundidos ou tratados como sinônimos. A ideia é 
contrapor o simples entendimento de programa como rol de relações 
funcionais e dimensões a uma noção de programa interpretado e 
gerador do conceito de espaço. A intenção não é excluir as pressões 
do programa, mas questionar sobre sua real natureza e papel no 
pensamento projetual (FARINA, 2012).
O evento surge de uma interpretação do espaço e seu aconte-
cimento dá abertura para diversas possibilidades. Permitir e estimular 
os eventos no espaço arquitetônico apresenta um viés de liberdade 
e contribuição na construção de autonomia do usuário. Oferecer um 
olhar mais atento à dinâmica nem sempre previsível das atividades 
humanas e considerar que essa imprevisibilidade também constrói 
o espaço, tem ambição de liberar o fluxo das ações humanas e não 
contê-las ou limitá-las. Para Tschumi, o corpo não só se move no es-
paço, como produz espaço ao se mover, reafirmando seu papel de 
sujeito. Sua crítica permeia a ideia de favorecimento do espaço invés 
da ação na arquitetura. 
3. Advertisements for 
Architecture. Bernard 
Tschumi 1976. Fonte: 
we-find-wildness.com
21
22
2projeto como estratégia para o estímulo de eventos
Este capítulo apresenta uma discussão sobre o evento na 
perspectiva da concepção do projeto arquitetônico, apresentando 
possibilidades de interpretações e estratégias. Nesse esforço, proje-
tos centrados no estímulo ao evento foram analisados com apoio no 
método de G. Baker (1994).
24
Estratégias PARA ESTÍMULO DE EVENTOS
Segundo Guatelli (2012), o fazer arquitetônico atual estaria li-
gado a compreensão do espaço como suporte de suposições, meio 
interativo, formado por eventos, livre de pré-configurações e que vai 
além dos discursos dominantes. Sendo o espaço do entre, do inter-
mediário
[...] compreendido como uma indefinição, um espaço 
aberto às significações entre espaços definidos, espaços 
estes que seriam os agentes catalisadores, motivadores 
dessas ações dos usuários, desses eventos, desses 
acontecimentos inesperados que surgiram e permanece-
ram sempre em processo, transitórios, jamais se firman-
do como atividade dominante que pudesse se transfor-
mar em uma convenção de uso, e onde o programa não 
seria determinado pelo arquiteto, mas mutável, estaria 
sempre sendo solicitado e confirmado para essas ações 
(GUATELLI, 2012, p. 33).
De acordo com Tschumi (1994), o projeto de espaço-evento 
só pode ser conformado como uma estratégia de escritura, de dispo-
sição de intextualidades, espaços-entre nos quais podem irromper o 
evento. O termo “estratégia”, usado para designar a ação projetual, 
remete à noção de projetar condições para o evento antes de condi-
cionar o projeto por meio da definição de formas e funções. O autor 
destaca que o “objeto” de projeto é o fomento, e não a determinação, 
de eventos, tendo a arquitetura como meio. 
25
Contudo, nessa perspectiva, Sperling (2008) argumenta que o 
evento, sendo da ordem do espaço da experiência e inerente à qua-
lidade da imprevisibilidade, escapa da esfera dos dispositivos ma-
nejáveis em processo de projeto. O autor afirma que ao considerar o 
evento em projeto, deve se atentar que não se tem o controle sobre 
os eventos em si, mas tem-se sobre outros elementos relacionados.
Movimentos, espaços e programas podem ser usados es-
trategicamente por se qualificarem como disjunções dinâmicas. O 
movimento, caracterizado como um elemento mais previsível, é um 
caminho estratégico para potencializar a ocorrência de eventos em 
projetos. Tschumi entende que o movimento é o contato dinâmico en-
tre corpos e o espaço, sendo que essas situações dinâmicas suge-
rem maior probabilidade da ocorrência de eventos. Então, a ênfase 
aos aparatos conectores e dispositivos de circulação que suportam 
o movimento são estratégias para a propulsão do inesperado.
Espaços-entre são concebidos como espaços não programa-
dos, situados entre espaços com programas definidos, como estí-
mulo a circulação e a interação (SPERLING, 2008). O projeto, nessa 
perspectiva, pode ser pensado como ações de montagem de sequ-
ências cinemáticas e de superposição de sistemas em que espaços 
e programas são postos em relação, como o crossprogramming, dis-
programming e transprogramming.
A superposição se trata de colocar dois ou mais sistemas dis-
tintos em convivência, criando um novo e múltiplo objeto ou espaço. 
Ele tem como objetivo substituir a unicidade de uma fala pela diver-
sidade da intextualidade, estrategia de criação de sistemas abertos 
a construção de conexões por parte do sujeito sem a proeminência 
de uma ênfase programada. Crossprogramming faz uso de uma con-
figuração espacial para um programa não planejado para ele. Já o 
transprogramming é a combinação de dois programas com suas res-
pectivas configurações espaciais, desconsiderando incompatibilida-
des. Por fim, o disprogramming é a combinação de dois programas, 
considerando a combinação entre si.
ANÁLISE DE REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Com o objetivo de compreender como o conceito de evento 
pode aparecer na linguagem do projeto arquitetônico, foi elaborada 
uma análise de projetos de referência baseada no método de Baker 
(1994). Desenvolvido por Geoffrey Baker (1931), o método consiste 
na submissão do projeto arquitetônico a sete categorias de análise, 
genius loci, iconologia, identidade, significado do uso, plástica, geo-
metria e estrutura. 
 A escolha dos projetos para análise teve como direcionamen-
to o entendimento do evento como centro do projeto. Foram eles o 
Parque de La Villette (1987) e Le Fresnoy (1997).
Bernard Tschumi
PARQUE DE 
LA VILETTE
1 //
_INTRODUÇÃO
O Parque de La Villette é um parque urbano situa-
do em Paris, França. O projeto do Parque de La Villette, 
autoria do arquiteto suíço Bernard Tschumi, foi vencedor 
em um concurso lançado em 1982 com o tema “Parque 
urbano para o século XXI”.
4. Diagrama do sistema 
de sobreposição do Par-
que de La Villette. Fonte: 
www.archdaily.com26
27
Após a desativação do antigo abatedouro, o espa-
ço, onde hoje situa o Parque de La Villette, se tornou um 
grande vazio na cidade de Paris. Com o esforço de revita-
lizar o espaço abandonado e pouco desenvolvido, surgiu 
a ideia do concurso de projeto.
A área abrange mais de um quilômetro de compri-
mento e setecentos metros de largura e é dividida pelo 
canal de l’Ourcq. O espaço já possuía quatro grandes 
equipamentos, antes do projeto do parque, o Museu da 
Música, Museu da Ciência e Tecnologia, Zenith e Grande 
Halle, frutos de concursos diferentes e anteriores ao ven-
cido por Tschumi (SOUZA, 2013).
O projeto trata de um objeto explodido. Tschu-
mi projetou sobre o parque uma sobreposição de linhas 
(correspondentes às circulações), pontos (as Folies) e 
superfície (pisos e pavimentos), distribuídos em uma ma-
triz cartesiana (figura 4). Esses sistemas autônomos, so-
brepostos e suas possíveis combinações induzem a uma 
multiplicidade de possibilidades e funções. Ao longo do 
parque, foram espalhadas pequenas unidades verme-
lhas, as “Folies”, módulos cúbicos projetados sem uma 
função pré determinada ou um significado a priori, poden-
do manifestar os mais diversos usos. Tschumi propõe o 
desaparecimento do seu objeto ao explodi-lo em unida-
des menores e espalha-los pelo parque. 
Ao contrário dos outros projetos da competição, Ts-
chumi não seguiu uma proposta tradicional de integração 
_iconologia
28
_genius loci
_iDENTIDADE
com a natureza e paisagem. O arquiteto imaginou o par-
que como um lugar de cultura, onde o natural e o artificial 
se mesclam em um estado de constante reconfiguração e 
descoberta. O projeto foi influenciado por ideias do cam-
po teórico da desconstrução, com contribuição-colabora-
ção direta do filósofo Jacques Derrida. 
O projeto não foi desenvolvido para um uso especí-
fico. O sistema de sobreposição e dissociação criado por 
Tschumi apresenta possibilidades de combinações que 
sugerem uma multiplicidade de funções e usos do espa-
ço. As Folies, os pontos vermelhos distribuídos pelo par-
que, foram projetados sem um programa definido a priori, 
podendo manifestar os mais diversos significados. 
As Folies são volumes com formas abstratas, in-
seridas em cubos de 10 m² que se destacam pela cor 
vermelha (figura 5). Cada um desses pontos possui um 
desenho especifico que, além do abstrato, adotam uma 
série de elementos arquitetônicos deslocados do seu uso 
convencional como, por exemplo, escadas e pilares des-
conectados dos pavimentos. A escolha pela forma abs-
trata reforça a estratégia de desvinculação entre forma 
e função no projeto, já que a forma irregular não sugere 
qualquer uso específico (GUATELLI 2012). A cor verme-
lha se destaca entre o verde, evidenciando a ideia das 
folies como pontos de referência no parque.
_SIGNIFICADO DO USO
_plástica
29
Em seu projeto, Tschumi prioriza a relação entre os 
espaços, o percurso entre os volumes novos e os exis-
tentes, o entre. Através da estratégia de sobreposição 
de elementos distribuídos uniformemente em uma matriz 
cartesiana, a ideia é que os intervalos, os vazios entre as 
partes que compõem o conjunto, fossem preenchidos 
por uma grande movimentação de pessoas que cruzam 
o parque em direção aos seus grandes equipamentos 
(GUATELLI, 2012). 
O desafio do projeto era ativar o imenso espaço 
entre os edifícios que atraem multidões, colocando a dis-
persão das pessoas entre esses equipamentos polariza-
dores no centro da proposta. O arquiteto apostou que a 
movimentação e interação das pessoas com as Folies 
possibilitariam uma tensão fundamental para o aconteci-
mento do evento, do inesperado.
As Folies, espalhadas entre os grandes equipa-
mentos, criaram novos limites e distâncias entre eles. A 
manipulação dessas distâncias e usos, através dos pon-
tos vermelhos, possibilita um povoamento mais uniforme 
no parque. Elas se relacionam com os equipamentos 
maiores de forma a apoiar o deslocamento dos pedes-
tres, tornando-o mais estimulante, dinâmico e imprevisí-
vel ao oferecer diversas possibilidades de apropriação 
(GUATELLI, 2012).
Os equipamentos do Parque de La Villette são com-
postos por estrutura metálica. Pintado na cor vermelha, o 
metal contrasta com a paisagem e natureza do parque, 
destacando a ideia de intervenção na área.
_geometria
_ESTRUTURA
30
5. Folies. Fonte: 
www.archdaily.com
31
Le Fresnoy Studio National des Arts Contemporains 
é um centro de formação artística e audiovisual localiza-
do em Tourcoing, norte da França. A instituição funciona 
como um laboratório de pesquisa e produção no campo 
das artes, da imagem e do som.
O edifício está localizado vizinho ao canal de Tour-
coing, onde a vegetação costeira se mistura com a cida-
de. O projeto, elaborado por Bernard Tschumi, acomodou 
o programa em um antigo complexo cultural e de lazer 
chamado Le Fresnoy National Studio, que comportava ci-
nema, piscina, salão de patinação, dança, cervejaria e sa-
las de jogos e operou de 1905 a 1984.
Como marca de uma intervenção contemporânea, 
o edifício do início do século XX recebeu uma nova co-
bertura, escadas, passarelas e novos volumes em vidro, 
metal e concreto. Tschumi se refere ao projeto como uma 
sucessão de “caixas dentro de um caixa”, no qual a nova 
cobertura é o elemento de destaque do complexo devido 
ao contraste entre a linguagem arquitetônica do edifício de 
1920 e a estrutura metálica que envolve a adição.
Devido às condições estruturais, a antiga cobertura 
foi substituída por uma nova estrutura adequada para as 
novas instalações. A cobertura proposta, com um sistema 
de passarelas e escadas necessário a sua manutenção, 
le fresnoy2 //
Bernard Tschumi
_INTRODUÇÃO
_genius loci
_iconologia
_IDENTIDADE
32
6. Cobertura do 
Le Fresnoy. Fonte: 
www.tschumi.com/pro-
jects/14/
33
gerou um novo tipo de espaço caracterizado pela multi-
funcionalidade (figura 6). O espaço criado na cobertura 
funciona para atividades programadas, como concertos e 
exibições, mas também é destinado ao imprevisto, é um 
espaço para as manifestações criadoras dos alunos. Este 
seria o espaço entre, dinâmico, sem pré-configurações, 
capaz de adquirir e registrar novos significados, o espaço 
do evento (GUATELLI, 2012).
As passarelas, rampas e escadas podem ser julga-
das pela quantidade excessiva ou pelo posicionamento 
“incoerente” (conduzindo a lugar algum, por exemplo), se 
analisados apenas pela visão funcionalista. Porém, esses 
elementos passam a ser vitais ao conjunto ao transforma-
rem-se em campo fértil para surgimento de breves, ines-
peradas e emancipadoras ações por parte dos alunos. 
(GUATELLI, 2012).
O local possui 8.000 m² de um programa que inclui 
escola, set de filmagem, mediateca, teatros, exposições, 
dois cinemas, laboratórios de pesquisa e produção, insta-
lações para a administração e restauração e dez habita-
ções. A nova cobertura, além do uso convencional, dispõe 
de espaço para apropriações dos usuários.
Uma nova fachada contemporânea encerra o con-
junto de edifícios em uma caixa retangular. O lado norte 
da caixa é feito de aço corrugado, enquanto as fachadas 
das paredes cortinas do setor sul dão uma imagem trans-
parente à entrada e à fachada principal do edifício. Os 
_SIGNIFICADO DE USO
_plástica
34
_GEOMETRIA
_ESTRUTURA
outros lados permanecem abertos, oferecendo vistas do 
antigo e do novo interior. Os espaços entre os dois telha-
dos contem locais para instalações e projeções de filmes 
localizados ao longo de uma sequência de passarelas.
 O edifício do início do século XX apresenta 
elementos simétricos que suas adições contemporâneas 
não seguem. As diferenças geométricas entre a antiga es-
trutura e a nova também é parte do “conflito” que Tschumi 
busca no projeto.
O projeto suspende um grande teto ultra-tecnoló-
gico, perfurado por aberturas de vidro semelhantes a nu-
vens e contendo todo o duto necessário para aquecimen-
to, ventilação e ar condicionado.
35
7. Le Fresnoy. Fonte: 
www.tschumi.com/pro-jects/14/
36
3condicionantes projetuais 
CONSIDERAÇÕES INICIAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO
Seguindo o objetivo de explorar o conceito de evento de forma 
propositiva, este e os próximos capítulos apresentam uma propos-
ta arquitetônica de um edifício de múltiplo uso no bairro de Lagoa 
Nova, Natal, Rio Grande do Norte. A escolha da tipologia de múltiplo 
uso está vinculada ao interesse deste trabalho pelas possibilidades 
de diversas atividades e usos que um espaço arquitetônico pode 
abrigar. Trabalhar com essa multiplicidade é parte da busca por um 
tensionamento favorável ao surgimento de eventos.
De acordo com Dziura (2009), é comum a substituição do ter-
mo “múltiplo-uso” pelos termos “uso misto”, “hibrido” ou “multifuncio-
nal”, não havendo um consenso entre suas diferenças conceituais 
por parte dos arquitetos e urbanistas. A autora indica que “multifun-
cional” seria o espaço que abriga funções diferenciadas ao mesmo 
tempo - habitação, comércio, lazer, por exemplo. Já “múltiplo uso” ou 
“multiúso” seria o espaço que abriga funções distintas em horários 
alternados.
A proposta arquitetônica objeto deste trabalho se encaixa em 
ambos conceitos apresentados pela autora, contudo o termo esco-
lhido aqui é “múltiplo uso”, por este colocar o uso no centro ao invés 
da função.
Este capítulo apresenta considerações iniciais sobre o projeto 
arquitetônico, suas condicionantes legais, ambientais e o programa 
de necessidades. O programa de necessidades foi desenvolvido 
com base do método do Problem Seeking (1977) de William M. Peña 
e Steven A. Parshall, que consiste em analisar as informações do 
projeto em busca dos seus problemas.
38
O TERRENO E ENTORNO
Para desenvolver a proposta arquitetônica, foi escolhido o ter-
reno localizado na Avenida Salgado Filho, número 1848, Lagoa Nova, 
Natal, Rio Grande do Norte. A escolha deste terreno foi resultado de 
uma busca guiada por três pré-requisitos diretamente relacionados 
com o tema do trabalho. O primeiro pré-requisito é que o terreno 
estivesse localizado no bairro de Lagoa Nova (figura 8). O bairro foi 
escolhido por se destacar pela multiplicidade de usos e intensidade 
de fluxo de pessoas (figura 9). Como a proposta do trabalho está 
relacionada ao estudo do evento, a ideia de “conflito”, no sentido da 
intensidade da relação entre indivíduos e seus espaços circundan-
tes, se mostrou relevante para a inserção do projeto. 
O segundo pré-requisito é que o terreno fosse configurado 
como “um lugar no meio do caminho”. A ideia é que o local estives-
se situado entre pontos aglomeradores de pessoas, de forma que a 
proposta arquitetônica fizesse parte da trajetória dos indivíduos entre 
esses pontos e conseguisse participar do movimento. Nesse senti-
do, a intenção é que a proposta arquitetônica pudesse influenciar e 
ser influenciada por esse movimento. Por fim, o último pré-requisito 
é que o terreno tivesse mais de uma fachada voltada para rua, para 
intensificar o contato das vias com o edifício. 
Seguindo essas ideias, o terreno escolhido se encaixou na 
proposta por estar localizado no cruzamento de uma das avenidas 
mais movimentadas da cidade, a avenida Salgado Filho, via arterial 
l de penetração, com a rua Tomaz Pereira, via local. O entorno ime-
diato do terreno concentra instituições públicas, salas de escritório, 
comércios, hotéis, igreja, apartamentos, restaurantes, além de para-
das de ônibus para a maior parte das linhas da cidade, uma grande 
multiplicidade de usos e movimento desejado para o interior da pro-
posta arquitetônica (figura 10 e 11).
39
9. Mapas de gabarito, uso e hierarquia 
de vias do bairro de Lagoa Nova. 
Fonte: Bárbara Rodrigues Marinho, 2018.
8. Mapa do bairro de Lagoa Nova. Fonte:
Bárbara Rodrigues Marinho, 2018.
_mapa de Lagoa Nova
40
localização do terreno
_mapa de gabarito
_mapa de uso
_mapa de hierarquia 
de vias
41
até três pavimentos
maior que três pavimentos
residencial
comércio e serviços
usos variados
institucional
local
coletora
arterial
localização do terreno
localização do terreno
localização do terreno
paradas de ônibus
limite do terreno
raio de 5 minutos
 de caminhada
42
_mapa de paradas de ônibus 
no entorno do terreno
limite do terreno
restaurante fast food
salas comerciais/ escritórios
capela
hotel/ flat
comércios diversos
educacional
residencial
institucional
serviço
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1
1
2
3
4
4
6
5
5
5
59
8
7
7
43
_mapa do entorno ime-
diato do terreno
CONDICIONANTES FÍSICAS E AMBIENTAIS
O terreno possui a área de 774,09 m², em um formato qua-
drangular, com dimensões de 29,53 m na testada frontal, 29,35 m 
na posterior, 26,28 m na lateral esquerda e 26,22 m na lateral direita. 
 O diagrama a seguir (figura 12) mostra o gabarito das edifi-
cações do entorno do terreno e o posicionamento dos condicionan-
tes naturais. Observa-se que o perfil natural do terreno é plano, sem 
declividade aparente. Em relação à insolação, o posicionamento do 
terreno coloca parte da testada frontal do edifício (localizada na Av. 
Salgado Filho) sob incidência do sol nascente. Já o sol poente incide 
diretamente na parte posterior do terreno. Já em relação à ventilação 
natural em Natal, a maior incidência é da direção sudeste, variando 
entre a direção sul e leste ao longo do ano.
 Considerando a latitude de -5.5 sul e longitude de -35.0 oeste 
da cidade de Natal, foi analisada a carta solar para compreender 
as necessidades referentes ao conforto da edificação. A carta solar 
indicou a necessidade de proteção nas fachadas voltadas para leste 
e oeste devido a maior incidência solar (figura 13). 
 Para isso, levando em consideração a Zona Bioclimática 8, a 
NBR 15220-3 (2003) indica estratégias de condicionamento térmico, 
entre elas: o uso de ventilação cruzada permanente, grandes aber-
turas sombreadas, paredes e cobertura leves e refletoras. 
44
12. Diagrama da topogra-
fia, gabarito do entorno e 
condicionantes ambientais 
do terreno. Fonte:
Acervo próprio, 2019.
13. Sobreposição do ter-
reno e carta solar de Na-
tal. Fonte: Acervo próprio, 
2019.
10. 
11. Mapa dos principais usos do entono 
imediato do terreno. Fonte:
Acervo próprio, 2019.
Mapa da paradas de ônibus do entorno 
do terreno. Fonte: Acervo próprio, 2019.
45
_sobreposição do terreno 
e carta solar
46
47CONDICIONANTES LEGAIS
Para que a proposta atenda às condicionantes legais, é ne-
cessária a análise do Plano Diretor de Natal (2007), do Código de 
Obras e Edificações do Município de Natal (2004), do Código de 
Segurança e Prevenção Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio 
Grande do Norte (2017), e da Norma Brasileira de Acessibilidade 
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos – NBR 
9050 (2015).
O Plano Diretor de Natal (2007) define a área de intervenção 
trabalhada como Zona Adensável, onde as condições do meio físico 
e infraestrutura urbana permitem um maior adensamento. De acordo 
com esse macrozoneamento e características de cada bairro, são 
definidas as prescrições urbanísticas (recuos, gabarito, coeficiente 
de aproveitamento, taxa de ocupação e permeabilidade) a serem 
respeitadas para cada área. No caso em questão, essas prescrições 
são mais permissivas por se tratar de uma área adensável que su-
porta uma maior ocupação. 
prescrições urbanísticas para o
GABARITO
COEFICIENTE DE 
APROVEITAMENTO
TAXA DE 
OCUPAÇÃO
PERMEABILIDADE
máx. 90 m
máx. 3
80%
mín. 20%
RECUOS ACIMAS DE 2 
PAVIMENTOS
FRONTAL 3,00+h/10
1,50+h/10
1,50+h/10
LATERAL
POSTERIOR
bairro de lagoa nova
PROGRAMA DE NECESSIDADES
O programa de necessidades é uma lista de requisitos fun-
cionais que, na prática, é comumente associado a uma lista de am-
bientes, com dimensões pré definidas, usada para compartimentar o 
espaço do projeto de arquitetura. Dentro do desenvolvimento teórico 
em que o conceito de evento está inserido, a reflexão sobre o progra-
ma é fundamental para pensar a arquitetura contemporânea. O pro-
grama é colocadoem evidência, com a finalidade de contrapor seu 
simples entendimento como rol de relações funcionais e dimensões, 
para a uma noção de programa interpretado e gerador do conceito 
de espaço. Programa e função não podem ser confundidos ou trata-
dos como sinônimos. 
Tschumi (1980) assume uma posição crítica ao afirmar que 
“não existe espaço sem evento e não existe arquitetura sem progra-
ma”. A fase de programação não é negada, como pode parecer em 
um primeiro momento ao se discutir evento, ao contrário, é funda-
mental ao considerar que o evento é parte fundamental da arquitetu-
ra. Tschumi defende que, assim como a forma, o programa pode ser 
manipulado e, então, usado como estratégia para estimular o ines-
perado, o evento.
Nesse sentido, este trabalho adotou o método do Problem Se-
eking (1977) para a etapa de programação arquitetônica. A partir da 
coleta e análise das informações importantes do projeto, a fase de 
concepção projetual pode desenvolver estratégias de manipulação 
para o estímulo do evento no espaço.
 
48
PROBLEM SEEKING
O método do Problem Seeking (1977), de William M. Peña e 
Steven A. Parshall, consiste na ideia de que programar é procurar o 
problema e projetar é resolvê-lo. Os autores conceberam cinco pas-
sos a serem desenvolvidos na programação, que são: estabelecer 
metas (1), coletar e analisar fatos (2), descobrir e testar conceitos 
(3), determinar necessidades (4) e instituir o problema (5). De acordo 
com o método, esses passos devem ser trabalhados com informa-
ções relacionadas a função, forma, economia e tempo. Contudo, em 
função do objetivo e contexto temático deste trabalho que propõe o 
distanciamento de dicotomias do tipo forma-função, as informações 
de projeto não foram categorizadas quanto a forma, função, econo-
mia e tempo. Nesse esforço, o seguinte quadro foi elaborado.
_estimular eventos
_promover a interação entre 
pessoas e o espaço
_criar espaços multiúsos
_estimular o movimento dos 
usuários
_criar permeabilidade
_promover conforto ambiental
_tornar o espaço convidativo
_estimular a urbanidade no 
entorno
METAS1
_terreno compacto em 
forma quadrangular
_multiplicidade de usos 
no entorno
_intenso fluxo de carros 
e pedestres
_terreno de esquina
_sol poente incidente na 
fachada posterior e nas-
cente na frontal
FATOS2
PROBLEM
49
SEEKING
_estímulo do evento
_proteção solar e ventilação 
natural
_integração do edifício com o 
contexto urbano
_permeabilidade
_espaços de encontro/conflito
CONCEITOS3
_atender ao coeficiente de 
aproveitamento máximo 3 
_considerar a quantidade de 
vagas especificada no Códi-
go de Obras de Natal (2004)
_garantir acessibilidade a 
todos os espaços públicos
_ garantir espaço para equi-
pamentos de gerador, me-
didores, casa de gás, lixo e 
reservatório de água
_construir até a altura máxima 
de 90 m
_garantir recuos laterais de 
1,50 + h/10 e recuo frontal de 
3 + h/10
NECESSIDADES4
50
_escolha de usos que ocupam 
menos espaço, mais flexíveis 
e abertos (público-privado)
_manipulação de espaços 
vazios por formas, materiais 
e localização
_criar proteção contra inciden-
cia solar e permitir ventilação 
natural
_manipular circulações por 
formas e materiais
PROBLEMAS5
4concepção projetual 
Este capítulo trata da etapa de concepção projetual, no qual 
serão descritas as etapas de desenvolvimento de projeto, com apoio 
na metodologia de Lawson (2011).
BRAINSTORM
Inicialmente, foi realizado um momento de brainstorm, método 
conhecido nas áreas criativas, que consiste em reunir todas as ideias 
que surgem sem julgamento prévio. Lawson (2011) indica essa téc-
nica para questionar a direção do pensamento. Neste processo de 
concepção, a técnica foi usada para sugerir ideias de “gerador pri-
mário”, termo apresentado por Lawson para se referir às ideias do-
minantes que estruturam e organizam considerações secundárias. 
Então, nesta etapa, ao colocar o estímulo ao evento no centro 
do exercício de projeto, foram registradas algumas ideias. Esses re-
gistros foram analisados e conectados entre si e, então, foi possível 
notar que as palavras com maior destaque, devido ao número de 
conexões, foram “movimento” e “vazio” (figura 14). Algumas outras 
ideias já apareciam como desdobramentos desses conceitos.
14. Registros do braisntorm. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
52
CONCEITO
A escolha do conceito foi parte fundamental para o desen-
volvimento do projeto, compondo a estratégia para trabalhar com a 
ideia de evento. De acordo com Lawson (2011), os geradores primá-
rios, muitas vezes, assumem um papel maior que o de dar a partida 
no processo de projeto. É comum que o projeto tenha alguma ideia 
dominante que estruture suas decisões, é o que chamamos de “con-
ceito”. 
Considerando que o desafio estabelecido é pensar e criar 
espaços que estimulem o evento, atividades e acontecimentos não 
previsíveis, um dos geradores primários deste projeto é o próprio 
evento. Contudo, apesar deste conceito estar posicionado no centro 
deste trabalho, não foi escolhido como conceito central do projeto.
Segundo Lawson (2011), é desejável que o gerador primário 
principal, aquele que chamamos de “conceito”, tenha a capacidade 
de ser decisivo e contribua para a organização das questões que 
surgirem com o projeto. Evento é um conceito que, sendo da ordem 
do espaço da experiência, escapa da esfera dos dispositivos ma-
nejáveis em processo de projeto (SPERLING, 2008). Não se tem o 
controle sobre os eventos e para o desenvolvimento do projeto é ne-
cessário ter a capacidade de manipulação.
Nesse sentido, movimento foi escolhido como o conceito do 
projeto, por estar diretamente relacionado ao evento e, ao mesmo 
tempo, ser um elemento previsível e sugestivo dentro da dinâmica 
do projeto arquitetônico. O movimento é o contato dinâmico entre 
corpos e o espaço e essa situação dinâmica sugere maior probabili-
dade de ocorrência de eventos. 
53
PARTIDO
A partir das informações levantadas com a análise da área de 
intervenção, programa arquitetônico e conceito, foi possível desen-
volver o partido arquitetônico (figura 15). Inicialmente, com as infor-
mações da área do terreno, 774,09 m², (1) e do coeficiente de apro-
veitamento de Lagoa Nova, 3, foi possível identificar a área máxima 
que uma construção poderia alcançar no lote, no caso, 2.322,27 m² 
(2). Ao aplicar os recuos mínimos (3), foi possível identificar que a 
quantidade máxima de pavimentos que o lote poderia ter seria cin-
co, considerando a maior área possível por pavimento que o terreno 
comporta, de acordo com suas prescrições urbanísticas (4). 
Foi previsto que para seguir o conceito do projeto, seria ne-
cessário espaço para a movimentação de pessoas, conexão de ele-
mentos de circulação e espaços para o programa de múltiplo uso, 
definições que demandam espaço horizontal. Então, nesse sentido, 
foi adotada a configuração volumétrica que assume a maior área por 
pavimento possível, resultando em um edifício de cinco pavimentos.
Então, a partir do bloco maciço (5), foi criado um pátio através 
de um recorte central, para gerar permeabilidade e espaço para cir-
culação interna (6).
Decidiu-se locar a circulação vertical no espaço mais distante 
das vias públicas, para permitir a abertura do pavimento térreo para 
passagem de pedestres cruzando o edifício, já que o terreno é loca-
lizado em uma esquina, tornando, assim, um espaço convidativo (7).
A partir dessa forma, foi possível construir um jogo de volumes 
internos, no qual a intenção era compor blocos de espaço programa-
dos conectados por espaços não programados (8). Surge então, a 
ideia do entre no edifício.
54
15. Diagrama do desen-
volvimento do partido. 
Fonte: Acervo próprio, 
2019.
(5)
(4)
(3)
(2)
(1)
(8)
(7)
(6)
55
O ENTRE
 A partir da ideia inicial expressa no partido, o trabalho se con-
centrou no que Lawson (2011) chama de “geração de alternativas”, 
processo no qual são geradas varias ideias, cada uma com algumas 
vantagense desvantagens possíveis, ao invés de concentrar em 
uma única possibilidade. Nessa etapa, o uso de croquis e volumes 
simples de modelagem digital no SketchUp foram as ferramentas uti-
lizadas, por possibilitarem rápidas transformações.
 Nesse processo, para desenvolver o conceito de vazios que 
apareceu na etapa de brainstorm e programação, surgiu a ideia de 
construir uma proposta baseada em um jogo de volumes e vazios. 
A ideia é que os volumes fossem os elementos que abrigassem os 
programas, e os vazios, os espaços conectores, onde ficariam loca-
lizadas as escadas e passarelas (1). Esses volumes estariam unidos 
por uma única cobertura e envolvidos por um elemento de segunda 
pele, aproximando da ideia do Le Fresnoy, das “caixas dentro da 
caixa”.
 Nesse sentido, surgiram dois caminhos possíveis. O primeiro 
seria trabalhar com um volume maciço, no qual seriam feitos recor-
tes volumétricos de sua totalidade. Nessa proposta, a ideia de vazio 
seria sugerida na forma ao criar espaços no edifício (2). O segundo 
caminho seria trabalhar com uma composição de volumes individu-
ais, no qual o seu espaçamento constituiria os espaços vazios (3).
 As primeiras propostas desenvolvidas seguiram o caminho 
das subtrações, com um pátio central posicionado no sentido longi-
tudinal, o programa ao seu redor e uma larga escada lateral (4, 5 e 6). 
Com essa configuração, o edifício ganhou uma solidez indesejada, 
ao mesmo tempo que o programa e o pátio interno não se acomoda-
vam nos pavimentos. 
 Uma nova proposta foi desenvolvida locando o pátio, dessa 
vez no sentido transversal, deixando-o aberto para fachada frontal 
16. Croquis preliminares 
testando a ideia de 
“caixas dentro da caixa”. 
Fonte: Acervo próprio, 
2019.
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e utilizando a estratégia de criar espaço através da composição de 
volumes individuais (7). Nessa opção, o programa se acomodou me-
lhor, já que o pátio cresceu e surgiu mais possibilidades de aberturas 
nos volumes.
 Além disso, a ideia da composição de volumes distintos se 
sobrepôs à de subtração, porque os volumes e suas conexões trans-
mitem uma ideia de multifuncionalidade, complexidade, sugere que 
aquele é um espaço onde há muitas atividades acontecendo, quali-
dades que aproximam a proposta da ideia de conflito que o projeto 
se interessa.
 As combinações entre volumes e vazios foram testadas em 
croqui para definir em quais partes do edifício seriam locados os 
volumes e quais partes seriam locados os vazios. Os volumes cor-
respondem aos espaços programados, já os vazios são espaços 
sem programa definido, funcionando como entre-espaços, o lugar 
em que eventos podem florecer. A ideia não foi determinar os espa-
ços que aconteceriam eventos, já que isso iria contra a própria críti-
ca levantada no trabalho. A proposta é que alguns espaços fossem 
tensionados para que esses acontecimentos pudessem florescer e 
a liberdade de interpretar e criar do usuário pudesse ser colocada 
como prioridade. 
 A decisão de definir espaços programados dentro do edifício 
,para estímulo de eventos, surge não só para locar o programa, mas 
para criar polos de atração de pessoas, estimulando o movimento 
pelo edifício. Nessa proposta, espaços vazios podem ser trabalha-
dos ao serem locados no caminho entre estes polos atrativos. Esses 
espaços vazios seriam preenchidos por movimento e contato entre 
pessoas e o edifício, potencializando o surgimento do evento, do 
inesperado. Essa proposta de condução do movimento se aproxima 
da ideia do projeto do Parque de La Villete.
 Algumas versões dessa ideia apareceram (8, 9, 10 e 11), mas 
a final (12) foi escolhida por construir um jogo de volumes mais claro 
no olhar de fora pra dentro e os espaços internos se relacionarem de 
forma mais coerente de acordo com a ideia de condução. 
17. Diagramas de desenvol-
vimento da proposta arquite-
tônica de estimulo ao evento. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
59
 É importante deixar claro que a ideia de movimento nunca foi 
a da forma do edifício. A ideia de movimento sempre esteve em rela-
ção com o movimento das pessoas e seu corpos no espaço. O inte-
resse do projeto é que houvesse visibilidade do movimento das pes-
soas nesse espaço. O movimento no interior do edifício é visível da 
calçada, é visível de qualquer pavimento, assim como o movimento 
urbano também pode ser visto por quem está dentro do edifício. 
 
 
60
5apresentação do projeto
O PROJETO e o entorno
O projeto possui 2.167,36 m² com um 
programa que inclui uma praça/pátio, café e 
repartições administrativas, no pavimento tér-
reo; quiosques de alimentação e espaços de 
coworking, no segundo e terceiro pavimentos; 
galeria e salas oficinas, no quarto pavimento; 
por fim, dois bares, no quinto pavimento. O 
edifício apresenta vagas de estacionamento 
distribuídas em um pavimento subsolo e em 
um terreno a menos de 200 m de distância. 
O edifício se integra ao entorno quan-
do considerada a forma e o gabarito, mas se 
destaca quanto a relação de permeabilidade, 
cheios e vazios adotada no projeto, aspectos 
pouco explorados ao redor. 
O projeto buscou um tipo de integra-
ção especifica com o entorno: a conexão dos 
espaços pelo movimento. Por ser inserido em 
uma das avenidas mais movimentadas da 
cidade, o edifício proposto em projeto é um 
ponto nas possíveis trajetórias que as vias 
que o envolvem permitem. Na perspectiva 
do edifício, ele está inserido no meio do mo-
63
18. Projeto inserido no entorno. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
vimento de milhares de pessoas que circulam na área diariamente. 
O projeto, nesse contexto, se apresenta com a intenção de captar o 
movimento da área e envolvê-lo nas atividades internas do edifício e, 
ao mesmo tempo, retribuir essa dinâmica para a cidade.
 Para isso, foi desenvolvida a estratégia de expor a movimen-
tação e o funcionamento do edifício para quem estivesse na rua.Par-
te das circulações, então, foram expostas nas fachadas e envolvidas 
de forma permeável por uma malha metálica tensionada, as deixan-
do aparentes. Nesse ponto, a dinâmica do edifício é visível da rua, 
ao mesmo tempo que o que acontece na rua também pode ser visto 
de dentro do edifício. Essa configuração borra os limites do edifício, 
envolvendo o movimento em ambas escalas.
Outra decisão tomada como forma de integrar o edifício com 
o entorno foi abrir o pavimento térreo para passagem de pedestres, 
permitindo o cruzamento das pessoas que circulam entre a rua To-
maz Pereira e a avenida Salgado Filho. A intenção foi compor um 
espaço-evento convidativo parar o pedestre.
o evento no projeto
Ao colocar o estímulo ao evento no centro do projeto, este tra-
balho busca, por meio de um exercício crítico, um olhar mais atento 
à dinâmica nem sempre previsível das atividades humanas, conside-
rando que essa imprevisibilidade também constrói o espaço.
Diferente do caminho comum que coloca o programa de ne-
cessidades como definidor do espaço, neste projeto, o programa foi 
manipulado para construir uma lógica espacial favorável ao evento.
A proposta se baseia na composição de um edifício de espa-
ços programados e não programados organizados de forma a esti-
mular o movimento dos usuários. A ideia é que os espaços progra-
mados, que abrigam usos direcionados - café, coworking, galeria, 
64
19. Diagrama de 
projeto das “caixas 
dentro da caixa”.
Fonte: Acervo próprio, 
2019.
etc - funcionem como polos atrativos de pessoas. Para isso, esses 
programas foram encaixados em volumes e dispersos pelo edifício, 
criando espaços vazios entre eles. Essas lacunas entre as “caixas” 
programadas constituem um sistema de forças fundamental para o 
projeto.
Esses vazios não possuem um programa definido e se posi-
cionam como entre-espaços do edifício, por se configurarem como 
espaços intermediários, indefinidos, abertos às significações entre 
espaços definidos. Nesses espaços, o programa não é determinado 
em projeto, porque é mutável e deve ser sempre solicitado e confor-
mado pelas ações dos usuários, os eventos, acontecimentos inespe-
rados e transitórios.
Para desenvolver a proposta, foi criado um contraste entre os 
espaços programados e não programados. Os programados foram 
totalmente vedados, enquanto os não programados foram configura-
dos como espaços abertos no edifício. A combinação das caracterís-
65
66
ticas desses diferentes ambientes conectados por escadas e circu-
lações, unidos por uma cobertura comum e envoltos por uma malha 
metálica aproxima a proposta da ideia das “caixas dentro da caixa”, 
do projeto do Le Fresnoy. 
Essa ideia das caixas dentro da caixa foi a escolha para evi-
denciar a estratégia de manipulação do programa, por meio da mar-
cação dos volumes e vazios no edifício. Esse foi o caminho adotado 
para trabalhar com o conceito de movimento que conduz o projeto. 
Para trabalhar com o estímulo ao evento no projeto, a conceituação 
de evento, por ser colocada no espaço da experiência, foge das 
possibilidades de manipulação em projeto. Então, a ideia de movi-
mento, por ser mais previsível e operável, foi colocada como centro 
do projeto e meio para o estímulo de eventos. 
É importante ressaltar que a ideia de movimento que interessa 
a esse projeto é a tensão da intromissão do corpo humano no espa-
ço, capaz de estimular múltiplas interpretações e, por consequência, 
relações, atividades não previstas, eventos. Considerar eventos na 
arquitetura é considerar que os corpos não somente se movem pelo 
espaço, mas produzem espaço ao se moverem. O movimento é tra-
balhado aqui no sentido de colocar o corpo como sujeito, e não com 
intenção de sugerir movimento da forma ou das partes do edifício. 
 Nesse sentido, foi adotada a estratégia de construir um trajeto 
de associação de elementos de circulação e espaços não progra-
mados, para enfatizar o movimento no espaço. O caminho é pou-
co convencional por estimular o usuário por circulações e escadas 
distribuídas pelo edifício. O trajeto foi pensado estrategicamente ao 
colocar os espaços não programados entre os programados, fazen-
do o usuário ter que percorrer esses entre-espaços para alcançar o 
ambiente programado desejado, que aqui fazem o papel de condu-
tores, estimulando, assim, o movimento das pessoas pelo edifício. 
Os espaços intermediários ganham, nesse sentido, a dimensão do 
espaço do movimento, no qual a qualidade de interatividade sugere 
o surgimento de eventos.
Sendo o movimento fundamental para o estímulo de eventos, 
as circulações e conexões foram colocadas em evidência no proje-
to. 
67
20. Fachada do edifício. 
Fonte: acervo próprio, 
2019.
Espaços de circulação foram criados ao redor dos progra-
mas, recuando os volumes “cheios” da fachada para que ficassem 
evidentes. A ideia foi criar espaços abertos que fossem visíveis por 
quem estivesse dentro do edifício, através do átrio, e por quem esti-
vesse na rua, pelas fachadas. O movimento, então, estaria por toda 
parte, podendo ser visto por todos os pontos do edifício, declarando 
ser aquele, o espaço do movimento.
As circulações horizontais e verticais conectam os espaços 
não programados compondo um trajeto pouco convencional pelo 
edifício. As escadas foram pensadas para serem desconectadas en-
tre si e distribuídas em áreas distintas dos pavimentos. A intenção é 
que o usuário precise percorrer mais partes do edifício para alcançar 
os ambientes do que seria necessário se as escadas fossem setori-
68 circulações
zadas. Essa foi mais uma estratégia para estimular o movimento e, 
por subsequência, o acontecimento de eventos.
Para destacar e conduzir o usuário do pavimento térreo ao 
quinto, as circulações e os espaços não programados foram sina-
lizados com piso em cimento queimado pigmentado de vermelho e 
guarda corpos na mesma tonalidade. Essa é também uma forma de 
manifestar a importância desses espaços para essa arquitetura, sen-
do espaços de apropriação. 
Nesse esforço, foram pensadas formas de, sem definir, poten-
cializar a apropriação dos espaços não programados. Para isso, uma 
malha metálica foi fixada no forro, permitindo o apoio de banners, 
quadros, luminárias, divisórias ou outras apropriações. Além disso, 
foram projetados módulos cúbicos em marcenaria (0,60 m x 0,60 m) 
manuseáveis e que permitissem usos múltiplos, sendo possível sen-
tar ou usar como palco para apresentações, por exemplo.
69
22. Diagrama de 
circulação do edifício. 
Fonte: Acervo próprio, 
2019.
21. Diagrama da circula-
ção do edifício. Fonte: 
Acervo próprio, 2019.
23. Diagrama de 
corte do edifício. Fonte: 
Acervo próprio, 2019.
Soluções funcionais
 O acesso de pedestre pode ser feito pela rua Tomaz Pereira 
ou pela avenida Salgado Filho, já que o pavimento térreo é aberto 
em ambas fachadas para permitir o cruzamento das pessoas pelo 
edifício. No térreo, uma escada superdimensionada, com 5,38 m de 
largura e sinalizada com piso em cimento queimado vermelho, dá 
acesso ao segundo pavimento do edifício. Essa escada não é só 
espaço de circulação, mas suas dimensões e posicionamento entre 
a rua e o interior do edifício, sugerem a aproximação de um espaço 
de permanência e de possibilidade de apropriação.
 O térreo apresenta um café, mais exposto à rua para atender 
a quem está de passagem, sala de administração e sala de funcio-
nários, além da recepção. Possui sanitários femininos e masculinos, 
sanitários acessíveis e depósito que se repetem em todos os pavi-
mentos. O acesso aos outros pavimentos podem ser feito por dois 
elevadores e uma escada que conectam todos os níveis, além das 
escadas independentes.
 O segundo pavimento apresenta espaço para três quiosques 
de alimentação e um espaço de coworking, além dos espaços aber-
tos para convivência que as escadas conectam. O terceiro pavimen-
to apresenta dois espaços de coworking e duas salas de reunião. O 
quarto pavimento apresenta uma galeria/ salade exposição, três sa-
las oficinas e um depósito. O quinto pavimento apresenta dois bares. 
Todos esses pavimentos são conectados por circulações e espaços 
livres que se espalham entre os programas sem a busca por lineari-
dade ou caminho mais curto. As escadas e circulações provocam o 
usuário a acompanhar um percurso por esses caminhos intermediá-
rios do evento. 
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24. Diagrama do 
edifício explodido. Fonte: 
Acervo próprio, 2019.
73
café
praça/pátio
recepção
sala de funcionários
administração
coworking 
salas de reunião
bares
quiosques de alimentação
coworking 
galeria
salas-oficinas
depósito
estrutura
 O projeto adota sistema estrutural com pilares e lajes nervu-
radas tipo cogumelo em concreto armado, em busca da diminuição 
da altura final do sistema estrutural (REBELLO, 2000). Essa solução 
foi adotada para dar mais leveza, sem a necessidade de vigas com 
grandes dimensões. Para isso, foi utilizada laje apoiada diretamente 
no pilar com região maciça no seu entorno devido ao puncionamen-
to. 
 Para a vedação foi escolhido alvenaria para as paredes ex-
ternas e sistema dry wall em combinação com divisórias em vidro e 
brise para as vedações internas. A ideia é que essas divisórias con-
tribuíssem na permeabilidade dos ambientes, permitindo o controle 
e visibilidade dos espaços fechados. Cada uma dessas divisórias 
possui aberturas do tipo de correr a 2,43 m do piso.
 A fachada frontal e lateral direita é envolvida por uma malha 
metálica tensionada por perfis metálicos fixados nas lajes. A malha 
é constituída em forma de trama de tela, com fios metálicos em aço 
inoxidável. Esse elemento foi escolhido para contribuir na proteção 
contra insolação, controle do vento e unidade no edifício. Além disso, 
o elemento também faz o papel de separação entre o interior e exte-
rior do edifício, sendo o responsável pela vedação dos espaços de 
circulação expostos na fachada.
 A cobertura é constituída por estrutura de perfis metálicos I 
e telha termoacústica na cor branca, para contribuir na reflexão do 
calor solar. O acesso à caixa d’água e casa de máquinas é feito por 
um trecho de laje impermeabilizada que é acessado pela escada de 
serviço.
74
Acessibilidade
 O edifício garante nivelamento de todos os ambientes por pa-
vimento, incluindo calçadas, para garantir acessibilidade aos usuá-
rios com mobilidade reduzida. Os pavimentos podem ser acessados 
por dois elevadores e por escadas com largura minima de 1,20 m, 
guarda-corpo com altura de 1,10 m, corrimão duplo com alturas de 
0,72 m e 0,90 m e sinalização retroiluminada nos degraus de acordo 
com a NBR 9050/15 (2015). 
 Todas as circulações do edifício garantem largura minima de 
1,50 m, espaço confortável para o giro de 360° de uma cadeira de 
rodas, além de área para aproximação frontal e lateral de acesso a 
todos os ambientes do edifício. Todas as portas do projeto apresen-
tam o vão livre superior a 0,80 m de largura e maçaneta tipo alavanca 
como prever a norma. 
 Devido á classificação do edifico por “uso público a ser cons-
truído”, cada pavimento prevêr um sanitário acessível para cada sexo 
com entradas independentes. Esses sanitários seguem o dimensio-
namento estabelecido pela NBR 9050 (2015), considerando circu-
lação com giro 360º e área de transferência lateral, perpendicular e 
transversal, barras de apoio, peças sanitárias com dimensionamento 
indicado e portas com barras de apoio e proteção contra impacto.
 Escadas e elevadores são sinalizados com piso tátil alerta no 
seu início e término de acordo com a NBR 16537 (2016). O acesso 
ao estacionamento é sinalizado na calçada com piso tátil direcional e 
o rebaixamento é sinalizado com piso tátil de alerta duplo, de acordo 
com a mesma norma.
 Em relação às vagas de estacionamento, foram reservadas 
5% para pessoas idosas e 3% para pessoas com deficiência, sendo 
essas vagas sinalizadas de acordo com a resolução 303 e 304 do 
CONTRAN.
75
CONFORTO AMBIENTAL
 Para a proposta arquitetônica, foram consideradas as reco-
mendações da NBR 15220-3 (2003) para a Zona Bioclimática 8. O 
sombreamento dos ambientes foi proporcionado pelo recuo dos am-
bientes da fachada, para criação de espaços para circulação. Dessa 
forma, esses ambientes se distanciam da incidência direta do sol na 
fachada. 
 A fachada posterior que sofre com a incidência da insolação 
do sol poente foi totalmente vedada com alvenaria, sendo abertas ja-
nelas altas em fita para cruzamento da ventilação. Para vedação dos 
volumes programados, foram criadas divisórias com elementos de 
proteção fixados a esquadria de vidro em dois tipos: chapa metálica 
perfurada e placa ripada de madeira. 
 A cobertura foi deslocada do edifício, contribuindo para o sis-
tema de ventilação e iluminação zenital, enquanto protege do calor 
devido a sua densidade.
 Além disso, uma segunda pele metálica estendida por todo o 
edifício foi escolhida para controlar a ventilação e contribuir na prote-
ção contra a insolação.
 
instalações prediais
 Para o cálculo do reservatório de água foi considerada a mé-
dia de 350 usuários diários do edifício, considerando o consumo de 
50 litros por usuário. Considerado reserva para 2 dias e reserva de 
76
77
incêndio de 7.200L, de acordo com o Código de Segurança e Pre-
venção Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte 
(1974), resultando em 42,200 litros totais. Esse volume foi dividido em 
2/3 no reservatório inferior, localizado no subsolo, e 1/3 no reservató-
rio superior, em caixas d’água de PVC.
 O edifício reservou espaço para gerador e medidores no sub-
solo. Todos os pavimentos possuem em comum um shaft para aces-
so às instalação elétricas e hidráulicas do edifício. 
estacionamento
 As vagas de estacionamento foram calculadas de acordo com 
o Código de Obras e Edificações do Município de Natal (2004). Devi-
do à diversidade de usos, foram cruzadas as áreas de cada uso com 
sua classificação na tabela, sendo 261,73 m² de comércio varejista 
em geral (1 vaga/50m² em vias arteriais), 227,64 de serviço geral (1 
vaga / 35 m² em vias arteriais), 64,70 m² de serviço de educação em 
geral (1 vaga/ 40 m²) e 62,45 m² de pavilhão para exposição (1 vaga/ 
50 m²), resultando em 15 vagas de estacionamento.
 Considerando a área reduzida do terreno, o espaço necessá-
rio para implantação da rampa para carros com o máximo de 20% 
de inclinação, o recuo frontal exigido para subsolo de 3 metros e a 
área permeável necessária, de acordo com o Plano Direto de Natal 
(2007), o espaço foi constatado como insuficiente para comportar 
as vagas com acesso independente. Por esse motivo, foi escolhido 
fazer um subsolo reduzido para locar 8 vagas, fazendo parte destas 
os 5% para pessoa idosa e 2% para pessoa com deficiência. O lote 
na rua Tomaz Pereira, a menos de 200 m, como determina o Plano Di-
retor de Natal (2007), loca mais 17 vagas para uso rotativo. Todas as 
25 vagas do edifício atendem ao dimensionamento mínimo de 2,40m 
x 4,50m/vaga.
25. Vista em perspectiva do 
segundo pavimento. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
26. Vista em perspectiva do 
terceiro pavimento. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
27. Vista em perspectiva do 
terceiro pavimento. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
28. Vista em perspectiva do 
coworking 2. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
29. Vista em perspectiva do térreo. 
Fonte: Acervo próprio, 2019.
conclusão
 Este trabalho surge do interesse pelas formas de aproximar 
a arquitetura das pessoas, colocando-as como sujeitos de seus es-
paços. O trabalho foi construído para afirmar em dois momentos, na 
discussão teórica-conceitual e no projeto, que o espaço arquitetôni-
co é livre para múltiplas interpretações, está aberto às possibilidades 
e para ser constantemente ressignificado. Com essa base, o desen-
volvimento de projeto se distanciou da busca pela total definição dos 
espaços, ao investigar formas de considerar a imprevisibilidade e 
aproximar a arquitetura das qualidades humanas. 
 Com o objetivo de explorar o alcance

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