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TEORIA GERAL DAS 
OBRIGAÇÕES 
AULA 1 – RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL 
Professora: Kelly Cristine Baiao Sampaio 
Dia: 08/01 
1. Conteúdo histórico-evolutivo do direito 
civil: reflexões críticas 
- Estado Moderno (Modernidade): interferência das 
codificações que irão influenciar os Códigos seguintes e 
atuais. 
- Revolução Francesa, sociedade estamentária (período 
das grandes codificações); 
- Grandes Navegações (ponto final): expansão das 
classes, essencialmente, a burguesia (passa a deter 
liberdade de gerir); 
- Movimento antropocêntrico: o homem como centro 
(jusnaturalismo). 
2. Obrigação: aspectos introdutórios 
- Legisla-se: criação de leis; 
- Afasta-se o Estado, o âmbito do privado não cabe ao 
público interferir (dicotomia: público X privado); 
- Assumir a titularidade de seus bens, sem levantar 
questionamentos. Quando a titularidade é questionada, 
o que garante essa tutela é o contrato (instrumento 
garantidor), dispondo das possibilidades de adquirir, 
vender e trocar. 
- Positivismo jurídico: a norma dotada de validade, 
exigível e, portanto, aplicada. 
- A parte geral do Código disciplinou as questões de 
titularidade, se o objeto é lícito e possível, negociações. 
• A noção de obrigação não prima pelo 
equilíbrio, se preocupa com o cumprimento do 
que foi estabelecido, da tutela do credor em 
face do devedor. 
 2.1- Introdução: 
• Teoria do Direito Civil e direito das obrigações 
A importância do direito das obrigações é 
inquestionável. Uma importância que logo se poderia 
traduzir quantitativamente: ninguém duvida que a 
maior parte das relações jurídicas é obrigacional. A 
importância do direito das obrigações está no seu 
caráter abstrato, o que garantiu, desde a época do 
direito romano, uma certa uniformidade e constância 
de princípios, com o tempo cada vez mais refinados, que 
formam hoje o que Almeida Costa chama de 
“paradigma” da teoria do direito civil. A propósito do 
rigor teórico do direito das obrigações, afirma o 
professor português: 
Também se aduz o alto grau de vocação e construção 
estritamente técnico-jurídicas deste domínio 
normativo. Até as grandes revoluções ideológicas dos 
tempos modernos- a francesa e a russa- que tiveram 
acentuados reflexos noutros setores jurídicos, 
sobremaneira em matéria de direitos reais e de direito 
de família, afetaram muito menos o relativo 
universalismo das obrigações. Nesse mesmo sentido, 
Caio Mário da Silva Pereira transcreve as observações de 
Saleilles: “... de todo o Direito Civil são as obrigações que 
guardam maior cunho de elaboração científica e maior 
expressão ideal da lógica jurídica apresentam no direito 
moderno.” 
3. Acepções técnico-jurídicas do termo 
“obrigação” 
Em sentido muito amplo e vulgar, a obrigação é o 
elemento passivo de toda a relação reconhecida pelo 
Direito. No entanto, sabemos que a linguagem está para 
o Direito como o cálculo para a matemática. Convém, 
portanto, antes de tudo, determinar qual, dentre as 
acepções que o termo pode ter no Direito, será utilizada 
no decorrer da presente exposição. Não se trata, note-
se, de conceituar a obrigação, tarefa bem mais difícil, 
mas apenas de definir a priori a que “situação jurídica” 
pretendemos nos referir. 
3.1 Obrigação como espécie de dever jurídico 
Numa primeira acepção, “obrigação” indica uma 
espécie de dever jurídico. Com este sentido, a palavra 
aparece em inúmeros artigos do Código Civil, como nas 
designações “obrigação de dar”, “obrigação de fazer” e 
“obrigação de não fazer”, consagradas tanto na lei como 
na doutrina. Este primeiro sentido atribuído à expressão 
em exame obriga-nos a compreender o que seja o 
“dever jurídico”, já que o entendimento da espécie não 
pode rescindir do entendimento do gênero a que 
pertence. Assim, define-se: 
Dever jurídico: “O dever jurídico é toda a necessidade, 
imposta ou sancionada pelo Direito (objetivo), de as 
pessoas observarem determinada conduta. É o dever de 
não matar, não injuriar, não furtar, de não danificar a 
coisa alheia, de pagar o que se deve.” 
Obrigação: É uma espécie de dever jurídico que resulta 
da existência de um vínculo entre, de um lado, o credor, 
que pode exigir o cumprimento de uma prestação, e, de 
outro lado, o devedor, adstrito ao cumprimento desta 
prestação. O conceito de dever jurídico é mais amplo do 
que o de obrigação, porque abrange, além dos deveres 
de prestar das relações de crédito, os deveres 
resultantes dos direitos reais, dos direitos familiares 
ditos puros e dos direitos da personalidade. 
Estado de sujeição (caminha ao lado dos direitos 
potestativos): Corresponde aos chamados direitos 
potestativos: “(...) traduz-se ele numa situação 
inelutável de suportar na esfera jurídica própria as 
consequências do exercício de um direito dessa 
natureza.” Desta forma, “(...) o titular passivo da relação 
nada tem a fazer para a satisfação do referido interesse, 
assim como é impossível impedi-la.” É o caso do 
mandatário, que não tem obrigação tampouco o dever 
de aceitar a revogação do mandato, como não tem o 
mandante a obrigação de aceitar a renúncia do 
mandatário. “No estado de sujeição, há uma simples 
subordinação inelutável a uma modificação na esfera 
jurídica de alguém por ato de outrem.” Nestes termos, 
a doutrina exemplifica com os casos de servidão legal 
de passagem (art. 559, do CC) e o direito de escolha nas 
obrigações alternativas. (art. 884 do CC). 
Ônus jurídico: É a “necessidade de adotar certa conduta 
para a obtenção ou conservação de uma vantagem 
própria.” O mesmo Almeida Costa exemplifica: 
“exigência de registro para a oponibilidade de certos 
fatos a terceiros.” O ônus jurídico tão comum em 
matéria processual – basta pensar no ônus da prova -, é 
definido sistematicamente por Olímpio Costa Júnior 
como um “encargo posto sob estímulo.” 
4. Obrigação: conceito e elementos 
- Sentido técnico: a obrigação como espécie de dever 
jurídico- dever da prestação. 
Pode ser definida: “relação transitória de direito, que 
nos constrange a dar, fazer ou não fazer alguma coisa 
economicamente apreciável, em proveito de alguém 
que, por ato nosso ou de alguém conosco juridicamente 
relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de 
exigir de nós essa ação ou omissão.” (Clóvis Beviláqua. 
Direito das Obrigações, Salvador: Livraria Magalhães, 
1896- retirado de Fundamentos do Direito Civil, p. 1) 
Direito das obrigações apresenta três inovações 
essenciais: 
1- Expansão do objeto da obrigação- abrange não 
somente os direitos de crédito (relações creditórias); 
2- Obrigação como relação jurídica complexa (ninguém 
é sempre credor ou devedor, é algo muito mais 
complexo que isso); 
3- Valorização do aspecto estático e funcional. 
 
➢ O que é tutelado é a relação em si, não os 
sujeitos (interesse do credor sob o do 
devedor). É papel do direito também tutelar a 
pessoa humana, na sua condição humana. 
Exemplo: 2° Guerra Mundial – atingiu classes 
sociais privilegiadas, por características de 
raça, credo, cor e cai por terra de que uma 
grande família tradicional rica passa a ser 
perseguida, aqueles que se sentiam 
inatingíveis passam a ser caçados; mostrando 
que o ser humano é capaz de torturar seus 
semelhantes. 
 
Quanto à estrutura da obrigação: 
1- Sujeitos: credor e devedor; no aspecto 
funcional ambos devem primar pela boa fé 
2- Objeto: prestação 
3- Vínculo jurídico 
Aspecto funcional: obrigação como processo, conjunto 
de atos e atividades que caminham para atender a 
determinado fim econômico e social. 
Obrigação: estrutura + função 
4.1 Sujeitos da relação jurídica obrigacional: 
credor e devedor-funcionalidade (boa-fé objetiva), 
deveres conexos (ex. informação) 
Relação jurídica; situação jurídica- plurilateralidade, ex. 
grupo de pessoas ou unilateralidade de sujeito. Ex. 
doação para nascituro. 
Determinabilidade do sujeito: ex.títulos ao portador. 
Mutabilidade do sujeito: ex. renúncia, exceção: intuitu 
personae 
4.2 Objeto da relação jurídica obrigacional: 
Prestação 
-Prestação: ação ou omissão do devedor exigível pelo 
credor. (dar, fazer, não-fazer) 
-Requisitos da prestação: a) possibilidade (material, 
jurídica, relativa), b) determinabilidade (certa, 
generalidade, arbitragem), c) patrimonialidade 
(interesse extrapatrimonial). 
- A Prestação Como Objeto Da Obrigação: 
Diz o jurista português João de Matos Antunes Varela, 
que “a prestação é o fulcro da obrigação, o seu alvo 
prático”, afirma também que “o objeto da obrigação é a 
prestação devida”. É o meio que satisfaz o interesse do 
credor, que lhe proporciona a vantagem a que ele tem 
direito. A prestação consiste, em regra, numa atividade 
humana ou numa ação do devedor (entregar uma coisa, 
realizar uma obra, transportar alguns móveis, dar certo 
número de lições, etc...), mas pode também consistir, 
como vimos, numa abstenção, tolerância ou omissão”. 
Caio Mário também afirma que “toda obrigação há de 
ter um objeto, que é a prestação do devedor”. Esclarece, 
no entanto, que não deve ser confundido o OBJETO da 
obrigação, com a COISA em que a prestação se 
especializa e dá o seguinte exemplo: “O objeto de uma 
obrigação decorrente de um título cambial não é o 
dinheiro em si, expresso no mesmo, mas sim o fato 
humano, a atividade do homem de pagar, uma atuação 
do sujeito passivo”. 
São ensinamentos deste autor: 
“Quando a obrigação é de dar ou de entregar, seu 
objeto não é a coisa a ser entregue, porém a atividade 
que se impôs ao sujeito passivo de efetuar a entrega 
daquele bem”. 
“Quando a obrigação é um facere, está nítido o ato do 
devedor: a ação humana como seu objeto consiste na 
realização de um trabalho, na confecção de uma coisa, 
na emissão de uma declaração de vontade, etc..., tudo 
envolvido na expressão genérica - prestação de um fato 
- e, como se no facere se contém igualmente o non 
facere, o mesmo sentido de atividade humana está 
abrangido na omissão ou na abstenção, tal qual se 
apresenta na ação”. 
Antunes Varela tem o seguinte entendimento: 
“Tendo principalmente em vista as obrigações com 
prestações de coisas, os autores costumam distinguir 
entre o objeto imediato e o objeto mediato da 
obrigação. O primeiro consiste na atividade devida (na 
entrega da coisa, na cedência dela, na sua restituição, 
etc..); o segundo na própria coisa em si mesma 
considerada.” 
E exemplifica: “Se A vende um prédio a B e, em virtude 
da venda fica obrigado a entrega-lo, são realidades 
completamente distintas o ato de entrega do prédio (a 
prestação devida), por um lado, e o prédio (objeto da 
prestação...)” 
Obs. Quanto à patrimonialidade: dever jurídico: 
interesse extrapatrimonial-violação: consequência 
jurídica: indenização (obrigação autônoma- deriva da 
avaliação dos prejuízos sofridos em decorrência da lesão 
a bem jurídico essencial). 
Patrimonialidade da reparação- obrigação autônoma 
- Reparação extrapatrimonial: violação à dignidade da 
pessoa humana 
4.3 Vínculo jurídico 
Elemento da relação obrigacional de ligação entre 
devedor e credor e de deveres anexos oriundos do 
contrato social. 
Teoria tradicional: dualidade do vínculo: débito (Schuld) 
e responsabilidade (Haftung). 
Débito: dever de se efetuar a prestação: 
responsabilidade: faculdade de se exigir o cumprimento 
da prestação 
Obs. Dívida prescrita (perda de exigibilidade do 
cumprimento); fiança. 
Obrigação natural: Art. 882. Não se pode repetir o que 
se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir 
obrigação judicialmente inexigível. (moral?) Trata-se de 
débito sem responsabilidade. 
➢ Coisas tem preço e pessoas têm valor. 
Responsabilidade: castigos físicos, responsabilidade 
patrimonial (patrimônio mínimo). 
Obs. Prisão civil do devedor de alimentos (instrumento 
de coerção, não se trata de responsabilização 
obrigacional, pena) 
5. A funcionalização das relações obrigacionais 
A relação obrigacional somente pode ser corretamente 
compreendida quando examinada sob seu perfil 
estrutural e sob o funcional. A doutrina tradicional, 
dentro de uma perspectiva voluntarista, definia a tutela 
da obrigação a partir de uma análise estritamente 
estrutural, ou seja, mediante a identificação dos sujeitos 
(quem) e daquilo que se prometeu (o quê). Neste 
contexto, a análise da função jurídica teria uma 
importância secundária, surgindo pontualmente 
naquelas hipóteses em que a lei expressamente 
chamasse o intérprete a considerar o interesse do 
credor, como, por exemplo, na apreciação da 
legitimidade do pagamento realizado por terceiro ou da 
possibilidade de o devedor purgar a mora, realizando a 
prestação depois de vencida a dívida. 
Contudo, a doutrina mais moderna, reconhecendo a 
insuficiência da análise exclusivamente estrutural, 
destaca que a disciplina da relação obrigacional deve 
partir prioritariamente da investigação das finalidades 
que as partes perseguem com o cumprimento da 
obrigação. A própria razão para o ordenamento tutelar 
determinada relação obrigacional passa pela apreciação 
da legitimidade das suas finalidades, exigindo-se, nesse 
sentido, que o interesse do credor no cumprimento da 
obrigação seja digno de tutela. Afinal, não se pode 
admitir que o devedor consinta em despojar-se de parte 
de sua liberdade, contraindo uma obrigação perante o 
credor, se não for para atender um interesse 
considerado, à luz dos valores que informam o 
ordenamento jurídico, merecedor de tutela. 
Nesses termos, a obrigação deixa ser concebida com um 
fim em si mesmo para ser valorada, na sua essência, 
como um instrumento de cooperação social para a 
satisfação de certo interesse do credor. Esta sua função 
jurídica orienta todo o desenvolvimento da relação 
obrigacional até o momento de sua extinção, servindo, 
em particular, de parâmetro para a valoração do 
comportamento das partes, que são chamadas, de 
acordo com a cláusula geral da boa-fé objetiva, a 
colaborarem mutuamente para a plena realização dos 
seus legítimos interesses. 
Chega-se, portanto, à concepção pluralista e dinâmica 
da relação obrigacional, que supera a concepção 
tradicional, marcadamente formalista e abstrata. A 
obrigação é relação jurídica cujo conteúdo, variável e 
complexo, se define no caso concreto em função dos 
legítimos interesses a serem tutelados – especialmente 
o do credor – e se vai constituindo pelos diversos 
deveres acessórios de conduta que completam e 
integram o núcleo central, composto pelo dever de 
prestar do devedor e pelo direito de exigir a prestação 
do credor. 
AULA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 
(DAR, FAZER, NÃO FAZER) 
Professor: Sérgio Negri 
Dia: 13/01 
• Pressupostos discursivos 
• Área de poucas inovações (?) 
1. INTRODUÇÃO 
“A teoria clássica define a obrigação como o vínculo pelo 
qual uma pessoa fica adstrita, para com a outra, “a 
realização de uma prestação” – Antônio Menezes 
Cordeiro. 
- Atualmente é insuficiente para assegurar toda a 
matéria, mas serve como ponto de partida. 
- O direito em geral se estrutura por meio de uma 
linguagem própria, e muitas vezes nesse processo, 
aquele sentido comum que é conferido a determinado 
termo, acaba recebendo uma nova significação no 
campo jurídico. É exatamente o que acontece com o 
termo “obrigação”, em um sentido amplo e genérico, a 
obrigação é associada a ideia de um dever jurídico de 
qualquer natureza. Em sentido estrito, o termo 
obrigação se refere a uma espécie particular de dever, 
nesse aspecto particular, a compreensão da ideia de 
obrigação guarda relação com a ideia de relação 
jurídica, uma relação mediante a qual o devedor fica 
adstrito ao cumprimento de uma prestação perante o 
credor, que passa a ter o direito de exigi-la. 
- Na ideia da prestação que se desenvolve a principal 
classificação do direito obrigacional.O Código Civil de 
2002 estabelece três tipos de obrigação: 
• De dar (atividade positiva/ entrega ou 
restituição); 
• De fazer (atividade positiva/ prestação de 
serviço); 
• De não fazer. 
Ainda que a ideia central de obrigação tenha passado 
por um processo de alteração, nota-se que a definição 
trabalhada é simples, insuficiente e incompatível com o 
mundo real. Todo o direito obrigacional gira em torno 
da prestação. 
• A obrigação pode ser vista de dois aspectos: 
Dívida: o devedor se encontra adstrito a uma prestação. 
No direito obrigacional, a prestação não se define 
simplesmente pelo ato de dar, pode ocorrer uma 
prestação de fazer ou não fazer. 
Responsabilidade: Consequência jurídica do 
inadimplemento. 
Hoje em dia, a sujeição pelo inadimplemento não recai 
sobre a pessoa do devedor e sim sobre seu patrimônio 
(a prisão por dívida é uma grande exceção, não a regra). 
Obs.: Teoria dualista: desenvolvida na Alemanha e que 
separava a relação jurídica obrigacional em duas 
espécies, a dívida e a da responsabilidade. 
2. A OBRIGAÇÃO NA ATUALIDADE 
O direito obrigacional aparenta ter sofrido poucas 
alterações desde o direito romano. É uma informação 
errada, pois passa uma impressão irreal do Direitos das 
Obrigações. 
Características associadas ao direito obrigacional numa 
perspectiva contemporânea: 
• Complexidade: Ao contrário do modelo 
simples, a relação obrigacional é marcada por 
uma complexidade interna, que alcança, além 
dos tradicionais deveres de prestar, diversas 
outras situações, como os deveres laterais que 
decorrem da boa-fé objetiva. 
• Dinamicidade: Poderes e deveres que surgem 
ao longo da relação, “com algo que se encadeia 
e se desdobra” em direção ao adimplemento 
(elemento finalístico), voltado para a satisfação 
dos interesses das partes considerados dignos 
de tutela. 
• Funcionalização: A obrigação representa um 
instrumento de cooperação para a promoção 
dos interesses legítimos envolvidos na relação 
em concreto. As partes devem colaborar 
mutuamente para a plena realização do 
programa obrigacional. A função deve orientar 
todo o programa obrigacional, de forma que o 
adimplemento se aproxima da realização em 
concreto do resultado útil programado. O 
interesse do credor ainda que importante será 
confrontado com outros interesses 
merecedores de tutela. 
3. ABUSO DE DIREITO X BOA-FÉ OBJETIVA 
Boa-fé objetiva: Assim como no abuso do direito, a boa-
fé objetiva se desenvolveu a partir de tentativas de se 
conter recessos da liberdade individual. Parâmetros de 
cooperação, retidão e lealdade para valorar a condutas 
das partes, e como barreira ao exercício da autonomia 
privada. 
Art.187 - Também comete ato ilícito o titular de um 
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os 
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes. 
Art.422 - Os contratantes são obrigados a guardar, assim 
na conclusão do contrato, como em sua execução, os 
princípios de probidade e boa-fé. 
AULA 3 – RETIRAR DÚVIDAS 
Professor: Sérgio Negri 
• O contrato de compra e venda não transfere a 
propriedade. Direitos obrigacionais; dentro dos 
direitos subjetivas tenho aqueles suscetíveis de 
xxxx econômica. 
A obrigação de dar (bem determinado) se divide em 2 
comportamentos: entrega (contrato de compra e venda 
do carro) e devolução/restituição (contração de 
depósito de locação). 
AULA 4 – OBRIGAÇÃO DE DAR COISA 
INCERTA 
A obrigação de dar envolve propriamente dois 
comportamentos: entrega e restituição. E essa 
diferenciação tem implicação na própria distribuição de 
riscos na relação obrigacional. 
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se 
perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou 
pendente a condição suspensiva, fica resolvida a 
obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de 
culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e 
mais perdas e danos. 
No perecimento sem culpa, o prejuízo fica para o dono 
(proprietário). Há uma diferença substancial entre a 
entrega e a restituição, de acordo com o art.238 do CC, 
se a coisa perece antes da restituição sem culpa do 
devedor resolve-se a obrigação. No entanto, a diferença 
do art.238 para o art.234, é que no art.238 como antes 
da devolução o proprietário é o credor, ele fica com o 
prejuízo; no art.234 (entrega) o prejuízo fica com o 
devedor, porque antes da entrega o devedor é o 
proprietário. 
Obrigação de dar coisa incerta: 
Até aqui o objeto da prestação se mostrava totalmente 
individualizado (entregar o carro, entregar 10 sacas de 
café). Na qual o objeto não se mostra perfeitamente 
individualizado (determinado). 
1. INTRODUÇÃO 
• A incerteza é sempre relativa 
Art.243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo 
gênero e pela quantidade. 
(a incerteza recai sobre a qualidade ou a espécie). 
Exemplo: Num contrato de compra e venda você 
assume a obrigação de entregar 10 garrafas de vinho. 
Qual vinho será entregue? Brunello ou Cantina da Serra? 
Não resta dúvida quanto a quantidade e o gênero. 
Se o objeto da prestação não se mostra suscetível de 
determinação, a consequência é a nulidade. A obrigação 
será nula em razão desse vício do objeto. O legislador, 
no entanto, franqueou as partes a possibilidade de uma 
individualização posterior, é aqui que se insere a 
obrigação de dar coisa incerta. O objeto embora na 
constituição do vínculo obrigacional entre credor e 
devedor, cujo objeto é uma prestação, e que não se 
mostre perfeitamente individualizado, existe essa 
possibilidade, pois é determinável, onde haverá a 
especificação do que será entregue. A incerteza não é 
absoluta, é relativa/parcial. 
2. OBRIGAÇÃO DE DAR 
Uma das principais formas de classificar uma obrigação 
levando em conta a prestação. O dar contempla a 
entrega e restituição. Ex.: contrato de compra e venda 
(bilateral) 
Coisa certa: perfeitamente individualizado. 
Coisa incerta: possibilidade de determinação posterior, 
no momento dessa individualização, aquela obrigação 
passa a ser disciplinada pela obrigação de dar. 
3. OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA 
Obrigação de dar coisa incerta: obrigação simples no 
que se refere a prestação, sendo uma única prestação 
que não se mostra perfeitamente 
individualizada/determinada (incerteza quanto a 
qualidade e espécie). 
Obrigação alternativa: obrigação complexa no que se 
refere ao objeto, composta por mais de 1 (uma) 
prestação. Na obrigação alternativa, tem-se 2 (duas) ou 
mais prestações e o devedor se desobriga entregando 
apenas uma. Exemplo: é assinado um contrato no qual 
um devedor pode entregar determinado bem ou a 
quantia referente aquele determinado bem, e o 
devedor se desobriga realizando apenas uma, pois aqui 
há uma alternativa. Não se restringe a obrigação de dar. 
4. ESCOLHA E ESPECIFICAÇÃO 
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela 
quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o 
contrário não resultar do título da obrigação; mas não 
poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a 
melhor. 
Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o 
disposto na Seção antecedente. O ato da escolha é, 
conforme determinado no artigo 246, o divisor de águas 
nas obrigações de entregar coisa incerta. 
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar 
perda ou deterioração da coisa, ainda que por força 
maior ou caso fortuito. 
Não se trata propriamente de uma escolha, aproxima-
se mais de uma especificação. Uma vez realizada a 
especificação a obrigação de dar coisa incerta se torna 
obrigação de dar coisa certa, não basta a escolha, se a 
escolha compete ao devedor é com a comunicação da 
individualização que ocorre essa transformação. 
5. PERECIMENTO 
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar 
perda ou deterioração da coisa, ainda que por força 
maior ou caso fortuito. 
A grande característicada obrigação de dar coisa incerta 
está no perecimento. Já que o objeto não se mostra 
perfeitamente individualizado, na disciplina do risco, se 
a coisa perece sem culpa do devedor, resolve-se a 
obrigação. Ninguém será responsabilizado pelo caso 
fortuito ou de força-maior. Aqui fala-se de 
impossibilidade e não de inexecução da prestação. 
O gênero não perece na obrigação de dar coisa incerta. 
É possível determinar o gênero a certas espécies, isso 
pode acontecer de forma natural. 
Princípio da qualidade média: não é porque não foi 
determinado o objeto, que se deve aceitar algo de baixa 
qualidade. 
OBRIGAÇÃO DE FAZER E EXECUÇÃO 
ESPECÍFICA 
Dia: 26/01 
A obrigação de fazer nos permite estudar outras 
matérias do direito obrigacional e não só neste âmbito. 
1. A ILUSÃO DA TUTELA RESSARCITÓRIA 
A obrigação de fazer se insere no conceito tradicional de 
obrigação, estamos assim falando de uma relação 
jurídica entre credor e devedor que tem como objeto 
uma prestação. A particularidade é que a prestação se 
trata de um fazer, geralmente, prestação de um serviço 
(relação médico-paciente, relação com o pintor para a 
pintura da casa). Não é fácil em algumas situações 
concretas separar a obrigação de dar e a de fazer. 
Qual o melhor remédio oferecido pelo ordenamento 
para as partes em caso de inadimplemento de uma 
obrigação de fazer? No nosso Código, há uma separação 
da obrigação de fazer fungível e a obrigação de fazer 
infungível. 
A obrigação de dar comporta uma execução específica, 
já que ela incide sobre a coisa, ainda que indiretamente. 
A obrigação de dar envolve a prestação, a entrega ou a 
restituição; mas o interesse se mostra vinculado a 
entrega daquele determinado bem. 
O mesmo a princípio não valeria para a obrigação de 
fazer. Se o devedor se recusa a realizar a prestação só a 
eles imposta, caberia ao credor pedir apenas as perdas 
e danos. 
O código Civil de 2002 ainda acaba deixando margem 
para a Ilusão quanto a tutela ressarcitória. Que é você 
pensar que o único remédio para inadimplemento para 
a obrigação de fazer seria as perdas e danos. 
• Obrigação de fazer fungível: oferta a 
possibilidade de realização da prestação por 
um terceiro; 
• Obrigação de fazer infungível: é aquela que a 
princípio só pode ser exercida pelo próprio 
devedor, ele só se exonera da obrigação se 
realizar a prestação, não havendo, 
inicialmente, a previsão de realização por um 
terceiro. 
 
a) Omnis condemnatio pecuniaria (Zimmerman) 
b) Código Civil francês de 1804 (artigo 1442): 
reforçava a ilusão da tutela ressarcitória, como 
uma força de diferenciar a obrigação de fazer e 
a de dar. 
2. EXECUÇÃO ESPECÍFICA E A OBRIGAÇÃO 
DE FAZER 
Art.247 - Incorre na obrigação de indenizar perdas e 
danos o devedor que recusar a prestação a ele só 
imposta, ou só por ele exequível. 
• Obrigação de fazer infungível (prestação 
personalíssima): o que a torna infungível pode 
ser a própria natureza do serviço. Deve ser 
determinada no contrato. 
Art. 247, CC é responsável também pela confusão no 
que tange à tutela ressarcitória. 
A tutela específica da obrigação de fazer infungível teve 
um papel importante no reconhecimento da 
prevalência da execução específica das obrigações. A 
tutela ressarcitória não é o único remédio, o principal 
hoje é a execução específica da obrigação. 
 
Atualmente o ordenamento disponibiliza ao credor 
mecanismos, por exemplo, de execução indireta. Ao 
contrário da execução forçada (em que o Direito tenta 
persuadir o devedor a realizar o comportamento 
esperado no programa obrigacional). 
Ex: Emprego da multa, forma de correção indireta na 
qual procura-se constranger o devedor a realizar a 
obrigação na sua forma específica. Essa associação 
imediata entre recusa da obrigação infungível e perdas 
e danos não e mais adotado no Direito Brasileiro. 
3. EXECUÇÃO ESPECÍFICA E MEIOS DE 
EXECUÇÃO 
A legislação processual teve grande relevância na 
consolidação da tutela especifica das obrigações. Não 
podemos ler o art. 247 do CC de forma isolada, é 
fundamental conjugar aquela relação com o 499/ CPC. 
Código de Processo Civil. 
Art. 499. A obrigação somente será convertida em 
perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a 
tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado 
prático equivalente. 
Outros exemplos: 
A) Sentença (infungibilidade jurídica) 
B) Astreintes – espécie de multa (indireta) 
C) Execução por terceiro (contrato substitutivo) 
4. EXECUÇÃO POR TERCEIRO E 
AUTOTUTELA 
Destaca-se a possibilidade do exercício (assim como na 
obrigação de não fazer) da autotutela por parte do 
credor. 
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, 
será livre ao credor mandá-lo executar à custa do 
devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo 
da indenização cabível. – Obrigação de fazer fungível – 
Credor pode mediante autorização judicial optar por 
contrato substitutivo 
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o 
credor, independentemente de autorização 
judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo 
depois ressarcido. (Independe de decisão judicial) 
Reforçam a separação da tutela contratual e da tutela 
jurisdicional, isso não significa que o ordenamento 
reserve à parte lesada uma esfera de absoluta liberdade 
de forma a vedar qualquer interferência por parte do 
Estado. O exercício da tutela por parte do credor 
também passa pelos filtros disponibilizados pelo 
ordenamento, para se aferir, verificar, se o exercício da 
autonomia privada em concreto se afigura legítima ou 
não. 
A interpretação pelo que se entende como urgência, 
deverá ser feita com base nas circunstâncias do caso em 
concreto, nesses casos o juiz não deve analisar o 
conceito de urgência de forma restrita para não 
inviabilizar a faculdade conferida ao leitor. 
“Se houver limitação excessiva na definição das 
hipóteses de urgência, o credor só optará pela execução 
por terceiro após prévia verificação da urgência frente 
ao judiciário”. 
Ainda que o credor tenha a obrigação de cooperar com 
o devedor para a promoção do resultado esperado, 
devendo inclusive reduzir seus próprios prejuízos em 
alguns casos, o contrato com terceiro (substitutivo) 
representa uma faculdade que lhe foi conferida, cuja 
previsão não afasta a possibilidade da execução 
especifica (passa a ser a regra) do próprio devedor com 
a utilização de meios de execução indireta. 
5. EXECUÇÃO ESPECÍFICA E A EXECUÇÃO 
INDIRETA 
Multa é uma técnica processual de indução que 
representa uma das formas mais importantes de 
execução indireta. 
Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a 
exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o 
juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a 
efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela 
pelo resultado prático equivalente, determinar as 
medidas necessárias à satisfação do exequente. 
§ 1º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá 
determinar, entre outras medidas, a imposição de 
multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e 
coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de 
atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o 
auxílio de força policial. 
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte 
e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em 
tutela provisória ou na sentença, ou na fase de 
execução, desde que seja suficiente e compatível com a 
obrigação e que se determine prazo razoável para 
cumprimento do preceito. (Multa tem como 
destinatário a parte e não o Estado). A tutela específica 
em relação à multa não se restringe nas obrigações de 
fazer infungíveis. 
Limites a essas multas fixadas a persuadir o devedor a 
prestar a prestação- Uma vez constatada que foi 
estabelecida fora dos parâmetros da razoabilidade ou 
quando se tornar exorbitante podendo tornar-se 
indevida. 
6. EXECUÇÃO ESPECÍFICAE A PROMESSA 
DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS 
Súmula 239 – O direito à adjudicação compulsória não 
se condiciona ao registro do compromisso de compra e 
venda no cartório de imóveis. 
Fazer promessa de compra e venda com o vendedor, 
pago todas as prestações, ele se recusa indevidamente 
a manifestar a vontade necessária para a escritura e 
registro do imóvel. Você tem uma sentença que diante 
da recusa há a substituição da vontade do promitente 
vendedor. Dupla natureza: infungível (ponto de vista 
fático), mas fungível (do ponto jurídico pode ser 
substituída pela sentença). Há essa execução específica 
permitindo ao credor ter acesso àquela manifestação 
necessária para a transferência para o imóvel. Sentença 
que diante da recusa substitui a manifestação de 
vontade (obrigação de fazer). 
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES I – 
CESSÃO DE CRÉDITO 
Professor: Marcus Dantas (28/01) 
Percurso da aula: 
• Transmissão das obrigações; 
• Cessão de crédito: hipótese; 
• Validade e efeitos frente em relação a 
terceiros; 
• Efeitos quanto ao devedor e quanto ao 
cessionário; 
• Responsabilidade do cedente. 
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES 
➢ Os elementos essenciais das obrigações 
• Polo ativo 
• Polo passivo 
Polos ocupados por pessoas físicas ou jurídicas, mas a 
identidade não é determinante. Apesar de 
necessariamente termos 2 polos, as pessoas podem 
mudar, ou seja, as obrigações são transmissíveis, seja na 
posição de credor ou devedor. 
Nesta aula, trataremos da transmissão de obrigação na 
posição de credor. Exemplo: Mariana (devedor) pegou 
um dinheiro emprestado com Marcus (credor de 
Mariana), todavia, Marcus é devedor em relação a Nina 
(credora de Marcus). Marcus pode transmitir a condição 
de credor perante Mariana para Nina, dessa forma, 
Marcus é conhecido como cedente, passando sua 
posição para Nina como credora e ela será conhecida 
como cessionária (beneficiada com a transmissão). A 
transmissão permanece, mas a identidade das pessoas 
foi alterada e não interfere no desenvolvimento dessa 
transmissão de obrigação. Transmissão é a situação na 
qual tanto o credor quanto o devedor transmitem sua 
obrigação a terceiro a obrigação a qual estava vinculado 
e ela continua existindo, mas a identidade do polo 
passivo ou ativo foi alterada. 
➢ Tipos de transmissão 
• Que decorrem diretamente da lei; 
• Que decorrem fruto de uma decisão judicial 
• Que decorrem fruto de uma decisão 
voluntária: transmissão entre vivos (acordo de 
vontade – o exemplo supracitado acima refere-
se a essa opção); 
• Que decorrem em função da morte (crédito 
que o de cujus estava vinculado). 
 
➢ Cessão de crédito 
➢ Cessão de débito (assunção de dívida) 
➢ Obrigações intransmissíveis (por 
determinação legal, ex.: art.298; natureza da 
obrigação, ex.: alimentos, ajustes entre as 
partes) 
• Exceção da transmissão de obrigações. 
CESSÃO DE CRÉDITO 
➢ Conceito/hipótese 
Negócio jurídico no qual o credor (cedente) transfere a 
outrem (cessionário) os direitos decorrentes dessa 
relação obrigação. Essa transmissão do crédito não 
depende da anuência do devedor e a princípio não faria 
diferença a ela. Existe uma diferença no que diz respeito 
a qual vai ser a nova posição desse cedente (antigo 
credor): 
➢ Cessão pro soluto/ cessão pro solvendo 
Reutilizando o exemplo do Marcus, Mariana e Nina. 
Marcus sendo o credor de Mariana, mas o devedor de 
Nina. Ao transmitir sua posição de credor para Nina, ele 
está pagando a dívida que ele tem com a Nina (cessão 
de crédito com a Nina), podendo ser uma cessão pro 
soluto ou pro solvendo. 
Pro soluto: o cedente (antigo credor) se liberta do 
vínculo com o cessionário no momento da cessão, não 
se responsabilizando pelos pagamentos futuros. 
Pro solvendo: a responsabilidade é mais ampla, o 
cedente garante a existência do crédito e o pagamento 
da dívida (que a pessoa tenha dinheiro para pagar); não 
se liberta totalmente da responsabilidade. 
➢ Créditos intransmissíveis. Ex.: CC, art.298 
➢ Pactum non cedendo. CC, art.286 (cessionário 
de boa-fé) 
Pacto de não transmissão: quando as partes chegam em 
um acordo e não será possível transmitir; 
Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não 
se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção 
com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não 
poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não 
constar do instrumento da obrigação. 
➢ Transmissibilidade dos acessórios. CC, art.287 
(ex.: garantias) 
Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de 
um crédito abrangem-se todos os seus acessórios. 
VALIDADE DA CESSÃO E SEUS EFEITOS 
➢ Validade da cessão e seus efeitos entre as 
partes: CC, art.288 (forma livre) 
Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a 
transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante 
instrumento público, ou instrumento particular 
revestido das solenidades do § 1° do art. 654. 
➢ Eficácia da cessão perante terceiros: CC, 
art.654, §1° 
Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar 
procuração mediante instrumento particular, que valerá 
desde que tenha a assinatura do outorgante. 
§ 1º - O instrumento particular deve conter a indicação 
do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante 
e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a 
designação e a extensão dos poderes conferidos. 
➢ Necessidade de registro: CC, art.221 
(requisito de oponibilidade) 
O registro tem como objetivo dar a publicidade de 
existência da obrigação em relação a transmissão 
acordada entre as partes sobre a relação obrigacional. 
Não é eficaz perante terceiros se não for registrada. 
➢ Registro competente, Lei 6015/73, art.130, 
9°: títulos e documentos 
➢ Eficácia da cessão em relação ao devedor, 
CC, art.290 
➢ Meios de ciência do devedor, CC, art.294; 
CC, art.292 
➢ Caráter instrumental da notificação 
EFEITOS DA CESSÃO QUANTO AO DEVEDOR E 
QUANTO AO CESSIONÁRIO 
➢ CC, art.291: pluralidade de cessões do mesmo 
crédito. Qual deve prevalecer? 
A cessão na qual o cessionário tiver o título (documento 
comprobatório da existência do crédito). 
➢ Tradição do título; B) prioridade na 
notificação, C) rateio do valor; 
➢ Direito à indenização: CC, art.292 
➢ Crédito objeto da penhora: CC, art.298 
➢ Atos de conservação do crédito: CC, art.293 
➢ Direito de defesa contra a cobrança do crédito 
pelo cessionário: CC, art.294 
RESPONSABILIDADE DO CEDENTE 
➢ Cessão onerosa (responde pela 
existência/exigibilidade do crédito); 
➢ Cessão gratuita (só responde se tiver agido de 
má-fé) 
➢ Regra geral: o cedente não é responsável pelo 
efetivo adimplemento da obrigação 
transmitida ou pela solvência do devedor (CC, 
art.296) 
➢ Cessão pro soluto 
➢ Cessão pro solvendo. Limitação da 
responsabilidade ao preço (CC, art.297) 
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES II – 
CESSÃO DE DÉBITO (ASSUNÇÃO DE DÍVIDA) 
Professor: Marcus Dantas (30/01) 
Percurso da aula: 
• Cessão de crédito e de débito: distinções; 
• Efeitos da assunção de dívida; 
• Anulação da assunção de dívida; 
• Cessão de posição contratual. 
CESSÃO DE CRÉDITO E DE DÉBITO: DISTINÇÕES 
➢ CC, art.299: consentimento expresso 
Transferência de crédito e débito, além disso, na cessão 
de débito há a necessidade de consentimento expresso 
do credor na relação obrigacional. 
Exemplo: Marcus é devedor da Mariana e Nina é 
devedora do Marcus, então, Nina assumirá a dívida de 
Marcus (cede o débito que ele tem) frente a Mariana. 
Para a Mariana é relevante saber se Nina tem condições 
de honrar esse débito, nesse caso, na cessão de débito 
o consentimento da outra parte é uma condição de 
existência, o silêncio não deve ser interpretado como 
uma forma de aceitação. 
Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do 
devedor, com o consentimento expresso do credor, 
ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, 
ao tempo da assunção, era insolventee o credor o 
ignorava. 
Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar 
prazo ao credor para que consinta na assunção da 
dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. 
➢ CC, art.303: assunção pelo adquirente de 
imóvel hipotecado 
Hipoteca é um direito real de garantia sobre bens 
imóveis. O credor pode executar a hipoteca, levando a 
leilão e apurar o crédito que ela possui sobre a hipoteca. 
Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode 
tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se 
o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a 
transferência do débito, entender-se-á dado o 
assentimento. 
➢ Abusividade da negativa 
EFEITOS DA ASSUNÇÃO DE DÍVIDA 
➢ Efeito principal: liberação do devedor 
primitivo; 
Transfere a dívida para não ser mais o responsável pelo 
débito. 
➢ Ressalva: CC, art.299, final; 
➢ Enunciado 16, Jornadas do Direito Civil: “o 
art.299 do CC não exclui a possibilidade da 
assunção cumulativa da dívida quando dois ou 
mais devedores se tornarem responsáveis 
pelo débito com a concordância do credor”. 
➢ Transmissão dos elementos acessórios: juros, 
cláusula penal, etc. 
Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor 
primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção 
da dívida, as garantias especiais por ele originariamente 
dadas ao credor. 
Regra: os acessórios seguem o principal. 
➢ As garantias especiais não são transmitidas 
(CC, art.300) 
➢ Garantias especiais oferecidas por terceiros 
ANULAÇÃO DA ASSUNÇÃO DE DÍVIDA 
➢ CC, art.301: “restauração do débito”; 
Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser 
anulada, restaura-se o débito, com todas as suas 
garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, 
exceto se este conhecia o vício que inquinava a 
obrigação. 
➢ Garantias prestadas por terceiros 
➢ CC, art.302: exceções pessoais 
Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor 
as exceções pessoais que competiam ao devedor 
primitivo. 
Ex.: dolo utilizado anteriormente. 
CESSSÃO DA POSIÇÃO CONTRATUAL 
➢ Hipótese 
Ceder ao terceiro a sua posição, cedente sua posição da 
posição contratual. 
➢ Características: contratos bilaterais; anuência 
do cedido (acordo entre 3 vontades); 
As partes devem estar de acordo para que a cessão 
seja feita corretamente, promovendo segurança para 
todos. 
➢ Efeitos: entre o cedente e o cessionário; entre 
o cessionário e o cedido. 
Cedente: posição original e que irá transferir sua 
posição para o cessionário. 
Cessionário: vai passar a ocupar a posição do antigo 
cedente. 
Cedido: parte original que continua vinculada. 
REGIME DO ADIMPLEMENTO 
Prof.: Flávio Henrique (03/02) 
1. REQUISITOS DO PAGAMENTO 
Em geral: (a) intenção do pagador de solver uma dívida; 
(b) prestação, tempo, lugar, quantidade e qualidade em 
conformidade com o contrato ou a lei, salvo 
concordância do credor em receber uma prestação 
desconforme; (c) quando o pagamento é feito por 
terceiro, consentimento dado pelo credor ou pelo 
devedor, se necessário; (d) legitimidade do recebedor 
do pagamento. 
Em alguns casos: transferência da propriedade. 
2. PAGAMENTO POR TERCEIROS COM 
INTENÇÃO DE SOLVER (PRESTAÇÕES EM 
GERAL) 
Consentimento do credor: 
• Terceiro interessado, quando o devedor não 
cumpriu ou resta claro que não irá 
• cumprir no tempo devido: NÃO 
• Terceiro não interessado que paga em nome 
do devedor: NÃO 
• Terceiro não interessado que paga em nome 
próprio: SIM 
Consentimento do devedor: 
• Terceiro interessado: NÃO 
• Terceiro não interessado que paga em nome 
do devedor: SIM 
• (exceto na hipótese de gestão de negócios 
permitida) 
• Terceiro não interessado que paga em nome 
próprio: NÃO 
3. PAGAMENTO POR TERCEIROS COM 
INTENÇÃO DE SOLVER (SERVIÇOS INTUITU 
PERSONAE) 
Consentimento do credor: 
• Qualquer terceiro: SIM 
Consentimento do devedor: 
• Qualquer terceiro: SIM 
4. QUEM TEM LEGITIMIDADE PARA RECEBER O 
PAGAMENTO? 
• Credor de direito ou alguém autorizado pelo 
credor de direito (ex.: sujeito que contratou 
com aquele devedor); 
• Credor putativo; 
• Qualquer pessoa, desde que o pagamento seja 
posteriormente transferido ao credor de 
direito ou seja por ele ratificado. 
5. IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO 
 
6. FORMA DO PAGAMENTO DE 
PRESTAÇÕES PECUNIÁRIAS 
 
7. PERDA DO DIREITO DE PAGAR, 
OFERECER O PAGAMENTO OU CURAR A 
PRESTAÇÃO DESCONFORME 
 
8. OFERTA DO PAGAMENTO E 
PAGAMENTO 
Requisitos da oferta: os mesmos requisitos do 
pagamento (intenção de solver a dívida; prestação, 
tempo, lugar, quantidade e qualidade em conformidade 
com o contrato ou a lei; direito de realizar o pagamento 
por parte do pagante e direito de receber por parte do 
recebedor; eventualmente a capacidade de transferir ao 
credor a propriedade da prestação oferecida em 
pagamento), mais uma demonstração inequívoca da 
disposição e capacidade de realizar o pagamento. Caso 
o devedor já tenha descumprido o contrato, de maneira 
que lhe possa ser imputável, então além dos requisitos 
acima o devedor também tem de oferecer o pagamento 
de uma indenização ao credor pelos prejuízos causados 
em virtude do atraso. 
Efeitos da oferta em relação ao devedor: (a) desculpa 
para o inadimplemento, caso o devedor ainda não tenha 
descumprido; (b) afastamento do direito do credor de 
obter a resolução do contrato em virtude do prévio 
inadimplemento do devedor; (c) atenuação da 
responsabilidade do devedor pelo perecimento ou 
deterioração da prestação devida (ele passa a responder 
somente por dolo); (d) direito de cobrar indenização do 
credor pelos prejuízos sofridos com a conservação da 
prestação devida; (e) direito de cobrar a 
contraprestação devida pelo credor (normalmente, o 
preço), ainda que o devedor seja liberado de seu dever 
de cumprimento em virtude de impossibilidade ou 
onerosidade; (f) impedimento ou cessação do 
corrimento de juros, indenização por lucros cessantes e 
outros prejuízos decorrentes do atraso, assim como não 
cabimento de multa e outras penalidades em virtude do 
inadimplemento; (g) permissão concedida ao devedor 
para revender a prestação devida para um terceiro, com 
o depósito do dinheiro arrecadado em favor do credor; 
(h) reconhecimento da dívida e interrupção da 
prescrição; (i) tendo o devedor o direito de escolher, a 
oferta do pagamento pode eventualmente deixar 
evidente a escolha da prestação a ser entregue, 
tornando-a uma obrigação de dar coisa certa, nos casos 
em que anteriormente a obrigação era de entregar coisa 
genérica. 
Efeitos que a oferta do pagamento compartilha com o 
pagamento: (a) transferência ao credor do risco de 
perecimento ou deterioração acidental da prestação 
devida, conforme descrito na letra “c”, exceto pelo fato 
de que no pagamento tal transferência tem caráter 
definitivo, enquanto na oferta do pagamento a 
transferência ocorre até o momento em que o credor 
purgar a sua mora; (b) impedimento ou cessação do 
corrimento de juros e outras penalidades, conforme 
descrito na letra “f”, exceto pelo fato de que no 
pagamento tal impedimento ou cessação tem caráter 
definitivo, enquanto na oferta do pagamento tais 
consequências ocorrem até o momento em que o 
credor purgar a sua mora. 
Diferenças: exceto quanto às hipóteses de exoneração 
do devedor em virtude da impossibilidade de 
cumprimento ou onerosidade excessiva (ocorridas 
durante a mora do credor), somente o pagamento 
extingue definitivamente a obrigação de cumprimento 
do devedor. 
9. PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO 
 
10. DEVER ATRIBUÍDO AO CREDOR DE 
RECEBER O PAGAMENTO OU ÔNUS DE 
RECEBER (QUE TRAZ CONSEQUÊNCIAS 
NEGATIVAS EM CASO DE NÃO RECEBIMENTO 
INJUSTIFICADO)? 
Em geral: ônus de receber. Logo, não cabe resolução 
por “inadimplemento” do credor. 
Excepcionalmente, há dever do credor quando tal dever 
de recebimento da prestação ou de cooperação é 
estipulado no contrato. Entretanto, o inadimplemento 
de taldever por parte do credor não permite ao devedor 
solicitar ao juiz a condenação do credor a receber. O 
inadimplemento apenas permite ao devedor obter a 
resolução do contrato. 
11. PROVA DO PAGAMENTO E DESPESAS 
RELACIONADAS AO PAGAMENTO 
 
12. TRANSFERÊNCIA DAS GARANTIAS E 
PRIVILÉGIOS DO ANTIGO CREDOR AO 
NOVO CREDOR (SUB-ROGAÇÃO) 
 
 
Pagamento por terceiros: (a) terceiro interessado; (b) 
terceiro não interessado que paga com consentimento 
do devedor; (c) qualquer terceiro a quem o credor 
transferiu expressamente tais garantias e privilégios; (d) 
credor que paga aos demais credores a dívida do 
devedor comum. 
Outras hipóteses: (e) cessão do crédito para o novo 
credor; (f) mutuante que empresta a quantia exata para 
o devedor pagar a dívida. 
13. CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE AS GARANTIAS 
E PRIVILÉGIOS DO CREDOR SÃO EXTINTAS, 
SEM A SUA RENOVAÇÃO PARA O MESMO 
CREDOR OU A SUA TRANSFERÊNCIA PARA UM 
NOVO CREDOR 
Em caso de troca do devedor por assunção de dívida, 
salvo se o devedor primitivo tiver concordado em 
continuar submetido às garantias por ele originalmente 
dadas. 
Em caso de contração pelo devedor de nova dívida, mais 
onerosa, para extinguir e substituir a anterior; exceto se 
houver acordo entre o credor e o devedor em sentido 
contrário. Eventuais garantias prestadas por terceiros 
que não concordaram com a nova dívida contraída pelo 
devedor serão extintas (fiadores, proprietários dos bens 
dados em penhor ou hipotecados, demais devedores, 
etc.). 
14. MODALIDADES ALTERNATIVAS DE 
PAGAMENTO: DAÇÃO EM PAGAMENTO 
E COMPENSAÇÃO 
 
15. OUTRAS FORMAS DE EXTINÇÃO DA DÍVIDA 
SEM PAGAMENTO: CONFUSÃO E REMISSÃO DA 
DÍVIDA 
 
COMO DIFERENCIAR O PAGAMENTO DE 
SITUAÇÕES ANÁLOGAS? 
1. Critérios de distinção: 
No verdadeiro pagamento, o pagante (que pode ser o 
próprio devedor ou um terceiro) tem a intenção de 
cumprir uma obrigação perante determinado credor, 
com o objetivo específico de extinguir a dívida do 
devedor perante aquele credor. O pagamento pode ser 
bem sucedido ou não, dependendo do atendimento dos 
seus requisitos. Caso seja bem sucedido, o pagamento 
irá extinguir a dívida do devedor. Caso o pagamento 
tenha sido feito por um terceiro, talvez ele consiga obter 
a restituição do enriquecimento do devedor. 
[Exemplo: B, que celebrou um contrato com A, corta 
algumas árvores no terreno de A, em cumprimento ao 
estipulado no contrato entre as partes. Se o serviço tiver 
sido prestado corretamente, então aquilo será 
considerado um pagamento, extinguindo a dívida de B.] 
Em sua situação parecida com o pagamento, que o 
código civil brasileiro chama de “pagamento indevido” 
(arts. 876-883), e que os romanos chamavam de 
condictio indebiti, o pagante tem a intenção de cumprir 
uma obrigação perante determinado credor, com o 
objetivo específico de extinguir a dívida do devedor 
perante aquele credor. Entretanto, por engano, ele 
acaba entregando alguma coisa ou acaba prestando um 
serviço para alguém que não era o verdadeiro credor. 
Em tal situação, somente serão aplicáveis as normas do 
pagamento, com a extinção da dívida do devedor e 
afastando-se a condictio indebiti, se o recebedor 
pudesse ser considerado um “credor putativo” (quer 
dizer, aparente). Do contrário, o devedor continuaria 
obrigado perante o seu verdadeiro credor. Caso a dívida 
não fosse extinta, o pagante poderia, talvez, recuperar 
do recebedor a restituição do seu enriquecimento (com 
base na condictio indebiti). Caso a dívida fosse extinta, o 
verdadeiro credor é que teria de correr atrás do 
recebedor para tentar obter a restituição do seu 
suposto enriquecimento (com base no regime geral do 
enriquecimento). 
[Exemplo: B, por engano, corta algumas árvores no 
terreno de A, acreditando que ele estava obrigado, em 
virtude de um suposto contrato válido entre as partes, a 
realizar tal serviço. Por coincidência, A queria que as 
suas árvores fossem cortadas para ele vender a 
madeira. O verdadeiro credor de B era C. Supondo-se 
que A fosse um credor putativo (aparente); então a ação 
de B seria equiparada a um pagamento, extinguindo a 
sua dívida perante C. Restaria a C tentar cobrar a 
restituição do suposto enriquecimento de A com base 
no regime geral do enriquecimento. Por outro lado, caso 
A não pudesse ser considerado credor putativo; então B 
continuaria obrigado perante C. Restaria a B tentar 
cobrar a restituição do suposto enriquecimento de A 
com base na condictio indebiti. Conduta de B não seria 
considerada pagamento, apesar de ele ter tido a 
intenção de pagar.] 
Outra hipótese de cabimento da condictio indebiti 
ocorre quando o pagante realiza uma prestação para o 
verdadeiro “credor”, mas num contrato que era nulo de 
pleno direito por algum motivo. Em tal hipótese, não são 
aplicadas as normas do pagamento, com extinção da 
dívida do devedor, simplesmente porque não havia 
qualquer dívida. O pagante tem direito de tentar obter 
a restituição do suposto enriquecimento do recebedor. 
[Exemplo: B, que celebrou um contrato com A, corta 
algumas árvores no terreno de A, acreditando que ele 
estava obrigado, em virtude de um suposto contrato 
válido entre as partes, a realizar tal serviço. Entretanto, 
o contrato era nulo de pleno direito em virtude da 
incapacidade absoluta de A. Em tal hipótese, B pode 
tentar cobrar a restituição do suposto enriquecimento 
de A com base na condictio indebiti. Conduta de B não 
seria considerada pagamento, apesar de ele ter tido a 
intenção de pagar.] 
Em outra situação, que não possui qualquer conexão 
com a realização de um pagamento, alguém entrega 
alguma coisa ou presta um serviço para alguém, sem a 
intenção de extinguir qualquer dívida, mas que – por 
coincidência – era algo esperado pelo recebedor como 
um pagamento a ser feito por outra pessoa. Em tal 
situação, são aplicadas as normas do pagamento, com a 
extinção da dívida do verdadeiro devedor, se ele já 
existisse. O “pagante” (entre aspas mesmo) talvez 
consiga obter a restituição do enriquecimento, seja do 
verdadeiro devedor (se ele já existisse) ou do recebedor, 
desde que o “pagante” tivesse sofrido algum tipo de 
empobrecimento. 
[Exemplo: B, por engano, corta algumas árvores no 
terreno de A, acreditando que ele estava cortando as 
árvores do seu próprio terreno, para vender a madeira. 
Por coincidência, A também queria que as suas árvores 
fossem cortadas para ele vender a madeira. Na hipótese 
de A já ter contratado alguém, D, para realizar o corte 
das árvores; então a ação de B seria equiparada a um 
pagamento, apesar de ele nunca ter tido a intenção de 
pagar (exonerando D do seu dever de cumprimento 
perante A). Na hipótese de A não ter contratado 
ninguém para fazer o serviço, então a ação de B não 
receberia a qualificação de pagamento. Talvez B 
pudesse cobrar a restituição do suposto enriquecimento 
de D ou A, dependendo das circunstâncias. Em primeiro 
lugar, seria necessário estabelecer se alguém foi 
enriquecido pela prestação do serviço, assim como 
saber quem foi enriquecido (D, que recebeu o preço, 
mas não chegou a prestar o serviço; ou A, que recebeu 
o serviço, mas não chegou a pagar o preço). Em segundo 
lugar, seria necessário estabelecer se B foi empobrecido 
com a prestação do serviço. No exemplo dado, parece 
que sim, pois ele queria cortar as árvores para obter um 
lucro. Assim, ele acabou realizando um serviço sem 
receber nada em troca. Por outro lado, imaginemos uma 
variação deste exemplo: vamos supor que B cortou as 
árvores para realizar exercícios físicos, de forma a ficar 
mais saudável. Em tal situação, não teria ocorrido o seu 
“empobrecimento” e ele não poderia cobrar a 
restituição de ninguém, ainda que D ou A tivessem 
obtido um enriquecimento. Supondo-se que B, como no 
exemplo dado, pudesse cobrar a restituição de alguém 
(D ou A); então tal cobrança não poderia ser 
fundamentada no regimejurídico do pagamento 
indevido (condictio indebiti), já que ele nunca teve a 
intenção de pagar alguém com o serviço de corte das 
árvores, mas teria de ser fundamentada no regime geral 
do enriquecimento.] 
Em conclusão: (1) existe o verdadeiro pagamento; (2) 
existe uma situação em que o sujeito tem a intenção de 
pagar e, apesar de não conseguir alcançar o seu 
objetivo, a sua conduta é equiparada a um pagamento 
(credor putativo); (3) existe uma situação em que o 
sujeito nunca teve a intenção de pagar, mas a sua 
conduta pode ser equiparada a um pagamento, por ter 
sido capaz de satisfazer o que o credor de alguém tinha 
direito de receber. 
[Observação: o código civil italiano, art. 1.191 
(pagamento feito por um incapaz), diz que “o devedor 
que cumpriu a prestação devida não pode impugnar o 
pagamento com fundamento na sua própria 
incapacidade”. Portanto, a intenção de pagar é avaliada 
de forma superficial, sem a análise da questão de se o 
pagante tem condições de formar uma intenção válida, 
ainda que o pagamento possa ser posteriormente 
invalidado pela falta dos requisitos para a transferência 
da propriedade do bem dado em pagamento.] 
2. Como avaliar o enriquecimento do recebedor de 
uma prestação ou do devedor cuja dívida foi extinta 
por outra pessoa nas situações de: pagamento 
verdadeiro realizado por um terceiro; pagamento ao 
credor putativo; pagamento indevido (condictio 
indebiti) e ações que, mesmo sem a intenção de pagar, 
satisfazem o recebedor. 
O que se segue é aplicável tanto ao recebedor de uma 
prestação stricto sensu, quanto ao devedor cuja dívida 
foi extinta. Ressalte-se agora que, no caso do devedor, 
a extinção da sua dívida pode ser equiparada ao 
recebimento de uma prestação de natureza pecuniária, 
não importando tanto a natureza da prestação por ele 
originalmente devida. O motivo é que ele tem os seus 
custos de cumprimento economizados, o que pode ser 
calculado em termos monetários. A extinção da sua 
dívida equivale, até certo ponto, ao recebimento de 
dinheiro. Por outro lado, a situação é mais complexa no 
caso do recebedor da prestação realizada por alguém. A 
seguir, alguns critérios para avaliar o enriquecimento. 
I- Enriquecimento encarado de forma subjetiva 
Motivo: o bem ou serviço foi imposto ao enriquecido, 
logo seria injusto se ele fosse obrigado a restituir algo 
mesmo não tendo sido subjetivamente enriquecido. 
[Exemplo: B, por engano, corta algumas árvores no 
terreno de A, acreditando que ele estava cortando as 
árvores do seu próprio terreno. O objetivo de B era 
praticar atividades físicas, de maneira que ele pudesse 
ficar mais forte e saudável. Infelizmente, A detestou o 
corte de árvores. Ele apreciava a vista daquelas árvores. 
Sob o seu ponto de vista, ao invés de receber um 
“enriquecimento”; ele sofreu uma dolorosa perda. Ele 
agora quer cobrar de B uma indenização pelos danos 
sofridos. Observe que o estado mental de A pode fazer 
toda a diferença entre o recebimento de um 
enriquecimento e a inflição de uma perda. O 
enriquecimento não comporta apenas elementos 
objetivos, como o valor do serviço de corte de árvores, 
mas também aspectos subjetivos. Da mesma forma, o 
empobrecimento de B não comporta apenas elementos 
objetivos, mas também elementos subjetivos. O estado 
mental de B pode fazer toda a diferença entre um 
empobrecimento e um ganho com a prestação daquele 
mesmo serviço. No exemplo dado, B obteve um ganho, 
pois ele conseguiu praticar atividades físicas utilizando 
recursos alheios sem ter de pagar nada por isso. Assim, 
ao invés de cobrar uma indenização pela sua perda, A 
poderia optar por cobrar a restituição do 
enriquecimento de B.] 
 
II- Uso de presunções por causa da dificuldade de se 
provar fatores subjetivos 
II.1- Benefício recebido tem natureza pecuniária 
(dinheiro) 
Presunção: o sujeito que recebeu dinheiro é 
considerado como tendo sido subjetivamente 
enriquecido na medida exata do montante recebido. 
Motivo da aplicação da presunção: o dinheiro, como a 
mercadoria que possui maior liquidez em uma 
economia, pode ser trocado por qualquer tipo de bem 
ou serviço que traga satisfação ao seu recebedor. 
Exceção: quando existem indícios ou provas de que o 
recebedor não foi subjetivamente enriquecido no exato 
montante recebido, então considera-se apenas o 
efetivo enriquecimento como, por exemplo, em 
Ministry of Defence v. Thompson, [1993] 2 Estates 
Gazette Law Reports 107 [C.A.U.K. (Civ. Div.)]. 
II.2- Benefício recebido não possui natureza pecuniária 
(bens móveis, serviços, etc.) 
Presunção: o recebedor NÃO é considerado como tendo 
sido subjetivamente enriquecido. 
Motivo da aplicação da presunção: em muitos casos, o 
recebedor não teria como devolver o recebido em 
espécie, tendo que alienar algo do seu patrimônio para 
levantar o dinheiro necessário para a restituição 
(problemas de liquidez); o recebedor não atribui um 
valor positivo para aquilo que recebeu da outra parte 
(problemas de valorização); o recebedor até poderia 
considerar positivo o que recebeu, mas nunca teria 
considerado como sua prioridade investir na aquisição 
do bem ou serviço recebido (problemas relacionados ao 
custo de oportunidade). 
Exceções: 
(a) Casos em que é possível realizar a restituição em 
espécie 
(b) O benefício é posteriormente transformado em 
dinheiro ou seu equivalente 
(c) O recebedor havia previamente revelado uma 
disposição em pagar pelo benefício 
(d) O recebedor foi poupado de ter de gastar com uma 
despesa necessária 
Exemplo: Mich. Cent. Ry. v. State, 155 N.E. 50, 50-51 
(Ind. Ct. App. 1927). Um carregamento de carvão foi 
entregue por engano pela empresa ferroviária para a 
prisão do estado da Indiana. O verdadeiro credor do 
empobrecido, que contratou a empresa ferroviária para 
fazer a entrega, era outra pessoa. Entretanto, por 
coincidência, o recebedor (prisão estadual) também 
estava esperando um carregamento de carvão. Parte do 
carvão foi consumida pelo recebedor antes que o erro 
fosse descoberto. A empresa ferroviária indenizou o 
empobrecido pela perda do carvão com base no seu 
valor de mercado. O empobrecido, por sua vez, cedeu à 
empresa ferroviária o direito de cobrar a restituição do 
suposto enriquecimento do recebedor (prisão 
estadual). Observe-se que, no caso concreto, a prisão 
estadual havia feito um contrato de fornecimento de 
carvão de longo prazo com um terceiro. Com base em 
tal contrato, a prisão estadual deveria pagar um preço 
por tonelada substancialmente menor do que o valor de 
mercado do carvão consumido por engano. O benefício 
recebido não tinha natureza pecuniária (dinheiro), mas 
ainda assim o recebedor deveria ser considerado como 
tendo sido subjetivamente enriquecido. Motivo: ele 
havia demonstrado previamente a disposição em pagar 
pelo benefício recebido (carvão), conforme atestado 
pelo contrato feito com o terceiro. Entretanto, o 
enriquecimento subjetivo do recebedor não foi medido 
com base no valor de mercado do carvão consumido, 
mas sim com base no valor que ele estava disposto a 
pagar no contrato com o terceiro. [Supondo-se que uma 
parte do carvão ainda estivesse em poder da prisão 
estadual, ela teria de devolver ao empobrecido. Mas tal 
devolução da posse não seria baseada no direito de 
reivindicar a propriedade sobre o carvão, que já teria 
sido perdida para a prisão estadual, mas na restituição 
do enriquecimento obtido pela prisão às custas do 
antigo proprietário (empobrecido). Em tal caso, haveria 
o enriquecimento subjetivo do recebedor por 
enquadrar-se na primeira exceção à presunção de não 
enriquecimento acima mencionada. Supondo-se que 
uma parte do carvão tivesse sido revendida pela prisão 
estadual para outras pessoas, ela teria de restituir ao 
empobrecido (antigo proprietário do carvão) ou à 
empresa ferroviária (em virtude da cessão do direito 
feita pelo empobrecido)o preço de venda para esses 
terceiros (renda bruta obtida), limitada ao montante do 
prejuízo sofrido pelo empobrecido ou pelo cessionário. 
Em tal caso, haveria o enriquecimento subjetivo do 
recebedor por enquadrar-se na segunda exceção à 
presunção de não enriquecimento acima mencionada.] 
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS 
Utilitas in re ipsa: um reexame da classificação dos 
bens considerados em si mesmos 
Denis Franco Silva e Flávio Henrique Silva Ferreira 
1. A PROBLEMÁTICA DA CLASSIFICAÇÃO 
DOS BENS 
O ato de dividir e classificar fenômenos e/ou coisas 
apresenta-se como uma necessidade epistemológica. 
Atos de divisão e classificação são o que permite toa e 
qualquer concepção de sistema ou ordem e, portanto, 
de conhecimento abrangente acerca de uma realidade. 
O ato de classificar, possui uma intrínseca relação com 
determinada visão de mundo pré-concebida, ou com 
certos conceitos preestabelecidos de forma muito mais 
arbitrária do que inicialmente se pode imaginar, 
retroalimentando tais conceitos preestabelecidos a 
partir da perplexidade ou estranheza causados por 
aquilo que escapa ou ultrapassa os estreitos limites da 
classificação apresentada. 
No Capítulo I do Título Único do Livro II da Parte Geral 
do Código Civil de 2002, as categorias apresentadas só 
se revelam possíveis e integradas de forma sistêmica se 
pressuposta determinada ideologia e, 
consequentemente, determinada função ou finalidade 
a elas atribuída, de seus estreitos limites escapando e 
causando estranheza em tudo aquilo que não possa se 
adequar aos critérios ordenadores que lhe deram 
origem. 
Quanto a isto, os próprios elementos caracterizadores 
do que seria um “bem” para o direito, ou seja, as 
características que imediatamente conduziriam um 
ente qualquer à posição de objeto de relações jurídicas 
fixam os limites inerentes a tal classificação, quais 
sejam: utilidade, suscetibilidade de apropriação, 
limitabilidade e exterioridade. A classificação dos bens 
se ocupa da titularidade, aquisição e circulação dos bens 
em economia de mercado. 
Mesmo no âmbito do direito, o termo “bem” pode ser 
empregado para designar coisas completamente 
distintas, tais como o direito à “educação”, a um “meio 
ambiente saudável”, a um ‘automóvel”, a um “crédito”, 
sendo que um ordenamento jurídico pode então apoiar 
a produção e circulação desses bens, a reprimir ou lhe 
ser indiferente. Quanto ao sentido tacitamente 
empregado na Parte Geral do Código Civil de 2002, 
percebe-se que o legislador teve em mente 
especialmente aqueles bens de caráter patrimonial 
suscetíveis de alienação e, no que se refere aos bens em 
si mesmo considerados, a classificação confere ênfase à 
utilidade que o bem representa, per se, para seu titular. 
2. UMA BREVE E ÚTIL REMISSÃO 
HISTÓRICA 
O ato de classificar os bens em diferentes categorias é 
algo relativamente recente em termos históricos. Os 
romanos, de quem se tomou emprestado grande arte 
de nosso direito privado, não se preocupavam em 
elaborar categorias e classificações compreensivas. 
Encontra-se menção a diferentes tipos de bens, em 
diversos fragmentos, sempre que necessário para a 
exposição de alguma controvérsia ou regra jurídica 
concreta. 
Os romanos dividiam as coisas entre aquelas divinis iuris 
e aquelas humani iuris. As primeiras são res sacrae, res 
religiosae e res sanctae, enquanto as últimas podem ser 
classificadas como sendo públicas ou privadas. Outras 
divisões – mais relevantes para o direito privado – são 
entre as coisas corpóreas ou incorpóreas, e também 
entre res macipi e res nec mancipi. 
O Código de 1916, assim, veio apresentar a priemira 
classificação ordenada e sistematizada dos bens no 
direito brasileiro, com uma estrutura que foi, de fato, 
recepcionada pelo atual Código Civil de 2002, levando 
em consideração as divisões categoriais no que se refere 
aos bens considerados em si mesmos. 
3. A CLASSIFICAÇÃO DOS VENS 
CONSIDERADOS EM SI MESMOS NO 
CÓDIGO CIVIL DE 2002 
O Código Civil de 2002, como o código anterior, reúne 
uma série de dicotomias categoriais – quais sejam, 
imóveis/móveis, fungíveis/infungíveis, consumíveis/ 
não consumíveis, singulares/coletivos – dentro de uma 
mesma categoria sistêmica mais ampla, uma classe, 
qual seja, a dos bens considerados em si mesmos, em 
oposição às classes dos bens reciprocamente 
considerados e dos bens públicos (respectivamente, 
Capítulos I, II e III do Título Único do Livro II da Parte 
Geral). 
Sendo o principal escopo de tal sistemática 
classificatória estabelecer critérios que norteiam 
questões ligadas à titularidade, aquisição e circulação 
dos ditos bens, tal distinção em três grandes eixos 
categoriais se apresenta relevante. 
No que se refere à titularidade, declina-se no Capítulo III 
tratamento diferenciado aos bens públicos, ou seja, 
estabelece-se um regime jurídico específico em função 
do titular dos direitos que incidem sobre bens 
enquadrados em tal categoria. Nos Capítulos I e II, em 
mais clara relação de oposição, encontram-se as 
categorias estruturadas em função da utilidade 
representada pelos bens inseridos em tal classificação. 
Assim, em oposição a uma sistemática que visa regular 
questões de titularidade, aquisição e circulação de bens 
em situações nas quais a utilidade é determinada ou 
sobrelevada pela relação com outro bem (classe dos 
bens reciprocamente considerados), encontra-se a 
classe na qual, per re ipsa, ou seja, independentemente 
da relação imediata de um bem com outros, tal utilidade 
é abstratamente reconhecida e se estabelecem 
distinções categoriais de suma relevância quanto ao 
regime jurídico de apropriação, perda e circulação de 
determinado bem no ordenamento, a depender das 
categorias da classe dos bens considerados em si 
mesmos nas quais se subsume o bem em questão. 
3.1 Bens imóveis e bens móveis 
A divisão dos bens entre imóveis e móveis é 
considerada, historicamente, a mais importante e 
mesmo reputada pela doutrina francesa como a suma 
divisão dos bens. 
Na sistemática do Código Civil de 2002, são imóveis: o 
solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou 
artificialmente (art.79), os direitos reais sobre imóveis e 
as ações que os asseguram (art.80, I) e o direito à 
sucessão aberta (art.80, II), estes dois últimos por 
determinação legal. 
Observe-se, portanto, que os bens imóveis podem ser 
assim considerados de três tipos, quais sejam: a) por 
natureza e acessão natural; b) por acessão física ou 
artificial; e c) por determinação legal. Claro que se 
encontra que o direito brasileiro não mais reconhece a 
chamada imobilização por acessão intelectual, ou seja, 
nos termos do art.43, III, do CC de 1916 “tudo quanto no 
imóvel o proprietário mantiver intencionalmente 
empregado em sua exploração industrial, 
aformoseamento ou comodidade”. 
O art. 81 do CC, que encerra a seção relativa aos bens 
imóveis, dispõe que não perdem seu caráter de imóveis 
“as edificações que separadas do solo, mas conservando 
sua unidade, forem removidas para outro local” (art.81, 
I) e os “materiais provisoriamente separados de um 
prédio para nele mesmo se reempregarem (art.81, II). 
Quanto aos bens móveis, o código atual também os 
divide em dois tipos, quais sejam: os móveis por 
natureza e os móveis por determinação legal. 
Os móveis por natureza são aqueles “suscetíveis de 
movimento próprio, ou de remoção por força alheia, 
sem alteração da substância ou da destinação 
econômico-social” (art.82), sendo a parte final do 
dispositivo o que reforça o fato de ser a utilidade 
representada pelo bem o determinante para sua 
classificação. 
Já os móveis por determinação legal seriam “as energias 
que tenham valor econômico” (art.83, I), “os direitos 
reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes” 
(art.83, II), mais uma vez em aplicação da regra de que 
o acessório segue o principal,e “os direitos pessoais de 
caráter patrimonial e respectivas sanções” (art.83, III). 
Em termos históricos, especialmente a partir do século 
XIX, uma das principais funções exercidas pela 
classificação dos bens em móveis ou imóveis é a 
elaboração de regras diferenciadas para a aquisição da 
propriedade sobre os referidos bens por meio de um 
negócio jurídico inter vivos. Entre os requisitos para a 
transferência da propriedade sobre bens imóveis está a 
anotação desta transferência em registros oficiais, 
enquanto a maior parte dos bens móveis prescinde do 
referido requisito. Em teoria, no caso dos bens móveis 
corpóreos, a transferência da posse (tradição) é, 
juntamente com outros fatores, um dos requisitos para 
a transferência da sua propriedade, ao invés do registro. 
Ou seja, a transferência da propriedade sobre os bens 
imóveis demanda operação mais solene e complexa, 
como regra, do que a mesma operação tendo por objeto 
um bem móvel. 
Crítica: a tutela especial conferida aos bens imóveis é 
usualmente criticada, mormente pelo fato de que “em 
muitos casos, os títulos e outros bens móveis possuem 
valor superior aos bens imóveis”. De fato, ações, títulos 
e outros valores mobiliários certamente podem possuir, 
atualmente, valor muito mais elevado e talvez função 
econômica mais importante que os tradicionais bens 
imóveis. O determinante, entretanto, para a inclusão ou 
exclusão na categoria dos bens imóveis, de maneira a se 
estabelecer um regime mais complexo de aquisição 
(seja originária, como se verá abaixo, seja derivada) ou 
transmissão de direitos, não é seu valor econômico ou 
seu “valor de troca”, mas como dito, a utilidade 
representada pelo bem individualmente considerado 
para seu titular. (valores mobiliários apresentam 
liquidez e facilidade de circulação do capital 
representado) 
O enquadramento de certos bens na categoria dos 
móveis ou imóveis é ainda utilizada pelo ordenamento 
para elucidar qual o regime jurídico aplicável nas 
hipóteses de aquisição originária da propriedade como 
usucapião, ocupação, acessão, especificação e outras. 
3.2 Bens fungíveis e infungíveis 
A classificação seguinte trazida pelo atual Código Civil é 
a entre bens fungíveis e infungíveis que, como visto, 
possuir origem no direito romano, sendo que a noção 
de fungibilidade pode ser reportada aos bens que 
possuem a particularidade de se identificarem por peso, 
conta ou medida ou, na mais precisa definição do 
Código Civil de 2002, aqueles que “podem-se substituir 
por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade” 
(art.85). 
Embora a redação do artigo 85 do Código Civil de 2002 
pouco contribua para tanto, percebe-se que do regime 
conferido à fungibilidade, principalmente no que se 
refere a seus reflexos obrigacionais, admite o direito 
brasileiro a noção subjetiva de fungibilidade, também 
chamada de fungibilidade convencional. Neste sentido, 
a lição de Orlando Gomes, segundo o qual “a 
fungibilidade não é propriedade natural da coisa, mas 
qualidade alterável pela vontade do homem, conforme 
o fim que tenha em mira ao formar a relação jurídica”. 
Se o elemento determinante para a classificação é a 
utilidade representada pelo bem para o seu particular, 
de outra forma não poderia ser. Tome-se, como 
exemplo, um touro. Se a utilidade de bem para o titular 
é a tração de um arado, pode determinar-se a 
fungibilidade do objeto em uma operação de compra e 
venda. Todavia, se a utilidade do bem resulta de sua 
carga genética (um touro reprodutor), infungível será 
necessariamente considerado. 
3.3 Bens consumíveis e não consumíveis 
Outra classificação, apresentada no art.86 do Código 
Civil de 2002, é entre bens consumíveis e não 
consumíveis, tendo aí também preferido o legislador 
definir o que seriam os bens consumíveis, 
considerando-se não consumíveis os que não se 
subsumirem nos termos do dispositivo. 
Ao contrário do que inicialmente se possa inferir, o 
conceito de bem consumível não é naturalístico, mas 
jurídico, e depende, como já se pode presumir a esta 
altura, da utilidade representada pelo bem. 
Costuma-se apresentar os bens consumíveis divididos 
entre duas subcategorias, quais sejam, consumo natural 
e consumo jurídico. Os primeiros seriam aqueles cujo 
uso implica na destruição imediata da coisa (por 
exemplo, alimentos), enquanto os segundos seriam 
aqueles destinados à alienação, podendo-se 
exemplifica-los com a menção a livros destinados à 
venda em uma livraria. 
Entrementes, a partir da admissão de uma categoria de 
consumo dita “jurídica”, porque prescinde de 
destruição imediata da coisa, verifica-se que o consumo 
é determinado, propriamente, pela extinção ou não de 
todos os direitos que o titular possui sobre o objeto, seja 
por perecimento imediato do objeto por meio do uso, 
seja por transmissão destes direitos a outrem. A 
utilidade do bem (ou cessação desta) para o titular, 
desta maneira, é que se revela fator determinante. 
É possível afirmar, em relação à classificação dos bens 
em consumíveis ou não consumíveis, que a relevância 
da distinção entre eles se encontra na aplicação de 
regras especiais, restritas à categoria dos bens 
consumíveis, que têm por escopo a validação de certos 
tipos de pagamento que seriam considerados inválidos 
em circunstâncias normais. 
3.4 Bens divisíveis e indivisíveis 
Tal classificação, por si, deixa claro seu caráter não 
naturalístico, uma vez que, a rigor, no mundo físico, até 
mesmo o átomo pode ser dividido. 
O Código Civil de 2002 dispõe, de maneira bem mais 
elucidativa, em seu art.87 que “bens divisíveis são os 
que podem fracionar sem alteração na sua substância, 
diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a 
que se destinam”. 
Tal redação ressalta, em sua parte final, o caráter 
valorativo de tal classificação centrado, mais uma vez, 
na utilidade, que se sobressai no texto, tendo em vista, 
por exemplo, que a “considerável perda de valor” 
refere-se ao valor de troca, diretamente relacionado ao 
– no entanto não determinado pelo – valor de uso do 
bem”. 
“Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar 
sem alteração na sua substância, diminuição 
considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se 
destinam. 
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-
se indivisíveis por determinação da lei ou por vontade 
das partes.” 
Deve-se notar, diante do disposto no art.88, que se 
inclinou o legislador também aqui por uma acepção 
subjetiva na determinação do significado da expressão 
“do uso a que se destinam”, já que a indivisibilidade 
pode ainda ocorrer da lei ou, mais importante neste 
momento, da vontade das partes. Tal raciocínio será 
melhor esclarecido abaixo, visto que a aplicação mais 
importante da presente divisão entre bens divisíveis e 
indivisíveis se manifesta, justamente, no direito das 
obrigações. 
De fato, a categorização de um dado bem como 
indivisível tem como principal objetivo a proteção da 
utilidade, traduzida em vantagem, almejada pelo credor 
com o recebimento do referido bem. Tal proteção é 
conferida por meio da proibição de seu fracionamento 
no momento da entrega ao mencionado credor. 
Para a aferição da utilidade trazida pelo recebimento de 
parte do bem, e, consequentemente, para a aferição de 
sua categorização como divisível ou indivisível, é levado 
em conta os usos aos quais o referido bem é tipicamente 
submetido na sociedade, que podem variar em função 
da intenção do titular. 
Entretanto, o uso absolutamente idiossincrático a ser 
conferido ao bem por um eventual credor deve ser 
levado em conta nos casos em que tal uso tenha sido 
objeto de barganha pelas partes contratantes, 
traduzindo-se em uma cláusula contratual. 
3.5 Bens singulares e coletivos 
A última divisão trazida dentro da classe dos bens 
considerados em si mesmos é a divisão entre bens 
singulares

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