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APG 20 - Síndrome nefrótica 1. Compreender a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e diagnóstico da síndrome nefrótica A síndrome nefrótica é uma condição clínica que se caracteriza por proteinúria com valores superiores a 3,5 g/1,73 m2 de superfície corpórea nas 24 horas em adultos, ou maior do que 50 mg/kg/dia em crianças, hipoalbuminemia e edema gravitacional. De acordo com o International Study of Kidney Disease in Children, o quadro completo inclui ainda hiperlipidemia e lipidúria Etiologia Se o padrão não for lesão histológica mínima, as outras causas de síndrome nefrótica são: glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) que é uma doença renal caracterizada por síndrome nefrótica, com frequente progressão para insuficiência renal terminal. A glomerulonefrite membranoproliferativa é um grupo de doenças imunomediadas caracterizadas, histologicamente, por espessamento da membrana basal glomerular e alterações proliferativas na microscopia. A nefropatia membranosa ou glomerulonefrite membranosa é uma doença renal caracterizada pela inflamação e espessamento lento e gradual da membrana basal dos capilares sanguíneos dos glomérulos renais. Fisiopatologia Na síndrome nefrótica a barreira de filtração glomerular está deficiente em manter o controle e a seletividade em relação à sua carga. O filtro glomerular contém cargas negativas, principalmente na membrana basal, mas, também, nas camadas endoteliais e epiteliais Em condições normais estruturas como: albumina, lipoproteínas (Apolipoproteína B), imunoglobulinas (principalmente IgG) e antitrombina III não passariam pela membrana glomerular. Muitas proteínas plasmáticas, de pequeno e médio peso molecular, juntamente com a albumina são perdidas em pacientes nefróticos como: gamaglobulinas, alfaglobulinas, transferrina, proteínas carreadoras de hormônios, proteínas inibidoras da cascata de coagulação O edema da síndrome nefrótica é secundário, sobretudo, à hipoalbuminemia que, por sua vez, é decorrente da proteinúria; mas, outros mecanismos contribuem para a formação do edema, entre eles: ajustes no sistema renina-angiotensina-aldosterona e no sistema nervoso simpático; aumento do hormônio antidiurético (ADH) e maior reabsorção tubular de sódio determinada por menor sensibilidade ao fator natriurético atrial. Na etiopatogenia do edema nefrótico, devemos considerar duas hipóteses: a teoria do hipofluxo (underfill) e a teoria do hiperfluxo (overflow). Na teoria underfill as grandes perdas proteicas determinam hipovolemia levando à queda da pressão oncótica plasmática e a fim de manter a volemia, vários mecanismos homeostáticos são automaticamente acionados levando a queda da filtração glomerular, inibição do fator natriurético atrial, estimulação do hormônio antidiurético e ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Na teoria overflow, o edema decorre de um defeito primário renal na absorção do sódio. Admite-se que a retenção de sódio seria secundária a mecanismo renal intrínseco, não dependendo da volemia ou da ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Acredita-se que a causa dessa reabsorção aumentada seja motivada por uma resistência ao peptídeo natriurético atrial por aumento do catabolismo do GMP cíclico que se segue à ativação da fosfodiesterase. A hiperlipidemia, na síndrome nefrótica, é explicada pelo mecanismo de compensação do fígado. A hipoalbuminemia e a redução da pressão oncótica plasmática levariam a um aumento da síntese de proteínas pelo fígado, pois a albumina e as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) compartilham, no hepatócito, a mesma via de síntese. Há também um aumento da síntese de colesterol, em virtude de uma maior disponibilidade de ácido mevalônico, precursor do colesterol, habitualmente metabolizado e excretado pelos rins. Na síndrome nefrótico, sua metabolização e sua excreção estão prejudicadas. Quadro clínico Os sintomas nos pacientes com síndrome nefrótica, geralmente, são de caráter insidioso, se apresentando com sintomas inespecíficos, inapetência e cansaço. Os principais sinais e sintomas são que encontramos nos pacientes com síndrome nefrótica são: o edema gravitacional, pode ser discreto ou generalizado, mas é caracteristicamente mais acentuado na face, sobretudo bipalpebral, pela manhã e de membros inferiores ao final do dia. A proteinúria é visualizada pela presença de espuma na urina, traduzindo a perda anormal de proteínas pela urina. Uma hipertensão arterial sistêmica e alterações de fundo de olho compatíveis com hipertensão podem estar presentes O tromboembolismo constitui uma das mais sérias complicações da síndrome nefrótica que ocorre em razão da perda de proteínas como a antitrombina III Diagnóstico Para diagnosticar a síndrome nefrótica é preciso solicitar a determinação de proteinúria de 24 horas e de albumina sérica, visto que proteinúria nefrótica e hipoalbuminemia são os achados laboratoriais essenciais que, associados ao quadro clínico de edema, caracterizam a definição de síndrome nefrótica. Não é essencial a presença de dislipidemia para se pensar em síndrome nefrótica, embora hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia sejam frequentes A biópsia renal, na síndrome nefrótica, está indicada em pacientes adultos, desde que apresentem rins de tamanho normal e não sejam conhecidas contra indicações relevantes à sua realização, entre as quais citam-se distúrbios de coagulação. Sempre estará indicada em síndrome nefrótica idiopática em adultos