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Análise Econômica do Pass-through entre Etanol e Gasolina

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PASS-THROUGH ENTRE OS PREÇOS DO ETANOL E DA GASOLINA: UMA 
ANÁLISE ECONOMÉTRICA 
 
Raphael Oliveira da Costa Portela 
 
 
Projeto de Graduação apresentado 
ao curso de Engenharia de Produção da 
Escola Politécnica, Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos 
necessários à obtenção do título de 
Engenheiro. 
 
Orientadora: Thereza Cristina Nogueira de 
Aquino 
Co-orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima 
Filho 
 
Rio de Janeiro 
Agosto de 2016 
 
 
 
 
 
PASS-THROUGH ENTRE OS PREÇOS DO ETANOL E DA GASOLINA: UMA 
ANÁLISE ECONOMÉTRICA 
 
 
Raphael Oliveira da Costa Portela 
 
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO 
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA 
POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO 
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE 
ENGENHEIRO. 
 
Examinado por: 
 
________________________________________________ 
Prof. Thereza Cristina Nogueira de Aquino DSc. 
 
________________________________________________ 
Prof. Roberto Ivo da Rocha Lima Filho DSc. 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Lino Guimarães Marujo DSc. 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Amarildo da Cruz Fernandes DSc. 
 
 
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL 
AGOSTO DE 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Portela, Raphael. 
Pass-through entre os preços do etanol e da gasolina: 
uma análise econométrica / Raphael Oliveira da Costa Portela – 
Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016. 
 VI, 101 p.: il.; 29,7 cm. 
Orientadora: Prof. Thereza Cristina Nogueira de Aquino 
Co-orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho 
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de 
Engenharia de Produção, 2016. 
Referências bibliográficas: p. 97 - 101. 
I. Aquino, Thereza Cristina Nogueira de; Filho, Roberto Ivo da 
Rocha Lima. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Esola 
Politécnica, Engenharia de Produção. III. Pass – through entre os 
preços do etanol e da gasolina: Uma análise econométrica 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Este trabalho é resultado do esforço de uma gama de pessoas que, de uma forma 
ou de outra, derrubaram barreiras e me deram a oportunidade de desenvolver meu 
potencial acadêmico. 
Agradeço primeiramente a Dona Dora, minha mãe, por todos esses anos de 
apoio, sobretudo pelos vários momentos de luta pelos quais passou para que eu pudesse 
chegar até aqui. Agradeço a toda a minha família, meu pai, minha tia, meu tio e minhas 
primas. Aos meus amigos de Colégio Pedro II, Maurício, Kenzo e Stefan, a “Família” e 
Raul, Leite, Fábio Henrique, Carlos, Salles, Líbia e Mariana Lucas. São especiais 
também os que me acompanharam nesses anos todos de UFRJ, meus amigos de Ciclo 
Básico, Caio Brandão, Felipe Mazzei, Pedro Nascimento e Mayco, o “Fã Clube”, bem 
como Danide, Ana Carolina Mansilha, Ana Luiza Rossini, Carolina Bernhardt, Laíze e 
Andrej. Aos amigos da Produção, Lázaro, Caio Zacaron, André, Rodrigo, Gustavo e 
Antunes. 
Sou grato também a todo o corpo docente do curso de Engenharia de Produção 
da UFRJ e, sobretudo, aos professores Thereza Aquino e Roberto Ivo pela paciência, 
compreensão e companheirismo com que ajudaram a tocar esse estudo até a conclusão. 
Meus sinceros agradecimentos às muitas outras pessoas que foram especiais para 
mim nesses anos. Esse trabalho tem alguma influência de todos que fizeram parte da 
minha história até aqui. 
 
 
 
 
 
 
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte 
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção. 
 
PASS-THROUGH ENTRE OS PREÇOS DO ETANOL E DA GASOLINA: UMA 
ANÁLISE ECONOMÉTRICA 
 
Raphael Oliveira da Costa Portela 
 
Agosto/2016 
 
Orientadora: Thereza Cristina Nogueira de Aquino 
Co-orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho 
 
Curso: Engenharia de Produção. 
 
Este trabalho apresenta uma análise das relações entre preço e consumo de gasolina 
comum e etanol hidratado no Brasil no período de 2001 a 2015, que abrange a 
introdução dos veículos flex fuel e a efetivação de uma política econômica que visava 
controlar os preços dos combustíveis. Partindo da análise de estudos anteriores 
publicados sobre o tema, foram selecionadas commodities e variáveis macroeconômicas 
que impactassem no comportamento dos níveis de preço e consumo dos dois 
combustíveis. Após uma exposição histórica dos movimentos dessas variáveis, foi feita 
uma análise quantitativa elaborada a partir de um modelo econométrico de vetores auto-
regressivos, que permitiu verificar a significância e a magnitude do impacto que 
choques e variações em cada uma das variáveis tem no comportamento das outras, bem 
como identificar as influências que a modificação da política econômica no período 
trouxe para as variáveis ao longo do período estudado. 
O estudo conclui que há uma relação assimétrica entre o preço da gasolina e o do etanol 
hidratado, em que o preço do derivado de petróleo é capaz de ditar significativamente 
movimentos no preço do biocombustível, mas o inverso não ocorre. Conclui-se ainda 
que a modificação dos rumos de política econômica antes e depois de 2008 teve impacto 
na forma como os repasses de preço entre as variáveis se estabelecem. 
Palavras-chave: Etanol, Gasolina, Modelo Econométrico, Vetores Auto Regressivos 
 
 
 
 
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of 
the requirements for the degree of Engineer. 
 
PASS-THROUGH BETWEEN THE PRICES OF ETHANOL AND 
GASOLINE: AN ECONOMETRIC ANALYSIS 
 
Raphael Oliveira da Costa Portela 
 
August/2016 
 
Advisor: Thereza Cristina Nogueira de Aquino 
Co-advisor: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho 
 
Course: Industrial Engineering 
 
This work performs an analysis of the relationship between price and consumption of 
gasoline and ethanol in Brazil from 2001 to 2015, a period that covers the launch of flex 
fuel vehicles on the market and the introduction of governmental practices that aspired 
to control the price of fuel. Based on published research on the topic, the work selects 
macroeconomic variables and commodities that affect the behavior of both fuels. After 
a historic overview of the movements of the variables, the study performs a quantitative 
analysis, based on an econometric vector auto regressive model, that verifies the 
significance and magnitude that shocks and variations of those variables have on the 
behavior of each other. The work also identifies the influence that changes in economic 
policy had on price and consumption of fuel during the period. 
This work shows that there is an assymetrical relationship between the prices of 
gasoline and ethanol, in which the price of the former is able to significantly dictate 
price movements of the biofuel, but the reverse does not occur. It also shows that the 
changes in economic policy that occurred between the periods before and after 2008 had 
a significant impact on the way the pass through of prices influences each variable. 
Keywords: Ethanol, Gasoline, Econometric Model, Vector Autorregressive Model
 
 
i 
 
Índice 
Índice de Figuras .................................................................................................. iii 
Índice de Tabelas .................................................................................................. v 
Siglas e Abreviaturas .......................................................................................... vii 
1 Introdução....................................................................................................... 1 
1.1 Objetivo .................................................................................................. 1 
1.2 Motivação e Justificativa ........................................................................1 
1.3 Organização do trabalho ......................................................................... 2 
1.4 Limitações ............................................................................................... 2 
2 Panorama das relações entre os setores de produção de etanol e gasolina .... 3 
2.1 Os dois tipos de etanol ............................................................................ 3 
2.2 Histórico do mercado de etanol e dos programas de fomento à produção 
– do Proalcool à liberalização dos anos 2000 ............................................................... 4 
2.2.1 De 1973 a 1979 ................................................................................. 4 
2.2.2 De 1980 a 1986 ................................................................................. 8 
2.2.3 De 1986 a 1990 ................................................................................. 9 
2.2.4 De 1990 a 2003 ............................................................................... 11 
2.3 Formação de preços .............................................................................. 11 
2.3.1 Estrutura do setor de gasolina ......................................................... 12 
2.3.2 Tributos na formação de preços do etanol e da gasolina ................ 16 
2.3.3 Proporção das misturas de etanol anidro na gasolina ..................... 21 
2.4 Histórico recente da relação etanol – gasolina – pós flex-fuel - 2003 – 
presente 23 
2.4.1 A introdução dos carros flex fuel ..................................................... 23 
2.4.2 Evolução recente do mercado de etanol combustível e gasolina .... 24 
3 Revisão de Literatura ................................................................................... 36 
4 Metodologia utilizada ................................................................................... 43 
 
 
ii 
 
4.1 Regressão Linear - MQO ...................................................................... 45 
4.2 Transformação das séries históricas de entrada .................................... 46 
4.3 Modelos Autoregressivos (AR) ............................................................ 48 
4.4 Modelos de média móvel (MA) ............................................................ 49 
4.5 O modelo VAR ..................................................................................... 49 
4.6 Estacionariedade da amostra e metodologia Box - Jenkins .................. 51 
4.7 Teste de Causalidade de Granger .......................................................... 54 
4.8 Função Impulso Resposta, Decomposição da Variância e Decomposição 
de Cholesky 55 
4.9 Ilustração de um VAR aplicado ao tema .............................................. 58 
4.10 Cointegração...................................................................................... 59 
4.11 Os Modelos VEC .............................................................................. 60 
5 Análise dos dados e resultados do modelo ................................................... 63 
5.1 Amostra: Dados e software utilizado .................................................... 63 
5.2 Transformação das variáveis................................................................. 64 
5.3 Estacionariedade das variáveis ............................................................. 64 
5.4 Seleção do número de defasagens (lags) do modelo ............................ 65 
5.5 Teste de Cointegração de Johansen ...................................................... 67 
5.6 A identificação do modelo VEC ........................................................... 68 
5.7 Funções impulso resposta ..................................................................... 70 
5.8 Decomposição de Variância ................................................................. 77 
5.9 Comparação de períodos – Decomposição histórica ............................ 83 
6 Conclusão ..................................................................................................... 94 
6.1 Sugestão de estudos futuros .................................................................. 96 
7 Referências ................................................................................................... 97 
Apêndices ......................................................................................................... 102 
Anexos .............................................................................................................. 108 
 
 
iii 
 
Índice de Figuras 
Figura 1 - Preços do barril de petróleo bruto WTI (US$ de Nov/2015) ............... 5 
Figura 2 – Produção e Consumo de etanol (10³ m³) ............................................. 7 
Figura 3 - Produção por Tipo de Etanol (10³ m³) ................................................. 7 
Figura 4 – Consumo de Gasolina x Álcool (m³) ................................................... 8 
Figura 5 – Venda de veículos por tipo de combustível ........................................ 9 
Figuras 6, 7 e 8 – Participação das refinarias no valor total refinado (Petrobras 
em verde); Participação das distribuidoras em volume total de vendas; Distribuição de 
postos revendedores por empresa ................................................................................... 13 
Figura 9 – Composição de preços internacional ................................................. 15 
Figura 10 – Porcentagem das diferentes variáveis nos preços de venda da 
gasolina ........................................................................................................................... 20 
Figura 11– Composição do preço do etanol hidratado no final de 2014 ............ 21 
Figura 12 – Porcentagens de mistura de etanol anidro na gasolina C ................ 22 
Figura 13 – Licenciamento de autoveículos novos por combustível – Elétrico, 
diesel e etanol no eixo secundário .................................................................................. 24 
Figura 14 – Preços médios nominais de etanol hidratado (R$/l), gasolina comum 
(R$/l) e preço do petróleo WTI (US$/barril) .................................................................. 25 
Figura 15 – Preços dos combustíveis deflacionados com base no real de julho de 
2001 ................................................................................................................................ 27 
Figura 16 – Produção de etanol (10³ m³) ............................................................ 29 
Figura 17 – Consumo de etanol (10³ m³) ............................................................ 29 
Figura 18 – Endividamento do Setor Sucroalcooleiro por safra ......................... 30 
Figura 19 – Preço anual médio de todas as vendas de etanol por ano-safra 
(valores constantes de abril de 2009) ............................................................................. 31 
Figura 20 – Razão de preços etanol hidratado - gasolina ................................... 32 
Figura 21 – Consumo de gasolina x produção (10³ m³) .................................... 33 
Figura 22 – Indústrias novas x indústrias fechadas por safra ............................. 33 
Figura 23 - Indicador Etanol Anidro CEPEA/ESALQ ....................................... 34 
Figura 24 - Indicador etanol hidratado CEPEA/ESALQ .................................... 34 
Figura 25 – Representação da metodologia Box-Jenkins ................................... 53 
Figura 26 – Resposta do preço da gasolina a choques em outras variáveis ....... 72 
Figura 27 – Resposta do preço do etanol a choques em outras variáveis ........... 73 
 
 
iv 
 
Figura 28 – Resposta do consumo de gasolina a choques em outras variáveis .. 74 
Figura 29 – Resposta do consumo de etanol a choques em outras variáveis ..... 75 
Figura 30 – Resposta do preço do açúcar a choques em outras variáveis .......... 76 
Figura 31 – Resposta do preço do Brent a choques em outrasvariáveis ............ 77 
Figura 32 –Fluxograma de um processo típico de destilação do etanol. .......... 108 
Figura 33 – Fluxograma da produção de açúcar e etanol de cana .................... 109 
Figura 34 –Fluxograma comparativo entre uma destilaria autônoma e uma 
destilaria anexa. ............................................................................................................ 109 
 
 
 
v 
 
Índice de Tabelas 
Tabela 1 – Alíquotas sobre etanol hidratado ...................................................... 17 
Tabela 2 – Alíquotas para gasolina ..................................................................... 17 
Tabela 3 – Alíquotas de ICMS por estado e combustível .................................. 19 
Tabela 4 – Reajustes de preço nas refinarias Petrobras ...................................... 26 
Tabela 5 – Produção, Consumo e Balança Comercial de Etanol Hidratado....... 28 
Tabela 6 – Resultados dos testes ADF para as variáveis em nível ..................... 65 
Tabela 7 – Resultado dos testes ADF para primeira diferença das variáveis ..... 65 
Tabela 8 – Número de defasagens estimado para diferentes critérios ................ 66 
Tabela 9 – Coeficientes do teste de Cointegração de Johansen .......................... 67 
Tabela 10 – Coeficientes da equação de cointegração (em asterico, significativos 
ao nível de 5%) ................................................................................................... 69 
Tabela 11 - Coeficientes da equação de correção de erros (em asterico, 
significativo ao nível de 5%, em duplo asterico, ao nível de 1%) ...................... 70 
Tabela 12 – Decomposição de variância do preço de revenda da gasolina ........ 78 
Tabela 13 – Decomposição da variância do preço de revenda do etanol ........... 79 
Tabela 14 – Decomposição de variância do consumo de gasolina ..................... 80 
Tabela 15 – Decomposição de variância do consumo de álcool ........................ 81 
Tabela 16 – Decomposição de variância do preço do açúcar ............................. 82 
Tabela 17 – Decomposição de variância do preço do Brent............................... 83 
Tabela 18 – Decomposição de variância do preço de gasolina - Pré-Dilma ...... 84 
Tabela 19 – Decomposição de variância do preço de gasolina – Pós Dilma...... 84 
Tabela 20 – Decomposição de Variância do preço do etanol hidratado – Pré-
Dilma .................................................................................................................. 85 
Tabela 21 – Decomposição de Variância do Preço do etanol hidratado – Pós 
Dilma .................................................................................................................. 86 
Tabela 22 – Decomposição de variância do consumo de gasolina – Pré Dilma 87 
Tabela 23 – Decomposição de Variância do consumo de gasolina - Pós Dilma 88 
Tabela 24 – Decomposição de variância do consumo de álcool – Pré Dilma .... 89 
Tabela 25 – Decomposição de Variância do consumo de álcool – Pós Dilma ... 89 
Tabela 26 – Decomposição de Variância do preço do açúcar – Pré Dilma ........ 90 
Tabela 27 – Decomposição de variância do preço do açúcar – Pós Dilma ........ 91 
Tabela 28 – Decomposição de Variância do preço do brent – Pré Dilma .......... 92 
 
 
vi 
 
Tabela 29 – Decomposição de Variância do preço do Brent – Pós Dilma ......... 92 
Tabela 30 – Decretos e Portarias – Porcentagens de mistura ........................... 113 
Tabela 31 - Decretos e Portarias – Porcentagens de mistura ............................ 114 
 
 
 
vii 
 
Siglas e Abreviaturas 
ADF – Teste Dickey Fuller Aumentado 
AIC – Akaike Information Criteria 
ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores 
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 
BIC – Bayesian Information Criteria 
CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada 
CIDE – Contribuição de Intervnção no Domínio Econômico 
COFINS – Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social 
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento 
EIA – Energy Information Administration 
ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz 
FOB – Free on Board 
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços 
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia 
IPCA – Índice de Preços o Consumidor Amplo 
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 
MME – Ministério de Minas e Energia 
MQO – Mínimos Quadrados Ordinários 
OLS – Ordinary Least Squares 
OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo 
PASEP – Contribuição para Formaçãod e Patrimônio do Servidor Público 
PIS - Contribuição para o Programa de Integração Social 
PNA – Programa Nacional do Álcool 
SVAR – Vetores Autorregressivos Estruturais 
VAR – Vetores Autorregressivos 
VEC – Vetores com Correção de Erro 
WTI – West Texas Intermediate
 
 
1 
 
1 Introdução 
1.1 Objetivo 
O presente trabalho pretende fazer um estudo da relação entre preços de revenda 
e consumo da gasolina comum e do etanol hidratado, bem como das influências 
recebidas do preço do açúcar internacional e do petróleo. Busca-se entender como os 
choques causados pelos repasses de preços a um combustível são transmitidos ao preço 
e consumo do outro, como a modificação da política ecônomica do Brasil ocorrida a 
partir de 2008 influenciou essas variáveis em comparação ao período pré-2008 e quais 
repasses são mais relevantes ao longo do tempo. 
1.2 Motivação e Justificativa 
A relação de preço e de consumo entre os diferentes tipos de combustível já é 
um campo bem explorado pela academia, com trabalhos publicados desde o fim da 
década de 70, e têm influência direta na vida de grande parte da população brasileira. 
O preço dos combustíveis serve de base para a definição dos custos de 
deslocamento de pessoas através de seus automóveis privados, e são insumo para a 
construção do principal índice de inflação utilizado no país. Por isso, o entendimento 
das relações que influenciam a dinâmica de seus preços é de interesse não só para 
pesquisadores, mas também para a população em geral. Entender quais as 
consequências de se modificar a estrutura de preços de cada um deles é importante para 
identificar problemas nas cadeias de produção que tenham sido causados por agentes 
externos ao mercado, sobretudo se o congelamento de preços for utilizado como 
instrumento de controle inflacionário. 
O presente trabalho surge da motivação de revisitar o estudo desenvolvido por 
Souza Melo e Chaves Lima (2009), partindo de sua metodologia para realizar a análise 
de um período mais recente, e tem como justificativa a necessidade de verificar se os 
efeitos da relação de preços ali identificada passaram por mudanças tanto no curto 
quanto no longo prazo, dadas as políticas e condições presentes após 2007. 
Contudo, este estudo modifica o foco escolhido no artigo original, que tratava do 
mercado sucroalcooleiro, para o estudo da relação etanol-gasolina. Pretende-se 
identificar, ainda, uma possível mudança nos incentivos à produção de etanol, e seus 
impactos nas decisões de produção do setor produtivo associado. 
 
 
2 
 
1.3 Organização do trabalho 
Este trabalho está dividido em 6 seções. O primeiro capítulo apresenta 
brevemente o tema, a motivação e as limitações do estudo aqui elaborado. 
O capítulo 2 apresenta um panorama dos setores de produção de etanol e 
gasolina no Brasil, com um breve histórico de como se formaram os diferentes 
programas de incentivo a ambos, e do cenário mais recente dos setores, com foco 
específico no que é pertinente ao tema. 
O capítulo 3 é reservado a uma revisão bibliográfica com os principais artigos 
que serviram de base para o trabalho, e introduz as diferentes metodologias, hipóteses e 
conclusões a que cada um deles chega. 
O capítulo 4 expõe a metodologia de vetores autoregressivosutilizada no 
trabalho, bem como suas hipóteses e seus desdobramentos. 
O capítulo 5 faz uma análise dos resultados encontrados com o uso da 
metodologia, e serve de base para o capítulo 6, que é reservado à conclusão. 
Ainda estão presentes neste trabalho a seção de referências bibliográficas e os 
anexos. 
1.4 Limitações 
Os conceitos aqui abordados são resultado de interações complexas entre 
diferentes agentes de mercado, e não se pressupõe que o uso dos modelos matemáticos 
seja capaz de prever com total exatidão o comportamento dos mesmos ao longo do 
tempo, já que são, necessariamente, simplificações das dinâmicas de mercado. 
Adicionalmente, este estudo não pretende sugerir políticas econômicas que 
modifiquem o desalinhamento entre gasolina e etanol, nem quais ações devem ser 
tomadas pelos agentes de mercado para atingir qualquer maximização de utilidade. 
Vale dizer ainda que as análises aqui realizadas terão como foco os preços 
médios praticados no país, e não em regiões e estados específicos. 
 
 
3 
 
2 Panorama das relações entre os setores de 
produção de etanol e gasolina 
Este capítulo terá início com uma exposição do histórico do mercado de etanol a 
partir do momento em que se inicia o programa de fomento conhecido como Proalcool, 
como uma ilustração das fases de expansão e substituição dos dois principais tipos de 
combustível para automóveis de passeio, o etanol e a gasolina. Uma exposição da 
estrutura do setor de gasolina e, sobretudo, da estrutura de formação de preços será feita 
logo em seguida. 
Posteriormente, será dado um panorama dos tributos que compõem os preços 
dos dois combustíveis. A última parte analisa o histórico recente dos preços de etanol 
hidratado e gasolina com vistas a identificar as principais modificações de consumo 
ocorridas no mercado de combustíveis, sobretudo nos anos posteriores a 2007. 
2.1 Os dois tipos de etanol 
No momento, o etanol produzido no país pode ser dividido em dois tipos: o 
etanol hidratado e o etanol anidro. A grande diferença entre os dois diz respeito à 
quantidade de água em sua composição. O etanol hidratado tem em sua composição 
aproimadamente 95% de etanol e 5% de água, enquanto o etanol anidro possui 
aproximadamente 99,9%, motivo pelo qual ele é, por vezes, chamado de etanol puro. A 
transformação de etanol hidratado em etanol anidro é resultado do direcionamento do 
etanol hidratado para uma segunda coluna de destilação, em que este passa por um novo 
processo de destilação fracionada
1
, que retira parte substancial da água nele contida. No 
Anexo I pode-se encontrar uma ilustração de um tipo de processo de destilação 
desenvolvido por Figueiredo (2009). 
O etanol anidro é a matéria-prima que se mistura à gasolina A (gasolina pura 
advinda do refino) para barateamento do combustível, aumento da octanagem
2
 e 
redução da emissão de poluentes e subprodutos tóxicos, enquanto o etanol hidratado é o 
que alimenta os carros movidos puramente a álcool, sendo vendido nas bombas de 
 
1
 Destilação fracionada é o processo pelo qual se separa uma mistura homogênea em dois 
líquidos distintos. Nela, uma sequência de aquecedores e condensadores utiliza a diferença entre pontos 
de ebulição dos dois líquidos para separá-los em locais diferentes. 
2
 Octanagem é uma medida da resistência à detonação de determinado combustível em relação a 
um outro combustível utilizado como padrão, o isoctano. A octanagem indica a capacidade de 
compressão que um combustível pode ter antes de detonar, variável importante para o rendimento de 
motores mais potentes, que em geral exigem maior compressão. 
 
 
4 
 
distribuidoras de combustível. Faz-se aqui a ressalva de que, ainda que a denominação 
etanol seja característica de um tipo específico de álcool
3
, neste estudo, os termos álcool 
e etanol serão utilizados indistintamente para se referir ao mesmo tipo de combustível, 
tal qual o artigo de Souza e Pompermayer (2015). 
O etanol anidro é também utilizado pela indústria na fabricação de tintas, 
vernizes, solventes e bebidas destiladas, e o etanol hidratado está presente em 
cosméticos, produtos de limpeza, antissépticos, vinho, cerveja e outros líquidos, em 
graduações alcoólicas que variam de produto a produto. 
Vale destacar ainda que o etanol produzido no Brasil é obtido majoritariamente a 
partir da fermentação dos açúcares contidos no caldo da cana de açúcar e que, de acordo 
com o tipo de usina (de destilaria autônoma ou paralela), existe a possibilidade de optar 
por produção de etanol ou de açúcar na mesma planta de produção, ainda que os 
rendimentos se dividam de acordo com a proporção de caldo açucarado direcionada a 
cada parte, num processo que pode ser tomado como não-reversível. Fluxogramas 
simplificados do processo de produção de açúcar e etanol e do tipo de destilaria (com 
rendimentos) podem ser encontradas no Anexo II desse trabalho. 
2.2 Histórico do mercado de etanol e dos programas 
de fomento à produção – do Proalcool à 
liberalização dos anos 2000 
2.2.1 De 1973 a 1979 
A fase principal da relação entre etanol e gasolina no Brasil se inicia no ano de 
1973, quando a restrição de oferta de petróleo pela OPEP causa o primeiro choque do 
petróleo, e faz os preços do produto no mercado internacional saltarem de forma 
acentuada. Como pode ser visto na Figura 1, apenas no período de janeiro de 73 a 
janeiro de 74, os preços do petróleo tem uma elevação de 322%. Dado que naquele 
momento o petróleo representava cerca de 46% da oferta interna de energia, o ocorrido 
acende um alerta para as autoridades do período militar, que são obrigadas a contemplar 
um cenário de pressão sobre os custos dos insumos de produção, além de insatisfação 
política por parte dos produtores de cana com a queda do preço do açúcar no mercado 
internacional. 
 
3
 Álcool é o nome dado a uma família de compostos químicos em que um grupo de hidroxilas 
(compostos de hidrogênio e oxigênio “-OH”) se liga a carbonos saturados. 
 
 
5 
 
É tembém relevante o fato de, no mesmo ano, 77% do volume de petróleo 
consumido no país chegar ao mercado nacional através de importação, o que tem um 
forte impacto na balança comercial. 
 
Figura 1 - Preços do barril de petróleo bruto WTI (US$ de Nov/2015) 
Fonte: Short Term Energy Outlook, EIA (2015). Elaboração Própria 
Na esteira do primeiro choque do petróleo, o então presidente da Petrobras, 
Ernesto Geisel, que no ano seguinte viria a se tornar presidente do Brasil, incentiva 
estudos que apontem para uma possível alternativa à utilização do combustível, através 
tanto da substituição por outro produto quanto do aumento da produção nacional. 
No ano de 1975, o mesmo Ernesto Geisel assina o decreto nº 76.593/75, que cria 
o Programa Nacional do Álcool (PNA), que posteriormente passa a ser chamado 
também de Proalcool. O objetivo do programa é buscar a expansão da produção de 
etanol, através do aumento da área plantada, e do incentivo aos investimentos na 
implantação e ampliação de novas destilarias. Pelo texto original do decreto, o programa 
tem as seguintes atribuições: 
a) definir as participações programáticas dos órgãos direta e 
indiretamente vinculados ao Programa, com vista a atender à expansão da 
produção do álcool; 
b) definir os critérios de localização a serem observados na implantação 
de novos projetos de destilarias, atendidos os seguintes aspectos principais: 
 I) redução de disparidades regionais de renda; 
$0,00
$20,00
$40,00
$60,00
$80,00
$100,00
$120,00
1
9
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0
1
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1
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4
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0
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0
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8
2
0
1
0
2
0
1
2
2
0
1
4
Preço nominal Preço real
 
 
6 
 
 II) disponibilidadede fatores de produção para as atividades agrícola e 
industrial; 
 III) custos de transportes; 
 IV) necessidade de expansão de unidade produtora mais próxima, sem 
concorrer com fornecimento de matéria-prima à mesma unidade. 
 c) estabelecer a programação anual dos diversos tipos de álcool, 
especificando o seu uso; 
 d) decidir sobre o enquadramento das propostas para modernização, 
ampliação ou implantação de destilarias de álcool nos objetivos do programa. 
(Decreto nº 76.593/75) 
Em 1977 tem início a adição de 10% a 20% de etanol anidro à gasolina, de 
acordo com a região, com objetivo de reduzir o volume de petróleo importado. Como 
pode ser visto na Figura 2, os incentivos governamentais ao etanol fazem com que o 
setor tenha uma expansão acentuada daí para frente. 
Pode-se também verificar na Figura 3 os ciclos da produção de etanol de acordo 
com cada tipo. Nesse caso, vê-se que a expansão acentuada da oferta de etanol se inicia 
em 1977 com o início do aumento da capacidade produtiva de etanol anidro, fruto da 
mistura do combustível à gasolina. 
Em 23 de outubro de 1978 é assinado o decreto nº 82.476/78, que delega ao 
Conselho Nacional do Petróleo a responsabilidade por editar normas de comercialização 
do etanol para fins carburantes. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
Figura 2 – Produção e Consumo de etanol (10³ m³) 
Fonte: Balanço Energético Nacional MME (2015). Elaboração Própria 
Em 1979, dois anos após a introdução da mistura de anidro à gasolina, se inicia o 
período de expansão acentuada do etanol hidratado, quando tem início a 
comercialização de carros que utilizam apenas esse insumo como combustível. O ano de 
1979 também tem como marca a instalação das primeiras cinco bombas de produção de 
etanol da Petrobras na cidade de São Paulo e é o ano que sacramenta o final da fase 
inicial do Proalcool, baseada na mistura de etanol à gasolina como carro chefe da 
política de incentivo governamental. 
 
Figura 3 - Produção por Tipo de Etanol (10³ m³) 
Fonte: Balanço Energético Nacional, MME (2015). 
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
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0
0
0
2
0
0
2
2
0
0
4
Etanol Anidro Etanol Hidratado Etanol Total
1a fase: 
inicial 
3a fase: etanol anidro 2a fase: 
etanol hidratado 
CRISE DE ABASTECIMENTO 
1989-90 
INÍCIO DA EXPANSÃO 
1976-77 
 
 
8 
 
2.2.2 De 1980 a 1986 
O ano de 1979 marca o início da comercialização de veículos que utilizam etanol 
como combustível, e também a ocorrência do segundo choque do petróleo, que faz com 
que o preço real
4
 deste produto salte de US$ 53,88 por barril em janeiro do mesmo ano 
para US$ 93,87 por barril em janeiro de 1980. 
O choque tem como consequência o estabelecimento de maiores incentivos à 
produção de álcool hidratado, tais como a fixação do preço do combustível a 65% do 
preço da gasolina (que chega a 59% em 1982) e a redução de impostos associados à 
compra e manutenção de carros movidos a álcool. 
A partir de 1980 o volume de produção de etanol hidratado passa o de etanol 
anidro e continua em expansão acentuada, enquanto o combustível misturado à gasolina 
tem sua produção estagnada. Isto indica que os incentivos tem o efeito esperado e, a 
partir desse momento os consumidores passam a optar pelo uso de carros movidos a 
etanol em detrimento dos carros movidos à gasolina. 
 
Figura 4 – Consumo de Gasolina x Álcool (m³) 
Fonte: Balanço Energético Nacional, MME (2015). 
Como pode ser visto na Figura 4, o ano de início da expansão da produção de 
etanol hidratado para abastecimento de veículos coincide com a derrocada do consumo 
 
4
 O preço real é calculado através da multiplicação do preço nominal do período pela diferença 
entre o índice da inflação do período base escolhido (nesse estudo, novembro de 2015) e o índice de 
inflação do período em que o preço nominal foi aferido. 
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
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18.000
20.000
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0
0
0
2
0
0
2
2
0
0
4
Gasolina Etanol Hidratado
Declínio da gasolina 
Declínio do etanol 
hidratado 
 
 
9 
 
de gasolina, que se manterá até o fim da década. A análise dos gráficos anteriores 
sugere que o movimento de substituição de gasolina por álcool como combustível de 
preferência dos consumidores se deu em aproximadamente 5 anos, e que o aumento de 
produção de etanol hidratado sempre esteve diretamente relacionado com o aumento do 
consumo. 
No ano de 1986, os veículos que utilizam apenas álcool como combustível 
representaram 76% do número total de automóveis vendidos, como pode ser visto na 
Figura 5. O etanol hidratado se consolidava como o principal combustível para veículos 
de passeio no país, superando a produção de gasolina e atingindo 12 bilhões de litros, 
volume maior que as projeções governamentais anteriores, que indicavam 10 bilhões de 
litros de produção. 
 
Figura 5 – Venda de veículos por tipo de combustível 
Fonte: ANFAVEA (2016). Elaboração Própria 
2.2.3 De 1986 a 1990 
O ano de 1986 marca, no entanto, uma mudança significativa na dinâmica do 
preço internacional do petróleo, cujos preços reais despencam de US$ 54,00 em janeiro 
de 1986 para US$ 30,00 por barril em dezembro, passando por um vale de US$ 23,00 
em julho do mesmo ano, período que é por vezes referido como o “Contra-choque do 
Petróleo”. Diante de preços tão baixos, a dinâmica externa não é mais favorável à 
expansão da produção de etanol, que entra em estagnação e enfrenta um período de 
0
200000
400000
600000
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1000000
1200000
1400000
1600000
1800000
GASOLINA ETANOL
 
 
10 
 
diminuição de investimentos. Na política energética brasileira, o efeito dessa queda de 
preços se faz sentir em 1988, ano em que a escassez de recursos públicos para continuar 
com o subsídio ao setor faz com que o então presidente José Sarney oficialize um 
decreto que visa eliminar de forma gradativa os incentivos à produção de etanol. 
O ano de 1989 se destaca pela continuidade das dificuldades macroeconômicas e 
de desabastecimento de etanol no país, que não pôde acompanhar o crescimento da 
demanda, como pode ser visto na Figura 2. O ocorrido leva o governo a estabelecer um 
racionamento do produto. Os preços internacionais do açúcar, que naquele momento se 
encontram em patamares altos, compensam a substituição da produção de combustível 
pela produção de alimento, e os consumidores de automóveis que apostaram no etanol 
por causa do preço baixo sofrem com o problema. Isso afeta a credibilidade do etanol 
hidratado como combustível. 
No ano seguinte, 1990, as vendas de carros a álcool, que 4 anos antes 
representavam 76% do total, caem para 13%, devido ao cenário de incertezas 
relacionado à comercialização do etanol hidratado. 
Do final da década de 1980 até o início da década de 1990, o cenário 
internacional dos preços do petróleo sofreu fortes alterações, e o preço do barril 
diminuiu sensivelmente. Essa condição somou-se à tendência cada vez mais forte da 
indústria automobilística em optar pela fabricação de modelos e motores padronizados 
mundialmente (na versão à gasolina). 
No início da década de 1990, houve também a liberação no Brasil das 
importações de veículos automotivos (produzidos, no exterior, exclusivamente nas 
versões gasolina e diesel) e, ainda, a introdução da política de incentivos para a compra 
de carros populares – de até 1000 cilindradas – desenvolvido para ser movido à 
gasolina. 
Nesse período, o ciclo de expansão da produção de etanol hidratado se encerra, 
sendo substituído pelo ciclo de expansão da oferta de anidro,como pode ser visto na 
Figura 3. O entendimento das autoridades governamentais da época é de que o 
Proalcool, que de acordo com Kohlhepp (2010) tinha representado um investimento 
estatal de US$ 12,3 bilhões de 1975 a 1989, precisava ser modificado. 
 
 
11 
 
2.2.4 De 1990 a 2003 
A partir do início da década de 90, o Proalcool chega a sua fase final, com a 
diminuição do papel financiador e regulamentador do Estado, e a extinção do Instituto 
do Açúcar e do Álcool, o que permite uma maior liberalização de preços e o fim das 
cotas de comercialização no mercado interno. Como pode ser visto na Figura 3, o ano 
de 1990 marca o início da retomada de crescimento do etanol anidro como principal 
combustível produzido pelo setor sucroalcooleiro, o que indica o deslocamento da 
preferência do consumidor do álcool hidratado para a gasolina (a que o anidro é 
misturado) em sentido contrário ao que ocorreu em 1980. 
A Figura 4 corrobora a indicação anterior, e ilustra a expansão do consumo de 
gasolina, a modificação das preferências do mercado, e a derrocada do etanol hidratado, 
cujo consumo passa a ser preterido em favor de seu substituto direto, a gasolina. 
O aumento da produção e consumo do etanol anidro, no entanto, não é suficiente 
para impedir a derrocada da produção do setor alcooleiro. Os preços do petróleo, em 
queda internacionalmente, combinados com o aumento do preço médio do açúcar fazem 
com que, de 1995 a 1999, os volumes totais de etanol produzidos e consumidos no 
último ano do período sejam menores que os do primeiro ano, ainda que desde 1993 a 
Lei 9.723 tenha fixado o percentual de mistura do álcool a gasolina em 25%. Os anos 
finais da década de 90 ficam marcados pela primeira grande crise do setor alcooleiro, da 
qual o setor só se recuperará nos anos iniciais da década seguinte, depois de um 
processo de consolidação e concentração do mercado produtor. 
2.3 Formação de preços 
A composição de preços é uma variável importante para o entendimento das 
relações que se estabelecem entre o mercado do etanol e o dos derivados de petróleo e, 
para que sejam entendidos alguns pontos do próximo tópico, se faz necessário 
apresentar aspectos específicos dos dois mercados. Nesse sentido são interessantes, 
sobretudo, a capacidade de influência que a Petrobras tem sobre o preço da gasolina, os 
tributos e a proporção de mistura. 
 
 
12 
 
2.3.1 Estrutura do setor de gasolina 
O preço da gasolina é derivado de cinco fatores básicos: o preço que as 
refinarias praticam ao vender a gasolina A, a parcela de tributos federais e estaduais 
incidentes, o preço do etanol anidro, que será adicionado à gasolina A para que se 
obtenha a gasolina C, que é a gasolina disponível nas bombas de combustível das 
distribuidoras, e por fim, os custos e as margens de distribuição e revenda, nos postos de 
varejo. 
O processo de formação dos preços se inicia com a cotação do preço da gasolina 
pura, denominada gasolina A, nas refinarias. Nelas é realizado o processo industrial que 
transforma o petróleo bruto em líquido combustível. 
A próxima etapa na cadeia produtiva é a distribuição. As normas legais em 
vigor, definidas pela agência reguladora – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e 
Biocombustíveis – ANP, estabelecem que todo o etanol combustível deve ser vendido 
para uma distribuidora registrada, que processa a mistura do etanol anidro na gasolina e 
faz a intermediação do etanol hidratado para os postos de revenda. As atividades da 
distribuidora compreendem, também, a retirada do combustível da refinaria, a 
estocagem e a venda do produto aos postos revendedores, o que adiciona uma segunda 
margem ao preço do combustível. 
O preço final varia, por fim, em função dos custos de comercialização dos postos 
revendedores, que são a etapa final, de venda direta ao consumidor no varejo. Cabe 
ressaltar que a Portaria da ANP nº 116, em seu artigo 12º, impede que empresas de 
distribuição exerçam atividades de varejo, o que faz com que, no setor, os revendedores 
que levam a marca da distribuidora estejam vinculados a esta como pessoa jurídica 
diversa, com um contrato de exclusividade. A lei, que visa diminuir o poder de mercado 
das distribuidoras não impediu, no entanto, que a BR Distribuidora, subsidiária integral 
da Petrobras, ainda que constituída como pessoa jurídica diversa, se tornasse o maior 
player na distribuição de combustível do Brasil e estendesse o poder de sua holding, o 
que faz com que o mercado brasileiro seja marcado pela verticalização até as 
distribuidoras. 
As Figuras 6, 7 e 8 tem como objetivo ilustrar as diferentes realidades do setor 
de refino, distribuição e revenda de gasolina no país, ressaltando a grande disparidade 
de concentração entre os segmentos. Através dela, pode-se perceber o refino como o 
 
 
13 
 
mais concentrado, e portanto, onde o maior agente de mercado tem maior poder de 
barganha. Em seguida vem o segmento de distribuição e, por fim, o varejo, onde é 
expressivo o volume de postos de bandeira branca, que não pertencem diretamente a 
nenhum dos players das etapas de comercialização anteriores. As Figuras sugerem, 
portanto, que o domínio absoluto da Petrobras na primeira etapa da cadeia não é 
reproduzido por mais nenhum agente de mercado nas etapas subsequentes. 
 
 
Figuras 6, 7 e 8 – Participação das refinarias no valor total refinado (Petrobras 
em verde); Participação das distribuidoras em volume total de vendas; Distribuição de 
postos revendedores por empresa 
Fonte: ANP (2015). Elaboração Própria 
Para um melhor entendimento da política recente de preços da gasolina 
praticados no país e suas motivações, é interessante citar o estudo de Oliveira (2015). 
De acordo com este estudo, o preço é determinado de facto pela Petrobras, que detem o 
monopólio do setor de refino no país, com 98% da capacidade nacional de 2,2 milhões 
de barris por dia. 
Refino Distribuição 
Varejo 
 
 
14 
 
A autora analisa a relação do monopólio do setor de refino pela Petrobras
5
, seus 
efeitos na política de preços dos combustíveis e nos investimentos privados em refino, 
assim como as motivações para essa política de repasse de preços praticada em anos 
mais recentes. 
Aborda também a estrutura do mercado atual pela ótica da concorrência e das 
barreiras de entrada no setor, e verifica que os investimentos atuais em plantas de refino 
são insuficientes para lidar com as projeções de demanda futura, o que anuncia uma 
modificação das condições de monopólio de refino. O estudo constata, ainda, o 
desalinhamento do preço nacional de gasolina em relação ao internacional, já que o 
preço praticado no país se mostra muito mais estável do que o praticado no exterior e, 
em quase todo o período estudado, muito inferior em reais por litro. A partir de 2009, é 
observado um aumento significativo na inclinação da curva de demanda pelos dois 
combustíveis, com uma contrapartida insuficiente em aumento de produção doméstica, 
o que indica que o cenário de influência aqui exposto pode se modificar, na medida em 
que a Petrobras perde mercado para produtos refinados importados. 
Os impactos dos fatores elencados nos parágrafos anteriores para a concorrência 
no setor, e indiretamente para o regime de preços, são muito significativos. Vale 
lembrar que empresas privadas que investiram em refino, como a Ipiranga e a 
Manguinhos, tiveram dificuldades em continuar no mercado, e enfrentaram 
judicialmente a política de preços movida pela empresa estatal. Além disso, a questão 
da redução do poder de concorrência pode se espalhar para o setor de distribuição, em 
que a BR Distribuidora pode vir a se beneficiar do poder de sua controladora. 
De acordo com o estudo, o impacto da política de preços na Petrobras é ainda 
mais expressivo, e de forma prejudicial, à própria empresa. As perdas com combustível 
importado acumuladas pela estatal ao longo dosanos são calculadas pela autora como 
equivalentes, em valor presente a 10% a.a., a 36,5 bilhões de reais, apenas no período 
2007-2014. Se o cálculo é feito com a perspectiva de custo de oportunidade, ou seja, se 
são contabilizados os valores que a empresa deixou de ganhar ao vender os 
combustíveis a um preço diferente da cotação internacional, chega-se a uma perda de 
 
5
 Destaca-se aqui que a empresa Petrobras S.A. controla diretamente apenas os preços de 
combustível que saem das suas estruturas de refino. O preço de varejo sofre influência desse controle, 
mas não é unicamente determinado pelo mesmo. Ainda assim, como dito anteriormente, a empresa BR 
Distribuidora, subsidiária integral da Petrobras, é a maior empresa do setor de distribuição de 
combustíveis no Brasil. 
 
 
15 
 
valor presente a 10% a.a. de 160,8 bilhões de reais, que também tem impacto nos 
incentivos à produção e consumo de setores associados, como o etanol. 
Como ilustração da disparidade entre a política de preços nacional e a do resto 
do setor, segue a Figura 9. 
 
Figura 9 – Composição de preços internacional 
Fonte: Petrobras (2016) 
Pode-se perceber que, entre os países da amostra, que podem ser caracterizados 
como mercados liberalizados, o principal diferencial entre o preço da gasolina cobrado 
do consumidor é o peso dos tributos, com os EUA se destacando por tributar o setor 
com uma taxa muito menor do que a do resto dos países. Na Figura elaborada pela 
própria Petrobras, pode-se perceber ainda que os preços de realização das refinarias é 
semelhante entre os países da amostra, mas muito menor no Brasil, o que ilustra a 
magnitude do descolamento do preço internacional da gasolina promovido pela estatal. 
As conclusões apontam que a baixa atratividade a investimentos privados em 
refino é consequência da política de congelamento de preços da empresa, fomentada 
pelas decisões de seu acionista controlador, a União, que utiliza seu poder de voto para 
fazer com que a empresa assuma o ônus de renunciar a parte de sua receita potencial 
como forma de controlar os índices de inflação. Sugere também uma alternativa à 
política de preços estabelecida como forma de retirar esse ônus da estatal e garantir 
maior transparência para os investidores em refino. 
 
 
16 
 
2.3.2 Tributos na formação de preços do etanol e da gasolina 
Os tributos são parte importante da formação de preço de qualquer produto ou 
serviço e, portanto, é interessante que seja mostrado aqui um panorama dos principais 
impostos incidentes na comercialização dos dois combustíveis, o quanto eles 
contribuem para o preço final ao consumidor e como eles são cobrados ao longo das 
cadeias de comercialização de combustível. 
Os impostos que incidem sobre cada tipo de combustível são definidos por leis e 
decretos do Governo Federal. Atualmente, fazem parte desses tributos incidentes o 
PIS/PASEP, o COFINS, a CIDE e o ICMS e, de acordo com o definido no artigo 155 da 
Constituição Federal de 1988, operações relativas a combustíveis líquidos não tem 
cobrança de IPI. 
Desses tributos, o ICMS, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, é 
o único não federal, sendo atribuição de cada estado onde o consumo for realizado 
definir o valor do tributo a ser cobrado. 
Os tópicos seguintes explicitam as modificações tributárias ocorridas a partir da 
vigência da lei 9.478/97, também chamada de Lei do Petróleo, que veio a flexibilizar o 
monopólio do setor de petróleo e gás natural, tornando aberto o mercado de 
combustíveis no país. 
2.3.2.1 PIS/PASEP e COFINS 
Os tributos PIS/PASEP - Contribuição para os Programas de Integração Social e 
de Formação do Patrimônio do Servidor Público e COFINS - Contribuição Social para o 
Financiamento da Seguridade Social são contribuições sociais destinadas ao pagamento 
de benefícios assistenciais para os trabalhadores e ao financiamento da seguridade 
social, respectivamente. 
Ambos os tributos são incidentes sobre o faturamento mensal de pessoas 
jurídicas e, no caso da venda de combustíveis, como álcool, gasolina e óleo diesel, são 
regidos pela Lei 9.718/98, que define a cobrança de forma distinta entre os combustíveis 
derivados da cana e os derivados do petróleo. Ao longo do tempo, uma série de leis e 
decretos foi revisada, gerando modificações na forma de apuração dos valores devidos – 
tais quais as leis 10.637/02, 10.833/03 e 12.859/2013 – no escopo de contribuintes 
responsável pelos pagamentos – tais como a lei 10.865/04 e o decreto 7.997/13 – e nas 
 
 
17 
 
alíquotas incidentes – decreto 5.059/04, decreto 6.573/08, Lei 11.727/08 e Lei 
12.859/2013. 
Para a venda de álcool combustível, a contribuição é definida por alíquotas 
percentuais diferentes entre produtores, importadores e distribuidores, isentando do 
tributo qualquer comercialização realizada por um varejista ou pela cadeia de 
comercialização do álcool anidro, a partir da distribuição. As leis criam também um 
regime optativo de apuração e pagamento dos tributos em que as alíquotas são 
calculadas com base no m³ e não no percentual do preço de venda. A Tabela 1 mostra as 
alíquotas atuais de contribuição para etanol hidratado em cada um dos casos. 
 PIS/PASEP PIS/PASEP opcional/m³ COFINS COFINS opcional /m³ 
Produtor e 
Importador 1,50% R$ 23,38 6,90% R$ 107,52 
Distribuidor 3,75% R$ 58,45 17,25% R$ 268,80 
Varejista 0% R$ 0,00 0% R$ 0,00 
Tabela 1 – Alíquotas sobre etanol hidratado 
Fonte: BRASIL (2016). Elaboração própria. 
Para a venda de gasolina, as alíquotas definidas em lei são aplicáveis apenas a 
produtores e importadores, e também contam com regimes optativos de tributação 
baseados no volume vendido. A Tabela 2 ilustra o último regime de alíquotas, definidos 
pelo decreto 8.395/15. 
 PIS/PASEP PIS/PASEP opcional/m³ COFINS COFINS opcional /m³ 
Produtor e 
Importador 5,08% R$ 67,94 23,44% R$ 313,66 
Tabela 2 – Alíquotas para gasolina 
Fonte: BRASIL (2016). Elaboração própria 
2.3.2.2 CIDE 
A CIDE, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, incidente sobre a 
importação e comercialização de combustíveis é instituída pela Lei nº 10.336, de 
dezembro de 2001. 
O texto da lei que a institui define que o produto da arrecadação da Cide será 
destinado a: 
“I - pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool 
combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de petróleo; 
 
 
18 
 
II - financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria 
do petróleo e do gás; e 
III - financiamento de programas de infra-estrutura de transportes.” 
(Art. I, Lei 10.336/01) 
 A base de cálculo para apuração do valor a ser tributado é o volume de 
combustível vendido (em m³ para gasolina e álcool), e os contribuintes são o produtor, o 
formulador e o importador de combustíveis. 
Ao longo do tempo, a Cide passou por inúmeras alterações de alíquotas para a 
gasolina, e tem sido modificada recentemente de forma a assegurar que os repasses a 
este combustível não cheguem ao consumidor final. O etanol, no entanto, está isento da 
contribuição desde o ano de 2004. 
A penúltima disposição governamental a tratar do tema é o Decreto 7.764 de 
2012, que estabelece isenção da Cide para gasolina. O decreto, de junho de 2012, teve 
como objetivo garantir que os preços do combustível ao consumidor não subissem, já 
que a Petrobras aumentou o preço do combustível nas refinarias no mesmo mês. Esse 
decreto foi revogado em 28 de janeiro de 2015 pelo Decreto 8.395, que define as 
alíquotas específicas para cada m³ de combustível são de R$ 100,00 para a gasolina e 
suas correntes enquanto o álcool etílico combustível continua isento. 
2.3.2.3 ICMS 
O ICMS é um imposto estadual, de competência dos Estados e do Distrito 
Federal, previsto pela Constituição Federal e regulamentado pela lei complementar 
87/96, também chamada de Lei Kandir. Por serum imposto estadual, cada estado da 
federação tem independência para definir as alíquotas percentuais cabíveis a cada 
atividade tributável que passe sobre seu território. 
Ainda de acordo com o texto da Lei Kandir, existem diferenças na forma de 
cobrança de acordo com o tipo de combustível utilizado. Para operações interestaduais, 
no caso da gasolina, a taxa cobrada é a alíquota do estado em que o consumo é realizado 
enquanto para o álcool, a taxa devida é repartida entre os dois estados envolvidos, de 
acordo com as convenções interestaduais. 
Vale ressaltar que o recolhimento do tributo é feito pelo sistema de substituição 
tributária, em que as refinarias e distribuidoras pagam antecipadamente pelos tributos 
que seriam devidos ao longo da cadeia. 
 
 
19 
 
A Tabela 3 reune os valores de ICMS cobrados por cada estado em 2014, de 
acordo com a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes: 
Estados Gasolina Álcool 
Acre 25% 25% 
Alagoas 27% 27% 
Amapá 25% 25% 
Amazonas 25% 25% 
Bahia 27% 19% 
Ceará 27% 25% 
Distrito Federal 25% 25% 
Espírito Santo 27% 27% 
Goiás 29% 22% 
Maranhão 27% 25% 
Mato Grosso 25% 25% 
Mato Grosso do Sul 25% 25% 
Minas Gerais 27% 19% 
Pará 28% 26% 
Paraíba 27% 25% 
Paraná 28% 18% 
Pernambuco 27% 25% 
Piauí 25% 25% 
Rio de Janeiro 31% 24% 
Rio Grande do Norte 27% 25% 
Rio Grande do Sul 25% 25% 
Rondônia 25% 25% 
Roraima 25% 25% 
Santa Catarina 25% 25% 
São Paulo 25% 12% 
Sergipe 27% 27% 
Tocantins 25% 25% 
Tabela 3 – Alíquotas de ICMS por estado e combustível 
Fonte: Fecombustíveis - Relatório Anual da Revenda 2015. Elaboração Própria. 
Da Tabela 3 pode-se perceber que o etanol é favorecido tributariamente em 
alguns estados do país, sobretudo nos três maiores estados do Sudeste, e de forma 
particularmente acentuada em São Paulo, o estado que concentra mais da metade do 
consumo do combustível. 
Vale ressaltar que Souza e Pompermayer (2015), a partir da constatação da 
diferença de alíquotas, levanta a hipótese de que a incidência de impostos mais pesados 
em estados mais afastados dos centros produtores, como a região Norte, acaba por 
minar a capacidade de penetração do etanol como combustível nessas regiões, já afetada 
 
 
20 
 
pelo custo de transporte mais alto dada a distância dessa região para o Sudeste, principal 
região produtora. 
2.3.2.4 Os tributos na formação de preços 
Em relação ao peso dos tributos, pode-se dizer que o setor de etanol continua 
tendo benefícios tributários se comparado à gasolina já que, além da disposição de 
mistura de etanol anidro, que garante uma participação da produção alcooleira em seu 
substituto direto, algumas contribuições tributárias são menores para o etanol se 
comparadas ao combustível advindo do petróleo. De fato, o peso tributário do etanol 
hidratado em relação a seu preço final é aproximadamente metade do que incide sobre a 
gasolina. 
Contudo, como será visto mais à frente, essa política de tributação não é eficaz o 
bastante para dirimir o impacto causado pelo congelamento do preço da gasolina frente 
aos impactos reais causados sobre o setor de etanol. 
Uma ilustração do peso de cada um desses fatores no preço médio de venda ao 
consumidor pode ser encontrado nas Figuras 10 e 11, abaixo. No Anexo III do presente 
trabalho, pode ser encontrada a memória de cálculo detalhada da formação de preços da 
gasolina. 
 
Figura 10 – Porcentagem das diferentes variáveis nos preços de venda da 
gasolina 
Fonte: PETROBRAS (2016) 
 
 
21 
 
 
Figura 11– Composição do preço do etanol hidratado no final de 2014 
Fonte: Relatório Anual Fecombustíveis, 2015. 
2.3.3 Proporção das misturas de etanol anidro na gasolina 
Atualmente, a definição das especificações dos combustíveis a serem produzidos 
no Brasil é realizado pela ANP, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e 
Biocombustíveis, que edita as resoluções que definem as particularidades das variantes 
premium
6
 e comum de gasolina, bem como os fatores técnicos pertinentes às variantes 
de etanol anidro e hidratado. A ANP também é a responsável por fiscalizar a 
distribuição de gasolina e etanol hidratado nos postos distribuidores. 
No entanto, a definição dos percentuais de mistura de etanol anidro à gasolina é 
exercido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, através de 
sua representação no Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool. 
O primeiro decreto governamental a tratar da adição de álcool a gasolina é da 
década de 30, assinado por Getúlio Vargas, e tem como motivação inicial o apoio à 
indústria alcooleira nacional e posteriormente a substituição de compostos derivados de 
chumbo, anteriormente utilizados para aumentar a eficiência do motor, que podem ser 
prejudiciais à saúde. 
Deve ser observado que os percentuais definidos variam no tempo sobretudo de 
acordo com a capacidade dos motores de receber a mistura etanol-gasolina e a diferença 
de disponibilidade regional de etanol entre os estados principalmente em períodos de 
entressafra e escassez de produção. 
 
6
 A gasolina premium traz componentes de limpeza especiais e tem mais octanas que a gasolin 
comum. O maior número de octanas (87 na comum, 91 na premium) permite uma maior taxa de 
compressão do combustível, o que possibilita um maior aproveitamento do potencial do motor e emite 
menos enxofre durante a queima. 
 
 
22 
 
Os dois últimos percentuais de mistura foram definidos pela lei 13.033, de 
setembro de 2014, e a Portaria do Ministério da Agricultura nº75, de março, que 
definiram os percentuais de mistura em 25% e 27%, respectivamente. 
 
Figura 12 – Porcentagens de mistura de etanol anidro na gasolina C 
Fonte: MAPA (2015). Elaboração própria. 
A Figura 12 traça um gráfico das principais percentagens de mistura de etanol 
anidro à gasolina e sugere que o governo utilizou a mudança dos percentuais como 
instrumento de controle de possíveis choques de oferta de álcool, sobretudo nos anos 
anteriores a 1990. 
A primeira redução expressiva do percentual de mistura se dá em 1981, ano em 
que ocorre queda acentuada da produção de anidro. 
A próxima queda expressiva do percentual de mistura se dá no fim da década de 
80, numa possível resposta do governo ao fenômeno de desabastecimento de álcool 
hidratado. 
Desde então, o percentual de mistura em geral oscila entre 20 e 25%, com 
tendência de leve alta nos últimos 3 anos. Atualmente, o percentual definido é de 
27,5%. 
Vale lembrar aqui que a legislação relativa à mistura define percentuais 
diferentes para cada região ao mesmo tempo, principalmente nos períodos iniciais do 
estudo. No Anexo IV pode ser encontrado um histórico detalhado desses percentuais 
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
ju
l-
7
6
ju
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7
8
ju
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8
0
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2
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6
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0
ju
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0
2
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4
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0
6
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0
8
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1
0
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1
2
ju
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1
4
Porcentagem
Substituição de 
anidro por hidratado 
- 1981 
Crise de 
desabastecimento de 
etanol hidratado - 1989 
 
 
23 
 
por regiões, bem como os decretos e resoluções que definiram a mistura de etanol 
anidro à gasolina no país. 
2.4 Histórico recente da relação etanol – gasolina – 
pós flex-fuel - 2003 – presente 
2.4.1 A introdução dos carros flex fuel 
No presente estudo, a introdução dos carros flex fuel foi definida como o marco a 
partir do qual o histórico recente da relação entre os combustíveis derivados de etanol e 
gasolina serão tratados. A escolha da introdução desse tipo de veículo como linha de 
corte se deve à modificação das relações de preço que ele traz ao mercado de usuários 
de veículos leves carburantes. 
A comercialização desse tipo de veículo no Brasil se inicia em 2003, e o 
fenômeno dá ao consumidor o poder de substituição completa entreos dois principais 
combustíveis (etanol hidratado e gasolina C) e muda a estrutura de consumo do setor. 
Portanto, é a partir desse ano que passa a existir um grupo de consumidores que pode 
abastecer com ambos os combustíveis em qualquer porcentagem de mistura, em 
oposição aos que devem escolher necessariamente entre um dos dois. Para estes 
consumidores, a escolha entre combustíveis passa a ser ditada pela relação de preços. A 
regra que se estabelece é a de que se torna vantajoso para o proprietário de um carro flex 
fuel o abastecimento com etanol hidratado desde que a relação de preços etanol 
hidratado / gasolina esteja abaixo do valor de 70%, já que o álcool tem um potencial 
calorífico menor que o derivado de petróleo. Quando a razão dos preços do etanol 
hidratado e da gasolina estiverem acima de 70%, é vantajoso abastecer com gasolina. É 
importante dizer que, na verdade, a relação de 70% é uma aproximação da eficiência 
relativa que se verifica na realidade, que é dependente do modelo de carro, e é 
divulgada anualmente pelo INMETRO, como pode ser checado em INMETRO (2016). 
Ainda assim, o valor de 0,7 é tomado como o parâmetro. Essa relação é crucial para a 
definição das preferências dos consumidores. 
Além disso, a introdução dos carros flex fuel cria uma mudança na própria 
indústria automobilística, através do movimento de substituição das compras de 
veículos movidos a gasolina por veículos flex. Como pode ser visto na Figura 13, que 
ilustra o número de carros vendidos por tipo de combustível, em 2005, a venda de 
 
 
24 
 
veículos flex fuel supera a de veículos movidos a gasolina, com 7,5 milhões e 6,4 
milhões de novas unidades licenciadas, além de ultrapassar a frota total de veículos 
movidos apenas a etanol em 2006 (Orellano et al., 2013). 
 
Figura 13 – Licenciamento de autoveículos novos por combustível – Elétrico, diesel e 
etanol no eixo secundário 
Fonte: ANFAVEA (2016). Elaboração própria. 
2.4.2 Evolução recente do mercado de etanol combustível e 
gasolina 
O comportamento dos preços 
Como visto no tópico 2.2, a partir de 1973, os setores de etanol e gasolina para 
fins carburantes passam por diferentes fases, em que o declínio de um tipo de 
combustível é marcado pela expansão de outro. Espera-se que, com a introdução dos 
veículos flex fuel, e a consequente ampliação da capacidade de substituição entre um e 
outro, o mesmo comportamento se mantenha ou até mesmo se intensifique, de acordo 
com a dinâmica de preços presente no setor. 
A Figura 14 mostra os preços médios nacionais de gasolina e etanol hidratado 
entre julho de 2001 e novembro de 2015 nas principais cidades do país, compilados a 
partir das pesquisas de preço da ANP, que tem início em julho de 2001. 
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
0
500000
1000000
1500000
2000000
2500000
3000000
GASOLINA FLEX ETANOL ELÉTRICO DIESEL
 
 
25 
 
 
Figura 14 – Preços médios nominais de etanol hidratado (R$/l), gasolina comum (R$/l) 
e preço do petróleo WTI (US$/barril) 
Fonte: ANP (2015). Elaboração Própria 
A partir da Figura pode-se perceber quatro períodos distintos para os preços da 
gasolina. O primeiro período, do segundo semestre de 2001 até o início de 2006, é 
marcado por um aumento crescente do preço desse combustível, com preços oscilantes, 
característicos de um mercado liberalizado. No início de 2006 ocorre ligeira alta dos 
preços da gasolina, que cruzam a faixa de R$2,50, e em seguida estacionam nesse 
patamar de preços, saindo de R$ 2,48 em dezembro de 2005 para R$ 2,51 em janeiro de 
2006. 
O período seguinte se estende por quase quatro anos de preços praticamente 
fixados próximos do valor de R$2,50, já que o primeiro mês em que o preço médio da 
gasolina ultrapassa os R$2,60 é dezembro de 2010. Dado que, como pode ser visto na 
Figura, o preço do petróleo oscila de US$59,00 em 2006 até US$ 92,00 em 2008, 
caindo para US$ 59,00 novamente em 2009 e alcançando US$102,00 em 2011, pode-se 
concluir que o preço da gasolina no período não seguiu as cotações internacionais de 
seu principal insumo de produção, o que é característico de uma estratégia de 
represamento de preços. 
O terceiro período do ciclo da gasolina que pode-se ver, ainda na Figura 14, se 
inicia em janeiro de 2011, com o preço desse combustível acelerando do valor de R$ 
2,60 do mês inicial do ano para um preço médio de R$ 2,82 apenas três meses depois. 
Dois meses seguintes, em junho do mesmo ano, o preço médio do combustível desce à 
$0,00
$20,00
$40,00
$60,00
$80,00
$100,00
$120,00
$140,00
$160,00
R$ 0,00
R$ 0,50
R$ 1,00
R$ 1,50
R$ 2,00
R$ 2,50
R$ 3,00
R$ 3,50
R$ 4,00
ju
l/
0
1
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2
m
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3
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n
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5
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3
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4
n
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1
4
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1
5
Preço médio do etanol hidratado
Preço médio da gasolina comum
P Petroleo WTI (U$)
 
 
26 
 
casa dos R$ 2,70, patamar em que será mantido até o final de 2012. O último período é 
marcado por aumentos sucessivos de preços, e no final do período o comportamento de 
ambos os preços evolui em sentido inverso ao do preço do petróleo. 
Como dito anteriormente, uma comparação com os preços do petróleo da Figura 
14 nos sugere que, no segundo período e no terceiro, os preços da gasolina estão 
represados. Uma análise da estrutura de mercado da gasolina sugere que o único agente 
de mercado capaz de manter um controle dos preços por tanto tempo é o único 
monopolista de uma das etapas de produção, a Petrobras. A Tabela 4, extraída do 
trabalho de Oliveira (2015) elenca os reajustes de preço da gasolina na refinaria pela 
Petrobras de 2007 até o final de 2014, e nos permite reconhecer seu papel nos períodos 
aqui elencados. 
Data Gasolina Diesel GLP Industrial GLP Residencial 
Jan-07 - - - - 
Jan-08 - - 15,0% - 
Abr-08 - - 10,0% - 
Mai-08 10,0% 15,0% - - 
Jul-08 - - 5,3% - 
Fev-09 - - -5,3% - 
Mar-09 - - - - 
Jun-09 -4,5% -15,0% - - 
Jan-10 - - 6,6% - 
Nov-11 10,0% 2,0% - - 
Jun-12 7,8% 3,9% - - 
Jul-12 - 6,0% - - 
Jan-13 6,6% 5,4% - - 
Mar-13 - 5,0% - - 
Nov-13 4,0% 8,0% - - 
Nov-14 3,0% 5,0% - - 
Dez-14 - - 15% - 
 
Tabela 4 – Reajustes de preço nas refinarias Petrobras 
Fonte: Oliveira (2015). 
A mesma Figura 14 ilustra os preços do etanol hidratado, combustível que, como 
dito anteriormente, pode substituir a gasolina nos carros flex fuel, em período 
concomitante ao da gasolina. Pode ser visto que o preço médio do etanol hidratado no 
país tem comportamento muito menos estável que o da gasolina, o que mostra que, ao 
 
 
27 
 
contrário do que ocorre com o derivado de petróleo, o mercado de álcool tem 
corportamento liberalizado. 
Essa dinâmica de preços dos combustíveis será o pano de fundo para as análises 
que seguem. 
Cabe aqui mostrar os preços dos combustíveis descontados da inflação do 
período, para identificar o impacto real do congelamento de preços da gasolina ao longo 
do tempo. A Figura 15 mostra o preço deflacionado dos combustíveis no período, com 
base no IPCA de julho de 2001. 
 
Figura 15 – Preços dos combustíveis deflacionados com base no real de julho de 2001 
Fonte: ANP (2015). Elaboração Própria. 
Como pode ser visto, o comportamento dos preços do período indica que o 
congelamento de preços da gasolina faz com que, a partir de 2006, o preço real desse 
combustível entre em trajetória descendente, enquanto o preço real do etanol hidratado 
oscila em torno de R$1,00 de julho de 2001 ao longo do tempo. Pode-se dizer, então, 
que, enquanto o mercado de etanol repassava os custos com a pressão inflacionária ao 
consumidor, o mercado de gasolina não o fazia, e se tornava mais atraente. 
A produção e o consumo de etanol no período 
A produção e o consumo de etanol hidratado iniciam os anos 2000 em expansão, 
tendência que ganha força a partir do ano de 2003,com a introdução dos carros flex fuel 
no mercado brasileiro. No entanto, o grande salto ocorre em 2006, ano em que a política 
R$ 0,200
R$ 0,400
R$ 0,600
R$ 0,800
R$ 1,000
R$ 1,200
R$ 1,400
R$ 1,600
R$ 1,800
R$ 2,000
R$ 2,200
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9
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4
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n
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5
o
u
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1
5
Preço Gasolina deflacionado Preço etanol deflacionado
 
 
28 
 
econômica passa a facilitar a expansão do crédito e a incentivar a indústria 
automobilística. Nesse ano e os automóveis flex fuel passam a representar 82% do total, 
o que indica a consolidação dos veículos bicombustíveis como os preferidos do 
consumidor em vendas, num período em que o setor automotivo está em expansão. A 
Tabela 5 ilustra a produção, consumo e a balança comercial, com destaque para o 
primeiro período de expansão, 2006-2007 e o segundo período, de declínio, 2010-2011. 
Tabela de 
Etanol 
Hidratado 
 
 10³ m³ 
ANO 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 
PRODUÇÃO (i) 5.638 6.789 7.832 9.851 14.303 17.563 19.089 19.567 13.866 13.913 15.603 16.296 
IMPORTAÇÃO (ii) 0 0 0 0 0 0 0 48 272 194 97 584 
VARIAÇÃO DE 
ESTOQUES(iii) 
-412 1.087 311 -569 -2.593 -660 54 -1.281 302 -681 -366 -1.231 
EXPORTAÇÃO (iv) -706 -2.176 -1.923 -1.260 -936 -1.312 -1.792 -1.296 -1.338 -1.128 -1.114 -752 
CONSUMO NÃO-
ENERGÉTICO (v) 
758 865 558 920 398 913 867 860 869 979 1.029 903 
CONSUMO 
ENERGÉTICO 
(vi) = (i+ii+iii+iv-v) 
3.762 4.835 5.662 7.102 10.375 14.678 16.485 16.179 12.234 11.319 13.191 13.994 
Tabela 5 – Produção, Consumo e Balança Comercial de Etanol Hidratado 
Fonte: Balanço Energético Nacional (2015) 
Expansão da produção e do consumo de etanol 
Como pode ser visto na Tabela 5, o mercado de etanol recomeça sua expansão 
em 2003, e os anos de 2004 e 2005 são marcados por um aumento expressivo da 
exportação de etanol. A queda das exportações, no entanto, coincide com a introdução 
de tarifas protecionistas por parte dos Estados Unidos e com a expansão da produção do 
mercado americano, principal consumidor mundial, que começa a subsidiar a produção 
do etanol nacional, derivado de milho. 
Ainda de acordo com a Tabela 5, durante os anos de 2006 para 2007 (marcados 
em azul) a produção e o consumo de etanol hidratado brasileiros tem um salto de 45% e 
46% respectivamente, num cenário de exportação estável. Dados da CONAB (2015) 
indicam que a produção de cana-de açúcar sobe de 474,8 mil toneladas na safra 
2006/2007 para 571,4 mil toneladas na safra 2007/2008, um aumento de 20,3% na 
produção de cana nacional, com um aumento de produtividade de 3,47%. Ao mesmo 
tempo, a produção de açúcar e etanol anidro tem um crescimento de 14% e 5% 
respectivamente, o que nos permite concluir que, no ano de 2006, o setor de produção 
sucroalcooleiro escolhe direcionar o aumento de produção de cana de açúcar para 
produção de etanol hidratado. 
 
 
29 
 
As Figuras 16 e 17 ilustram a dinâmica que se estabelece no setor, em que o 
consumo e a produção seguem trajetórias semelhantes. Eles mostram que tanto o avanço 
quanto a crise do setor alcooleiro foram causados pelas variações do etanol hidratado, 
que tem uma oscilação muito maior do que o anidro. 
 
Figura 16 – Produção de etanol (10³ m³) 
Fonte: Balanço Energético Nacional (2015). Elaboração Própria. 
 
Figura 17 – Consumo de etanol (10³ m³) 
Fonte: Balanço Energético Nacional (2015). Elaboração Própria. 
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
2
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0
1
2
0
0
2
2
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0
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4
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0
6
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0
0
7
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8
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0
9
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1
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2
0
1
1
2
0
1
2
2
0
1
3
2
0
1
4
Etanol Anidro Etanol Hidratado Não- Ajustado
Início da expansão 
- Introdução flex 
Aceleração da expansão 
de capacidade 
Declínio 
FASE DE EXPANSÃO 
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
2
0
0
1
2
0
0
2
2
0
0
3
2
0
0
4
2
0
0
5
2
0
0
6
2
0
0
7
2
0
0
8
2
0
0
9
2
0
1
0
2
0
1
1
2
0
1
2
2
0
1
3
2
0
1
4
Álcool anidro Álcool Hidratado
 
 
30 
 
Durante esses anos de expansão, a produção aumentou fortemente, em razão da 
euforia (novos entrantes e alto investimento de empresas frágeis) iniciada com o 
advento do carro flex. A esse fator, devem ser somadas as iniciativas de incentivo dos 
governos federal e estaduais em seus planos de venda de automóveis com financiamento 
a taxas reduzidas, e as políticas de isenção fiscal, a partir de 2005 (Santos et al., 2015). 
A Figura 18, abaixo, ilustra a consequente aceleração do endividamento do setor 
sucroenergético por safra ao longo do período. 
 
Figura 18 – Endividamento do Setor Sucroalcooleiro por safra 
Fonte: Nastari (2014). 2012-2014 são estimativas de Santos et al. (2015). 
Declínio da produção e do consumo de álcool 
Durante todo o período de expansão da produção alcooleira, o preço da gasolina 
continua congelado, e o preço real do combustível derivado de petróleo diminui. Ao 
mesmo tempo, de acordo com Bressan Filho (2010), o setor de produção de álcool passa 
por uma diminuição da taxa de remuneração da atividade, erodida pela necessidade de 
capital financeiro para carregamento de estoques cada vez maiores até a entressafra e 
diminuição dos preços médios de venda do etanol, como mostra a Figura 19. 
Vale dizer aqui que, de acordo com Bressan Filho (2010), Shibuya et al. (2013) 
e Santos et al. (2015), a estrutura de comercialização do etanol no Brasil foi um dos 
fatores determinantes para essa diminuição da lucratividade do setor, já que o setor de 
produção é colocado numa posição subalterna nas relações comerciais em relação à 
distribuição e revenda, que empurram a formação de estoques para o setor de produção, 
3,5 5,1 5 
8,3 
15,3 
31 
36,5 
31,3 
37,5 
55,2 
59 
66,3 
0
10
20
30
40
50
60
70
Endividamento do setor
 
 
31 
 
conseguem margens de comercialização maiores que o primeiro e não estão 
comprometidos com a manutenção da disponibilidade do combustível, já que podem 
comercializar gasolina em substituição ao etanol hidratado. 
 
Figura 19 – Preço anual médio de todas as vendas de etanol por ano-safra (valores 
constantes de abril de 2009) 
Fonte: Bressan Filho (2010). 
A dificuldade para levantar capital para investimento começa a aumentar em 
2009, na esteira da crise financeira, o que contribui para a pressão sobre o setor de 
etanol, e faz o número de aberturas de novas unidades produtivas diminuir. 
Em resumo, logo antes do declínio, o setor enfrenta pressão conjunta de diversos 
fatores, a saber: a pressão inflacionária, que corrói a competitividade do etanol em 
relação à gasolina, com preços congelados após 2006; o aumento dos custos, sobretudo 
de estoque; a redução das margens de comercialização e a necessidade de financiar o 
endividamento do setor, ilustrado na Figura 18. 
A convergência desses fatores, aliada a um declínio de produtividade da 
produção de cana por hectare em 5,1% na safra de 2010/2011, faz com que o preço do 
álcool não possa mais ser sustentado e, como pode ser visto na Figura 20, a razão entre 
os preços da gasolina e do etanol hidratado, que antes oscilava em torno de 0,6, tem um 
salto definitivo para uma nova média de 0,7, razão de preços em que, como exposto 
anteriormente, o abastecimento com álcool se torna definitivamente desvantajoso. 
 
 
32 
 
 
Figura 20 – Razão de preços etanol hidratado - gasolina 
Fonte: ANP (2016). Elaboração própria. 
Dado que, como dito no tópico anterior, a razão de preços serve como 
sinalizador à escolha de combustível pelo consumidor, a chegada do preço médio nesse 
novo patamar acaba com a vantagem financeira de abastecimento a álcool hidratado, 
fazendo com que os donos de automóvel desloquem suas preferências

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