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APOSTILA DE HISTÓRIA DE RONDÔNIA

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1 
 
 HISTÓRIA AMAZÔNICA 
 
 
UM OLHAR SOBRE A OCUPAÇÃO LUSITÂNIA NO OESTE BRASILEIRO 
 
 
CÉLIO LEANDRO 
LOURISMAR BARROSO 
2 
 
 
O Encontro dos Europeus com os nativos “Em Nome de 
Deus e do Lucro” 
 
Um dos maiores objetivos das nações européias com as Grandes 
Navegações, no século XVI, era expandir o comércio, aumentar seus 
lucros e, principalmente, descobrir metais preciosos. 
 À época da chegada dos europeus a América, a população 
americana era aproximadamente oitenta milhões de habitantes, em cento e 
cinqüenta anos, houve uma redução para 3.500.00 habitantes, o que 
caracteriza um verdadeiro genocídio do povo americano. 
 A princípio, o encontro do Novo e o Velho Mundo, excitam a 
imaginação de ambos os lados. 
 Os primitivos habitantes do continente achavam que se tratavam do 
retorno de seus deuses, que segundo a mitologia voltariam para o convívio 
humano. 
 O europeu, por sua vez, no seu imaginário, era povoado por 
monstros marinhos no Mar Tenebroso (Oceano Atlântico), homens com 
cabeça de cão (Oriente) e o paraíso terrestre perdido em algum lugar 
distante. 
 Com a chegada dos europeus a América no século XV, num 
primeiro momento, misturou-se ficção com realidade, o paraíso terrestre 
dos europeus, com a volta dos deuses para os americanos. 
 No entanto, os índios perceberam a cobiça dos europeus, e que 
aquelas pessoas tão violentas e injustas, não poderiam ter vindo do céu. 
Demoraram muito para perceber, tiveram seu processo histórico 
bruscamente interrompido e acabaram sendo destruídos pela superioridade 
bélica dos europeus. 
 Para os europeus a imagem criada do Paraíso, encontrado na 
América e do “Bom Selvagem” (o nativo), foi sendo substituída, aos 
poucos, pelo índio selvagem, feroz, cruel e incapaz de civilizar-se. 
Para a Igreja Católica, era necessário levar às criaturas 
“demonizadas do Novo Mundo”, a palavra de Deus por meio da catequese. 
 
 
Encontro de desbravadores com os nativos 
 
 Além da cobiça por riquezas, os conquistadores Europeus também 
procuravam expandir o catolicismo, considerando a conversão pacífica ou 
forçada dos infiéis como um dever abençoado por Deus, e, como 
instrumento de conversão, usavam os Jesuítas e outras ordens religiosas 
para catequizar e arrebanhar mais fiéis para a Igreja Católica. 
 Como Portugal e Espanha eram países extremamente católicos, o 
papa concedeu aos países ibéricos, o direito ao Padroado, tornando o 
Estado chefe da Igreja. 
 Assim, desde o início, a colonização do Brasil esteve marcada pela 
presença da Cruz e da Coroa. Na visão medieval, Orbis Christianus: o 
mundo era de Deus e o representante dele na terra era a Igreja Católica. A 
religião tornou-se um ponto de apoio para a dominação econômica e 
política, funcionando como instrumento de controle social. 
 A Igreja impunha sua visão de mundo (eurocêntrica), facilitando a 
dominação metropolitana. Colonizar e evangelizar eram faces da mesma 
moeda. 
 Vieram para América catequizar os nativos, várias ordens 
religiosas, como os Dominicanos, Mercedários, Franciscanos da Beira e do 
Minho, Carmelitas, Capuchinhos e Beneditinos. 
 
 
3 
 
Conquista, Povoamento e Colonização 
 
 Durante o primeiro século de colonização, a região amazônica 
permaneceu praticamente inexplorada, isso devido à fixação dos 
colonizadores no litoral açucareiro. Além disso, havia nos limites 
estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, onde a maior parte do Vale 
Amazônico pertencia à Espanha. 
 Há informações que vários navegadores a serviço de Portugal 
teriam chegado ao Brasil antes de Cabral, entre eles Duarte Pacheco, 
experiente navegador português. 
 Em fins de 1499, Vicente Yanez Pinzon, sai da Europa em direção 
a América do Sul, chegando ao Brasil em fevereiro de 1500, no atual 
Estado de Pernambuco, rumou para o Norte e atingiu a foz do Amazonas, 
a que deu o nome de “Mar Dulce”. 
 Em 1524, Aleixo Garcia, percorreu o Vale do Guaporé com destino 
ao Peru. 
 Em 1541, Gonzalo Pizarro e Francisco Orellana comandaram uma 
expedição que, saindo de Quito, no Vice Reinado do Peru, desceu o Rio 
Amazonas até a sua foz, buscando o famoso “El Dourado” e as possíveis 
riquezas que se estendiam do Peru à Amazônia Portuguesa. Enfrentando 
perigos, ataques indígenas, a expedição terminou em tragédia. Nessa 
expedição o cronista padre Gaspar de Carvajal narra a existência das 
Amazonas (mulheres guerreiras), em referência as lendárias Amazonas 
gregas (a palavra amazonas significa “sem seio”). 
 
 
O banho das Amazonas 
 Em 1560, outra expedição também em busca do famoso 
“Eldorado”, comandado por Pedro de Úrsua e Lopes de Aguirre, saindo de 
Quito, navegaram pelo Amazonas, que também terminou em fracasso. 
 
A União Ibérica (1580-1640) e as Invasões Estrangeiras 
 
 
Mapa da união Ibérica 
 Durante sessenta anos, Portugal e suas colônias ficaram sob a 
autoridade de reis espanhóis, foi a chamada União Ibérica, que durou de 
1580 a 1640. 
 Na prática, desaparecia o limite fixado pelo Meridiano do Tratado 
de Tordesilhas. Nessa época, foi feita a divisão da colônia em dois 
Estados: o Estado do Maranhão, que se estendia do Ceará ao Amazonas, e 
o Estado do Brasil que incluía os demais territórios. 
 O objetivo dessa divisão era melhorar o contato da Coroa 
Portuguesa com a região norte da colônia, devido às constantes investidas 
de inimigos franceses, ingleses e holandeses na região. 
 A assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, que dividia o 
Novo Mundo “descoberto” entre Portugal e Espanha, formando grandes 
impérios coloniais, por parte das Nações Ibéricas, marginalizando as 
outras nações européias, fez com que estas reagissem a esse tratado. 
 Com a descoberta de ouro na América Espanhola (Peru e México) 
e a famosa lenda do reino encantado (Eldorado), entre os rios Oiapoque e 
Amazonas, desenvolveu ainda mais a cobiça daquelas nações, e daí, as 
constantes invasões no Continente Americano. 
4 
 
 Os militares luso-espanhóis começaram a expulsar os estrangeiros 
do Brasil, sendo os franceses expulsos em 1615. 
 No processo da luta, os militares luso-espanhóis fundaram várias 
fortalezas litorâneas que mais tarde tornaram-se importantes cidades do 
litoral norte, como por exemplo, João Pessoa (1584), Natal (1589), 
Fortaleza (1613) e Belém (1616). 
 Com a expulsão dos franceses do Maranhão restava a ocupação do 
Pará e do Amazonas. 
 Francisco Caldeira Castelo Branco foi responsável pela construção 
do Forte do Presépio, em 1616, mais tarde batizado como Belém, que 
possibilitou a penetração luso-espanhola pelo rio Amazonas. Conquistava-
se a planície amazônica, que passou a ser ocupada e explorada por 
apresadores de índios e droguistas do sertão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Primeiros Exploradores e as Delimitações do Espaço 
Geográfico 
 
 Entre os exploradores das drogas do sertão, destacavam-se os 
jesuítas que monopolizavam a exploração desses produtos através da mão-
de-obra indígena. 
 Embrenhados na mata, os índios caçavam, pescavam e coletavam 
as drogas do sertão, contribuindo para o crescimento das riquezas da 
Companhia de Jesus. 
 O monopólio da Companhia de Jesus sobre os índios e as drogas 
do sertão, prejudicava os interesses dos colonos que se fixavam nestas 
áreas, gerando constantes conflitos com os jesuítas. O problema entre 
jesuítas e os colonos, era que os jesuítas tinham o domínio ideológico 
sobre os índios, e os colonos tinham uma posição mais radical, pois 
pretendiam escravizá-los. 
 Em 1637, devido a presença de espanhóis no alto Rio Amazonas, 
foi determinada uma Bandeira fluvial composta por 600soldados, 1200 
índios, remadores, mulheres e escravos, totalizando 2000 mil pessoas que 
foram distribuídas em 47 canoas, sob o comando de Pedro Teixeira, que 
chegou à foz do Rio Amazonas. 
 O objetivo dessa bandeira era estabelecer limites territoriais da 
Coroa Portuguesa na Amazônia, e ao mesmo tempo, efetuar a escolha de 
lugares estratégicos para construir fortificações. A expedição saiu do 
Grão-Pará atingindo Quito, no Equador e determinou marcos entre as 
possessões da América Portuguesa e Espanhola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Expansão Territorial: “Entradas e Bandeiras” 
 
 As entradas e bandeiras foram expedições que penetravam o 
interior com objetivo de apresar índios e procurar minerais. 
 São Vicente, o primeiro núcleo de povoamento fundado no Brasil, 
foi superado pelo Nordeste. O fracasso da empresa açucareira deu-se 
devido à pobreza do solo vicentino, à estreiteza do litoral e a distância em 
relação aos mercados consumidores europeus. 
 Sem apoio da metrópole, isolados em relação à Europa, 
marginalizada economicamente e praticando uma agricultura de 
subsistência, os vicentinos começaram a procurar outras formas de 
sobrevivência organizando bandeiras, que se tornavam verdadeiras 
empresas em busca de captura de índios e riquezas nos sertões. 
 
Aprisionamento de nativos por bandeirantes 
 
Além do apresamento de índios e da busca de ouro, as bandeiras 
tinham ainda outra função importante para a Metrópole: serviam de ponta 
de lança da conquista e povoamento do interior, numa época em que 
Espanha e Portugal estavam longe de ter definido a fronteira de seus 
domínios no coração da América do Sul. Em algumas expedições, essa 
função política e militar se destacou. Foi o caso da bandeira chefiada por 
Antônio Raposo Tavares, que deixou São Paulo em 1648 para desbravar 
milhares de quilômetros do sertão até o Amazonas. 
Preparado para enfrentar qualquer bloqueio, Raposo Tavares 
dividiu a bandeira em duas colunas. A primeira, chefiada por ele próprio, 
reunia 120 paulistas e 1 200 índios. A segunda, um pouco menor, era 
comandada por Antônio Pereira de Azevedo. Viajando separadamente, os 
dois grupos desceram o Tietê até o rio Paraná, de onde atingiram o 
Aquidauana. Em dezembro de 1648, reuniram-se às margens do rio 
Paraguai, ocupando a redução de Santa Bárbara. 
Depois de unificada, a bandeira prosseguiu viagem em abril de 
1649, alcançando o rio Guapaí (ou Grande), de onde avançou em direção à 
cordilheira dos Andes. Estava em plena América espanhola, entre as 
cidades de Potosí e Santa Cruz de la Sierra (hoje território da Bolívia). Aí 
permaneceu até meados de 1650, explorando o mais possível a região. De 
julho de 1650 a fevereiro de 1651, já reduzida a algumas dezenas de 
homens, empreendeu a etapa final: seguiu pelo Guapaí até o rio Madeira e 
atingiu o rio Amazonas, chegando ao forte de Gurupá, nas proximidades 
de Belém. Diz a lenda que os remanescentes da grande expedição 
chegaram exaustos e doentes ao forte e que, voltando a São Paulo, Raposo 
Tavares estava tão desfigurado que nem seus parentes o reconheceram. 
Como resultado da aventura, vastas regiões desconhecidas entre o trópico 
de Capricórnio e o equador passavam a figurar nos mapas portugueses. 
Essa bandeira de demarcação de limites, preação de índios e coletas de 
drogas do sertão (cacau, pau-cravo, canela e ervas medicinal) é um marco 
da presença portuguesa em nossa região (foi chamada de “A Grande 
Bandeira de Limites”) 
 
 
6 
 
 
Bandeira de Raposo Tavares na Amazônia 
 
 As atividades dos jesuítas no Rio Madeira começaram em 1669, 
com a fundação da missão Tupinambarana na foz do Rio Madeira, que deu 
origem a Parintins. Novas missões iam sendo instaladas no percurso do 
Rio Madeira, na medida em que se ampliavam as atividades das drogas do 
sertão, e também, a pedido do governo do Pará, temendo novas invasões, 
principalmente, castelhanas. 
 A força de trabalho indígena passa a ser constante na colônia. 
Intensifica-se a captura do índio através das tropas de resgates, 
descimentos ou “guerras justas”. 
 Em 1722, Francisco Mello Palheta, em conseqüência do avanço 
da ação missionária castelhana no Guaporé, próximo às minas de ouro do 
Mato Grosso, organizou uma expedição composta por 128 pessoas que 
percorreu todo o Rio Madeira. Ele registrou a presença de indígenas das 
missões espanholas de Mojos e Chiquitos, chegou até as missões jesuítas 
espanholas de Santa Cruz de Cajubava e de São Miguel, mostrando aos 
jesuítas que o Rio Guaporé era o limite natural que dividia as possessões 
de Portugal e Espanha. 
 O governo português temendo a proximidade da presença 
espanhola e a possibilidade de contrabando com as minas de ouro do Mato 
Grosso, proibiu a navegação pelo Rio Madeira através do alvará de 27 de 
outubro de 1733. 
 
O Mercantilismo e a Mineração no Vale do Guaporé. 
 
 O ouro desempenhou um importante papel na economia da Idade 
Moderna, pois o mercantilismo era fundamentalmente metalista, isto é, 
considerava o ouro e a prata como a base da riqueza de um país. 
 O grande centro minerador foi Minas Gerais. Em 1718, Pascoal 
Moreira Cabral descobriu ouro no Rio Coxipó-Mirim, afluente do Rio 
Cuiabá onde surgem os primeiros povoamentos próximos das minas 
descobertas. 
 A notícia alcançou a Vila de São Paulo e atraiu centenas de 
aventureiros para a região. O caminho entre São Paulo e Cuiabá era longo 
e perigoso, os ataques indígenas, fome, doenças, vitimaram grande número 
de pessoas. 
 Em 1722, foi descoberta as Lavras do Sutil, aumentando ainda 
mais a migração para Cuiabá. Em 1727, o arraial de mineradores foi 
elevado à condição de vila com o nome de Vila Real do Nosso Senhor do 
Bom Jesus de Cuiabá. 
 Em 1736, os irmãos Fernando e Arthur Paes de Barros, 
descobrem ouro no Mato Grosso, às margens do Mamoré, surgindo as 
primeiras povoações, de Santa Ana e São Francisco Xavier.
 Portugal, entre 1733 a 1737, através de Cartas Régias, proíbe a 
navegação pelos rios Guaporé e Madeira, para evitar contrabando. 
 Em 1742, Manoel Félix de Lima, fugindo de dívidas juntamente 
com outros mineradores, contrariando e infringindo as ordens da 
Metrópole, navega pelo Rio Guaporé, desvia pelo Mamoré, entra em 
contato com as missões espanholas de São Miguel, Santa Maria Madalena 
e Exaltação da Cruz, na tentativa de fazer comércio; retorna ao rio 
Madeira e ao Amazonas, chegando a Belém, onde foi preso por ter 
desobedecido as Ordens Régias, mas abriu uma nova rota alternativa de 
comunicação fluvial entre o Mato Grosso e o Pará. 
 As missões espanholas de Mojos e Chiquitos começaram a se 
expandir na margem esquerda do Guaporé, fundando a missão de Santa 
Rosa, que preocupava as autoridades portuguesas, devido à proximidade 
da região mineradora de Mato Grosso. 
7 
 
 Em nove de maio de 1748, é fundada a capitania de Mato Grosso, 
sendo nomeado como primeiro governador, o Capitão General Dom 
Antônio Rolim de Moura Tavares. 
 
D. Antônio Rolim de Moura Tavares 
 
O capitão General Dom Antônio Rolim de Moura, que imediatamente 
tomou posse, chegou ao Brasil com instruções de fundar a capital da 
recém-criada capitania. Também deveria criar uma Ouvidoria, uma Vara 
de Juiz de Fora, Casa de Fundição e promover o povoamento da região. 
 Criaria também um aparato militar diante das pretensões 
espanholas, desenvolvendo a colonização da região, estimulando os 
colonos a produzir alimentos, criar gado para abastecer o comércio local e 
atender as necessidades da população. 
 A capital, Vila Bela da Santíssima Trindade, foi criada 
estrategicamente para ter acesso à Bacia Amazônica, através do Guaporé 
(ligando as Minas do Mato Grosso ao Grão-Pará), e através da Bacia 
Platina (com São Paulo), ficando assim fixadas as bases portuguesas na 
região. 
 O governador português procurou coibir o contrabando, tornando 
mais eficiente o comércio. 
 Em 1755, foi liberadauma rota comercial que através da 
Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, estabelecia o 
monopólio de abastecimento dos vales: Guaporé, Madeira e Mamoré. 
 Durante o século XVIII, os vales do Guaporé, Madeira e Amazonas 
foram palco de intensa atividade dos colonizadores portugueses e 
espanhóis, em função da mineração e das tensões fronteiriças, levando os 
governadores a desenvolver uma política militar através de construções de 
fortificações, missões religiosas e desenvolvimento da colonização. O 
suporte dessa política colonizadora foi o trabalho escravo: tanto indígena 
como africano. 
 Nesse período, foram fundados vários arraiais em pontos 
estratégicos para dar apoio aos navegadores e servirem de entrepostos 
comerciais ao longo do Madeira. 
 Desde 1728, o padre jesuíta João Sampaio fundou a missão de 
Santo Antônio das Cachoeiras, sendo a primeira povoação na margem 
direita do Rio Madeira, dentro da área do atual Estado de Rondônia, que 
não resistiu aos ataques indígenas, mosquitos, malária, e acabou 
deslocando-se para outras regiões. 
 Em 1757, Rolim de Moura ordenou a fundação do povoado de 
Nossa Senhora da Boa Viagem de Salto Grande do Rio Madeira, fundada 
pelo juiz de Fora Teotônio de Gusmão no século XVIII, que também não 
sobreviveu aos ataques indígenas e epidemias. 
 Desmistifica-se a teoria do Vale do Guaporé como vazio 
demográfico, levando-se em consideração a política colonizadora 
desenvolvida pelos governadores dessa época. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
As Questões Fronteiriças no Período Colonial 
 
 Mesmo antes da chegada dos portugueses a América, o Tratado de 
Tordesilhas determinava as fronteiras que separavam os domínios 
americanos da Espanha e de Portugal. 
 O meridiano imaginário situado 370 léguas a oeste das ilhas de 
Cabo Verde, passava pelas regiões onde, nos dias atuais, se encontra a 
cidade de Belém, no Pará e Laguna, em Santa Catarina. 
 Entretanto, as fronteiras entre as colônias espanholas e o Brasil 
nunca chegaram a serem claramente demarcadas, devido a falta de 
conhecimentos dos domínios americanos e durante a União Ibérica, as 
terras americanas pertenciam ao mesmo Rei. 
 Nesse período, (1580-1640), os luso-brasileiros e espanhóis 
puderam transitar livremente dos dois lados (português e espanhol), mas 
quem mais se aproveitou foram os portugueses, pois a Espanha 
concentrava seus esforços na mineração (vice-reinado do Peru), por isso, 
deu pouca atenção a movimentação portuguesa na região amazônica e 
platina. 
 Durante o século XVIII, o território brasileiro sofreu uma grande 
expansão para o interior, graças aos bandeirantes à procura de índios para 
escravizar e minérios, conquistando para Portugal grandes extensões de 
terras, que estavam sob jurisdição espanhola, ultrapassando os limites de 
Tordesilhas. 
 
MAPA: fronteira do Brasil no século XVII 
 
 Quando Portugal fundou a Colônia de Sacramento (1680), ás 
margens do Rio da Prata, chocou-se com os interesses espanhóis, pois a 
região pertencia à Espanha e ficava próxima de Buenos Aires, rica em 
pecuária e servindo de contrabando com a área mineradora. 
 Os conflitos entre portugueses e espanhóis levaram as duas nações 
ibéricas a assinar os Tratados de Limites para solucionar os problemas, 
principalmente, por Portugal ocupar imensa área sob o domínio espanhol. 
(sobre tratados, ver capítulo específico). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
A Era Pombalina 
 
No reinado de D. José I, foi nomeado Sebastião José de carvalho e Melo o 
Marquês de Pombal, para o cargo de primeiro-ministro do governo 
português, ocupando-o por mais de 25 anos, dirigindo os destinos 
portugueses e coloniais, disposto a retirar o atraso de seu país em relação 
aos centros mais dinâmicos da economia européia e a diminuir o grau de 
dependência de Portugal para com a Inglaterra. 
 
Marques de Pombal 
 
O Contexto metropolitano colonial 
 
A ascensão de Dom José I ao trono luso, em 1750, representou um 
marco importante para o Brasil e para o Estado português do século XVIII. 
O soberano escolheu como ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, 
denominado posteriormente Marquês de Pombal, que dirigiu com 
autoridade e energia as atividades da metrópole e das colônias, a ponto de 
esse período se tornar conhecido como "período pombalino". 
O governo do Marquês de Pombal constituiu um bom exemplo 
dessa proposta reformadora, uma vez que dela se serviu para modificar o 
curso da política colonial portuguesa. Portugal arrastava-se numa crise 
econômica de grandes proporções, há várias décadas, devido 
principalmente à perda de suas possessões na África e Ásia, no decorrer do 
século XVII, e também por causa do Tratado de Methuen, (ver capítulo 
sobre Tratados) assinado em 1703 entre os governos português e inglês. 
 
Olhos para a Amazônia 
 
A Amazônia Colonial sempre se constituiu num grande problema 
para a Metrópole Portuguesa, no que dizia respeito à sua ocupação efetiva. 
O constante assédio de estrangeiros tornava imperioso a sua conquista e 
ocupação. As dificuldades para deslocar colonos para a Amazônia tornou-
a celeiro de degradados, que, com a justificativa de vir cumprir suas penas 
eram enviados para as Capitanias do Grão-Pará e Rio Negro, onde 
assumiriam a condição de colonos. A escassa população branca sempre 
presente nas referidas capitanias, tornava quase que impossível a 
organização de sua defesa, coisa que só seria conseguida com sua efetiva 
ocupação. Nesse sentido, a política pombalina traçada para a Amazônia 
procurava superar os obstáculos colocados à sua colonização, através da 
execução de um projeto que visava transformar o índio em colono. Assim, 
como grande dirigente das rédeas do Estado Português, Pombal formulou 
uma política indigenista que objetivava emancipar os índios, retirando-os 
da tutela das ordens missionárias e procurava integrá-los à população 
branca. Nesse sentido, o esforço de fazer do índio um colono, a estratégia-
chave foi a implantação do Regime do Diretório. 
 
Uma Nova visão colonialista 
 
Reestruturação, austeridade fiscal e uma nova etapa de ocupação 
colonialista seriam os princípios desta nova ordem política em Portugal. O 
fato desta estimativa de sub-aproveitamento, justificaria em especial o 
interesse metropolitano em suas disposições sobre a Amazônia, em cujas 
reformas realizadas sobre vários setores, da estrutura colonialista, como 
forma de promover o reforço ou a regeneração do Estado Metropolitano 
Luso. Não bastava apenas racionalizar a exploração da Colônia para torna-
la mais eficiente, onde haveria de igual maneira uma necessidade de 
defendê-la da cobiça estrangeira, onde o contexto amazônico refletiria bem 
estas precauções, onde deveria ser estabelecida uma imediata demarcação 
sobre a fronteira norte, principalmente por conta de uma insignificante 
presença de colonos portugueses. 
10 
 
Por conta disto houve a proposta de transformar os índios como 
colonos em potencial, uma idéia já muito antiga nos desdobramentos do 
Estado metropolitano português e que por hora, voltara a ganhar força de 
interesses, sendo a única alternativa viável, sendo reforçada por conta do 
episódico terremoto que arrasaria Lisboa, gerando muitas perdas humanas. 
 
Índios, Colonos e Cidadãos. 
 
A proposta de transmutar o índio para colono implicaria em 
reconhecer-lhe a condição de pessoa, ser humano, como possuidor de 
direitos naturais de um homem livre, o que seria incompatível com a 
condição escravista, a qual alguns estariam sujeitos. Para tanto Pombal 
estabeleceria uma política indigenista, na medida em que criou medidas 
legais que proibiriam a escravidão deste por qualquer indivíduo ou 
instituição que fosse. Uma destas prerrogativas seria a própria retirada dos 
indígenas que estivessem sob a tutela das antigas ordens religiosasmissionárias (no caso em destaque os Jesuítas). Assim, os indígenas teriam 
reconhecidamente direitos pertinentes à cidadãos portugueses, onde se 
tornariam desde trabalhadores assalariados, até mesmo a própria condição 
de colonos, que seriam as peças fundamentais ao projeto de interiorização 
dos interesses portugueses, onde para tanto, Pombal determinaria que 
fosse obrigatório o ensino da l[íngua portuguesa nas antigas aldeias de 
catequese (Aldeamentos), onde a te então se manteve o uso da chamada 
língua–geral (Nheengatú), grande utilitária das ordens religiosas. 
Nesse sentido, o marques de Pombal colocaria em vigor a Lei de 6 
de junho de 1755, complementada pelo Alvará de 7 de junho de 1755, que 
revogava “todas as Leis, Regimentos, 
Resoluções e ordens, que desde o descobrimento das sobreditas Capitanias 
do Grão Pará e Maranhão, até o presente dia permitiriam ainda em certos 
casos particulares a escravidão dos referidos índios. 
Tal situação foi uma constante no Brasil colonial e principalmente 
na Amazônia, onde o trabalho indígena sempre foi a grande alternativa de 
mão-de-obra para os colonos. Procurando se precaver de toda e qualquer 
possibilidade de ser descumprida, a lei estabelecia a “imediata prisão de 
todos aqueles que teimassem em fazer índios cativos, despojando-os dos 
direitos de ‘Homenagem, Alvará de fiança, ou fieis Carcereiros’...”. 
Na tentativa de regular a utilização do trabalho indígena pelos 
colonos, a lei de 1755 reinstituiu a obrigatoriedade do pagamento de 
salários, estabelecendo que estes deveriam corresponder igualmente ao 
que se pagaria aos artífices. Por conta da presente aversão dos índios em 
trabalhar para os colonos, a alternativa inicial de transformá-los em 
colonos, ao contrário de assalariados acabaria sendo cada vez mais viável, 
onde além de ser declarado cidadão livre, deveria também ser reconhecido 
no direito à posse da terra, para assim atuar como um agricultor produtivo. 
 
A Educação 
 
Com a expulsão dos jesuítas do Reino e da Colônia, Pombal 
determinou que a educação (até então sob cargo da Igreja Católica) 
passasse a ser transmitida por professores leigos contratados e pagos pelo 
Estado para lecionar nas escolas régias. 
Pombal fez uma revolução na Universidade de Coimbra, introduzindo os 
estudos das Ciências Exatas e Naturais e aprimorando os estudos das 
Ciências Jurídicas. 
 
As vilas 
 
Com o objetivo de institucionalizar as áreas de esta nova ocupação, 
no espaço em que os índios ocupariam, foi também determinado pela 
mesma lei (1755) que as aldeias mais populosas em que estes habitassem, 
fossem assim elevadas a condição de vilas, assim como as áreas adjacentes 
em que estes habitassem, garantindo-lhes a posse hereditária da 
propriedade. Para melhor executar este empreendimento, Mendonça 
Furtado, irmão do grande marques, foi encarregado do governo do Pará, 
onde preocupado com as etapas desta estruturação e, ao mesmo tempo 
sendo fiel a esta “doutrina do índio cidadão”, procurou igualizar brancos e 
índios em direitos, no que estimularia ao casamento destes, com o objetivo 
de alargar ao povoamento das vastas terras desta região, habilitando-os 
assim pelo caminho matrimônio como uma nova força de ocupação, “sem 
11 
 
que aquele sangue lhes sirva de embaraço... e que os principais (chefes) 
seus filhos e filhas, e com quem casar, são nobres e gozarão de todos os 
privilégios que como tais lhes competem”. 
 
Principais Medidas de Pombal 
 
 Incentivos estatais para a instalação de manufaturas na metrópole. 
 1755: criação da Capitania de São José do Rio Negro, hoje Estado do 
Amazonas. 
 1755: criação da Companhia de Comércio do Estado do Grão-Pará e 
Maranhão, estimulando as culturas do algodão, do arroz, do cacau, 
etc. e tentando resolver o problema da mão-de-obra escrava para a 
região. 
 1755: criação do Diretório Pombalino, órgão composto por homens de 
confiança do governo português, cuja função era gerir os antigos 
aldeamentos. Com tal medida, o governante português extingue o 
poder dos jesuítas (Regimento das Missões) e o entrega aos 
colonos. Pombal proibiu a utilização das línguas maternas e do 
nheengatu (uma espécie de dialeto), tornando obrigatório o uso do 
idioma português em toda a Colônia. Pelo Diretório também 
estavam proibidas as construções de casas coletivas. 
 1756: Criação do Diretório do Indio 
 1759: criação da Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, 
com o objetivo de estimular o cultivo da cana-de-açúcar e do 
tabaco. 
 1759: extinção do sistema de capitanias hereditárias. 
 1759: expulsão dos jesuítas (inacianos) da Metrópole e da Colônia, 
confiscando-lhes os bens. 
 1762: criação da Derrama com a finalidade de obrigar os mineradores 
a pagar os impostos atrasados. 
 1763: transferência da capital da Colônia de Salvador para o Rio de 
Janeiro. 
 
 
A Queda de Pombal 
 
 Em 1777, com a morte de D. José I, subiu ao trono Dona Maria I, 
que afastou o Marquês de Pombal do governo. A queda do ministro foi 
comemorada por todos os opositores que, finalmente, podiam voltar ao 
poder. O governo da Metrópole suspendeu o monopólio das companhias 
de comércio e baixou um alvará proibindo a produção manufatureira da 
Colônia (com exceção do fabrico de tecidos grosseiros para uso dos 
escravos). Essas decisões aumentaram o descontentamento dos luso-
brasileiros ante a dominação da Coroa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Comércio e decadência no Guaporé 
 
 As relações comerciais entre o Grão-Pará e o Mato Grosso nos 
séculos XVIII e XIX, bem como a sua ligação com as questões ligadas à 
sociedade mineradora e escravista e ainda as questões militares e 
fronteiriças, constituem-se no alicerce para o conhecimento das regiões 
dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé, que hoje pertencem a Rondônia. 
Para essa região afluíam aventureiros, religiosos, desbravadores, 
militares e escravos que mantiveram a posse e a ocupação dos vales desses 
rios. A sociedade, que deste processo resultou, espelhou sempre a 
fragilidade de suas bases. Fundamentada em uma economia meramente 
extrativista e itinerante e em uma política de intensa animosidade 
fronteiriça, a sociedade colonial guaporeana se manteve somente enquanto 
perdurou o interesse metropolitano sobre as riquezas da região. 
Em finais do século XVIII, já se tornava notória a crise pela qual 
passavam os vales do Guaporé e Madeira. A decadência se instalava tanto 
na mineração, quanto nas Guarnições Militares e mesmo na manutenção 
das rotas fluviais de comércio, que ligavam Vila Bela a Belém do Pará. 
A agressividade e ousadia da política portuguesa de meados do 
século XVIII era agora vencidas pelo descaso, apatia e abandono. A 
própria Vila Bela, símbolo máximo do arrojado projeto colonial português 
para a região, teve um brilho meteórico da gloria vivida nos anos de Luiz 
de Albuquerque, restando apenas ruínas. 
A crise enfrentada pela capitania de Mato Grosso se refletia nas 
capitanias de São José do Rio Negro, Grão-Pará e Goiás. A rota do 
Madeira havia entrado em franco abandono desde a desativação da 
Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, o que provocou o 
desaquecimento do comércio paraense e o despovoamento de 
consideráveis áreas territoriais de grande importância estratégica para a 
Coroa Portuguesa. 
No bojo de toda uma conjuntura de crises, incertezas e 
decadências, é que as autoridades regionais tentaram viabilizar um projeto 
que deveria restaurar as ligações entre o Grão-Pará e Mato Grosso através 
da rota Amazonas, Madeira, Guaporé. 
Foi elaborado o plano de navegação que seria estimulado o 
transporte do então escasso ouro do Mato Grosso para Belém, permitindo 
a exploração dos recursos naturais e abrindo ensejo para atividades de 
contrabando que permitiriam a entrada da prata andina nos territórios 
portugueses. 
Esse fatocriaria uma atmosfera ao mesmo tempo permissiva e 
repressora, capaz de estimular secretamente o contrabando e promover o 
afluxo de riquezas para a região. Porém, o século XIX concretizou o 
estado de letargia do Guaporé-Madeira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Real Forte do Príncipe da Beira (1775-1783) 
 
 Os constantes conflitos entre portugueses e espanhóis, que 
remontam ao Tratado de Tordesilhas, e, constantemente desrespeitados 
pelos portugueses devido a falta de interesse espanhol em explorar a 
região, agrava-se ainda mais após o fim da União Ibérica (1640), e a 
descoberta de ouro no Vale do Guaporé. 
 Os portugueses cada vez mais se firmavam no Vale do Ouro, 
assegurando suas conquistas na região, que foi garantida pelo Tratado de 
Madri (1750), entre Portugal e Espanha, que reconhecia legalmente as 
pretensões portuguesas sobre a Bacia Amazônica. 
 Nesse contexto, a ordem da Coroa portuguesa era construir fortes 
para proteger seus limites, coibir o tráfico ao longo dos rios Guaporé e 
Madeira e auxiliar os navegantes em busca de ouro, índios e drogas do 
sertão. 
 Em virtude destes atritos e para garantir a soberania portuguesa na 
região, foi construído em 1754 o Fortim de Nossa Senhora da Conceição, 
cuja fragilidade levou os espanhóis a tentar sua conquista. 
 No governo de João Pedro da Câmara foi remodelado, mudando 
posteriormente o nome no governo de D. Luis Pinto de Souza Coutinho 
(1768-1771) para Forte Bragança. 
 O Forte Príncipe da Beira, construído entre 1775-1783 no sistema 
Valban, tendo como engenheiros, Domingos Sambucette, que morreu de 
malária entre o período de janeiro a setembro de 1777, sendo substituído 
pelo Sargento-mor Ricardo Franco de Almeida Serra. 
 Com uma área de 970 metros quadrado e muralhas de 7,20 de 
altura, seu portal medindo 10 metros, contendo quatro baluartes com 14 
canhões cada, totalizando 56 canhoneiras, representava a imponência 
portuguesa na região. 
 
Planta baixa do Real Forte Príncipe da Beira 
 
 Os baluartes denominavam-se Nossa Senhora da Conceição 
(voltado para o Oeste), Santa Bárbara (voltado para o sul) – adjacente ao 
rio Guaporé, Santo Antônio de Pádua (voltado para o Norte) e Santo 
André Avelino (voltado para o Leste). 
As pedras para a construção foram obtidas no próprio local, a Cal 
em Belém do Pará, Albuquerque e Corumbá (MT), a artilharia veio de 
Lisboa via Belém do Pará, uns chegaram pela rota fluvial Amazonas-
Madeira-Guaporé e outros pelas Amazonas-Tapajós-Guaporé. 
 O primeiro comandante do Forte Príncipe da Beira foi o Capitão de 
Dragões, José Melo da Silva Vilhena. 
Com a decadência do Império Espanhol e a crise da mineração, o 
Forte Príncipe da Beira caiu no abandono. Foi redescoberto em 1911 pelo 
Marechal Rondon, foi reocupado pelo exercito brasileiro e teve seu 
tombamento histórico em 30 de novembro de 1937. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Tratados e a configuração de um país 
 
Tratado de Tordesilhas - 1494 
 
A descoberta da América em 1492 e a do Brasil em 1500 inserem-
se no ciclo das navegações em busca do melhor caminho para as Índias. 
Eram os tempos modernos que se iniciavam com um movimento geral de 
renovação, o Renascimento, caracterizado pelo espírito mais aberto e 
crítico do humanismo, o maior conhecimento da antigüidade clássica, 
grande surto das artes e o desenvolvimento das ciências, inclusive as que 
se relacionavam com a arte de navegar. A carência dos metais preciosos na 
Europa, a sede de especiarias e os mitos então correntes sobre as riquezas 
do Oriente impulsaram portugueses e espanhóis a procurar novas terras, 
avançando sobre mares desconhecidos. Os primeiros o fizeram 
sistematicamente, contornando primeiro toda a África; os segundos, de 
maneira quase surpresiva, ante o êxito da viagem de Colombo. 
Celebrou-se, então, entre os dois monarcas, em Tordesilhas, o 
Tratado de 7 de junho de 1494, que estipulou que a linha estabelecida pelo 
Sumo Pontífice se suporia traçada a 370 léguas para o poente das referidas 
ilhas, ampliando-se, assim, a favor de Portugal, as 100 léguas antes 
consagradas. Apesar, porém, de prevista no Tratado, nunca se realizou a 
demarcação das 370 léguas, obrigação prorrogada e definitivamente 
esquecida pelas duas Coroas. O meridiano de Tordesilhas, apesar de nunca 
demarcado e de ser de impossível localização no interior do país, passaria 
ao norte em Belém do Pará e no sul em Laguna, Santa Catarina. 
 
 
Tratado de Methuen (1703) 
 
Tratado assinado em 27 de Dezembro de 1703 entre Inglaterra e Portugal, 
pelo qual este ficava obrigado a abrir o seu mercado à importação de lã 
inglesa, tendo como contrapartida a exportação facilitada dos seus vinhos 
para Inglaterra. Embora tenha contribuído para a afirmação da produção 
vinícola em Portugal, condenou à destruição a incipiente indústria de 
lanifícios portuguesa. Vigorou até 1836. 
Tratado de Madri (1750) 
 
A linha de Tordesilhas funcionou pelo menos teoricamente até 
1750 para separar os domínios espanhóis e portugueses na América. Só foi 
abolida pelo Tratado de Madri. As negociações do tratado foram 
inspiradas por Alexandre de Gusmão, paulista e um dos secretários do rei 
Dom João V, além de integrante do Conselho Ultramarino. Sob sua 
direção, foi elaborado, em 1749, o chamado Mapa das Cortes, que definia 
as fronteiras entre o Brasil e a América espanhola. O tratado, concluído em 
Madri em 13 de janeiro de 1750, ignorava os anteriores e adotava um 
princípio sugerido por Gusmão: o do uti possidetis, que dava a posse da 
terra àqueles que a tivessem ocupado e povoado. Os domínios dos dois 
países na América foram separados por uma nova linha, que respeitava as 
áreas ocupadas e exploradas por colonos portugueses ou espanhóis e 
seguia, sempre que possível, os limites naturais, como o cume das serras 
ou o curso dos rios. 
 
Tratado de El Pardo (1761). 
 
O fracasso da demarcação dos limites e o envolvimento de Espanha e 
Portugal em lados opostos na Guerra dos Sete Anos, em 1756, levaram à 
anulação do Tratado de Madri e sua substituição por um novo tratado, 
assinado na cidade espanhola de Pardo (12/2/1761). As tropas de Buenos 
Aires tomaram a Colônia do Sacramento, pela quarta vez, em 1762; 
ocuparam o Rio Grande, em 1763; e chegaram à ilha de Santa Catarina, 
em 1777. 
 
Tratado de Santo Ildefonso (1777). 
 
Por esse tratado, assinado em 1º de outubro de 1777, na cidade espanhola 
de San Ildefonso, a rainha D. Maria I, de Portugal, e o rei espanhol Carlos 
III praticamente revalidaram o Tratado de Madri. Os espanhóis ficavam 
com a Colônia do Sacramento e a região dos Sete Povos, ou seja, boa parte 
do Rio Grande do Sul e do atual Uruguai. A Espanha devolvia a ilha de 
http://www.klickescolas.com.br/2006/enciclo/encicloverb/0,5977,CCLIENTE-6457,00.html
15 
 
Santa Catarina aos portugueses. Pela primeira vez o limite sul do Brasil 
era o Arroio Chuí. 
 
Tratado de Badajoz (1801). 
 
O tratado de 1777 também não foi respeitado. Os espanhóis violaram a 
fronteira de Mato Grosso na altura de Nova Coimbra e os gaúchos 
apossaram-se da área pecuarista dos Sete Povos em 1801. Nesse ano, 
Espanha e Portugal firmaram na cidade espanhola de Badajoz outro 
acordo: Portugal manteria as regiões conquistadas na América (os Sete 
Povos); em troca, cedia Olivença, na Península Ibérica, à Espanha. Era de 
certa forma a readoção do Tratado de Madri, e dava ao Brasil 
aproximadamente a dimensão e o contorno atuais. 
 
O Tratado de Ayacucho (1867) 
 
Nas primeiras décadas do século XIX, o contexto histórico latino-
americano havia se alterado profundamente. As ex-colônias espanholas e 
portuguesas tornaram-se países independentes e as questões fronteiriças 
ganharam conotações inéditas. Foi nesta nova situação que Brasil e 
Bolívia negociaram o Tratado de Ayacucho, assinado em 1867. Os 
brasileiros negociaram esse tratado,sujeitos a pressões exercidas pela 
Bolívia durante a Guerra do Paraguai, que estava mobilizando todos os 
recursos bélicos e financeiros do Brasil. Ainda assim, a diplomacia 
brasileira soube se aproveitar da fragilidade congênita da Bolívia para tirar 
vantagens. 
Como o povoamento brasileiro já havia penetrado nos rios Madeira, Purus 
e Juruá, os negociadores do Brasil procuraram empurrar a linha divisória 
mais para o sul, estabelecendo que o ponto inicial da fronteira seria agora a 
confluência dos rios Beni e Mamoré, onde se iniciava o Madeira. A partir 
daí, o Tratado de Ayacucho dizia que "Deste rio para oeste seguirá a 
fronteira por uma paralela, tirada da sua margem esquerda na latitude sul 
10º20’ até encontrar o rio Javari. Se o Javari tiver as suas nascentes ao 
norte daquela linha leste-oeste, seguirá a fronteira desde a mesma latitude, 
por uma reta a buscar a origem principal do dito Javari." O trecho 
transcrito deixa claro que por ocasião da assinatura do Tratado de 
Ayacucho, ainda não se conheciam as verdadeiras nascentes do Javari. 
Acreditavam os diplomatas brasileiros que essas nascentes estavam no 
paralelo 10º20’, mas deixavam em aberto uma solução para o caso dessa 
idéia não corresponder à realidade. E foi exatamente isso o que se 
constatou posteriormente: as verdadeiras cabeceiras do Javari estavam 
situadas a 7º 06’. Foi essa descoberta que, a partir de 1895, quando a 
fronteira começou a ser demarcada na prática, deu origem à Questão 
Acreana. 
 
 
 
Tratado de Petrópolis (1903) 
 
 Uma conquista da diplomacia brasileira foi um acordo assinado entre o 
Brasil e a Bolívia, em 17 de novembro de 1903, que encerrou o conflito 
existente entre as duas nações, face à ocupação do território boliviano por 
retirantes nordestinos que, durante a II Guerra Mundial, expandiram a 
fronteira brasileira em busca do leite da seringueira, na densa floresta 
amazônica. A negociação diplomática encaminhada por José Maria da 
Silva Paranhos Jr., o Barão do Rio Branco, Ministro das Relações 
Exteriores (1902/1912), efetivou-se em Petrópolis/RJ, cidade imperial 
onde se encontravam as delegações estrangeiras no país; a defesa brasileira 
consistiu no argumento do uti possidetis solis, que assegura direito ao 
http://www.grupoescolar.com/materia/o_tratado_de_madrid_e_o_tratado_de_ayacucho.html
16 
 
território a quem o possui de fato. Em troca, o Brasil indenizou a Bolívia 
com 2 milhões de libras esterlinas, entregou-lhe algumas áreas da fronteira 
de Mato Grosso e obrigou-se a construir 366 km da estrada-de-ferro 
Madeira-Mamoré/RO, que permitiria a saída da Bolívia para o Oceano 
Atlântico. 
 
 
O Barão do Rio Branco teve seu feito reconhecido e recebeu do povo 
acreano homenagem indelével, que batizou com seu nome a capital do 
Estado do Acre. Além disso, essa que é considerada a maior vitória 
diplomática do Brasil, testemunhada por Rui Barbosa, Assis Brasil, dentre 
outros, valeu ao Barão também o título de Deus terminus de nossas 
fronteiras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Primeiro Ciclo da Borracha 
 
 Seringueira (Hevea Brasiliensis), já era utilizada por indígenas pré-
colombianos. 
 Divulgada na Europa por Charles Marie de La Condamine e 
François Fresneau (1736), tinha pouco emprego, até a descoberta da 
vulcanização (Charles Goodyear, EUA – 1839), e seu uso em pneus. 
 Em 1853, figura nas exportações da Amazônia e, a partir daí, a sua 
explosão e demanda no mercado internacional, gerando dessa forma, uma 
grande elevação de preços. 
 A borracha produziu imensas riquezas, beneficiando muito mais os 
setores mais distantes da produção, sobretudo, os exportadores 
estrangeiros. 
 Para a sua extração, foi utilizado um sistema de exploração de 
trabalho que, praticamente, reeditava as condições de escravidão. 
 Após um período relativamente curto de apogeu, entre em 
decadência, causando a estagnação da região em virtude da concorrência 
estrangeira (Asiática), através de contrabando feito pelo inglês Henry 
Alexander Wyckham que levou 70.000 sementes. 
 O sertão nordestino liberou braços abundantes para os seringais. 
Mais de 500 mil nordestinos vêm para a região Amazônica, fugindo da 
seca que assolava a região (seca de 1877). 
 A mão-de-obra utilizada na extração de látex se compunha de 
mamelucos, nativos bolivianos e nordestinos. 
 Na ilusão de enriquecimento ou apenas por sobrevivência (ganha 
pão), os nordestinos saem de seus Estados e caem no domínio dos 
seringalistas, donos dos latifúndios onde se explorava a borracha, 
tornando-se quase escravo de seu patrão, já que prevalecia a justiça do 
mais forte, o Coronel. 
 Ao chegar, o trabalhador já se endividava na sua compra dos 
instrumentos de trabalho (tigela, bacia, machado, rifle) e alimentos 
fornecidos pelo dono do seringal e dono do barracão (armazém). 
17 
 
 
Seringueiro no processo de defumação do Látex 
 
 O patrão comprava a produção do seringueiro. No final do ano era 
feito um balanço para ver se o seringueiro tinha saldo, mas como os preços 
do barracão eram exorbitantes, o seringueiro ficava devendo e aumentava 
cada vez mais sua dependência em relação ao barracão. 
 O lucro da borracha ficava parte com o seringalista que, por sua 
vez, dependia das Casas Aviadoras que supria os barracões e eram 
responsáveis pelo transporte da borracha para Belém e Manaus. As Casas 
Aviadoras que pertenciam aos comerciantes brasileiros e estrangeiros 
cuidavam da manutenção dos seringais, fornecendo crédito aos 
seringalistas, que pagavam também com a produção da borracha. 
Mas as Casas Aviadoras também dependiam das Casas 
Exportadoras, quase sempre estrangeiras, principalmente européias e 
norte-americanas. As Casas Aviadoras também pagavam os empréstimos 
às Casas Exportadoras com a borracha. 
O lucro maior ficava com as Casas Exportadoras que 
monopolizavam o comércio e a exportação da borracha. Os exportadores, 
reduzidos às poucas pessoas, acumulavam imensas fortunas e eram 
responsáveis pela transferência de capital da região explorada, através das 
filiais nas grandes cidades amazônicas, para países centrais do capitalismo. 
 
 
 
A Navegação do Rio Madeira e o Imperialismo 
 
Em plena fase de conquistas territoriais, o imperialismo das 
grandes potências destroçava impiedosamente quaisquer obstáculos que se 
opusessem aos seus interesses. 
A conjuntura internacional era marcada pelas agressões do 
imperialismo europeu às nações latino-americanas. 
O governo imperial brasileiro manteve prolongadas negociações 
diplomáticas com países europeus para resolver questões fronteiriças, 
como também aos interesses capitalistas internacionais sobre a abertura da 
bacia Amazônica à navegação internacional. 
 
MAPA: hidrografia na região norte 
 
Em 1852, o Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, fundou a 
Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, com capital 
investido por Mauá, subsídios do governo brasileiro e compra de ações de 
comerciantes de Belém e Manaus. Dessa forma, procurava reagir às 
pretensões norte-americanas, incentivando a navegação nacional e 
protegendo a soberania territorial. 
Em 1860, surgiram mais duas companhias de navegação: a 
Companhia Fluvial Paraense e a Companhia Fluvial do Alto Amazonas.
 Finalmente, em 1872, D. Pedro curva-se à pressão externa e abre a 
região Amazônica à navegação internacional. 
18 
 
Em 1874, a Amazon Steam Navigation Company, comprou as três 
empresas nacionais que operavam na bacia amazônica e passa a 
monopolizar o transporte fluvial da região. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré 
 
O século XIX foi o século de afirmação do sistema capitalista, 
baseado na idéia de lucro. As ferrovias se tornam um investimento 
rentável, que gerava lucros para os países detentores de tecnologia e a 
dependência daqueles que compravam. Na Guerra do Pacífico (1879-1883), reunindo Peru e Bolívia contra o Chile, que era apoiada pelo capital 
britânico, a Bolívia perdeu sua saída para o mar. 
Para escoar seus produtos pelo Pacífico, a Bolívia encontrava 
dificuldades devido ao seu relevo, que a deixava encurralada entre os 
Andes e os desertos do Gran Chaco, enfrentando assim, problemas 
fronteiriços com o Chile. 
A região norte sempre foi servida por uma rede hidrográfica rica, 
com muitos rios navegáveis e desde o início de sua colonização, os rios 
foram seus principais caminhos. 
Para a Bolívia, as vantagens da navegação pelo Rio Madeira era 
ganhar os rios navegáveis (afluentes do Amazonas ou Rio da Prata) e sair 
no Atlântico. O interior da Bolívia ficaria ligado ao Atlântico através de 
Belém do Pará, mas havia mais alguns obstáculos a vencer, que eram as 
cachoeiras do Rio Madeira. 
Em 1846, o engenheiro boliviano José Augustin Palácios, navegou 
nos rios Mamoré e Madeira e defendeu a idéia de ligação da Bolívia por 
via Amazonas através da construção de uma estrada. Os tenentes norte-
americanos Herndon e Gibbon, em 1851, navegaram os rios que ligam a 
Bolívia ao litoral Atlântico do Brasil através do Amazonas. Também 
propuseram a construção de uma estrada para transpor as cachoeiras do 
Rio Madeira. 
Desde 1797, o governador do Pará, D. Francisco de Souza 
Coutinho, já tinha preconizado essa solução, sugerida pelos tenentes 
Herndon e Gibbon. 
Em 1861, o francês Ernest Grandidier também fez estudos sobre as 
comunicações com o Atlântico, através do Amazonas. 
O general boliviano Quentin Quevedo que, em 1861, depois de 
percorrer os Rios Mamoré e Madeira, propõe a canalização dos trechos das 
cachoeiras ou a construção de uma estrada de ferro. No mesmo ano, o 
19 
 
governo do Amazonas designa o engenheiro João Martins de Souza 
Coutinho para efetuar novos estudos sobre o Rio Madeira, que também 
propôs a construção da estrada de ferro para ligar a navegação dos rios 
Madeira e Mamoré. 
A Guerra do Paraguai (1864-1870), envolvendo a Tríplice Aliança 
(Brasil, Argentina e Uruguai) contra o Paraguai, fez com que Solano 
López (Paraguai) atacasse a província do Mato Grosso, isolando-a e 
impedindo o tráfego pela Bacia Platina. Reforça-se a necessidade da 
construção da estrada de ferro para tirar a região do isolamento. 
O Brasil entra em acordo com a Bolívia, surgindo daí o Tratado de 
Amizade, Limites, Navegação, Comércio e Extradição, celebrado em La 
Paz (1867), conhecido por Tratado de Ayacucho, que no seu artigo 9º, 
previa a construção de uma estrada de ferro ao lado das cachoeiras. 
O governo brasileiro incumbiu os engenheiros Joseph e Franz 
Keller de estudarem a viabilidade da construção de uma estrada de ferro ao 
lado das cachoeiras. 
Em 1867, o General boliviano Quentin Quevedo busca recursos 
para a construção da estrada de ferro. 
Em 1868, o engenheiro norte-americano George Earl Church a 
serviço do governo boliviano apresentou um plano de construção de canais 
contornando as cachoeiras. Fundou para isso a National Bolívia 
Navigation Company, mas percebendo que o projeto de canalizar o Rio 
Madeira era difícil de executar, modificou-o posteriormente para uma 
ferrovia. 
A ferrovia seria construída em território brasileiro e teria o aval do 
governo Imperial, que exige que Church organize uma nova companhia. 
Em 1871 foi fundada a “The Madeira and Mamoré Railway” que 
ligaria Santo Antônio a Guajará-Mirim. 
Church consegue empréstimo em Londres, porém, os ingleses 
indicaram a construtora Public Works. A empresa manda seus engenheiros 
que, juntamente com Church, descem o Rio Mamoré, atravessam as 
cachoeiras do Madeira e chegam a Santo Antônio, fazendo um relatório 
apressado e dando um parecer positivo para a construção da ferrovia. 
Estava feita a parceria The Madeira and Mamoré Railway e a 
Public Works Construction co. Em 1872, chega a primeira leva de 
trabalhadores e os primeiros materiais para construção. 
Após sérios reveses provocados por ataques indígenas (índios 
caripunas), febres e malária, os engenheiros e trabalhadores se retiram do 
Vale do Madeira deixando para trás todo o material, alegando ser 
impossível a construção da ferrovia e terem sido enganados sobre as 
condições da região. A construtora pediu uma indenização pelos prejuízos. 
Church, depois de várias tentativas fracassadas junto a empresas 
inglesas, contrata a P & T Collins (1878), que deveria construir 
inicialmente 32 km de estrada. A empresa norte-americana, Phillip & 
Thomas Collins, fracassou diante às adversidades da região. Em quatro 
meses só conseguiram assentar 7 km de trilhos. Diante do fracasso da P & 
T Collins, o governo brasileiro cassa a concessão dada ao coronel Church 
e designa uma nova comissão para continuar a construção da estrada de 
ferro. 
 
Comissões para estudos da região 
 
Em 1883, chega a Santo Antônio a Comissão Brasileira Morsing. 
Já na chegada a Santo Antônio, em 19.03.1883 e diante da desolação do 
local e do total estado de abandono dos restos da aventura da firma P. & T. 
Collins e da enormidade do que havia sido feito durante aquele quase um 
ano para os padrões de produtividade dos trabalhos na região (construídos 
6 km de trilhos, aterrados cerca de 20 km e estudados mais de 100 km), já 
declarou um dos membros da comissão: "São incríveis os trabalhos feitos 
por aqueles heróicos Americanos, a despeito de todas as contrariedades"... 
Essas contrariedades não tardaram a afetar a comissão Morsing e após 
cerca de um mês de permanência no local, já começavam a registrar-se as 
primeiras mortes de engenheiros, e o próprio chefe da comissão adoeceu, 
sendo retirado do local. Para variar, os índios também continuavam 
perturbando os trabalhos e assustando os encarregados do trabalho a ponto 
destes não se aventurarem nas matas à procura de caça para substituir a 
alimentação pobre do local, o que contribuiu ainda mais para piorar as 
condições de saúde dos membros da comissão, registrando-se mais 
20 
 
algumas mortes de engenheiros e trabalhadores, até que a comissão 
retirou-se em 19.08.1883, quando já não havia nenhum membro que não 
estivesse doente, são obrigados a abandonar a região. 
No ano de 1884, é designada uma nova comissão brasileira, 
comissão essa chefiada pelo engº Pinkas, (Comissão Pinkas ) que chegou 
a Santo Antônio em 20.06.1884, regressando em 10.09.1884, tendo 
aparentemente realizado a proeza de levantar mais que o dobro de tudo 
que havia sido levantado (confirmado) pela comissão Morsing em apenas 
77 dias, novamente às custas de grande sacrifício em vidas humanas. Mas 
os estudos que fez não eram confiáveis. Na realidade, nas duas plantas a 
ferrovia corria praticamente paralela, apenas diferindo no trecho entre as 
cachoeiras do Jirau e Guajará-Mirim, justamente o trecho dado como bom 
Por Morsing de acordo com as plantas da Public Works, e no local de 
início da ferrovia, que Pinkas estabelecia em Santo Antônio. Somente em 
1912, terminada a construção da ferrovia, iria confirmar-se, com certeza, 
que Morsing estava correto e Pinkas errado. Estas comissões tinham como 
objetivo principal verificar a viabilização da construção da ferrovia, 
desenvolvendo estudos sobre o percurso adequado para a obra. Abaixo, o 
traçado previsto de acordo com a planta de Pinkas, comparando com a 
estabelecida por Morsing. 
 
MAPA: expedição Morsing 
 
Encerram-se, naquele momento, as tentativas de construção da 
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Em Santo Antônio fica abandonado 
o material e um saldo de grande número de vítimas mortas nessas 
tentativas de construção da estrada de ferro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
A Guerra do Acre 
 
O Acre e outros afluentes do Purus tinham os melhores seringais. 
Os únicos produtivos até hoje. A área era da Bolívia e reconhecida pelo 
Brasil pelo Tratado de Ayacucho (1867), apesardas dúvidas que ainda 
pairavam sobre o término do território brasileiro e o início do território 
boliviano, houve a ocupação dos seringais bolivianos por brasileiros. 
A região ficava separada da Bolívia por montanhas e selvas, unida 
ao Brasil pelo Purus, que tornava a navegação mais fácil, embora 
demorada. 
Até então, o Acre era um extenso território praticamente desabitado 
e sem importância econômica. Com o primeiro ciclo da borracha, 
descobriu-se que o Acre era riquíssimo em seringais e atraiu milhares de 
brasileiros, principalmente nordestinos, fugindo da seca em seus Estados. 
O Acre passa a ser um grande produtor de látex, extraindo 
toneladas desse produto. 
 
 
Guerra no Acre 
 
A Bolívia, em 1899, instalou postos alfandegários na região, e, 
apesar do governo brasileiro ter acatado a medida, houve reação dos 
brasileiros nos seringais acreanos. Também houve reação dos Estados do 
Amazonas e Pará, que estendiam sua jurisdição na região, inclusive, 
através de cobrança de impostos. Afetava também os interesses das Casas 
Aviadoras que passaram a apoiar um movimento separatista. 
Em 14 de julho de 1899, o espanhol Luiz Galvez, funcionário do 
consulado da Bolívia em Belém, tomando ciência de um acordo 
diplomático entre Bolívia e EUA, através de um documento existente na 
embaixada boliviana (ver leitura complementar), buscou apoio de Manaus 
através de armas, dinheiro e munição e dirigiu-se ao Acre, assumindo a 
liderança de um movimento contra a Bolívia, mas acabou optando pela 
independência do Acre, contrariando os interesses de Manaus e Belém, 
que temiam verem seu comércio prejudicado na região. 
Galvez foi deposto e preso. 
A Bolívia pressentindo o perigo arrenda a extração do látex a uma 
companhia que reunia capitais norte-americanos, ingleses e alemães – The 
Bolivian Syndicate de New York – no comando desta companhia estava a 
família de Roosevelt e como um dos acionistas o rei da Bélgica. 
“A questão acreana, segundo Rubin Santos Leão Aquino e Ronaldo 
César Lisboa, não envolvia somente o Brasil e a Bolívia e tão pouco se 
resumia a uma questão unicamente fronteiriça. Esta visão de que foi um 
simples conflito de limites territoriais esconde e deturpa, como acontece 
na maioria das vezes, o direito das pessoas à verdade histórica. Se 
analisarmos o problema dentro do contexto histórico mundial, a questão 
acreana é um típico exemplo da ação do imperialismo internacional, dos 
métodos por ele utilizados para dominar a economia dos países não 
desenvolvidos e dos resultados nefastos (para a população desses países) 
dessa ação (...). O governo boliviano, na verdade, agiu como simples testa-
de-ferro de poderosas companhias internacionais principalmente norte-
americanas que compunham o chamado Bolivian Syndicate, interessado 
na maior riqueza da selva amazônica: o látex da borracha”. 
(Aquino – Ronaldo – Fazendo a História – Ed. ao Livro Técnico) 
Plácido de Castro, um veterano militar gaúcho, lidera um novo 
levante, que a princípio não houve interferência do governo brasileiro. 
Como o presidente da Bolívia manda tropas para o Acre, em 
resposta o presidente Rodrigues Alves ordenou que tropas do exército 
avançassem para proteger a população brasileira. Paralelo às ações 
militares, desenvolveu as negociações diplomáticas através do Barão de 
Rio Branco. Em novembro de 1903, os dois países chegaram a um acordo, 
assinando o Tratado de Petrópolis. 
22 
 
Foi criado, assim, o Território Federal do Acre, através da Lei 1181 
de 25 de novembro de 1904. 
 
 
Madeira Mamoré Railway 
 
Com a assinatura do Tratado de Petrópolis (1903), são retomadas 
as discussões sobre a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e o 
governo brasileiro abre a licitação para a construção da mesma. Venceu a 
licitação Joaquim Catrambi que repassa ao norte-americano Percival 
Farquhar, (por 60.000 dólares) empresário com grandes empreendimentos 
nos Estados Unidos e na América Central. 
Os trabalhos da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré Railway 
ficaram sob a responsabilidade da empreiteira May, Jekyll & Randolph, 
com sede em New York, - subsidiária da Madeira Mamoré Railway – 
fundada por Percival Farquhar em Portland nos EUA. 
Após fazer um levantamento do material deixado pela P & T 
Collins, instalação de galpões para o reparo de locomotivas, (inclusive a 
máquina Cel. Church, totalmente recuperada), consertos de lanchas, de 
navios e criação de armazéns de carga para receber mercadorias do 
interior, do sul e de países estrangeiros, deu início à construção da 
ferrovia. 
As tentativas anteriores de construção da estrada de ferro partiram 
sempre de Santo Antônio a Guajará-Mirim pertencente ao Estado do Mato 
Grosso. 
A empresa May, Jekyll & Randolph constatou, ao chegar, a 
inviabilidade de começar a ferrovia em Santo Antônio, devido ao difícil 
acesso ao porto improvisado para desembarque de materiais pesados e 
pelas doenças que assolavam Santo Antônio e sua alta insalubridade. 
Desloca o ponto inicial 7 km rio abaixo, dentro de terras pertencentes ao 
Amazonas, no antigo Porto do Velho. 
Surgia uma cidade planejada em plena selva com início da 
construção da ferrovia. 
Além das oficinas, galpões, armazéns, Porto Velho também 
contava com usinas de geração de energia de captação de água, hospital, 
porto fluvial, fábrica de gelo e fábrica de biscoito. 
As casas dos funcionários mais qualificados eram feitas com tela, 
sistema de esgoto, tratamento de água, luz elétrica, cinema e salões de 
festas. 
Fora dos limites da administração da estrada de ferro, hoje, a partir 
da Avenida Presidente Dutra, chamava-se Avenida Divisória. Surgia uma 
“nova cidade” feita de cabanas de palhas onde reinava a miséria, desordem 
e o caos, que recebia trabalhadores, prostitutas, desempregados e toda 
massa de excluídos e marginalizados vindos principalmente de Santo 
Antônio, que decaía com a construção da estrada de ferro. 
Enquanto Porto Velho crescia, Santo Antônio se despovoava. 
Em 1907, o índice de mortalidade na ferrovia era alarmante. Para 
compensar o alto número de mortos e doentes, a Railway Company 
substituía-os por outros vindos de todas as partes do mundo e chegavam 
cada vez mais pessoas de várias nacionalidades, atraídos pela idéia de 
ficarem ricos. 
 
Cemitério da Candelária 
Foram 21.817 trabalhadores empregados pela Railway Company 
durante os cinco anos de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. 
A malária, o beribéri, a disenteria e a pneumonia dizimavam 
centenas de trabalhadores. Diante disso, a Companhia resolveu construir o 
Hospital da Candelária, o mais bem equipado da América Latina, para o 
23 
 
tratamento das doenças tropicais. Mesmo com a construção do hospital, 
continuava crescendo o número de óbitos. Havia negligência por parte da 
empresa na política preventiva de combate às doenças. 
 
 
Leito do Hospital da Candelária 
 
Osvaldo Cruz, maior sanitarista do Brasil, juntamente com 
Belizário Pena, estive aqui na região. Eles fizeram um relatório apontando 
as causas das epidemias e indicaram medidas profiláticas para combatê-
las. 
Além da recusa de muitos doentes em não tomar os remédios à 
base de quinino, a empresa não quis gastar dinheiro com os meios de 
combate às doenças. Morreram cerca de 1.593 operários oficialmente 
registrados, pois, muitos adoeciam e não ficavam na empresa, seguiam 
para Manaus ou Belém e acabavam morrendo nesses locais. Na verdade, 
morreram em torno de 6 mil. 
A Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi concluída em 1º de agosto 
de 1912, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim (cachoeira pequena). 
A construção da EFMM foi extremamente importante para o 
desenvolvimento do Vale do Madeira. Ao longo da ferrovia que ligava 
Porto Velho a Guajará-Mirim, ponto inicial e final respectivamente, 
surgem vários povoados como Jací Paraná, Mutum Paraná, Abunã, Iata e 
Vila Murtinho. 
A ferrovia quando foiinaugurada, havia concretizado um grande 
sonho, que na realidade, não passou de uma ilusão. 
Daí em diante, a crise da borracha jamais permitiu que a ferrovia 
tivesse um desempenho econômico a altura de tantos esforços e tantas 
mortes. 
 
A Força de Trabalho na EFMM 
 
Logo no início das obras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, as 
duas companhias, a concessionária e a construtora chegaram à conclusão 
que o empreendimento fracassaria se caso fosse adotado o mesmo sistema 
das empresas anteriores, ou seja, manter um número fixo de trabalhadores. 
O número de mortes e doentes era cada vez mais crescente. Foi por 
esta razão que a Companhia resolveu manter agentes em varias partes do 
mundo com o objetivo de recrutar trabalhadores que, além de atuarem na 
construção da Estrada de Ferro, seriam utilizados também em diversas 
circunstâncias. 
O Grupo de Farquhar tentou inicialmente a “importação” de 
trabalhadores espanhóis que haviam servido à construção das estradas de 
ferro em Cuba, mas, com grande incidência de doenças que acometiam os 
trabalhadores, fez com que os governos da Espanha, Portugal e Itália 
proibissem a imigração direta para o local da construção da estrada de 
ferro. 
A princípio, a Companhia, apesar de sofrer contínuos atrasos na 
obra em virtude das moléstias que atacavam os trabalhadores, seguia na 
mesma trilha percorrida por todas as suas antecessoras: o da negligência e 
do descaso na luta contra as doenças regionais. 
Em 1908 a empreiteira trazia mensalmente 204 novos 
trabalhadores de países como a Grécia, Alemanha e Itália, que viriam 
substituir os enfermos. Os que sobreviviam se tornavam debilitados 
fisicamente, e dificilmente seriam aproveitados na obra. No ritmo de 
construção da estrada de ferro, o período médio de vida dos operários era 
de apenas três meses. 
Durante a primeira fase da construção da ferrovia, ainda no século 
XIX, já se registrava a presença dos barbadianos, mas no século XX eles 
se tornaram uma força expressiva nos trabalhos da ferrovia. Os 
barbadianos eram provenientes das colônias inglesas da América Central. 
24 
 
 
 
Reta do Abunã – “O inferno no paraíso” 
 
A vantagem desse tipo de mão-de-obra era que muitos já haviam 
adquirido experiência na construção de ferrovias e do Canal do Panamá, 
em sua região de origem. Devido sua experiência em ambientes tropicais 
hostis, como as selvas panamenhas, aliadas a seu vigor físico e ritmo 
altamente disciplinado, como mão-de-obra os barbadianos se tornavam 
indispensáveis. 
Provenientes de diversas nacionalidades centro-americanas, 
Barbados, Trinidad, Jamaica, Santa Lúcia, Martinica e outras ilhas da 
Antilhas, esses negros de formação protestante e idioma inglês eram, de 
forma geral, denominados “barbadianos” 
Os homens caribenhos, em Porto Velho, viviam segregados em 
razão da língua, da cor e por constituírem um bairro próprio (Barbadian 
Tow). Uma maneira aristocrática e o sentimento de superioridade cultural 
estavam incutidos nesses homens que vieram para exercer algum cargo de 
maior relevância dentro da empresa. Procuravam manter determinado 
distanciamento em relação aos que não pertenciam à sua cultura. 
Diferenciavam-se dos negros brasileiros, que trouxeram do 
nordeste para Porto Velho os ritos afros. Os barbadianos mantinham uma 
aceitação orgulhosa da aculturação, negando suas raízes africanas, 
inclusive religiosas. Sendo eles protestantes, não aceitavam os rituais 
africanos. 
 
Mão de obra Indu 
 
Além dos barbadianos, várias outras nacionalidades se fizeram 
representar no contingente de trabalhadores da ferrovia, tais como norte-
americanos, ingleses, gregos, hindus, entre outros, recriando na Amazônia 
o mito bíblico de uma nova Babel do imperialismo. 
Hoje os trilhos repousam sobre a vida de milhares de operários que 
vieram construí-los. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
Linha Telegráfica – 1907-1909 
 
Dentre as causas do processo de povoamento do atual Estado de 
Rondônia – Vale do Guaporé e Madeira – destacaram-se como obras de 
grande importância o Real Forte Príncipe da Beira e a Estrada de Ferro 
Madeira Mamoré. 
Também faz parte dessa política de povoamento as Linhas 
Telegráficas, implantadas por Marechal Rondon. 
O Governo Federal preocupava-se com o isolamento do extremo 
oeste e norte do país, o que o levou a construir as Linhas Telegráficas 
entre Cuiabá e o Araguaia (1892-1898), e outra de Cuiabá a Corumbá 
(1900-1906); estendendo-se até a fronteira do Paraguai, visto que durante 
a Guerra do Paraguai, essa região permitiu a invasão de forças inimigas no 
território brasileiro. Portanto, era preciso guarnecê-la e povoá-la. 
Rondon foi designado para uma nova missão, confiada pelo 
presidente Afonso Pena, para ligar, por postos telegráficos, Cuiabá a Santo 
Antônio, completando a ligação sul e norte do país. 
Em 1907 foi iniciada a primeira etapa da expedição de Rondon, 
saindo de Cuiabá até Juruena, percorrendo 1.781km. 
Em 1908 sai de Juruena até Serra do Norte, percorrendo 1.653 km. 
Em 1909 foi a terceira e última expedição, de Serra do Norte até Santo 
Antônio, percorrendo 1.415 km. 
 
 
Comissão Rondon 
 
Além do assentamento da Linha Telegráfica, a Comissão Rondon 
fez um levantamento geográfico da região. 
Na Comissão Rondon, havia militares, engenheiros, fotógrafos, 
técnicos e cientistas civis, o que a tornava também uma missão científica. 
A atuação da Comissão foi decisiva para o reconhecimento e 
levantamento hidrográfico da fauna e flora da região, ligando a Amazônia 
Ocidental ao resto do país e tirando-a do isolamento. 
Durante esses trabalhos, Rondon reencontrou o Forte Príncipe da 
Beira, que estava abandonado, e desde então, passou a lutar pela sua 
reativação, o que ocorreu em parte, em 1932, com a instalação de um 
contingente militar. 
Enfrentando todo tipo de dificuldades, passando por regiões 
inóspitas, selvas densas, assoladas pelas doenças, fome, deserções de 
soldados e ataques dos índios, exigia Rondon uma postura rígida, dura e 
disciplinada, já que uma grande parte dos integrantes da comissão era de 
presos e degredados. 
Rondon nasceu no Mato Grosso, era descendente de índio. A 
princípio, se formou como professor de magistério e ingressou 
posteriormente na carreira militar. 
Durante a implantação das Linhas Telegráficas conheceu e estudou 
muitas tribos indígenas, sempre estabelecendo contato pacífico com os 
índios parecis. 
Sob a bandeira de “Morrer se preciso for, matar nunca”, a comissão 
nunca revidava os ataques indígenas. 
A luta de Rondon e seus companheiros acabou por sensibilizar o 
governo, originando daí o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), que 
reconhecia os direitos dos povos indígenas de existirem em suas próprias 
terras, bem como seus costumes. 
Sua linha de atuação era pacificar o índio arredio e hostil (para 
permitir o avanço da civilização), demarcar suas terras, criando reservas 
indígenas, onde aprenderiam noções de higiene e sanitarismo feito por 
funcionários abnegados. Belas palavras, muita teoria, que na prática nem 
sempre foram cumpridas. 
26 
 
Enquanto Rondon viveu e lutou nas selvas, os índios foram 
respeitados. Rondon criou 77 postos indígenas, descobriu 12 novos rios, 
mapeou territórios, estendeu linhas telegráficas sem matar índios. 
Depois de Rondon, foram pacificadas mais de 80 tribos que foram 
praticamente destruídas pelas doenças e afastamento de suas terras. 
Em 1910, o SPI se perdeu em meio a erros, corrupção e crimes, 
descaracterizando as propostas de Rondon. O SPI foi substituído 
posteriormente pela criação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). 
A trilha palmilhada por Rondon serviu de traçado para a atual BR 
364. 
Ao longo do percurso dos postos telegráficos assentados, surgiram 
vários povoados, entre eles: Vilhena, Cabixi, Pimenta Bueno, Vila de 
Rondônia, Jaru e Ariquemes.Aluízio Ferreira 
 
Em Rondônia, o nome de Aluízio Ferreira está completamente 
associado à história do atual Estado. Atuando como agente transformador 
e líder incontestável da região, criou bases para a implantação do 
Território Federal do Guaporé. 
Aluízio Ferreira se destacou como o primeiro diretor administrativo 
da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Como militar chamou a atenção 
quanto às questões fronteiriças com a Bolívia, por fim, foi o primeiro 
governador do Território Federal do Guaporé. 
Participou do Movimento Tenentista (contra a República 
Oligárquica) chefiando a Revolta da Guarnição do Forte de Óbidos no 
Amazonas. 
 
 
Aluízio Ferreira 
 
Quando o movimento foi debelado, restou a Aluízio Ferreira a fuga 
para o Vale do Guaporé. Trabalhou no seringal Laranjeira, de propriedade 
de Américo Casara, como seringueiro e na administração do barracão. 
Durante sua permanência no seringal, fez estudos sobre índios 
Macurapes e Tuparís, criando um documentário sobre essas tribos e 
endereçando ao Marechal Rondon, na época de sua passagem à Belém. 
Em 1928 apresentou-se às autoridades militares em Belém do Pará, 
sendo julgado e condenado à prisão por 7 meses. 
27 
 
Foi reintegrado ao exército com a patente de Tenente. Ingressou na 
Comissão de Linhas Telegráficas a convite de Marechal Rondon, sendo 
destacado para a zona norte, sediada em Santo Antônio do Rio Madeira, na 
subchefia do posto e sob o comando do Major Emanuel Amarante. 
Com a morte do Major Amarante, Aluízio Ferreira foi designado 
para assumir a chefia do posto telegráfico de Santo Antônio. 
Com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder com 
o apoio dos tenentes (rebelados em 1922 e 1924), Aluízio Ferreira sendo 
revolucionário deste período na região norte, foi designado como chefe do 
Governo Provisório no Estado do Amazonas. 
Durante sua permanência no cargo, teve que intervir na greve dos 
ferroviários da Madeira Mamoré, ameaçados de dispensa em conseqüência 
da Crise de 1929. 
Em nome do presidente Getúlio Vargas, ele se comprometeu a dar 
subsídios à administração da ferrovia para mantê-la em funcionamento, 
evitando assim, o desemprego dos trabalhadores da ferrovia. 
Em 1930, Aluízio Ferreira viajou ao Rio de Janeiro para defender 
Rondon, acusado de corrupção administrativa por tenentes revolucionários 
(antigos desafetos de Rondon). Os tenentes também pretendiam, sob a 
liderança de Juarez Távora, erradicar as Linhas Telegráficas e extinguir as 
unidades militares, dispensando o pessoal responsável pela construção e 
manutenção dessas vias, comprometendo a segurança das fronteiras. 
O ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida 
aceitou a defesa feita por Aluízio Ferreira designando-o para substituir o 
General Rondon na Inspetoria das Fronteiras e chefia do Terceiro Distrito 
Telegráfico. 
Em 1931, o capitão Aluízio Ferreira foi nomeado diretor da Estrada 
de Ferro Madeira Mamoré e, em 1932, o Ministro da Guerra, criou os 
Contingentes de Fronteiras sediados em Porto Velho, Guajará-Mirim e 
Forte Príncipe da Beira, subordinados à Inspetoria dos Contingentes 
Especiais de Fronteira sob o comando de Aluízio Ferreira, que ficou com 
toda autoridade na região. 
Também coube a Aluízio Ferreira a abertura da Rodovia Cuiabá – 
Porto Velho abrindo alguns quilômetros que deu origem a BR 364, 
concluída em 1960. 
Finalmente em 1943, com a criação do Território Federal do 
Guaporé, foi nomeado seu primeiro governador. 
 
 
A Nacionalização da E.F.M.M 
 
A E.F.M.M, logo após sua inauguração, passou a amargar pesados 
déficits, em conseqüência do preço da borracha que sofria a concorrência 
dos seringais da Malásia. 
A quebra da Bolsa de New York em 1929, gerou recessão, 
falências e afetou todo o mundo capitalista, repercutindo na administração 
da E.F.M.M., agravando ainda mais a receita da ferrovia já em contínuo 
declínio, iniciando a dispensa de trabalhadores para enxugar a folha de 
pagamento. 
Devido ao clima de revolta diante da paralisação e das demissões, o 
governo federal é obrigado a intervir após o pedido de rescisão do contrato 
de arrendamento da EFMM, pois ao afetar os ferroviários com demissões, 
afetaria também o comércio e isolaria a população ao longo dos trilhos que 
dependiam da ferrovia como meio de transporte. 
O governo federal se comprometeu a ajudar a Companhia com 30 
contos de réis mensais para evitar a paralisação do contrato. 
Mesmo com os subsídios do governo, os déficits continuavam e a 
situação da EFMM se agravava, levando-a a suspender o tráfego antes do 
término do contrato. 
Diante da interrupção do contrato, o governo entrou com um 
processo de intervenção federal, normalizando o funcionamento da 
EFMM. 
Pelo decreto-lei nº 20.200 de 10 de julho de 1931, foi restabelecido 
os serviços da ferrovia e nomeado Aluízio Ferreira como administrador. 
A EFMM que até 1931 era dirigida por estrangeiros, passa a ser 
administrada por brasileiros e mudou sua razão social de Madeira-Mamoré 
Railway Company para Estrada de Ferro Madeira Mamoré. 
28 
 
A ferrovia passa a pertencer a Rede Ferroviária Federal e foi 
transferida na década de 60 para o 5º BEC (Batalhão de Engenharia e 
Construção), com sede em Porto Velho. 
A EFMM foi mantida em virtude de ser o único meio de transporte 
entre Porto Velho e Guajará-Mirim e era um ponto de apoio para a 
construção da Rodovia 364 que iria substituí-la. 
Em 1972, no Governo Militar, o 5º BEC autoriza a paralisação da 
ferrovia. 
A decisão de desativar a EFMM gerou revolta na população (afinal 
a história de Porto Velho está ligada a EFMM) e também pelo 
sucateamento da ferrovia, sendo muita coisa retirada e vendida. 
A atuação do governo Jorge Teixeira paralisou a retirada e a venda 
das peças e máquinas considerada Patrimônio Histórico de Rondônia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Segundo Ciclo da Borracha (1939-1945) 
 
Os Tratados de Washington 
 
Na Segunda Guerra Mundial, o Japão ocupou o Sudeste Asiático e, 
com o ataque japonês à base naval norte-americana de Pearl Harbor no 
Havaí, causa a entrada dos Estados Unidos na guerra, tornando-a mundial 
e envolvendo os principais países do mundo. 
Os Estados beligerantes, procurando garantias na América, 
pressionam seus tradicionais “aliados” a se envolver no conflito e fornecer 
matéria-prima para a indústria bélica. 
Nesse contexto, em conseqüência da invasão japonesa nos 
seringais da Malásia, o Brasil deveria fornecer borracha para a indústria 
norte-americana, devido a interrupção do abastecimento no Oriente. 
O Brasil, até então, mantivera uma posição indefinida e ambígua 
em relação ao conflito, ficando entre os EUA e a Alemanha, pela qual, 
Getúlio Vargas nutria grande simpatia. 
 
Acordo feito entre Brasil e EUA 
 
O Brasil aliou-se aos Estados Unidos por força de pressão e 
vantagens comerciais, declarando-se oficialmente em guerra. 
Em 1942 os EUA (Franklin Delano Roosevelt) e o Brasil (Getúlio 
Vargas) fazem os Acordos de Washington, pelo qual o Brasil 
29 
 
comprometia-se a reativar seus seringais através de uma operação conjunta 
com os EUA para obtenção mais rápida da borracha. 
O objetivo era reativar os seringais para a produção em larga escala 
na região amazônica, ordenando sua produção para suprir as necessidades 
das nações amigas. 
O Brasil entrou com seringais, com mão-de-obra e com 58% de 
capital para a criação do Banco de Crédito da Borracha. Os EUA entraram 
com 42% de capital para o Banco da Borracha e forneceria meios para a 
produção, transporte e escoamento. 
Surge o Batalhão da Borracha e o recrutamento de “soldados” foi 
no nordeste brasileiro. 
Foi criado a CAETA – Comissão e Encaminhamento de 
Trabalhadores para a Amazônia, encarregada de contratar e conduzir os 
nordestinos até a Região Norte; e o SEMTA – Serviço de 
Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia.

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