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1 HISTÓRIA AMAZÔNICA UM OLHAR SOBRE A OCUPAÇÃO LUSITÂNIA NO OESTE BRASILEIRO CÉLIO LEANDRO LOURISMAR BARROSO 2 O Encontro dos Europeus com os nativos “Em Nome de Deus e do Lucro” Um dos maiores objetivos das nações européias com as Grandes Navegações, no século XVI, era expandir o comércio, aumentar seus lucros e, principalmente, descobrir metais preciosos. À época da chegada dos europeus a América, a população americana era aproximadamente oitenta milhões de habitantes, em cento e cinqüenta anos, houve uma redução para 3.500.00 habitantes, o que caracteriza um verdadeiro genocídio do povo americano. A princípio, o encontro do Novo e o Velho Mundo, excitam a imaginação de ambos os lados. Os primitivos habitantes do continente achavam que se tratavam do retorno de seus deuses, que segundo a mitologia voltariam para o convívio humano. O europeu, por sua vez, no seu imaginário, era povoado por monstros marinhos no Mar Tenebroso (Oceano Atlântico), homens com cabeça de cão (Oriente) e o paraíso terrestre perdido em algum lugar distante. Com a chegada dos europeus a América no século XV, num primeiro momento, misturou-se ficção com realidade, o paraíso terrestre dos europeus, com a volta dos deuses para os americanos. No entanto, os índios perceberam a cobiça dos europeus, e que aquelas pessoas tão violentas e injustas, não poderiam ter vindo do céu. Demoraram muito para perceber, tiveram seu processo histórico bruscamente interrompido e acabaram sendo destruídos pela superioridade bélica dos europeus. Para os europeus a imagem criada do Paraíso, encontrado na América e do “Bom Selvagem” (o nativo), foi sendo substituída, aos poucos, pelo índio selvagem, feroz, cruel e incapaz de civilizar-se. Para a Igreja Católica, era necessário levar às criaturas “demonizadas do Novo Mundo”, a palavra de Deus por meio da catequese. Encontro de desbravadores com os nativos Além da cobiça por riquezas, os conquistadores Europeus também procuravam expandir o catolicismo, considerando a conversão pacífica ou forçada dos infiéis como um dever abençoado por Deus, e, como instrumento de conversão, usavam os Jesuítas e outras ordens religiosas para catequizar e arrebanhar mais fiéis para a Igreja Católica. Como Portugal e Espanha eram países extremamente católicos, o papa concedeu aos países ibéricos, o direito ao Padroado, tornando o Estado chefe da Igreja. Assim, desde o início, a colonização do Brasil esteve marcada pela presença da Cruz e da Coroa. Na visão medieval, Orbis Christianus: o mundo era de Deus e o representante dele na terra era a Igreja Católica. A religião tornou-se um ponto de apoio para a dominação econômica e política, funcionando como instrumento de controle social. A Igreja impunha sua visão de mundo (eurocêntrica), facilitando a dominação metropolitana. Colonizar e evangelizar eram faces da mesma moeda. Vieram para América catequizar os nativos, várias ordens religiosas, como os Dominicanos, Mercedários, Franciscanos da Beira e do Minho, Carmelitas, Capuchinhos e Beneditinos. 3 Conquista, Povoamento e Colonização Durante o primeiro século de colonização, a região amazônica permaneceu praticamente inexplorada, isso devido à fixação dos colonizadores no litoral açucareiro. Além disso, havia nos limites estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas, onde a maior parte do Vale Amazônico pertencia à Espanha. Há informações que vários navegadores a serviço de Portugal teriam chegado ao Brasil antes de Cabral, entre eles Duarte Pacheco, experiente navegador português. Em fins de 1499, Vicente Yanez Pinzon, sai da Europa em direção a América do Sul, chegando ao Brasil em fevereiro de 1500, no atual Estado de Pernambuco, rumou para o Norte e atingiu a foz do Amazonas, a que deu o nome de “Mar Dulce”. Em 1524, Aleixo Garcia, percorreu o Vale do Guaporé com destino ao Peru. Em 1541, Gonzalo Pizarro e Francisco Orellana comandaram uma expedição que, saindo de Quito, no Vice Reinado do Peru, desceu o Rio Amazonas até a sua foz, buscando o famoso “El Dourado” e as possíveis riquezas que se estendiam do Peru à Amazônia Portuguesa. Enfrentando perigos, ataques indígenas, a expedição terminou em tragédia. Nessa expedição o cronista padre Gaspar de Carvajal narra a existência das Amazonas (mulheres guerreiras), em referência as lendárias Amazonas gregas (a palavra amazonas significa “sem seio”). O banho das Amazonas Em 1560, outra expedição também em busca do famoso “Eldorado”, comandado por Pedro de Úrsua e Lopes de Aguirre, saindo de Quito, navegaram pelo Amazonas, que também terminou em fracasso. A União Ibérica (1580-1640) e as Invasões Estrangeiras Mapa da união Ibérica Durante sessenta anos, Portugal e suas colônias ficaram sob a autoridade de reis espanhóis, foi a chamada União Ibérica, que durou de 1580 a 1640. Na prática, desaparecia o limite fixado pelo Meridiano do Tratado de Tordesilhas. Nessa época, foi feita a divisão da colônia em dois Estados: o Estado do Maranhão, que se estendia do Ceará ao Amazonas, e o Estado do Brasil que incluía os demais territórios. O objetivo dessa divisão era melhorar o contato da Coroa Portuguesa com a região norte da colônia, devido às constantes investidas de inimigos franceses, ingleses e holandeses na região. A assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, que dividia o Novo Mundo “descoberto” entre Portugal e Espanha, formando grandes impérios coloniais, por parte das Nações Ibéricas, marginalizando as outras nações européias, fez com que estas reagissem a esse tratado. Com a descoberta de ouro na América Espanhola (Peru e México) e a famosa lenda do reino encantado (Eldorado), entre os rios Oiapoque e Amazonas, desenvolveu ainda mais a cobiça daquelas nações, e daí, as constantes invasões no Continente Americano. 4 Os militares luso-espanhóis começaram a expulsar os estrangeiros do Brasil, sendo os franceses expulsos em 1615. No processo da luta, os militares luso-espanhóis fundaram várias fortalezas litorâneas que mais tarde tornaram-se importantes cidades do litoral norte, como por exemplo, João Pessoa (1584), Natal (1589), Fortaleza (1613) e Belém (1616). Com a expulsão dos franceses do Maranhão restava a ocupação do Pará e do Amazonas. Francisco Caldeira Castelo Branco foi responsável pela construção do Forte do Presépio, em 1616, mais tarde batizado como Belém, que possibilitou a penetração luso-espanhola pelo rio Amazonas. Conquistava- se a planície amazônica, que passou a ser ocupada e explorada por apresadores de índios e droguistas do sertão. Os Primeiros Exploradores e as Delimitações do Espaço Geográfico Entre os exploradores das drogas do sertão, destacavam-se os jesuítas que monopolizavam a exploração desses produtos através da mão- de-obra indígena. Embrenhados na mata, os índios caçavam, pescavam e coletavam as drogas do sertão, contribuindo para o crescimento das riquezas da Companhia de Jesus. O monopólio da Companhia de Jesus sobre os índios e as drogas do sertão, prejudicava os interesses dos colonos que se fixavam nestas áreas, gerando constantes conflitos com os jesuítas. O problema entre jesuítas e os colonos, era que os jesuítas tinham o domínio ideológico sobre os índios, e os colonos tinham uma posição mais radical, pois pretendiam escravizá-los. Em 1637, devido a presença de espanhóis no alto Rio Amazonas, foi determinada uma Bandeira fluvial composta por 600soldados, 1200 índios, remadores, mulheres e escravos, totalizando 2000 mil pessoas que foram distribuídas em 47 canoas, sob o comando de Pedro Teixeira, que chegou à foz do Rio Amazonas. O objetivo dessa bandeira era estabelecer limites territoriais da Coroa Portuguesa na Amazônia, e ao mesmo tempo, efetuar a escolha de lugares estratégicos para construir fortificações. A expedição saiu do Grão-Pará atingindo Quito, no Equador e determinou marcos entre as possessões da América Portuguesa e Espanhola. 5 Expansão Territorial: “Entradas e Bandeiras” As entradas e bandeiras foram expedições que penetravam o interior com objetivo de apresar índios e procurar minerais. São Vicente, o primeiro núcleo de povoamento fundado no Brasil, foi superado pelo Nordeste. O fracasso da empresa açucareira deu-se devido à pobreza do solo vicentino, à estreiteza do litoral e a distância em relação aos mercados consumidores europeus. Sem apoio da metrópole, isolados em relação à Europa, marginalizada economicamente e praticando uma agricultura de subsistência, os vicentinos começaram a procurar outras formas de sobrevivência organizando bandeiras, que se tornavam verdadeiras empresas em busca de captura de índios e riquezas nos sertões. Aprisionamento de nativos por bandeirantes Além do apresamento de índios e da busca de ouro, as bandeiras tinham ainda outra função importante para a Metrópole: serviam de ponta de lança da conquista e povoamento do interior, numa época em que Espanha e Portugal estavam longe de ter definido a fronteira de seus domínios no coração da América do Sul. Em algumas expedições, essa função política e militar se destacou. Foi o caso da bandeira chefiada por Antônio Raposo Tavares, que deixou São Paulo em 1648 para desbravar milhares de quilômetros do sertão até o Amazonas. Preparado para enfrentar qualquer bloqueio, Raposo Tavares dividiu a bandeira em duas colunas. A primeira, chefiada por ele próprio, reunia 120 paulistas e 1 200 índios. A segunda, um pouco menor, era comandada por Antônio Pereira de Azevedo. Viajando separadamente, os dois grupos desceram o Tietê até o rio Paraná, de onde atingiram o Aquidauana. Em dezembro de 1648, reuniram-se às margens do rio Paraguai, ocupando a redução de Santa Bárbara. Depois de unificada, a bandeira prosseguiu viagem em abril de 1649, alcançando o rio Guapaí (ou Grande), de onde avançou em direção à cordilheira dos Andes. Estava em plena América espanhola, entre as cidades de Potosí e Santa Cruz de la Sierra (hoje território da Bolívia). Aí permaneceu até meados de 1650, explorando o mais possível a região. De julho de 1650 a fevereiro de 1651, já reduzida a algumas dezenas de homens, empreendeu a etapa final: seguiu pelo Guapaí até o rio Madeira e atingiu o rio Amazonas, chegando ao forte de Gurupá, nas proximidades de Belém. Diz a lenda que os remanescentes da grande expedição chegaram exaustos e doentes ao forte e que, voltando a São Paulo, Raposo Tavares estava tão desfigurado que nem seus parentes o reconheceram. Como resultado da aventura, vastas regiões desconhecidas entre o trópico de Capricórnio e o equador passavam a figurar nos mapas portugueses. Essa bandeira de demarcação de limites, preação de índios e coletas de drogas do sertão (cacau, pau-cravo, canela e ervas medicinal) é um marco da presença portuguesa em nossa região (foi chamada de “A Grande Bandeira de Limites”) 6 Bandeira de Raposo Tavares na Amazônia As atividades dos jesuítas no Rio Madeira começaram em 1669, com a fundação da missão Tupinambarana na foz do Rio Madeira, que deu origem a Parintins. Novas missões iam sendo instaladas no percurso do Rio Madeira, na medida em que se ampliavam as atividades das drogas do sertão, e também, a pedido do governo do Pará, temendo novas invasões, principalmente, castelhanas. A força de trabalho indígena passa a ser constante na colônia. Intensifica-se a captura do índio através das tropas de resgates, descimentos ou “guerras justas”. Em 1722, Francisco Mello Palheta, em conseqüência do avanço da ação missionária castelhana no Guaporé, próximo às minas de ouro do Mato Grosso, organizou uma expedição composta por 128 pessoas que percorreu todo o Rio Madeira. Ele registrou a presença de indígenas das missões espanholas de Mojos e Chiquitos, chegou até as missões jesuítas espanholas de Santa Cruz de Cajubava e de São Miguel, mostrando aos jesuítas que o Rio Guaporé era o limite natural que dividia as possessões de Portugal e Espanha. O governo português temendo a proximidade da presença espanhola e a possibilidade de contrabando com as minas de ouro do Mato Grosso, proibiu a navegação pelo Rio Madeira através do alvará de 27 de outubro de 1733. O Mercantilismo e a Mineração no Vale do Guaporé. O ouro desempenhou um importante papel na economia da Idade Moderna, pois o mercantilismo era fundamentalmente metalista, isto é, considerava o ouro e a prata como a base da riqueza de um país. O grande centro minerador foi Minas Gerais. Em 1718, Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro no Rio Coxipó-Mirim, afluente do Rio Cuiabá onde surgem os primeiros povoamentos próximos das minas descobertas. A notícia alcançou a Vila de São Paulo e atraiu centenas de aventureiros para a região. O caminho entre São Paulo e Cuiabá era longo e perigoso, os ataques indígenas, fome, doenças, vitimaram grande número de pessoas. Em 1722, foi descoberta as Lavras do Sutil, aumentando ainda mais a migração para Cuiabá. Em 1727, o arraial de mineradores foi elevado à condição de vila com o nome de Vila Real do Nosso Senhor do Bom Jesus de Cuiabá. Em 1736, os irmãos Fernando e Arthur Paes de Barros, descobrem ouro no Mato Grosso, às margens do Mamoré, surgindo as primeiras povoações, de Santa Ana e São Francisco Xavier. Portugal, entre 1733 a 1737, através de Cartas Régias, proíbe a navegação pelos rios Guaporé e Madeira, para evitar contrabando. Em 1742, Manoel Félix de Lima, fugindo de dívidas juntamente com outros mineradores, contrariando e infringindo as ordens da Metrópole, navega pelo Rio Guaporé, desvia pelo Mamoré, entra em contato com as missões espanholas de São Miguel, Santa Maria Madalena e Exaltação da Cruz, na tentativa de fazer comércio; retorna ao rio Madeira e ao Amazonas, chegando a Belém, onde foi preso por ter desobedecido as Ordens Régias, mas abriu uma nova rota alternativa de comunicação fluvial entre o Mato Grosso e o Pará. As missões espanholas de Mojos e Chiquitos começaram a se expandir na margem esquerda do Guaporé, fundando a missão de Santa Rosa, que preocupava as autoridades portuguesas, devido à proximidade da região mineradora de Mato Grosso. 7 Em nove de maio de 1748, é fundada a capitania de Mato Grosso, sendo nomeado como primeiro governador, o Capitão General Dom Antônio Rolim de Moura Tavares. D. Antônio Rolim de Moura Tavares O capitão General Dom Antônio Rolim de Moura, que imediatamente tomou posse, chegou ao Brasil com instruções de fundar a capital da recém-criada capitania. Também deveria criar uma Ouvidoria, uma Vara de Juiz de Fora, Casa de Fundição e promover o povoamento da região. Criaria também um aparato militar diante das pretensões espanholas, desenvolvendo a colonização da região, estimulando os colonos a produzir alimentos, criar gado para abastecer o comércio local e atender as necessidades da população. A capital, Vila Bela da Santíssima Trindade, foi criada estrategicamente para ter acesso à Bacia Amazônica, através do Guaporé (ligando as Minas do Mato Grosso ao Grão-Pará), e através da Bacia Platina (com São Paulo), ficando assim fixadas as bases portuguesas na região. O governador português procurou coibir o contrabando, tornando mais eficiente o comércio. Em 1755, foi liberadauma rota comercial que através da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, estabelecia o monopólio de abastecimento dos vales: Guaporé, Madeira e Mamoré. Durante o século XVIII, os vales do Guaporé, Madeira e Amazonas foram palco de intensa atividade dos colonizadores portugueses e espanhóis, em função da mineração e das tensões fronteiriças, levando os governadores a desenvolver uma política militar através de construções de fortificações, missões religiosas e desenvolvimento da colonização. O suporte dessa política colonizadora foi o trabalho escravo: tanto indígena como africano. Nesse período, foram fundados vários arraiais em pontos estratégicos para dar apoio aos navegadores e servirem de entrepostos comerciais ao longo do Madeira. Desde 1728, o padre jesuíta João Sampaio fundou a missão de Santo Antônio das Cachoeiras, sendo a primeira povoação na margem direita do Rio Madeira, dentro da área do atual Estado de Rondônia, que não resistiu aos ataques indígenas, mosquitos, malária, e acabou deslocando-se para outras regiões. Em 1757, Rolim de Moura ordenou a fundação do povoado de Nossa Senhora da Boa Viagem de Salto Grande do Rio Madeira, fundada pelo juiz de Fora Teotônio de Gusmão no século XVIII, que também não sobreviveu aos ataques indígenas e epidemias. Desmistifica-se a teoria do Vale do Guaporé como vazio demográfico, levando-se em consideração a política colonizadora desenvolvida pelos governadores dessa época. 8 As Questões Fronteiriças no Período Colonial Mesmo antes da chegada dos portugueses a América, o Tratado de Tordesilhas determinava as fronteiras que separavam os domínios americanos da Espanha e de Portugal. O meridiano imaginário situado 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde, passava pelas regiões onde, nos dias atuais, se encontra a cidade de Belém, no Pará e Laguna, em Santa Catarina. Entretanto, as fronteiras entre as colônias espanholas e o Brasil nunca chegaram a serem claramente demarcadas, devido a falta de conhecimentos dos domínios americanos e durante a União Ibérica, as terras americanas pertenciam ao mesmo Rei. Nesse período, (1580-1640), os luso-brasileiros e espanhóis puderam transitar livremente dos dois lados (português e espanhol), mas quem mais se aproveitou foram os portugueses, pois a Espanha concentrava seus esforços na mineração (vice-reinado do Peru), por isso, deu pouca atenção a movimentação portuguesa na região amazônica e platina. Durante o século XVIII, o território brasileiro sofreu uma grande expansão para o interior, graças aos bandeirantes à procura de índios para escravizar e minérios, conquistando para Portugal grandes extensões de terras, que estavam sob jurisdição espanhola, ultrapassando os limites de Tordesilhas. MAPA: fronteira do Brasil no século XVII Quando Portugal fundou a Colônia de Sacramento (1680), ás margens do Rio da Prata, chocou-se com os interesses espanhóis, pois a região pertencia à Espanha e ficava próxima de Buenos Aires, rica em pecuária e servindo de contrabando com a área mineradora. Os conflitos entre portugueses e espanhóis levaram as duas nações ibéricas a assinar os Tratados de Limites para solucionar os problemas, principalmente, por Portugal ocupar imensa área sob o domínio espanhol. (sobre tratados, ver capítulo específico). 9 A Era Pombalina No reinado de D. José I, foi nomeado Sebastião José de carvalho e Melo o Marquês de Pombal, para o cargo de primeiro-ministro do governo português, ocupando-o por mais de 25 anos, dirigindo os destinos portugueses e coloniais, disposto a retirar o atraso de seu país em relação aos centros mais dinâmicos da economia européia e a diminuir o grau de dependência de Portugal para com a Inglaterra. Marques de Pombal O Contexto metropolitano colonial A ascensão de Dom José I ao trono luso, em 1750, representou um marco importante para o Brasil e para o Estado português do século XVIII. O soberano escolheu como ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, denominado posteriormente Marquês de Pombal, que dirigiu com autoridade e energia as atividades da metrópole e das colônias, a ponto de esse período se tornar conhecido como "período pombalino". O governo do Marquês de Pombal constituiu um bom exemplo dessa proposta reformadora, uma vez que dela se serviu para modificar o curso da política colonial portuguesa. Portugal arrastava-se numa crise econômica de grandes proporções, há várias décadas, devido principalmente à perda de suas possessões na África e Ásia, no decorrer do século XVII, e também por causa do Tratado de Methuen, (ver capítulo sobre Tratados) assinado em 1703 entre os governos português e inglês. Olhos para a Amazônia A Amazônia Colonial sempre se constituiu num grande problema para a Metrópole Portuguesa, no que dizia respeito à sua ocupação efetiva. O constante assédio de estrangeiros tornava imperioso a sua conquista e ocupação. As dificuldades para deslocar colonos para a Amazônia tornou- a celeiro de degradados, que, com a justificativa de vir cumprir suas penas eram enviados para as Capitanias do Grão-Pará e Rio Negro, onde assumiriam a condição de colonos. A escassa população branca sempre presente nas referidas capitanias, tornava quase que impossível a organização de sua defesa, coisa que só seria conseguida com sua efetiva ocupação. Nesse sentido, a política pombalina traçada para a Amazônia procurava superar os obstáculos colocados à sua colonização, através da execução de um projeto que visava transformar o índio em colono. Assim, como grande dirigente das rédeas do Estado Português, Pombal formulou uma política indigenista que objetivava emancipar os índios, retirando-os da tutela das ordens missionárias e procurava integrá-los à população branca. Nesse sentido, o esforço de fazer do índio um colono, a estratégia- chave foi a implantação do Regime do Diretório. Uma Nova visão colonialista Reestruturação, austeridade fiscal e uma nova etapa de ocupação colonialista seriam os princípios desta nova ordem política em Portugal. O fato desta estimativa de sub-aproveitamento, justificaria em especial o interesse metropolitano em suas disposições sobre a Amazônia, em cujas reformas realizadas sobre vários setores, da estrutura colonialista, como forma de promover o reforço ou a regeneração do Estado Metropolitano Luso. Não bastava apenas racionalizar a exploração da Colônia para torna- la mais eficiente, onde haveria de igual maneira uma necessidade de defendê-la da cobiça estrangeira, onde o contexto amazônico refletiria bem estas precauções, onde deveria ser estabelecida uma imediata demarcação sobre a fronteira norte, principalmente por conta de uma insignificante presença de colonos portugueses. 10 Por conta disto houve a proposta de transformar os índios como colonos em potencial, uma idéia já muito antiga nos desdobramentos do Estado metropolitano português e que por hora, voltara a ganhar força de interesses, sendo a única alternativa viável, sendo reforçada por conta do episódico terremoto que arrasaria Lisboa, gerando muitas perdas humanas. Índios, Colonos e Cidadãos. A proposta de transmutar o índio para colono implicaria em reconhecer-lhe a condição de pessoa, ser humano, como possuidor de direitos naturais de um homem livre, o que seria incompatível com a condição escravista, a qual alguns estariam sujeitos. Para tanto Pombal estabeleceria uma política indigenista, na medida em que criou medidas legais que proibiriam a escravidão deste por qualquer indivíduo ou instituição que fosse. Uma destas prerrogativas seria a própria retirada dos indígenas que estivessem sob a tutela das antigas ordens religiosasmissionárias (no caso em destaque os Jesuítas). Assim, os indígenas teriam reconhecidamente direitos pertinentes à cidadãos portugueses, onde se tornariam desde trabalhadores assalariados, até mesmo a própria condição de colonos, que seriam as peças fundamentais ao projeto de interiorização dos interesses portugueses, onde para tanto, Pombal determinaria que fosse obrigatório o ensino da l[íngua portuguesa nas antigas aldeias de catequese (Aldeamentos), onde a te então se manteve o uso da chamada língua–geral (Nheengatú), grande utilitária das ordens religiosas. Nesse sentido, o marques de Pombal colocaria em vigor a Lei de 6 de junho de 1755, complementada pelo Alvará de 7 de junho de 1755, que revogava “todas as Leis, Regimentos, Resoluções e ordens, que desde o descobrimento das sobreditas Capitanias do Grão Pará e Maranhão, até o presente dia permitiriam ainda em certos casos particulares a escravidão dos referidos índios. Tal situação foi uma constante no Brasil colonial e principalmente na Amazônia, onde o trabalho indígena sempre foi a grande alternativa de mão-de-obra para os colonos. Procurando se precaver de toda e qualquer possibilidade de ser descumprida, a lei estabelecia a “imediata prisão de todos aqueles que teimassem em fazer índios cativos, despojando-os dos direitos de „Homenagem, Alvará de fiança, ou fieis Carcereiros‟...”. Na tentativa de regular a utilização do trabalho indígena pelos colonos, a lei de 1755 reinstituiu a obrigatoriedade do pagamento de salários, estabelecendo que estes deveriam corresponder igualmente ao que se pagaria aos artífices. Por conta da presente aversão dos índios em trabalhar para os colonos, a alternativa inicial de transformá-los em colonos, ao contrário de assalariados acabaria sendo cada vez mais viável, onde além de ser declarado cidadão livre, deveria também ser reconhecido no direito à posse da terra, para assim atuar como um agricultor produtivo. A Educação Com a expulsão dos jesuítas do Reino e da Colônia, Pombal determinou que a educação (até então sob cargo da Igreja Católica) passasse a ser transmitida por professores leigos contratados e pagos pelo Estado para lecionar nas escolas régias. Pombal fez uma revolução na Universidade de Coimbra, introduzindo os estudos das Ciências Exatas e Naturais e aprimorando os estudos das Ciências Jurídicas. As vilas Com o objetivo de institucionalizar as áreas de esta nova ocupação, no espaço em que os índios ocupariam, foi também determinado pela mesma lei (1755) que as aldeias mais populosas em que estes habitassem, fossem assim elevadas a condição de vilas, assim como as áreas adjacentes em que estes habitassem, garantindo-lhes a posse hereditária da propriedade. Para melhor executar este empreendimento, Mendonça Furtado, irmão do grande marques, foi encarregado do governo do Pará, onde preocupado com as etapas desta estruturação e, ao mesmo tempo sendo fiel a esta “doutrina do índio cidadão”, procurou igualizar brancos e índios em direitos, no que estimularia ao casamento destes, com o objetivo de alargar ao povoamento das vastas terras desta região, habilitando-os assim pelo caminho matrimônio como uma nova força de ocupação, “sem 11 que aquele sangue lhes sirva de embaraço... e que os principais (chefes) seus filhos e filhas, e com quem casar, são nobres e gozarão de todos os privilégios que como tais lhes competem”. Principais Medidas de Pombal Incentivos estatais para a instalação de manufaturas na metrópole. 1755: criação da Capitania de São José do Rio Negro, hoje Estado do Amazonas. 1755: criação da Companhia de Comércio do Estado do Grão-Pará e Maranhão, estimulando as culturas do algodão, do arroz, do cacau, etc. e tentando resolver o problema da mão-de-obra escrava para a região. 1755: criação do Diretório Pombalino, órgão composto por homens de confiança do governo português, cuja função era gerir os antigos aldeamentos. Com tal medida, o governante português extingue o poder dos jesuítas (Regimento das Missões) e o entrega aos colonos. Pombal proibiu a utilização das línguas maternas e do nheengatu (uma espécie de dialeto), tornando obrigatório o uso do idioma português em toda a Colônia. Pelo Diretório também estavam proibidas as construções de casas coletivas. 1756: Criação do Diretório do Indio 1759: criação da Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, com o objetivo de estimular o cultivo da cana-de-açúcar e do tabaco. 1759: extinção do sistema de capitanias hereditárias. 1759: expulsão dos jesuítas (inacianos) da Metrópole e da Colônia, confiscando-lhes os bens. 1762: criação da Derrama com a finalidade de obrigar os mineradores a pagar os impostos atrasados. 1763: transferência da capital da Colônia de Salvador para o Rio de Janeiro. A Queda de Pombal Em 1777, com a morte de D. José I, subiu ao trono Dona Maria I, que afastou o Marquês de Pombal do governo. A queda do ministro foi comemorada por todos os opositores que, finalmente, podiam voltar ao poder. O governo da Metrópole suspendeu o monopólio das companhias de comércio e baixou um alvará proibindo a produção manufatureira da Colônia (com exceção do fabrico de tecidos grosseiros para uso dos escravos). Essas decisões aumentaram o descontentamento dos luso- brasileiros ante a dominação da Coroa. 12 Comércio e decadência no Guaporé As relações comerciais entre o Grão-Pará e o Mato Grosso nos séculos XVIII e XIX, bem como a sua ligação com as questões ligadas à sociedade mineradora e escravista e ainda as questões militares e fronteiriças, constituem-se no alicerce para o conhecimento das regiões dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé, que hoje pertencem a Rondônia. Para essa região afluíam aventureiros, religiosos, desbravadores, militares e escravos que mantiveram a posse e a ocupação dos vales desses rios. A sociedade, que deste processo resultou, espelhou sempre a fragilidade de suas bases. Fundamentada em uma economia meramente extrativista e itinerante e em uma política de intensa animosidade fronteiriça, a sociedade colonial guaporeana se manteve somente enquanto perdurou o interesse metropolitano sobre as riquezas da região. Em finais do século XVIII, já se tornava notória a crise pela qual passavam os vales do Guaporé e Madeira. A decadência se instalava tanto na mineração, quanto nas Guarnições Militares e mesmo na manutenção das rotas fluviais de comércio, que ligavam Vila Bela a Belém do Pará. A agressividade e ousadia da política portuguesa de meados do século XVIII era agora vencidas pelo descaso, apatia e abandono. A própria Vila Bela, símbolo máximo do arrojado projeto colonial português para a região, teve um brilho meteórico da gloria vivida nos anos de Luiz de Albuquerque, restando apenas ruínas. A crise enfrentada pela capitania de Mato Grosso se refletia nas capitanias de São José do Rio Negro, Grão-Pará e Goiás. A rota do Madeira havia entrado em franco abandono desde a desativação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, o que provocou o desaquecimento do comércio paraense e o despovoamento de consideráveis áreas territoriais de grande importância estratégica para a Coroa Portuguesa. No bojo de toda uma conjuntura de crises, incertezas e decadências, é que as autoridades regionais tentaram viabilizar um projeto que deveria restaurar as ligações entre o Grão-Pará e Mato Grosso através da rota Amazonas, Madeira, Guaporé. Foi elaborado o plano de navegação que seria estimulado o transporte do então escasso ouro do Mato Grosso para Belém, permitindo a exploração dos recursos naturais e abrindo ensejo para atividades de contrabando que permitiriam a entrada da prata andina nos territórios portugueses. Esse fatocriaria uma atmosfera ao mesmo tempo permissiva e repressora, capaz de estimular secretamente o contrabando e promover o afluxo de riquezas para a região. Porém, o século XIX concretizou o estado de letargia do Guaporé-Madeira. 13 Real Forte do Príncipe da Beira (1775-1783) Os constantes conflitos entre portugueses e espanhóis, que remontam ao Tratado de Tordesilhas, e, constantemente desrespeitados pelos portugueses devido a falta de interesse espanhol em explorar a região, agrava-se ainda mais após o fim da União Ibérica (1640), e a descoberta de ouro no Vale do Guaporé. Os portugueses cada vez mais se firmavam no Vale do Ouro, assegurando suas conquistas na região, que foi garantida pelo Tratado de Madri (1750), entre Portugal e Espanha, que reconhecia legalmente as pretensões portuguesas sobre a Bacia Amazônica. Nesse contexto, a ordem da Coroa portuguesa era construir fortes para proteger seus limites, coibir o tráfico ao longo dos rios Guaporé e Madeira e auxiliar os navegantes em busca de ouro, índios e drogas do sertão. Em virtude destes atritos e para garantir a soberania portuguesa na região, foi construído em 1754 o Fortim de Nossa Senhora da Conceição, cuja fragilidade levou os espanhóis a tentar sua conquista. No governo de João Pedro da Câmara foi remodelado, mudando posteriormente o nome no governo de D. Luis Pinto de Souza Coutinho (1768-1771) para Forte Bragança. O Forte Príncipe da Beira, construído entre 1775-1783 no sistema Valban, tendo como engenheiros, Domingos Sambucette, que morreu de malária entre o período de janeiro a setembro de 1777, sendo substituído pelo Sargento-mor Ricardo Franco de Almeida Serra. Com uma área de 970 metros quadrado e muralhas de 7,20 de altura, seu portal medindo 10 metros, contendo quatro baluartes com 14 canhões cada, totalizando 56 canhoneiras, representava a imponência portuguesa na região. Planta baixa do Real Forte Príncipe da Beira Os baluartes denominavam-se Nossa Senhora da Conceição (voltado para o Oeste), Santa Bárbara (voltado para o sul) – adjacente ao rio Guaporé, Santo Antônio de Pádua (voltado para o Norte) e Santo André Avelino (voltado para o Leste). As pedras para a construção foram obtidas no próprio local, a Cal em Belém do Pará, Albuquerque e Corumbá (MT), a artilharia veio de Lisboa via Belém do Pará, uns chegaram pela rota fluvial Amazonas- Madeira-Guaporé e outros pelas Amazonas-Tapajós-Guaporé. O primeiro comandante do Forte Príncipe da Beira foi o Capitão de Dragões, José Melo da Silva Vilhena. Com a decadência do Império Espanhol e a crise da mineração, o Forte Príncipe da Beira caiu no abandono. Foi redescoberto em 1911 pelo Marechal Rondon, foi reocupado pelo exercito brasileiro e teve seu tombamento histórico em 30 de novembro de 1937. 14 Tratados e a configuração de um país Tratado de Tordesilhas - 1494 A descoberta da América em 1492 e a do Brasil em 1500 inserem- se no ciclo das navegações em busca do melhor caminho para as Índias. Eram os tempos modernos que se iniciavam com um movimento geral de renovação, o Renascimento, caracterizado pelo espírito mais aberto e crítico do humanismo, o maior conhecimento da antigüidade clássica, grande surto das artes e o desenvolvimento das ciências, inclusive as que se relacionavam com a arte de navegar. A carência dos metais preciosos na Europa, a sede de especiarias e os mitos então correntes sobre as riquezas do Oriente impulsaram portugueses e espanhóis a procurar novas terras, avançando sobre mares desconhecidos. Os primeiros o fizeram sistematicamente, contornando primeiro toda a África; os segundos, de maneira quase surpresiva, ante o êxito da viagem de Colombo. Celebrou-se, então, entre os dois monarcas, em Tordesilhas, o Tratado de 7 de junho de 1494, que estipulou que a linha estabelecida pelo Sumo Pontífice se suporia traçada a 370 léguas para o poente das referidas ilhas, ampliando-se, assim, a favor de Portugal, as 100 léguas antes consagradas. Apesar, porém, de prevista no Tratado, nunca se realizou a demarcação das 370 léguas, obrigação prorrogada e definitivamente esquecida pelas duas Coroas. O meridiano de Tordesilhas, apesar de nunca demarcado e de ser de impossível localização no interior do país, passaria ao norte em Belém do Pará e no sul em Laguna, Santa Catarina. Tratado de Methuen (1703) Tratado assinado em 27 de Dezembro de 1703 entre Inglaterra e Portugal, pelo qual este ficava obrigado a abrir o seu mercado à importação de lã inglesa, tendo como contrapartida a exportação facilitada dos seus vinhos para Inglaterra. Embora tenha contribuído para a afirmação da produção vinícola em Portugal, condenou à destruição a incipiente indústria de lanifícios portuguesa. Vigorou até 1836. Tratado de Madri (1750) A linha de Tordesilhas funcionou pelo menos teoricamente até 1750 para separar os domínios espanhóis e portugueses na América. Só foi abolida pelo Tratado de Madri. As negociações do tratado foram inspiradas por Alexandre de Gusmão, paulista e um dos secretários do rei Dom João V, além de integrante do Conselho Ultramarino. Sob sua direção, foi elaborado, em 1749, o chamado Mapa das Cortes, que definia as fronteiras entre o Brasil e a América espanhola. O tratado, concluído em Madri em 13 de janeiro de 1750, ignorava os anteriores e adotava um princípio sugerido por Gusmão: o do uti possidetis, que dava a posse da terra àqueles que a tivessem ocupado e povoado. Os domínios dos dois países na América foram separados por uma nova linha, que respeitava as áreas ocupadas e exploradas por colonos portugueses ou espanhóis e seguia, sempre que possível, os limites naturais, como o cume das serras ou o curso dos rios. Tratado de El Pardo (1761). O fracasso da demarcação dos limites e o envolvimento de Espanha e Portugal em lados opostos na Guerra dos Sete Anos, em 1756, levaram à anulação do Tratado de Madri e sua substituição por um novo tratado, assinado na cidade espanhola de Pardo (12/2/1761). As tropas de Buenos Aires tomaram a Colônia do Sacramento, pela quarta vez, em 1762; ocuparam o Rio Grande, em 1763; e chegaram à ilha de Santa Catarina, em 1777. Tratado de Santo Ildefonso (1777). Por esse tratado, assinado em 1º de outubro de 1777, na cidade espanhola de San Ildefonso, a rainha D. Maria I, de Portugal, e o rei espanhol Carlos III praticamente revalidaram o Tratado de Madri. Os espanhóis ficavam com a Colônia do Sacramento e a região dos Sete Povos, ou seja, boa parte do Rio Grande do Sul e do atual Uruguai. A Espanha devolvia a ilha de http://www.klickescolas.com.br/2006/enciclo/encicloverb/0,5977,CCLIENTE-6457,00.html 15 Santa Catarina aos portugueses. Pela primeira vez o limite sul do Brasil era o Arroio Chuí. Tratado de Badajoz (1801). O tratado de 1777 também não foi respeitado. Os espanhóis violaram a fronteira de Mato Grosso na altura de Nova Coimbra e os gaúchos apossaram-se da área pecuarista dos Sete Povos em 1801. Nesse ano, Espanha e Portugal firmaram na cidade espanhola de Badajoz outro acordo: Portugal manteria as regiões conquistadas na América (os Sete Povos); em troca, cedia Olivença, na Península Ibérica, à Espanha. Era de certa forma a readoção do Tratado de Madri, e dava ao Brasil aproximadamente a dimensão e o contorno atuais. O Tratado de Ayacucho (1867) Nas primeiras décadas do século XIX, o contexto histórico latino- americano havia se alterado profundamente. As ex-colônias espanholas e portuguesas tornaram-se países independentes e as questões fronteiriças ganharam conotações inéditas. Foi nesta nova situação que Brasil e Bolívia negociaram o Tratado de Ayacucho, assinado em 1867. Os brasileiros negociaram esse tratado,sujeitos a pressões exercidas pela Bolívia durante a Guerra do Paraguai, que estava mobilizando todos os recursos bélicos e financeiros do Brasil. Ainda assim, a diplomacia brasileira soube se aproveitar da fragilidade congênita da Bolívia para tirar vantagens. Como o povoamento brasileiro já havia penetrado nos rios Madeira, Purus e Juruá, os negociadores do Brasil procuraram empurrar a linha divisória mais para o sul, estabelecendo que o ponto inicial da fronteira seria agora a confluência dos rios Beni e Mamoré, onde se iniciava o Madeira. A partir daí, o Tratado de Ayacucho dizia que "Deste rio para oeste seguirá a fronteira por uma paralela, tirada da sua margem esquerda na latitude sul 10º20‟ até encontrar o rio Javari. Se o Javari tiver as suas nascentes ao norte daquela linha leste-oeste, seguirá a fronteira desde a mesma latitude, por uma reta a buscar a origem principal do dito Javari." O trecho transcrito deixa claro que por ocasião da assinatura do Tratado de Ayacucho, ainda não se conheciam as verdadeiras nascentes do Javari. Acreditavam os diplomatas brasileiros que essas nascentes estavam no paralelo 10º20‟, mas deixavam em aberto uma solução para o caso dessa idéia não corresponder à realidade. E foi exatamente isso o que se constatou posteriormente: as verdadeiras cabeceiras do Javari estavam situadas a 7º 06‟. Foi essa descoberta que, a partir de 1895, quando a fronteira começou a ser demarcada na prática, deu origem à Questão Acreana. Tratado de Petrópolis (1903) Uma conquista da diplomacia brasileira foi um acordo assinado entre o Brasil e a Bolívia, em 17 de novembro de 1903, que encerrou o conflito existente entre as duas nações, face à ocupação do território boliviano por retirantes nordestinos que, durante a II Guerra Mundial, expandiram a fronteira brasileira em busca do leite da seringueira, na densa floresta amazônica. A negociação diplomática encaminhada por José Maria da Silva Paranhos Jr., o Barão do Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores (1902/1912), efetivou-se em Petrópolis/RJ, cidade imperial onde se encontravam as delegações estrangeiras no país; a defesa brasileira consistiu no argumento do uti possidetis solis, que assegura direito ao http://www.grupoescolar.com/materia/o_tratado_de_madrid_e_o_tratado_de_ayacucho.html 16 território a quem o possui de fato. Em troca, o Brasil indenizou a Bolívia com 2 milhões de libras esterlinas, entregou-lhe algumas áreas da fronteira de Mato Grosso e obrigou-se a construir 366 km da estrada-de-ferro Madeira-Mamoré/RO, que permitiria a saída da Bolívia para o Oceano Atlântico. O Barão do Rio Branco teve seu feito reconhecido e recebeu do povo acreano homenagem indelével, que batizou com seu nome a capital do Estado do Acre. Além disso, essa que é considerada a maior vitória diplomática do Brasil, testemunhada por Rui Barbosa, Assis Brasil, dentre outros, valeu ao Barão também o título de Deus terminus de nossas fronteiras. Primeiro Ciclo da Borracha Seringueira (Hevea Brasiliensis), já era utilizada por indígenas pré- colombianos. Divulgada na Europa por Charles Marie de La Condamine e François Fresneau (1736), tinha pouco emprego, até a descoberta da vulcanização (Charles Goodyear, EUA – 1839), e seu uso em pneus. Em 1853, figura nas exportações da Amazônia e, a partir daí, a sua explosão e demanda no mercado internacional, gerando dessa forma, uma grande elevação de preços. A borracha produziu imensas riquezas, beneficiando muito mais os setores mais distantes da produção, sobretudo, os exportadores estrangeiros. Para a sua extração, foi utilizado um sistema de exploração de trabalho que, praticamente, reeditava as condições de escravidão. Após um período relativamente curto de apogeu, entre em decadência, causando a estagnação da região em virtude da concorrência estrangeira (Asiática), através de contrabando feito pelo inglês Henry Alexander Wyckham que levou 70.000 sementes. O sertão nordestino liberou braços abundantes para os seringais. Mais de 500 mil nordestinos vêm para a região Amazônica, fugindo da seca que assolava a região (seca de 1877). A mão-de-obra utilizada na extração de látex se compunha de mamelucos, nativos bolivianos e nordestinos. Na ilusão de enriquecimento ou apenas por sobrevivência (ganha pão), os nordestinos saem de seus Estados e caem no domínio dos seringalistas, donos dos latifúndios onde se explorava a borracha, tornando-se quase escravo de seu patrão, já que prevalecia a justiça do mais forte, o Coronel. Ao chegar, o trabalhador já se endividava na sua compra dos instrumentos de trabalho (tigela, bacia, machado, rifle) e alimentos fornecidos pelo dono do seringal e dono do barracão (armazém). 17 Seringueiro no processo de defumação do Látex O patrão comprava a produção do seringueiro. No final do ano era feito um balanço para ver se o seringueiro tinha saldo, mas como os preços do barracão eram exorbitantes, o seringueiro ficava devendo e aumentava cada vez mais sua dependência em relação ao barracão. O lucro da borracha ficava parte com o seringalista que, por sua vez, dependia das Casas Aviadoras que supria os barracões e eram responsáveis pelo transporte da borracha para Belém e Manaus. As Casas Aviadoras que pertenciam aos comerciantes brasileiros e estrangeiros cuidavam da manutenção dos seringais, fornecendo crédito aos seringalistas, que pagavam também com a produção da borracha. Mas as Casas Aviadoras também dependiam das Casas Exportadoras, quase sempre estrangeiras, principalmente européias e norte-americanas. As Casas Aviadoras também pagavam os empréstimos às Casas Exportadoras com a borracha. O lucro maior ficava com as Casas Exportadoras que monopolizavam o comércio e a exportação da borracha. Os exportadores, reduzidos às poucas pessoas, acumulavam imensas fortunas e eram responsáveis pela transferência de capital da região explorada, através das filiais nas grandes cidades amazônicas, para países centrais do capitalismo. A Navegação do Rio Madeira e o Imperialismo Em plena fase de conquistas territoriais, o imperialismo das grandes potências destroçava impiedosamente quaisquer obstáculos que se opusessem aos seus interesses. A conjuntura internacional era marcada pelas agressões do imperialismo europeu às nações latino-americanas. O governo imperial brasileiro manteve prolongadas negociações diplomáticas com países europeus para resolver questões fronteiriças, como também aos interesses capitalistas internacionais sobre a abertura da bacia Amazônica à navegação internacional. MAPA: hidrografia na região norte Em 1852, o Barão de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, fundou a Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, com capital investido por Mauá, subsídios do governo brasileiro e compra de ações de comerciantes de Belém e Manaus. Dessa forma, procurava reagir às pretensões norte-americanas, incentivando a navegação nacional e protegendo a soberania territorial. Em 1860, surgiram mais duas companhias de navegação: a Companhia Fluvial Paraense e a Companhia Fluvial do Alto Amazonas. Finalmente, em 1872, D. Pedro curva-se à pressão externa e abre a região Amazônica à navegação internacional. 18 Em 1874, a Amazon Steam Navigation Company, comprou as três empresas nacionais que operavam na bacia amazônica e passa a monopolizar o transporte fluvial da região. Estrada de Ferro Madeira-Mamoré O século XIX foi o século de afirmação do sistema capitalista, baseado na idéia de lucro. As ferrovias se tornam um investimento rentável, que gerava lucros para os países detentores de tecnologia e a dependência daqueles que compravam. Na Guerra do Pacífico (1879-1883), reunindo Peru e Bolívia contra o Chile, que era apoiada pelo capital britânico, a Bolívia perdeu sua saída para o mar. Para escoar seus produtos pelo Pacífico, a Bolívia encontrava dificuldades devido ao seu relevo, que a deixava encurralada entre os Andes e os desertos do Gran Chaco, enfrentando assim, problemas fronteiriços com o Chile. A região norte sempre foi servida por uma rede hidrográfica rica, com muitos rios navegáveis e desde o início de sua colonização, os rios foram seus principais caminhos. Para a Bolívia, as vantagens da navegação pelo Rio Madeira era ganhar os rios navegáveis (afluentes do Amazonas ou Rio da Prata) e sair no Atlântico. O interior da Bolívia ficaria ligado ao Atlântico através de Belém do Pará, mas havia mais alguns obstáculos a vencer, que eram as cachoeiras do Rio Madeira. Em 1846, o engenheiro boliviano José Augustin Palácios, navegou nos rios Mamoré e Madeira e defendeu a idéia de ligação da Bolívia por via Amazonas através da construção de uma estrada. Os tenentes norte- americanos Herndon e Gibbon, em 1851, navegaram os rios que ligam a Bolívia ao litoral Atlântico do Brasil através do Amazonas. Também propuseram a construção de uma estrada para transpor as cachoeiras do Rio Madeira. Desde 1797, o governador do Pará, D. Francisco de Souza Coutinho, já tinha preconizado essa solução, sugerida pelos tenentes Herndon e Gibbon. Em 1861, o francês Ernest Grandidier também fez estudos sobre as comunicações com o Atlântico, através do Amazonas. O general boliviano Quentin Quevedo que, em 1861, depois de percorrer os Rios Mamoré e Madeira, propõe a canalização dos trechos das cachoeiras ou a construção de uma estrada de ferro. No mesmo ano, o 19 governo do Amazonas designa o engenheiro João Martins de Souza Coutinho para efetuar novos estudos sobre o Rio Madeira, que também propôs a construção da estrada de ferro para ligar a navegação dos rios Madeira e Mamoré. A Guerra do Paraguai (1864-1870), envolvendo a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) contra o Paraguai, fez com que Solano López (Paraguai) atacasse a província do Mato Grosso, isolando-a e impedindo o tráfego pela Bacia Platina. Reforça-se a necessidade da construção da estrada de ferro para tirar a região do isolamento. O Brasil entra em acordo com a Bolívia, surgindo daí o Tratado de Amizade, Limites, Navegação, Comércio e Extradição, celebrado em La Paz (1867), conhecido por Tratado de Ayacucho, que no seu artigo 9º, previa a construção de uma estrada de ferro ao lado das cachoeiras. O governo brasileiro incumbiu os engenheiros Joseph e Franz Keller de estudarem a viabilidade da construção de uma estrada de ferro ao lado das cachoeiras. Em 1867, o General boliviano Quentin Quevedo busca recursos para a construção da estrada de ferro. Em 1868, o engenheiro norte-americano George Earl Church a serviço do governo boliviano apresentou um plano de construção de canais contornando as cachoeiras. Fundou para isso a National Bolívia Navigation Company, mas percebendo que o projeto de canalizar o Rio Madeira era difícil de executar, modificou-o posteriormente para uma ferrovia. A ferrovia seria construída em território brasileiro e teria o aval do governo Imperial, que exige que Church organize uma nova companhia. Em 1871 foi fundada a “The Madeira and Mamoré Railway” que ligaria Santo Antônio a Guajará-Mirim. Church consegue empréstimo em Londres, porém, os ingleses indicaram a construtora Public Works. A empresa manda seus engenheiros que, juntamente com Church, descem o Rio Mamoré, atravessam as cachoeiras do Madeira e chegam a Santo Antônio, fazendo um relatório apressado e dando um parecer positivo para a construção da ferrovia. Estava feita a parceria The Madeira and Mamoré Railway e a Public Works Construction co. Em 1872, chega a primeira leva de trabalhadores e os primeiros materiais para construção. Após sérios reveses provocados por ataques indígenas (índios caripunas), febres e malária, os engenheiros e trabalhadores se retiram do Vale do Madeira deixando para trás todo o material, alegando ser impossível a construção da ferrovia e terem sido enganados sobre as condições da região. A construtora pediu uma indenização pelos prejuízos. Church, depois de várias tentativas fracassadas junto a empresas inglesas, contrata a P & T Collins (1878), que deveria construir inicialmente 32 km de estrada. A empresa norte-americana, Phillip & Thomas Collins, fracassou diante às adversidades da região. Em quatro meses só conseguiram assentar 7 km de trilhos. Diante do fracasso da P & T Collins, o governo brasileiro cassa a concessão dada ao coronel Church e designa uma nova comissão para continuar a construção da estrada de ferro. Comissões para estudos da região Em 1883, chega a Santo Antônio a Comissão Brasileira Morsing. Já na chegada a Santo Antônio, em 19.03.1883 e diante da desolação do local e do total estado de abandono dos restos da aventura da firma P. & T. Collins e da enormidade do que havia sido feito durante aquele quase um ano para os padrões de produtividade dos trabalhos na região (construídos 6 km de trilhos, aterrados cerca de 20 km e estudados mais de 100 km), já declarou um dos membros da comissão: "São incríveis os trabalhos feitos por aqueles heróicos Americanos, a despeito de todas as contrariedades"... Essas contrariedades não tardaram a afetar a comissão Morsing e após cerca de um mês de permanência no local, já começavam a registrar-se as primeiras mortes de engenheiros, e o próprio chefe da comissão adoeceu, sendo retirado do local. Para variar, os índios também continuavam perturbando os trabalhos e assustando os encarregados do trabalho a ponto destes não se aventurarem nas matas à procura de caça para substituir a alimentação pobre do local, o que contribuiu ainda mais para piorar as condições de saúde dos membros da comissão, registrando-se mais 20 algumas mortes de engenheiros e trabalhadores, até que a comissão retirou-se em 19.08.1883, quando já não havia nenhum membro que não estivesse doente, são obrigados a abandonar a região. No ano de 1884, é designada uma nova comissão brasileira, comissão essa chefiada pelo engº Pinkas, (Comissão Pinkas ) que chegou a Santo Antônio em 20.06.1884, regressando em 10.09.1884, tendo aparentemente realizado a proeza de levantar mais que o dobro de tudo que havia sido levantado (confirmado) pela comissão Morsing em apenas 77 dias, novamente às custas de grande sacrifício em vidas humanas. Mas os estudos que fez não eram confiáveis. Na realidade, nas duas plantas a ferrovia corria praticamente paralela, apenas diferindo no trecho entre as cachoeiras do Jirau e Guajará-Mirim, justamente o trecho dado como bom Por Morsing de acordo com as plantas da Public Works, e no local de início da ferrovia, que Pinkas estabelecia em Santo Antônio. Somente em 1912, terminada a construção da ferrovia, iria confirmar-se, com certeza, que Morsing estava correto e Pinkas errado. Estas comissões tinham como objetivo principal verificar a viabilização da construção da ferrovia, desenvolvendo estudos sobre o percurso adequado para a obra. Abaixo, o traçado previsto de acordo com a planta de Pinkas, comparando com a estabelecida por Morsing. MAPA: expedição Morsing Encerram-se, naquele momento, as tentativas de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Em Santo Antônio fica abandonado o material e um saldo de grande número de vítimas mortas nessas tentativas de construção da estrada de ferro. 21 A Guerra do Acre O Acre e outros afluentes do Purus tinham os melhores seringais. Os únicos produtivos até hoje. A área era da Bolívia e reconhecida pelo Brasil pelo Tratado de Ayacucho (1867), apesardas dúvidas que ainda pairavam sobre o término do território brasileiro e o início do território boliviano, houve a ocupação dos seringais bolivianos por brasileiros. A região ficava separada da Bolívia por montanhas e selvas, unida ao Brasil pelo Purus, que tornava a navegação mais fácil, embora demorada. Até então, o Acre era um extenso território praticamente desabitado e sem importância econômica. Com o primeiro ciclo da borracha, descobriu-se que o Acre era riquíssimo em seringais e atraiu milhares de brasileiros, principalmente nordestinos, fugindo da seca em seus Estados. O Acre passa a ser um grande produtor de látex, extraindo toneladas desse produto. Guerra no Acre A Bolívia, em 1899, instalou postos alfandegários na região, e, apesar do governo brasileiro ter acatado a medida, houve reação dos brasileiros nos seringais acreanos. Também houve reação dos Estados do Amazonas e Pará, que estendiam sua jurisdição na região, inclusive, através de cobrança de impostos. Afetava também os interesses das Casas Aviadoras que passaram a apoiar um movimento separatista. Em 14 de julho de 1899, o espanhol Luiz Galvez, funcionário do consulado da Bolívia em Belém, tomando ciência de um acordo diplomático entre Bolívia e EUA, através de um documento existente na embaixada boliviana (ver leitura complementar), buscou apoio de Manaus através de armas, dinheiro e munição e dirigiu-se ao Acre, assumindo a liderança de um movimento contra a Bolívia, mas acabou optando pela independência do Acre, contrariando os interesses de Manaus e Belém, que temiam verem seu comércio prejudicado na região. Galvez foi deposto e preso. A Bolívia pressentindo o perigo arrenda a extração do látex a uma companhia que reunia capitais norte-americanos, ingleses e alemães – The Bolivian Syndicate de New York – no comando desta companhia estava a família de Roosevelt e como um dos acionistas o rei da Bélgica. “A questão acreana, segundo Rubin Santos Leão Aquino e Ronaldo César Lisboa, não envolvia somente o Brasil e a Bolívia e tão pouco se resumia a uma questão unicamente fronteiriça. Esta visão de que foi um simples conflito de limites territoriais esconde e deturpa, como acontece na maioria das vezes, o direito das pessoas à verdade histórica. Se analisarmos o problema dentro do contexto histórico mundial, a questão acreana é um típico exemplo da ação do imperialismo internacional, dos métodos por ele utilizados para dominar a economia dos países não desenvolvidos e dos resultados nefastos (para a população desses países) dessa ação (...). O governo boliviano, na verdade, agiu como simples testa- de-ferro de poderosas companhias internacionais principalmente norte- americanas que compunham o chamado Bolivian Syndicate, interessado na maior riqueza da selva amazônica: o látex da borracha”. (Aquino – Ronaldo – Fazendo a História – Ed. ao Livro Técnico) Plácido de Castro, um veterano militar gaúcho, lidera um novo levante, que a princípio não houve interferência do governo brasileiro. Como o presidente da Bolívia manda tropas para o Acre, em resposta o presidente Rodrigues Alves ordenou que tropas do exército avançassem para proteger a população brasileira. Paralelo às ações militares, desenvolveu as negociações diplomáticas através do Barão de Rio Branco. Em novembro de 1903, os dois países chegaram a um acordo, assinando o Tratado de Petrópolis. 22 Foi criado, assim, o Território Federal do Acre, através da Lei 1181 de 25 de novembro de 1904. Madeira Mamoré Railway Com a assinatura do Tratado de Petrópolis (1903), são retomadas as discussões sobre a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e o governo brasileiro abre a licitação para a construção da mesma. Venceu a licitação Joaquim Catrambi que repassa ao norte-americano Percival Farquhar, (por 60.000 dólares) empresário com grandes empreendimentos nos Estados Unidos e na América Central. Os trabalhos da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré Railway ficaram sob a responsabilidade da empreiteira May, Jekyll & Randolph, com sede em New York, - subsidiária da Madeira Mamoré Railway – fundada por Percival Farquhar em Portland nos EUA. Após fazer um levantamento do material deixado pela P & T Collins, instalação de galpões para o reparo de locomotivas, (inclusive a máquina Cel. Church, totalmente recuperada), consertos de lanchas, de navios e criação de armazéns de carga para receber mercadorias do interior, do sul e de países estrangeiros, deu início à construção da ferrovia. As tentativas anteriores de construção da estrada de ferro partiram sempre de Santo Antônio a Guajará-Mirim pertencente ao Estado do Mato Grosso. A empresa May, Jekyll & Randolph constatou, ao chegar, a inviabilidade de começar a ferrovia em Santo Antônio, devido ao difícil acesso ao porto improvisado para desembarque de materiais pesados e pelas doenças que assolavam Santo Antônio e sua alta insalubridade. Desloca o ponto inicial 7 km rio abaixo, dentro de terras pertencentes ao Amazonas, no antigo Porto do Velho. Surgia uma cidade planejada em plena selva com início da construção da ferrovia. Além das oficinas, galpões, armazéns, Porto Velho também contava com usinas de geração de energia de captação de água, hospital, porto fluvial, fábrica de gelo e fábrica de biscoito. As casas dos funcionários mais qualificados eram feitas com tela, sistema de esgoto, tratamento de água, luz elétrica, cinema e salões de festas. Fora dos limites da administração da estrada de ferro, hoje, a partir da Avenida Presidente Dutra, chamava-se Avenida Divisória. Surgia uma “nova cidade” feita de cabanas de palhas onde reinava a miséria, desordem e o caos, que recebia trabalhadores, prostitutas, desempregados e toda massa de excluídos e marginalizados vindos principalmente de Santo Antônio, que decaía com a construção da estrada de ferro. Enquanto Porto Velho crescia, Santo Antônio se despovoava. Em 1907, o índice de mortalidade na ferrovia era alarmante. Para compensar o alto número de mortos e doentes, a Railway Company substituía-os por outros vindos de todas as partes do mundo e chegavam cada vez mais pessoas de várias nacionalidades, atraídos pela idéia de ficarem ricos. Cemitério da Candelária Foram 21.817 trabalhadores empregados pela Railway Company durante os cinco anos de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A malária, o beribéri, a disenteria e a pneumonia dizimavam centenas de trabalhadores. Diante disso, a Companhia resolveu construir o Hospital da Candelária, o mais bem equipado da América Latina, para o 23 tratamento das doenças tropicais. Mesmo com a construção do hospital, continuava crescendo o número de óbitos. Havia negligência por parte da empresa na política preventiva de combate às doenças. Leito do Hospital da Candelária Osvaldo Cruz, maior sanitarista do Brasil, juntamente com Belizário Pena, estive aqui na região. Eles fizeram um relatório apontando as causas das epidemias e indicaram medidas profiláticas para combatê- las. Além da recusa de muitos doentes em não tomar os remédios à base de quinino, a empresa não quis gastar dinheiro com os meios de combate às doenças. Morreram cerca de 1.593 operários oficialmente registrados, pois, muitos adoeciam e não ficavam na empresa, seguiam para Manaus ou Belém e acabavam morrendo nesses locais. Na verdade, morreram em torno de 6 mil. A Estrada de Ferro Madeira Mamoré foi concluída em 1º de agosto de 1912, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim (cachoeira pequena). A construção da EFMM foi extremamente importante para o desenvolvimento do Vale do Madeira. Ao longo da ferrovia que ligava Porto Velho a Guajará-Mirim, ponto inicial e final respectivamente, surgem vários povoados como Jací Paraná, Mutum Paraná, Abunã, Iata e Vila Murtinho. A ferrovia quando foiinaugurada, havia concretizado um grande sonho, que na realidade, não passou de uma ilusão. Daí em diante, a crise da borracha jamais permitiu que a ferrovia tivesse um desempenho econômico a altura de tantos esforços e tantas mortes. A Força de Trabalho na EFMM Logo no início das obras da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, as duas companhias, a concessionária e a construtora chegaram à conclusão que o empreendimento fracassaria se caso fosse adotado o mesmo sistema das empresas anteriores, ou seja, manter um número fixo de trabalhadores. O número de mortes e doentes era cada vez mais crescente. Foi por esta razão que a Companhia resolveu manter agentes em varias partes do mundo com o objetivo de recrutar trabalhadores que, além de atuarem na construção da Estrada de Ferro, seriam utilizados também em diversas circunstâncias. O Grupo de Farquhar tentou inicialmente a “importação” de trabalhadores espanhóis que haviam servido à construção das estradas de ferro em Cuba, mas, com grande incidência de doenças que acometiam os trabalhadores, fez com que os governos da Espanha, Portugal e Itália proibissem a imigração direta para o local da construção da estrada de ferro. A princípio, a Companhia, apesar de sofrer contínuos atrasos na obra em virtude das moléstias que atacavam os trabalhadores, seguia na mesma trilha percorrida por todas as suas antecessoras: o da negligência e do descaso na luta contra as doenças regionais. Em 1908 a empreiteira trazia mensalmente 204 novos trabalhadores de países como a Grécia, Alemanha e Itália, que viriam substituir os enfermos. Os que sobreviviam se tornavam debilitados fisicamente, e dificilmente seriam aproveitados na obra. No ritmo de construção da estrada de ferro, o período médio de vida dos operários era de apenas três meses. Durante a primeira fase da construção da ferrovia, ainda no século XIX, já se registrava a presença dos barbadianos, mas no século XX eles se tornaram uma força expressiva nos trabalhos da ferrovia. Os barbadianos eram provenientes das colônias inglesas da América Central. 24 Reta do Abunã – “O inferno no paraíso” A vantagem desse tipo de mão-de-obra era que muitos já haviam adquirido experiência na construção de ferrovias e do Canal do Panamá, em sua região de origem. Devido sua experiência em ambientes tropicais hostis, como as selvas panamenhas, aliadas a seu vigor físico e ritmo altamente disciplinado, como mão-de-obra os barbadianos se tornavam indispensáveis. Provenientes de diversas nacionalidades centro-americanas, Barbados, Trinidad, Jamaica, Santa Lúcia, Martinica e outras ilhas da Antilhas, esses negros de formação protestante e idioma inglês eram, de forma geral, denominados “barbadianos” Os homens caribenhos, em Porto Velho, viviam segregados em razão da língua, da cor e por constituírem um bairro próprio (Barbadian Tow). Uma maneira aristocrática e o sentimento de superioridade cultural estavam incutidos nesses homens que vieram para exercer algum cargo de maior relevância dentro da empresa. Procuravam manter determinado distanciamento em relação aos que não pertenciam à sua cultura. Diferenciavam-se dos negros brasileiros, que trouxeram do nordeste para Porto Velho os ritos afros. Os barbadianos mantinham uma aceitação orgulhosa da aculturação, negando suas raízes africanas, inclusive religiosas. Sendo eles protestantes, não aceitavam os rituais africanos. Mão de obra Indu Além dos barbadianos, várias outras nacionalidades se fizeram representar no contingente de trabalhadores da ferrovia, tais como norte- americanos, ingleses, gregos, hindus, entre outros, recriando na Amazônia o mito bíblico de uma nova Babel do imperialismo. Hoje os trilhos repousam sobre a vida de milhares de operários que vieram construí-los. 25 Linha Telegráfica – 1907-1909 Dentre as causas do processo de povoamento do atual Estado de Rondônia – Vale do Guaporé e Madeira – destacaram-se como obras de grande importância o Real Forte Príncipe da Beira e a Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Também faz parte dessa política de povoamento as Linhas Telegráficas, implantadas por Marechal Rondon. O Governo Federal preocupava-se com o isolamento do extremo oeste e norte do país, o que o levou a construir as Linhas Telegráficas entre Cuiabá e o Araguaia (1892-1898), e outra de Cuiabá a Corumbá (1900-1906); estendendo-se até a fronteira do Paraguai, visto que durante a Guerra do Paraguai, essa região permitiu a invasão de forças inimigas no território brasileiro. Portanto, era preciso guarnecê-la e povoá-la. Rondon foi designado para uma nova missão, confiada pelo presidente Afonso Pena, para ligar, por postos telegráficos, Cuiabá a Santo Antônio, completando a ligação sul e norte do país. Em 1907 foi iniciada a primeira etapa da expedição de Rondon, saindo de Cuiabá até Juruena, percorrendo 1.781km. Em 1908 sai de Juruena até Serra do Norte, percorrendo 1.653 km. Em 1909 foi a terceira e última expedição, de Serra do Norte até Santo Antônio, percorrendo 1.415 km. Comissão Rondon Além do assentamento da Linha Telegráfica, a Comissão Rondon fez um levantamento geográfico da região. Na Comissão Rondon, havia militares, engenheiros, fotógrafos, técnicos e cientistas civis, o que a tornava também uma missão científica. A atuação da Comissão foi decisiva para o reconhecimento e levantamento hidrográfico da fauna e flora da região, ligando a Amazônia Ocidental ao resto do país e tirando-a do isolamento. Durante esses trabalhos, Rondon reencontrou o Forte Príncipe da Beira, que estava abandonado, e desde então, passou a lutar pela sua reativação, o que ocorreu em parte, em 1932, com a instalação de um contingente militar. Enfrentando todo tipo de dificuldades, passando por regiões inóspitas, selvas densas, assoladas pelas doenças, fome, deserções de soldados e ataques dos índios, exigia Rondon uma postura rígida, dura e disciplinada, já que uma grande parte dos integrantes da comissão era de presos e degredados. Rondon nasceu no Mato Grosso, era descendente de índio. A princípio, se formou como professor de magistério e ingressou posteriormente na carreira militar. Durante a implantação das Linhas Telegráficas conheceu e estudou muitas tribos indígenas, sempre estabelecendo contato pacífico com os índios parecis. Sob a bandeira de “Morrer se preciso for, matar nunca”, a comissão nunca revidava os ataques indígenas. A luta de Rondon e seus companheiros acabou por sensibilizar o governo, originando daí o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), que reconhecia os direitos dos povos indígenas de existirem em suas próprias terras, bem como seus costumes. Sua linha de atuação era pacificar o índio arredio e hostil (para permitir o avanço da civilização), demarcar suas terras, criando reservas indígenas, onde aprenderiam noções de higiene e sanitarismo feito por funcionários abnegados. Belas palavras, muita teoria, que na prática nem sempre foram cumpridas. 26 Enquanto Rondon viveu e lutou nas selvas, os índios foram respeitados. Rondon criou 77 postos indígenas, descobriu 12 novos rios, mapeou territórios, estendeu linhas telegráficas sem matar índios. Depois de Rondon, foram pacificadas mais de 80 tribos que foram praticamente destruídas pelas doenças e afastamento de suas terras. Em 1910, o SPI se perdeu em meio a erros, corrupção e crimes, descaracterizando as propostas de Rondon. O SPI foi substituído posteriormente pela criação da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A trilha palmilhada por Rondon serviu de traçado para a atual BR 364. Ao longo do percurso dos postos telegráficos assentados, surgiram vários povoados, entre eles: Vilhena, Cabixi, Pimenta Bueno, Vila de Rondônia, Jaru e Ariquemes.Aluízio Ferreira Em Rondônia, o nome de Aluízio Ferreira está completamente associado à história do atual Estado. Atuando como agente transformador e líder incontestável da região, criou bases para a implantação do Território Federal do Guaporé. Aluízio Ferreira se destacou como o primeiro diretor administrativo da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Como militar chamou a atenção quanto às questões fronteiriças com a Bolívia, por fim, foi o primeiro governador do Território Federal do Guaporé. Participou do Movimento Tenentista (contra a República Oligárquica) chefiando a Revolta da Guarnição do Forte de Óbidos no Amazonas. Aluízio Ferreira Quando o movimento foi debelado, restou a Aluízio Ferreira a fuga para o Vale do Guaporé. Trabalhou no seringal Laranjeira, de propriedade de Américo Casara, como seringueiro e na administração do barracão. Durante sua permanência no seringal, fez estudos sobre índios Macurapes e Tuparís, criando um documentário sobre essas tribos e endereçando ao Marechal Rondon, na época de sua passagem à Belém. Em 1928 apresentou-se às autoridades militares em Belém do Pará, sendo julgado e condenado à prisão por 7 meses. 27 Foi reintegrado ao exército com a patente de Tenente. Ingressou na Comissão de Linhas Telegráficas a convite de Marechal Rondon, sendo destacado para a zona norte, sediada em Santo Antônio do Rio Madeira, na subchefia do posto e sob o comando do Major Emanuel Amarante. Com a morte do Major Amarante, Aluízio Ferreira foi designado para assumir a chefia do posto telegráfico de Santo Antônio. Com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder com o apoio dos tenentes (rebelados em 1922 e 1924), Aluízio Ferreira sendo revolucionário deste período na região norte, foi designado como chefe do Governo Provisório no Estado do Amazonas. Durante sua permanência no cargo, teve que intervir na greve dos ferroviários da Madeira Mamoré, ameaçados de dispensa em conseqüência da Crise de 1929. Em nome do presidente Getúlio Vargas, ele se comprometeu a dar subsídios à administração da ferrovia para mantê-la em funcionamento, evitando assim, o desemprego dos trabalhadores da ferrovia. Em 1930, Aluízio Ferreira viajou ao Rio de Janeiro para defender Rondon, acusado de corrupção administrativa por tenentes revolucionários (antigos desafetos de Rondon). Os tenentes também pretendiam, sob a liderança de Juarez Távora, erradicar as Linhas Telegráficas e extinguir as unidades militares, dispensando o pessoal responsável pela construção e manutenção dessas vias, comprometendo a segurança das fronteiras. O ministro da Viação e Obras Públicas, José Américo de Almeida aceitou a defesa feita por Aluízio Ferreira designando-o para substituir o General Rondon na Inspetoria das Fronteiras e chefia do Terceiro Distrito Telegráfico. Em 1931, o capitão Aluízio Ferreira foi nomeado diretor da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e, em 1932, o Ministro da Guerra, criou os Contingentes de Fronteiras sediados em Porto Velho, Guajará-Mirim e Forte Príncipe da Beira, subordinados à Inspetoria dos Contingentes Especiais de Fronteira sob o comando de Aluízio Ferreira, que ficou com toda autoridade na região. Também coube a Aluízio Ferreira a abertura da Rodovia Cuiabá – Porto Velho abrindo alguns quilômetros que deu origem a BR 364, concluída em 1960. Finalmente em 1943, com a criação do Território Federal do Guaporé, foi nomeado seu primeiro governador. A Nacionalização da E.F.M.M A E.F.M.M, logo após sua inauguração, passou a amargar pesados déficits, em conseqüência do preço da borracha que sofria a concorrência dos seringais da Malásia. A quebra da Bolsa de New York em 1929, gerou recessão, falências e afetou todo o mundo capitalista, repercutindo na administração da E.F.M.M., agravando ainda mais a receita da ferrovia já em contínuo declínio, iniciando a dispensa de trabalhadores para enxugar a folha de pagamento. Devido ao clima de revolta diante da paralisação e das demissões, o governo federal é obrigado a intervir após o pedido de rescisão do contrato de arrendamento da EFMM, pois ao afetar os ferroviários com demissões, afetaria também o comércio e isolaria a população ao longo dos trilhos que dependiam da ferrovia como meio de transporte. O governo federal se comprometeu a ajudar a Companhia com 30 contos de réis mensais para evitar a paralisação do contrato. Mesmo com os subsídios do governo, os déficits continuavam e a situação da EFMM se agravava, levando-a a suspender o tráfego antes do término do contrato. Diante da interrupção do contrato, o governo entrou com um processo de intervenção federal, normalizando o funcionamento da EFMM. Pelo decreto-lei nº 20.200 de 10 de julho de 1931, foi restabelecido os serviços da ferrovia e nomeado Aluízio Ferreira como administrador. A EFMM que até 1931 era dirigida por estrangeiros, passa a ser administrada por brasileiros e mudou sua razão social de Madeira-Mamoré Railway Company para Estrada de Ferro Madeira Mamoré. 28 A ferrovia passa a pertencer a Rede Ferroviária Federal e foi transferida na década de 60 para o 5º BEC (Batalhão de Engenharia e Construção), com sede em Porto Velho. A EFMM foi mantida em virtude de ser o único meio de transporte entre Porto Velho e Guajará-Mirim e era um ponto de apoio para a construção da Rodovia 364 que iria substituí-la. Em 1972, no Governo Militar, o 5º BEC autoriza a paralisação da ferrovia. A decisão de desativar a EFMM gerou revolta na população (afinal a história de Porto Velho está ligada a EFMM) e também pelo sucateamento da ferrovia, sendo muita coisa retirada e vendida. A atuação do governo Jorge Teixeira paralisou a retirada e a venda das peças e máquinas considerada Patrimônio Histórico de Rondônia. Segundo Ciclo da Borracha (1939-1945) Os Tratados de Washington Na Segunda Guerra Mundial, o Japão ocupou o Sudeste Asiático e, com o ataque japonês à base naval norte-americana de Pearl Harbor no Havaí, causa a entrada dos Estados Unidos na guerra, tornando-a mundial e envolvendo os principais países do mundo. Os Estados beligerantes, procurando garantias na América, pressionam seus tradicionais “aliados” a se envolver no conflito e fornecer matéria-prima para a indústria bélica. Nesse contexto, em conseqüência da invasão japonesa nos seringais da Malásia, o Brasil deveria fornecer borracha para a indústria norte-americana, devido a interrupção do abastecimento no Oriente. O Brasil, até então, mantivera uma posição indefinida e ambígua em relação ao conflito, ficando entre os EUA e a Alemanha, pela qual, Getúlio Vargas nutria grande simpatia. Acordo feito entre Brasil e EUA O Brasil aliou-se aos Estados Unidos por força de pressão e vantagens comerciais, declarando-se oficialmente em guerra. Em 1942 os EUA (Franklin Delano Roosevelt) e o Brasil (Getúlio Vargas) fazem os Acordos de Washington, pelo qual o Brasil 29 comprometia-se a reativar seus seringais através de uma operação conjunta com os EUA para obtenção mais rápida da borracha. O objetivo era reativar os seringais para a produção em larga escala na região amazônica, ordenando sua produção para suprir as necessidades das nações amigas. O Brasil entrou com seringais, com mão-de-obra e com 58% de capital para a criação do Banco de Crédito da Borracha. Os EUA entraram com 42% de capital para o Banco da Borracha e forneceria meios para a produção, transporte e escoamento. Surge o Batalhão da Borracha e o recrutamento de “soldados” foi no nordeste brasileiro. Foi criado a CAETA – Comissão e Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia, encarregada de contratar e conduzir os nordestinos até a Região Norte; e o SEMTA – Serviço de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia.