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Odontopediatria – 14 de Setembro de 2022 Radiologia aplicada à odontopediatria ➢ Introdução: • Desde a descoberta dos raios-x em 1895, conseguimos um dos mais importantes métodos de diagnóstico para a odontologia; ➢ Acompanhamento radiográfico na odontopediatria: • Desenvolvimento dentário (formação de coroa e raiz); • Oclusão – Cronologia da erupção; • Inter-relação dente decíduo e permanente (rizólise/rizogênese e agenesias e a partir disso, determinar tratamentos); • Anomalias dentárias (alterações em forma, número e/ou posição); • Alterações patológicas (cistos e tumores); • Lesões de cárie (graus de acometimento, nosso dia a dia); • Patologia pulpar ou perirradicular; • Traumatismos. ➢ Seleção do exame radiográfico: • Idade do paciente; • Tamanho da cavidade bucal (filmes adultos e infantis); • Cooperação (particularidade da pediatria). • Devemos realizar uma avaliação criteriosa de forma a decidir se a tomada radiográfica é realmente essencial para o andamento do tratamento. ➢ Exame complementar: • O exame radiográfico é um exame complementar, então, antes de qualquer radiografia, o ideal é que tenhamos feito um bom exame clínico. ➢ Técnica radiográfica ideal: • É aquela em que há exposição mínima de radiação, com um menor número de radiografias e em um menor tempo de exposição. • Muitas vezes é um dos primeiros procedimentos a ser realizada em um tratamento, mas temos que avaliar com cautela a sua necessidade. • Na odontopediatria, a principal particularidade da radiologia é a necessidade do manejo comportamental. • Vocabulário adequado e lúdico: “tirar foto do dente”, “máquina de foto”, “barulhinho da foto” etc. ➢ Cuidados com a exposição das crianças aos raios-x: • As radiações ionizantes possuem efeitos biológicos. • Esses efeitos podem ser determinísticos (causado por altas doses de radiação, causa danos) ou estocásticos (doses utilizadas na odontologia). • A gravidade do efeito é diretamente dependente da dose, ou seja, quanto maior a dose, maior o efeito no tecido. Na radiografia, existe uma dose que deve ser excedida para que a radiografia tenha efeito (resultado). • Diferente do efeito determinístico, que a gente sabe a dose que precisa ser excedida para causar o efeito, no efeito estocástico, a gente não sabe qual é a dose, elas são determinadas pela lei do acaso. • O problema dos efeitos estocásticos é que não sabemos ao certo o que eles podem causar, qual sua probabilidade de ocorrência. Eles ocorrem ao acaso, se acumulam ao longo da vida e podem gerar alterações subletais no DNA. ➢ Efeitos estocásticos: Maior risco em crianças. • Crianças possuem uma maior expectativa de vida e os efeitos estocásticos se acumulam; • Ainda estão passando por uma fase de crescimento e desenvolvimento (estão em multiplicação celular constante, maior taxa de divisão celular); • Não há níveis seguros conhecidos para a utilização dos raios-x. ➢ 3 Efeitos biológicos primários da radiação de nível baixo: • Carcinogênese (é necessário um número mínimo de radiação para que consigamos observar esses efeitos); • Teratogênese (malformação); • Mutagênese (Resposta dos tecidos somáticos, tecido reprodutor feminino e masculino. Não há um limiar para os efeitos). ➢ 3 princípios básicos da radioproteção: • Justificativa: ▪ Radiografias só são indicadas se não houver outro meio de obter as informações necessárias. ▪ Um exemplo em que conseguimos abrir mão da radiografia é realizando a separação interdentária para verificar cáries proximais. ▪ Devemos avaliar os riscos e benefícios. Se o paciente não consegue lidar (comportamento) com o procedimento, nenhuma radiografia deve ser feita. ▪ Não temos a indicação de radiografias como rotina. • Limitação da dose: ▪ Manter a dose da radiação tão baixa quanto razoavelmente possível. ▪ Devemos realizar o gerenciamento dos parâmetros de exposição e realizar a proteção (protetor de tireoide, avental de chumbo etc.). ▪ Princípio ALARA (“As Low As Reasonably Achievable”, em tradução livre, “tão baixo quanto razoavelmente possível”) é um conceito de segurança em procedimentos com emissão de radiação, com o objetivo de minimizar as doses de exposição de pacientes. ▪ Na prática, isso quer dizer que não devemos aumentar a radiação, por exemplo, para revelar a radiografia mais rápido. • Otimização: ▪ Tentar obter as melhores imagens de diagnóstico possíveis, tendo ambos os princípios anteriores em mente. ▪ Ou seja, realizar o mínimo de tomadas radiográficas, com o mínimo de radiação o mínimo de vezes, e quando o fizer, fazer bem-feito para não ter que fazer novamente. ▪ Fazer a utilização de posicionadores para minimizar a chance de erro. ➢ Boas práticas radiológicas: • Tudo aquilo que podemos lançar mão para diminuir os riscos de erros na tomada radiográfica de crianças. • Exames radiográfico digitais (mais caros, porém diminuímos as doses de radiação e eliminamos o processo químico de revelação); • Uso do receptor de imagem mais rápido (Já acontece com nossos filmes); • Colimação do feixe para o tamanho do receptor sempre que possível; • Exposição adequada do filme e processamento tecnicamente correto; • Uso de proteção – aventais e colares de tireoide, quando apropriados; • Limitar o número de imagens ao mínimo necessário para obter informações diagnósticas essenciais – uso de posicionadores. • Considerar: benefícios da obtenção da radiografia X risco da exposição à radiação. ➢ Estabilização do paciente: • Auxílio do responsável, quando necessário; • Responsável utilizando proteção (colete de chumbo e tireoide). • Por que não nós? Pois nos expomos a vida inteira, enquanto aquele pai e responsável raramente se expõe a radiação. ➢ Técnicas intra-orais: • Importante relembrar para a clínica que devemos posicionar a face livre do filme em nossa direção e não a face que lembra um “envelope”. Bom convencionar o picote para baixo para facilitar na hora de organizarmos a cartela radiográfica. • São as mais frequentemente pedidas; • Fornecem informações diagnósticas que orientam nossa conduta; • Devemos realizar adaptações para as crianças: ▪ Para o tamanho da cavidade bucal (filmes e posicionadores infantis); ▪ De acordo com o nível de colaboração; ▪ Dependendo desses fatores, a técnica não pode ser executada. • Importância da dessensibilização do paciente. A ida do paciente infantil para conhecer o ambiente do consultório e o profissional é importante para estes pacientes se adequarem e se acostumarem. ➢ Bite-wing (interproximal): • Uso de posicionadores/asa de mordida; • Realizada com o posicionador diferente (reto); • O posicionador tem a desvantagem de ser muito incômodo, tanto para adultos quanto para crianças. • Podemos fazer uma haleta de mordida para facilitar a realização (com fita crepe em torno do filme); • Indicações: ▪ Diagnóstico e monitoramento de lesões de cárie; ▪ Verificar profundidade de lesão/relação com a câmara pulpar; ▪ Avaliação de restaurações defeituosas; ▪ Verificar o estado do periodonto (crista óssea). ▪ Bite-wing é para dentes posteriores. ➢ Periapical: • Técnica do paralelismo (maior distância focal = 40cm, mais difícil em crianças, e mais tempo de exposição) – feixes incidem perpendicularmente no longo eixo do filme e os feixes devem estar paralelos entre si; • Técnica da bissetriz (menor distância focal = 20cm, a que utilizamos na clínica, mais fácil de ser realizada). • O exame periapical pode distorcer a lesão de cárie, por isso que o interproximal é a primeira escolha. • Indicações: ▪ Não suficiência da interproximal; ▪ Lesões cariosas com envolvimento pulpar (fístulas); ▪ Potencial indicação de exodontia (relação decíduo/permanente); ▪ Reabsorçõesradiculares/fraturas; ▪ Retardo na erupção do dente permanente e retenção prolongada do dente decíduo; ▪ Malformações anatômicas ou distúrbios do desenvolvimento (supranumerários e mesodentes, agenesias etc.). • Direção do filme: ▪ Dentes posteriores – horizontal; ▪ Dentes anteriores – vertical; ➢ Oclusal: • O filme é posicionado de modo que o paciente oclua sobre ele; • O paciente morde o filme, dispensando uso de posicionadores. • Face ativa voltada para a arcada de interesse; • Maxila: ▪ Linha tragus-asa do nariz paralela ao solo; ▪ Incidência na glabela com ângulo vertical de 65º. • Mandíbula: ▪ Cabeça inclinada para trás; ▪ Incidência na base da mandíbula perpendicular ao filme. • Filme oclusal; • Técnica modificada (crianças) – filme periapical de adulto; • Indicações: ▪ Complemento do exame periapical; ▪ Delimitação de grandes áreas patológicas; ▪ Procura de supranumerários na maxila; ▪ Pesquisa de cálculos salivares; ▪ Acompanhamento de disjunção palatina; ▪ Diagnóstico e acompanhamento de traumatismo (mais fácil para a criança fazer); ➢ Técnica de Clark: • Na tomada de radiografia periapical, fazemos uma tomada ortorradial; • Útil para realizarmos a dissociação de raízes e canais e a localização dos elementos; • Através dela conseguimos também localizar corpos estranhos, raízes residuais e dentes supranumerários. • É necessário que o paciente seja submetido a três tomadas radiográficas. Uma das tomadas é feita em posição central e as outras duas variam a angulação para a direita e para a esquerda. • Se desviamos para distal e o objeto acompanha o desvio, ele está por palatina, se ele se afastar é porque está por vestibular. ➢ Panorâmica: • Indicações: ▪ Necessidade de uma análise ampla dos arcos dentários; ▪ Quando a criança não tolera nenhuma técnica intraoral (mas ainda assim ela precisa ficar imóvel); ▪ Avaliar patologias, fraturas e anomalias; ▪ Avaliar o desenvolvimento dentário da criança; ▪ Realizar planejamentos cirúrgicos; ▪ Importante na documentação ortodôntica; ▪ Não indicado para diagnóstico de cárie. • Vantagem: ▪ Pequena dos de radiação (equivalente a 4 periapicais); ▪ Possível analisar a extensão das estruturas; ▪ Simplicidade de operação e economia de tempo. • Desvantagem: ▪ Não indicada para menores de 5 anos de idade (colaboração/não tolera estabilização); ▪ Distorções de estruturas e sobreposições; Técnicas extra-orais: ➢ Telerradiografia de perfil: • Indicações: ▪ Diagnóstico de cistos, tumores e fraturas; ▪ Planejamento ortodôntico/avaliação do crescimento (traçado cefalométrico); ▪ Desenvolvimento craniofacial; ▪ Avaliação do espaço aéreo (adenoides). ➢ Técnica lateral de Fazzi: • Indicações: ▪ Intrusão de dentes decíduos; ▪ Verificar a direção: vestibular ou palatina; ▪ Associar com periapical e oclusal; ▪ Feixe central do raio RX incide perpendicularmente ao filme; ▪ Coroa para vestibular e raiz para palatina (onde está o germe do permanente); ➢ Tomografia computadorizada de feixe cônico: • Correta indicação: excelentes resultados; • Dentes impactados, ectópicos ou supranumerários; • Útil para verificarmos dilacerações radiculares (olho de boi), intrusão de dentes decíduos e giro do germe do dente permanente. • Planejamento; • Considerar: ▪ Uso do menor tamanho de imagem possível (quanto menor, melhor a resolução da imagem); ▪ Avaliar o risco de dose de radiação; ▪ Minimizar a dose de exposição do paciente à radiação; ▪ Realização por profissional habilitado; ▪ Laudo para explorar todos os achados; • Limitações: ▪ Maior custo financeiro; ▪ Risco de movimentação durante a tomada; ▪ Maior risco biológico (maior radiação). ➢ Prescrição dos exames radiográficos: • Considerar estágio de desenvolvimento da dentição/avaliação do risco para cárie; • Observação de uma anormalidade clínica: para avaliação complementar; • Observar a real necessidade: expectativa da doença estar presente; • Condição não detectada (sem tratamento): risco à saúde; • Técnica específica e individualizada (idade, tamanho da cavidade bucal, número de dentes, colaboração). • Relacionada à análise do histórico médico, odontológico e exame clínico; • Observar os princípios: ALARA, ALADA, ALADAIP. • Mais importante: julgamento clínico (necessidade para complementar o exame clínico), visando minimizar a exposição das crianças. • Temos que nos perguntar se aquilo que estamos deixando de diagnosticar clinicamente, se permanecer sem tratamento, vai gerar risco à saúde do paciente. (Viés da antecipação, tratar uma doença antes que ela se instaure). • Devemos fazer avaliação de risco da cárie, verificar se o paciente possui uma higiene bucal deficiente, se ele utiliza fluoretos, se possui uma dieta rica em açucares e se possui defeitos de desenvolvimento do esmalte. Esses tópicos são importantes na tomada de decisão quando decidimos por fazer ou não a radiografia do paciente. “Colocar tabela do livro da Ângela” ➢ Considerações finais: • Sempre devemos lembrar que a radiografia é um exame complementar. Devemos nos perguntar, o exame vai mudar a nossa conduta no tratamento? Ele é realmente necessário? • Temos uma hipótese clínica bem formulada? Sabemos o que estamos procurando? • O exame clínico é soberano e a necessidade da radiografia é individualizada para cada paciente.