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REAPROVEITAMENTO DO CAROÇO DO AÇAÍ COMO ALTERNATIVA NA PRODUÇÃO DE BEBIDA AROMÁTICA REUTILIZACIÓN DEL GRANO DE AÇAÍ COMO ALTERNATIVA A LA PRODUCCIÓN DE BEBIDA AROMÁTICA REUSE OF THE AÇAI STONE AS AN ALTERNATIVE TO THE PRODUCTION OF AROMATIC DRINK Apresentação: Pôster Maria Dolores do Reis NASCIMENTO; Jameles Silva de SOUSA; John Enzo Vera Cruz da SILVA; Moisés de Souza MENDONÇA Introdução Nativo da região amazônica, o açaí é um fruto oriundo da palmeira Euterpe oleácea Mart., apresentando valor social, cultural e nutricional, além de potencial de comercialização regional e internacional (RIBEIRO, 2019). Mendonça (2019) observa que a exploração do açaí, por mais que seja benéfica e geradora de renda e emprego, tem uma potencialidade nociva, não observando questões do âmbito ambiental, cujo aumento da produção/exploração gera maior desperdício/acúmulo de resíduos sólidos e orgânicos, que neste caso é o caroço de açaí. Correa et al. (2019) enfatizam que a cadeia produtiva do açaí gera toneladas de resíduos orgânicos agroindustriais, acarretando diversas pendências ambientais decorrentes do seu acúmulo e despejo em locais inadequados. Mediante a este entrave ambiental, já existem projetos pilotos que visam o reaproveitamento do caroço de açaí na forma de adubo orgânico para hortaliças, carvão vegetal para fornalhas (panificadoras, casas de farinha, tijolos), artesanato de biojóias, nutrição animal, mas nada concernente à alimentação humana. Dentre a diversidade gastronômica do Estado do Pará, o açaí se destaca na culinária regional, sendo considerado o “ouro negro” do Pará. O fruto é um dos produtos mais explorado pelo extrativismo vegetal, sendo uma grande fonte de renda para povos ribeirinhos. Após relato de experiência informando da possibilidade de se usar o caroço para fins alimentícios, percebeu-se uma oportunidade de reduzir o volume de resíduos gerados, reaproveitando o caroço de açaí na fabricação de uma bebida quente aromática, o que possibilitará mais uma fonte de renda às famílias, podendo comercializar o produto nas feiras e mercados. Fundamentação Teórica Estima-se que no ano de 2017 o Estado do Pará produziu um volume anual de 1.273.000 toneladas de frutos em área plantada, tornando-se o maior produtor nacional de açaí (SEDAP, 2018), reforçando a importância social e econômica na Região Norte do Brasil, bem como do potencial de comercialização nacional e internacional desse fruto (RIBEIRO, 2019). Dados apontam que a maior parte da produção da polpa de açaí tem destino/consumo no próprio Estado do Pará, totalizando 60%, sendo os 40% restantes enviado à outras regiões do país (35%) e exterior (5%) (SAUMA e MAIA, 2019). Devido o beneficiamento ocorrer nas áreas urbanas, esse processamento tem acarretado problemas ambientais, pois o aumento da produção de açaí gera maior quantidade de resíduos sólidos, conforme relatado por Mendonça (2019). Correa et al. (2019) apontam que o volume de resíduo produzido diariamente equivale à toneladas, sendo a ocorrência do seu despejo em locais inapropriados, a tal ponto de Santos et al. (2018) descreverem que esses resíduos compõem uma parcela significativa do lixo urbano da região metropolitana de Belém, não havendo o seu reaproveitamento, tão pouco destinação adequado, estando presentes em passarelas, pátios, vias públicas, igarapés e matas. Tendo em vista que o resíduo do açaí causa impacto ao meio ambiente, faz-se necessário buscar ações, como a reutilização do caroço, que possam reverter ou minimizar este quadro, principalmente por haver leis que designam os procedimentos cabíveis. Neste contexto, a política Nacional de Resíduos Sólidos ordena que o destino final desse tipo de resíduo deve ser em local ambientalmente adequado e de modo a evitar danos ou riscos à saúde e minimizar impactos ambientais, devendo inclusive ser tomado medidas de reutilização, reciclagem, compostagem, recuperação, aproveitamento energético ou outras destinações (BRASIL, 2010). Metodologia A pesquisa em questão foi de cunho qualitativo, do tipo experimental, tendo sido realizado no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus Castanhal, situado no município de Castanhal/Pará, com coordenadas geográficas 01º17’38’’S e 47º55’35’’W, município pertencente à região metropolitana de Belém. O processo de produção da bebida aromática feita a partir do caroço de açaí foi realizado de forma manual/artesanal, seguindo os seguintes passos: Coleta: O caroço de açaí sem polpa foi coletado aleatoriamente em uma micro agroindústria (batedor) localizado no município de Castanhal/PA, tendo utilizado neste experimento a quantia de 02 (dois) kg do caroço de açaí; Higienização: Após selecionar os caroços de açaí, inicialmente lavou-os em água corrente, para posterior submersão do resíduo em água fervida por 5 minutos. Em seguida, escoou-se a água e levou os caroços de açaí para secagem; Secagem: Os caroços foram acondicionados em bacias de alumínio e levados para secagem ao sol por um período de 36 (trinta e seis) horas; Limpeza: Após secos, os caroços foram friccionados e limpos manualmente até soltarem todas as fibras externas ao caroço, isto é, retirou-se as fibras com as mãos; Torragem: Estando o resíduo sem as fibras, somente o caroço, colocou-os em panela de alumínio grossa e levou-a ao fogo à 180º por 20 minutos, tempo mínimo necessário para que ficasse torrado, com aspecto escuro, semelhante ao café. Durante todo esse processo, mexeu-se constantemente os caroços com colher de madeira; Moagem: Após esfriar os caroços torrados, levou-os à uma máquina manual pequena de moer café, transformando-os em forma de pó. Logo após a esse processo, peneirou o pó, diminuindo as partículas a serem utilizadas, obtendo assim o pó do caroço de açaí pronto para o preparo da bebida quente aromática. O preparo da bebida é simples e semelhante ao café. Para este experimento utilizou-se um litro de água fervida, três colheres de sopa rasa do pó fabricado do caroço de açaí e duas colheres de açúcar. Posteriormente ao misturar tudo, coou-se em papel filtro e obteve-se a bebida quente aromatizada sem cafeína, sendo um extrato apenas do caroço do açaí. A análise sensorial foi realizada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, com 100 (cem) pessoas aleatoriamente, sendo que os atributos avaliados foram aparência, aroma, cor, sabor, textura e aceitação global, além da intenção de compra e frequência de consumo. Resultados e Discussões Os resultados obtidos na análise sensorial mostraram que, de forma geral, a bebida quente aromática fabricada a partir do caroço de açaí possui potencial a ser explorado junto ao mercado consumidor, conforme ilustrado na Tabela 1. Tabela 1 – Resultado percentual dos atributos avaliados na análise sensorial da bebida quente aromática. Atributos Resultado Aparência 80% Aroma 70% Cor 75% Sabor 85% Textura 85% Aceitação Global 90% Consumiria com frequência 80% Compraria com frequência 80% Fonte: Própria (2019) No atributo aparência, o resultado mostrou aceitação ao produto em 80% (oitenta por cento) do público entrevistado, refletindo considerável aceitação quanto a esse quesito. Quanto ao aroma e a cor, 70% (setenta por cento) e 75% (setenta e cinco por cento) dos avaliadores, respectivamente, responderam que a bebida feita do caroço do açaí apresenta aroma e cor agradável, trazendo à lembrança o próprio café. Nos atributos sabor e textura, em ambos o índice de aprovação do produto foi de 85% (oitenta e cinco por cento), momento em que os avaliadores manifestaram ser uma bebida extremamente gostosa, agradando muito ao paladar, apesar de apresentar um leve travor no final, característica do açaí, mas ainda assim correlacionando tal produto à textura do café. Já no atributo aceitação global, 90% (noventa por cento) das pessoas que participaram da pesquisa gostaram muito, entendendoser uma alternativa de reaproveitamento de um resíduo (caroço do açaí) na fabricação de uma bebida agradável. Quanto a intenção de consumo e de compra desse produto, havendo disponível no mercado, isto é, sendo comercial e acessível ao consumidor, 80% (oitenta por cento) das pessoas avaliadas comprariam o pó do caroço de açaí, levariam para suas residências, preparariam a bebida e consumiriam com frequência e sempre que tivessem oportunidade. Conclusões Os resultados confirmaram a viabilidade no reaproveitamento do caroço de açaí como alternativa de transformação desse resíduo em uma bebida quente aromática, despontando um novo produto com aceitação mercadológica. Esse produto proporciona o extrativismo e cultivo do açaí de forma mais sustentável, reclassificando esse resíduo agora em subproduto do açaí, trazendo assim o aproveitamento do caroço de açaí, além de benefícios econômicos, sociais e ambientais, desencadeando num desenvolvimento regional mais sustentável. O reaproveitamento do caroço de açaí e sua transformação em bebida aromática obteve significativa aceitação, mais de 70%, em todos os atributos analisados sensorialmente, tendo relevância na perspectiva de mercado e prática de uso sustentável do caroço. Referências BRASIL, Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Política Nacional de Resíduos Sólidos. Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm. Acesso em: 25 ago 2019. _______, Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm. Acesso em: 25 ago 2019. CORREA, B. A.; PARREIRA, M. C.; MARTINS, D. S.; RIBEIRO, C.; SILVA, E. M. D. Reaproveitamento de resíduos orgânicos regionais agroindustriais da Amazônia Tocantina como substratos alternativos na produção de mudas de alface. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável. v. 9. n. 1, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/ojs/rbas/article/view/7970. Acesso em: 29 set 2019. MENDONÇA, M. S. Biochar de caroço de açaí como condicionador de solo na produção de mudas de pimenta-do-reino (Piper nigrum L.). Jaboticabal/SP, 2019. 65 p. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/182411. 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