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Indução do Trabalho de Parto

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Obstetrícia Alan Paz 
 
Indução do trabalho de parto: conceitos particularidades 
 
Conceito 
• A indução do parto consiste em estimular 
artificialmente as contrações uterinas coordenadas 
e efetivas antes de seu início espontâneo, levando 
ao desencadeamento do trabalho de parto em 
mulheres a partir da 22ª semana de gravidez 
(antes disso é considerado indução de 
abortamento). 
Principais indicações 
 
• Gestação prolongada; 
• Pré-eclâmpsia; 
• Ruptura prematura das membranas; 
• Além do óbito fetal. 
Gestação prolongada 
 
• Principal indicação para indução do parto; 
• A recomendação é fortemente a favor da indução, 
pois reduz-se a morbidade e mortalidade perinatal 
e a síndrome de aspiração meconial. 
• O RCOG recomenda que, em gestações sem 
complicações, a indução seja realizada a partir da 
41ª semana. 
o Obs: A USG, nesses casos, é de grande ajuda 
para determinar a verdadeira IG. 
o USG antes da 20ª semana reduz o risco de 
induções do parto desnecessárias (American 
Academy of Family Physicians, RCOG e ACOG). 
• Obs2: Contudo, como o risco absoluto de morte 
perinatal é extremamente baixo e os riscos da 
indução devem ser considerados, os autores 
concluem que as mulheres deveriam ser 
adequadamente aconselhadas sobre ambos os 
riscos. 
Gravidez complicada por diabetes 
• Recomenda que a indução seja realizada antes da 
DPP (RCOG); 
• Argumentos: 
o Aumento da mortalidade perinatal tardia em 4 
a 5x em relação à população normal; 
o Aumento da incidência de outras complicações 
materno-fetais, tais como: 
▪ Tocotraumatismo por macrossomia fetal; 
➢ Revisão da Cochrane observou um 
risco menor de macrossomia nas 
gestantes submetidas à indução, 
sendo relatados três casos de distocia 
leve de ombro com a conduta 
expectante. 
▪ Pré-eclâmpsia; 
▪ Bacteriúria assintomática; 
▪ ITU 
▪ Trabalho de parto prematuro, 
polidrâmnio, anomalias fetais, distúrbios 
metabólicos etc. 
• Parece não haver vantagens significativas em se 
retardar o nascimento além de 38 – 39 semanas, e, 
por isso, a indução do parto pode ser uma opção 
razoável para essas mulheres 
Ruptura prematura das membranas amnióticas 
• Em gestações a termo: 
o Fortemente a favor da indução; 
o Reduz o risco de corioamnionite, endometrite 
e admissão na UTI neonatal. 
• Em gestações pré-termo: 
o Fracamente a favor da indução; 
o Porém não existe evidência suficiente de que 
a indução imediata do parto seja melhor para o 
RN em relação à conduta expectante com 
antibioticoterapia e corticoterapia. Observou- 
se diminuição da frequência de 
corioamnionite. 
Contraindicações absolutas 
 
• Causas obstrutivas do parto: 
o Placenta prévia centro-total; 
o Apresentação córmica (transvesa); 
o Anormalidade na pelve materna; 
o Tumores prévios; 
o Desproporção cefalopélvica. 
• Situações com risco de morbidade perinatal grave: 
o Vasa prévia; 
o Prolapso de cordão umbilical; 
o Herpes genital ativo. 
• Situações com risco materno: 
o Ruptura uterina em gestantes com cesariana 
clássica (incisão vertical – em desuso) anterior; 
o Outras cicatrizes prévias no útero 
(miomectomias). 
Contraindicações relativas 
 
• Casos em que a indução pode ser realizada 
criteriosamente após discussão com a paciente: 
o Apresentação pélvica; 
▪ C.I. relativa pois uma revisão sistemática 
da Cochrane indicou mortalidade perinatal 
menor com a cesariana eletiva do que com 
o parto vaginal. Entretanto, foram 
apontadas algumas falhas metodológicas 
no estudo. 
Obstetrícia Alan Paz 
 
▪ Por isso, o RCOG sugere que a indução do 
parto pélvico possa ser realizada mediante 
ampla discussão com a paciente, mas não 
é recomendada, o que caracteriza uma 
contraindicação relativa. 
o Gestação gemelar; 
▪ Não existem evidências aceitáveis na 
literatura que corroborem a indicação de 
indução do parto em gestações gemelar. 
▪ Um pequeno ensaio clínico comparou a 
indução do parto com a conduta 
expectante em gestações gemelares de 37 
semanas. 
➢ Encontrou-se um aumento 
significativo de líquido amniótico 
meconizado com a conduta 
expectante, não havendo diferenças 
significativas em relação à taxa de 
cesarianas, índice de Apgar menor 
que 7 no quinto minuto ou 
hemorragia pós-parto. 
▪ Como o estudo envolveu apenas 36 
gestantes, não há força suficiente para 
detectar diferenças quanto à mortalidade 
perinatal. 
o Macrossomia fetal; 
▪ Revisão sistemática da Cochrane não 
evidenciou benefício da indução do parto 
em fetos macrossômicos de gestantes 
não-diabéticas; 
▪ A indução não reduziu o risco de cesariana 
e fórceps. 
▪ Não melhora os desfechos perinatais. 
▪ Além disso, os métodos atualmente 
utilizados para estimar o tamanho fetal, 
especialmente em fetos grandes, 
apresentam baixo valor preditivo. 
▪ Em multíparas com fetos anteriores 
macrossômicos, pode tentar realizar a 
indução. 
o Frequência cardíaca fetal não-tranquilizadora; 
o Doença cardíaca materna; 
o Polidrâmnio; 
o Grande multiparidade; 
o Oligo-hidrâmnio; 
o Cesariana segmentar (horizontal) anterior. 
Precauções recomendadas para evitar complicações 
 
 
• Adicionais: 
o Não existem evidências fortes para se 
recomendar a indução em regime 
ambulatorial; 
o Discutir com a gestante: orientar a gestante 
sobre os procedimentos, indicações, eventuais 
riscos e complicações. 
Possíveis complicações da indução 
 
• Ruptura uterina; 
o Pode ocorrer particularmente na presença de 
cesariana anterior; 
• Infecção intracavitária; 
o Associada aos números excessivos de exames 
vaginais, à ruptura prematura das membranas 
amnióticas e à inserção de materiais na cérvice 
uterina, quando a indução for mecânica. 
• Prolapso de cordão umbilical; 
• Prematuridade iatrogênica; 
▪ Associada à realização de induções sem a 
certeza da IG; 
▪ Recomenda-se que a indução seja realizada 
preferencialmente apenas em gestantes com 
idade gestacional confirmada por USG precoce 
entre a 13ª e a 20ª semana. 
• Sofrimento ou morte fetal; 
▪ Associado ao número excessivo de contrações 
uterinas, provocando a síndrome de 
hiperestimulação uterina. 
• Falha da indução. 
▪ Definida quando o trabalho de parto não é 
deflagrado, podendo ocorrer em 
aproximadamente 10% das gestantes. 
Todas as diretrizes sobre indução do parto recomendam 
que, antes de seu início, sejam observados alguns 
requisitos, como: 
• Exame clínico: escore de Bishop; 
• Gestação única a termo ou com maturidade 
pulmonar comprovada; 
• Apresentação cefálica; 
• Peso fetal > 2.500 g e < 4.000 g; 
• Índice de Líquido Amniótico (ILA) ≥ 5 cm; 
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• Vitalidade Fetal Preservada (resultado normal da 
cardiotocografia basal ou doplervelocimetria da 
artéria umbilical e cerebral média fetal ou perfil 
biofísico fetal). 
Escore de Bishop 
 
• O exame clínico para avaliação do escore de Bishop 
é que vai orientar a escolha do método de indução. 
• O ponto de corte do escore de Bishop é de 6, 
abaixo disso o colo do útero é desfavorável, deve-
se induzir primeiro com misoprostol. Caso 
ultrapasse 6, pode iniciar a ocitocina. 
 
Anormalidade da contração uterina (taquissistolia, 
hiperssistolia ou hiperestimulação uterina) em decorrência 
da indução do trabalho de parto – Síndrome de 
hiperestimulação uterina 
• Síndrome de hiperestimulação uterina: alteração 
da contratilidade uterina (taquissistolia ou 
hipertonia) que ocasiona alteração na FCF. 
o A indução do TP encontra-se associada à 
anormalidade da contratilidade uterina com ou 
sem alteração na FCF. 
o Taquissistolia uterina: > 5 contrações uterinas 
em 10 min, detectadas por 2x consecutivas (20 
minutos); 
o Hipertonia ou hipersistolia: aumento do tônus 
uterino, contração com duração > 2 min. 
• Diante de anormalidades, medidas recomendadas 
(RCOG): 
1) Retirar o agente causador: 
 
o Suspender ocitocina; 
o Ou retirar do canal vaginal parte do 
medicamentonão absorvido. 
2) Caso as medidas acima não logrem êxito: 
 
o Tocólise é indicada (nifedipina). 
• Se ocorrerem alterações na FCF, medidas de 
ressuscitação intrauterina, apesar de não haver 
evidências suficientes do seu real benefício, 
podem ser tentadas. 
 
Indução em gestantes com cesariana anterior: controverso 
 
• A atual recomendação é de que se evite a indução 
com prostaglandinas e misoprostol; 
• Indução com sonda de Foley e/ou ocitocina pode 
ser realizada após discussão com a paciente, em 
casos selecionados. 
▪ Ocitocina pode ser usada, porém não em 
doses elevadas, visto que aumentam em até 
quatro vezes o risco de ruptura uterina. 
▪ Sonda de Foley pode ser usada pois não 
acarreta aumento do risco de taquissistolia. 
▪ A sonda de nº 12 é inserida no orifício interno 
do colo, há enchimento do balão com água e 
tração por fixação da sonda à perna da 
gestante. O mecanismo é por tração mecânica 
e pela liberação de prostaglandinas devido à 
separação do cório da decídua. 
▪ Após a sonda realizar o amadurecimento do 
colo, é necessária associação com ocitocina 
para potencializar a contração uterina. 
 
Considerações sobre Indução 
• Laminária de algas marinhas hidrofílicas secas e 
esterilizadas podem ser aplicadas na cérvice uterina 
como método de indução mecânica. Na presença de 
secreção vaginal, as algas vão se expandindo radial e 
lentamente, dilatando o colo. Contudo, esse método 
é muito pouco usado. 
• O descolamento de membranas como método 
indutor do parto se dá por meio pelo incremento da 
produção local de prostaglandinas. É pouco usado 
em casos de urgência por ser extremamente 
doloroso e desconfortável. Assim, sua realização 
deve ser discutida e comunicada à paciente, porque 
é um toque diferente dos demais e pode gerar 
traumas psicológicos. Pode ser feito durante o TP 
para acelerá-lo. 
• A amniotomia é feita, muitas vezes, em caso de 
óbito fetal. Em outras situações, evita-se ao máximo, 
porque pode predispor a infecções. 
• A sonda de Foley é o principal método (indução 
mecânica) quando não se pode fazer misoprostol, 
contudo, é contraindicada em casos de rutura de 
placenta e rutura prematura de membranas, porque 
aumenta a chance de infecção, tanto materna 
quanto fetal. 
• As taxas dos métodos farmacológicos são mais 
efetivos que os métodos mecânicos, por isso deve 
haver preferência por eles. Além disso, possuem 
menor risco de infecção. Contudo, por vezes, há 
contraindicação desses métodos, fazendo-se 
necessário utilização de métodos mecânicos. 
• Quando o TP já se iniciou, a administração de 
misoprostol/ocitocina não consiste em indução, mas 
em condução do trabalho de parto. 
• Em caso de óbito fetal, independente da idade 
gestacional, é indicado o parto vaginal, excetuando-
se os casos de placenta prévia, em que a cesárea é 
obrigatória. 
• Em ex-cesariadas, é contraindicado o uso de 
misoprostol, mas pode administrar ocitocina com 
ressalvas, não usar em altas doses. Se o colo estiver 
inicialmente com escore de Bishop baixo, preferir 
usar sonda de Foley para aumentá-lo, para que 
então se use a ocitocina. 
Obstetrícia Alan Paz 
 
• Podem ser praticados métodos naturais de indução 
de parto se não houver urgência (ex: 39 semanas, 
tenta induzir por esses métodos em 3-4 dias), pois 
são desprovidos de complicações e 
contraindicações. São possibilidades: acupuntura, 
imersão em banheiras, enemas, óleo de rícino, 
homeopatia, estimulação mamária e atividade 
sexual. Contudo, não há evidência suficiente para 
recomendar a indução por esses métodos. 
• O mecanismo pelo qual a prática sexual atua pode 
ser por conta da ação da hialuronidase presente no 
esperma, que contribui para o amolecimento e o 
apagamento do colo do útero. 
• Em casos de pré-eclâmpsia grave, síndrome de 
HELLP, e até mesmo em eclâmpsia convulsivante, 
não há indicação de cesariana por si. Contudo, 
nessas condições pode haver indicação por outros 
motivos, como sofrimento fetal, por exemplo. 
• Outros métodos farmacológicos: administração de 
estrogênio, relaxina, propranolol, mifepristona 
(antagonista de progesterona), hialuronidase, 
contudo, não existem evidências suficientes para 
indicá-los, portanto, seu uso deve se restringir a 
protocolos de pesquisa. 
 
Questões 
1. Assinale a alternativa CORRETA, considerando o 
conceito de indução do trabalho de parto e quando 
pode ser realizada. 
A) Em qualquer idade gestacional. 
B) Na gestante que ocorreu uma parada secundária da 
descida por diminuição da contratilidade uterina, 
sendo necessário ocitocina. 
C) Em gestante na 35ª semana de gravidez com 
indicação de indução do parto e ausente o trabalho de 
parto foi necessário o uso de misoprostol. 
D) Em gestante na 12ª semana foi necessário o uso de 
misoprostol por óbito fetal. 
 
2. Assinale a alternativa que NÃO é indicação de indução 
do trabalho de parto. 
A) Pós-termo (> 42ª semana) 
B) Hipertensão na gravidez (> 38ª semana) 
C) Placenta prévia centro total (> 38ª semana) 
D) Cronologia avançada (> 41ª semana) 
 
3. Dentre as alternativas abaixo, qual NÃO é método de 
indução do trabalho de parto. 
A) Amniotomia 
B) Ocitocina 
C) Misoprostol 
D) Dilatação com vela de Hegar 
 
4. Na gestante com parto vaginal anterior, 42ª semana, 
feto com vitalidade normal e ausente contrações 
uterinas, qual a melhor conduta? 
A) Indução do trabalho de parto com misoprostol 
B) Indução do trabalho de parto com sonda (método 
mecânico) 
C) Não há indicação de indução do trabalho de parto, 
pois a vitalidade fetal está preservada. 
D) Indução do trabalho de parto com acupuntura 
 
5. Assinale a alternativa CORRETA, considerando o 
conceito de indução do trabalho de parto e quando 
pode ser realizada. 
A) Em qualquer idade gestacional, acima da 13ª semana. 
B) Na gestante com feto malformado e indicação de 
interrupção, independente da idade gestacional. 
C) Em gestante na 11ª semana de gravidez e ausente 
contrações uterinas foi necessário o uso de 
misoprostol. 
D) Em gestante na 40ª semana foi necessário o uso de 
misoprostol por óbito fetal. 
 
6. Assinale a alternativa que NÃO é indicação de indução 
do trabalho de parto. 
A) Pós-termo (> 42ª semana) 
B) Hipertensão na gravidez (> 38ª semana) 
C) Rotura prematura das membranas (> 38ª semana) 
D) Descolamento prematuro da placenta (> 38ª semana) 
 
7. Dentre as alternativas abaixo, qual NÃO é método de 
indução do trabalho de parto. 
A) Acupuntura 
B) Ocitocina 
C) Misoprostol 
D) Progesterona 
 
8. Na gestante com três partos normais e uma cesariana 
anterior, na 42ª semana, feto com vitalidade normal e 
ausente contrações uterinas, qual a melhor conduta? 
A) Indução do trabalho de parto com sonda (método 
mecânico) 
B) Indução do trabalho de parto com misoprostol 
C) Não há indicação de indução do trabalho de parto, 
pois a vitalidade fetal está preservada. 
Obstetrícia Alan Paz 
 
D) Indução do trabalho de parto com acupuntura 
 
9. Na gestante com três partos normais e uma cesariana 
anterior, na 42ª semana, feto com vitalidade normal, 
rotura prematura das membranas e ausente 
contrações uterinas, qual a melhor conduta? 
A) Indução do trabalho de parto com ocitocina, sendo 
escore de Bishop favorável. 
B) Indução do trabalho de parto com sonda (método 
mecânico) 
C) Indução do trabalho de parto com misoprostol 
D) Não há indicação de indução do trabalho de parto, 
pois a vitalidade fetal está preservada. 
 
10. Gestante na 35ª semana, G2/P1 (parto vaginal 
anterior), apresentando pré-eclâmpsia com sinais de 
gravidade. Colo uterino pérvio 4 cm, móvel e alto, 
central, cefálico, 80% apagamento e amolecido. Qual 
a conduta correta? 
A) Expectante 
B) Misoprostol 
C) Cesariana 
D) Ocitocina 
 
Gabarito: 
1. C 
2. C 
3. D 
4. A 
5. D 
6. D 
7. D 
8. A 
9. A 
10. D 
 
	Conceito
	Principais indicações
	Gestação prolongadaGravidez complicada por diabetes
	Ruptura prematura das membranas amnióticas
	o Fracamente a favor da indução;
	Contraindicações absolutas
	 Situações com risco de morbidade perinatal grave:
	 Situações com risco materno:
	Contraindicações relativas
	Precauções recomendadas para evitar complicações
	Possíveis complicações da indução
	 Infecção intracavitária;
	 Prematuridade iatrogênica;
	 Sofrimento ou morte fetal;
	 Falha da indução.
	Todas as diretrizes sobre indução do parto recomendam que, antes de seu início, sejam observados alguns requisitos, como:
	Escore de Bishop
	Anormalidade da contração uterina (taquissistolia, hiperssistolia ou hiperestimulação uterina) em decorrência da indução do trabalho de parto – Síndrome de hiperestimulação uterina
	Indução em gestantes com cesariana anterior: controverso

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