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Os órgãos femininos da reprodução são compostos de ovários, ovidutos, útero, cérvix uterina, vagina e genitália externa. Os órgãos genitais internos (o primeiro de quatro componentes) são sustentados pelo ligamento largo. Este consiste do mesovário, que suporta o ovário; do mesossal- pinge, que suporta os ovidutos e do mesométrio, que supor- ta o útero. Em bovinos e ovinos, a união do ligamento largo é dorsolateral na região do ílio, local onde o útero dispõe-se como os cornos de um carneiro, com a convexidade dorsal e os ovários localizados próximos à pelve. EMBRIOLOGIA O sistema reprodutivo fetal consiste de duas gônadas não diferenciadas sexualmente; dois pares de ductos; um seio urogenital; um tubérculo genital, e pregas vestibulares (Fig. 2-1). Este sistema origina-se primariamente de duas cristas germinativas, na parede dorsal da cavidade abdominal, e diferencia-se em sistema masculino ou feminino. O sexo do feto depende dos genes herdados, da gonado- gênese e da formação e maturação dos órgãos reprodutivos acessórios. Tanto os ductos de Wolff quanto os de Müller estão pre- sentes no embrião sexualmente indiferenciado. Na fêmea, os ductos de Müller desenvolvem-se em um sistema ducto- gonadal e os ductos de Wolff atrofiam-se, ocorrendo o opos- to nos machos. Os ductos de Müller femininos fundem-se caudalmente para dar origem ao útero, à cérvix e à porção cranial da vagina. No feto masculino, o andrógeno testicular age na persis- tência e desenvolvimento dos ductos de Wolff e na atrofia dos ductos de Müller. OVÁRIO O ovário, diferentemente dos testículos, permanece na cavidade abdominal. Ele desempenha funções exócrinas (liberação de óvulos) e endócrinas (esteroidogênese). O tecido predominante do ovário é o córtex. As células germi- nativas primordiais têm origem extragonadal e migram do saco vitelino mesentérico para as cristas genitais. Durante o desenvolvimento fetal, as oogônias são produzidas por mul- tiplicação mitótica. Esta é seguida pela primeira divisão meiótica, formando vários milhões de oócitos, um processo interrompido na prófase. Uma atresia subseqüente reduz o número de oócitos por ocasião do nascimento, uma redução pode ocorrer na puberdade e somente algumas centenas estarão presentes durante a senescência reprodutiva. No nascimento, uma camada de células foliculares cir- cunda os oócitos primários no ovário para formar os folícu- los primordiais. O formato e o tamanho do ovário variam de acordo com a espécie animal e com a fase do ciclo estral (Fig. 2-2). Em bovinos e ovinos, o ovário tem formato de amêndoa; enquanto nos eqüinos, ele tem formato de feijão devido à presença de uma fossa de ovulação definida e a uma incisura na borda unida do ovário. O ovário dos suínos asse- melha-se a um cacho de uvas, em decorrência dos folículos salientes e dos corpos lúteos que obscurecem o tecido ova- riano subjacente. A porção livre do ovário, que não se encontra presa ao mesovário, fica exposta e saliente na cavidade abdominal. O ovário, composto de medula e córtex, é envolto pelo epitélio superficial, conhecido comumente como epitélio germinati- vo. A medula ovariana é constituída por tecido conjuntivo fibroelástico irregularmente distribuído e por nervos extensos e sistemas vasculares, que atingem o ovário mediante seu hilo. As artérias são distribuídas de forma espiralada. O córtex ova- riano contém folículos ovarianos e/ou corpos lúteos em vários estágios de desenvolvimento e regressão (Tab. 2-1). A vascularização do ovário modifica-se de acordo com as diferentes situações hormonais. As variações na arquitetura dos vasos permitem adaptações do suprimento sangüíneo con- forme as necessidades do órgão. A distribuição intra-ovariana de sangue é alterada durante o período pré-ovulatório. O fluxo sangüíneo arterial para o ovário varia em pro- porção à atividade luteínica. As modificações hemodinâmi- cas parecem ser importantes no controle da função e duração do corpo lúteo (CL). Assim, modificações no fluxo sangüí- neo precedem o declínio na secreção de progesterona, enquanto a regressão do fluxo sangüíneo ovariano causa regressão do CL prematuro. Na época da luteólise em ove- lhas, há uma redução no fluxo sangüíneo ovariano (1). 13 CAPÍTULO 2 Anatomia da Reprodução Feminina B. HAFEZ E E. S. E. HAFEZ Hafez-Cap 02 15/1/04 07:57 AM Page 13 O fluxo sangüíneo do ovário bovino é alto durante a fase luteínica, decresce com a regressão luteínica e aumenta pouco antes da ovulação. O fluxo sangüíneo ovariano aumenta com o desenvolvimento de um novo CL. Um declínio abrupto no fluxo sangüíneo ocorre ao mesmo tempo em que há regressão do CL (2). Corpo Lúteo O CL desenvolve-se após um colapso no folículo ovula- tório. A parede interna do folículo desdobra-se em pregas macro e microscópicas, que penetram na cavidade central. Essas pregas consistem de uma porção central de estroma e 14 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 2-1. Esquema simplificado da diferenciação embrionária em sistemas genitais masculino e feminino. (Centro) O sistema indife- renciado com longos mesonéfrons, ductos mesonéfricos, ductos de Müller e gônadas indiferenciadas. Note que os ductos de Müller e meso- néfricos cruzam antes de entrar nos cordões genitais. (Direita) O sistema feminino, em que o ovário e os ductos de Müller se diferenciam enquanto os remanescentes dos mesonéfrons e dos ductos mesonéfricos se atrofiam no epoóforo, paraóforo e ducto de Gartner. (Esquerda) Sistema masculino, no qual os testículos e os ductos mesonéfricos (Wolff) se diferenciam e os únicos remanescentes dos ductos de Müller são o apêndice testicular e o utrículo prostático (vagina masculina). A, ampola; B, bexiga; C, cérvix; Co, córtex ovariano; Ep, epidídimo; D. Mül., ductos de Müller; O, ovário; T. S., túbulos seminíferos; T, testículo; U, útero; S. U-G., seio urogenital; V. D., vaso deferente. FIGURA 2-2. Anatomia útero-ovariana em animais domésticos. (A) Mudanças no ciclo estral do ovário bovino. 1, folículo maduro; 3, superfície do folículo colapsado, pregas e paredes tingidas de sangue; 9, corpus albicans (Arthur, 1964). (B) Organização celular do CL da ovelha no cio: a, corpo hemorrágico; b, CL do segundo dia após o cio; c, CL do 4o dia após o cio. (C) Folículo de Graaf: Co, cumulus oopho- rus; Eg, epitélio germinativo; Lf, líquido folicular; Mg, membrana granulosa. (D) Estruturas da parede do folículo de Graaf demonstrando como as células da granulosa não têm suprimento sangüíneo da membrana basal (Baird, 1972). (E) Formato da zona pelúcida (ZP) rodean- do um oócito no folículo de Graaf. Formam-se microvilosidades do oócito interdigitado com processos das células da granulosa (G). Esse processo penetra no citoplasma do oócito (C), provisão de nutrientes/proteína materna, N, núcleo oócito (Baker, 1972). (F) Anatomia vas- cular do ovário de bovinos (J. H. Wise et al., 1982). (G) Anatomia do ovário e do oviduto de ovinos. A, ampola; F, fímbria; In, infundíbu- lo; I, istmo; M. o., mesovário; O, ovário; A. o., artéria ovariana; B. o., bolsa ovárica; U, útero. Note a alça suspensa à qual se une a bolsa ovárica. O oviduto da ovelha é pigmentado.(H) Principais segmentos do oviduto. (I) Seções transversal e longitudinal dos diferentes seg- mentos do oviduto; 1 representa o istmo; 8 representa o infundíbulo. Note a variabilidade no grau de complexidade das pregas da mucosa. Hafez-Cap 02 23/7/03 09:17 Page 14 CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 15 Cio Pouco depois da ovulação 2 dias após a ovulação Diestro Rede capilar Células da teca interna Células da granulosa Fluido folicular Membrana basal Superfície Artéria uterina Corpo lúteo Artéria ovariana Artéria útero-ovariana Veia ovariana Infundíbulo Ampola Istmo Fímbria TA B E L A 2-1. Histologia Funcional do Ovário/Folículo Ovariano de Mamíferos de grandes vasos venosos que se distendem. As células desenvolvem-se poucos dias antes da ovulação e regridem rapidamente. Após 24 horas da ovulação, todas as células remanescentes da tecaencontram-se em estado avançado de degeneração. Inicia-se um processo hipertrófico e de luteini- zação das células da granulosa após a ovulação. A progesterona é secretada pelas células luteínicas na forma de grânulos. Em ovelhas, parece que esse processo atinge seu grau máximo no décimo dia do ciclo, começando a diminuir notavelmente no 12o. A atividade secretora declina gradualmente até o 14o dia. Em animais de idade avançada, as funções do CL decli- nam resultando na inabilidade das células foliculares (teca interna e granulosa) em responder aos estímulos, modifica- ções quantitativas e/ou qualitativas da secreção hormonal e na redução de estímulos para a secreção hormonal. DESENVOLVIMENTO. O aumento de peso do CL é rápido no início. Geralmente, o período de crescimento ultrapassa a metade do ciclo estral. Na vaca, o peso e o conteúdo de progesterona do CL aumentam rapidamente entre o tercei- ro e o 12o dia do ciclo, e permanecem relativamente cons- 16 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL Camada superficial de epitélio frouxo (conhecido incorretamente como epitélio germinativo). Densa, tecido conjuntivo fibroso cobrindo todo o ovário logo abaixo do epitélio superficial. Contém vários folículos primários (com oócitos em estágio quiescente) e poucos folículos grandes. Durante cada ciclo estral, um número variável de folículos passa por rápido crescimento e desenvolvimento, culminando no processo da ovulação. Tecido conjuntivo frouxo contendo nervos, vasos linfáticos e sangüíneos tortuosos de parede fina, fibras colágenas e elásticas e fibroblastos. Pobremente diferenciado, células parecidas com as embrionárias mesenquimatosas, capazes de sofrer alterações morfológicas complexas durante a vida reprodutiva; as células do estroma podem originar as células da teca interna. As células musculares lisas estão presentes em todo o ovário, especialmente no estroma cortical. As células mióides ovarianas são similares às células musculares lisas de outros tecidos. Grande número de microfilamentos estão dispostos em feixes característicos. Células musculares lisas e elementos nervosos podem estar diretamente envolvidos na ovulação. A presença de células musculares lisas, especialmente nas regiões perifoliculares, pode estar envolvida na “compressão do folículo” durante a ovulação. Oócito envolvido por uma única camada de células foliculares planas ou cubóides. Oócito com diâmetro aumentado e maior número de camadas de células foliculares; a zona pelúcida está presente ao redor do oócito. Células da granulosa planas do folículo primordial ou unilaminar proliferam. Sob a influência das gonadotrofinas hipofisárias, as células da granulosa dos folículos com camadas múltiplas secretam um fluido, o liquor folicular, que se acumula nos espaços intercelulares. A secreção contínua e o acúmulo de liquor folicular resultam na dissociação das células da granulosa, que causa a formação de uma grande cavidade cheia de fluido – o antro. A zona pelúcida é circundada por uma massa sólida de células foliculares radiais, formando a coroa radiata. As células foliculares aumentam de tamanho; o antro fica cheio de fluido folicular (liquor folicular). O oócito é pressionado para um lado, circundado pelo acúmulo de células foliculares (cumulus oophorus); em qualquer outra parte da cavidade folicular forma-se um epitélio de espessura regularmente uniforme, chamado membrana granulosa. Uma estrutura semelhante a uma vesícula projeta-se da superfície ovariana devido ao rápido acúmulo de fluido folicular e ao adelgaçamento da camada granulosa. O viscoso líquido folicular é formado de secreções das células da granulosa e proteínas plasmáticas transportadas para dentro do folículo por transudação. Grandes modificações ocorrem no nível subcelular, particularmente no complexo de Golgi, que está envolvido na formação da zona pelúcida. O oócito, na prófase da meiose, prossegue várias horas antes da ovulação. A primeira divisão meiótica (maturacional) está associada à expulsão do primeiro corpúsculo polar. UNIDADE ANATÔMICA FUNCIONAL CARACTERÍSTICAS HISTOLÓGICAS Epitélio superficial Túnica albugínea Córtex ovariano Medula ovariana Estroma ovariano Musculatura lisa FOLÍCULOS OVARIANOS Folículo primário Folículo em crescimento Folículo secundário Folículo terciário (vesicular) Folículo de Graaf Folículo pré-ovulatório Hafez-Cap 02 20/6/03 08:49 PM Page 16 tantes até o 16o dia, quando se inicia a regressão. Na porca e na ovelha, os corpos lúteos aumentam rapidamente de peso e conteúdo de progesterona do segundo ao oitavo dia, per- manecendo relativamente constantes até o 15o dia, quando começa a regressão (3). O diâmetro do CL maduro é maior que o do folículo de Graaf maduro, exceto na égua. REGRESSÃO. Caso não ocorra a fertilização, o CL regri- de, permitindo a maturação de outros grandes folículos ova- rianos. À medida que essas células degeneram, todo o órgão diminui de tamanho, tornando-se branco ou castanho claro e passando a se chamar corpo albicans (corpus albicans). Depois de dois ou três ciclos, permanece apenas uma visível cicatriz do tecido conjuntivo. Remanescentes do corpus albi- cans bovino persistem durante vários ciclos sucessivos. O CL bovino começa a regredir de 14 a 15 dias após o cio, e seu tamanho diminui pela metade em 36 horas. LUTEÓLISE. A luteólise induzida por estrógenos durante o ciclo estral da ovelha, provavelmente mediada pela pros- taglandina uterina, é responsável pela regressão normal do CL. Um embrião deve estar presente no útero de 12 a 13 dias após o acasalamento, para que o CL seja mantido. Esse período representa o estado em que o útero inicia as primei- ras providências que levarão à luteólise. A veia uterina e a artéria ovariana são os principais com- ponentes, proximal e distal, de um mecanismo local artério- venoso, envolvido nos efeitos luteolíticos e antiluteolíticos. A histerectomia elimina o efeito luteolítico e mantém o CL. Em suínos, a luteólise está associada ao aumento de prostaglandi- na plasmática na veia útero-ovariana (4). As modificações no fluxo sangüíneo para o ovário lutei- nizado podem ser atribuídas às alterações no fluxo para o CL, que recebe a maior parte do suprimento sangüíneo. A irrigação sangüínea do CL exerce um papel regulador nessas glândulas e atua no controle da atividade dos hormônios gonadotróficos no nível celular luteínico. CORPO LÚTEO E GESTAÇÃO. As substâncias com ativida- des progestacionais são necessárias para a manutenção da gestação. Algumas servem como precursoras imediatas para outros esteróides, também necessários durante a gestação. Com exceção da égua, nas demais espécies domésticas há a necessidade obrigatória de atividades secretoras contínuas do CL durante toda a gestação, porque a placenta não secre- ta progesterona. A ovariectomia em marrãs, durante qual- quer fase da gestação, resulta em abortamento dentro de 2 a 3 dias. Após a remoção de um ovário ou dos corpos lúteos de cada ovário no 40o dia da gestação, é necessário o mínimo de cinco corpos lúteos para mantê-la. RECONHECIMENTO MATERNO DA GESTAÇÃO. Blastocistos devem estar presentes aos 12 dias após a ovulação em ovelhas, e aos 13 dias em marrãs, para estender a vida útil do CL. Nos bovinos, o reconhecimento materno da gestação ocorre entre o 15o e o 17o dias de gestação. Concentrações plasmáticas de progesterona são mais altas nas vacas prenhes do que nas não- prenhes dentro de 8 dias após o acasalamento. O CL da gestação é conhecido como corpus luteum verum (corpo lúteo verdadeiro) e pode ser maior que o cor- pus luteum spurium (falso corpo amarelo) do ciclo estral. Nos bovinos, ele aumenta de tamanho durante 2 ou 3 meses da gestação, e regride por 4 ou 6 meses. Após esse período, o tamanho do CL permanece relativamente constante até o parto, degenerando-se uma semana depois. OVIDUTO Há uma íntima relação anatômica entre o ovário e o oviduto. Em mamíferos domésticos, o ovário situa-se em uma bolsa ovárica aberta, ao contrário de algumas espécies (exemplos:rata, camundongo), em que ele se instala dentro de uma bolsa fechada. Nos animais domésticos, essa bolsa é uma invaginação, que consiste de uma fina prega peritoneal do mesossalpinge, ligada em uma alça suspensa na porção superior do oviduto. Na vaca e na ovelha, a bolsa ovárica é larga e aberta. Na porca, ela é bem desenvolvida e aberta, porém envolve o ovário em sua grande parte. Nos eqüinos, ela é estreita, semelhante a uma fenda e envolve somente a fossa da ovulação. Anatomia O comprimento e o grau de circunvoluções do oviduto variam nos mamíferos domésticos. O oviduto pode ser divi- dido em quatro segmentos funcionais: as fímbrias, com for- mato de franjas; a abertura abdominal próxima ao ovário, com formato de funil, o infundíbulo; a ampola dilatada mais distalmente, e uma estreita porção proximal do oviduto, ligando-se ao lúmen uterino, o istmo (Fig. 2-3). As fímbrias são livres, exceto num ponto no pólo superior do ovário, que assegura sua aproximação da superfície ovariana. As técni- cas usadas in vivo e in vitro no estudo das funções do oviduto estão descritas na Tabela 2-2. A ampola, que corresponde a cerca da metade do com- primento do oviduto, funde-se com a porção constrita conhecida como istmo. O istmo está conectado diretamen- te ao útero, penetrando no corno uterino da égua na forma de uma pequena papila. Na porca, essa junção é guarnecida por longas digitações mucosas. Na vaca e na ovelha existe uma flexura na junção uterotubárica, principalmente duran- te o cio. O espessamento da musculatura aumenta da extre- midade ovariana para a extremidade distal do oviduto. Mucosa do Oviduto A mucosa do oviduto é formada por pregas primárias, secundárias e terciárias. A mucosa da ampola possui pregas que se projetam para cima, em direção ao istmo, e para baixo, no sentido da junção uterotubárica. A complexa disposição das pregas da mucosa na ampola preenche quase totalmente o lúmen, de forma que existe apenas um único espaço poten- cial. O fluido é mínimo e constitui-se como uma massa do cumulus em contato com a mucosa ciliada (Fig. 2-4). A muco- sa consiste de uma camada de células epiteliais colunares e o epitélio é constituído de células ciliadas e não-ciliadas. CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 17 Hafez-Cap 02 15/1/04 08:00 AM Page 17 CÉLULAS CILIADAS. As células ciliadas da mucosa do oviduto possuem motilidade ciliar reduzida (cinecílios), que se estende para o lúmen. O ritmo de pulsação dos cílios é afetado pelos níveis de hormônios ovarianos, com atividade máxima na ovulação ou logo após, quando a pulsação dos cílios na porção do oviduto provida de fímbrias está intima- mente sincronizada e direcionada para o óstio. A ação de pulsação do epitélio ciliado parece facilitar que o óvulo, rodeado pelas células do cumulus, seja desnudado da superfí- cie dos folículos em colapso em direção ao óstio do oviduto. 18 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 2-3. Fisiologia, histologia e citologia do oviduto. (A) Epitélio tubário. A, células secretoras evidenciando o material ciliado/secre- tor celular com cinecílios (foto do professor S. Reinius). (B) Contração das fímbrias em relação à superfície ovariana, um mecanismo pelo qual os ovos são captados pelo infundíbulo. (C) A musculatura do oviduto em ungulados. A, ampola: a musculatura consiste em fibras espi- rais arranjadas quase circularmente; B, istmo: note diferenças na morfologia das fibras musculares; C, junção uterotubária: note a muscu- latura longitudinal de origem uterina bem como as fibras peritoneais (Schilling. Zentralbl Veterinaermed 1962;9:805). (D) Células cilia- das do oviduto (direita) e útero (esquerda). Note a presença de microvilos na superfície apical das células. (E) Células secretoras mostran- do biossíntese, empacotamento, estocagem, liberação e distribuição do material secretório, que é o maior componente do fluido luminal no oviduto e no útero. A ação dos cinecílios facilita a liberação da secreção granular da superfície das células. Hafez-Cap 02 15/1/04 08:00 AM Page 18 TABELA 2-2. Técnicas In Vivo e In Vitro Usadas para o Estudo das Funções Tubárias A porcentagem de células ciliadas diminui gradualmente na ampola em direção ao istmo e alcança o máximo na fímbria e no infundíbulo. As células ciliadas são notadas em grande número nos ápices das pregas da mucosa. As variações na porcentagem de células ciliadas e secretoras ao longo de toda a extensão do oviduto possuem alguma função signifi- cativa. As células ciliadas são mais abundantes na região onde o óvulo é captado, acima da superfície ovariana, enquanto as células secretoras são abundantes onde os flui- dos luminais são necessários, numa interação entre o óvulo e o espermatozóide. A pulsação dos cílios ocorre em direção ao útero. Essa atividade, auxiliada pelas contrações do oviduto, mantém o óvulo em constante rotação no oviduto, o que é essencial para juntar o óvulo e o espermatozóide (fertilização), preve- nindo, assim, uma implantação no próprio oviduto. No macaco rhesus, o movimento ciliar do oviduto é controlado por hormônios: os cílios desaparecem quase que completa- mente após a hipofisectomia e desenvolvem-se em resposta à administração de estrógenos exógenos. O oviduto atrofia- se e perde os cílios durante o anestro, hipertrofia-se e cria novos cílios durante o proestro e cio, e atrofia-se e perde os cílios durante a gestação. Infecções no trato reprodutivo das fêmeas estão associa- das a alterações graves na morfologia das células, comumen- te a perdas de células ciliadas. Uma diminuição no número de cílios pode causar o acúmulo de fluidos tubários e de exu- datos inflamatórios no oviduto, o que contribui para uma aglutinação nas plicas tubárias e subseqüente desenvolvi- mento de uma salpingite. CÉLULAS NÃO-CILIADAS. As células secretoras da muco- sa do oviduto não são ciliadas e possuem característicos grâ- nulos secretores, sendo que o tamanho e o número deles variam entre as espécies durante as diferentes fases do ciclo estral. A superfície apical das células não-ciliadas é coberta por inúmeros microvilos. Os grânulos secretores são acumu- lados nas células epiteliais durante a fase folicular do ciclo, e, após a ovulação, esses grânulos são liberados dentro do lúmen, causando uma redução na altura do epitélio. O fluido tubário possui várias funções, incluindo a capa- citação e a hiperativação do espermatozóide, a fertilização e o desenvolvimento precoce da pré-implantação. Ele é compos- to por um transudato seletivo de soro e por produtos dos grâ- nulos das células secretoras do epitélio tubário (5). As secre- ções tubárias são reguladas pelos hormônios esteróides. O fluido e o soro do oviduto são compostos por diversos componentes protéicos. Entretanto, alguns destes compo- nentes estão presentes nos dois fluidos orgânicos, em dife- rentes proporções. Por exemplo, a quantidade de uma trans- ferrina e de pré-albumina no fluido tubário é relativamente maior que a quantidade de albumina e proteínas presentes no soro. Muitas proteínas séricas não fazem parte do fluido tubário e, contrariamente, muitas são exclusivas do fluido tubário. Musculatura do Oviduto e Ligamentos Relacionados As contrações do oviduto facilitam a mistura de seus conteúdos, ajudam a desnudar os óvulos, promovem a ferti- lização (facilitando o contato entre o óvulo e o espermato- CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 19 Microscopia eletrônica de varredura e transmissão Cultura de fragmentos da mucosa tubária Observações histoquímicas de seções congeladas Técnicas de histoquímica fluorescente Fisiofarmacologia da contratilidade tubária (ex.: resposta a drogas) Observações visuais do oviduto através de janela ou parede abdominal Meios extra ou intra-abdominais para coletar fluidos Imunofluorescência Farmacologia/neurofarmacologia Efeitos da prostaglandina de hormônios esteróides Lavagem segmentar do oviduto Uso de ovos substitutos Recuperação de ovos no útero in vivo Lavagem segmentar do oviduto em intervalos após a inseminaçãoartificial Lavagem do oviduto a partir das fímbrias, por laparoscopia, em intervalos após cobertura ou inseminação artificial Cinematografia ultra-rápida Estrutura e ultra-estrutura do epitélio, da ati- vidade secretora e dos cílios Identificação de receptores colinérgicos ou adrenérgicos Contratilidade da musculatura tubária Composição bioquímica do fluido tubário Detecção da captação de proteínas no epité- lio tubário Transporte do ovo no oviduto Transporte espermático no oviduto Cinética dos batimentos ciliares FUNÇÃO SOB ESTUDO TÉCNICAS Hafez-Cap 02 20/6/03 08:55 PM Page 19 zóide) e regulam parcialmente o transporte do ovo. Diferentemente do peristaltismo intestinal, o peristaltismo do oviduto tende a atrasar ligeiramente a progressão do óvulo ao invés de transportá-lo. PADRÕES DAS CONTRAÇÕES DO OVIDUTO. A musculatura do oviduto passa por vários tipos de contrações complexas: contrações localizadas semelhantes ao peristaltismo, que se originam em segmentos isolados ou alças com curto trajeto, e contrações segmentares e torções vermiculares de todo o ovi- duto. Contrações em direção oposta ao ovário são mais comuns do que as dirigidas para ele. De modo geral, a ampola é menos ativa que o istmo. Fatores adicionais de complexida- de são as atividades contráteis do mesossalpinge, do miométrio e dos ligamentos suspensores, além dos movimentos ciliares. As contrações musculares do oviduto são estimuladas pela contração de duas membranas maiores, de musculatura lisa e unidas às fímbrias, à ampola e ao ovário: o mesossal- pinge e o mesotubário superior. A freqüência e a amplitude das contrações espontâneas variam de acordo com a fase do 20 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 2-4. Microscopia eletrônica de varredura do oviduto. (A) O epitélio tubário apresenta células secretoras (seta) altamente revestidas por microvi- los e células ciliadas. Note que muitas células são inteiramente ciliadas, enquanto outras possuem cílios somen- te na periferia. (B) Estruturas em roseta nas células ciliadas, um processo que ocorre ao acaso, culminando na com- pleta ciliação, como mostrado aqui. (C) Células inteiramente ciliadas nas fím- brias, que auxiliam na captação do ovo após a expulsão no folículo de Graaf. (D) E, epitélio tubário. Pregas mucosas projetadas para o lúmen da ampola (37TM). (E) Pregas da mucosa projeta- das para o lúmen do istmo (40TM). Hafez-Cap 02 20/6/03 08:55 PM Page 20 ciclo estral. Antes da ovulação, as contrações são suaves, com variações individuais na proporção e no padrão de con- tratilidade. Durante a ovulação, as contrações tornam-se mais vigorosas e as dobras em forma de franja se contraem ritmicamente e “massageiam” a superfície ovariana. O padrão e a amplitude das contrações variam nos diferentes segmentos do oviduto. No istmo, as contrações peristálticas e antiperistálticas são segmentais, vigorosas e quase contínuas. Na ampola, fortes ondas peristálticas movem-se de maneira segmentada em direção à porção média do oviduto. LIGAMENTO ÚTERO-OVARIANO E LIGAMENTOS RELACIO- NADOS. O ligamento útero-ovariano é formado por células musculares lisas, dispostas em feixes longitudinais, que aden- tram o miométrio, mas não o estroma ovariano. Os múscu- los lisos do mesovário e os vários ligamentos do mesentério, unidos ao ovário e às fímbrias, contraem-se internamente. Essas contrações musculares rítmicas e intermitentes assegu- ram a posição das fímbrias em relação à superfície dos ovários. ÚTERO O útero é composto de dois cornos uterinos (cornuado), um corpo e uma cérvix (colo) (Fig. 2-5). A proporção rela- tiva de cada parte, assim como o formato e a disposição dos cornos, varia entre as espécies. Na porca, o útero é do tipo bicórneo, os cornos são dobrados ou convolutos e podem atingir de 120 cm a 150 cm de comprimento (Fig. 2-6). Esse comprimento é uma adaptação anatômica para suprir satis- fatoriamente a leitegada. Na vaca, na ovelha e na égua, um útero bipartido é típico. Esses animais apresentam um septo que separa os dois cornos de um proeminente corpo uterino (o maior é o da égua). Nos ruminantes, o epitélio uterino apresenta diversos carúnculos. Ambas as margens uterinas são unidas à parede pélvica e abdominal pelo ligamento largo. Glândulas Endometriais e Fluido Uterino As glândulas endometriais são estruturas tubulares rami- ficadas e espiraladas, forradas por epitélio colunar. Elas se abrem na superfície do endométrio, exceto nas áreas carun- culares (em ruminantes). As glândulas apresentam-se relati- vamente retas durante o cio, e crescem, secretam e tornam- se mais espiraladas e complexas à medida que aumenta o nível de progesterona produzido pelo CL em desenvolvi- mento. Elas começam a regredir quando são notados tam- bém os primeiros sinais de regressão luteínica. As células epiteliais do endométrio ficam relativamente altas e passam por um período de secreção ativa durante o cio, tornando-se baixas e cubóides 2 dias após esse período. O volume e a composição bioquímica do fluido uterino mostram variações significativas durante o ciclo estral. Na ove- lha, o volume do fluido uterino excede ao do oviduto durante o cio, enquanto durante a fase luteínica acontece o contrário. PROTEÍNAS UTERINAS. O fluido endometrial contém proteínas séricas e pequenas quantidades de proteínas ute- roespecíficas. A proporção e a quantidade dessas proteínas variam de acordo com o ciclo reprodutivo. As diferenças de concentração, assim como a distribuição dos componentes nos fluidos uterinos, comparados ao soro sangüíneo, eviden- ciam a ocorrência de secreção e de transudação. Na coelha, uma proteína denominada blastoquinina (uteroglobulina) pode influenciar a formação de blastocistos a partir da móru- la. O fluido uterino em camundongos contém um fator que dá início à implantação. Secreções uterinas fornecem um ambiente favorável para a sobrevivência e a capacitação espermática, bem como para a clivagem no blastocisto jovem antes da implantação. Proteínas específicas do útero e/ou de origem no con- cepto têm sido caracterizadas durante o início da gestação na ovelha. Uma das proteínas, de cor púrpura, com glicopro- teína contendo ferro, chamada uteroferrina foi purificada (6). As secreções uterinas participam do controle embrioná- rio e da implantação. CONTRAÇÃO UTERINA. A contração do útero é coordena- da por movimentos rítmicos do oviduto e do ovário. Há uma considerável variação na origem, na direção, no grau de ampli- tude e na freqüência das contrações no trato reprodutivo. Durante o ciclo estral, a freqüência das contrações do miométrio atinge seu grau máximo durante e imediatamen- te após o cio. Durante o cio, as contrações uterinas origi- nam-se da porção caudal do trato reprodutivo e são mais predominantes no oviduto. Durante a fase luteínica, a fre- qüência das contrações é reduzida e somente uma pequena porcentagem move-se em direção ao oviduto. O estradiol aumenta a freqüência das contrações uterinas em ovelhas ovariectomizadas, nas quais a progesterona reduz essa fre- qüência. Altos níveis de progesterona são observados quan- do a atividade contrátil é relativamente quiescente. Metabolismo Uterino O endométrio metaboliza carboidratos, lipídios e proteí- nas para suprir os requerimentos necessários para a nutrição celular, para a rápida proliferação do tecido uterino e para o desenvolvimento do concepto. Essas reações dependem de quatro fenômenos: (a) as reações enzimáticas envolvidas no metabolismo da glicose, (b) aumento da circulação através de arteríolas espiraladas, (c) alterações morfológicas que ocorrem no endométrio e no miométrio, (d) ação estimu- lante dos hormônios ovarianos e outros hormônios. Os hormônios ovarianos apresentam substancial envol- vimento na regulação do metabolismo uterino. O cresci- mento do útero (tanto síntese protéica quanto divisões celu- lares) é induzido por estrógenos. Uma rápida modificação ocorre no metabolismo do endométrio mais ou menos na época em que o ovo passa pela junção uterotubária.Função do Útero O útero apresenta uma série de funções. O endométrio e seus fluidos têm grande relevância no processo reproduti- vo: (a) transporte dos espermatozóides do ponto de ejacula- ção até o local da fertilização no oviduto, (b) regulação da função do CL e (c) início da implantação, gestação e parto. CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 21 Hafez-Cap 02 15/1/04 08:00 AM Page 21 22 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL FIGURA 2-5. Parâmetros comparativos da anatomia reprodutiva da fêmea. (1) Diferenciações ovarianas resul- tantes das mudanças morfológicas e funcionais das espécies. A, ovário de porca (forma de amora); B, ovário de vaca (forma de amêndoa) com folículo emergente; C, ovário de vaca com CL totalmente desenvolvido; D, ovário de égua (formato de rim) com fossa de ovulação (Dyce KM, Sack WO, Wensing CJG. Textbook of veterinary anatomy. Philadelphia: W.B. Saunders, 1987). (2) Posição do útero em vacas do terceiro ao sexto mês de prenhez. A, sobreposição do útero e dos ovários (esquerda) (listras verticais, útero; círculo preto, ová- rio) representando o útero no terceiro mês de prenhez; B, secção transversal do útero no sexto mês de prenhez, contendo feto relativamente adjacente às vísceras abdominais (rúmen à esquerda e útero à direita do abdome) (Dyce KM, Wensing CJG. Essentials of bovine anatomy. Philadelphia: Lea & Febiger, 1971). (3) Suprimento sangüíneo do trato reprodutivo de vaca. As artérias são mostradas à direita e as veias, à esquerda. 1, artéria ova- riana; 1’, ramo uterino; 2, artéria uterina; 3, artéria vaginal; 4, veia ovariana; 5, veia uterina; 6, veia vaginal (Dyce KM, Sack WO, Wensing CJG. Textbook of veterinary anatomy. Philadelphia: W.B. Saunders, 1987). (4) Relação da artéria ovariana em ruminantes e seus ramos. 1, com aquelas da veia uterina; 2, as relações aumentadas de grande área de contato (Dyce KM, Sack WO, Wensing CJG. Textbook of veterinary anatomy. Philadelphia: W.B. Saunders, 1987). Rúmen Recesso intestinal Feto Útero Omento maior Hafez-Cap 02 3/7/03 09:36 AM Page 22 CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 23 FIGURA 2-6. Anatomia funcional do útero e da cérvix. (A) Mudanças no tamanho e no formato do útero de ruminantes durante a prenhez. Três úteros são mostrados no diagrama: o interno representa o útero não-prenhe; o externo representa o útero prenhe próximo ao parto e o central representa o útero após o parto, em processo de involução. (B) Anatomia comparativa e fisiologia da cérvix. (C) Secção longitudinal da cérvix bovina mostrando a complexidade das criptas cervi- cais, que atraem um grande número de espermatozóides. E, externo; I, interno; M, secreção da mucosa; S, estroma cervical. (D) Filamentos de muco cervical fluem das criptas da cérvix (C) para o epitélio da vagina (V). As características biofísicas do muco cervical e o arranjo macromolecular do muco facilitam o transporte espermático da vagina para o útero (U). (E) Estrutura em saca-rolha do canal cervical para acomodar a estrutura similar do pênis (Hunter, 1983). (F) Cérvix de coelho. Note a complexidade do canal cervical duplo. (G) Cripta cervical (acima) e células secretoras antes e depois da secreção de muco (abaixo). SNC RF Hipófise anterior FSH, LH Progesterona Contração do miométrio Secreção do endométrio Criptas cervicais: reservatório de espermatozóide, barreira aos espermatózoides, filtro de espermatozóides Plasma seminal: prostaglandinas, enzimas seminais Micelas: macromoléculas, micromoléculas Muco cervical: propriedades biofísicas, propriedades bioquímicas Batimento ciliar. Célula secretora Capacitação Leucócitos: fagócitos Estrógeno Hipotálamo Muco Anexo à outra cérvix Secretora (biossíntese) Secretora (esvaziada) Ciliar Hafez-Cap 02 3/7/03 09:36 AM Page 23 TRANSPORTE ESPERMÁTICO. No acasalamento, a contra- ção do miométrio é essencial para o transporte dos esperma- tozóides do ponto de ejaculação para o local da fertilização. Um grande número de espermatozóides se agrega nas glân- dulas endometriais. À medida que eles são transportados ao longo do lúmen uterino até o oviduto, eles sofrem “capaci- tação” nas secreções endometriais. MECANISMOS LUTEOLÍTICOS. Há um momento no ciclo útero-ovariano em que o o CL estimula o útero para que este produza uma substância que o destruirá. O útero possui um importante papel no controle da função do CL, que é man- tido funcionalmente ativo por longos períodos, seguindo-se a histerectomia em vacas, ovelhas e porcas. Se pequenas porções de tecido uterino permanecerem in situ, a regressão luteínica ocorre e os ciclos recomeçam por períodos varia- dos. Após a histerectomia unilateral, os CLs adjacentes ao corno uterino retirado são mais bem mantidos do que os adjacentes ao corno remanescente. A administração intramuscular ou intra-uterina de pros- taglandina provoca total regressão luteínica na vaca e na ovelha. O corno uterino gravídico tem efeito antiluteolítico no nível do ovário adjacente. Esse efeito é exercido através de um trajeto local útero-ovariano-venoarterial. IMPLANTAÇÃO E GESTAÇÃO. O útero é um órgão alta- mente especializado, adaptado para aceitar e nutrir os pro- dutos da concepção, desde a implantação até o parto. Uma “diferenciação” uterina é governada pelos hormônios este- róides ovarianos. Esse processo envolve alguns estágios críti- cos quando o útero está preparado para aceitar seletivamen- te o blastocisto. Se não ocorrer a diferenciação, o útero não estará adaptado para permitir a implantação. Após a implantação, o embrião depende de um supri- mento vascular adequado do endométrio para o seu desen- volvimento. Durante a gestação, as propriedades fisiológicas do endométrio e seu suprimento sangüíneo são importantes para a sobrevivência e o desenvolvimento do feto. O útero tem capacidade de sofrer extraordinárias modificações no tamanho, na estrutura e na posição a fim de acomodar as necessidades do concepto em crescimento. PARTO E INVOLUÇÃO PÓS-PARTO. A resposta contrátil do útero permanece quiescente até a época do parto, quando desempenha importante papel na expulsão fetal. Após o parto, o útero quase readquire seu antigo tamanho e condi- ção por meio de um processo chamado involução. Na porca, o útero diminui continuamente em peso e extensão durante 28 dias após o parto; posteriormente, ele permanece sem modificações durante o período de lactação. No entanto, imediatamente após o desmame da leitegada, o útero aumenta de peso e tamanho por 4 dias. Durante o intervalo do pós-parto, a destruição do teci- do endometrial é acompanhada pela presença de grande número de leucócitos e pela redução do leito vascular endo- metrial. As células do miométrio são reduzidas em número e tamanho. Essas rápidas e desproporcionais alterações do tecido uterino são a possível causa do baixo índice de con- cepção pós-parto. A involução uterina não é retardada pela presença dos bezerros em amamentação e nem por anemia. Os tecidos carunculares se destacam e são expulsos do útero 12 dias após o parto. EFEITOS DOS CORPOS ESTRANHOS E DIUS. O estímulo do útero durante o início do ciclo estral apressa a regressão do CL e provoca cio precoce. O estímulo uterino pode ser desenca- deado pela colocação de um pequeno corpo estranho dentro do útero. O ciclo estral subseqüente será encurtado ou prolon- gado dependendo de quando se deu a inserção do corpo estra- nho e da natureza e tamanho do material introduzido. O fato de o ciclo estral não ser afetado quando o segmento uterino contendo o corpo estranho tiver sido denervado mostra que o sistema nervoso é responsável por esse efeito. Embora os dispositivos intra-uterinos (DIUs) apresen- tem efeito antifertilidade em vários animais domésticos, aparentemente seu modo de ação varia muitíssimo. O maior efeito antifertilidade dos DIUs parece ser exercido entre o momento em que o embrião entra no útero e o momento da implantação. A inserção de DIUs de grande diâmetro em ovelhas e vacas resulta em alteração do ciclo estral, caracte- rizadapelo encurtamento da atividade funcional do CL. Na ovelha, os DIUS de grande diâmetro inibem o transporte espermático e a fertilização. CÉRVIX UTERINA A cérvix é uma estrutura semelhante a um esfíncter, que se projeta caudalmente na vagina (Fig. 2-7). Ela é um órgão fibroso composto predominantemente por tecido conjunti- vo com pequenas quantidades de tecido muscular liso, caracterizada por uma espessa parede e por um lúmen cons- trito. Embora haja diferenças de detalhes na cérvix dos mamíferos domésticos, o canal cervical é caracterizado por várias proeminências. Nos ruminantes, a cérvix possui o formato transverso ou espiralado, com saliências fixas conhecidas como anéis, que apresentam vários graus de desenvolvimento nas diferentes espécies. São especialmen- te proeminentes na vaca (geralmente 4 anéis) e na ovelha adaptam-se um no outro, ocluindo a cérvix com segurança. Na porca os anéis dispõem-se em formato de saca-rolhas, adaptando-se à extremidade torcida em espiral do pênis do macho. Na égua, são características as dobras da mucosa e as alças que se projetam para dentro da vagina. A cérvix permanece compactamente fechada, exceto durante o cio, quando relaxa levemente, permitindo a entra- da dos espermatozóides no útero. O muco que sai da cérvix é expelido pela vulva. Estroma Cervical e Alterações Fisiológicas O tecido conjuntivo do estroma cervical é constituído por substância sedimentar, constituintes fibrosos e elemen- tos celulares. A substância sedimentar contém proteoglica- nos e ácido hialurônico, sulfato de condroitina-4, 6, sulfato de dermatan, sulfato de heparan e sulfato de queratan asso- ciados às proteínas. Os constituintes fibrosos incluem colá- 24 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL Hafez-Cap 02 18/6/03 11:07 PM Page 24 CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 25 FIGURA 2-7. Microscopia eletrônica de varredura (MEV) de órgãos reprodutores femininos. (A) Endométrio de ovelha: carúnculo rodeado pelas aberturas das glândulas endometriais. (B) Mucosa do corno uterino de ovelha não-prenhe. Note os carúnculos e a pigmentação do endométrio. (C) Vagina de coelha mostrando as rugas do epitélio vaginal para a expansão durante a cópula e o parto. (D) Morfologia e histologia da cérvix (cortada e aberta) da novilha 4 dias após o cio. Note os anéis anulares rodeando o canal cervical. (E) Cérvix bovina aberta mostrando a complexidade das criptas cervicais (59TM). geno, elastina e reticulina. Os elementos celulares com- preendem mastócitos, fibroblastos e células errantes. O colá- geno é composto por uma cadeia de vários aminoácidos, tais como glicina, prolina, hidroxiprolina, lisina e hidroxilisina. Os padrões de reticulinas, elastinas e substâncias de regiões interfibrosas facilitam a dilatação da cérvix no parto. A dis- sociação das fibras colágenas, as quais estão separadas umas das outras, determina a abertura do tecido cervical e aumen- ta os espaços brancos entre os feixes de colágeno. A acentuada mudança na composição bioquímica da cérvix durante a gestação indica que ela está preparada para mudanças nas propriedades funcionais, determinadas pelas alterações dos parâmetros que regulam as propriedades físi- cas da matriz do tecido conjuntivo. Morfologicamente, tais modificações relacionadas à gestação não se iniciam até que a gestação se torne avançada, quando há um esgotamento do tecido e a destruição da rede colágena torna-se aparente. Durante a gestação, a cérvix pode aumentar sua massa em até 8 vezes seu tamanho normal. O acentuado cresci- mento e o decréscimo nas concentrações dos componentes da matriz podem ser a conseqüência de vários fatores, incluindo o aumento na vascularização e nas concentrações de glicoproteínas. A atenuação cervical não é exclusivamente devida à ati- vidade enzimática, que envolve somente a degradação da matriz. A dinâmica natural da cérvix na época do parto é pro- vida de bases anabólicas para que a nova matriz seja produzi- da com propriedades físicas alteradas. As maiores característi- cas na cérvix parturiente incluem: (a) aumento da relação de proteoglicanos e síntese de hialuronatos com uma concomi- tante diminuição da concentração de hexuronato, (b) apare- cimento de um novo tipo de proteoglicanos e (c) esgotamen- to na estrutura e na organização da rede de colágenos. Muco Cervical O muco cervical consiste de macromoléculas de muci- na, de origem epitelial, que são compostas de glicoproteínas (particularmente do tipo sialomucina) contendo 25% de aminoácidos e 75% de carboidratos. A mucina é composta de uma longa cadeia polipeptídica contínua com numerosas cadeias colaterais oligossacáridas. A porção de carboidratos é composta de galactose, glicosamina, fucose e ácido siálico. As proteínas do muco cervical incluem pré-albumina, lipo- proteína, albumina, ß-globulina e g-globulina. O muco cer- vical contém várias enzimas, incluindo glucoronidase, ami- lase, fosforilase, esterase e fosfatase. Devido às características biofísicas específicas, o muco cervical possui várias propriedades reológicas, como cristali- zação, elasticidade, viscosidade, fluidificação e espessamen- to. Fazendo-se um esfregaço sobre uma lâmina com muco cervical durante o cio, observa-se que depois de seco, ele apresenta uma cristalização, como nervuras de uma folha de samambaia. Essa característica, associada ao alto teor de clo- retos no muco, não ocorre quando o esfregaço é feito nas fases do ciclo estral, em que predominam os níveis de pro- gesterona, e nem durante a gestação. O fenômeno pode ter algum valor quando combinado com outras observações para o diagnóstico precoce da gestação. A secreção do muco cervical é estimulada pelos estrógenos ovarianos e inibida pela progesterona. As modificações cíclicas qualitativas do muco cervical durante o ciclo estral e as variações cíclicas na disposição e na viscosidade das macromoléculas provocam alterações periódicas na penetrabilidade dos espermatozóides no canal cervical. As alterações mais favoráveis nas propriedades do muco cervical – como aumento na quantidade, viscosidade, cristalização e pH, assim como diminuição da viscosidade e do conteúdo celular – ocorrem durante o cio e a ovulação, e se invertem durante a fase luteínica, quando a penetração dos espermatozóides na cérvix é inibida. Sob a influência dos estrógenos, as macromoléculas de glicoproteínas do muco ficam de tal modo orientadas que o espaço entre elas mede de 2 a 5 µm. Na fase luteínica, os espaços da rede de macromoléculas tornam-se cada vez menores. Assim, duran- te o cio e a ovulação, o grande tamanho das malhas permi- te o transporte de espermatozóides através da rede de fila- mentos e do canal cervical. Funções A cérvix possui várias funções no processo reproduti- vo: (a) facilita o transporte espermático através do muco cervical para o interior do útero, (b) atua como reservató- rio de espermatozóides e (c) pode tomar parte na seleção de espermatozóides viáveis, impedindo a passagem de célu- las espermáticas inviáveis e defeituosas. TRANSPORTE ESPERMÁTICO. Depois da ejaculação, os espermatozóides são orientados em direção ao orifício inter- no do útero. Com os movimentos e as vibrações do flagelo, a cabeça do espermatozóide é impulsionada em direção aos canais de menor resistência. As propriedades macro e microrreológicas do muco cervical possuem importante papel na migração espermática. A penetração aumenta com a clarificação do muco, desde que os restos celulares e os leu- cócitos retardem a migração espermática. Os espaços aquo- sos entre as micelas permitem a passagem dos espermatozói- des, assim como a difusão de substâncias solúveis. As enzi- mas proteolíticas podem hidrolisar o esqueleto da proteína, ou algumas conexões cruzadas de mucina, reduzindo, assim, a resistência das malhas e tornando os canais mais abertos para a migração espermática. Quando o muco cervical e o sêmen são colocados em contato in vitro, as fases são separa- das por superfícies de descontinuidade entre os fluidos. Logo aparecem falanges espermáticase desenvolvem-se altos graus de arborização, cujos aspectos terminais consistem de canais pelos quais um ou dois espermatozóides podem passar. Após a cobertura ou inseminação artificial, grandes quantidades de espermatozóides ficam alojadas nas compli- cadas criptas cervicais. A cérvix pode atuar como reservató- rio de espermatozóides, abastecendo o trato reprodutivo com subseqüentes liberações de material seminal. É possível também que os espermatozóides presos nas criptas cervicais nunca sejam liberados, impedindo que um número excessi- vo atinja o local da fertilização. 26 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL Hafez-Cap 02 15/1/04 08:05 AM Page 26 Nos ruminantes, a prolongada sobrevivência dos esper- matozóides na cérvix, proporcionalmente a outros segmen- tos do trato reprodutivo, sugere que ela atue como um reser- vatório espermático. Na cérvix de vacas e cabras, a maioria dos espermatozóides não é distribuída aleatoriamente, mas localiza-se entre as criptas cervicais. A penetração de esper- matozóides nesses locais depende da viabilidade e da estru- tura espermática e, conseqüentemente, das propriedades reológicas do muco cervical. A CÉRVIX DURANTE A GESTAÇÃO. Durante a gestação, o muco que oclui o canal cervical é altamente viscoso, espesso, turvo e não se cristaliza, atuando como uma barrei- ra eficiente contra o trânsito espermático e a invasão bacte- riana no útero, além de prevenir infecções uterinas. A única vez que a cérvix se abre novamente é antes do parto. Nessa hora, o tampão cervical se liquefaz e a cérvix se dilata para permitir a expulsão do feto e das membranas fetais. VAGINA A parede vaginal consiste de uma superfície epitelial, de uma camada muscular e de uma serosa. A camada muscular da vagina não é tão bem desenvolvida como as partes exter- nas do útero. Ela consiste de uma espessa camada circular interna e de uma fina camada longitudinal externa; esta últi- ma estende-se por certa distância para dentro do útero. A túnica muscular é suprida por vasos sangüíneos, feixes ner- vosos, grupos de células nervosas e tecido conjuntivo denso e frouxo. Na vaca, exclusivamente, há um esfíncter muscu- lar cranial, além do esfíncter caudal presente em outros mamíferos domésticos. Existem diferenças interespecíficas nas alterações vagi- nais durante o ciclo estral que se refletem, provavelmente, em diferentes níveis de secreção de estrógeno e progestero- na e mesmo de gonadotrofinas. No entanto, os esfregaços vaginais não servem para o diagnóstico das fases do ciclo estral ou de disfunções hormonais. A superfície das células vaginais é constituída por numerosos microvilos que correm longitudinalmente ou em círculos. Nesse epitélio estratificado multiviloso, as células são dispostas com microvilosidades opostas, entrosadas umas às outras, para manter a superfície firme. O padrão e a mor- fologia desses microvilos afetam a firmeza do epitélio, que é totalmente variável com o ciclo reprodutivo. Respostas Fisiológicas CONTRAÇÕES VAGINAIS. As contrações vaginais repre- sentam um importante papel nas respostas psicossexuais e possivelmente no transporte espermático. A contração da vagina, do útero e do oviduto é ativada pelo fluido secreta- do na vagina durante o estímulo pré-coital. RESPOSTAS IMUNOLÓGICAS. Parece que a vagina é o melhor local para a reação antígeno-anticorpo por estar mais exposta ao antígeno espermático do que o útero e o oviduto. A produção local de anticorpos aos antígenos espermáticos pode ocorrer dentro dos tecidos vaginais. Células plasmáticas maduras e imaturas, localizadas abaixo do epitélio, parecem estar sob controle endócrino, pois aumentam em número durante a fase luteínica, após a ovariectomia e durante a fase após a menopausa. Essas célu- las plasmáticas parecem estar envolvidas na secreção de imunoglobulinas A e G, que parecem prevenir infecções bacterianas e produzir anticorpos contra os espermatozóides. FLUIDO VAGINAL. O fluido vaginal é composto primaria- mente de transudato da parede vaginal, misturado com secreções vulvares das glândulas sebáceas e sudoríparas e contaminado com muco cervical, fluido endometrial e tubá- rio e células esfoliadas do epitélio vaginal. À medida que se aproxima o cio, aumenta a vascularização da parede vaginal e o fluido vaginal torna-se mais fino. Um odor específico e distinto é percebido no trato uro- genital de vacas durante o cio. Durante o diestro, esse odor aparentemente desaparece ou é bastante atenuado. Cães podem ser treinados para detectar e responder a esses odores associados com o cio em bovinos (7). FLORA MICROBIANA. A flora vaginal é composta de uma mistura dinâmica de microorganismos aeróbios, anaeróbios facultativos e estritamente anaeróbios, sendo constante- mente introduzidas novas linhagens. A flora de microorga- nismos é variável durante o ciclo vital e várias de suas popu- lações apresentam enzimas que lhes permitem sobreviver e multiplicar-se no ambiente vaginal. Muitas são preparadas enzimaticamente para sobreviver e se reproduzir nesse ambiente. Durante os períodos de alto conteúdo glicogêni- co, os organismos acidófilos predominam, mas outros orga- nismos estão presentes entre o grupo heterogêneo, consti- tuindo a flora normal. Funções da Vagina As funções da vagina na reprodução são múltiplas. É um órgão copulatório onde o sêmen é depositado e coagulado até que os espermatozóides sejam transportados através das macromoléculas da coluna de muco cervical. A vagina, dila- tada como um bulbo, atua como um reservatório de sêmen para fornecer espermatozóides aos depósitos cervicais. As dobras vaginais e a estrutura muscular de forma rombóide permitem a distensão da vagina durante o acasalamento e o parto. Embora a vagina não possua glândulas, suas paredes são umedecidas por transudatos do epitélio vaginal (incorre- tamente chamado mucosa), por muco cervical e por secre- ções endometriais. Após a ejaculação, o plasma seminal não é transportado para o útero, a maior parte é expelida ou absorvida pelas paredes vaginais. Alguns dos componentes bioquímicos do plasma seminal, quando absorvidos pela vagina, exercem respostas fisiológicas em outras partes do trato reprodutivo feminino. O pH da secreção vaginal não é favorável aos esperma- tozóides. Uma complexa interação do muco cervical, da secreção vaginal e do plasma seminal induz um sistema de CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 27 Hafez-Cap 02 15/1/04 08:05 AM Page 27 tampão que protege os espermatozóides até que eles sejam transportados através das micelas do muco cervical. Condições patológicas que resultem em tampões insufi- cientes ao acúmulo seminal (como pequeno volume de ejaculado, porções escassas de muco cervical espesso e escoamento do sêmen) podem ocasionar rápida imobiliza- ção dos espermatozóides. A vagina serve como um ducto excretor das secreções cervicais, endometriais e tubárias, serve também de via natural durante o parto. Essas fun- ções são cumpridas por várias características fisiológicas, principalmente contração, expansão, involução, secreção e absorção. GENITÁLIA EXTERNA O vestíbulo, os lábios maiores, os lábios menores, o cli- tóris e as glândulas vestibulares constituem a genitália externa. Vestíbulo A junção entre a vagina e o vestíbulo é marcada pelo orifício uretral e freqüentemente por uma saliência (o hímen vestigial). Em certas vacas, o hímen é tão proemi- nente que interfere na cópula. O vestíbulo da vaca estende-se internamente por apro- ximadamente 10 cm, onde o orifício uretral externo se abre 28 PARTE I: REPRODUÇÃO ANATÔMICA FUNCIONAL em sua superfície ventral. Os ductos de Gartner (resquícios dos ductos de Wolff) abrem-se no vestíbulo caudal e lateral- mente aos ductos de Gartner. As glândulas de Bartholin, que secretam um líquido viscoso, mais ativamente durante o cio, apresentam estrutura tuboalveolar similar às glândulas bulbouretrais no macho. Lábios Maiores e Lábios Menores O tegumento dos lábios maiores é ricamente dotado de glândulas sebáceas e tubulares. Elecontém depósitos de gordu- ra, tecido elástico e uma camada fina de músculo liso, apresen- tando a mesma estrutura superficial externa da pele. Os lábios menores têm um tecido conjuntivo esponjoso no centro. Clitóris A comissura ventral do vestíbulo encobre o clitóris, que tem a mesma origem embrionária do pênis. Ele é com- posto de tecido erétil, coberto por um epitélio escamoso e estratificado, sendo bem suprido por terminações nervosas sensitivas. Na vaca, a maior parte do clitóris está oculta na mucosa do vestíbulo. Na égua, entretanto, ele é bem desen- volvido, e na porca é longo e sinuoso, terminando em uma pequena ponta ou cone. Extensas investigações têm conduzido a uma anatomia comparativa entre os órgãos do trato reprodutivo feminino dos mamíferos domésticos (8-12). Hafez-Cap 02 15/1/04 08:05 AM Page 28 CAPÍTULO 2: ANATOMIA DA REPRODUÇÃO FEMININA 29 REFERÊNCIAS