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Mila Vitória – Medicina – Sistema urinário Diz respeito a obstrução ao fluxo de urina em qualquer nível do TU com repercussões hemodinâmicas. Pela frequência a uropatia obstrutiva deve ser lembrada em casos de: perda da função renal, infecção urinária de repetição em homens, distúrbio miccional, hematúria. Geralmente a obstrução é parte do problema. Etiologia Condições congênitas, inflamatórias, neoplásicas, traumáticas iatrogênicas, fisiológicas. Obstruções congênitas são mais comuns em crianças e jovens, mas podem se manifestar só na vida adulta. Obstruções infravesicais costumam ser mais graves- acometem ambos os rins. Anatomia da pelve renal influencia grau de lesão renal. Etiologias congênitas Estenose junção uretero-piélica (JUP) Mais comum desde pré-natal até a adolescência; massa abdominal, dor lombar; pode resolver-se ou permanecer assintomática; bilateral em 10-30% dos casos. Causas ureterais: pregas, válvulas, ureter retrocava. Estenose da junção uretero-vesical (JUV). Ureterocele (dilatação da porção distal do ureter). Válvula de uretra posterior: só em meninos; hidronefrose bilateral ao nascimento; dependendo da gravidade, pode já nascer em IR; diagnóstico com cistouretrografia miccional. Fimose. Fusão labial (em crianças do sexo feminino). Bexiga neurogênica congênita: causas- mielodisplasias, disrafismo oculto, agenesia de sacro, imperfuração anal, paralisia cerebral. Etiologias adquiridas intrínsecas Litíase urinária: é a causa mais prevalente de obstrução do TU. O cálculo pode obstruir desde o cálculo até o metao uretral; mais prevalente em homens; geralmente tem um quadro clínico agudo típico (cólica renal), mas eventualmente pode ser assintomático. Tumores uroteliais: obstrução pelo tumor ou por coágulos. Infecções específicas: tb urinária, esquistossomose, fungus ball. Estenose de uretra: mais comum em homens- pós-uretrite, trauma, iatrogênica. Etiologias adquiridas funcionais Distúrbio de armazenamento ou esvaziamento-> obstrução funcional (ausência de obstrução mecânica). Bexiga neurogênica: hiperreflexa ou arreflexa. Algumas causas: TRM, tumor do SN, metástase óssea, DM. Secundária a drogas: ação anticolinérgica ou adrenérgica. Causas adquiridas extrínsecas Doenças prostáticas: mais comum entre > 50 anos, causa obstrução infravesical. Geralmente associada a sintomas miccionais (LUTS- sintomas do trato urinário inferior). Pode ser ca de próstata localmente avançado, HPB. Doenças ginecológicas: neoplasias de útero, ovário e vagina. Causas iatrogênicas. Gestação: hipotonia fisiológica; obstrução mais comum à direita. Apresentação clínica Varia conforme causa e agudeza de instalação. Sobre a dor: pode ser lombar, na fossa ilíaca, hipogástrica; aguda (cólica renal, retenção aguda); crônica (obstrução neoplásica, estenose JUP). Pode ser causada por estiramento da cápsula renal, ureter, bexiga. Queixas miccionais: jato urinário fraco, intermitente; sensação de esvaziamento incompleto; hesitação, estrangúria; por ITU associada (estase facilita proliferação bacteriana). Sinais de uremia (insuficiência renal): náuseas, vômitos, palidez, adinamia, edema, confusão mental; associados a elevação de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina). Outros achados laboratoriais: hipercalemia, anemia quando IRC, leucocitose de ITU associada, hematúria se litíase ou neoplasia, piúria de ITU. Diagnóstico Quanto mais cedo, melhor o prognóstico renal. História e exame físico e laboratorial vão guiar quanto à escolha do método de imagem mais apropriado. Fatores a considerar: ITU (evitar métodos invasivos); gestação (evitar radiação); função renal (evitar contraste com risco de nefrotoxicidade); DM (mais vulneráveis à nefrotoxicidade por contraste iodado). Diagnóstico por imagem Rx simples do abdome: altamente disponível, vê 75% dos cálculos; mas não vê cálculo de ácido úrico puro. USG: fundamental na triagem, eficiente, sensível, sem radiação, disponível. Evidencia hidronefrose, seu grau e espessura cortical. Desvantagens: operador dependente; pode não mostrar o fator obstrutivo (não vê ureter); falsos positivos não são raros (pelve extra-renal, repleção vesical); falsos negativos (rotura do infundíbulo, obstrução recente). USG normal não exclui uropatia obstrutiva!! Urografia excretora (pielografia venosa): avaliação detalhada da anatomia do TU; avaliação indireta da função individual do rim. Restrições: radiação, uso de contraste iodado (mal-estar, alergias, função renal). Atualmente está em desuso. Uretrografia retrógada e miccional: mostra a anatomia da uretra distal (retrógada), uretra proximal e bexiga (fase miccional). Avalia presença de refluxo vesico-ureteral. TC: muito eficiente (alta sensibilidade e especificidade); sem ou com contraste; avalia densidade da estrutura; avalia obstrução intrínseca e extrínseca; 1º escolha na cólica renal. Ressonância magnética: não usa contraste iodado, vê bem dilatação; caro, mais demorado, ruim pra litíase. Pode ser vantajosa em casos de alergia ao iodo. Renograma com diurético (DTPA-Tc99): também chamado de estudo renal dinâmico. Permite a avaliação individual de cada rim. Avalia perfusão, filtração e excreção; diferencia dilatação obstrutiva da não obstrutiva. Muito útil na estenose JUP (diagnóstico e acompanhamento). Não é um exame de imagem, é um exame funcional! DMSA: radioisótopo captado pela célula tubular renal, onde tem parênquima renal sadio, terá DMSA cintilando. Avalia função renal diferencial (rim D x rim E). Pielografia anterógrada e retrógada: injeção de contraste direto na via excretora (invasivo). Cuidado com presença de infecção no pct. Dispensa filtração glomerular, ou seja, o rim não precisa estar funcionando. Tratamento Considerar: tempo de obstrução; grau da obstrução e da lesão renal; prognóstico da doença de base; lateralidade da obstrução; presença ou não de ITU associada; tratar causa primária; drenagem prévia. Drenagem do TU (transitória ou permanente): Externa: cateter uretral (obstruções infravesicais, ex- HPB); cistostomia por punção ou cirúrgica (quando a sonda não passa); ureterostomia cutânea (geralmente faz em paciente neoplásicos de mau prognóstico); ureteroenterostomia cutânea (pct neoplásicos de melhor prognóstico); nefrostomia por punção. Interna: é feita com cateter duplo j -> ”bypassa” o fator obstrutivo. Tratamento da causa primária: remoção do fator obstrutivo (cálculo, coágulo, tumor, HPB); reconstrução se necessário; plastia dos estreitamentos (JUP, JUV, estenose); nefrectomia ( quando há função residual desprezível ou sepse/risco de vida).