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Juliana F. J. Welch
O ambiente e a doença
A questão ambiental tem adquirido maior importância a cada ano por causa dos fatores globais, como a poluição e a perda da biodiversidade. Contudo, os problemas ambientais locais, a degradação da água, do ar do solo... causam muitos impactos na saúde do ser humano.
No contexto histórico a existência de relações entre a saúde das humanas e ambiente já está presente desde o começo da civilização humana, através dos escritos hipocráticos.
A partir da revolução industrial as cidades começaram a crescer de uma forma desordenada e a saúde da população foi se deteriorando. A teoria predominante era a teoria miasmática, que dizia que as doenças eram resultantes dos maus odores que vinham dos dejetos, os miasmas. A maioria dos estudiosos das condições de saúde eram aliados dessa teoria.
A emergência da bacteriologia esclareceu o problema da causa da doença e, a partir do final do sec 19 permitiu a efetivação de programas de saúde que ignoravam a relação entre doença e as condições socioambientais. Então as explicações relacionadas com o ambiente sofreram um grande retrocesso, já que a causa da doença era exclusiva do micro-organismo, era uma teoria unicausal, mas com o tempo ela foi se mostrando insuficiente.
Depois que a ecologia foi firmada como disciplina científica, surgiu no início do século 20 a teoria ecológica das doenças infecciosas. Nessa teoria é fundamental a interação entre o agente e hospedeiro em um ambiente de diversas ordens, que podem ser físicas, biológicas e sociais, o que a torna uma teoria da multicausalidade, diferente da última do século 19.
Em 1939 a teoria da nidalidade de Pavlovsky teve um papel importante ao estabelecer a relação do ambiente natural com o aparecimento de doenças nos homens. O autor coloca que praticamente todos os patógenos vistos como novos existiram previamente na natureza. Os agentes de cada doença se desenvolviam em ambientes naturais já definidos, que oferecem as condições necessárias e suficientes para a sua circulação. O homem, ao entrar nesse ambiente, poderia fazer parte no espiral de circulação do agente, se tornando um portador.
Entre as décadas de 60 e 70 surgiu a geografia médica, uma disciplina que incorporou os conceitos da ecologia nos estudos médicos e dizia que o estudo do enfermo não pode ser separado do seu ambiente.
Isso serviu de base para criação da trilogia ecológica homem-agente-meio, em 1965. Esse conceito foi desenvolvido por Leavell e Clark e consiste em um sistema de ações preventivas formuladas em torno do conceito de uma "história natural das doenças".
Em 1976 Arouca reordenou a história natural da doença em dois períodos: o pré-patogenico e o patogênico. O período pré patogênico é aquele em que surge a doença por causa da relação entre o agente e o meio e é nesse momento que é introduzido o conceito de interação, envolvendo vários fatores de determinação. O período patogênico se instala com a doença e vai até a morte ou a cura do paciente, com ou sem sequela. É centrado no indivíduo e configura um momento clínico.
A principal crítica a esse modelo é o fato de que fatores sociais, econômicos e fisiopatológicos são colocados no mesmo plano, o que afasta a questão da determinação social da doença.
Em relação ao estudo das doenças emergentes e reemergentes, as análises das alterações ambientais incluem as mobilizações populacionais na era da globalização como fatores importantes na disseminação de patógenos e a existência de ambientes modificados e propícios para o aparecimento de novas doenças. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) define doenças emergentes como aquelas doenças infecciosas cuja incidência aumentou nas duas últimas décadas ou tendem a aumentar no futuro. Então neste sentido, tanto a descoberta de novos vírus como o reaparecimento de doenças antigas são classificadas como emergentes.
A rapidez dos meios de transporte leva portadores para várias áreas do mundo e, por causa das condições encontradas nestes ambientes, tem a possibilidade destes agentes se espalharem muito rápido. Vetores e portadores não humanos de doenças também foram introduzidos em áreas onde nem existiam antes.
Apesar disso, a importação para novos locais não garante que um patógeno vai sobrevier ali. A maioria não chega a colonizar porque as espécies não encontram um nicho apropriado e morrem. Para colonizar o novo terreno, o patógeno intromissor tem que encontrar um ambiente adequado e uma população hospedeira receptiva.
A degradação do meio ambiente auxilia no surgimento de novas doenças, porque no geral a colonização é mais fácil em regiões de baixa diversidade biológica, onde o transmissor encontra menos competição com as espécies nativas. Os habitats que foram alterados pelas atividades humanas são sim mais vulneráveis.
A disseminação de um patógeno humano requer também a vulnerabilidade da população humana. E isso depende não só da virulência e velocidade de transmissão, mas também, da imunidade da população. Combina fatores biológicos e sociais que não são constantes, também tem os hábitos de vida, se a pessoa fuma, se é alcoólatra, as condições socioeconômicas também é um fator que deve ser levado em conta, então é tudo muito complexo.
O que podemos concluir nesse contexto do ambiente como causa de doenças é que o vínculo entre o desenvolvimento econômico, as condições ambientais e de saúde é muito estreito, porque a transmissão de várias doenças está baseada na forma como o ser humano interfere no meio ambiente. Um exemplo de intervenção mais brusca é a expansão da fronteira agrícola. Com o desmatamento rápido pode ter o deslocamento de vetores, como no caso da febre amarela urbana.
Quando o ambiente atua na cura de doenças, nós temos os fitoterápicos, as plantas medicinais... desde o começo o ser humano dependeu da natureza para sobreviver. A eficácia de algumas drogas de origem vegetal é conhecida desde o início da civilização. O Brasil herdou muitas influências fitoterápicas da cultura africana e indígena. De acordo com informações do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil apresenta 20% do número total de espécies da terra.
É estimado, na Amazônia, que existam entre 5 e 10 mil plantas com potencial farmacológico, mas ainda há poucos estudos sobre a utilidade química das plantas.
Esse foi o tema da palestra do Coordenador-geral do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), Dr. Adrian Martin Pohlit no IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos em Curitiba (PR).
O Dr. trabalha há 19 anos como pesquisador na região amazônica e ele diz que vários insumos estão sendo extraídos de forma desordenada e correm o risco de desaparecer. Como exemplo, ele cita a Marapuama, que a raiz é utilizada no tratamento da paralisia e do beribéri.
Por último nós temos a biofilia associada com o ambiente hospitalar. Biofilia significa literalmente “amor pela vida”. E muitos especialistas apontam os benefícios de levar o meio ambiente para dentro dos hospitais, através de jardins internos, quadros com temática da natureza ou apenas uma janela com vista bonita. Tudo isso resulta na melhoria da qualidade do atendimento e essas iniciativas tendem até a reduzir os períodos de internação, diminuir o custo de energia do hospital, porque entrando luz natural é diminuído o uso da luz elétrica e o ambiente natural pode estimular comportamentos mais saudável, fazendo com que a pessoa se exercite mais e isso acaba atuando como prevenção e promoção da saúde, especialmente com relação às doenças cardiovasculares e respiratórias.

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