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ANÁLISE COMPARATIVA DO FILME TROIA, DIRIGIDO POR WOLFGANG PETERSEN, E DOS CANTOS I E XXIV DA ILÍADA, DE HOMERO

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Weslei Pereira Fonseca – RA 100185222–3 
Letras – Português e Inglês, sala 310 
Estudos da Literatura Universal 
Prof. Marcelo Brum–Lemos 
 
 
ANÁLISE COMPARATIVA DO FILME “TROIA”, DIRIGIDO POR WOLFGANG 
PETERSEN, E DOS CANTOS I E XXIV DA ILÍADA, DE HOMERO 
 
INTRODUÇÃO 
Distante da pretensão de esgotar o assunto, o presente trabalho tem por finalidade 
apontar algumas diferenças significativas entre o filme Troia, de 2004, dirigido por Wolfgang 
Petersen, e os Cantos I e XXIV do poema épico Ilíada, atribuído pela tradição clássica a 
Homero. 
Composto por volta do século VIII a.C., o poema se inicia com a invocação à 
divindade protetora dos poetas e tem como tema principal os dois momentos de cólera de 
Aquiles. Além disso, ele também narra os conflitos do Aquileu Pelida com Agamémnon, as 
batalhas entre gregos e troianos, as intervenções dos deuses (e.g. Ares luta ao lado dos 
troianos, enquanto Palas Atena protege os gregos), a amizade de Aquiles para com Pátroclo, a 
confecção das armas de Aquiles por Hefesto, o catálogo dos navios gregos, a luta mortal entre 
Aquiles e Heitor, os funerais de Pátroclo e Heitor e o amor paternal de Príamo. Cumpre 
esclarecer que, tendo como foco o herói Aquiles, a Ilíada não menciona nem o início nem o 
final da Guerra de Troia, antiga cidade do litoral da Ásia. Acredita-se que tal armada tenha 
acontecido no século XXII a.C. e durado uma década. Vários povos habitantes da região que 
hoje é a Grécia, unidos em uma confederação, partem com 1.186 navios para lutar contra 
Troia, cujo príncipe – Páris – teria raptado a princesa Helena, de Esparta. Verdade é que, 
estando ambos apaixonados por influência de Afrodite, Helena deliberadamente acompanha 
Páris quando este retorna à sua pátria. 
Em se tratando das primeiras diferenças observadas na obra cinematográfica em 
questão, não se observa a invocação à deusa, nem tampouco os demais deuses aparecem ou 
ouvem-se as suas vozes, exceto Tétis – a ninfa – mãe de Aquiles, que conversa com o filho 
uma única vez. Além disso, Pátroclo é apresentado como sendo primo de Aquiles, quando na 
verdade não o é. Ainda, o cinema preferiu iniciar a história com um combate entre Aquiles e 
Boagrius, o que não é citado na Ilíada. 
 Os gregos são também chamados de aqueus, argivos e dânaos na obra literária. São 
loiros, barbudos, pastores de bois e de carneiros, e criadores de cavalos – características que 
não estão evidentes no filme. Além disso, são ladrões de mulheres e dominadores de novos 
territórios. Os troianos, por sua vez, são também conhecidos como dárdanos. 
 
A IRA DE APOLO 
Durante os anos em que estiveram em Troia, os aqueus saquearam pequenas cidades 
ao longo da costa asiática, a fim de terem provisões de comida, mulheres e outros bens. 
Durante uma divisão de espólio, Agamémnon toma para si a jovem Criseida, filha de Crises, 
sacerdote de Apolo, enquanto Aquiles escolhe Briseida. O referido sacerdote, desejando a 
libertação da filha, aproxima-se dos navios gregos e oferece um generoso resgate em troca de 
Criseida. Agamémnon, no entanto, não apenas se recusa a entregá-la, como também ofende e 
ameaça Crises que, muito entristecido, pede ao seu deus que vingue tamanha desonra. Apolo 
ouve a prece de seu servo fiel e lança flechas mortais contra os navios gregos, o que leva à 
morte de um grande número tanto de homens quanto de animais1. Calcas, o adivinho, é 
incumbido de revelar o motivo pelo qual Apolo assim tem agido, mas para fazê-lo, pede 
proteção a Aquiles, pois teme uma represália da parte de Agamémnon. 
O episódio ora citado não está presente no filme. Os homens de Agamémnon disputam 
Briseida após o saque ao templo de Apolo, e ela é salva por Aquiles e levada para sua tenda, 
onde é muito bem tratada pelo herói. O sacerdote Crises e sua filha não são sequer 
mencionados. Quanto à praga de Apolo sobre os gregos, é apenas citada no final do filme, 
mas nada é dito sobre o motivo que a fez surgir. Não se tem o adivinho Calcas. 
 
A PRIMEIRA IRA DE AQUILES 
A primeira ira de Aquiles se dá quando Agamémnon, ao saber que terá que devolver 
Criseida para fazer cessar a praga, anuncia que deverá receber de seus confederados uma 
recompensa equivalente, e que esta poderia, inclusive, ser Briseida, que acaba por ser tomada 
de Aquiles. Conforme já mencionado, Criseida não aparece no filme. Aquiles é consolado por 
sua mãe – Tétis, que obtém junto a Zeus o favor de garantir que os gregos não triunfem até 
que a injustiça contra o filho seja desfeita. Assim, Aquiles se retira da guerra, enquanto os 
gregos prosseguem junto aos muros de Troia. Quanto à aparição de Tétis no filme, esta se dá 
 
1 “Canta-me a cólera –ó deusa– funesta de Aquileu Pelida / causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem 
conta / e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos / e esclarecidos ficando eles próprios aos cães 
atirados / e como pasto das aves.” 
apenas quando ela oferece ao filho a opção de ter uma vida comum ou uma morte prematura 
que gravará o seu nome na história, opção que se mostra mais favorável ao herói grego. 
Enquanto isso, Páris enfrenta Menelau em um duelo, e só não é morto por intervenção 
de Afrodite. Os deuses são proibidos por Zeus de interferirem na guerra. Cumpre esclarecer 
que os deuses gregos são antropomórfico, em outras palavras, partilham das mesmas virtudes 
e vícios que os humanos. Ora, além da ausência dos deuses no longa-metragem, Menelau é 
morto por Heitor ao defender o irmão durante esse combate. Na Ilíada, em contrapartida, 
Menelau retoma Helena para si. A princípio, está disposto a matá-la, mas ao contemplar sua 
nudez, deixa de fazê-lo. 
Agamémnon envia Odisseu à tenda de Aquiles para pedir que ele volte à guerra, 
estando disposto a lhe devolver Briseida. A proposta não é aceita por Aquiles, e este ameaça 
abandonar a guerra e voltar para Ftia. No filme, Agamémnon não faz tal proposta a Aquiles. 
 
A SEGUNDA IRA DE AQUILES 
Pátroclo, companheiro de Aquiles, obtém dele permissão para lutar e chefiar os 
mirmidões. Aquiles empresta-lhe suas armas, mas ordena que não lutem longe do 
acampamento grego. Pátroclo, no entanto, chega aos muros de Troia e luta com Heitor, que o 
mata e se apossa de suas armas. No filme, Aquiles não tinha conhecimento que Pátroclo havia 
deixado o acampamento para lutar, nem tampouco da luta com Heitor. De fato, nem mesmo 
os mirmidões o sabiam, uma vez que até mesmo os movimentos de Pátroclo eram 
semelhantes aos de Aquiles. É apenas quando o elmo de Aquiles é retirado de Pátroclo que se 
descobre quem havia realmente lutado. 
Menelau e Ájax recuperam o corpo de Pátroclo e o levam ao acampamento de 
Aquiles, que ao saber do ocorrido, chora amargamente e jura vingança – diferentemente do 
que acontece no filme, no qual os mirmidões levam o cadáver de Pátroclo ao acampamento de 
Aquiles. Tétis solicita a Hefesto que confeccione novas armas para o filho, que após recebê-
las, parte para a batalha com os argivos. Agamémnon reconhece seu erro e restitui a Aquiles a 
mulher que lhe havia sido injustamente tomada – Briseida. Tais eventos não constam da obra 
cinematográfica. 
Aquiles persegue Heitor, e ao alcançá-lo, mata-o, retira-lhe as vestimentas bélicas – 
deixando-o nu, e amarra o cadáver atrás de seu carro para arrastá-lo. No filme, por outro lado, 
a morte de Heitor se dá durante um justo combate com Aquiles, e seu cadáver é arrastado dos 
muros de Troia até a tenda do Pelida. O cadáver só não é dilacerado por intervenção de Apolo 
– o que não aparece na tela. Príamo, Hécuba e Andrômaca choram a morte do herói dárdano. 
Ao retornar ao acampamento, Aquiles presta as honras fúnebres a Pátroclo. 
Os ritos fúnebres eram de suma importância para os antigos gregos, motivo pelo qual 
na versão cinematográfica, sabendo que um deles haveria de morrer naquele combate, Heitor 
propõe a Aquiles que àquele que cair sejam realizados os ritos fúnebres, conformeos 
costumes, proposta não acolhida pelo herói grego. Na Ilíada, como parte da vingança pela 
morte de Pátroclo, Aquiles diariamente arrasta o cadáver de Heitor em torno do túmulo de seu 
aluno – o que não se verifica no filme. Príamo, com o auxílio dos deuses, vai ao acampamento 
grego e implora a Aquiles que lhe devolva o cadáver de Heitor, enquanto no cinema, o rei 
troiano diz que chegou à tenda de Aquiles pelo profundo conhecimento que tem de sua 
cidade. Aquiles, tocado pelo gesto do pai de seu inimigo e por suas lágrimas, acolhe o pedido 
e propõe uma trégua de onze dias2 para a realização do funeral (doze dias no filme). 
Regressando a Troia, são realizados os ritos funerários de Heitor. 
 
CONCLUSÃO 
A obra cinematográfica vai um pouco além do texto da Ilíada, terminando com a 
destruição de Troia após o bem sucedido plano de Odisseu – o grande cavalo de madeira 
deixado na praia como presente aos troianos, que possibilitou a entrada dos soldados gregos 
dentro das muralhas da cidade. Além disso, durante a tomada de Troia, já com a cidade em 
chamas, Aquiles é morto por Páris com uma flechada no calcanhar, enquanto busca por 
Briseida em um templo. 
Embora não siga fielmente a narrativa de Homero, Troia é um filme de ação muito 
bem aceito pelo público e ainda hoje é assistido por muitos. 
 
 
REFERÊNCIAS 
D´ONOFRIO, S. Literatura Ocidental: autores e obras fundamentais. São Paulo: Ática, 2013. 
HOMERO. Ilíada. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, s/d. 
TROIA. Direção: Wolfgang Petersen, Produção: Radiant, em associação com Plan B. Reino Unido e 
Malta: Warner Bros. Pictures, 2004, 1 DVD. 
 
2 “Se nove dias no nosso palácio chorarmos o morto / sepultá-lo-emos ao décimo ao povo banquete aprestando / 
para no onzeno erigir-lhe o sepulcro tal como é de praxe. / No duodécimo então – se é fatal – reinicie-se a luta.”

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