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1 Sistema Cardiovascular – Cardiotônicos e Cardiopressores Digitálicos ou Glicosídeos Cardíacos Terapeuticamente, o glicosídeo cardíaco mais importante é a digoxina. Os esteroides cardiotônicos endógenos (ECEs) foram inicialmente considerados importantes para regulação do transporte renal de sódio e da pressão arterial, porém mais recentemente foram implicados na regulação do crescimento, diferenciação e apoptose celular, na fibrose, na modulação da imunidade e do metabolismo de carboidratos, e no controle de diferentes funções nervosas centrais. Ações e Efeitos Adversos As principais ações dos glicosídeos são sobre o coração, mas alguns dos seus efeitos adversos são extracardíacos, incluindo náuseas, vômitos, diarreia e confusão. Os efeitos cardíacos são: o Redução da frequência cardíaca e da velocidade de condução nó AV, devido à atividade vagal aumentada o Aumento da força de contração o Bloqueio da condução AV o Aumento da atividade marca- passo ectópica Uma das principais desvantagens dos glicosídeos em uso clínico é a estreita margem entre eficácia e toxicidade. Mecanismo de Ação O mecanismo pelo qual os glicosídeos cardíacos aumentam a força de contração (efeito inotrópico positivo) é a inibição da bomba de Na+/K+ nos miócitos cardíacos. Os glicosídeos cardíacos ligam-se a um ponto na porção extracelular da subunidade α da Na+/K+ - ATPase. O mecanismo molecular que fundamenta o aumento do tônus vagal (efeito cronotrópico negativo) é desconhecido, porém também pode ser devido a inibição da bomba Na+/K+. Frequência e Ritmo Os glicosídeos cardíacos retardam a condução AV em virtude do aumento da atividade vagal, de onde deriva, em parte, seu efeito benéfico em fibrilação atrial rápida estabelecida. A digoxina pode extinguir a taquicardia atrial paroxística pelos seus efeitos na condução AV. Concentrações tóxicas de glicosídeos afetam o ritmo sinusal. Isso pode ocorrer em concentrações plasmáticas de digoxina dentro da faixa terapêutica, ou pouco acima dela. A redução da velocidade de condução AV pode culminar em bloqueio AV. Os glicosídeos podem também causar batimentos ectópicos. Como a troca de Na+/K+ é eletrogênica, a inibição da bomba pelos glicosídeos causa despolarização, predispondo a distúrbios do ritmo cardíaco. Força de Contração Os glicosídeos causam grande aumento da tensão de contração em preparações isoladas de músculo cardíaco. O aumento da tensão é causado por um aumento transitório de Ca2+ intracelular. 2 Aspectos Farmacocinéticos A digoxina é administrada via oral ou, em situações de urgência, por via intravenosa. A eliminação ocorre principalmente por excreção renal e envolve a glicoproteína P, levando a interações clinicamente significativas com outros fármacos usados para tratamento da insuficiência cardíaca, como a espironolactona, e com antiarrítmicos como o verapamil e a amiodarona. A meia-vida de eliminação é de aproximadamente 36hs. Usos Clínicos Os glicosídeos cardíacos são usados clinicamente para: o Reduzir a frequência ventricular em fibrilação atrial rápida persistente o Tratamento de insuficiência cardíaca nos pacientes que continuam sintomáticos apesar do uso ótimo de diuréticos e inibidores da enzima conversora de angiotensina Cuidados Deve-se ficar atento para o uso de glicosídeos em pacientes que possuem alta sensibilidade a distúrbios eletrolíticos de potássio, cálcio e magnésio; interações com beta-bloqueadores e bloqueadores de canal de cálcio; e interações com diuréticos. Simpatomiméticos Agonistas de receptores adrenérgicos, também conhecidos como fármacos simpatomiméticos de ação direta, possuem efeitos fisiológicos mediados por diferentes tipos de receptores adrenérgicos. Por meio de sua ação em receptores β1- adrenérgicos, as catecolaminas exercem um potente efeito estimulante sobre o coração. Tanto a frequência cardíaca (efeito cronotrópico) quanto a força de contração (efeito inotrópico) são aumentadas, resultando em expressivo aumento do débito cardíaco e do consumo de oxigênio pelo coração. A eficiência cardíaca é reduzida. As catecolaminas podem também causar distúrbios no ritmo cardíaco, culminando em fibrilação ventricular. A ativação dos receptores β1 e α1 causa hipertrofia cardíaca, provavelmente por um mecanismo similar ao da hipertrofia da musculatura lisa vascular e prostática. Esse fato pode ser importante na fisiopatologia da hipertensão e da insuficiência cardíaca (condições associadas a excesso de atividade simpática). Usos Clínicos Os fármacos simpatomiméticos são utilizados clinicamente para: o Parada cardíaca (epinefrina) o Choque cardiogênico (dobutamina) o Anafilaxia (epinefrina) o Asma (agonistas seletivos de receptores β2) o Descongestão nasal (xilometazolina ou efedrina) Dobutamina A dobutamina é um agonista β1-adrenérgico seletivo. Usada por via intravenosa exclusiva quando se necessita de uma resposta rápida em curto prazo. Possui inotropismo e dromotropismo positivo, porém não causa taquicardia. É utilizada em situações que necessitam aumento da contratilidade cardíaca, ou seja, em ICC, choque cardiogênico, choque séptico, 3 pós-operatório de cirurgia cardíaca, pós-IAM, e situações de bloqueia de condução. Possui uma meia-vida de 2 minutos e seus efeitos adversos incluem arritmias e aumento do consumo de oxigênio cardíaco. Adrenalina A adrenalina, ou epinefrina, é um agonista α/β. Ela atua nos receptores adrenérgicos centrais e periféricos, sendo administrada por via intravenosa e subcutânea. Possui inotropismo, cronotropismo e dromotropismo positivo via receptor β1. Causa vasoconstrição periférica, estímulo elétrico cardíaco generalizado e dilatação dos brônquios e bronquíolos. É utilizada em emergências como: parada cárdio respiratória, insuficiência cardíaca crônica, broncoespasmo severo, choque anafilático, elevação de PA; e como coadjuvante no processo de anestesia local. Dentre seus efeitos adversos estão: arritmias, taquicardia, vasoconstrição periférica importante, picos hipertensivos, convulsões, comprometimento de perfusão tecidual periférica, hiperglicemia e diminuição da diurese. Noradrenalina A noradrenalina, ou norepinefrina, é um agonista α/β. Ela atua nos receptores adrenérgicos centrais e periféricos, sendo administrada por via intravenosa. Possui inotropismo, cronotropismo e dromotropismo positivo, estímulo elétrico cardíaco generalizado com dilatação dos brônquios e bronquíolos, e redistribuição de fluxo sanguíneo para órgãos vitais via receptor β2. É utilizada em emergências como: choque cardiogênico, choque séptico, pós-PCR, elevação da PA com mantimento da perfusão tecidual, e recirculação visceral. Seus efeitos adversos incluem: vasoconstrição periférica, necrose de extremidades, arritmias cardíacas, taquicardia, delírio hiperativo, hiperglicemia e diminuição da diurese. Dopamina A dopamina é o precursor metabólico da norepinefrina e epinefrina, e também transmissor/neuromodulador no sistema nervoso central. Seu uso é controverso, ou seja, serve para restabelecer perfusão tecidual, vasodilatação renal e esplâncnica. Foi muito utilizada para prevenir insuficiência renal aguda em pacientes em choque cardiogênico e séptico, mas nos dias de hoje não tem mais esta utilização. Vasopressina A vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), é um hormônio peptídico da neuro-hipófise com efeito antidiurético e vasoconstritor. Sua ação antidiurética é importante sobre os rins e sua ação vasoconstritora é potente na pele e em alguns outros leitos vasculares. Seus efeitos são iniciados por dois receptores distintos (V1 e V2). A vasoconstrição é mediada através dos receptores V1 presentes 4 na musculatura lisa vascular, exige concentrações mais altas de ADH e envolve ativação da fosfolipaseC. O ADH causa vasoconstrição generalizada, incluindo os vasos celíacos, mesentéricos e coronários. Afeta, também, outros músculos lisos e causa cólicas abdominais por essa razão. É ocasionalmente usado para tratar pacientes com hemorragia em varizes esofágicas e hipertensão porta antes de tratamento mais definitivo. Pode ter, ainda, um lugar no tratamento de choque hipotensivo. O efeito antidiurético é exercido pela ativação de receptores V2 presentes nos ductos coletores renais. Seu uso é emergencial em acasos onde a noradrenalina e dobutamina não são suficientes, em choque séptico, choque hipovolêmico ou cardiogênico e pós PCR. Dentre seus efeitos adversos estão insuficiência renal, arritmias, vasoconstrição de extremidades e hipercoagulabilidade. Levosimedan Através da ação sensibilizadora da troponina C ao cálcio, o levosimedan tem potencial de melhorar a contratilidade cardíaca na sístole sem prejudicar o relaxamento na diástole. Além disso, teria ação vasodilatadora, o que resultaria em melhora do débito cardíaco sem aumentar a demanda miocárdica de oxigênio. Não há aumento importante do influxo celular de cálcio, mas sim a sensibilização da troponina ao cálcio, ocorre aumento da contratilidade com menor dispêndio energético e sem aumento da ocorrência de arritmias. É usada terapeuticamente na ICC refratária ao uso da dobutamina. Tem meia vida de 1h e eliminação hepática e renal. Sendo limitada, têm ação apenas nas primeiras 24 a 48 horas de uso, podendo causar hipotensão arterial em pacientes em choque cardiogênico.