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TUTORIA 3: COMO POSSO TRANSMITIR UMA DOENÇA SE NÃO ESTOU DOENTE ALGUMAS DEFINIÇÕES VDRL VDRL é um exame de sangue para diagnosticar sífilis. O resultado não reativo indica que o paciente nunca teve contato com a bactéria Treponema pallidum. Já o resultado positivo pode indicar que o paciente tem sífilis e o médico solicitará outros exames para confirmar o diagnóstico. 2 400 000 UI O termo unidades internacionais, ou UI, é um sistema de medidas utilizado na farmacêutica e na química, geralmente, para quantificar algumas vitaminas, como a A e a D, bem como alguns fármacos como nistatina (antifúngico), insulina (antidiabético) e somatropina (Hormônio de Crescimento GH). TESTE NAO TREPONEMICO DE 4 DILUIÇOES Reação de RPR com amostra de soro: O RPR é um teste não treponêmico que permite a realização do teste sem inativação da amostra e leitura a olho nu. PENICILINA BENZATINA Benzilpenicilina Benzatina (substância ativa desse medicamento) está indicado no tratamento de infecções causadas por microrganismos sensíveis à penicilina G, que sejam suscetíveis aos níveis séricos baixos, porém muito prolongados, característicos desta forma de dosificação. OBJETIVOS I. Compreender as formas de transmissão e prevenção da sífilis enfatizando a epidemiologia da doença. II. Entender o pré-natal no fluxo de saúde do SUS, correlacionando a rede publica com a privada. III. Conhecer o agente etiológico, relacionando os sintomas e a fisiopatologia IV. Definir as formas Diagnosticas da doença, associando as possíveis formas de tratamento. I. COMPREENDER A TRANSMISSAO E PREVENÇAO DA SIFILIS ENFATIZANDO A EPIDEMIOLOGIA. Exatamente. O risco de infecção em intercurso sexual é de 60% nas lesões de cancro duro e condiloma plano. Alguns fatores são considerados de risco para contrair sífilis: Manter relações sexuais desprotegidas com uma ou mais pessoas & estar infectado com o vírus do HIV, causador da Aids. O risco de contrair sífilis pode ser diminuído com a utilização de preservativos de látex ou com a abstinência sexual. Obs: A doença pode ser transmitida por beijar uma lesão, assim como por sexo oral, vaginal e anal. Entre 30 a 60% das pessoas expostas a sífilis primária ou secundária contraem a doença. Embora a sífilis possa também ser transmitida por produtos derivados do sangue, esse risco é reduzido devido ao rastreio de que estes produtos são alvo em muitos países. O risco de transmissão através da partilha de seringas aparenta ser reduzido. Geralmente não é possível contrair sífilis em assentos de retretes, em banheiras, através de atividades do dia-a-dia ou pela partilha de roupa ou utensílios de cozinha. Isto deve-se ao facto da bactéria morrer muito rapidamente fora do corpo do hospedeiro, tornando muito difícil a transmissão através de objetos. II. ENTENDER O PRÉ-NATAL NO FLUXO DE SAÚDE DO SUS. III. CONHECER O AGENTE ETIOLÓGICO, RELACIONANDO OS SINTOMAS E A FISIOPATOLOGIA Treponema pallidum, o agente etiológico da sífilis, é uma bactéria gram-negativa. O treponema penetra através das mucosas ou da pele, principalmente quando houver soluções de continuidade, ferida-ferida, e atinge a corrente sanguínea e os vasos linfáticos, disseminando-se com rapidez. Depois de período de incubação de 10 a 90 dias (média de três semanas), surge a lesão primária, designada cancro duro, que, em geral, regride espontaneamente depois de 30 dias. O quadro clínico que caracteriza o período secundário surge 4 a 10 semanas depois do início do cancro. Os pacientes podem apresentar mal-estar, febre, mialgia, artralgia, rash generalizado, lesões papulosas, papuloescamosas, queda de pelos e cabelos, lesões mucosas e linfadenopatia. Nesse período, mais de 30% dos pacientes apresentam líquido cefalorraquidiano (LCR) com valores anormais, evidenciando acometimento precoce do SNC. As manifestações do secundaríssimo desaparecem sem tratamento. Em média, seis meses após a involução das manifestações do secundaríssimo, os pacientes entram em período de latência, durante o qual a sorologia é positiva – não há evidencias clínicas da enfermidade e o doente pode permanecer assintomático por toda a vida. Em outros pacientes, podem surgir lesões gomosas, cardiovasculares e/ou neurológicas – estas são as manifestações clássicas do terciaríssimo luético. A sífilis é, também, classificada em duas fases: a recente, com duração aproximada de um ano, compreendendo as manifestações primárias e secundárias e o início da latência, e a fase tardia, caracterizada pela latência tardia e pelos quadros clínicos da sífilis terciária. Em 15 a 30% dos casos o cancro não é percebido pelo paciente ou pode ser atípico, simulando cancro mole, herpes simples, piodermite e úlceras traumáticas. A presença de linfonodos de maior volume, indolores e com localização unilateral na região inguinal é relativamente frequente. Quando não tratado, o cancro persiste, em média, 1 a 6 semanas, desaparecendo espontaneamente após esse período. Em cerca de um terço dos pacientes, o cancro deixa cicatriz levemente atrófica com bordas regulares. As lesões da sífilis secundária podem surgir na vigência do cancro ou, com mais frequência, após a sua regressão. O quadro clínico inicial dessa fase caracteriza-se por erupção macular, de coloração rósea (“roséola sifilítica”), lembrando quadro alérgico ou viral. Gradualmente, essa erupção macular evolui para lesões papulosas, papuloescamosas, placas e, às vezes, lesões papulotuberosas. Manifestações oftalmológicas, auditivas, musculo esqueléticas, renais, hepáticas, gástricas e cardiopulmonares podem ser observadas na fase secundária, quando também se observa linfadenopatia em 50 a 80% dos casos. Como foi mencionado anteriormente, na fase secundária pode haver envolvimento do SNC. O paciente pode apresentar cefaleia e, ocasionalmente, desenvolver meningite, seguindo-se paralisia de um ou mais nervos cranianos. A meningomielite com paraplegia é rara. Mesmo sem tratamento, as lesões cutâneas e manifestações sistêmicas desaparecem de modo espontâneo e, a partir desse momento, o paciente entra no estágio latente. Cerca de um terço dos pacientes com sífilis latente não tratada desenvolverá sífilis terciária. Os demais enfermos permanecerão latentes por toda a vida. As três principais apresentações clínicas da sífilis tardia são as manifestações cutâneas e cardiovasculares e a neurossífilis. Na sífilis tardia observam-se lesões nodulares e gomosas e envolvimento das mucosas. As lesões tendem a agrupar-se, formando placas com aspecto circinado e podem ser encontradas em qualquer parte do corpo, mas predominam na superfície extensora dos braços, no dorso e na face. As gomas resultam de amolecimento, fistulização e ulceração dos nódulos O processo é indolor e ocorre, geralmente, nos tecidos subcutâneo, ósseo e/ou muscular. Essas lesões podem simular tuberculose cutânea, leishmaniose, cromomicose, sarcoidose, esporotricose e tumores. Nas mucosas podem ocorrer lesões infiltrativas e gomosas, principalmente no palato, mucosa nasal, língua, tonsilas e faringe. Entre as manifestações cardiovasculares mais importantes estão aortite, aneurisma aórtico, estenose coronariana, insuficiência da válvula aórtica e miocardite. Antes do advento da penicilina, 23 a 87% dos casos de sífilis progrediam para doença neurológica. Os quadros neu- rológicos mais importantes são: ■ Meningite sifilítica aguda: ocorre no primeiro ano após a infecção. ■ Neurossífilis parenquimatosa: caracterizada por tabes dorsalis, paralisia geral e atrofia óptica. ■ Paralisia geral: caracterizada por sintomas psiquiá- tricos e/ou neurológicos. Os exames neurorradiológicos não são específicos para o diagnóstico da neurossífilis, sendo frequente a ausência de alterações à ressonância magnética ou tomografia computodorizada. O exame sorológico do LCR é o melhor método paradiagnóstico e resposta ao tratamento. SÍFILIS CONGÊNITA Na ausência de tratamento adequado, as mulheres grávidas podem transmitir a doença para o feto, por via transplacentária ou durante o parto. Em geral, quanto mais avançado for o estágio da gravidez, menor será a possibilidade de transmissão transplacentária. A infecção pelo T. pallidum durante a gravidez pode resultar em parto prematuro, morte intrauterina, morte neonatal ou sífilis congênita, a qual, clinicamente, pode ser dividida em precoce e tardia. IV. DEFINIR AS FORMAS DIAGNOSTICAS DA DOENÇA ASSOCIANDO OS POSSÍVEIS TRATAMENTOS. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL SÍFILIS PRIMÁRIA OU CANCRO SIFILÍTICO* A pesquisa de treponema em campo escuro e o exame histopatológico são os mais importantes para a confirmação do diagnóstico. Infelizmente, esses exames não estão dispo- níveis na maioria dos serviços de saúde. Por essa razão, mui- tos pacientes são tratados de acordo com o quadro clínico. O Venereal Disease Research Laboratory (VDRL) torna-se posi vo quatro a cinco semanas após a infecção, e o Fluorescent Treponemal Antibody – Absorption test (FTA- Abs) na terceira semana após a infecção. SÍFILIS SECUNDÁRIA, LATENTE E TERCIÁRIA Os exames de triagem são o VDRL e teste de reagina plasmática rápida (RPR). FTA-Abs, ensaio de hemaglutinação de Treponema pallidum (TPHA) e reação de micro-hemaglu- tinação (MHA- TP) são exames específicos e confirmatórios da sífilis. O teste enzimaimunoensaio (ELISA) apresenta alta sensibilidade (100%) na detecção da sífilis congênita. O VDRL e o RPR são testes úteis e baratos, mas não são específicos, podendo apresentar reação cruzada com hanseníase virchowiana, doença de Lyme, HTLV-1, malária, tuberculose e outras doenças. Em pacientes com quadro clínico suspeito de sífilis e testes inespecíficos com títulos baixos, deverão ser feitos testes treponêmicos, com alta especificidade, como FTA-Abs, TPHA, MHA-TP ou outros. Caso não haja disponibilidade de um desses testes, é aconselhável que o paciente seja tratado como portador de sífilis. Sempre que um paciente tenha resultado de VDRL com títulos baixos – iguais ou menores que 1/8 –, recomendam-se as reações específicas. Como regra geral, deve-se lembrar que quanto mais avançado for o estágio clínico da doença, mais baixo será o título sorológico. Em casos suspeitos de neurossífilis, o exame do liquor deve ser realizado. TRATAMENTO SÍFILIS ADQUIRIDA Sífilis primária Administra-se penicilina G benzatina, na dose total de 2.400.000 UI, por via intramuscular, em dose única faz-se 1.200.000 UI em cada glúteo. Se o paciente for alérgico a penicilina, recomenda-se tetraciclina ou eritromicina, 500 mg por via oral, de 6 em 6 horas, durante 15 dias. Outra alternativa importante para os doentes alérgicos a penicilina é a Ceftriaxona, na dose de 250 mg ou 1 g diário, a cada 2 dias, durante 10 dias. A azitromicina também pode ser utilizada nos casos de alergia a penicilina. Porém, são comumente relata- dos casos de sífilis resistentes a essa última droga. Sífilis secundária Penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por semana, durante duas semanas, na dose total de 4.800.000 UI. A tetraciclina ou a eritromicina, durante 30 dias, é recomendada para pacientes que tenham alergia à penicilina. Sífilis terciária Penicilina G benzatina 2.400.000 UI, por via intramuscular, uma vez por semana, durante três semanas, na dose total de 7.200.000 UI. Neurossífilis O tratamento é hospitalar, com penicilina cristalina, 4 milhões de unidades, por via endovenosa, de 4 em 4 horas, durante 15 dias. Nos casos de neurossífilis assintomática reco- menda-se tratamento ambulatorial com penicilina G procaína – 600.000 UI, por via intramuscular, em dose única, diária, durante 20 dias. Nos casos de alergia à penicilina utilizam-se: Ø Cloranfenicol: 500 mg, de 6 em 6 horas, por via oral, durante 15 dias. ou: Ø Doxiciclina: 100 mg, 12 em 12 horas, por via oral, durante 15 dias. Mulheres grávidas O tratamento é o mesmo recomendado para as não grá- vidas, exceto as tetraciclinas. Crianças Apresentando sífilis adquirida em: Ø Fase recente: penicilina G benzatina, 50.000 UI/kg, por via intramuscular, em dose única. Ø Fase tardia: 50.000 UI/kg de peso, por via intramuscular. Repete-se a mesma dose depois de três semanas. Se houver alergia à penicilina, administra-se eritromicina, na dose de 50 a 100 mg/kg de peso, durante 15 a 30 dias, se for recente ou tardia. SÍFILIS CONGÊNITA Sintomática O tratamento é hospitalar, com penicilina cristalina, na dose de 50 a 100.000 UI/kg de peso por dia, por via endovenosa. Até a primeira semana de vida, dividir a dose total em duas aplicações diárias. Na segunda semana de vida, divide-se a dose total em três aplicações diárias. Já na terceira sema- na, recomenda-se dividir a dose em quatro aplicações diárias. O período mínimo de tratamento da sífilis congênita sinto- mática é de 10 dias. Neurossífilis Na criança sintomática e/ou com liquor alterado e/ou sorologia positiva, recomenda-se tratamento hospitalar com penicilina cristalina – 50 a 100.000 UI/kg de peso/dia, por via endovenosa, durante 14 dias. Poderá ser feito tratamento am- bulatorial com penicilina G procaína, 50.000 UI/kg de peso/ dia, por via intramuscular, em dose única, durante 14 dias. Em todos os casos de sífilis com alergia à penicilina, recomenda-se tentar a dessensibilização ao antibiótico, e os procedimentos para isso podem ser encontrados nos manuais de doenças sexualmente transmissíveis (DST) do Ministério da Saúde. São raros os casos documentados de resistência do treponema à penicilina. SÍFILIS E COINFECÇÃO PELO HIV As úlceras genitais de todas as etiologias, como sífilis, cancro mole, herpes e outras causas, estão associadas ao au- mento do risco de transmissão do HIV. Embora a maioria dos pacientes coinfectados com sífilis e aids apresente resposta sorológica normal, evolução clínica habitual e boa resposta terapêutica, podem ocorrer alterações na história natural da sífilis. Por exemplo, os testes sorológi- cos para sífilis podem apresentar títulos muito elevados. Em indivíduos com aids, apresentando suspeita clínica de sífilis e VDRL negativo, deve-se repetir o teste, após diluição do soro – títulos altos podem levar ao fenômeno denominado prozo- na e, consequentemente, a VDRL negativo. Nos pacientes portadores de aids têm sido encontrados quadros atípicos e agressivos de sífilis. Podem ser observa- dos aspectos clínicos particulares, que levam a denominação “sífilis maligna”, caracterizada por lesões papulopustulosas que evoluem para manifestações ulceronecróticas, acompanhadas de febre, cefaleia, artralgias e outras manifestações sistêmicas. Em HIV-positivos com sífilis, tem-se encontrado com- prometimento oftalmológico importante – frequentemente, as lesões oculares são difíceis de ser distinguidas das mani- festações ocasionadas por citomegalovírus ou HIV. Tem sido registrada evolução mais rápida da sífilis, com quadros clínicos agressivos de neurossífilis. A invasão do SNC pode ocorrer em fases mais recentes da sífilis. Não há consenso sobre os critérios de punção liquórica em pacientes coinfectados com sífilis e HIV. De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, a punção liquórica é recomendada em to- dos os indivíduos coinfectados com sífilis e HIV que apresen- tem pelo menos um dos seguintes critérios: Ø Sinais ou sintomas neurológicos ou oftalmológicos. Ø Evidência de sífilis terciária ativa (p. ex., aortite ou gomas sifilíticas). Ø Sífilis latente tardia ou de duração indeterminada. Ø Contagem de linfócitos T-CD4+ menor que 350 células/mm3. VDRL ≥ 1:16 ou RPR 1:32. Queda inadequada ou estabilização sem queda dos títulos do VDRL, durante o seguimento. Na ausência de contaminação substancial com sangue, o VDRLliquórico é altamente específico para a neurossífilis. No entanto, resultado negativo não exclui o diagnóstico em razão da baixa sensibilidade do teste. São critérios diagnósticos de neurossífilis em pacientes infectados pelo HIV (Ministério da Saúde do Brasil): I. VDRL reagente no liquor. II. Sífilis comprovada sorologicamente, sem sintomas neurológicos; porém, com presença de pleocitose linfomono- nuclear superior de 10 a 20 células/mL e teste treponêmico reagente no liquor. III. Sífilis comprovada sorologicamente e presença de alterações neurológicas compatíveis com neurossífilis (p. ex., neurite óptica, acidente vascular cerebral, hipoacusia neu- rossensorial, meningite ou encefalite aguda ou subaguda) e exclusão de outras potenciais explicações, em pacientes com ou sem alterações liquóricas. Há controvérsias em relação ao tratamento da sífilis as- sociada à aids. Em casos de sífilis recente, apesar do trata mento adequado, ocasionalmente tem-se verificado progres- são para neurossífilis. Existem sugestões para que todos os pacientes com sífilis associada à aids sejam tratados como neurossífilis e que seja feito o “tratamento de manutenção”. Até o momento não há recomendações do Ministério da Saú- de do Brasil, da OMS ou do CDC para que se modifique o tratamento da sífilis recente associada à aids. De acordo com essas instituições, aconselha-se acompanhar os enfermos, com a repetição regular dos testes sorológicos. Entre as alternativas terapêuticas para a sífilis recente, há a utilização de ceftriaxone em doses de 1 g por dia, duran- te dez dias. Para os doentes com sífilis tardia são recomenda- das as mesmas drogas, porém, em posologias adequadas ao caso (ver tratamento da sífilis). Sugere-se que todo paciente com sífilis seja testado para HIV e vice-versa. Toda a discussão sobre sífilis associada à aids tem sido feita em relação ao HTLV-1.