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Anemia ferropriva Hematologia – Prof. Marinho Marques Aula 2 – 22/02/2021 Anemia Condição clínica muito comum; Problema de saúde pública em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento; A maioria das doenças pode cursar com anemia (doenças reumatológicas, infecciosas...); Não é doença/diagnostico; Indica anormalidade: • Genética ou adquirida Eritropoese Célula tronco que pode se diferenciar em progenitores linfoides ou mieloides; A linhagem mieloide que gera as células eritrocitárias e, por fim, as hemácias que são o estado mais maduro; Pincipais causas de anemia microcíticas ( VCM): Deficiência de ferro; Talassemia; Doença crônica; Envenenamento por chumbo; Principais causas de anemia macrocítica (VCM): Deficiência de vitamina B12 e ácido fólico; Anemia aplástica; Mielodisplasia Anemia hemolítica imune; Hepatopatia; Medicina UniFTC – 8º semestre Mª Manuela Ribeiro Principais causas de anemia com VCM normal: Se a contagem de reticulócitos estiver baixa: • Se apenas a linhagem vermelha estiver acometida pode ser um caso de aplasia eritróide (transtorno de produção exclusivo da série eritróide). • Se a contagem de plaquetas e leucócitos estiver alta pensa-se em infecção; • Se a contagem de plaquetas e leucócitos estiver diminuída pensa-se em depressão da MO (mielodisplasia, aplasia de medula ou infiltração por tumor); Se a contagem de reticulócitos for elevada: • Hemólise: se bilirrubina aumentada será uma anemia hemolítica; o Teste de Coombs+: produção de auto-anticorpos contra suas próprias hemácias → Anemia hemolítica autoimune; o Teste de Coombs- : Hemoglobinopatias; Enzimopatias, Deficiência de membrana secundária à drogas, Infeccção; • Sangramento/hemorragia: se a bilirrubina indireta estiver normal; Anemias carenciais Deficiência de nutrientes importantes para a Eritropoese; Principais: • Anemia ferropriva; • Anemia por deficiência de vitamina B12; • Anemia por deficiência de ácido fólico; Anemia ferropriva Ferro é um componente essencial na síntese da hemoglobina (se liga ao grupo heme), mioglobina e participa de muitas reações como na cadeia respiratória. No citocromo é um componente essencial; A quantidade total de Fe no individuo adulto é de cerca de 4g, sendo menor nas mulheres; Cerca de 67% do ferro total está presente na hemoglobina; A molécula de hemoglobina é formada por 4 cadeias globina (2 cadeias alfas e 2 cadeias beta), que formam a hemoglobina A ou hemoglobina A1. No anel do Heme que se ligam as globinas e é onde será transportado o oxigênio para os tecidos; Hemoglobina A1 é a que predomina no adulto. Funções metabólicas do ferro Anemia ferropriva Na dieta habitual é fornecido ao organismo em média 14 mg/dia, porém apenas 1-2mg são absorvidos, ou seja 5-10% do ferro ingerido. É absorvido nas células epiteliais do intestino delgado, particularmente na porção proximal do duodeno e jejuno. Inicialmente e o pH ácido do estomago favorece a absorção do ferro, transformando o ferro férrico em ferro ferroso. Cinética interna do ferro Distribuição e armazenamento do ferro no organismo: Absorve cerca de 1-2mg/dia e excreta mais ou menos a mesma quantidade, então balanço é muito estável. As principais fontes fisiológicas de perda é descamação do epitélio, menstruação, suor. A perda menstrual é uma grande causa de anemia ferropriva em mulheres. O ferro precisa ser estocado, sendo a maior reserva de ferro na hemoglobina (1800mg), depois na medula (300mg), no sistema fagocitário mononuclear (600mg), no fígado (600mg) e nos músculos (300mg). Na membrana apical, voltada ao lúmen, os alimentos que contém ferro chegam na forma de ferro férrico e que para ser absorvido é transformado em ferro ferroso atras da enzima redutase férrica (Fe+3 → Fe+2), na parte apical do enterócito (borda em escova). O ferro ferroso (Fe+2) passa pelo receptor DMT1 (não é exclusivo para absorção do ferro, tendo que competir com todos outros íons com carga +2 para ser absorvido). Uma vez na célula, ele pode se depositar ligado a ferritina ou passar através do citoplasma e ser conduzido pelo receptor ferroportina, esse ferro ferroso (tóxico) é reconvertido em ferro férrico, que será transportado junto a transferrina e guardado para a necessidade. Hepcidina e homeostase do ferro Hepcindina é produzida nos hepatócitos e aumenta em situações de inflamação, associado ao aumento de IL6. A função da hepcidina é inibir a absorção intestinal de ferro e levar a retenção de ferro nos macrófagos, ou seja, o ferro fica indisponível para hematopoese. Em situações de inflamação, a hepcidina vai estar muito elevada e isso atrapalha o metabolismo de absorção do ferro, por isso que em pacientes com anemia crônica precisa primeiro tratar a doença de base para que melhore o metabolismo de ferro como um todo. Homeostase do ferro no organismo Esse equilíbrio depende muito da absorção e está relacionado com o consumo e as perdas. Quando o consumo prepondera a absorção passa a ter uma deficiência de ferro, consumindo os estoques de ferro, gerando a anemia ferropriva. Prevalência de ferro no mundo 20-30% da população mundial tem deficiência de ferro. Prevalência de anemia ferropriva no Brasil: pode variar de 5-60% na população em geral; Mais comum em mulheres e crianças (relacionada as fases de crescimento) na região nordeste; Nas crianças e adolescentes: Na mulher acaba tendo maior risco de desenvolver deficiência de ferro, durante a gestação tem uma necessidade muito grande devido a necessidade da organogênese, lactação e após o parto o retorno ao ciclo menstrual. Principais fatores relacionados a deficiência de ferro Fisiológicos: • Crescimento; • Menstruação; • Gestação; • Lactação; Nutricionais: • Dieta não balanceada; • Vegetarianos (os vegetais possuem um ferro de mais difícil absorção) e desnutrição; Patológicos: • Perda de sangue (menorragia, TGI); • Distúrbios de absorção; • Parasitose; • Medicamentos (AAS, AINH); • Gastrectomia/ gastroplastia; • Distúrbio de coagulação; Procedimentos: • Cirurgia, flebotomia; • Hemodiálise e doação de sangue (homens 4x ao ano e mulheres 3x ao ano); Principais sintomas e sinais relacionados a anemia • Quanto mais grave a anemia, maior as manifestações; Sistema cardiovascular: taquicardia, palpitação, dispneia, sopro sistólico de ejeção ( viscosidade sanguínea), aumento da área cardíaca, hipertrofia ventricular e insuficiência cardíaca; Sistema vascular: redução da temperatura cutânea, palidez cutânea, mucosa e conjuntival, edema; Sistema nervoso central: fadiga, cefaleia, irritabilidade, sonolência, menor capacidade de concentração, menor rendimento escolar e no trabalho, vertigem, depressão, distúrbio da função cognitiva; Sistema gastrointestinal: anorexia e náuseas; Sistema geniturinário: alterações menstruais e diminuição da libido; Sistema imunológico: diminuição da função dos macrófagos e das células T; Pele e fâneros: queda de cabelo, glossite, queilite angular, unhas quebradiças, unha em colher (celoníquia); Causas de deficiência de ferro segundo a faixa etária Crianças: • Dieta inadequada; • Parasitose; • Intolerância à lactose (qualquer situação que lese a borda em escova vai interferir na absorção intestinal); Mulheres pré-menopausa: • Causa ginecológica (menorragia); • 20% sangramento TGI associado Homens e mulheres pós-menopausa: • Sangramento gastrointestinal; Diagnostico de anemia ferropriva Índice de saturação de transferrina é calculado a partir do ferro sérico pela capacidade total de fixação do ferro x 100, e geralmente é abaixo de 20%; Quando a ferritina estiver baixa, não tem outro diagnostico diferente de deficiência de ferro; Diagnostico laboratorial segundo os estádios da deficiência de ferro 1. Incialmente: começa coma depleção das reservas de ferro → o ferro medular já foi todo usado →ferritina começa a abaixar → e ainda assim a concentração do ferro sérico segue normal. 2. Em seguida, a Eritropoese fica deficiente em ferro → ferro medular ausente → ferritina baixa → ferro sérico baixo → índice de saturação de transferrina abaixa → início da hipocromia e microcitose; 3. Anemia ferropriva: ferritina cai a níveis mais baixos → índice de saturação de transferrina reduz mais → piora da hipocromia/microcitose → queda dos níveis de hematócrito e hemoglobina. Anemia Hipocromia + Microcitose Anisocitose + Poiquilocitose Saturação de transferrina < 20% Ferritina <10-20 ng/ml Diasgnóstico de anemia ferropriva Reposição de ferro + Investigação e correção das causas G.V < 5x10/mm³ RDW aumentado Reticulócito normal ou Diagnóstico diferencial das anemias microcíticas Talassemia; Anemia da doença crônica (somente 30% é microcítica); A deficiência de ferro no início pode gerar apenas anemia, depois que o estoque de ferro for sendo consumido que se transforma em uma anemia microcítica; Causas de anemia ferropriva Perda: sangramento menstrual, gastrointestinal e parasitoses e verminoses; Absorção: gastrectomia, doenças do intestino delgado, intolerância a lactose, glúten, doença de Chron; Aumento das necessidades: prematuridade, infância, adolescência, estirão de crescimento, gestações; Investigar na história: • Quantificação da perda menstrual em cada ciclo: <70ml/mês; • Número de absorventes/mês utilizados pela mulher (>15 suspeita de aumento do fluxo/ >20 certeza); • Perda de coágulos; • Perda de sangue noturno; • Sangramento intestinal (melena, hematêmese) • Alterações de hábito intestinal → neoplasia de cólon; • Diarreia, distensão ou desconforto abdominal → doença celíaca; Investigação da causa Investigar origem do sangramento → história e exame físico • Sangramento, gestações múltiplas, gastrectomia; • Procurar massas abdominais (miomas, tumores gástricos e intestinais, hemorroidas); • Hipertensão porta (varizes de esôfago); • Uso de aspirina ou anti-inflmatório; • Endoscopia (avalia esôfago, estomago e duodeno) e colonoscopia (intestino grosso) ou enema opaco (não é um método de visualização direta): tumores TGI, úlcera duodenal e gástricas, angiodisplasia, colite, divertículos. • Capsula endoscópica: avaliação mais simples do intestino delgado, o paciente ingere uma câmera em forma de capsula que vai filmando todo trajeto, caso paciente esteja sangrando e não tenha nenhum outro tipo de perda. Exames de laboratório na anemia ferropriva: Hemograma: • VCM → microcitose • HCM → hipocromia • RDW → anisocitose Ferro sérico baixo (só o ferro isolado não define diagnostico); Ferritina Transferrina Índice de saturação de transferrina Capacidade de ligação do ferro a transferrina (TIBC) Exame de endoscopia: 1 e 4 - tumor/ 2 e 3- úlcera 1 2 3 4 Tratamento 1. Identificar causas 2. Orientação nutricional • Ferro animal • Ferro vegetal (mais difícil absorção) 3) Reposição de ferro • Via preferencial: oral • Dose: 2 a 5 mg/Kg/dia (2 a 3x) → 150 a 200mg de ferro elementar por dia ➔ Deve ser dado antes da refeição para ter uma melhor absorção, pelo menos 1h antes da refeição quando o pH gástrico for mais ácido; Mudança na dieta • Carnes em geral (principal fonte de ferro); • Utilização de sais ferrosos; • Suco de fruta com vitamina C; • Não misturar com leite, chá, chocolates; Fatores que interferem na biodisponibilidade de absorção do ferro não-heme dos alimentos: Fases e duração do tratamento de pacientes com anemia ferropriva: Tratamento para anemia ferropriva 110-200 mg de ferro elementar ao dia em 2 a 3 tomadas (3 a 4 comprimidos da rede básica); Por 4 a 6 meses após a normalização hemograma: • Aumento de reticulócito em 7 a 10 dias; • Normalização do hemograma em 2-3 meses; A rede básica fornece o sulfato ferroso, entretanto pode causar muita intolerância gastrointestinal, cursando com vômitos, náuseas, diarreias, dor epigástrica; Uso de ferro parenteral: sem resposta ou intolerantes ao ferro (sacarato, carboximaltose) – não recomenda IM, por ser uma injeção muito grande e precisa de uma técnica específica. Fazer por IV em um lugar com estrutura adequada. Cálculo para sacarato: (Hb desejada – Hb encontrada) x peso x 3: para correção do Ht. • Acrescentar 600mg em mulheres e 1000mg em homens (repor depósito). • Aplicação 3x por semana e no máximo duas ampolas por vez, sempre diluído em SF, uma ampola para cada 100ml de SF correndo em 1 hora. Causas frequentes de falha no tratamento: Continuidade da perda de sangue; Medicamento usado inadequadamente: • Adesão ao tratamento, dose, duração; Doença coexistente (doença inflamatória/infecciosa): • Infecção por H. pylori, gastrite atrófica e doença celíaca Diagnostico incorreto (ADC, doença renal); Deficiências nutricionais combinadas;