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Introdução Doença inflamatória articular. Origem por disfunção metabólica. Cursa sempre com hiperuricemia, sendo resultado da deposição dos cristais de monourato de sódio nos tecidos musculoesquelético e articulações. Gera inflamação aguda ou crônica, dano articular e osteoartrose secundária com degeneração óssea. Acomete mais homens. As mulheres até a menopausa tem menor acúmulo de ácido úrico, porque os estrógenos otimizam a secreção tubular, promovendo melhor clearence. Manifestações Clínicas Gota Aguda Ocorre aos 50-60 anos, mais comum em homens. Nos primeiros ataques, é monoarticular – acomete principalmente Metatarso-falangeanas (podagra – gota no primeiro metatarso). Predileção por MMII. Recorrência em articulações previamente acometidas. Se não for tratada corretamente, pode evoluir para crises poliarticulares. Dor aguda súbita à noite, iniciada geralmente após exagero alimentar ou alcoólico, com eritema local. Paciente pode não aguentar o lençol. Febre, leucocitose, VHS elevado. Acomete a articulação e os tecidos moles periarticulares também podem ser afetados. Pode ter início extra-articular, afetando a Bursa do olecrano ou o tendão calcâneo. A dosagem de ácido úrico não é útil nessa fase, porque ele está depositado nas articulações, então o paciente pode estar normouricêmico. Gota crônica / Tofáceo Aumento da deposição de cristais de monourato de sódio. Crises mais frequentes e menos espaçadas. Os tofos podem infectar. Locais ocultos de depósito: Pavilhão auricular e olecrano. Hiperuricemia assintomática Achado laboratorial isolado. 1/3 manifesta crises. Essa fase termina quando o paciente tem o 1º ataque de gota ou nefrolitíase. O risco de gota e nefrolitíase aumenta em relação ao grau e duração da hiperuricemia. Nefrolitíase por Urato 20% dos pacientes com gota. Os cálculos são radiotransparentes. ph urinário < 5,5 + aumento da uricosúria (>800mg) Pode ocorrer distorção, destruição e fibrose do parênquima renal pela deposição dos cristais. IRC de lenta progressão. Fisiopatologia Acúmulo de ácido úrico, que precipita e gera crise inflamatória. Pode ocorrer por aumento da produção (10%) ou por diminuição da excreção de ácido úrico (90%). o Aumento da produção: consumo de purinas, álcool, policitemia, psoríase, etc. o Diminuição da excreção: RI, drogas, doença renal, IAM, acidose lática, diminuição do volume plasmático. Não existe gota sem hiperuricemia. Nem toda hiperuricemia evolui para gota. Em pacientes com produção aumentada de purinas, evidenciada pela uricosúria 24h elevada, pode ocorrer cálculo renal de ácido úrico. Diagnóstico Clínico na fase aguda. Punção do líquido articular para microscopia de luz polarizada (padrão ouro). Realizar quando dúvida diagnóstica. Artrocentese (quando em local possível) – diferencia da artrite séptica, porque o líquido é amarelo, não purulento, não opaco. Paciente tipicamente alcoólotra – GGT aumentado e TGO>TGP. Uricosúria de 24h – realizar apenas após a crise. Exames adicionais Perfil lipídico HbA1C Uricosúria de 24h (realizada após a crise, para medir o nível basal de ácido úrico) RX do membro afetado - osso com erosão em ‘’saca-bocado’’ + acúmulo de cristais. Preservação do espaço articular. Manejo da Crise aguda de Gota Iniciar com monoterapia: Colchicina (melhor escola), Corticóide, AINE. Se a monoterapia falhar, trocar de medicamento. Se mesmo com a troca o paciente persistir sintomático, associar 2 dos medicamentos de escolha. Repouso articular. o Colchicina: 2cp a cada 12/12h ou 8/8h de 0,5mg (dose de ataque) + 1-2cp/dia por 30 dias. Atentar em pacientes com doença hepática grave. Educação do paciente: Dieta e MEV (perda de peso para melhorar a sensibilidade a insulina). o Recomendado: Beber muita água (dilui a concentração de ácido úrico), consumir apenas laticínios com pouca gordura (efeito uricosúrico), consumir vinho tinto (não está associado com hiperuricemia, diferente da cerveja e cereja (efeito anti-inflamatório), café, vegetais. o Evitar: cerveja, carne gorda, refrigerante. Terapia anti-hiperuricêmica Uricosúricos: Probenecide e Benzobromarona – para pacientes hipoexcretores. ‘’Adjuvantes’’ uricosúricos: Losaratana, Estatinas, Fibratos e Anlodipino. Nem todo paciente deve tomar Alopurinol, mesmo com hiperuricemia. Se for prescrito, iniciar com dosagens baixas de 100mg. Não iniciar Alopurinol em crise aguda, porque piora a inflamação. Diminui a síntese de ácido úrico, tendo como objetivo uricemia < 6,0mg/dl. Observação: HCTZ e AAS diminuem a excreção renal de ácido úrico. Pseudogota/ Condrocalcinose Doença causada por depósito de pirofosfato de cálcio. Acomete mulheres com mais de 60 anos. Artropatia inflamatória aguda ou crônica. Acomete principalmente joelhos, punhos e 2º e 3º metacarpofalangeanas. Aguda: Joelho, monoarticular, súbita. Crônica: Alterações articulares degenerativas lentamente progressivas, tendem a acometer várias articulações (joelho é a mais comum). Crises agudas intermitentes. Rápida destruição articular. Artrocentese: Líquido hemorrágico e inflamatório. Crise dura 1-2 semanas. RX evidencia condrocalcinose.