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O DIREITO A VIDA DAS BALEIAS Anais2017-09082017

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Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões
22 e 23 de maio de 2017 – ISSN 2176-8439 – 354
O DIREITO À VIDA DAS BALEIAS E A SUA IMPORTÂNCIA PARA O
MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO: UMA
ANÁLISE DOS MEIOS CRUÉIS UTILIZADOS PARA A CAÇA ÀS
BALEIAS E A PERSPECTIVA POSITIVA DO DIREITO
INTERNACIONAL ECOLÓGICO259
Bruno Bender da Luz260
Orientadora: Luana Maíra de Moura Almeida261
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Para caçar uma baleia, o caçador deve lançar o arpão, que deve penetrar
cerca de 30 centímetros dentro da carne do animal, antes de detonar uma granada
que este possui na ponta. Com a explosão, a baleia fica muito machucada, a
explosão da granada pode provocar um grande ferimento em seu corpo, a qual
acaba morrendo por hemorragia. A sua morte pode ser rápida, ou ela pode agonizar
lentamente por mais de uma hora. Esse é o método para se caçar uma baleia, e é
diante dessa cruel realidade que o resumo tratará sobre o impacto negativo que a
caça desenfreada das baleias pode causar no ecossistema. Objetiva, ainda, analisar
o livro datado do século XIX, Moby Dick, escrito por Herman Melville em 1851, a
legislação internacional de caça às baleias e Comissão Baleeira Internacional (CBI),
a qual, desde 1946, vem criando medidas com o propósito de conservação das
baleias através do Direito Internacional. A metodologia utilizada nesta pesquisa
abrange o modo de análise prioritariamente hipotético dedutivo. Utiliza-se a pesquisa
bibliográfica, documental e a observação participante dos fenômenos políticos
contemporâneos.
ANÁLISE E DISCUSSÃO
Já na obra Moby Dick de Herman Melville, publicado em 1851, é possível ter
noção de como era feita a caça de baleias. O romance é escrito através de uma
narrativa do único sobrevivente do fato, que vivia em Nantucket, uma vila localizada
no leste dos Estados Unidos, caracterizada pelo grande encontro de navios que
possuíam apenas um intuito: caçar baleias. A caça das baleias era muito favorável
naquela época em que não se tinha energia elétrica, pois o óleo de baleias servia
como combustível para lampiões, os quais iluminavam a cidade inteira. Durante sua
viagem ao mar, o capitão do navio baleeiro acaba ficando cego por caçar a baleia
responsável por arrancar uma de suas pernas na sua última caça. Com sede de
vingança, ele descreve no livro todos os tipos de ferramentas e métodos que
utilizaria quando encontrasse novamente aquela baleia, conhecida nos sete mares
por sua força e tamanho, era ela a Moby Dick. A baleia, descrita por diversos
pescadores, tinha força para derrubar um navio inteiro de até 20 toneladas, era
259Resumo Expandido feito para a XVII Mostra Regional de Trabalhos Jurídicos.
260Acadêmico do 3º Semestre do Curso de Direito da Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – URI – Campus de Santo Ângelo. E-mail: brunobender100@gmail.com
261Mestre em Direito. Professora e Coordenadora do Núcleo de Monografias do Curso de
Graduação em Direito na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI),
campus Santo Ângelo, RS, Brasil. E-mail: luana.mmalmeida@gmail.com
Promoção: Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional Integrada
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 Rua Universidade das Missões, 464 – Santo Ângelo/RS
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branca como a neve. Um dos pontos, inclusive, que chama atenção na obra,é a
minuciosa descrição do seu corpo, que, quando foi avistado, tinha diversos arpões
cravados, resultantes de outras tentativas de caça ao animal que foram mal
sucedidas, assim como cordas enroladas neles e até redes de pesca (MELVILLE,
1851). 
Diante dessa narrativa, uma das mais importantes da literatura americana e
conhecida também no mundo todo, a indagação que se faz é sobre o número de
baleias que foram perdidas ou escaparam durante a caça, com arpões cravados nos
seus cascos, agonizando até sua morte, durante o início da era industrial, e, porque
não dizer, até a modernidade. Não é à toa, que elas quase entraram em extinção.
Durante muitos anos, se teve a ideia de que a proteção as baleias era algo
inútil, com a visão de que elas não alteravam em nada o ecossistema e, por isso,
durante o século XX, foram mortas 2,9 milhões de baleias em todo o mundo, e cerca
de 71% das baleias caçadas no mundo nessa época, foram no hemisfério sul, de
acordo com pesquisas realizadas pelo Santuário das Baleias (BRASIL, Ministério do
Meio Ambiente, s.a.). Mas ao contrário do que se pensava, as baleias possuem um
papel de extrema importância ecológica, conforme destacado abaixo:
Na caça por pequenos animais, essas baleias “comem” grande parte do
sedimento e com isso modificam a suspensão de nutrientes e sedimentos
na coluna d’agua, contribuindo para a ciclagem dos nutrientes. As baleias e
os golfinhos são tão importantes que até as fezes desses animais vão ser
úteis para o ambiente. Como? No oceano austral, há uma grande
deficiência por Ferro. As cachalotes (Physetermacrocephalus) se alimentam
de lulas e outros animais em grandes profundidades, mas como um
mamífero marinho, precisa subir a superfície para respirar. Nesse processo,
muitas vezes esses animais que podem chegar a medir 18 metros e pesar
45 toneladas, defecam na superfície. A concentração de ferro nas fezes
deles, muitas vezes, pode ser maior que 10 milhões de vezes o do
ambiente. Essa concentração de Ferro extra no ambiente acaba
“fertilizando” o lugar e aumentando o processo de fotossíntese realizada
pelo fitoplâncton. Até na morte, as baleias tornam úteis para o ambiente.
Imagina uma baleia de 40 toneladas morta, boiando no mar? Um banquete
para centenas de espécies animais. Comida para muitos dias. Muitas vezes,
estas carcaças de baleias afundam e com isso aumentam a produtividade
local e fornecem abrigo para uma grande diversidade de animais, assim
como uma árvore que cai em uma floresta. Estes são apenas alguns
exemplos da importância das baleias e dos golfinhos para o ambiente
marinho (TARDIN, 2014, s.p.).
Essa pode ser, então, razão bastante clara para não caçar a esses
mamíferos: a sua importância no ecossistema como um todo. Assim, essa reflexão,
poderia ser feita de maneira bastante simples e objetiva, sem considerar o direito à
vida da baleia, mas sim, apenas através de uma reflexão ainda antropocêntrica que
constata que, os atingidos, à longo prazo, e também prejudicados, seriam os
próprios seres humanos.
É de se referir, contudo, que, como já supracitado nas considerações iniciais,
os métodos para caçar as baleias são extremamente cruéis. Nesse sentido,
enquanto se assiste vidas estão sendo devastadas por interesses meramente
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econômicos, de outro lado, famílias se utilizam da caça apenas para a própria
sobrevivência, como é o caso de pequenas comunidades na Islândia, que caçam de
maneira sustentável, por tradição e que acreditam que, a longo prazo, não há
consequências, como destaca Geneviève Desportes, do North Atlantic Marine
Mammal Commission (HOGENBOOM, 2015, s.p.).
Em dezembro de 1946, na cidade de Washington, foi instituída uma Comissão
Internacional da Baleia, com o intuito de dificultar, através dos meios jurídicos
conducentes, a caça às baleias. Acontece que, alguns países como Japão, Islândia
e Noruega ainda praticam a caça. Os islandeses deram como a justificativa da caça,
o excesso de carne consumido pelos turistas, já que sua população é muitopequena
para a alta demanda da caça praticada por eles. Já o Japão, afirma que só caça
com o intuito de realizar pesquisas, o que foi comprovado que não é verdade, em
vista de que a carne das baleias foi encontrada em diversos mercados e
restaurantes japoneses (HOGENBOOM, 2015, s.p). Aí está a brecha deixada pela
Comissão Baleeira Internacional (CBI): o fato da comissão permitir a caça para fins
de pesquisa e em pequenas quantidades para a alimentação própria de famílias que
vivem da caça da baleia. 
Em 2014, ocorreu o julgamento do Japão, pela Corte Internacional de Justiça,
através das denúncias feitas pela Austrália, de que o Japão estaria mascarando a
caça às baleias com pretexto de pesquisas científicas. 12 dos 16 juízes decidiram
que o Japão estava violando três das provisões expressas nas legislações
internacionais assinadas em convenção internacional. Apesar de negado pelo
Japão, os juízes ordenaram que o país revogasse qualquer autorização que tenha
sido expedida para matar ou coletar baleias (INTERNATIONAL COURT OF
JUSTICE, 2014).
Atualmente, no mundo existem dois santuários onde são proibidas as caças,
frutos das iniciativas do Direito Baleeiro. Um encontra-se ao sul do oceano índico e o
outro, por toda a faixa continental da Antártida. Na CBI, atualmente, as reflexões
giram em torno da criação de novo santuário, localizado no Oceano Atlântico Sul,
oceano que fica entre o Brasil e o continente Africano. Porém, como existem muitos
países que aproveitam para pescar nesses lugares, os votos contra a criação desse
santuário ainda são superiores aos favoráveis. O que dificulta o entendimento do
porquê, pessoas que deveriam estar em uma Comissão para defender o direito das
baleias, estão lá para defender seus interesses meramente econômicos. Para ser
criado é preciso que ele seja aprovado pela Comissão Internacional Baleeira,
composta atualmente por 80 países. A votação que ocorreu em outubro de 2014 foi
rejeitada, por alcançar apenas 60% de aprovação (AVELINO, 2016, s.p.)
Das diversas espécies existentes, algumas estão em números bem
favoráveis, pois, não correm o risco de extinção. Mas algumas espécies podem
chegar a apenas 400 baleias vivas nos oceanos de todo mundo. Três espécies
encontram-se seriamente ameaçadas, enquanto outras 12 estão em uma situação
crítica, correndo risco de extinção caso a caça seja legalizada (BRITES, 2007, s.p). 
Nesse sentido, necessária a cooperação internacional na proteção das
espécies, tendo em vista que o Alto Mar, onde se encontram muitas dessas baleias é
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um patrimônio comum da humanidade, que “[...] corresponde às regiões que não
estão sob o domínio direto de Estado algum e cuja preservação é de interesse de
toda a humanidade” (VARELLA, 2011, p. 240). Necessário, ainda, “[...] sair de si
mesmo rumo ao outro”, tendo em vista que “Sem tal capacidade, não se reconhece
às outras criaturas o seu valor, não se sente interesse em cuidar de algo para os
outros, não se consegue impor limites para evitar o sofrimento ou a degradação que
nos rodeia” (PAPA FRANCISCO, 2015, p. 166-167).
A recuperação das populações de baleias proporcionada pela sua proteção,
também promoveu um renascimento da cultura em muitas regiões, com festividades,
eventos e atividades educativas relacionadas a presença das baleias. Parte que se
faz fundamental do imaginário das pessoas e da construção de sua identidade com
o mar, sem falar na importância de se assegurar a importância da recuperação das
baleias para que elas possam cumprir seu importante papel na ciclagem de
nutrientes nos oceanos e enquanto elementos essenciais do ecossistema marinho
para ajudar a combater a mudança climática e reforçar a capacidade dos oceanos
em absorver carbono (TARDIN, 2015, s.p.). 
Percebem-se importantes valores sociais, culturais ambientais e econômicos
para que a preservação e a recuperação das baleias se dê de forma efetiva, através
dos tratados assinados pelos estados membros da Comissão garantindo não
apenas a diminuição da caça, mas servindo, também, como importante marco para
fortalecer a cooperação internacional das regiões. Isso pode promover o intercâmbio
de informações científicas, o desenvolvimento do turismo de observação, que é
fonte de sustento para diversas comunidades que antes viviam da caça e agora
podem, de forma sustentável, continuar com a sua fonte de renda nas observação
das baleias sem que haja prejuízo do meio ambiente, e também a valorização
cultural das baleias como recurso compartilhado.
Além disso, nota-se outro ponto bastante positivo da criação do santuário de
baleias do Atlântico Sul: trata-se de uma reivindicação das comunidades, que têm o
direito a ver o uso não letal das baleias como parte de sua qualidade ambiental,
seus valores culturais e, assegurada, sua prosperidade econômica (MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE, 2014). Diante disso, importa reconhecer o valor de cada
espécie para o meio ambiente como um todo, não sendo possível atribuir ao ser
humano o cume da pirâmide existencial. Cada animal, cada ser vivo possui sua
importância para a natureza e para a existência do outro e para o equilíbrio
ecológico do qual depende a sobrevivência de todas as espécies.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, com o início de caça industrial das baleias que resultou na
diminuição expressiva e quase extinção de muitas espécies e diante de todos os
argumentos levantados por países membros da Comissão, é possível questionar
qual o comprometimento da espécie humana com as baleias? Sabe-se que nos dias
atuais, e com seu início já há cerca de 40 anos, é possível fazer pesquisa através de
métodos não letais e não prejudiciais a este grande mamífero. Isso, por si só, já
descartaria argumento do Japão em continuar caçando grande número de baleias
em prol de pesquisas. No que se refere aos aspectos econômicos envolvendo
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algumas comunidades Islandeses, nota-se também que é possível viver da
observação das baleias: é possível aliar todos esses itens e diminuir ou até mesmo
proibir a sua caça em todo o território marítimo do mundo. Basta que os membros da
CBI queiram. A preservação da baleia só trará benefícios ao meio ambiente e a toda
humanidade.
REFERÊNCIAS
AVELINO, Carlos. O Santuário das Baleias no Atlântico Sul. Publicado em 14 de
novembro de 2016. Disponível em: <https://carlosavelino.com/2016/11/14/o-
santuario-de-baleias-do-atlantico-sul/>. Acesso em 30/04/2017.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Vamos recuperar as populações de baleias
do atlântico sul! In: Santuário das Baleias. Disponível em:
<http://santuariodebaleias.mma.gov.br/pt/vamos-recuperar-as-populacoes-de-
baleias-do-atlantico-sul/>. Acesso em 22/04/17.
BRITES, Alice Dantas. Baleias: Histórico da caça de baleias no mundo. In: Uol
Educação.2007. Disponível em:
<https://educacao.uol.com.br/disciplinas/biologia/baleias-historico-da-caca-de-
baleias-no-mundo.htm>. Acesso em 25~04/2017.
HOGENBOOM, Melissa. Por que a caça a baleia ainda é permitida. In: BC Earth.
2015. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151214_vert_earth_caca_baleias_
lab>. Acesso em 25/04/2017.
MELVILLE, Herman. Moby Dick. Estados Unidos: Harper & Brothers, 1851.
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica ‘Laudato si’- Sobre o cuidado da casacomum.
São Paulo: Paulinas, 2015.
TARDIN, Rodrigo. Porque proteger as baleias? Sobre a importância ecológica das
baleias e golfinhos. 2015. Disponível em:
<https://econserv.wordpress.com/2015/11/19/porque-proteger-as-baleias/>. Acesso
em 25/04/2017.
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
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