Buscar

Prévia do material em texto

1
GESTÃO ESCOLAR: ANÁLISE DO GERENCIAMENTO DE RECURSOS EM
UNIVERSIDADES DO RJ
MSc Francisco Coelho Mendes1
Marisandra Neri Nunes2
1. INTRODUÇÃO
Em virtude da evolução social e das mudanças nos processos de gestão educacional, as
instituições públicas de ensino procuram adaptar-se às características do sistema social
que as envolvem. Uma boa gestão de recursos poderá servir de suporte para o
crescimento e desenvolvimento organizacional.
Este estudo refere-se ao desenvolvimento de um projeto de pesquisa que versa sobre
gestão dos recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos das universidades
públicas federais do Rio de Janeiro, abordando a gestão escolar, gestores educacionais e
tecnologia na gestão escolar.
Vários são os questionamentos feitos sobre a gestão de órgãos públicos como: má
distribuição de recursos, atraso no andamento dos processos, uso indevido dos recursos
públicos, falta de zelo para com o patrimônio público, falta de materiais de consumo,
entre outros. Na gestão escolar não é muito diferente. Porém, a instituição escolar
diferencia-se das empresas convencionais por apresentar um sistema de relações
humanas e sociais com características interativas, que se refere aos princípios e
procedimentos relacionados à ação de planejar o trabalho da escola, racionalizar o uso
de recursos, coordenar e avaliar o trabalho das pessoas de forma democrático-
participativa.
 
1 Docente UFRRJ. E-mail: fcmgvm@gmail.com
2 Discente UFRRJ
2
Dessa forma, este estudo propõe conhecer como estão sendo geridos os recursos
humanos, financeiros, materiais e tecnológicos das universidades públicas federais do
Rio de Janeiro. Propõe também analisar se a gestão dos recursos dessas universidades
está alinhada ao desenvolvimento de novos métodos de trabalho e práticas de gestão no
que se refere aos serviços prestados. Além de verificar a influência do gerenciamento
dos recursos no processo de gestão das universidades em estudo e contribuir com
sugestões de melhorias para os problemas de gestão pública na área da educação.
Em se tratando de educação, em particular do ensino público, as lições básicas para o
bom atendimento do cliente são: o cliente define a qualidade apropriada do produto ou
serviço e a um preço justo. Nesse caso, o preço justo refere-se à correta gestão de
recursos e do ensino de qualidade como forma de retribuição para a sociedade que
custeiam as despesas dos órgãos públicos, dentre eles as universidades públicas.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Gestão Escolar
Lombardi (2006), enfatiza três olhares ou visões para exemplificar o que está querendo
demonstrar sobre gestão escolar. A primeira é a visão a-histórica que trata a escola que
temos como um tipo de organização que sempre existiu mais ou menos dessa forma
como a conhecemos hoje, com essa estrutura, essa organização. Essa visão tende a
eternizar a escola que, assim, não teria passado, nem futuro, mas apenas presente. Essa
perspectiva a-histórica, ao transformar as coisas, os homens e as relações numa mera
idéia fora do tempo, resulta na decretação do fim da história, o que é o mesmo que dizer
que não importa o passado, nem adianta pensar no futuro, pois o presente é a única
referência e o único horizonte.
A segunda é a perspectiva anacrônica que considera a escola de ontem como muito
melhor, em sua estrutura, em sua organização, em sua disciplina e em seu conteúdo, do
que a escola de hoje. Colocando ênfase no discurso e na memória, que são certamente
de fundamental importância para o entendimento do que se passou com nossa história,
com nossas vidas e com nossa escola, acaba direcionando a discussão para o passado
como um momento qualitativamente superior, desconsiderando as transformações
3
ocorridas ao longo da história, algumas, inclusive, significando avanços importantes
para a sociedade como um todo.
A terceira é a visão idealizada da escola, tomada como imagem e semelhança de uma
sociedade igualmente idealizada, que toma tudo, todos e todas as relações como mera
representação, ou como expressão ideal e distorcida da realidade, ou simplesmente
como uma idéia geral e abstrata do mundo, do homem, da vida e de todas as coisas. A
história da escola fica meio parecida com uma “estória” que, em lugar de tratar das
situações reais que a envolve, sempre está a construir idéias como expressão da
realidade.
Segundo Lombardi (2006), com essas três visões, que são como aspectos
indiferenciados de uma mesma e única dimensão, Ele expressa algumas das várias
opiniões arraigadas que se tem sobre o mundo, a sociedade, a vida e o trabalho, e
também sobre a escola, sobre a administração escolar e sobre o papel do diretor de
escola. Lombardi ilustra que essas opiniões chegam aos cidadãos, acompanhando a
avalanche de informações que se recebe todos os dias. E cita como exemplo, sem querer
com isso questionar a seriedade ou competência do órgão de informação, está contida
em três matérias publicadas pelo Jornal Folha de São Paulo, de 18 de setembro de
2005. A principal tem um título bastante revelador: “Político escolhe 60% dos diretores
de escola”. O início da matéria é a síntese de seu conteúdo ao afirmar que “Maioria das
indicações é feita pela prefeitura ou pelo Estado; e alunos dessas instituições têm
desempenho inferior” A pedido do jornal, o INEP (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais, do MEC), tabulou e cruzou dados que mostram que 59,8% dos
diretores de colégios públicos foram indicados em 2004. Em alguns Estados esse
percentual é extremamente alto, Amapá (94,7%), Rio Grande do Norte (92,3%) e
Sergipe (92,0%).
Segundo Lombardi (2006), os métodos considerados mais democráticos ou
meritocráticos, mas que “são práticas pouco habituais no sistema público”. Os dados
tabulados são chamados a referendar essa opinião quanto ao caráter mais ou menos
democrático da escolha do diretor. O percentual de diretores eleitos no país é de 19,5%
e, somente em cinco Estados, “o percentual de eleitos supera o de nomeados: Acre
(onde 72,3% foram escolhidos por eleição), Paraná (58,8%), Rio Grande do Sul
4
(50,9%), Mato Grosso (48,3%) e Mato Grosso do Sul (44,6%)”. O percentual de
concursados é de 9,2%, sendo que somente em um único Estado a proporção de
escolhidos por concurso supera a de nomeados: São Paulo, onde 51,8% dos diretores
passaram por concurso público.
Conforme observado através do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica), a qualidade do ensino tem uma relação direta com a escolha do diretor, num
raciocínio mecânico de extremo simplismo, como se pode constatar pela citação do
trecho que trata do assunto:
“[...] a indicação política é, segundo o SAEB (exame do MEC que avalia a
qualidade da educação), a que tem mais impacto negativo no desempenho
dos estudantes. No exame de 2003, em todas as seis provas (são aplicados
testes de português e matemática para alunos de quarta e oitava séries e do
terceiro ano do ensino médio), os alunos que estudavam em escolas
dirigidas por diretores nomeados politicamente tinham o pior desempenho.
Os melhores desempenhos foram de alunos de colégios onde a escolha foi
feita por concurso ou eleição.” (Gois, 2005)
Outras duas matérias do Jornal Folha de São Paulo, de 18 de setembro de 2005,
completam o quadro traçado por Góis (2005). Uma que tem como título: “Sistemas
necessitam de ajustes” e que afirma que sozinha a eleição direta do diretor “não é
garantia de uma gestão democrática da escola” e, ainda, que a escolha do diretor por
concurso “não é certeza de uma administração eficiente”. Para respaldar a afirmação
alinhava pequenos trechos de “depoimentos” de secretários da educação de dois Estados
(Acre e São Paulo) e de técnicos do INEP. A outra matéria tem sugestivo título “Boa
gestão melhora nota de aluno” que faz propaganda de projeto desenvolvido por um
instituto junto a diretores da rede pública dos Estados de São Paulo eSanta Catarina.
Recorrendo a dados estatísticos, afirma que há comprovação que, no curto prazo,
melhorando a gestão do diretor na escola, também há melhora no rendimento dos
alunos.
Segundo Lombardi (2006), a compreensão histórico-filosófica da história pode
possibilitar um melhor entendimento do conteúdo da disciplina “Gestão Escolar:
abordagem histórica”, na medida em que possibilita a contextualização da organização
5
escolar brasileira e, em seu interior, de como se organiza a gestão escolar. O Autor
procura sintetizar a visão da história que tem os seguintes princípios norteadores:
princípio da determinação material (determina e torna possível a forma de organização
da vida social e da escola); princípio da totalidade (a organização escolar e, em seu
interior, a gestão escolar, constituem partes articuladas do todo econômico, social e
político); e princípio da transformação (a organização escolar está em constante
processo de transformação, acompanhando a produção da existência dos homens, de seu
modo de produção; ao se transformar o modo de produção, suas mudanças também são
acompanhadas por toda a organização social, jurídica e política).
A explicitação desses pressupostos se faz necessária em vista dos fundamentos
geralmente adotados pelos teóricos da administração escolar no Brasil e que, por vezes,
a tomam em si mesma, fundamentando a exposição na legislação, também tomada como
auto-explicativa, ou nas teorias administrativas existentes para as empresas. Nesse caso,
a administração escolar adota como pressuposição uma suposta universalidade dos
princípios da administração adotados na empresa capitalista, como se eles pudessem ser
transplantados mecanicamente para todas as organizações de modo geral. Na escola,
esses princípios foram adotados com o intuito de fazer a educação alcançar maior
eficiência, produtividade e êxito, identicamente ao que se faz em relação às atividades
empresariais.
Segundo Felix (1985, p. 71), o pressuposto lógico-formal adotado é o de que “[...]
enquanto a administração de empresa desenvolve teorias sobre a organização do
trabalho nas empresas capitalistas, a administração escolar apresenta proposições
teóricas sobre a organização do trabalho na escola e no sistema escolar”. Na
administração escolar, portanto, podem ser identificadas as diferentes teorizações da
administração de empresa, nada mais se fazendo que a mera aplicação dessas teorias à
educação.
Segundo Romanelli (1999, p. 18), a administração deve ser entendida como resultado de
um longo processo de transformação histórica, que traz as marcas das contradições
sociais e dos interesses políticos em jogo na sociedade. Ou seja, ao invés de se partir de
um conceito de administração abstrato e geral, deve-se entendê-la como expressão
6
abstrata de relações que são “historicamente determinada pelas relações econômicas,
políticas e sociais, que se verificam sob o modo de produção capitalista [...]”.
Segundo Saviani (1996, p. 52), a educação no Brasil vem caminhando sempre um passo
atrás do seu desenvolvimento. "... Razões intrínsecas à nossa cultura separam a
educação do desenvolvimento...". E prossegue ainda em sua afirmação: "A educação
para o desenvolvimento é a que promove o povo para desempenhar funções hoje
reservadas às elites. Mas o desenvolvimento exige rupturas no sentido de construção de
equilíbrio. Ruptura com o estilo liberal a que estamos abraçados, às vezes sem o
saber." (Saviani, 1996, p. 70).
Portanto, na educação em vez de mudar os modelos para se adequar a realidade, tentam
mudar a realidade para se adequar aos modelos preestabelecidos. Geralmente, busca-se
modernizar a estrutura da educação para acompanhar o desenvolvimento econômico, e
se esquece de procurar onde está a falha que provocou e alimentou essa defasagem
educacional.
É o entendimento desse processo de transformação que possibilita entender como se deu
a organização e a transformação do sistema educacional brasileiro, a forma como as
escolas se constituíram, os regulamentos, as normas e as leis criadas para melhor
organizar o seu funcionamento, as concepções filosóficas e pedagógicas que, em cada
período, nortearam as inúmeras propostas de reformas educacionais.
Não poderia se falar em gestão escolar sem mencionar o uso da tecnologia como
ferramenta de auxílio às mudanças do processo ensino-aprendizagem.
Tecnologia na Gestão Escolar
Quando se fala em tecnologias costuma-se pensar imediatamente em computadores,
vídeo, softwares e Internet. Sem dúvida são as mais visíveis e que influenciam
profundamente os rumos da educação. Mas o conceito de tecnologia é muito mais
abrangente. Tecnologias são os meios, os apoios, as ferramentas que se utiliza para que
7
os alunos aprendam. A forma como se organiza em grupos, em salas, em outros
espaços, isso também é tecnologia. O giz que escreve na louça é tecnologia de
comunicação e uma boa organização da escrita facilita e muito a aprendizagem. A
forma de olhar, de gesticular, de falar com os outros, isso também é tecnologia. O livro,
a revista e o jornal são tecnologias fundamentais para a gestão e para a aprendizagem e
ainda não se sabe utilizá-las adequadamente. O gravador, o retroprojetor, a televisão, o
vídeo também são tecnologias importantes e às vezes são muito mal utilizadas.
Segundo Silva (2003), os principais colégios e universidades do Brasil utilizam
programas integrados de gestão, que são utilizados para reduzir a circulação de papéis
(formulários, ofícios, processos) tão comuns nas escolas públicas e podem converter
todas as informações em arquivos digitais que vão sendo catalogados, organizados em
pastas eletrônicas por assunto, assim como se faz na secretaria, só que ficam
armazenados em um computador principal, chamado servidor.
Segundo Moran et. alii (2003), as condições de gerenciamento de muitas das escolas
públicas são precárias. Infra-estrutura deficiente, professores mal preparados, ambientes
de trabalho inadequados. Mesmo reconhecendo essa dificuldade organizacional
estrutural, a competência de um diretor de escola pode suprir boa parte das deficiências.
Isso, às vezes depende da capacidade de liderar, de motivar, de encontrar soluções para
driblar o orçamento precário, além da liberdade, confiança e amizade depositada em
seus parceiros. O incentivo do gestor para que os professores aprendam, se aperfeiçoem
e inovem deve ser constante. A escola deve estar aberta à comunidade com atividades
de lazer e de aperfeiçoamento.
Dessa forma, o profissional da área de educação necessita ter uma visão sistêmica do
papel de sua organização junto à sociedade e do seu papel junto à instituição para que
possa trabalhar novas formas de construção do conhecimento, visando a melhoria
contínua do ambiente escolar. O gestor precisa superar as limitações organizacionais e
contribuir para transformar a escola em um espaço criador, em uma comunidade de
aprendizagem utilizando os recursos e as tecnologias disponíveis.
Gestão de Recursos
8
Segundo Galvão & Mendonça (1999), a gestão de recursos pode definir a qualidade
apropriada do produto ou serviço e a um preço justo. Deve-se traduzir as expectativas
do cliente em informações úteis, levar em consideração as alternativas da concorrência
ao analisar as expectativas do cliente, considerar que as expectativas do cliente são
dinâmicas, a qualidade do produto e do serviço deve existir em todo o canal de
distribuição de recursos, ou seja, desde o fabricante até chegar ao cliente final (passando
por todos os intermediários) e toda a organização deve estar envolvida na
responsabilidade de propiciar ao cliente a qualidade do produto ou serviço.
Segundo Galvão & Mendonça (1999), o ciclo PDCA (Planejar-Executar-Verificar-Agir)
é um instrumento de gestão aplicável a qualquer processo organizacional, do mais
simples ao mais complexo. O que muda são as técnicas e ferramentas de integração a
serem utilizadas em cada tipo de processo. O cicloPDCA constitui-se na razão do
sistema de gerenciamento pela qualidade. Toda gestão de recursos ou ação
organizacional deverá ter como orientação básica o cumprimento desse ciclo, o qual é
dinâmico, devendo haver continuidade entre suas fases, numa espécie de giro contínuo.
Na gestão de recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológicos, entre outros é
necessários que o gestor tenha conhecimento de integração e gerenciamento sistêmico
para que haja uma sintonia entre os recursos.
Gestão de recursos humanos
Durante muito tempo ficou associada à forma coerciva como empresa tratava os seus
trabalhadores. Depois de algum tempo adquiriu o nome de gestão de Recursos Humanos
(RH) e só mais recente de gestão de pessoas. Esta última designação foi a mais popular
e melhor aceita, isso porque o termo é mais flexível e passou a preocupar-se com os
trabalhadores, a dar importância e reconhecer o mérito do talento humano em cada
empresa. O tratamento e evolução do conceito de RH surgiu nas escolas a partir da
necessidade do mercado.
9
Segundo Chiavenato (1999), a gestão de RH é uma atividade executada pelo
departamento de recursos humanos de uma empresa com a finalidade de escolher quem
será qualificado para trabalhar na empresa diante de uma série de candidatos. Isso
requer uma maior preocupação dos gestores para com as pessoas.
Para Gomes-Mejla (1995), na gestão escolar ou organizacional, é chamado RH ao
conjunto dos funcionários ou dos colaboradores dessa escola (organização). Mas o mais
freqüente deve chamar-se assim à função que ocupa para adquirir, desenvolver, usar e
reter os colaboradores da empresa. O objetivo básico que persegue a função de Recursos
Humanos (RH) com essas tarefas é alinhar as políticas de RH com a estratégia da
organização. Essa prática torna-se mais favorável mediante a disponibilidade de
recursos financeiros.
Gestão de recursos financeiros
A gestão financeira é tão relevante para a empresa como para a escola que realiza cursos
específicos de administração financeira que tratam dos assuntos relacionados às
finanças da escola como organização, seja ela pública ou privada. Para se compreender
e entender o sentido e o significado de finanças que, corresponde ao conjunto de
recursos disponíveis circulantes em espécie que serão usados em transações e negócios
com transferência e circulação de dinheiro é necessário se analisar a real situação
econômica dos fundos da empresa, com relação aos seus bens e direitos garantidos.
As finanças fazem parte do cotidiano, no controle dos recursos para compras e
aquisições, tal como no gerenciamento e a própria existência da empresa nas suas
respectivas áreas, seja no marketing, produção, contabilidade e, principalmente na
administração geral de nível operacional, gerencial e estratégico em que se usa dados e
informações financeiras para a tomada de decisão na condução da empresa (escola).
Segundo Gitman (2004), a administração financeira é uma ferramenta ou técnica
utilizada para controlar da forma mais eficaz possível, no que diz respeito à concessão
de credito para clientes, planejamento, analise de investimentos e, de meios viáveis para
10
a obtenção de recursos para financiar operações e atividades da empresa, visando
sempre o desenvolvimento, evitando gastos desnecessários, desperdícios, observando os
melhores “caminhos” para a condução financeira da organização.
Às vezes é por falta de planejamento e controle financeiro que muitas escolas
apresentam insuficiência e inexistência de recursos. Sendo necessárias informações do
Balanço Patrimonial, no qual se contabiliza estes dados na gestão financeira,
analisando-se detalhadamente para a tomada de decisão. Pelo beneficio, que a
contabilidade proporciona à gestão financeira e pelo íntimo relacionamento que se tem
de interdependência é que se confunde, às vezes, a compreensão e distinção dessas duas
áreas, já que as mesmas se relacionam e geralmente se sobrepõem.
Portanto, os contadores admitem a extrema importância do fluxo de caixa, assim como
o administrador financeiro utiliza-se do regime de competência. Mas cada um tem suas
especificidades e maneira de descrever a situação da organização, sem menosprezar a
importância de cada atividade já que, uma depende da outra, no que diz respeito à
circulação de dados e informações necessárias para o exercício de cada função, seja para
aquisição de recursos materiais, tecnológicos ou prestação de serviços.
Gestão de recursos materiais
Segundo Ballou (2007), junto com a logística nasce o termo suprimentos, derivado da
locução cadeia de suprimentos, utilizada para definir diversos materiais. Suprimento é
como são definidos os itens administrados, movimentados, armazenados, processados e
transportados (recursos materiais) pela logística.
Segundo Ballou (2007), logística é a arte de comprar, receber, armazenar, separar,
expedir, transportar e entregar o produto ou serviço certo, na hora certa, no lugar certo,
ao menor custo possível. Até que ponto o gestor da escola pública se preocupa com esse
conceito? Ou o coloca em prática? Na logística os suprimentos são os atores principais
de toda a cadeia, são com base nas características dos suprimentos, que a logística
define seus parâmetros de lead time, tipos de embalagem, as características dos
11
equipamentos de movimentação, modais de transporte, áreas de armazenamento e os
recursos humanos e financeiros necessários.
A logística é o principal responsável por assegurar a disponibilidade do item dentro dos
prazos e quantidades estabelecidas pelas áreas de compras e planejamento e
programação da produção. O termo suprimentos diferencia de matéria-prima, pois a
matéria-prima é um dos tipos existente de suprimentos. Com base nessa lógica, será que
as escolas públicas brasileiras possuem um sistema de informação integrado com as
demais áreas ou setores visando viabilizar a aquisição de produtos ou serviços?
Segundo Dias (2006), conceitua-se gerenciamento da cadeia de suprimentos como
sendo um conjunto de materiais necessários para o funcionamento de uma empresa
comercial ou fabricante. A cadeia de suprimentos envolve todos os níveis de
fornecimento do produto desde a matéria-prima até a entrega do produto no seu destino
final, além do fluxo reverso de materiais para reciclagem, descarte e devoluções. A
parte mais importante da cadeia de suprimentos de uma escola pública pode ser
entendida como sendo a lapidação e transformação do produto aluno para bem atuar no
mercado competitivo. O uso da tecnologia se faz necessário para que a cadeia de
suprimentos funcione adequadamente ou até mesmo surpreenda as exigências do
mercado ou do consumidor.
Gestão de recursos tecnológicos
O termo Tecnologia da Informação (TI), segundo Laudon & Laudon (2004), serve para
designar o conjunto de recursos tecnológicos e computacionais para geração e uso da
informação. A TI está fundamentada nos seguintes componentes: hardware e seus
dispositivos periféricos; software e seus recursos; sistemas de telecomunicações; gestão
de dados e informações (Batista, 2004).
Segundo Batista (2004), a TI é o conjunto de recursos não humanos dedicados ao
armazenamento, processamento e comunicação da informação e à maneira como esses
recursos estão organizados num sistema capaz de executar um conjunto de tarefas. A TI
12
não se restringe a equipamentos (hardware), programas (software) e comunicação de
dados. Existem tecnologias relativas ao planejamento de informática, ao
desenvolvimento de sistemas, ao suporte de software, aos processos de produção e
operação, ao suporte de hardware, entre outros, que podem facilitar e agilizar os
processos organizacionais.
Aplicação combinada dos conhecimentos teóricos e práticos da computação,
telecomunicação e microeletrônica a obtenção, processamento, armazenamento e
transmissão de informação, e o processamento de informação, seja de que tipo for, é
uma atividade de importância central nas economiasindustriais avançadas e estar
presente com grande força em áreas como gestão escolar, finanças, planejamento de
transportes, produção de bens, assim como na imprensa, nas atividades editorias, no
rádio e na televisão. Por que não fazer uso dessa evolução tecnológica em prol de
benefícios para a organização? Já que a integração e interação dos recursos humanos,
financeiros, materiais e tecnológicos podem agilizar os processos da gestão
administrativa.
3. MATERIAL E MÉTODO
Nesta etapa do trabalho apresenta-se a metodologia utilizada durante a pesquisa com o
objetivo de identificar e analisar a gestão dos recursos humanos, financeiros, materiais e
tecnológicos das universidades públicas federais do Rio de Janeiro, abordando,
inicialmente, a gestão escolar, gestores educacionais e tecnologia na gestão escolar.
Segundo o descrito por Alves-Mazzoti & Gewandsznajder (1998), a estruturação da
pesquisa tem por objetivo dar foco àquilo que se pretende alcançar, como o resultado da
pesquisa qualitativa de caráter exploratório.
A metodologia adotada para este estudo foi do tipo pesquisa qualitativa, segundo Yin
(2001) e Alves-Mazzoti & Gewandsznajder (1998). Na realização desta pesquisa foram
utilizadas consultas bibliográficas e pesquisa documental. Para tanto, realizou-se o
levantamento de dados secundários através de uma revisão da literatura referente à
gestão escolar no Brasil, no período de Agosto a Dezembro de 2007. Atualmente, a
pesquisa encontra-se na fase de levantamento dos dados primários, mediante a aplicação
de questionários aos docentes e a realização de entrevistas com os diretores de institutos
e decanos das universidades em estudo, que posteriormente serão analisados para
13
caracterizar como são geridos os processos referentes aos recursos humanos,
financeiros, materiais e tecnológicos.
O universo desta pesquisa são universidades públicas federais, que prestam serviços de
ensino, pesquisa e extensão na área de educação superior e estão localizadas no Estado
do Rio de Janeiro. São amostras desta pesquisa as seguintes universidades federais:
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
A pesquisa limita-se à obtenção de informações, inerentes a gestão de recursos,
fornecidas pelos chefes de departamentos, diretores de institutos e decanos das
universidades em estudo. O eixo conceitual da pesquisa não esgota a problemática da
gestão de recursos, uma vez que se restringe a propor melhoria contínua dos processos
organizacionais. Esse recorte temático, traduzindo uma limitação do trabalho, tangencia
alguns aspectos conceituais do processo gerencial, tais como: cultura organizacional;
mudança de paradigmas; custos associados à ausência do planejamento e controle de
ações. Finalmente, a proposta está limitada a aspectos específicos das universidades
públicas federais, sem condicionantes técnicos que possam generalizá-lo a outros
segmentos da educação.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta fase do estudo apresenta-se a visão de alguns Autores sobre a gestão escolar,
abordando a análise dos principais modelos de gestão escolar, do uso de instrumentos
para a melhoria contínua aplicados ao processo de gestão dos recursos das instituições
públicas de ensino no Brasil.
Segundo Gil (1997), algumas sociedades modernizam seus sistemas políticos e
econômicos enquanto que suas práticas pedagógicas evoluem muito lentamente,
gerando disfunções na adaptação do indivíduo a essa sociedade. Gil (1997) afirma
também que um dos papéis atribuído ao ensino é a influência da gestão na relação
ensino-aprendizagem, que representa a interface entre a sociedade e a escola, logo é
imperativo que essa relação seja capaz de fomentar um conjunto de competências
14
gerenciais, intelectuais, técnicas e comportamentais para aumentar as chances de
sucesso no processo de inserção social.
Em se tratando de educação e especialmente do ensino superior, a Lei de Diretrizes de
Base (LDB) corrobora e especifica os mandamentos constitucionais que dizem respeito
à educação, tais como o Artigo 205 da CF (1988) que versa sobre: “A educação, direito
de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. No âmbito restrito
da educação superior, cita-se o Artigo 207 da CF (1988) que versa sobre: “As
universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão
financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão”. Claro que essas prerrogativas requerem o apoio da gestão em prol
do ensino-aprendizagem de forma democrático-participativa.
Segundo Libâneo (2005), as intervenções dos profissionais da educação e dos usuários
na gestão escolar fazem dela uma comunidade democrática de aprendizagem. A
adequada estruturação da direção e seu funcionamento constituem fatores essenciais
para atingir eficazmente os objetivos de formação. Uma vez que as decisões são
tomadas coletivamente, é preciso pô-las em prática. Para isso, a escola deve estar bem
coordenada e administrada.
A organização e a gestão escolar requerem o conhecimento e a adoção de princípios
básicos como: planejamento participativo, integração de atividades, distribuição de
recursos e auto-gestão, cuja sua aplicação deve estar subordinada às condições de cada
escola. Alguns Autores, afirmam que o exercício das práticas de gestão democrático-
participativa, a serviço de uma organização escolar, requer conhecimentos, habilidades
e procedimentos práticos. O trabalho nas escolas envolve, ao mesmo tempo, processos
de mudança nas formas de gestão e nos modos de pensar e agir. Em razão disso, a
formação do docente, tanto a inicial como a continuada, precisa incluir ao estudo das
ações de desenvolvimento organizacional, o desenvolvimento de competências
individuais e grupais para que os pedagogos especialistas e os docentes possam
participar de modo ativo e eficaz da organização e da gestão do trabalho na escola.
15
Segundo Nóbrega (2003, p.8), "A maior inovação que a escola pode fazer é colocar
seus dirigentes para se tornarem gestores". Pois ao considerar o professor como um
prestador de serviços e que ele precisa desenvolver algumas habilidades para ser bem-
sucedido no mercado, isso requer conhecimento de gestão. Andrade & Amboni (2002)
citam algumas competências e habilidades a serem desenvolvidas no processo de
gestão, como: capacidade de reconhecer e definir problemas, equacionar soluções,
pensar estrategicamente, introduzir modificações no processo de trabalho, atuar
preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos. A ENAP (2003) afirma que a
análise e melhoria de processos são fundamentais para o fortalecimento e o
desenvolvimento dos processos de uma organização, conduzindo-a ao caminho da
excelência gerencial.
Ao final deste estudo, espera-se obter resultados como: esclarecimento sobre assuntos
relacionados à gestão dos recursos das universidades públicas federais do Rio de
Janeiro; caracterização da gestão dos processos referentes aos recursos humanos,
financeiros, materiais e tecnológicos dessas universidades. Os resultados desta pesquisa
têm o intuito de gerar informações capazes de auxiliarem no planejamento, gestão dos
recursos e ação de melhoria visando o melhor desempenho das universidades públicas,
objetivando-se, desse modo, proporcionar melhor qualidade no processo de gestão dos
recursos. Esses resultados poderão ser utilizados em pesquisas futuras como
instrumento para construir ou lapidar as competências e habilidades dos gestores,
propiciando assim uma melhoria contínua da gestão.
5. CONCLUSÃO
A gestão democrático-participativa possibilita o envolvimento de todos os integrantesda escola no processo de tomada de decisão e no funcionamento da organização
escolar, isso proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e das metas da escola,
o que propicia uma melhor distribuição de seus recursos e um clima de trabalho mais
favorável. Portanto, este estudo busca contribuir com a atual gestão dos recursos e
propor melhorias para as universidades públicas, visando padronizar e estruturar o
trabalho a ser desenvolvido, simplificar e aperfeiçoar os processos, de modo a
promover a obtenção de uma consistente gestão de recursos.
16
A análise e a melhoria de processos são fundamentais para o fortalecimento e o
desenvolvimento dos processos de uma organização, conduzindo-a ao caminho da
excelência gerencial. Essas análises e melhorias propiciam às organizações, estruturar a
seqüência de trabalhos a serem desenvolvidos, visando a simplificação e o
aperfeiçoamento ou melhoria dos processos, além de tratar de forma adequada seus
problemas, de modo a promover a obtenção de uma consistente garantia da qualidade
dos serviços prestados.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES-MAZZOTI, Alda Judith & GEWANDSZNAJDER, Fernando. O Método nas
Ciências Naturais e Sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira,
1998.
ANDRADE, Rui B. de & AMBONI, Nério. Projeto Pedagógico para Cursos de
Administração. São Paulo: Makron books, 2002.
BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transporte, administração de materiais e
distribuição física. Tradução Hugo T. Y. Yoshizaki. São Paulo: Atlas, 2007.
BATISTA, Emerson de Oliveira. Sistemas de Informação: o uso consciente da
tecnologia para gerenciamento. São Paulo: Saraiva, 2004.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília DF: Senado, CF, 1988.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas
organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
DIAS, Marco Aurélio Pereira. Administração de Materiais: princípios, conceitos e
gestão. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2006.
ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Análise e Melhoria de
Processos. Revista de Administração Pública, V. 47, Rio de Janeiro: ENAP, Jan-Fev,
2003.
FÉLIX, Maria de Fátima Costa. Administração Escolar: um problema educativo e
empresarial. São Paulo: Cortez e Autores Associados, 1985.
GALVÃO, Célio A. C. & MENDONÇA, Mauro M. F. de. Fazendo Acontecer na
Qualidade Total: análise e melhoria de processos. IBQN. Rio de Janeiro: Qualitymark,
1999.
17
GIL, Antonio Carlos. Metodologia do Ensino Superior. São Paulo: Atlas, 1997.
GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2004.
GOIS, Antônio. “Político escolhe 60% dos diretores de escola”. Folha de São Paulo,
Caderno: Folha Cotidiana. 18 de setembro de 2005.
GOMES-MEJLA, L. et al. Managing Human Resources. Englewood Cliffs: Prentice-
Hall, 1995.
LAUDON, Kenneth C. e LAUDON, Jane P. Sistemas de Informação Gerenciais:
administrando a empresa digital. 5 ed. São Paulo : Prentice Hall, 2004.
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de & TOSCHI, Mirza Seabra.
Educação Escolar: política, estrutura e organização. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
(coleção docência em formação, coordenação: Antônio Joaquim Severino e Selma
Garrido Pimenta).
LOMBARDI, José Claudinei. A Importância da Abordagem Histórica da Gestão
Educacional. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. especial, p. 11–19, ago. 2006.
MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos & BEHRENS, Marilda. Novas
Tecnologias e Mediação Pedagógica. 7a ed. São Paulo: Papirus, 2003.
NOBREGA, Clemente. O Negócio Escola. Revista Profissão Mestre, Nº 50, Nov/2003.
p.8/9. Disponível em: www.profissaomestre.com.br. Acesso em: 20 Jul 2007.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 22ª ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 1999.
SAVIANI, Dermeval. Educação Brasileira: Estruturas e Sistemas. 7ª ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 1996.
SILVA, Marcos (Org.). Educação Online: teorias, práticas, legislação, formação
corporativa. São Paulo: Loyola, 2003.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2001.

Mais conteúdos dessa disciplina