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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Instituto de Biologia Departamento de Ciências Fisiológicas TEMA Fotossíntese: Considerações Fisiológicas e Ecológicas Março, 2011 Roteiro de Aula • Introdução • Fotossíntese Líquida • Ecofisiologia de plantas C3, C4 e MAC; – Efeitos da concentração de CO2; – Efeitos da radiação; – Efeitos da temperatura; – Efeitos da disponibilidade hídrica (EUA); – Efeitos da disponibilidade de nitrogênio (EUN). Desempenho distinto em ambientes diferenciados Temperado Tropical quente e úmido Tropical Caatinga Mecanismos Fotossintéticos/Ambiente • As plantas competem entre si por recursos essenciais como luz, água e nutrientes. • Os mecanismos fotossintéticos C3, C4 e MAC. – Eficiência fotossintética – Desempenho distinto em diferentes condições ambientais • Espécies C4 – Ambientes tropicais – quentes, secos e bem iluminados • Espécies C3 – Zonas temperadas – mais frias e com auto-sombreamento • Espécies MAC – Desertos costeiros com noites frias ou em florestas tropicais úmidas e quentes (orquídeas, epífitas e árvores do gênero Clusia). Regiões áridas (caatinga – cactos). A Fotossíntese depende: • Suprimento de CO2 ao sítio ativo da Rubisco • Síntese de ATP e NADPH • Atividade de carboxilação da Rubisco – Razão carboxilase/oxigenase • Síntese de RuBP IRGA – infra-red gas analyser Absorção de CO2 pelas folha Fotossíntese Líquida FL = FBr – (R + Fr) FL>0 FL=0 (ponto de compensação de luz ou CO2) FL<0 FL = Fotossíntese líquida; FBr = Fotossíntese bruta; R = Respiração; Fr = Fotorrespiração A medida do consumo de CO2 em folhas, plantas ou em uma comunidade vegetal fornece informações precisas sobre a sua taxa de assimilação de carbono, sendo normalmente denominada de fotossíntese líquida (FL). Essa taxa é detectada em uma câmara fechada de um aparelho conhecido como IRGA (Infra-red Gas Analyser). A FL refere-se à taxa de assimilação de CO2 medida diretamente em ambiente controlado e resulta das taxas relativas de FBR (fotossíntese bruta – carboxilação), respiração e fotorrespiração (liberação de CO2). Quando a folha ou a planta em estudo estiver fotossintetizando a concentração de CO2 do sistema diminuirá e se não houver reposição de CO2 esta continuará declinando até alcançar o ponto de compensação de CO2 da fotossíntese (I). No momento em que o ponto de compensação é alcançado, a FBR se iguala à respiração (R) somada à fotorrespiração (FR), logo, o I é obtido quando a FL = 0. A FBR é designada como a capacidade carboxilativa total das folhas em determinada condição e é responsável pela retirada do CO2 atmosférico e a formação de carboidratos. Em síntese, as concentrações de CO2 que mantém a taxa de carboxilação igualitária às perdas pela R e FR, produzem FL e PC por CO2 = 0, os quais são variáveis conforme o metabolismo fotossintético, a espécie e as condições ambientais. Ponto de Compensação de CO2 • Estômato – ponto de controle – Disponibilidade hídrica • Fotossíntese – Plantas C3 - saturada com 250 µL L -1 de CO2 – Plantas C4 - saturada com 100 µL L -1 de CO2 1. Eficiência de carboxilação da PEPcase 2. Inibição da fotorrespiração (concentração de CO2) C4 C3 Diferentes concentrações de CO2 intrafoliar produzem respostas fotossintéticas substancialmente distintas em plantas com metabolismo C3 e C4. A saturação das plantas C4 em uma concentração de CO2 bem mais baixa que a evidenciada para as C3 se deve à elevada eficiência de carboxilação da enzima PEPcase conjugada com a inibição da fotorrespiração. Esse fato explica o porque da assimilação de CO2 em plantas C4 já se encontrar saturada na atmosfera – 360 ppm CO2 e 21% de O2. e não se alterar quando se altera a concentração externa de oxigênio. Por outro lado, a assimilação de carbono das plantas C3 aumenta progressivamente quando se incrementa experimentalmente a concentração de CO2 para níveis acima da atmosfera (gráfico do slide anterior). O ponto de compensação de CO2 () segue a mesma lógica apresentada para a saturação, i.e., nas plantas C3 ele é fortemente influenciado pelos fatores que alteram a fotorrespiração sendo atingido em {40 a 100 µL L-1} de CO2, enquanto que nas C4 é inferior a {5 µL L -1} de CO2. Para as plantas CAM, o ponto de compensação varia de valores muito baixos – perto de zero – no decorrer da fixação noturna de CO2, a valores elevados {50 µL L-1} na final do dia. O aumento do ocorre quando a taxa de fixação do CO2 é maior que a de descarboxilação, o que diminui o CO2 interno e favorece a fotorrespiração. C o n ce n tr aç ão d e C O 2 (p p m ) Concentração de CO2 atmosférico nos últimos anos O CO2 é um gás traço na atmosfera, compondo na atualidade 0,037% ou 370 ppm do ar, sendo quase o dobro da concentração que prevaleceu durante os últimos 160 anos . Com exceção dos últimos 200 anos, a concentração de CO2 durante um recente passado geológico tem sido baixa e flutuante entre 180 a 260 ppm. Essas baixas concentrações foram típicas de tempos posteriores ao Cretáceo quando a terra era muito quente e as concentrações de CO2 eram em torno de 1200 a 2800 ppm. Atualmente, a concentração de CO2 vem aumentando em torno de 1% ao ano, principalmente pela queima de combustíveis fósseis. Portanto, é notória a antiguidade do processo de redução do carbono pelas plantas com metabolismo C3, evidenciada principalmente por sua performance subótima nas condições atmosféricas atuais e pela complexidade molecular que resiste à alteração da performance do passo catalisado pela Rubisco. Atualmente, quando se tem condições ótimas de temperatura, água e luz, a maior parte das plantas apresentam redução da taxa fotossintética pelo processo de fotorrespiração. Significativa parte da evolução das plantas foi direcionada para o desenvolvimento dos mecanismos de inibição da fotorrespiração, i.e., o surgimento dos mecanismos de concentração de CO2 ao redor da Rubisco – C4 e CAM. Eficiência no Uso da H2O • EUA – µmol CO2 fixado m-2 s-1/µmol H2O transpirada m-2 s-1 • C3: 1 a 3 g de CO2 / kg de H2O; • C4: 2 a 5 g de CO2 / kg de H2O; • CAM: 6 a 30 g de CO2 / kg de H2O. Funcionamento diferenciado dos ESTÔMATOS nos diferentes tipos fotossintéticos Pontos de resistência a difusão do CO2 1 CO2 50 H2O Atmosfera úmida Conversão da energia solar pelas folhas FFFA Luz Escuro Luz Fraca Luz Forte O movimento dos cloroplastos controlam a interrupção da luz O movimento das folhas controlam a interrupção da luz • Ponto de Compensação de Luz (PCL) Outros fatores que não a luz tornam-se limitantes. Fluxo de elétrons Atividade da Rubisco Metabolismo das trioses-P Respostas Fotossintéticas à Luz • Ponto de Saturação de Luz (PSL) • Plantas de Sol e Sombra – Plantas C3 com respostas fotossintéticas diferentes em relação à luz – Diferenças no PCL e PSL – Obrigatórias – Facultativas Distribuição espectral da luz solar no topo de um dossel e sob o dossel CARACTERÍSTICAS SOMBRA SOL FSII / FSI + - [Clorofila] por cloroplasto + - Clorofila a/b - + Volume estroma/tilacóide - + Atividade da rubisco - + Fotossíntese máxima (µmol de CO2 m -2 s-1) 7 16 Taxa de respiração (µmol de CO2 m -2 s-1) 0,05 – 0,2 0,3 – 0,5 Compensação luminosa (µmol m-2 s-1) 5 - 10 15 - 25 Saturação luminosa (µmol m-2 s-1) 200 - 300 600 - 1500 Características de Plantas de Sol e Sombra Respostas Fotossintéticas a Temperatura Foliar C4 C3 • Temperaturas ótimas diferentes entre plantas C3 e C4 – C4 é sensível a baixas temperaturas • Piruvato fosfato diquinase é perde atividade a baixas temperaturas • PEPcase tem atividade ótima entre 30-35oC Eficiência quântica semelhante Custo energético do C3/C2 se equivale ao C4 Como normalmente as altas temperaturas estão associadas à altas intensidades luminosas, as plantas C4 (30 a 40ºC) tendem a apresentar uma taxa fotossintética ótima em faixa de temperatura mais elevada que as plantas C3 (20 a 30ºC). Em temperaturasinferiores a 30ºC o desempenho fotossintético das plantas C3 supera das C4, sendo bem superior em temperaturas abaixo de 20ºC. Essa sensibilidade das plantas C4 a baixas temperaturas é altamente correlacionado com a perda da atividade da enzima piruvato fosfato diquinase a temp. baixas (12ºC), aliado a temperatura ótima da PEPcase na faixa de 30-35ºC. Em contrapartida, em temperaturas superiores a 30-35ºC a fotossíntese das plantas C3 decai, sendo bem inferior à de plantas C4 que suportam temperaturas de até 40-50ºC. A eficiência quântica das plantas C3 diminui continuamente à medida que a temperatura aumenta, mas permanece constante nas plantas C4, numa ampla faixa de temperatura. Em tomo de 30°C, a eficiência quântica das plantas C3 e C4 é semelhante, indicando que os custos energéticos dos ciclos C3+C2 e do ciclo C4 se equiparam nesse ponto. Faz-se necessário evidenciar o fato de que o custo energético para fixação do CO2 nas plantas C3 se eleva conforme incrementa a fotorrespiração, e em condições de enriquecimento de CO2 com, a supressão da FR a eficiência quântica das C3 é altamente superior ao das C4. Resumindo, a fotossíntese das plantas C4 é mais eficiente que das C3 em locais quentes e bem iluminados, tendo como bases fisiológicas o mecanismo concentrador de CO2 (inibição da fotorrespiração) e as temperaturas ótimas mais elevadas de suas principais enzimas. • Eficiência Quântica X Temperatura C3 C4 C3 – 3ATP e 2NADPH C4 – 5ATP e 2NADPH Eficiência no Uso do Nitrogênio (EUN) • Quantidade de matéria seca produzida por unidade de nitrogênio (N) nos tecidos. – EUN = mg N nos tecidos / g massa seca da planta C3: 50% da Ptn solúvel foliar (RUBISCO) C4 e CAM: 25% RUBISCO e 10% PEPcase (35% da Ptn solúvel foliar) De um modo geral, a fotossíntese das plantas está atrelada à disponibilidade de nitrogênio, uma vez que esse elemento participa da composição estrutural de proteínas, enzimas e da clorofila. A eficiência no uso do nitrogênio – EUN – é uma característica que considera a quantidade de matéria seca produzida por unidade de nitrogênio presente nos tecidos vegetais. Considerando-se o fato de que a Rubisco corresponde a 50% e 25% da ptn foliar solúvel em plantas C3, C4 e CAM, respectivamente, as plantas com mecanismo concentrador de CO2 apresentam uma demanda menor de N para a fotossíntese. Em paralelo, a PEPcase corresponde a 10% da ptn foliar solúvel nas plantas C4 e CAM, o que faz com que essas plantas apresentem um a demanda de N menor para as suas enzimas de carboxilação. Consequentemente, as plantas C4 e CAM possuem uma maior EUN quando comparadas às plantas C3. Em prática, isso significa que as plantas C4 possuem capacidade de produzir maior quantidade de carboidratos com menor quantidade de nitrogênio, denotando competição vantajosa com as plantas C3 em solos com baixa disponibilidade de nitrogênio.