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THAISA BACALHAU MARQUES PROPOSIÇÕES VISANDO O DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PARA FORMAÇÃO DE LÍDERES DE PROJETOS Trabalho apresentado ao curso MBA em Gerenciamento de Projetos, Pós- Graduação lato sensu, da Fundação Getúlio Vargas como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Gerenciamento de Projetos. ORIENTADORA: Maria Luiza Barcellos Zacharias Rio de Janeiro Fevereiro/2017 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS PROGRAMA FGV MANAGEMENT MBA EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS O Trabalho de Conclusão de Curso Proposições visando o desenvolvimento de competências para formação de líderes de projetos elaborado por Thaisa Bacalhau Marques e aprovado pela Coordenação Acadêmica do curso de MBA em Gerenciamento de Projetos, foi aceito como requisito parcial para a obtenção do certificado do curso de pós-graduação, nível de especialização do Programa FGV Management. Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 2017. André Barcaui Coordenador Acadêmico Executivo Maria Luiza Barcellos Zacharias Orientadora TERMO DE COMPROMISSO A aluna Thaisa Bacalhau Marques, abaixo assinada, do curso de MBA em Gerenciamento de Projetos, Turma 114 do Programa FGV Management, realizado nas dependências da FGV Botafogo, no período de 26/08/2016 a 25/01/2017, declara que o conteúdo do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado Proposições visando o desenvolvimento de competências para formação de líderes de projetos é autêntico, original e de sua autoria exclusiva. Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 2017. Thaisa Bacalhau Marques RESUMO Este trabalho analisa a importância da identificação e do desenvolvimento de competências visando a formação de gerentes de projetos dentro de uma organização. Esta análise é necessária uma vez que as organizações de modo geral assumem que o profissional especialista, com acurada competência técnica, será um exímio gerente de projeto, adicionando este papel à sua descrição de trabalho. No entanto, o gerenciamento de projetos requer um conjunto de habilidades específicas, que devem ser reconhecidas pela organização como essenciais. Os gerentes de projeto devem possuir habilidades gerenciais e interpessoais, que podem e devem ser desenvolvidas através de um processo contínuo de aprendizagem. Para efeito deste trabalho de pesquisa, foi realizado um estudo bibliográfico dos impactos negativos bem como das melhores práticas no gerenciamento de pessoas em projetos e no desenvolvimento das competências. Foram identificados os principais desafios ao gerenciamento de projetos, a saber, os erros comuns cometidos na seleção de gerentes de projetos, a diferença entre ser líder ou gestor e o gerenciamento de projetos através do desenvolvimento das competências comportamentais. Em seguida são apresentadas as melhores práticas para a gestão de projetos por competências, através da identificação e avaliação das competências necessárias para o gerenciamento de projetos, sugestão de planos de carreira em gestão de projetos, assim como o desenvolvimento das habilidades de liderança. A conclusão do estudo aborda que a organização que deseja se destacar como um centro de excelência em gestão de projetos deve evitar que o passo de técnico especialista para gerente de projeto se dê apenas porque não há outra opção no plano de carreira para a parte técnica. As opções de carreira em gestão de projetos permitem não só o progresso na maturidade em gerenciamento de projetos, bem como a manutenção da vantagem competitiva da organização. A gestão de projetos, por estar integrada ao planejamento estratégico e à alta administração, possui um grande impacto na geração de valor dentro das organizações, pois auxilia na viabilização das metas e dos objetivos estratégicos do negócio. Por este motivo, em tempos de alta escassez de recursos humanos preparados para lidar com projetos, a utilização da gestão de projetos tornou-se um diferencial competitivo no mercado brasileiro. Palavras-Chave: Liderança; gerenciamento de projetos; gerente de projetos; desenvolvimento de competências; plano de carreira em gerenciamento de projetos. ABSTRACT This paper analyzes the importance of identifying and developing skills aimed at training project managers within an organization. This analysis is necessary since organizations generally assume that the specialist professional, with accurate technical skill, will be an excellent project manager, adding this role to his job description. However, project management requires a specific set of skills, which must be recognized by the organization as essential. Project managers must have management and interpersonal skills that can and should be developed through a continuous process of learning. For the purpose of this research, a bibliographic study of the negative impacts as well as the best practices in people management in projects and in skills development was carried out. The main challenges to project management were identified, namely the common mistakes made in selecting project managers, the difference between being a leader or manager and managing projects through behavioral skills development. Next, the best practices for project management by competencies are presented, through the identification and evaluation of the necessary skills for project management, suggestion of career paths in project management, as well as the development of leadership skills. The conclusion of the study is that the organization that wants to stand out as a center of excellence in project management should avoid making the move from specialist technician to project manager only because there is no other option in the career path for the technical part. Career paths in project management allow not only progress in project management maturity, but also the maintenance of the organization's competitive advantage. Project management is integrated into strategic planning and senior management and it has a great impact on the generation of value within organizations, as it helps in achieving the goals and strategic objectives of the business. Therefore in times of high scarcity of human resources prepared to deal with projects, the use of project management has become a competitive advantage in the Brazilian market. Keywords: Leadership; project management; project manager; skills development; project management carrer path. . LISTA DE ABREVIATURAS IPMA - International Project Management Association PMBOK - Project Management Body of Knowledge PMI – Project Management Institute LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS Figura 1: Pirâmide de Maslow 23 Figura 2: Olho da Competência 37 Figura 3: Competências em Gestão de Projetos 38 Figura 4: Plano de Carreira para Gerente de Projeto 42 Figura 5: Os Papeis dos Líderes 44 Gráfico 1: Existência de programa formal de capacitação em Gerenciamento de Projetos 31 Gráfico 2: Principais habilidades necessárias e valorizadas ao gerenciar projetos nas Organizações 35 Quadro 1: Definição da Agenda de Competências Essenciais 17 Quadro 2: Fatores que afetam a motivação 25 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 9 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 11 2.1. Projeto 11 2.2. Gerenciamento de Projetos 11 2.3. Gerenciamento de Recursos Humanos em Projetos 12 2.4. Gerente de Projetos 13 2.5. O que é Competência 14 2.5.1. Conceito de Competências Organizacionais 15 2.5.2. Conceito de Competências Individuais 18 2.6. Liderança 20 2.6.1. Teorias de Liderança 20 2.6.1.1. Teoria dos Traços de Personalidade 21 2.6.1.2. Teoria dos Estilos de Liderança 21 2.6.1.3. Teoria Situacional da Liderança 22 2.7. Motivação 23 2.7.1. Teorias sobre Motivação23 2.7.1.1. Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow 23 2.7.1.2. Teoria Higiênico-Motivacional de Herzberg 24 2.7.1.3. Teoria da Participação de McGregor 25 3. PRINCIPAIS DESAFIOS A FORMAÇÃO DOS GERENTES DE P ROJETO 27 3.1. Erros Comuns Cometidos na Seleção do Gerente d e Projetos 27 3.2. Líder ou Gestor? 28 3.3. Desenvolvimento das Competências Comportamenta is em Gestão de Projetos 30 4. GESTÃO DE PROJETOS COMO COMPETÊNCIA ESSENCIAL DA S ORGANIZAÇÕES 34 4.1. Gestão de Projetos por Competências 35 4.1.1. Identificando e Avaliando Competências em Gestão de Projetos 35 4.2. Planos de Carreira em Gestão de Projetos 40 4.3. Desenvolvimento das Habilidades de Liderança 43 5. CONCLUSÃO 47 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 49 9 1. INTRODUÇÃO De acordo com Crawford e Cabanis-Brewin (2006, p.46): as organizações têm historicamente assumido que competência técnica poderia ser traduzida como gerenciamento de projeto, pessoas especialistas no assunto (...). Então, o papel de gerente de projeto foi simplesmente adicionado às suas descrições regulares de emprego, ao invés de ser visto como uma função legítima para a organização, uma função que requer um conjunto de habilidades específicas e reconhecidas pela organização. Os gerentes de projeto devem desenvolver uma combinação de habilidades administrativas, gerenciais, analíticas e interpessoais, tais como liderança, negociação e persuasão, comunicação e gestão de conflitos (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013, p.41). Segundo estes autores, o gerente de projetos é muito mais gerencial do que técnico, logo as habilidades interpessoais assumem um papel extremamente relevante. De acordo com Lopes e Sbragia (2013), a gestão de projetos, por estar integrada ao planejamento estratégico e à alta administração, possui um grande impacto na geração de valor dentro das organizações, pois auxilia na viabilização das metas e dos objetivos estratégicos do negócio. Segundo os autores, em um momento de alta escassez de recursos humanos preparados para atuar em projetos, a utilização da gestão de projetos tornou-se um diferencial competitivo no mercado brasileiro. Um paradigma a ser desmitificado é o de que a competitividade e a previsibilidade de um projeto residem unicamente na aplicação de técnicas e conhecimentos. Segundo Laufer (2015), a liderança de projeto bem-sucedida é um processo contínuo de aprendizagem, que se desenvolve principalmente por meio de experiências on-the-job. Contudo, a experiência sozinha sem uma análise efetiva, não tem sentido algum. De acordo com Gramigna (2007), o sistema de gestão de competências, definidas como conhecimento, habilidades, comportamentos e qualidades pessoais, possibilita a criação de um capital intelectual na empresa, maximizando os talentos existentes e descobrindo àqueles com um potencial a ser desenvolvido. 10 As habilidades de planejamento, organização, direção e controle dos recursos (habilidades hard) “não são mais importantes na condução de um projeto do que as habilidades soft, que requerem mais proximidade com as pessoas da equipe e demais stakeholders do projeto” (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013, p. 44). Este trabalho visa, através de pesquisa bibliográfica, auxiliar as organizações e os profissionais que atuam em gestão de projetos no desenvolvimento das competências consideradas essenciais para um bom desempenho como gerente de projeto, de forma a manter uma vantagem competitiva. 11 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Projeto Um projeto pode ser descrito como: ...um processo único, que contém atividades e operações coordenadas e controladas, com datas de início e término, visando a alcançar um único objetivo. Esse objetivo alcançado segue os requisitos especificados pelo cliente, com limitações e restrições de tempo, custos e recursos. (CARVALHO, 2015, p.4) De uma forma mais sintetizada, o Project Management Body of Knowledge - PMBOK (PMI, 2013, p. 3), define projeto como “um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado único”. O PMBOK é um conjunto de práticas na gestão de projetos organizado pelo Instituto de Gerenciamento de Projetos (Project Management Institute - PMI) e é considerado por profissionais da área a base do conhecimento sobre gestão de projetos. Segundo o PMI (2013), o projeto é temporário no sentido de que tem um início e fim definidos no tempo e único no sentido de que não se trata de um evento rotineiro, mas sim de um conjunto específico de eventos destinados a atingir um objetivo em particular. Projetos são realizados pelas empresas como forma de atender a objetivos estratégicos que surgem em função das ações necessárias para a manutenção do negócio empresarial (VALLE, CIERCO, SOARES E FINOCCHIO JR, 2014). 2.2 Gerenciamento de Projetos De acordo com Vargas (2009, p. 6): O gerenciamento de projetos é um conjunto de ferramentas gerenciais que permitem que a empresa desenvolva um conjunto de habilidades, incluindo conhecimento e capacidades individuais, destinados ao controle de eventos não repetitivos, únicos e complexos, dentro de um cenário de tempo, custo e qualidade predeterminados. O objetivo do gerenciamento de projetos é executar o plano de projeto através da aplicação e da integração dos grupos de processos de gerenciamento: iniciação, planejamento, execução, monitoramento e controle e encerramento (VALLE, CIERCO, SOARES E FINOCCHIO JR, 2014). 12 Segundo o PMI (2013), são 47 os processos de gerenciamento de projetos agrupados em 10 áreas de conhecimento distintas que representam um conjunto de conceitos, termos e atividades. São elas: • Gerenciamento da integração do projeto; • Gerenciamento do escopo do projeto; • Gerenciamento do tempo do projeto; • Gerenciamento dos custos do projeto; • Gerenciamento da qualidade do projeto; • Gerenciamento dos recursos humanos do projeto; • Gerenciamento das comunicações do projeto; • Gerenciamento dos riscos do projeto; • Gerenciamento das aquisições do projeto; • Gerenciamento das partes interessadas do projeto. A seguir, este estudo limita-se à compreensão da área de conhecimento relacionada diretamente com o objeto deste trabalho. 2.3 Gerenciamento de Recursos Humanos em Projetos O gerenciamento dos recursos humanos do projeto engloba os processos que organizam, gerenciam e guiam a equipe do projeto (PMI, 2013). São quatro processos, sendo que o primeiro, planejar o gerenciamento dos recursos humanos, consiste em identificar e documentar os papéis, responsabilidades, habilidades necessárias e relações hierárquicas, criando o plano de gerenciamento de pessoal. O segundo processo trata de mobilizar a equipe do projeto, ou seja, confirmar a disponibilidade dos recursos humanos e obter a equipe necessária para executar as atividades do projeto. Em seguida, deve-se desenvolver a equipe do projeto. Este processo aborda a melhoria das competências, interação da equipe e do ambiente geral da equipe, de forma a aprimorar o desempenho do projeto. 13 O quarto e último processo é gerenciar a equipe do projeto, isto é, acompanhar o desempenho dos membros da equipe, fornecendo feedback, resolvendo problemas e gerenciando mudanças de modo a otimizar o desempenho do projeto. Conforme destacado por Vargas (2009), pessoas são o elo central dos projetos e, consequentemente, seu recurso mais importante. Isto porque, segundo o autor, são as pessoas quem definem as metas, planos, organizam o trabalho, produzem os resultados, direcionam, coordenam e controlam as atividades do projeto, utilizando suas habilidades, conhecimentos e atitudes. 2.4 Gerente de Projetos O gerente de projetos, também conhecidocomo líder de projetos, é a pessoa alocada pela organização para ser o responsável pelo planejamento, implantação e encerramento do projeto (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013). Segundo Vargas (2009), mesmo que desempenhe outras atividades funcionais na organização, o gerente de projeto é o maior responsável pelo sucesso do projeto. Na visão do PMI (2013, p. 17): Como o gerenciamento de projetos é uma disciplina estratégica crítica, o gerente de projetos torna-se o elo entre a estratégia e a equipe. Os projetos são essenciais para o crescimento e sobrevivência das organizações. (...) Assim sendo, o papel do gerente de projetos torna-se cada vez mais estratégico. Neste sentido, pode-se depreender que o gerenciamento de projetos eficaz exige que o gerente de projetos apresente competências em três áreas (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013). A primeira área, conhecimento, consiste no saber, no domínio geral e específico de conceitos, práticas, procedimentos, processos e metodologias de gerenciamento de projetos. 14 A segunda área, habilidade, é o saber fazer. Trata-se da aplicação do conhecimento ao projeto que assegura o atendimento aos objetivos de forma eficiente e eficaz. O gerente de projeto não possuirá todas as habilidades necessárias para o gerenciamento do projeto, dependendo assim da sua equipe para a execução de atividades específicas. E a terceira área, atitude, é a predisposição para a ação exibida por um indivíduo no trabalho. A soma de conhecimentos, habilidades e atitudes constituem a base das competências individuais, que será descrito adiante. Podem-se destacar como algumas das principais características do gerente de projetos a liderança, o desenvolvimento da equipe, motivação, comunicação, influência, processo decisório, negociação, gerenciamento de conflitos e coaching (PMI, 2013). Cada projeto irá requer do gerente “diferentes habilidades, dependendo de fatores como o número de pessoas na equipe, o custo do projeto e seu conteúdo técnico e legal” (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013, p. 41). 2.5 O que é Competência É “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” (FLEURY & FLEURY, 2001, p.21). Segundo estes autores, o conceito de competência refere-se à capacidade do indivíduo de ir além daquilo que lhe foi pedido, mostrando ter iniciativa ao perceber e se adaptar a novas situações de trabalho. Para Fleury & Fleury (2001, p. 20): O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associadas descritivamente ao cargo, mas torna-se o prolongamento direto da competência que o indivíduo mobiliza em face de uma situação profissional cada vez mais mutável e complexa. 15 Existem dois níveis de competência - aquelas que caracterizam a organização (competências organizacionais) e as que representam o indivíduo (competências individuais). 2.5.1 Conceito de Competências Organizacionais De acordo com Nisembaum (2000, p.35), as competências organizacionais constituem-se pelo “conjunto de conhecimentos, habilidades, tecnologias e comportamentos que uma empresa possui e consegue manifestar de forma integrada na sua atuação, impactando a sua performance e contribuindo para os resultados”. Elas dividem-se em competências básicas e essenciais. Ainda segundo Nisembaum (2000), as competências básicas são os pré- requisitos que uma empresa deve possuir para entrar no mercado, porém não são suficientes para que ela alcance um patamar de diferenciação que a distancie dos concorrentes. São fatores de qualificação, que variam de empresa para empresa. Já as competências essenciais, são aquelas que permitem que a empresa ofereça um benefício específico para os clientes, de modo a diferenciá-la em comparação com as demais. De acordo com Hamel & Prahalad (2005), elas devem ser vistas como uma fonte de vantagem competitiva, pois são únicas e contribuem para o valor percebido pelo cliente. Segundo estes autores, as competências essenciais precisam preencher três requisitos. O primeiro, valor percebido pelo cliente, dispõe que as competências essenciais devem agregar valor aos produtos/serviços oferecidos pela empresa. Tal contribuição nem sempre será visível, pois poderá dar-se em processos de produção ou redução dos custos. O que interessa é que os clientes estejam dispostos a pagar pelos benefícios percebidos dos produtos/serviços oferecidos pela organização em comparação com os concorrentes. 16 O segundo requisito é a dificuldade de copiar. Uma vez que a competência deixe de ser exclusiva de uma empresa, transforma-se em uma competência básica. A empresa deve assim diferenciar-se de seus concorrentes. O terceiro requisito trata da capacidade de expansão, isto é, a tendência natural das empresas é utilizar as habilidades e conhecimentos que possuem, centrando-se exclusivamente nos seus produtos e serviços. Para ser capaz de inovar e explorar novos mercados, as empresas precisam romper essa tendência. Tal ruptura se dará através de uma avaliação contínua das competências, de modo a identificar aquelas que já estão ultrapassadas e quais são as que proporcionarão a entrada em novos mercados de produtos/serviços. Segundo Nisembaum (2000), o conceito de competência essencial é dinâmico e muda constantemente, por isso é interessante que as empresas realizem benchmarking das suas competências em relação às dos concorrentes. Este processo ajuda a avaliar o posicionamento da empresa e evita a superestimação ou subestimação das suas capacidades. Para Hamel & Prahalad (2005), uma empresa deve ser conhecida não apenas pelo seu portfólio de produtos/serviços, mas também pelo seu portfólio de competências. Os autores identificaram cinco tarefas consideradas fundamentais para a gestão das competências essenciais. Primeiro, é necessário identificar as competências essenciais existentes. Os funcionários da empresa devem ser capazes de descrever “a competência em termos razoavelmente semelhantes e compartilhar de uma compreensão das habilidades incorporadas à competência” (HAMEL & PRAHLAD, p. 258, 2005). O objetivo desta etapa é ampliar a compreensão das habilidades que garantem o sucesso da empresa, bem como indicar direções para novos negócios. Após a etapa de identificação, deve-se definir uma agenda de aquisição de competências essenciais. Para isso, a empresa precisa desenvolver uma matriz competência-produto, que distinguirá as competências existentes das novas 17 competências e os produtos-mercados existentes dos novos produtos-mercados (Quadro 1). Quadro 1 - Definição da Agenda de Competências Essenciais Fonte: HAMEL & PRALAHAD, 2005, p.260 O quadrante inferior esquerdo, definido como “preenchimento dos espaços” representa as competências, produtos/serviços existentes da empresa. O mapeamento destas competências permite a identificação de oportunidades que fortalecerão a posição da empresa no mercado. O quadrante superior esquerdo, “liderança em 10”, permite que a empresa identifique as novas competências que ela precisa desenvolver de modo a manter e ampliar seu negócio. Além disso, permite identificar as competências que, por já estarem ultrapassadas, podem ser substituídas. O quadrante inferior direito, definido como “espaços em branco”, tem como meta identificar as oportunidades para ampliar as competências essenciais em novos mercados de produtos/serviços. A empresa deve analisar a competência e a partir dela, considerar as possíveis oportunidades de expansão. 18 Por último, no quadrante superior direito, “megaoportunidades”, as oportunidades não sesobrepõem à atual posição da empresa no mercado nem às suas competências atuais. Por isso, a estratégia utilizada é firmar parcerias de modo a adquirir acesso e compreender as competências necessárias para firmar-se nos novos mercados. Após a definição da agenda de aquisição das competências essenciais, é preciso desenvolver as novas competências. Tal processo pode ser implementado através de ações de aprendizagem dentro de um programa de educação corporativa. Diversas empresas implantaram universidades corporativas com o objetivo de desenvolver as competências tanto organizacionais quanto individuais. O próximo passo no processo de gestão das competências essenciais é redistribuí-las internamente, de modo a alavancar a participação no mercado atual. A empresa deve perceber-se como “um reservatório de competências essenciais em potencial” (HAMEL & PRALAHAD, 2005, p. 268). A última etapa, proteção e defesa das competências essenciais, exige que a empresa mantenha uma vigília contínua contra a deterioração. As competências podem deteriorar-se pela falta de recursos financeiros, fragmentação em diversas unidades de negócio, falta de esforço dos funcionários em mantê-las, dentre outros. A proteção se dá através de reuniões regulares entre os responsáveis pela saúde das competências, onde serão analisados os níveis de investimento, os planos para fortalecer as habilidades, a distribuição das competências, os impactos de alianças e a terceirização dos serviços da empresa. Após a elaboração de um plano de defesa e proteção das competências essenciais, a empresa poderá dedicar-se à criação de uma agenda de competências direcionada para o futuro. 2.5.2 Conceito de Competências Individuais De acordo com Nisembaum (2000) competências individuais são características que um indivíduo possui que lhe proporcionam um desempenho 19 superior ao executar uma tarefa ou função específica. Como visto anteriormente, tais competências não se reduzem a um conhecimento ou know-how específico, mas são formadas pela biografia do indivíduo, sua experiência profissional e sua formação educacional. Ainda segundo este autor (2000, p.88): Precisamos estabelecer uma ponte entre as competências essenciais e individuais. As competências individuais deverão ser identificadas de forma tal que permitam dar sustentação às competências essenciais, e não simplesmente uma lista ou ‘cardápio’ de conhecimentos, habilidades ou atitudes genéricas e idealizadas (...). Na análise de Rocha-Pinto, Pereira, Coutinho & Johann (2006) a identificação das competências individuais dá-se em quatro etapas. Na primeira, as atividades diárias e eventuais executadas pelos profissionais devem ser definidas e descritas detalhadamente. Tal levantamento deve ser realizado com o maior número possível de funcionários que desempenham as mesmas funções de modo a distinguir as atividades relacionadas ao atingimento dos objetivos da organização. A segunda etapa é definir os desafios, oportunidades e ameaças inerentes à função e identificar os recursos materiais e tecnológicos utilizados. Esta etapa fornece aos profissionais de gestão de pessoas informações para a elaboração de processos de captação, seleção, remuneração, avaliação de desempenho e aprendizagem organizacional. A identificação e análise da qualificação necessária às atividades descritas constituem a terceira etapa do mapeamento das competências individuais. Neste momento, serão analisados os conhecimentos técnicos necessários para um bom desempenho profissional e quais as competências específicas à função. A última etapa caracteriza-se pela construção de uma matriz de competências para a função analisada. Tal matriz considera os conhecimentos técnicos e específicos necessários para a execução das atividades e os conhecimentos, habilidades e atitudes atrelados às competências organizacionais. 20 O mapeamento das competências individuais permite “um desenvolvimento dos recursos humanos ligado à estratégia, respondendo ao mesmo tempo às necessidades do indivíduo e às da organização” (NISEMBAUM, 2000, p.110). Tal alinhamento da visão do funcionário com a empresa proporciona um maior comprometimento com as tarefas desempenhadas e com os objetivos e estratégias da organização. Chiavenato (2009) destaca que os profissionais que detêm um elevado perfil de competências demonstram que possuem as qualidades necessárias para levar adiante trabalhos cada vez mais complexos. Um ponto de atenção para as empresas é adquirir e agregar novas competências que sejam fundamentais para o sucesso do negócio, sob o risco de investir em treinamentos sem retorno para as necessidades reais da organização. 2.6 Liderança Liderança pode ser definida como a “capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance de objetivos” (ROBBINS, 2004, p.137). A influência pode ser formal, quando a liderança é assumida em função do cargo ocupado ou não sancionada, no caso em que a capacidade de influenciar se manifesta fora da estrutura formal da organização. Chiavenato (1999, p. 95) destaca que a “liderança é um fenômeno social e que ocorre exclusivamente em grupos sociais”. Este autor define liderança como a influência interpessoal exercida numa situação e dirigida por meio da comunicação de modo a atingir um ou diversos objetivos específicos, satisfazendo suas necessidades. 2.6.1 Teorias de Liderança As teorias sobre liderança podem ser classificadas em três grupos (CHIAVENATO, 1999; ROBBINS, 2004). 21 2.6.1.1 Teoria dos Traços de Personalidade É a teoria mais antiga a respeito da liderança. O líder é aquele que possui traços específicos de personalidade que o diferencia dos demais e por meio dos quais pode influenciar o comportamento das demais pessoas (CHIAVENATO, 1999). Robbins (2004) destaca seis traços que costumam diferenciar os líderes dos liderados. São eles: ambição e energia, desejo de liderar e influenciar, honestidade e integridade, autoconfiança, inteligência e conhecimento técnico. Chiavenato (1999, p. 97) aponta falhas nesta teoria uma vez que “nem todos os traços são importantes em um líder, pois alguns deveriam ter maior realce do que os outros”. Além disso, o autor destaca que esta teoria ignora a reação dos subordinados nos resultados da liderança, além de ser uma abordagem simplista, uma vez que determina que um indivíduo que possua certos traços de personalidade será sempre líder em toda e qualquer situação. 2.6.1.2 Teoria dos Estilos de Liderança Esta teoria aborda os “possíveis estilos de comportamento do líder em relação aos seus subordinados, isto é, maneiras pelas quais o líder orienta a sua conduta” (CHIAVENATO, 1999, P. 98). De acordo com Santos e Valle (2015), na década de 1930, Kurt Lewin desenvolveu um estudo sobre os estilos de liderança, identificando três diferentes estilos. No primeiro estilo, liderança autocrática, os líderes tomam decisões sem consultar a equipe, mesmo que a interferência desta seja útil. Já na liderança democrática o líder, apesar de tomar a decisão final, envolve a equipe durante a decisão e elaboração de processo. E no estilo de liderança liberal ou laissez-faire a equipe tem muita liberdade em decidir como elaborar seu trabalho e atingir seus objetivos. O líder provê suporte e recursos quando necessário, do contrário, não se envolve. 22 Segundo Robbins (2004), esta teoria obteve pouco sucesso quanto à identificação de relações consistentes entre os padrões de comportamento de liderança e o desempenho do grupo. De acordo com o autor, faz-se necessária uma análise dos fatores situacionais que influenciam o sucesso ou o fracasso da liderança. A teoria descrita a seguir aborda este fator. 2.6.1.3 Teoria Situacional da LiderançaDe acordo com Chiavenato (1999, p. 100): As teorias situacionais partem do princípio de que não existe um único estilo ou característica de liderança válida para toda e qualquer situação. A recíproca é verdadeira: cada tipo de situação requer um tipo de liderança para se alcançar eficácia dos subordinados. Robbins (2004) destaca a abordagem desenvolvida por Robert House, denominada Teoria da Meta e do Caminho, segundo a qual cabe ao líder ajudar os funcionários a alcançar suas metas, provendo a orientação e o apoio necessários de modo a assegurar o atingimento dos objetivos da organização. Segundo esta teoria são quatro os comportamentos da liderança. O líder pode ser diretivo, ou seja, organiza o trabalho a ser executado, fornece instruções precisas sobre as tarefas e comunica aos liderados o que espera deles. O segundo comportamento, líder apoiador, demonstra sensibilidade pelas necessidades dos liderados e é amigável. O líder participativo consulta os funcionários e considera as ideias por eles apresentadas no momento da tomada de decisão. E o líder orientado para a conquista estabelece metas desafiadoras, pois espera que os liderados ofereçam o melhor desempenho possível. Chiavenato (1999, p. 102) destaca que “para um mesmo subordinado, o líder assume diferentes padrões de liderança, conforme a situação”. Nas situações em que o liderado apresenta eficiência, por exemplo, o líder pode dar mais liberdade nas decisões, enquanto que se o liderado comete erros seguidos, o líder pode impor mais autoridade e menor liberdade de trabalho. 23 2.7 Motivação Motivação refere-se a “desejos, aspirações e necessidades que influenciam a escolha de alternativas, determinando o comportamento do indivíduo” (KWASNICKA, 2006, P. 64). Segundo Baumotte, Fonseca, Da Silva & Raj (2013, p. 146) ao analisar o conceito de motivação, “devemos ter em mente que seu nível varia tanto entre indivíduos quanto em cada indivíduo em tempos diferentes” e que todo comportamento humano é motivado. No entanto, o que motiva um indivíduo não necessariamente motiva outro. 2.7.1 Teorias sobre Motivação 2.7.1.1 Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow Segundo Baumotte, Fonseca, Da Silva & Raj (2013), Maslow estabeleceu uma hierarquia das necessidades humanas divididas em cinco níveis (Figura 1), com base em dois grupos: necessidades básicas (dois primeiros níveis) e necessidades de crescimento (três últimos níveis). Figura 1 – Pirâmide de Maslow Fonte: BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013, p. 149. Autorreali zação Estima Social Segurança Fisiológico 24 O nível 1, fisiológico, diz respeito às necessidades básicas do ser humano (exemplo: fome, sede, moradia, higiene). O nível 2, segurança, é a necessidade de proteção contra alguma ameaça real ou imaginária (exemplo: estabilidade no emprego, casa própria, aposentadoria, proteção contra danos e violência). O nível 3, social, aborda a necessidade de ter amigos e ser amado (exemplo: ter uma família, casar, ser membro de uma comunidade). O nível 4, denominado estima, está relacionado ao desejo que o ser humano tem de ser respeitado, prestigiado e elogiado (exemplo: respeito e reconhecimento pelas outras pessoas). O último nível é a autorrealização, ou seja, a atitude ideal frente ao trabalho e a vida pessoal. Significa que o indivíduo cumpriu os objetivos a que se propôs. De acordo com Kwasnicka (2006, p.66): Maslow propôs que a teoria motivacional perfeita deverá presumir que as pessoas estão em um estado motivacional permanente, mas a natureza da motivação pode ser diferente de grupo para grupo ou de pessoa para pessoa, em determinadas situações. Segundo a teoria, cada nível tem que ser satisfeito para que o indivíduo possa se mover para o nível seguinte, sendo a maior aspiração atingir a autorrealização (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013). 2.7.1.2 Teoria Higiênico-Motivacional de Herzberg Chiavenato (2009) destaca que enquanto Maslow fundamenta sua teoria de motivação nas necessidades humanas (abordagem intra-orientada), Herzberg embasa sua teoria no ambiente externo e no trabalho do indivíduo (abordagem extra-orientada). Os fatores que conduzem à insatisfação denominam-se higiênicos e “são extrínsecos ao trabalho, isto é, podem destruir a motivação, mas melhorá-los não significa aumentá-la” (BAUMOTTE, FONSECA, DA SILVA & RAJ, 2013, p. 154). Já os fatores motivacionais são intrínsecos, ligados a sentimentos de autorrealização e reconhecimento e conduzem ao melhor desempenho. 25 O quadro 2 apresenta os principais fatores que causam satisfação e insatisfação ao indivíduo. Quadro 2 – Fatores que afetam a motivação Conduzem à Insatisfação (higiênicos) Conduzem à satisfação (motivacionais) Política da empresa Conquistas pessoais Supervisão Reconhecimento Relacionamento com o gerente O próprio trabalho realizado Condições de trabalho Responsabilidade Salário Promoção Relacionamento com os pares Crescimento Fonte: Baumotte, Fonseca, Da Silva & Raj, 2013, p. 155 Segundo Chiavenato (2009, p. 133) Herzberg propõe que se o objetivo é introduzir uma maior dose de motivação no trabalho deve-se realizar o “enriquecimento de tarefas, que consiste em deliberadamente ampliar a responsabilidade, os objetivos e os desafios das tarefas do cargo”. 2.7.1.3 Teoria da Participação de McGregor Ao analisar a motivação McGregor propôs duas “visões distintas do ser humano: uma basicamente negativa, chamada de Teoria X, e a outra basicamente positiva chamada de Teoria Y” (ROBBINS & JUDGE, 2014, p. 136). Na Teoria X, de acordo com Baumotte, Fonseca, Da Silva & Raj (2013), o homem é um ser carente, que não gosta do seu trabalho e se limita a fazer o necessário para sobreviver, não se importando com a realização pessoal. Por este motivo, a motivação é quase irrelevante, sendo necessário o uso da autoridade para assegurar a direção e o controle dos funcionários. Já na Teoria Y, conforme Robbins & Judge (2014), os gestores consideram que os empregados enxergam o trabalho como algo tão natural quanto o descanso e o lazer e por isso o indivíduo gosta de aceitar e busca responsabilidades e está preocupado com seu crescimento e aprendizado. 26 Segundo Kwasnicka (2006), se a organização espera que os indivíduos atuem em conformidade com a Teoria X ou com a Teoria Y e trata seus funcionários adequadamente, eles podem pautar seu comportamento nos moldes desejados. 27 3. PRINCIPAIS DESAFIOS À FORMAÇÃO DOS GERENTES DE P ROJETOS 3.1 Erros Comuns Cometidos na Seleção do Gerente de Projetos Como apontado por Vargas (2009), ao selecionar o gerente de projeto, muitas vezes a seleção é feita de maneira equivocada, mesmo possuindo uma boa descrição do que se espera do profissional. O primeiro critério avaliado erroneamente é a maturidade. Considera-se o tempo de trabalho, idade ou até mesmo a aparência como sinal de experiência. Para um gerente de projeto não é essa a maturidade desejada, mas sim aquela advinda da exposição a vários tipos de projetos e atuação em diversas posições. Outro fator é a disponibilidade. Segundo Vargas (2009, p.130) “ a organização não pode selecionar o gerente de projeto somente porque o profissional está disponível. É preciso que ele tenha todas as características descritas (...)”. Também não se pode selecionar um profissional para atuar em projetos apenas porque possui as habilidades técnicas desejadas. Tal profissional não consegue se desvincular dos aspectos técnicos, esquecendo dos demais fatores do gerenciamento de projetos. Da mesma forma, o bom profissional técnico não deve ser selecionado como gerente de projeto apenas para ganhar conhecimento a respeito das técnicas de gerenciamentode projetos. Marchetto (2010) destaca que em muitas organizações é comum designar a uma mesma pessoa os papéis de gerente de projeto e gerente funcional. Isto decorre do fato que o gerenciamento de projetos e a gestão tradicional têm habilidades e competências semelhantes, que podem auxiliar na execução deste duplo papel. No entanto estes dois papéis exigem perfis um tanto diferentes para um bom desempenho, principalmente no que diz respeito aos objetivos e o foco do trabalho. Como apontado pelo autor, se o gerente de projeto é aquele responsável pelo sucesso do projeto, ou seja, concluir o projeto, então o gerente funcional é aquele 28 que tem objetivos essencialmente operacionais e/ou de gestão, com foco no trabalho do dia-a-dia. Este duplo papel ocorre por diversas razões, mas a principal diz respeito a restrições, sejam de orçamento ou pessoal, sem considerar os impactos que tal decisão pode causar ao projeto. Marchetto (2010, p. 2) destaca ainda que a administração superior convence o futuro gerente de projeto/gerente funcional a assumir este papel, confiando em seu sentido de responsabilidade (...) ou minimizando o esforço necessário (...) ou atraindo o funcionário, prometendo-lhe um caminho de crescimento profissional rápido (...). A organização, ao atribuir o duplo papel de gerente de projeto/gerente funcional, não percebe a situação crítica criada, uma vez que o projeto precisa ser bem-sucedido e os funcionários, tanto da equipe do projeto, quanto da funcional, necessitam de orientação e apoio. Uma consequência direta desta situação é uma pesada carga de trabalho para este duplo gerente fazendo com que ele desista, em função da grande pressão e sem o devido apoio, delegue ou até mesmo precise adiar algumas das responsabilidades da gestão de projetos e/ou funcional. Como destacado pelo autor, na maior parte dos casos, o gerente fracassa na execução destes dois papéis ou alcança resultados medíocres em ambos. O ideal seria que este gestor atuasse apenas nas fases de iniciação e planejamento do projeto, contando com o auxílio de um escritório de projetos ou um profissional com conhecimento em gerenciamento de projetos. Nas demais fases a função deveria ser exercida por um gerente de projetos dedicado integralmente a este papel. 3.2 Líder ou Gestor? Conforme Cavalcanti, Carpilovsky, Lund & Lago (2006), gestor é aquele que dirige a empresa de forma eficiente e eficaz e está inserido em uma estrutura hierarquizada, regulamentada e ordenada. Já o líder é a pessoa que dirige a 29 empresa de acordo com a sua visão pessoal, de uma forma mais proativa e flexível em relação ao ambiente. Os autores (apud COVEY, 1996, p. 163) destacam que “ a liderança está mais voltada para fazer as coisas certas, enquanto que a gerência se preocupa em fazer certo as coisas”. Laufer (2015) aponta outra diferença crucial entre líderes e gestores, relacionada ao caos e ordem. Os líderes são capazes de tolerar o caos e a falta de estrutura, conseguindo avaliar as situações, fornecendo as repostas certas no momento mais adequado, enquanto os gerentes buscam sempre a ordem e o controle. Considerando que as organizações são constantemente afetadas pelas mudanças econômicas, políticas e tecnológicas é preciso que o profissional seja capaz de perceber a realidade tal como é, entendendo, aceitando-a e reagindo de forma tempestiva às mudanças. Laufer (2015) correlaciona esta situação ao âmbito do gerenciamento de projetos, uma vez que os gerentes sabem que seus projetos podem ser afetados por mudanças decorrentes de um ambiente dinâmico, além de eventos inesperados e dificuldades típicas dos projetos em função de suas características (único e temporário). Por este motivo tais profissionais devem ser capazes de tolerar as mudanças. Cavalcanti, Carpilovsky, Lund & Lago (2006, p. 62) destacam que como a gerência trata basicamente do status quo e a liderança trata principalmente da mudança, há uma premência, neste momento de mudanças profundas e velozes, de se criarem líderes, de as empresas se posicionarem como incubadoras de liderança. Laufer (2015) aponta que, em projetos, o gerente mais bem-sucedido é aquele que desafia o status quo diversas vezes ao longo do ciclo de vida do projeto. Segundo o autor (2015, p. 15/16), isto “pode alterar significativamente o destino do projeto e é a essência da liderança do projeto”. Outro ponto de diferença entre liderança e gestão diz respeito à cultura. Diferenças culturais entre os membros de uma equipe de projetos são comuns, uma 30 vez que os projetos são temporários, finitos e sua equipe é formada por grupos diferentes da organização, muitas vezes com culturas diferentes entre si. A liderança é aquela que cria e muda as culturas, enquanto que os atos puros de gestão estão inseridos em uma cultura. No âmbito de projetos, a cultura é o que proporciona aos membros da equipe uma referência de estrutura, regras de convivência e entendimento comum dos objetivos do projeto. Quando os membros do projeto compartilham a mesma cultura, eles desenvolvem mutuamente um conjunto de ideias aceitas sobre o que é real em seu ambiente que está em constante mudança, o que é importante e como responder a isso. (LAUFER, 2015, p. 17) Os líderes devem moldar a cultura dos projetos com base no trabalho em equipe, ressaltando a mútua interdependência e a responsabilidade com o resultado final do projeto. Mais que isso, os líderes de projeto devem garantir que a cultura seja adequada no contexto do projeto, que é único em sua forma. 3.3 Desenvolvimento das Competências Comportamenta is em Gestão de Projetos A definição de programas de treinamento para gerentes de projetos é um dos maiores desafios enfrentados pela área de gestão de pessoas das organizações, tamanha a variedade de qualificações complexas e inter-relacionadas (qualitativas/comportamentais, organizacionais e quantitativas) que a gestão de projetos abrange. Nos primórdios da gestão de projetos os gerentes aprendiam com seus próprios erros, pois não lhe era dada a possibilidade de beneficiar-se de experiências alheias. (KERZNER, 2006, p.410) Kerzner (2006) destaca que, atualmente, as empresas com excelência em gestão de projetos proporcionam treinamento e desenvolvimento para aqueles com interesse em seguir carreira nesta área. No entanto, como mostra o gráfico 1, nas organizações brasileiras ainda é incipiente a existência de programas formais de capacitação em gerenciamento de projetos, conforme dados da pesquisa PMSURVEY.ORG de 2014 realizada pelos Chapters do PMI – Project Management Institute. 31 Gráfico 1 - Existência de programa formal de capacitação em Gerenciamento de Projetos Fonte: PMSURVEY.ORG 2014 Edition - PMI - Project Management Institute Como destacado por Russo, Ruiz & Cunha (2005) existe uma grande deficiência relacionada às soft skills, também conhecidas como competências comportamentais. Os autores destacam que “para perceber emoções, vivenciá-las e gerenciá-las, é necessário muito aprendizado e disponibilidade” (RUSSO, RUIZ & CUNHA, 2005, p. 373). A diversidade encontrada em uma equipe de projeto requer uma sensibilidade maior no gerenciamento das diferenças, proporcionando harmonia no relacionamento interpessoal. Em complemento, Kelber (2005) destaca que para atingir-se maturidade em gestão de projetos, deve haver um alinhamento entre as competências e o perfil do gerente de projetos. Uma vez que as características de personalidade estão alinhadas com as atividades de gestão de projetos, tem-se a motivação necessária para atingir-se os resultados esperados. 32 O autor destaca que “o lado intangível do gestor, caracterizado pelo seu perfil,é na realidade o fator motivacional ou limitador que permite atingir-se ou não o grau de maturidade esperado” (KELBER, 2005, p. 50). No entanto, pouca atenção é dada ao desenvolvimento das competências comportamentais, uma vez que a educação formal e técnica em gestão de projetos enfoca competências voltadas ao intelecto, gerando uma incompetência emocional em pessoas extremamente técnicas. Nesse contexto, muitas vezes os treinamentos realizados para desenvolver habilidades e competências em gerenciamento de projetos são ineficazes, uma vez que se restringem a teorias ao invés de focar em vivências de grupo, aplicações práticas e na busca do autoconhecimento do gerente de projeto, o que favoreceria a percepção de competências comportamentais além das técnicas. Russo, Ruiz & Cunha (2005) destacam que as competências devem ser trabalhadas no exercício diário e só terão efeito se significarem uma real intenção por parte do gerente de projetos. Kerzner (2006) aponta as consequências para o gerenciamento de projetos ocasionado pelo não desenvolvimento das competências organizacionais em gerentes de projeto. A primeira competência destacada é o pensamento crítico. Gerentes de projeto que não desenvolvem esta competência podem assumir projetos estabelecendo prazos irreais, adotando procedimentos de alto risco e gastando mais tempo que o necessário para a finalização dos projetos. Isto decorre uma vez que se limitam a busca de informações às fontes padronizadas, utilizando procedimentos e ferramentas de fácil disponibilização e aceitando as hipóteses pré-estabelecidas com relação aos recursos e estimativas de prazo. Outra competência destacada é a comunicação. O não desenvolvimento desta competência pode gerar documentação inadequada a respeito do projeto, além da perda do apoio dos stakeholders, uma vez que terão pouco conhecimento sobre o que está acontecendo no projeto. Outra consequência pode ser ocasionada por um entrave na comunicação entre o gerente de projeto e os integrantes da 33 equipe, fazendo com que estes tenham que entender por seu próprio esforço as necessidades do projeto. A terceira competência, trabalho em equipe, é fundamental para o bom desempenho do projeto. A falta de desenvolvimento desta competência pode provocar indefinição quanto a como as responsabilidades de cada integrante da equipe afetam os demais, gerando relutância no apoio mútuo, além de obstáculos que prejudicam o bom desenvolvimento do projeto. A geração de conflitos pode ocasionar que integrantes fundamentais da equipe busquem outras oportunidades. A tomada de decisão é mais uma competência que se não desenvolvida de forma apropriada pode impactar os resultados dos projetos. Gerentes de projeto que não desenvolvem esta competência podem guiar-se pelas ideias dos integrantes mais experientes da equipe, ficando na dependência desta sempre que se depararem com decisões mais complexas. 34 4. GESTÃO DE PROJETOS COMO COMPETÊNCIA ESSENCIAL DA S ORGANIZAÇÕES A gestão de projetos passou por uma importante transformação ao longo das últimas décadas. Antes considerada como uma disciplina técnica voltada para a operacionalização e viabilização dos projetos, hoje a gestão de projetos, como destacado por Lopes e Sbragia (2013), tem uma conotação que dá ênfase à integração dos projetos ao planejamento estratégico. Neste contexto, os aspectos comportamentais ganharam cada vez mais importância, uma vez que o profissional que atua em gestão de projetos passou de mero especialista em ferramentas e técnicas a ter que possuir compreensão global do contexto da cadeia de valor e do sistema de valor nos quais o projeto está inserido. Russo, Ruiz & Cunha (2005) destacam o papel da liderança desempenhado pelo gerente de projeto como um dos fatores críticos de sucesso. Os autores também pontuam a influência que o gerente de projetos tem sobre os resultados, associando-a a seu comportamento, motivação e habilidades. O gráfico 2, a seguir, apresenta as principais habilidades necessárias e valorizadas ao gerenciar projetos em organizações brasileiras, de acordo com a pesquisa PMSURVEY.ORG de 2014 realizada pelos Chapters do PMI – Project Management Institute. 35 Gráfico 2 - Principais habilidades necessárias e valorizadas ao gerenciar projetos nas Organizações Fonte: PMSURVEY.ORG 2014 Edition.PMI - Project Management Institute De acordo com Russo, Ruiz & Cunha (2005), existem cinco áreas de especialização que o gerente de projeto deve compreender e utilizar para um adequado gerenciamento de projetos. São elas os conhecimentos em gerenciamento de projetos, as normas e regulamentos da área de aplicação do projeto, o entendimento do ambiente do projeto, o conhecimento e habilidades de gerenciamento geral e as habilidades interpessoais. O PMI (2013) aponta como importantes habilidades interpessoais para um gerente de projetos a liderança, construção de equipes, motivação, comunicação, influência, tomada de decisões, negociação, gerenciamento de conflitos e coaching. Como identificar e desenvolver estas competências formando gerentes de projetos dentro de uma organização é o próximo tópico deste trabalho. 4.1 Gestão de Projetos por Competências 4.1.1 Identificando e Avaliando Competências em Ges tão de Projetos Nisembaum (2000) aponta duas barreiras que impedem o alinhamento do indivíduo com a organização. A primeira é o não entendimento da estratégia por 62,40% 55,80% 44,20% 32,70% 32,10% 29,10% 27,30% 24,80% 24,80% 13,30% 12,10% 10,90% Liderança Comunicação Negociação Gerenciamento em gestão de projetos Capacidade de integrar as partes Trabalho em equipe Iniciativa Conhecimento técnico Gerenciamento de conflitos Política Organização Domínio de ferramentas em gestão de projetos 36 quem deve implementá-la e a segunda é a não vinculação das metas, incentivos e competências pessoais à estratégia da organização. O autor destaca que “para que possam ser estabelecidas parcerias bem- sucedidas entre o indivíduo e a organização falta um elemento na equação: o comprometimento” (NISEMBAUM, 2000, p.111): Visão Longo Prazo Comprometimento Médio Prazo Ação Imediata Lopes e Sbragia (2013) destacam como um ponto crucial a criação de um contrato psicológico do profissional com a empresa: Contratos psicológicos são firmados de modo implícito, e não por escrito, entre os indivíduos e suas organizações, e contemplam as definições dos termos desta relação. (...) surgem quando os trabalhadores percebem que suas organizações lhes proporcionarão certas recompensas em troca das contribuições que eles fizerem. Ao aplicar um instrumento de mapeamento de competências individuais e adotar um plano específico de desenvolvimento com foco em gestão de projetos pode-se estimular o profissional a se concentrar nos resultados da organização. Lopes e Sbragia (2013) apresentam a abordagem do IPMA - International Project Management Association para desenvolvimento de uma visão sistêmica que auxilia na mensuração das competências em gestão de projetos. O foco desta abordagem reside em três grupos de competências: técnicas, contextuais e comportamentais. A integração destes três grupos forma o olho da competência (figura 2), “que representa a integração de todos os elementos da gestão de projetos como se fossem vistos pelos olhos do gerente de projetos, quando analisando uma situação singular” (LOPES & SBRAGIA, 2013, p.31). 37 Figura 2 - Olho da Competência Fonte: LOPES & SBRAGIA, 2013, p.31 O perfil do profissional que atua em gestão de projetos deve apresentar um equilíbrio das competências necessárias conformedescrito a seguir. As competências técnicas (hard) descrevem os elementos de competência fundamentais do gestor de projetos, isto é, as áreas de conhecimento envolvidas na gestão de projetos, bem como métodos, ferramentas e técnicas. As competências comportamentais (soft) apresentam os elementos relacionados as atitudes, habilidades e comportamentos do gestor de projeto e que são relevantes para o profissional nas diferentes situações que ocorrem ao longo do ciclo de vida do mesmo. E, por último, as competências contextuais descrevem os elementos de competência relacionados ao contexto do projeto. São os aspectos organizacionais, isto é, o profissional que atua em gestão de projetos deve compreender a relação entre a gestão do projeto e o negócio da organização onde este está inserido. A figura 3 apresenta todas as competências abarcadas em cada um dos grupos descritos. 38 Figura 3 - Competências em Gestão de Projetos Fonte: LOPES & SBRAGIA, 2013, p.32 Segundo estes autores o mapeamento das competências individuais em gestão de projetos baseado na abordagem do IPMA auxilia na formação de um panorama com os pontos a serem desenvolvidos pelos profissionais. Da mesma forma, Crawford e Cabanis-Brewin (2006) apontam como um primeiro passo para a construção e aperfeiçoamento de competências em gestão de projetos a avaliação de competências através da identificação das necessidades de melhoria. O passo seguinte é estabelecer modelos de competências, isto é, uma lista de diferentes competências para cada papel ou família de tarefa, com a definição de cada competência e o indicador de comportamento que descreve como a competência pode levar ao alto desempenho (CRAWFORD & CABANIS-BREWIN, 2006, p. 50) Estes autores apresentam um modelo de avaliação de competências, denominado Programa de Avaliação de Competência para Gerente de Projeto (PMCAP), co-desenvolvido pelo PM College e Caliper International. 39 Este programa é formado por três instrumentos, sendo eles um teste para avaliação de níveis de conhecimento, uma avaliação de potencial e uma pesquisa para avaliar o desempenho do gerente de projeto no local de trabalho. Tais instrumentos buscam avaliar os três grupos de competências em gestão de projetos (técnicas, contextuais e comportamentais). A ferramenta de avaliação de níveis de conhecimento testa o conhecimento do profissional “na linguagem, conceitos e práticas da profissão com questões baseadas no PMBOK do PMI” (CRAWFORD & CABANIS-BREWIN, 2006, p. 51). A avaliação de potencial, como o próprio nome diz, testa o potencial de execução do papel de gerente de projeto através de uma série de questões que testam sua habilidade em diversas competências, tais como resolução de problemas, negociação, gerenciamento de conflitos e tempo. O último instrumento utilizado para avaliação de competências é a avaliação comportamental, realizada no local de trabalho e que demanda a utilização de uma ferramenta multiavaliação, também conhecida como avaliação 360 graus. De acordo com Crawford e Cabanis-Brewin (2006), isto possibilita a aquisição de feedback de diversas fontes sobre o comportamento do gerente de projeto no ambiente de trabalho e como seu conhecimento é aplicado na prática. Tais fontes podem ser pares, subordinados, clientes, fornecedores ou qualquer outro profissional em contato direto com o gerente de projeto. Tais avaliações fornecem aos profissionais uma pontuação em cada área de competências, auxiliando na identificação de pontos fortes e gaps de desenvolvimento. Da mesma forma, no nível organizacional, é possível a identificação de quais são as competências fortes e aquelas que necessitam de melhoria, fornecendo uma visão de todos os profissionais que atuam em projetos na empresa. Crawford e Cabanis-Brewin (2006) recomendam que durante a avaliação individual dos profissionais, a organização estipule quais são os papéis considerados essenciais para garantir um melhor desempenho dos gerentes de projeto. Segundo os autores os possíveis papéis são líder de equipe, gerente de 40 múltiplos projetos, gerente de programa, gerente de portfólio e chefe de escritório de projeto. Para cada um desses papéis “ a organização precisará criar uma descrição efetiva das atividades/papéis que definem a expectativa para o desempenho/competência, requerimentos experimentais e qualquer pré-requisito técnico exigido” (CRAWFORD & CABANIS-BREWIN, 2006, p. 52). Estes autores também destacam que o papel do gerente de projeto progressivamente se distancia mais da parte técnica e direciona-se para a liderança propriamente dita. No entanto, isto não significa que a técnica em gerenciamento de projeto não seja mais importante. Por este motivo, muitas organizações adotam um novo papel, o Project Planner. Este profissional assume, junto com o gerente de projeto, a responsabilidade de executar as tarefas orientadas ao planejamento, organização, implementação e controle do plano de projeto. Em conjunto, estes profissionais resolvem o dilema “liderar versus gerenciar”, pois trabalham em cooperação atendendo as habilidades exigidas para estes papéis. Crawford e Cabanis-Brewin (apud Christopher Sauer, 2001) destacam que para o desenvolvimento de competências organizacionais em gerenciamento de projetos, é recomendada a utilização do escritório de projetos como um catalisador para o desenvolvimento de competências em gerenciamento de projetos. Deve-se estimular o desenvolvimento individual de capacidades e a criação de conhecimento organizacional, permitindo que o aprendizado aconteça. Pode-se, assim, desenvolver um programa de acompanhamento de progressão de competências e criar uma carreira em gestão de projetos na organização, gerando um ambiente para o reconhecimento da gestão de projetos como uma competência essencial da organização. 4.2 Planos de Carreira em Gestão de Projetos Os projetos, por sua natureza, formam uma estrutura organizacional temporária dentro da organização. Conforme apontado por Lopes e Sbragia (2013) isto pode causar grande tensão nos profissionais envolvidos em projetos. 41 Nesse sentido, como mencionado anteriormente, Crawford e Cabanis-Brewin (2006) recomendam como uma boa prática para as organizações a definição de papéis e a estruturação de um plano de carreira em gestão de projetos. Segundo os autores (2006, p.48) as empresas definem as competências para estes papéis e fornecem uma escolha no caminho na carreira profissional que permite aos indivíduos que tem afinidade na arte do gerenciamento de projeto serem presenteados com um título mais especifico – como gerentes de programa e mentor – e aqueles que tem melhores habilidades na ciência do gerenciamento de projetos recebem o título de especialista em planejamento e controle de projetos. Dessa forma os profissionais que atuam em gestão de projetos podem ter um plano de carreira bem definido que inclui uma grade de treinamentos específicos, critérios de promoção adequados, reconhecimento por mérito, além de oportunidades para progredir para níveis mais altos na organização. Crawford e Cabanis-Brewin (2006, p.55) destacam que “o desenvolvimento de uma estrutura de carreira é essencial para o desenvolvimento de uma competência em gerenciamento de projeto na organização”. O desenvolvimento de um plano de carreira em gestão de projetos atua como um incentivo para que os profissionais queiram permanecer na empresa, pois facilita a visualização de uma trilha de crescimento profissional, além de garantir que os investimentos que os gerentes de projeto realizam no desenvolvimento de suas habilidades sejam recompensados. Além disso, permite a organização comparar o nível de competência eexperiência dos gerentes de projetos, podendo adequar a alocação destes de acordo com a importância do projeto. A figura 4 apresenta uma proposta para plano de carreira para um gerente de projeto segundo Crawford e Cabanis-Brewin (2006). 42 Figura 4 - Plano de Carreira para Gerente de Projeto Fonte: Adaptado de Crawford e Cabanis-Brewin, 2006 Um plano de carreira de modo geral, conforme descrito por Salicio (2015), tem por objetivo atender aos interesses do profissional e da organização. Neste sentido, as competências dos profissionais são consideradas de acordo com as opções de carreira oferecidas pela organização. A estratégia para o desenvolvimento da carreira considera três elementos. O primeiro, denominado requisitos de experiência, considera que uma ampla experiência é necessária para o crescimento profissional. No caso específico do gerente de projetos, recomenda-se a atuação em diferentes funções e projetos com complexidades variadas de modo a torna-lo maduro nesta área de atuação. O segundo elemento, são os requisitos de treinamento, isto é, os conhecimentos necessários para cada nível estabelecido no plano de carreira. Crawford e Cabanis-Brewin (2006) recomendam que no nível inicial de gerenciamento de projetos os treinamentos sejam mais básicos e foquem na exposição à prática. Já nos níveis mais avançados, é primordial uma educação voltada aos planos táticos e estratégicos da organização, incluindo tópicos sobre liderança. Por último, a documentação provê a evidência da aquisição das habilidades desejadas/necessárias, através de certificações, credenciais ou diplomas. Nível 1 - Controlador de Projeto Nível 2 - Líder de Equipe de Projeto Nível 3 - Gerente de Projeto Nível 4 - Gerente de Programa Nível 5 - Gerente de Projeto Sênior Nível 6 - Mentor 43 4.3 Desenvolvimento das Habilidades de Liderança O profissional que atua como gerente de projetos deve compreender que seu papel principal é atuar como líder, gerenciando a equipe do projeto e contribuindo para o crescimento da empresa, através da criação de um ambiente propício para o alto desempenho. Nesse sentido, seu maior desafio é lidar com pessoas sob as quais não possui nenhuma autoridade formal. Como destacado por Santos e Valle (2015) a liderança desponta como um processo chave nas organizações, pois o gerente de projeto deve ser um líder para lidar com sua equipe de projeto. Trata-se de direcionar sua influência interpessoal através do processo de comunicação em uma dada situação. Segundo os autores, o líder deve buscar a eficiência ao longo do ciclo de vida do projeto, possibilitando a interação entre as pessoas da equipe. Deve também esclarecer todos os objetivos, estabelecer e manter a visão estratégica do projeto e permitir que todos os outros possam influenciar os resultados, fazendo com que a equipe se sinta parte do projeto e dos resultados. A liderança deve ser considerada uma habilidade essencial para alavancar resultados e por este motivo deve ser estimulado seu desenvolvimento. Apresenta- se a seguir o modelo dos oito papeis, que integra as competências de um líder (figura 5). Cavalcanti, Carpilovsky, Lund & Lago (2006) destacam que os papeis significam as atuações que um líder deve exercer, conforme a situação. 44 Figura 5 – Os Papeis dos Líderes Fonte: CAVALCANTI, CARPILOVSKY, LUND & LAGO, 2006, p. 65 Segundo os autores, o líder mentor deve escutar, apoiar e demonstrar reconhecimento pelo trabalho desenvolvido por sua equipe. Deve estimular o desenvolvimento de competências, proporcionando oportunidades de capacitação. Santos e Valle (2015) destacam que o líder ao desempenhar este papel desenvolve competências como autoconsciência e empatia, ao auxiliar sua equipe a identificar qualidades e pontos de melhoria. No âmbito do projeto, propicia uma maior clareza das informações, responsabilidade e comprometimento com os objetivos. O papel facilitador estimula o esforço do grupo, criando coesão e moral e administrando os conflitos que eventualmente surgem. Desenvolve competências como administração de conflitos e flexibilidade. Segundo Cavalcanti, Carpilovsky, Lund & Lago (2006) o papel de monitor diz respeito à atenção do líder a questões de controle interno, tais como gestão de processos essenciais, consolidação e criação de continuidade. Desenvolve competências como pensamento crítico e agilidade. 45 O papel de coordenador é relacionado ao fluxo de trabalho. A responsabilidade recai sobre alocar “as pessoas certas no lugar certo na hora certa, a fim de cumprir a função correta, proporcionando-lhes condições necessárias, inclusive ferramentas e espaço físico” (CAVALCANTI, CARPILOVSKY, LUND & LAGO, 2006, p. 67). Neste papel desenvolvem-se as competências de gerenciamento de projetos propriamente dito, com foco no planejamento e nas tarefas a serem desenvolvidas. No papel de diretor, de acordo com Santos e Valle (2015) o líder estimula uma visão inspiradora na equipe, ao demonstrar como o trabalho desenvolvido se encaixa nos objetivos da organização, mobilizando todos na mesma direção. Dessa forma aumenta-se o grau de comprometimento da equipe e são estabelecidas metas que contribuem com os objetivos definidos. As competências desenvolvidas pelo líder ao desempenhar este papel são comunicação, planejamento e organização. No papel de produtor, o líder deve criar um ambiente que motive a equipe a ser tão produtiva, autônoma e comprometida como ele. As competências desenvolvidas estão relacionadas a motivação da equipe e administração do estresse. Segundo Cavalcanti, Carpilovsky, Lund & Lago (2006, p. 68) o líder, ao desempenhar o papel de negociador, “deve apresentar e negociar ideias com eficácia, ciente de que, nas organizações, as ideias só dão certo se as pessoas enxergarem benefícios em aplicá-las”. O gerente de projeto neste papel desenvolve habilidades de escuta ativa, negociação, mobilização e técnicas de apresentação. E no papel de inovador, o gerente deve utilizar a criatividade e a gestão de transformação. As competências desenvolvidas neste papel são o pensamento criativo e a gestão de mudança. Conforme Cavalcanti, Carpilovsky, Lund & Lago (2006) a disposição dos papeis em quadrantes possibilita a percepção de complementaridade entre eles e as funções desempenhadas (metas, mudanças, processos e pessoas). Além disso, os papeis contribuem para o desenvolvimento de competências tanto internas quanto externas à organização, mantendo assim sua competitividade frente ao mercado. 46 Segundo os autores “o desafio para o líder é integrar de maneira dinâmica as competências de cada um dos papeis às situações gerenciais encontradas” (CAVALCANTI, CARPILOVSKY, LUND & LAGO, 2006, p. 72). Daí a importância do aprendizado contínuo, junto a um processo de transformação, que ocorre em cinco passos. No primeiro passo, o líder preocupa-se em seguir as regras determinadas e ensinadas pela organização. No passo seguinte, o líder acrescenta suas experiências, reconhecendo que valores e cultura organizacional não estão explícitos nas regras. No passo três, o líder tem mais confiança na sua intuição, experimentando novas formas de atuação e correndo riscos. A seguir, no passo quatro, o líder tornou-se mais confiante na sua intuição, uma vez que são exigidas cada vez mais rápidas tomadas de decisão. No passo cinco, os líderes adotam uma visão holística, conseguindo alternar entre os diversos papeis de acordo com a necessidade. 47 5. CONCLUSÃO O objetivo deste trabalho foi analisar e propor como identificar e desenvolver competências visando a formação de líderes de gerenciamento de projetosdentro de uma organização. Como apontado por Crawford e Cabanis-Brewin (2006, p.56) “muitas organizações forçam as pessoas a ficarem na sua posição mesmo que elas não estejam adaptadas a esta ou não desejam tornar-se uma pessoa daquela posição”. A organização que deseja destacar-se como de alta maturidade em gestão de projetos deve evitar que a migração de técnico especialista para gerente de projeto se dê apenas porque não há outra opção no plano de carreira para a parte técnica. Com opções de carreira em gestão de projetos, como por exemplo uma na área técnica e outra voltada para a liderança, o gerente técnico pode ficar na sua área de atuação e tornar-se um integrante essencial e responsável pela parte técnica do projeto. Já os profissionais com interesse em uma carreira em gerenciamento de projetos poderiam vislumbrar uma trilha de crescimento profissional na área, minimizando a incerteza de continuidade, em função da característica temporária dos projetos. Além disso, as opções de crescimento e um plano de carreira auxiliam no incremento da maturidade da organização em gerenciamento de projetos. A implantação da gestão de projetos por competências, além de proporcionar as vantagens apresentadas neste trabalho, também propicia uma reestruturação na organização, contribuindo para a consecução das estratégias e objetivos traçados. Esta reestruturação inclui a remodelação das atividades relacionadas com gestão de pessoas, tais como recrutamento e seleção, programas de treinamento e o desenvolvimento de um plano de carreira em gestão de projetos. A mudança de foco em gestão de projetos da “função” para a “competência”, contribui como um estímulo à permanência dos funcionários na organização, na medida em que estes estarão satisfeitos e comprometidos com as tarefas a serem desempenhadas. 48 Outro ponto a destacar é relativo ao desenvolvimento da liderança. Considerando-se que os projetos estão inseridos em um ambiente dinâmico, onde as mudanças são inevitáveis, são necessárias competências tanto de liderança quanto de gestão. Deve-se atentar que são as atitudes de liderança que definem o gerente de projeto e inspiram os membros da equipe a atingir os objetivos. Perceber a distinção entre gestão e liderança pode ser muito útil ao gerente de projeto quando ele começa a moldar suas atitudes e desenvolver suas habilidades. Para se tornar um líder de projetos bem-sucedido é preciso perceber que estes papeis estão interligados. Por último, como recomendação para as empresas que desejam implantar gestão de projetos por competências, seria interessante realizar uma pesquisa junto aos concorrentes com o intuito de identificar as competências organizacionais e essenciais destes. Dessa forma a empresa poderia realizar um benchmarking das competências avaliando sua posição no mercado e traçar estratégias para se destacar das demais. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMOTTE, Ana Cláudia Trintenaro; FONSECA, Doris Pereira D’Alincourt; DA SILVA, Lauro Henrique de Carvalho Monteiro; RAJ, Paulo Pavarini. 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