Buscar

01b7d1fb-3226-4e20-b5c8-dd300a5b96fc

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 80 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 80 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 80 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
Disciplina: Metodologia do Ensino do Texto Literário - verso 
Autores: Esp. Tania Mara Aristimunho Vargas 
Revisão de Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso 
Ano: 2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da 
Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos 
autorais. 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
VARGAS, Tania Mara Aristimunho. 
Metodologia do Ensino do Texto Literário – Verso / Tania Mara Aristimunho 
Vargas. – Curitiba, 2014. 
80 p. 
Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva. 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. 
Material didático da disciplina de Metodologia do Ensino do Texto Literário - 
Verso – Faculdade São Braz (FSB), 2017. 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
Metodologia do Ensino do Texto 
Literário - Verso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANO 
2017 
 
4 
 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 
112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também 
brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de 
dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de 
estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
Apresentação da disciplina 
 Nesta disciplina objetiva-se fornecer elementos para análise de textos em 
verso a partir da teoria da versificação iniciada na literatura ocidental, ainda na 
Grécia Antiga. 
Toda a teoria está embasada na obra de Alfredo Bosi, Hernâni Cidade, Celso 
Cunha, Vitor Manuel de Aguiar e Silva e Hênio Tavares, por acreditar que 
apresentam o melhor na área de Teoria Literária e por analisarem fragmentos e/ou 
textos poéticos em sua total plenitude. 
É necessário salientar, nessa pequena apresentação, que o artista trabalha a 
língua, mesmo que não enquanto língua, pois ele a supera (abordando assim essa 
superação). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Aula 1 – Os Gêneros Literários 
Apresentação da aula 1 
 Nesta aula serão abordados os contextos históricos e as definições dos 
Gêneros Literários. 
 
1. Os Gêneros Literários 
 A palavra Gênero vem do latim Generu, que significa família; ou seja, 
agrupamento de indivíduos ou seres que têm características comuns. Portanto, os 
gêneros literários são agrupados por suas semelhanças. 
Ferreira (1986), atribui a gênero as seguintes acepções: 
 
[...] [Do lat. genus, eris.] S.m. 1. Lóg. Classe cuja extensão se divide em 
outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies. 2. 
P. ext. Conjunto de espécies que apresentam certo número de caracteres 
comuns convencionalmente estabelecidos. 3. P. ext. Qualquer agrupamento 
de indivíduos, objetos, fatos ideias, que tenham caracteres comuns; espécie, 
classe, casta, variedade, ordem, qualidade, tipo: Frequentava todo gênero de 
gente; Que gênero de conversa é esta? Nesta rua há todo gênero de casas. 
4. Maneira, modo, estilo: Não concordo com esse gênero de vida. 5. Nas 
obras de um artista, de uma escola, cada uma das categorias que, por 
tradição, se definem e classificam segundo o estilo, a natureza ou a técnica: 
os gêneros literários, musicais, pictóricos. 6. Classe ou natureza do assunto 
abordado por um artista: gênero dramático; gênero romântico [...] 
(FERREIRA, 1986, p. 844). 
 
A Literatura ocidental se inicia com a poesia épica de Homero, o primeiro e, 
no conceito de muitos historiadores e literatos, o maior poeta da Antiguidade e de 
todos os tempos. Ele foi o último e o maior dos rapsodos (poetas cantores 
ambulantes, que memorizavam uma enorme quantidade de versos, sem que 
houvesse a preocupação de autoria). 
A Grécia ágrafa, até o tempo do tirano Psístrato (605? – 527? a.C.), época em 
que as obras de Homero foram coletadas e registradas pela escrita, tinha na 
memória dos rapsodos, considerados homens sagrados ou vates (profetas) 
inspirados por deusas e deuses, a memória cultural dos antepassados. 
 Platão (~ 428 a.C. – 347 a.C.) foi o primeiro autor a se preocupar em separar 
as obras literárias em três gêneros– o lírico, o épico e o dramático nos livros III e X 
de A República. De início, o filósofo grego já distingue três divisões: a poesia 
 
7 
 
mimética ou dramática (que compreenderia a tragédia e a comédia); a poesia não 
mimética (ou lírica), representada pelos poetas ditirâmbicos, que relatam os fatos 
“eles mesmos”, e, por fim, a poesia mista ou épica (a epopeia de Homero, 
principalmente), que combinava o gênero lírico e o épico. 
 
1.1 Gênero Lírico 
A palavra lírico vem do latim, que significa lira; instrumento musical usado 
para acompanhar as canções dos poetas da Grécia antiga, e retomado na Idade 
Média pelos Trovadores. O gênero lírico, portanto, em suas origens, está 
profundamente ligado à música e ao canto. Mesmo mais tarde, quando a poesia 
lírica deixa de ser composta para ser cantada e passa a ser escrita para ser lida, 
ainda conserva traços de sonoridade através dos elementos fônicos do poema 
(metros, acentos, rimas, aliterações, onomatopeias). 
A ligação com a música faz com que se entenda com mais intensidade a 
característica principal do gênero lírico, a emocionalidade. Lírico é uma explosão de 
sentimentos, sensações, emoções. 
Segundo Roman Jakobson (1941), tendo como fator fundamental da 
comunicação o emissor, o gênero lírico ativa intensamente a função emotiva da 
linguagem humana. 
Afirma-se, portanto, que o gênero lírico é a expressão do sentimento pessoal, 
afirmação reforçada por Hegel (1993), evidenciando que: 
[...] é a maneira como a alma, com seus juízos subjetivos, alegrias e 
admirações, dores e sensações, toma consciência de si mesma no âmago 
deste conteúdo" (HEGEL, 1993, p.608). 
 
 
Nesse contexto a ligação do gênero lírico com a música está relacionada pela 
emocionalidade em questão, a qual traz e traduz o sentimento do ser humano, do 
poeta e do sujeito que se isola e concentra-se em seu estado de alma e mundo 
exterior. 
De fato, o poeta lírico é o indivíduo isolado que se interessa somente pelos 
estados da alma. É aquele que se preocupa de forma demasiada com as próprias 
sensações voltadas para si. O universo exterior só é considerado quando existe uma 
 
8 
 
identificação, ou é passível de ser interiorizado pelo poeta. Dessa forma, na maioria 
das vezes o poeta manifesta sua emotividade por meio de poemas curtos, uma 
exceção é o episódio de Inês de Castro em Os lusíadas, de Camões ou a introduçãode Iracema, de José de Alencar. 
 O episódio de Inês de Castro ocupa as estâncias 118 a 135 do Canto III de 
Os Lusíadas e relata o assassinato de Inês de Castro, em 1355, pelos ministros do 
rei D. Afonso IV de Borgonha, pai de D. Pedro, seu amante. Inês de Castro 
simboliza a força e a veemência do amor em Portugal e é considerado um dos mais 
belos momentos do poema, é a um só tempo um episódio histórico e lírico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os Lusiadas 
Fonte: https://imagens.publicocdn.com/imagens.aspx/812617?tp=UH&db=IMAGENS 
 
 Antes de Camões imortalizar Inês em Os Lusíadas, Fernão Lopes, na prosa, 
Garcia de Resende em verso e Antônio Ferreira, no teatro, já haviam explorado a 
figura histórica de Inês Pires de Castro, evidenciado no enredo do episódio: 
Dom Pedro, Príncipe de Portugal, filho do Rei Afonso IV, era casado 
com D. Constança, mas se apaixonara por Inês de Castro, dama de 
companhia de D. Constança e filha ilegítima de um nobre português. 
 Com a morte de D. Constança, Inês foi morar em Coimbra às 
margens do Rio Mondego e D. Pedro, futuro Rei de Portugal, viúvo, queria 
selar seu amor com Inês fazendo dela sua rainha. 
 O Rei Afonso IV temendo pela sucessão do trono que seria de seu 
neto, filho de Constança e pela influência dos nobres que temiam uma 
influência castelhana, tenta resgatar o filho e conduzi-lo a um casamento 
que obedecesse não aos caprichos de cupido, mas às conveniências 
políticas de Portugal. Para isso, vendo como única saída, o Rei manda vir 
Inês para que seja executada. 
 Os terríveis verdugos trouxeram Inês e seus filhos perante o Rei. 
Depois de ouvir a sentença, Inês ergueu os olhos aos céus e disse: 
 
9 
 
“Até mesmo as feras, cruéis de nascença, e as aves de rapina já 
demonstraram piedade com as crianças pequenas. O senhor, que tem o 
rosto e o coração humanos, deveria ao menos compadecer-se destas 
criancinhas, seus netos, já que não se comove com a morte de uma mulher 
fraca e sem força, condenada somente por ter entregue o coração a quem 
soube conquistá-lo. E se o senhor sabe espalhar a morte com fogo e ferro, 
vencendo a resistência dos mouros, deve saber também dar a vida, com 
clemência, a quem nenhum crime cometeu para perdê-la. Mas se devo ser 
punida, mesmo inocente, mande-me para o exílio perpétuo e mísero na 
gelada Cítia ou na ardente Líbia onde eu viva eternamente em lágrimas. 
Ponha-me entre os leões e tigres, onde só exista crueldade. E verei se 
neles posso achar a piedade que não achei entre corações humanos. E lá, 
com o amor e o pensamento naquele por quem fui condenada a morrer, 
criarei os seus filhos, que o senhor acaba de ver, e que serão o consolo de 
sua triste mãe.” 
 Comovido com essas palavras, o Rei já pensava em absolver Inês, 
quando os verdugos, que defendiam a execução, sacaram de suas espadas 
e degolaram Inês. (LOPES, S/d.). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Chronica del Rey D. Pedro I deste nome, e dos reys de Portugal o oitavo 
cognominado o Justiceiro – Fernão Dias Lopes 
Fonte: http://purl.pt/422/3/hg-5530-p_JPG/hg-5530-p_JPG_24-C-R0150/hg-5530-p_0002_0-
rosto_t24-C-R0150.jpg 
 
 
 Isso aconteceu em 1355 e diz a lenda que D. Pedro, inconformado, mandou 
vestir a noiva com roupas nupciais, sentou o cadáver no trono e fez os nobres lhe 
beijarem a mão, daí falar-se que "a infeliz foi rainha depois de morta". 
 Outro exemplo clássico do lirismo é o romance indianista Iracema de José de 
Alencar (1829-1877), um poema em prosa em que predomina o lirismo amoroso e a 
exploração do vocabulário indígena no português falado no Brasil. 
 
10 
 
 Na obra Iracema, o lirismo está presente na disposição das palavras ao longo 
do texto em prosa. 
[...] 
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, 
nasceu Iracema. 
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais 
negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. 
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no 
bosque como seu hálito perfumado. 
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e 
as matas do Ipu onde campeava sua guerreira tribo da grande nação 
tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que 
vestia a terra com as primeiras águas. 
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. 
Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da 
noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos 
cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. 
Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce 
mangaba que corou em manhã de chuva Enquanto repousa, empluma das 
penas do guará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, 
pousado no galho próximo, o canto agreste. 
A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela As vezes 
sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras 
remexe o uru te palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os 
alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas 
de que matiza o algodão. 
Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os 
olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. [...] (ALENCAR, 
1865) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Iracema (1865) – José de Alencar 
Fonte: http://img.estadao.com.br/resources/jpg/2/7/1448891660372.jpg 
 
11 
 
Um exemplo de poema lírico é o poema A um passarinho de Vinícius de 
Moraes, no qual evidencia-se o ponto-chave da possibilidade de transitar entre os 
diversos sentimentos que o ser humano possui, ou seja, é compreensível verificar 
momentos de alegria e de tristeza na escrita, 
 
A um passarinho 
 
Para que vieste 
Na minha janela 
Meter o nariz? 
Se foi por um verso 
Não sou mais poeta 
Ando tão feliz! 
Se é para uma prosa 
Não sou Anchieta 
Nem venho de Assis. 
 
Deixa-te de histórias 
Some-te daqui! 
(MORAES, 1946) 
 
 
 
1.2 Gênero Épico 
O termo Épico vem do grego Epos, narrativa ou recitação. A poesia épica 
nasceu no Ocidente com Homero, poeta grego autor do que seriam os primeiros 
modelos desse gênero as obras Ilíada e a Odisseia. 
Na Idade Média, principalmente entre os séculos XII à XIV, surgiram várias 
narrativas inspiradas em façanhas de guerra da cavalaria andante. que se 
afastavam dos padrões clássicos, a exceção é a Divina Comédia, de Dante Alighieri 
(1265-1321), que insere o maravilhoso mundo pagão (mitologia greco-romana) na 
perspectiva do imaginário cristão, narrando, em primeira pessoa, a sua peregrinação 
por inferno, purgatório e paraíso. 
 No Renascimento, Os Lusíadas narram a grande aventura dos navegadores 
portugueses, com Vasco da Gama (1469-1524) no comando, na descoberta do 
caminho marítimo para a Índia. 
 
12 
 
A última grande epopeia ocidental é Paraíso Perdido, de John Milton (1608-
1674). Narra a história da criação do homem e de Adão e Eva expulsos do Jardim do 
Éden. 
Os Lusíadas (1572) é o exemplar modelo épico da modernidade e a última 
grande manifestação dessa poesia. A literatura brasileira também teve suas 
epopeias: em 1601, Bento Teixeira a Prosopopeia, imitação de Os Lusíadas; em 
1769, José Basílio da Gama compõem o Uraguai, e Frei José de Santa Rita Durão 
lança O Caramuru em 1781. 
 
1.3 O Gênero Dramático 
Gênero Dramático, originado do vocabulário grego denota o significado da 
ação, o qual significa um acontecimento ou situação com intensidade emocional, a 
qual pode ser representada. No sentido literário, falar de drama é falar de teatro. 
O Gênero Dramático subdivide-se em: 
 Tragédia: é a representação de um fato trágico, apto a suscitar 
compaixão e terror; Comedia: é a representação de um fato inspirado na vida e no 
sentimento comum, de riso fácil, em geral criticando os costumes; 
 Tragicomédia: é a mistura do trágico com o cômico; 
 Farsa: pequena peça teatral, de caráter ridículo e caricatural, criticando 
a sociedade e seus costumes. 
 
Curiosidade 
A definição mais antiga do Gênero Dramático é Poética de 
Aristóteles, escrito por volta de 335 a.C, na Grécia. 
 
 
No poema dramático, a história é contada através das falas dos personagens. 
As peças de teatro escritas em verso constituem forma de poesia dramática. Morte e 
 
13 
 
Vida Severina, auto de natal pernambucano é um livro do escritor brasileiro João 
Cabral de Melo Neto (1920-1999), escrito entre 1954 e 1955 e publicado em 1955. O 
nome do livro é uma alusão ao sofrimento enfrentado pelo personagem. 
O livro apresenta um poema dramático, que relata a dura trajetória de um 
migrante sertanejo (retirante) em busca de uma vida mais fácil e favorável na capital 
pernambucana. 
 
Morte e Vida Severina 
 
[...] 
Encontra dois homens carregando um defunto 
numa rede, aos gritos de “Ó irmão das almas! 
Irmãos das almas! Não fui eu que fui eu que 
matei não! 
— A quem estais carregando, 
irmãos das almas, 
embrulhado nessa rede? 
dizei que eu saiba. 
— A um defunto de nada, 
irmão das almas, 
que há muitas horas viaja 
é sua morada. 
— E sabeis quem era ele, 
irmãos das almas, 
sabeis como ele se chama 
ou se chamava? 
— Severino Lavrador, 
irmão das almas, 
Severino Lavrador, 
mas já não lavra. 
— E de onde que o estais trazendo, 
irmãos das almas, 
onde foi que começou 
vossa jornada? 
— Onde a Caatinga é mais seca, 
irmão das almas, 
onde uma terra que não dá nem planta brava. 
— E foi morrida essa morte, 
irmãos das almas, 
essa foi morte morrida 
ou foi matada? 
— Até que não foi morrida, 
irmão das almas, 
esta foi morte matada, 
numa emboscada. 
— E o que guardava a emboscada, 
irmão das almas, 
 
14 
 
e com que foi que o mataram, 
com faca ou bala? 
— Este foi morto de bala, 
irmão das almas, 
mais garantido é de bala, 
mais longe vara. 
— E quem foi que o emboscou, 
irmãos das almas, 
quem contra ele soltou 
essa ave-bala? 
— Ali é difícil dizer, 
irmão das almas, 
sempre há uma bala voando 
desocupada. 
— E o que havia ele feito, 
irmãos das almas, 
e o que havia ele feito 
contra a tal pássara? 
— Ter um hectares de terra, 
irmão das almas, 
de pedra e areia lavada 
que cultivava. 
— Mas que roças que ele tinha, 
irmãos das almas, 
que podia ele plantar 
na pedra avara? 
— Nos magros lábios de areia, 
irmão das almas, 
os intervalos das pedras, 
plantava palha. 
— E era grande sua lavoura, 
irmãos das almas, 
lavoura de muitas covas, 
tão cobiçada? 
— Tinha somente dez quadros, 
irmão das almas, 
todas nos ombros da serra, 
nenhuma várzea. 
— Mas então por que o mataram, 
irmãos das almas, 
mas então por que o mataram 
com espingarda? 
— Queria mais espalhar-se, 
irmão das almas, 
queria voar mais livre 
essa ave-bala. 
— E agora o que passar? 
irmãos das almas, 
o que é que acontecerá contra a espingarda? 
— Mais campo tem para soltar, 
 
15 
 
irmão das almas, 
tem mais onde fazer voar 
as filhas-bala. 
— E onde o levais a enterrar, 
irmãos das almas, 
com a semente de chumbo 
que tem guardada? 
— Ao cemitério de Torres, 
irmão das almas, 
que hoje se diz Toritama, 
de madrugada. 
— E poderei ajudar, 
irmãos das almas? 
vou passar por Toritama, 
é minha estrada. 
— Bem que poderá ajudar, 
irmão das almas, 
é irmão das almas quem ouve 
nossa chamada. 
— E um de nós pode voltar, 
irmão das almas, 
pode voltar daqui mesmo 
para sua casa. 
— Vou eu, que a viagem é longa, 
irmãos das almas, 
é muito longa a viagem 
e a serra é alta. 
— Mais sorte tem o defunto, 
irmãos das almas, 
pois já não fará na volta 
a caminhada. 
— Toritama não cai longe, 
irmão das almas, 
seremos no campo santo 
de madrugada. 
— Partamos enquanto é noite, 
irmão das almas, 
que é o melhor lençol dos mortos 
noite fechada. 
[...[ 
(MELO NETO, 1955) 
 
 
 
1.4 Poética 
Faz-se necessário ressaltar que antigamente o “modo” de fazer o poético, isto 
é, se ele seria feito em versos ou em prosa, não era objeto de reflexão ou estudo, 
porque as composições eram feitas em versos e acompanhadas de instrumentos 
 
16 
 
musicais. Isso porque a separação que temos hoje entre a lírica e as formas 
narrativas ainda não existia; e o fazer poético fosse para ser encenado, como no 
teatro, fosse para ser narrado era o mesmo. 
Os antigos gregos tinham maneiras próprias de manifestar seus sentimentos: 
o religioso era extravasado por meio de hinos, a disputa esportiva por epinício, a 
exaltação de um homem ilustre era feita por encômio, a celebração das núpcias era 
realizada por epitalâmio, a dor pela morte de um ente querido era expressada em 
treno, o gracejo obsceno era feito pelo jambo, os preceitos morais pela elegia 
gnômica, os sentimentos da pátria pela elegia guerreira e o amor era expressado 
por meio de elegia erótica. 
Vocabula rio 
Epinício é um gênero de poesia ocasional. Na Grécia Antiga, o 
epinício frequentemente tomava a forma de poesia lírica durante 
a celebração de uma vitória nos Jogos Pan-Helénicos e às 
vezes em honra a uma vitória na guerra. Poema ou canto com 
que se celebra uma vitória. Canto triunfal entre os gregos. 
 
Encômio é fala ou discurso em louvor de alguém (elogio, gabo). 
 
Epitalâmio é um cântico nupcial de natureza religiosa, destinado 
a reivindicar para os noivos a bênção dos deuses, em especial 
de Himeneu, a divindade protetora dos enlaces matrimoniais. 
 
Treno é o canto plangente, lamentação fúnebre ou elegia. 
 
Jambo são poemas com sexualidade explícita, com invectivas 
que vão além do gracejo engenhoso encontrado na elegia e com 
outros tipos de vulgaridade. 
 
Gnômica pode definir-se como sentencioso, que contém 
máximas ou sentenças, adagial ou aforístico. 
 
 
Na religião grega, em que tudo é sagrado, a memória é uma potência divina; 
ela é uma deusa chamada Mnemosyne, filha da grande deusa-mãe Gaia (Terra) e 
de Urano (o Céu). Fecundada por Zeus, Mnemosyne deu à luz nove deusas, nove 
irmãs chamadas “Musas”, nome que significa, na língua de Homero, “Palavras 
Cantadas”. O canto das Musas tem a função de preservar a memória imortal de 
Zeus-pai, divindade da justiça e do poder supremo. 
 
17 
 
Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) em sua obra Poética, concebe a mimesis ou 
seja, a imitação em relação ao mundo empírico, classificando o ato de “imitar” como 
natural aos homens e não como reprodução da realidade e estabelece uma reflexão 
mais aprofundada sobre os gêneros literários, detendo-se na tragédia, na comédia e 
na epopeia. 
Opiniões distintas a respeito dos gêneros surgiram ao longo do tempo e, no 
século XVII, os teóricos literários em “uma querela dos antigos e modernos” na qual 
os antigos tinham como ideal as obras greco-latinas e os modernos eram favoráveis 
a novas estruturas, estruturas estas que deveriam acompanhar a mudança de tempo 
e tudo o que sofreu modificações, tais como cultura e sociedade. 
Com o movimento pré-romântico Sturm und Drang, vem a tendência à 
valorização da interioridade do poeta, da individualidade de cada obra, da criação 
livre e espontânea. Isso condenou os modelos apriorísticos e normativos existentes 
para os gêneros literários e à defesa do hibridismo, do grotesco, como o prefácio 
escrito por Victor Hugo para Crowell, em 1827. 
No final do século XIX, Ferdinand Brunetière (1849-1906), autor influenciado 
diretamente pelo positivismo e pelas teorias evolucionistas da época, afirma que os 
gêneros nasceriam de outros gênerose se transformariam naturalmente, os “mais 
fortes” sobreviveriam, outros sucumbiriam. 
Para Benedetto Croce (1886-1952) a força motriz da criação artística é a 
intuição e admite que os gêneros literários possam servir como instrumento, como 
auxiliares na sistematização da história da literatura, mas critica a supervalorização 
dos gêneros literários, pois para ele os gêneros ocupavam o lugar da expressão 
poética e das obras dos artistas. 
Alberto de Oliveira (1857-1937) em seu soneto Vaso Grego, volta aos 
hipérbatos (rompimento da ordem direta dos termos da oração [sujeito, verbo, 
complementos, adjuntos] ou de nomes e seus determinantes). O poema aponta 
também um caráter lógico e certa racionalidade do pensamento, induzindo a uma 
interpretação realizada de várias maneiras de acordo com a leitura e entendimento 
de cada leitor. A linguagem descritiva, denotativa, voltada para o mundo externo 
com uma visão, na qual não traz a presença ou a sua participação emocional nesse 
momento. O soneto Vaso Grego, apresenta em sua primeira estrofe rimas finais ou 
 
18 
 
externas classificadas como alternadas ou cruzadas (A B A B), apresentando rimas 
consoantes e rimas pobres (na primeira e a terceira estrofe). 
 
Vaso Grego 
 
Esta de áureos relevos, trabalhada A 
De divas mãos, brilhante copa, um dia, B 
Já de aos deuses servir como cansada, A 
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. B 
 
Era o poeta de Teos que a suspendia 
Então, e, ora repleta ora esvazada, 
A taça amiga aos dedos seus tinia, 
Toda de roxas pétalas colmada 
 
Depois… Mas o lavor da taça admira, 
Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordas 
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce, 
 
Ignota voz, qual se da antiga lira 
Fosse a encantada música das cordas, 
Qual se essa voz de Anacreonte fosse. 
(OLIVEIRA, 1912) 
 
 
Contextualizando historicamente, Platão foi o primeiro autor que preocupou-
se em dividir as obras literárias, identificando-as em três gêneros distintos, sendo 
eles: 
 tragédia e comédia (teatro); 
 poesia lírica, ou ditirambo (poesia lírica que exprime entusiasmo ou 
delírio, sendo o ditirambo também a forma de louvor exagerado); 
 poesia épica. 
 
Esse conceito foi adotado na civilização greco-romana, estendendo-se até o 
Renascimento, originando-se assim a uma supervalorização da produção da 
antiguidade. Platão acreditava que os gêneros preexistiam aos autores, e cada 
segmento possuía regras próprias que deviam ser obedecidas rigorosamente, não 
havendo portanto, influência de um gênero sobre o outro. 
 
19 
 
Portanto, no século XIX os autores românticos romperam os limites dos 
gêneros imutáveis, e adotaram os gêneros comunicantes, resultando na criação de 
novos segmentos como o drama. 
 
Resumo da aula 1 
 Nesta aula foram abordados os Gêneros Literários evidenciando os seus 
contextos históricos, conceitos e principais características. 
Atividade de Aprendizagem 
Discorra a respeito dos gêneros literários, evidenciando as suas 
características. 
 
 
 
 
 
Aula 2 – Elementos do Verso 
Apresentação da aula 2 
 Nesta aula serão abordadas as noções conceituais do verso, evidenciado os 
seus elementos, auxiliando na identificação dos itens de análise do verso. 
 
2. Elementos do Verso 
A palavra é a matéria-prima da Literatura, portanto os textos literários são 
composições feitas de palavras, que podem se articular de dois modos: em verso e 
em prosa. 
Para que se faça distinção entre ambos, basta um olhar mais aprofundado no 
Soneto de Fidelidade, de autoria de Vinicius de Moraes e O Cortiço, de Aluísio 
Azevedo. 
 
20 
 
Vinicius de Moraes (1913-1980), poeta e compositor brasileiro, compôs 
Garota de Ipanema, em parceria com Antonio Carlos Jobim, composição a qual 
tornou-se um hino da música popular brasileira. Em seu poema Soneto de 
Fidelidade, pode-se observar o fluxo de palavras, o qual é interrompido antes que as 
linhas sejam preenchidas até o limite da margem direita, pertence ao gênero lírico 
pois está escrito em poesia em versos, com ritmo e rimas. No poema prevalece a 
linguagem conotativa ou denotativa, manifestando a emotividade do poeta. 
 
 
Soneto de Fidelidade 
 
De tudo, ao meu amor serei atento 
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto 
Que mesmo em face do maior encanto 
Dele se encante mais meu pensamento. 
 
Quero vivê-lo em cada vão momento 
E em seu louvor hei de espalhar meu canto 
E rir meu riso e derramar meu pranto 
Ao seu pesar ou seu contentamento. 
 
E assim quando mais tarde me procure 
Quem sabe a morte, angústia de quem vive 
Quem sabe a solidão, fim de quem ama 
 
Eu possa me dizer do amor (que tive): 
Que não seja imortal, posto que é chama 
Mas que seja infinito enquanto dure 
(MORAES, 1946) 
 
 
 
 
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo (1857-1913), foi um crítico 
impiedoso da sociedade brasileira e de suas instituições. Criador do naturalismo no 
Brasil, influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola. 
No trecho do primeiro capítulo de O Cortiço, Aluísio Azevedo (ao contrário do 
poema Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes), nota-se o preenchimento das 
linhas e seguem sempre em frente, até que o pensamento se complete, escrito em 
prosa. 
 
 
21 
 
 
O cortiço 
 
João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro 
que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos 
refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara 
nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em 
pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava 
dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro. 
Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda 
com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava 
resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, 
em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de 
palha. A comida arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma 
quitandeira sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho 
cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma 
carroça de mão e fazia fretes na cidade [...] 
(AZEVEDO, 1890) 
 
 
 
Assim sendo, reportamo-nos a uma modalidade textual ora denominada de 
poética, estritamente inerente ao campo literário. Trata-se de características ligadas 
a questões de ordem estética, ou seja, a maneira pela qual o texto é disposto. 
Na obra O cortiço, esteticamente em formato de um texto redigido em prosa, 
há os parágrafos como referencial. Todos articulados de uma forma coesa e 
harmoniosa, com vistas a proporcionar uma perfeita interação entre o discurso e o 
interlocutor com o qual se compartilha. O texto escrito por Aluísio Azevedo, sob a 
forma prosaica, tende a estabelecer certa linearidade na ideia apresentada, visto 
que se trata de uma trama ficcional e os acontecimentos vão se desenvolvendo 
progressivamente. O mesmo não ocorre com a maioria dos poemas, pois o objetivo 
desses é delineado pelo aflorar de sentimentos e emoções, todos pautados em um 
instinto de total subjetividade. 
Já no poema Soneto de Fidelidade, por sua vez, o assunto apresentado é 
disposto em forma de um conjunto de versos, todos distribuídos conforme a 
finalidade discursiva pretendida pelo autor, denominado de estrofe. Conforme a 
leitura é feita, detecta-se que se trata de várias linhas poéticas, assim 
representadas: “[...] De tudo ao meu amor serei atento/ Quero vivê-lo em cada vão 
momento/ E assim, quando mais tarde me procure [...] (MORAES, 1947), tais22 
 
excertos poéticos denominam-se versos. Vale reforçar que o Soneto da Fidelidade 
pertence ao gênero lírico. 
Em latim, a palavra versus (verso) significa “voltado”. Esse vocábulo, 
originalmente de uso agrícola, servia para descrever o movimento do arado, que, 
chegando ao fim do terreno demarcado para semeadura, devia voltar em sentido 
contrário e abrir na terra um sulco, geralmente de mesmo tamanho, paralelo ao 
primeiro. 
 Em língua portuguesa, diz-se que verso é uma linha de palavras que se 
interrompe após atingir um determinado número de sílabas, mesmo que o sentido 
não se complete e a frase fique suspensa, inconclusa, até que o sentido se perfaça 
com a(s) palavra(s) que abre(m) o verso seguinte. Esse fenômeno é denominado 
enjambement. 
O enjambement é fundamental para a leitura do soneto em voz alta. A 
essência da leitura do soneto é que o leitor leia os versos com movimento 
compassado ou cadenciado como se fosse um passo de dança ou uma dança. Esse 
"passo de dança" é garantido, durante a leitura, pelo enjambement, uma palavra de 
origem francesa. Por enjambement, entende-se a partição de uma frase no final de 
um verso ou uma estrofe, sem respeitar as fronteiras dos sintagmas, colocando um 
termo do sintagma no verso anterior e o restante no verso seguinte. É o 
enjambement que cria um efeito de coesão entre os versos, pois aquele onde 
começa não pode ser lido com a habitual pausa descendente no final, e sim com 
entonação ascendente, que indica continuação da frase, e com uma pausa mais 
curta ou sem pausa. 
 Veja o exemplo no Soneto da Fidelidade: 
 "uma paixão imortal, posto que é chama, mas infinito enquanto dura". 
 
 Dizendo o mesmo, porém simplificadamente, quando um verso não finaliza 
juntamente com um segmento sintático, ocorre o encadeamento ou enjambement, 
que é a continuação do sentido de um verso no verso seguinte. 
 Teixeira de Pascoaes (1877-1952), poeta e ensaísta, concluiu os seus 
primeiros estudos em Coimbra, onde também cursou Direito. Exerceu a carreira de 
 
23 
 
advogado, até 1908. Integrado no movimento cívico e cultural portuense 
"Renascença Portuguesa", é cofundador de A Águia, em 1911, foi um dos principais 
teorizadores do Saudosismo, movimento literário, religioso e filosófico de 
autoconhecimento e reconstrução nacional. Pascoaes em seu poema Canção 
Saudosa, a qual é parte integrante da sua obra Terra Proibida, traz exemplos claros 
do enjambement. 
 
Canção Saudosa 
 
A Saudade vem bater, 
Vem bater à minha porta, 
Quando o luar é de lágrimas 
E a terra parece morta. 
 
E a saudade bate, bate, 
Com tal carinho e brandura, 
Que nem a aurora batendo 
À porta da noite escura! 
 
Mas eu ouço-te, Saudade... 
E o silêncio é tão profundo! 
Ouço vozes, choros de alma, 
Que ninguém ouve, no mundo! 
 
Misteriosas imagens 
Passam, por mim, a falar... 
Bem entendo o que elas dizem, 
Bem o quisera contar! 
 
Mas -- que tragédia! -- emudeço. 
Caio, de mim, sobre o nada! 
Sou a minha própria sombra 
Não sei onde projectada! 
 
E entra a Saudade... Fiquei 
Como assombrado e sem voz! 
Sinto-a melhor, que senti-la 
É vê-la, dentro de nós. 
 
Vinha com ela a tristeza 
Que a tarde espalha no ar... 
Vinha cercada das sombras 
Que andam, na terra, ao luar. 
 
E vinha a sombra dos Ermos, 
Com os olhos rasos de água... 
E os segredos que a noitinha 
Vem dizer à nossa mágoa. 
 
Vinha a sombra do Marão 
Sob a lua em várias fases; 
 
24 
 
E, no seu rosto de bronze, 
Trazia um véu de lilases. 
 
Vinha a alma do Desejo, 
Toda a arder... Em volta dela, 
Giram mundos e fantasmas, 
Como em volta duma estrela. 
 
Tudo o que é sonho em vigília 
No sono da Criação; 
E, entre falsas aparências, 
É divina Aparição; 
 
Tudo vem com a Saudade, 
De noite, bater-me à porta, 
Quando o luar é de lágrimas 
E a terra parece morta... 
(PASCOAES, 1899) 
 
 
 
 No poema, ao se atingir um determinado número de sílabas, passa-se à linha 
seguinte, voltando (versus) a contagem silábica ao ponto inicial. É importante 
lembrar que as sílabas poéticas são separadas de forma diferente da utilizada para 
separação de sílabas gramaticais. As sílabas gramaticais contam os sons, ou 
grupo de sons, emitidos em uma única impulsão de voz e que possam ser 
distinguidos em cada palavra. O poeta, por sua vez, conta os sons, ou grupos 
sonoros, da forma como são percebidos pelo ouvido. 
Sílabas Gramaticais 
De1/ tu2/ do3/ ao4/ meu5/ a6/ mor7/ se8/ rei9/ a10/ ten11/ to12/ 
Sílabas Poéticas 
De1/ tu2/do ao3/ meu4/ a5/mor6/ se7/rei8/ a9/ten10/to 
 
No exemplo da contagem gramatical o verso tem doze sílabas, e na 
poética, dez. A separação em sílabas gramaticais conta as sílabas 
isoladamente, uma a uma; a poética conta as sílabas como são 
pronunciadas dentro da frase, e são contadas até a última sílaba tônica, 
desprezando as sílabas átonas. A sílaba gramatical conta todas as 
sílabas. 
 
 
25 
 
Ao processo de separação em sílabas poéticas dá-se o nome de escansão. 
Lembrando que se a palavra for oxítona, conta-se até a última sílaba; se paroxítona, 
até a penúltima; se proparoxítona, até a antepenúltima. Quando o verso terminar em 
palavra oxítona, denomina-se agudo; quando terminar em paroxítona, verso grave e 
em proparoxítona, esdrúxulo. No Soneto da fidelidade, de Vinicius de Moraes, fica 
clara a identificação dos versos graves, pois as palavras são paroxítonas. 
“De tudo ao meu amor serei atento 
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto 
Que mesmo em face do maior encanto 
Dele se encante mais meu pensamento.” (MORAES, 1946) 
 
Para que se tenha um exemplo de versos agudos, graves e esdrúxulos em 
um mesmo poema, usar-se-á um excerto da obra O Escândalo da Rosa, de Vinicius 
de Moraes: 
Que anjo ou que pássaro - esdrúxulo 
Roubou tua cor - agudo 
Que ventos passaram - grave 
Sobre o teu pudor - agudo 
 
Os elementos do verso são: 
 Ritmo; 
 Metro; 
 Estrofe; 
 Som. 
 
Assim sendo, toda composição em verso é passível de análise em quatro 
estruturas: a estrutura rítmica, a métrica, a estrófica e a sônica (esse estudo será 
iniciado pelo ritmo). 
 
2.1 Ritmo 
O ritmo é a música do verso. Para que um verso tenha ritmo, usam-se sílabas 
fortes e sílabas fracas, com intervalos regulares. A sequência rigorosa dessas 
sílabas é que dá ao verso música, harmonia e beleza. 
 
26 
 
O ritmo poético estuda a cadência do verso através da identificação da 
posição das sílabas tônicas e átonas. Pode-se dizer que é uma sucessão alternada 
de sons tônicos e átonos, repetidos com intervalos regulares. Os traços fortes e 
fracos produzem a cadência do verso, marcando os intervalos. 
Em relação ao ritmo, os versos podem ser de dois tipos: 
 Versos isorrítmicos; 
 Versos heterorrítmicos. 
 
Os versos isorrítmicos são assim denominados os versos que compõem 
uma estrofe que apresentam um mesmo esquema rítmico, como o que pode ser 
comprovado no poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias (1823-1864), poeta e 
teatrólogo brasileiro (lembrado como o grande poeta indianista da geração romântica 
e Patrono da cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras). 
O ritmo melódico do poema I-Juca Pirama, segue o esquema: 
__ / __ __ /__ __ / __ __ / (2-5-8-11) 
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercadas de troncos - cobertos de flores, 
Alteiam-se os tetos d’altiva nação; 
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas coortes 
Assombram das matas a imensa extensão. 
São rudos, severos, sedentos de glória, 
Já prélios incitam, já cantam vitória, 
Já meigos atendem à voz do cantor: 
São todos Timbiras, guerreiros valentes! 
Seu nome lá voana boca das gentes, 
Condão de prodígios, de glória e terror! 
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, 
As armas quebrando, lançando-as ao rio, 
O incenso aspiraram dos seus maracás: 
Medrosos das guerras que os fortes acendem, 
Custosos tributos ignavos lá rendem, 
Aos duros guerreiros sujeitos na paz. 
 (DIAS, 1998) 
 
 
 
 
Os versos heterorrítmicos são os versos que não apresentam o mesmo 
esquema rítmico. No poema Elegia do Lago Léman, de Ribeiro Couto (1898-1963), 
 
27 
 
fica evidente de forma magistralmente essa teoria. Rui Esteves Ribeiro de Almeida 
Couto, foi poeta, contista, cronista, ensaísta, romancista, diplomata e jornalista. 
 
No anoitecer, olhando o lago Esquema: __ __ __ / __ / __ / 
A paisagem me é dura e estranha Esquema: __ __ / __ __ / __ / 
De cousa alguma tenho o afago Esquema: __ / __ / __ / __ / 
_ Água, céu, floresta ou montanha. Esquema: / __ / __ / __ __ / 
 
2.2 Metro 
Metro é o número de sílabas métricas, é a medida do verso, seu estudo é 
denominado metrificação. 
Escansão é a contagem dos sons dos versos, pois como já visto, as sílabas 
poéticas diferem das sílabas gramaticais. A seguir noções a respeito das técnicas 
utilizadas para separação de sílabas poéticas, algumas poderão ser repetidas para 
maiores esclarecimentos. Trata-se da escansão de uma estrofe do poema A 
tempestade, de Gonçalves Dias. 
As sílabas métricas só são contadas até a última sílaba tônica presente no 
verso. 
 
1 2 3 
Tal / a / chu / va 
 
 1 2 3 
Trans / pa / re / ce 
 
 1 2 3 
Quan / do / des / ce 
 
 
A Elisão ocorre quando, em um verso, uma palavra terminar por vogal átona 
e a palavra seguinte começar por vogal ou H (que não seja fonema). A elisão é 
comprovada nesse excerto do poema A Cruz Mutilada, de Alexandre Herculano 
(1810-1877), na qual pode evidenciar-se a elisão. Alexandre Herculano de Carvalho 
e Araújo foi um escritor, historiador, jornalista e poeta português do período 
 
28 
 
romântico. Sua obra poética, de cunho religioso, deixava transparecer um certo 
grau de conflito ideológico religioso e mesmo um conflito existencial estabelecido 
pelos ideais da igreja e pelas ideias liberais adquiridas. 
“Amo-te ó cruz no vértice firmada 
De esplêndidas igrejas”. 
 
A sinérese é a fusão de dois sons, gramaticalmente separados, em um só 
dentro da mesma palavra como exemplificado no fragmento do poema Sub tegmine 
fagi, de Castro Alves (1847-1871), poeta da terceira geração romântica no Brasil. 
Lan/ça a/ poe*/si/a a flux! 
*A palavra poesia seria gramaticalmente separada da seguinte forma: po-e-si-a, 
apesar da não obrigatoriedade da separação. 
 
A diérese separa dois sons vocálicos em sílabas distintas dentro de uma 
mesma palavra. O contrário da sinérese. Castro Alves também utiliza-se do recurso 
da diérese no fragmento do poema Sub tegmine fagi, 
Deus/ fa/la/, quan/do a/ tur/ba es/tá/ qui/e/ta 
 
O hiato é o contrário da elisão, separa-se dois sons interverbais (a sinérese e 
a diérese são intraverbais; a elisão e o hiato são interverbais). Separação de duas 
vogais seguidas dentro da mesma palavra, formando duas sílabas diferentes. Como 
ocorre em no poema O Baile das Willis, de José Martins Fontes (1884-1937), poeta, 
médico e conferencista. 
E/ va/ ga 
Ao/ lu/ ar 
Se a/pa/ga 
No / ar. 
 
 A ectlipse é a contração da última vogal de uma palavra nasal, perdendo a 
sua nasalidade para formar um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte, 
não sendo obrigatório marcá-la com apóstrofo, visível no fragmento do poema O 
livro e a américa, de Castro Alves. 
“Eu quero marchar com os ventos, 
 
29 
 
Com os mundos... co’os firmamentos!” 
 
Eu-que-ro-mar-char-com os-ven/tos, 
Com os-mun-dos-co’os-fir-ma-men/tos. 
 
 
Os versos quando são escandidos, são classificados, quanto ao número de 
sílabas poéticas (métrica): 
 Monossílabo: 1 sílaba poética; 
 Dissílabo: 2 sílabas poéticas; 
 Trissílabo: 3 sílabas poéticas; 
 Tetrassílabo: 4 sílabas poéticas; 
 Pentassílabo ou Redondilha Menor: 5 sílabas poéticas; 
 Hexassílabo ou Heróico Quebrado: 6 sílabas poéticas; 
 Heptassílabo ou Redondilha Maior: 7 sílabas poéticas; 
 Octossílabo: 8 sílabas poéticas; 
 Eneassílabo: 9 sílabas poéticas; 
 Decassílabo: 10 sílabas poéticas; 
 Hendecassílabo: 11 sílabas poéticas; 
 Dodecassílabo ou Alexandrinos: 12 sílabas poéticas; 
 Bárbaro: 13 ou mais sílabas poéticas. 
 
 
Os versos sem métrica constante chamam-se livres. 
 
 
Os versos de uma sílaba (monossílabos) são raramente usados, 
aparecendo geralmente com outros maiores para a criação de certos efeitos 
sonoros. Como exemplo será usada o poema Serenata Sintética (um poema com 
três estrofes de dois dísticos), de Cassiano Ricardo (1894-1974), jornalista, poeta, 
historiador e ensaísta, membro da Academia Brasileira de Letras -: 
“Rua 
torta. 
 
Lua 
 
30 
 
morta. 
 
Tua 
porta.” 
 
Os versos de duas sílabas (dissílabos) também não são muito frequentes, 
geralmente são utilizados em poemas que apresentam estrofes polimétricas. Será 
usado como exemplo o poema Saudade pretérita, de Sílvia Araújo Motta (1951- ), 
professora aposentada, violonista e escritora. 
“Amou 
sorriu, 
beijou! 
Traiu ? 
 
Chorou! 
Partiu? 
Chamou... 
Caiu. 
 
Sofreu... 
Ação, 
doeu... 
 
Gemeu! 
Paixão 
morreu.” 
 
Alguns poemas da língua portuguesa foram escritos com versos de três 
sílabas (trissílabos), porém esses também costumam aparecer em obras com 
métricas compostas, como fragmento do poema Trem de Ferro, de Manuel Bandeira 
(1886-1968), poeta modernista brasileiro. 
“[...] 
Agora sim 
Café com pão nos versos de 4 sílabas 
Agora sim a 4ª é sempre tônica 
Voa, fumaça 
Corre, cerca 
Ai seu foguista 
Bota fogo 
Na fornalha 
que eu preciso 
Muita força 
 
31 
 
Muita força 
Muita força” 
 
 
 
Ví deo 
Assista o vídeo onde o poema O trem de ferro, de Manuel Bandeira 
é musicado por Olivia Hime e Tom Jobim. 
Link: https://www.youtube.com/watch?v=f0kdJDOrJkg 
 
 
 
Os versos tetrassílabos (quatro sílabas) podem apresentar três distintas 
cadências (serão estudadas mais à frente). O exemplo de versos tetrassílabos está 
no fragmento do poema Música, de Cecília Meireles (1901-1964), considerada umas 
das maiores escritoras brasileiras, foi poetisa e jornalista. 
 “Noites perdidas, 
não te lamento: 
embarco a vida 
no pensamento, 
busco a alvorada 
do sonho isento, 
puro e sem nada, 
- rosa encarnada, 
intacta ao vento. 
[...]” 
 
 
Os versos Pentassílabos ou redondilha menor são versos que contêm 
cinco sílabas poéticas. Além de ser um dos versos preferidos pala poesia popular, é 
também apreciado na poesia culta como na obra Os Sapos, de Manuel Bandeira 
(1886-1968). 
 
“Enfunando os papos, 
saem da penumbra, 
aos pulos os sapos, 
a luz os deslumbra. 
 
Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- ‘Meu pai foi à guerra!’ 
- ‘não foi!’ – ‘Foi!’ – ‘Não foi!’” 
 
 
32 
 
 
Os versos de seis sílabas (hexassílabo). Podem exemplificar-se no poema 
Noturno Mineiro, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). 
 
“Cabe pois num vagão 
Toda nossa viagem. 
Mas é cinza e carvão 
Amor, e sua imagem.” 
 
 
O verso heptassílabo ou redondilha maior são versos que contêm seis 
sílabas poéticas é o metro preferido das quadras e trovas populares, cantigas de 
roda e de desafio, com pode evidenciar-sede forma clara nos versos de Tomás 
Antônio Gonzaga (1744-1810). 
 Lira III 
Sucede, Marília bela, 
À medonha noite o dia; 
A estação chuvosa e fria 
À quente seca estação. 
Muda-se a sorte dos tempos; 
Só a minha sorte não? 
 
Os versos octossílabos são os que possuem oito sílabas métricas. O 
poema Futebol Brasileiro Evocado na Europa de João Cabral de Melo Neto (1920-
1999), evidencia de forma clara os versos octossílabos. 
 
A bola não é a inimiga 
como o touro, numa corrida; 
e embora seja um utensílio 
caseiro e que se usa sem risco, 
não é o utensílio impessoal, 
sempre manso, de gesto usual: 
é um utensílio semivivo, 
de reações próprias como bicho, 
e que, como bicho, é mister 
(mais que bicho, como mulher) 
usar com malícia e atenção 
dando aos pés astúcias de mão. 
 
Os versos Eneassílabos são versos de nove sílabas poéticas, o podem ser 
divididos em eneassílabo anapéstico e eneassílabo com acento marcado na 3ª e 
6ª sílabas. 
 
33 
 
O eneassílabo anapéstico, assim denominado por possuir acentuação na 
3ª, 6ª e na 9ª sílaba. Muito usado em hinos patrióticos e em poemas com absoluta 
regularidade em seu ritmo, como a letra de uma das estrofes do Hino à Bandeira, de 
Olavo Bilac (1865-1918). 
Contemplando o teu vulto sagrado, 
Compreendemos o nosso dever, 
E o Brasil por seus filhos amado, 
poderoso e feliz há de ser! 
 
 
O eneassílabo com acento marcado na 3ª e 6ª sílabas, podem ser 
observados no excerto do poema Meu Sonho, de Álvares de Azevedo (1831-1852), 
no qual a cadência rítmica dos versos, ao mesmo tempo em que confere a 
musicalidade ao poema, sugere o deslocamento do corcel. 
Cavaleiro das armas escuras, 
Onde vais pelas trevas impuras 
Com a espada sanguenta na mão? 
Por que brilham teus olhos ardentes 
E gemidos nos lábios frementes 
Vertem fogo do teu coração? 
 
O verso decassílabo (dez sílabas poéticas) é classificado em função das 
posições das sílabas tônicas que lhe determinam o ritmo, podendo dividir-se e, 
decassílabo heroico e decassílabo sáfico. 
O decassílabo heroico apresenta sílabas tônicas nas posições 6 e 10, 
obrigatoriamente, tendo mais uma ou duas sílabas tônicas complementares como 
nos versos iniciais do Canto I da Ilíada em decassílabos heroicos. 
Can/ta-me,/ó /deu/sa, /do /Pe/leio-A/qui/les 
A/ i/ra /te/naz, /que, /lu/tuo/sa-aos /Gre/gos, 
Ver/des /no-Or/co /lan/çou /mil /for/tes /al/mas, 
Cor/pos /de /he/róis-a /cães /e-a/bu/tres /pas/to: 
Lei /foi-de /Jo/ve, /em /ri/xa /ao /dis/cor/da/rem 
O /de-ho/mens /che/fe-e-o /Mir/mi/don /di/vi/no. 
 
 
Todos os 8816 versos de Os Lusíadas de Camões são decassílabos 
heroicos. 
 
 
34 
 
Quanto aos decassílabos sáficos, Cunha & Cintra (2001), alertam para a 
possibilidade de esse tipo de decassílabo (ter a 1.ª ou a 2.ª sílaba também fortes) 
caso que exemplificam com a seguinte estrofe do poema Amor e Medo, de Casimiro 
de Abreu (1837-1860). 
“Quan/do eu/ te/ fu/jo e/ me/ des/vi/o/ cau(to) 
Da/ luz /de/ fo/go/ que/ te/ cer/ca, oh/! be(la), 
Con/ti/go/ di/zes/, sus/pi/ran/do a/mo(res) 
— Meu/Deus/! que/ ge/lo/, que/ fri/e/za a/que(la)!” 
 
Assim, e tendo em conta essas observações, em relação à escansão feita dos 
versos que ilustram a exemplificação de versos decassílabos heroicos, Cunha & 
Cintra (2001), afirmam a ocorrência de quatro versos sáficos e dois heroicos: 
Can/ta/-me, ó/ deu/sa/, do/ Pe/lei/o A/qui(les) — sáfico 
A i/ra/ te/naz/, que/, lu/tu/o/sa aos/ Gre(gos), — sáfico 
Ver/des/ no Or/co /lan/çou/ mil/ for/tes/ al(mas), — heroico 
Cor/pos /de he/róis/ a/ cães/ e a/bu/tres/ pas(to): — sáfico 
Lei/ foi/ de/ Jo/ve, em/ ri/xa ao/ dis/cor/da(rem) — heroico 
O/ de ho/mens/ che/fe e o/ Mir/mi/don/ di/vi(no). — sáfico 
 
O verso de onze sílabas poéticas (hendecassílabo), também chamado de 
arte maior, é assim denominado por possuir, além do número de sílabas, pausas 
que recaem nas 2ª, 5ª e 8ª sílabas, como nos versos do poema I-Juca Pirama de 
Gonçalves Dias. 
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercadas de troncos - cobertos de flores, 
Alteiam-se os tetos d’altiva nação; 
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas coortes 
Assombram das matas a imensa extensão. 
 
 
Os versos Alexandrinos são os versos de doze sílabas poéticas 
(dodecassílabos) foi introduzido no século XIX e tem origem francesa. Tem pausa 
obrigatória na sexta sílaba. A esse respeito Cruz, afirma que: 
 
 
35 
 
Deve haver nos versos alexandrinos a separação de dois hemistíquios, isto 
é, deve o verso desdobrar-se em dois de 6 sílabas. O ponto de ligação do 
primeiro verso com o segundo chama-se cesura. (CRUZ, 1931). 
 
 
 Quando o primeiro verso hexassilábico termina por uma palavra grave 
(paroxítona), sendo vogal a última letra, a primeira palavra do segundo verso deve 
começar, também por vogal ou consoante muda, como o h, para que haja elisão 
(cesura); quando a última palavra do primeiro verso é aguda (oxítona), claro que a 
primeira do segundo verso pode, indiferentemente, começar por qualquer letra, 
vogal ou consoante, não havendo, portanto, cesura. 
 Exemplo do primeiro caso: 
"Manhã de junho ardente. Uma encosta escavada..." 
(Guerra Junqueiro) 
 
Exemplo do segundo caso: 
"Eu era mudo e só na rocha de granito". 
(Guerra Junqueiro) 
 
Os versos Bárbaros, são os versos com mais de doze sílabas poéticas, 
que exige cadência interna apenas na sétima sílaba. Representa a soma de duas 
Redondilhas Maiores Agudas como Hemistíquios, mas ao contrário dos alexandrinos 
Clássicos, não exigem nenhuma regra quanto à cesura. 
São chamados bárbaros por não figurarem na tradição da língua. Nada mais 
são que tentativas de imitar as fórmulas métricas da poesia grega e latina da 
Antiguidade. É considerado o Verso Limite para a confecção de poemas, pois, a 
partir das quinze sílabas inicia a Prosa. 
“Esta noite, os pássaros estão cantando junto das estrelas, 
e as árvores todas ajoelharam-se à beira dos caminhos.” 
(Tasso da Silveira, in Puro Canto, nº 5) 
 
O Verso Livre é o verso sem medida silábica fixa, mas como salientado 
por Henri Morier (1977), não se pode dizer que exista uma técnica uniforme para o 
verso livre, pois cada poeta procura forjar o seu próprio instrumento, como o fez 
Fernando Pessoa (1888-1935) no poema Ode marítima. 
 
 
36 
 
Ah, seja como for, seja por onde for, partir! 
Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar, 
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstrata, 
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas, 
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais! 
Ir, ir, ir, ir de vez! 
 
Os poemas, conforme métrica utilizada no Brasil, podem ser compostos de 
versos isométricos e versos polimétricos. 
Nos versos isométricos todos os versos da composição possuem o mesmo 
número de sílabas poéticas, como o poema Cantiga, composto em redondilhas 
maiores por Sá de Miranda (1481-1558). 
 
Comigo me desavim, 
Sou posto em todo perigo: 
Não posso viver comigo 
Nem posso fugir de mim. 
 
 
Os versos polimétricos são versos compostos de versos com mais de uma 
medida silábica, como se pode perceber no poema Canção de nuvem e vento de 
Mário Quintana (1906-1994). 
 
Canção de nuvem e vento 
Medo da nuvem 
Medo Medo 
Medo da nuvem que vai crescendo 
Que vai se abrindo 
Que não se sabe 
O que vai saindo 
Medo da nuvem Nuvem Nuvem 
Medo do vento 
Medo Medo 
Medo do vento que vai ventando 
Que vai falando 
Que não se sabe 
O que vai dizendo 
Medo do vento Vento Vento 
Medo do gesto 
Mudo 
Medo da fala 
Surda 
Que vai movendo 
Que vai dizendo 
 
37 
 
Que não sesabe... 
Que bem se sabe 
Que tudo é nuvem que tudo é vento 
Nuvem e vento Vento Vento ! 
(QUINTANA, 1946) 
 
 
Resumo da aula 2 
Nesta aula foram evidenciados os elementos do verso, visando identificá-los e 
analisá-los. Foram analisados poemas de importantes autores brasileiros, 
identificando os principais elementos dos versos. 
Atividade de Aprendizagem 
Faça a escanção das estrofes do poema I-Juca Pirama, de 
Gonçalves Dias: 
 
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercadas de troncos - cobertos de flores, 
Alteiam-se os tetos d’altiva nação; 
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas coortes 
Assombram das matas a imensa extensão. 
 
São rudos, severos, sedentos de glória, 
Já prélios incitam, já cantam vitória, 
Já meigos atendem à voz do cantor: 
São todos Timbiras, guerreiros valentes! 
Seu nome lá voa na boca das gentes, 
Condão de prodígios, de glória e terror! 
 
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, 
As armas quebrando, lançando-as ao rio, 
O incenso aspiraram dos seus maracás: 
Medrosos das guerras que os fortes acendem, 
Custosos tributos ignavos lá rendem, 
Aos duros guerreiros sujeitos na paz. 
 
 
 
 
 
 
38 
 
Aula 3 - Elementos da estrofe 
Apresentação da aula 3 
 Nesta aula serão abordados os elementos (e classificação) da estrofe, com a 
identificação dos itens de análise do verso, com ênfase nas características do ritmo. 
 
3. Estrofe 
Aplica-se o conceito de estrofe ao conjunto de versos. Do latim stropha (que, 
por sua vez, deriva de um vocábulo grego que significa “volta”), o termo estrofe 
permite fazer referência a cada uma das partes que formam um poema lírico. 
Para a métrica, uma estrofe é um grupo de versos que se encontram unidos 
por critérios de extensão, rima e ritmo. As estrofes podem ser classificadas de 
acordo com a quantidade de versos que contêm. 
 
3.1 Classificação das Estrofes 
3.1.1 Em relação à composição ou à forma 
Em relação à composição, as estrofes classificam-se em: 
 Monóstico; 
 Dístico ou parelha; 
 Terceto; 
 Quarteto ou quadra; 
 Quintilha; 
 Sextilha; 
 Setilha; 
 Oitava; 
 Nona; 
 Décima. 
 
O monóstico é a estância em um verso. De uso bem raro, pode aparecer 
como na “terza rima”, em que o verso final pode ficar junto ou separado do último 
terceto. Um exemplo claro é o poema Tercetos, de Olavo Bilac. 
 
39 
 
“Sobre o teu colo deixa-me a cabeça 
Repousar, como há pouco repousava... 
Espera um pouco! Deixa que amanheça! 
 
– E ela abria-me os braços. E eu ficava.” 
 
O Dístico ou parelha separa-se em dois versos. Um exemplo de dístico 
aparece no poema Litania dos Pobres, de Cruz e Souza (1861-1898). 
 “Os miseráveis, os rotos 
São as flores dos esgotos. 
 
São espectros implacáveis 
 Os rotos, os miseráveis. 
 
São prantos negros de furnas 
 Caladas, mudas, soturnas” 
 
 
O Terceto é a estrofe de três versos. Os tercetos são, hoje, mais utilizados na 
composição de sonetos. Como exemplo de tercetos serão usadas as três primeiras 
estrofes do poema Tercetos, de Olavo Bilac, no qual o autor criou estrofes de três 
versos nos quais o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo, por sua vez, 
rimará com o primeiro e o último da estrofe seguinte, uma característica da Terça 
Rima. Poema composto em versos decassílabos, apresentam as súplicas do eu 
lírico que insiste em não abandonar o quarto da amada, como as presentes na 
terceira estrofe, onde ele questiona à mulher como poderá conciliar o frio e a treva 
da noite com o frio e a treva que lhe invadem a alma. 
“Noite ainda, quando ela me pedia 
Entre dois beijos que me fosse embora, 
Eu, como os olhos em lágrimas, dizia: 
 
Espera ao menos que desponte a aurora! 
Tua alcova é cheirosa como um ninho… 
E olha que escuridão há lá por fora! 
 
Como queres que eu vá, triste e sozinho, 
Casando a treva e o frio de meu peito 
Ao frio e à treva que há pelo caminho? [...]” 
 
 
40 
 
O Quarteto ou quadra é a estrofe de quatro versos. O quarteto é a estrofe 
erudita de quatro versos, que podem apresentar de oito a doze sílabas, como 
exemplificado no poema Canto, de Mário de Sá Carneiro (1890-1916). 
“Caprichos de lilás, febres esguias, 
Enlevos de ópio - Íris - abandono 
Saudades de luar, timbre de Outono, 
Cristal de essências langues, fugidias ... 
 
O pajem débil das ternuras de cetim, 
O friorento das carícias magoadas; 
O príncipe das Ilhas transtornadas... 
Senhor feudal das Torres de marfim...” 
 
 
A Quadra, na literatura popular é a estrofe em quatro versos que não 
excedem o verso de redondilha maior com uma só rima, no 2º com o 4º verso. Um 
exemplo claro pode identificar-se em Quadras ao gosto popular de autoria de 
Fernando Pessoa. 
“Cantigas de portugueses 
São como barcos no mar — 
Vão de uma alma para outra 
Com riscos de naufragar. 
 
Eu tenho um colar de pérolas 
Enfiado para te dar: 
As per'las são os meus beijos, 
O fio é o meu penar. 
 
A terra é sem vida, e nada 
Vive mais que o coração... 
E envolve-te a terra fria 
E a minha saudade não!” 
 
A Quintilha é a estrofe de cinco versos. Faz-se necessário observar que a 
quintilha, ao lado da quadra são próprias dos versos populares mais curtos. O 
poema Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira, o qual é aberto por 
uma quintilha; seguido por uma oitava; uma estrofe de doze versos; e duas oitavas. 
“Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero quintilha 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 
 
 
41 
 
Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconsequente 
Que Joana a Louca de Espanha oitava 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive 
 
E como farei ginástica 
Andarei de bicicleta 
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado estrofe de doze versos 
Deito na beira do rio 
Mando chamar a mãe-d'água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada 
 
Em Pasárgada tem tudo 
É outra civilização 
Tem um processo seguro 
De impedir a concepção oitava 
Tem telefone automático 
Tem alcalóide à vontade 
Tem prostitutas bonitas 
Para a gente namorar 
 
E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar oitava 
- Lá sou amigo do rei - 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 
[...]” 
 
 
Ví deo 
Assista o vídeo no qual Manuel Bandeira declama o poema Vou-me 
embora pra Pasárgada. 
 
Link: https://www.youtube.com/watch?v=-wtCdCInwiY 
 
42 
 
 
 
 
 
A Sextilha é uma estrofe com rimas deslocadas, constituída de seis linhas, 
seis pés ou de seis versos de sete sílabas, nomes que têm a mesma significação. 
Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si, conservando as demais em versos 
brancos. Talvez, por ser mais fácil, é o gênero preferido dos repentistas, 
principalmente no início das apresentações. Leandro Gomes de Barros (1865-1918), 
grande escritor da Literatura de Cordel, filho de Pombal, Estado da Paraíba, 
exemplifica a sextilha em seu poema O Punhal e a Palmatória. 
“Nós temos cinco governos 
O primeiro o federal 
O segundo o do Estado 
Terceiro o municipal 
O quarto a palmatória 
E o quinto o velho punhal” 
 
 
 
 
 
 
 
Batalha de Oliveiros com Ferrabraz (1913) – Leandro Gomes de Barros 
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/Leandro_Gomes_de_Barros 
_obra_1913.jpg 
 
A Setilha é a estrofe de sete versos,esteve presente na poesia trovadoresca 
culta e ficou esquecida a partir do Renascimento. Poetas do período clássico 
usaram-na, como no fragmento da cantiga Descalça vai para a fonte, de Camões. 
“Leva na cabeça o pote, 
o testo nas mãos de prata, 
cinta de fina escarlata, 
sainho de chamalote; 
traz a vasquinha de cote, 
 
43 
 
mais branca que a nove pura; 
vai fermosa, e não segura.” 
 
Na Oitava (oitava heroica, clássica ou italiana) a estrofe empregada por 
Luís de Camões na epopeia Os Lusíadas, os versos são decassílabos, os seis 
primeiros com rima alternada (AB AB AB) e os dois últimos com rima emparelhada 
(CC). O ritmo é clássico, heroico, com dois hemistíquios (acento na 6a e 10a sílabas). 
Canto I 
 
“As armas e os Barões assinalados A 
Que da Ocidental praia Lusitana B 
Por mares nunca de antes navegados A 
Passaram ainda além da Taprobana, B 
Em perigos e guerras esforçados A 
Mais do que prometia a força humana, B 
E entre gente remota edificaram C 
Novo Reino, que tanto sublimaram; [...]” C 
 
Já a oitava lírica não obedece a esquematizações rígidas. Geralmente os 
poetas ligam, por meio de rimas, um verso da primeira metade do segundo, pode ser 
o 4º com o 8º, como o fez Vicente de Carvalho (1866-1924) no excerto A voz do 
sino. 
“Uma tarde cor-de-rosa... 
Uma vila assim modesta, 
Assim tristonha como esta... 
De pescadores, também... 
Sobre a planície arenosa 
Por onde o Jordão deriva 
Pousa a sombra evocativa, 
Das montanhas de Sichém...” 
 
A Nona caracteriza-se pela estrofe de nove versos também chamada 
eneagésima, foi pouco usada na literatura portuguesa. Machado de Assis a utilizou 
em Visio. 
“Eras pálida. E os cabelos, 
Aéreos, soltos novelos, 
Sobre as espáduas caíam... 
Os olhos meio cerrados 
De volúpia e de ternura 
Entre lágrimas luziam... 
 
44 
 
E os braços entrelaçados, 
Como cingindo a ventura, 
Ao teu seio me cingiam... 
 
Depois, naquele delírio, 
Suave, doce martírio 
De pouquíssimos instantes, 
Os teus lábios sequiosos, 
Frios, trêmulos, trocavam 
Os beijos mais delirantes, 
E no supremo dos gozos 
Ante os anjos se casavam 
Nossas almas palpitantes... [...]” 
 
Décima é a estrofe de dez versos apresentando esquema de rima variável. 
Em geral, a décima resulta da justaposição de uma quadra (ou quarteto) a uma 
sextilha, ou da justaposição de duas quintilhas. Exemplificando a décima, um poema 
de Castro Alves que apresenta intercalação de versos brancos no poema O livro e a 
América. 
“Talhado para as grandezas, 
Para crescer, criar, subir, 
O Novo Mundo nos músculos 
Sente a seiva do porvir. 
- Estatuário de colossos - 
Cansado doutros esboços, 
 Disse um dia Jeová: 
"Vai, Colombo, abre a cortina 
"Da minha eterna oficina ... 
"Tira a América de lá.” 
 
3.1.2 Em relação ao metro 
Em relação ao metro, as estrofes podem ser: 
 Estrofes isométricas (ou simples); 
 Heterométricas (ou compostas); 
 Livres. 
 
São denominadas simples/isométricas as estrofes compostas por versos de 
uma só medida e compostas/heterométricas as estrofes estruturadas por versos 
maiores e menores. No excerto A Carolina, de Machado de Assis, todos os versos 
possuem 10 sílabas sendo que a sexta sílaba é sempre tônica. 
 
45 
 
“Querida, ao pé do leito derradeiro 
Em que descansas dessa longa vida, 
Aqui venho e virei, pobre querida, 
Trazer-te o coração do companheiro. [...]” 
 
Já no excerto A uma Senhora que me Pediu Versos, Machado de Assis 
utilizou-se do recurso de dois versos diferentes (um de 7 sílabas e outro de 4 
sílabas). 
“Pensa em ti mesma, acharás 
Melhor poesia, 
Viveza, graça, alegria, 
Doçura e paz. [...]” 
 
 
Os livres são as estrofes formadas por versos de diferentes medidas, ou seja, 
aquelas que não seguem normas pré-fixadas, a verdadeira negação da estrofe. Os 
versos livres são mais difíceis de escrever. O poema Teresa de Manuel Bandeira, é 
um exemplo claro do emprego dos versos livres no poema. 
A primeira vez que vi Teresa 
Achei que ela tinha pernas estúpidas 
Achei também que a cara parecia uma perna 
 
Quando vi Teresa de novo 
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo 
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) 
 
Da terceira vez não vi mais nada 
Os céus se misturaram com a terra 
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas. 
 
 Outro exemplo da utilização do verso livre é o poema Bilhete de Mario 
Quintana (1906-1994), no qual o eu lírico deixa entrever, uma sensação de 
anonimato. Um elemento de destaque para que os poetas, autores literários e as 
pessoas possam expressas suas emoções, assim como a condição da alma e do 
pensamento é o eu lírico que tem uma visão estabelecida dentro da Literatura, 
sendo assim no poema é possível compreender o amor, dentro da perspectiva da 
necessidade de precisar ser vivenciado com cautela e com o máximo de 
aproveitamento, sendo repleto de emocionalidade e de certa naturalidade. 
 
 
46 
 
 
Bilhete 
Se tu me amas, ama-me baixinho 
Não o grites de cima dos telhados 
Deixa em paz os passarinhos 
Deixa em paz a mim! 
Se me queres, 
enfim, 
tem de ser bem devagarinho, Amada, 
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda... 
(QUINTANA, S/d.) 
 
 
 
3.1.3 Em relação ao poema 
Em relação ao poema, as estrofes podem ser uniforme, combinada e 
estíquica (ou livre). 
Uniforme quando o poema apresenta um só tipo de estrofe. O poema Lira, de 
Gonçalves Dias, apresenta estrofes uniformes. 
Se me queres a teus pés ajoelhado, 
Ufano de me ver por ti rendido, 
Ou já em mudas lágrimas banhado; 
Volve, impiedosa, 
Volve-me os olhos; 
Basta uma vez! 
 
Se me queres de rojo sobre a terra, 
Beijando a fímbria dos vestidos teus, 
Calando as queixas que meu peito encerra, 
Diz-me, ingrata, 
Diz-me: eu quero! 
Basta uma vez! 
 
Mas se antes folgas de me ouvir na lira 
Louvor singelo dos amores meus, 
Por que minha alma há tanto em vão suspira; 
Diz-me, ó bela, 
Diz-me: eu te amo! 
Basta uma vez! 
 
 
Combinadas, apresentam-se aos poemas que apresentam estrofes de 
diferentes números de versos em uma mesma composição diz-se que possuem 
 
47 
 
estrofes combinadas. Geralmente os poemas de formas fixas são assim 
classificados. A Canção do exílio, de Gonçalves Dias possui três quadras e duas 
sextilhas. 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá; quadras 
As aves, que aqui gorjeiam, 
Não gorjeiam como lá. 
 
Nosso céu tem mais estrelas, 
Nossas várzeas têm mais flores, quadras 
Nossos bosques têm mais vida, 
Nossa vida mais amores. 
 
Em cismar, sozinho, à noite, 
Mais prazer encontro eu lá; quadras 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Minha terra tem primores, 
Que tais não encontro eu cá; 
Em cismar — sozinho, à noite — sextilhas 
Mais prazer encontro eu lá; 
Minha terra tem palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Não permita Deus que eu morra, 
Sem que eu volte para lá; 
Sem que desfrute os primores sextilhas 
Que não encontro por cá; 
Sem qu’inda aviste as palmeiras, 
Onde canta o Sabiá. 
 
Estíquica (ou livre), são assim denominados os poemas cuja sucessão de 
versos não apresentam estrofação regular como o poema Agonia, de Vinicius de 
Moraes. 
“No teu grande corpo branco depois eu fiquei. 
Tinhas os olhos lívidos e tive medo. 
Já não havia sombra em ti – eras como um grande deserto de areia 
Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites. 
Na minha angústia eu buscava a paisagem calma 
Que me havias dado tanto tempo 
Mas tudo era estéril e monstruoso e sem vida 
E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara. 
Eu estremecia agonizando e procuravame erguer 
 
48 
 
Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos. 
Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma 
Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía com a voragem. 
 
Depois foi o sono, o escuro, a morte. 
 
Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente 
Vinha cheio de pavor das tuas entranhas.” 
 
3.1.4 Em relação ao ritmo 
Em relação ao ritmo, as estrofes podem ser isorrítmica e heterorrítmicos. 
As estrofes isorrítmicas são assim denominadas as estrofes que apresentam 
versos com um mesmo esquema rítmico, como o que pode ser comprovado no 
poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, cujo ritmo melódico segue o esquema. 
__ / __ __ /__ __ / __ __ / (2-5-8-11) 
No meio das tabas de amenos verdores, 
Cercadas de troncos - cobertos de flores, 
Alteiam-se os tetos d’altiva nação; 
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, 
Temíveis na guerra, que em densas coortes 
Assombram das matas a imensa extensão. 
 
São rudos, severos, sedentos de glória, 
Já prélios incitam, já cantam vitória, 
Já meigos atendem à voz do cantor: 
São todos Timbiras, guerreiros valentes! 
Seu nome lá voa na boca das gentes, 
Condão de prodígios, de glória e terror! 
 
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio, 
As armas quebrando, lançando-as ao rio, 
O incenso aspiraram dos seus maracás: 
Medrosos das guerras que os fortes acendem, 
Custosos tributos ignavos lá rendem, 
Aos duros guerreiros sujeitos na paz. 
 
 
Os heterorrítmicos são assim denominadas as estrofes que apresentam 
esquema rítmico diferentes. No poema Perfeição de Olavo Bilac, fica evidente esse 
esquema de apresentação rítmica. 
 
49 
 
Nunca entrarei jamais o teu recinto; (1-4-6-10) 
Na sedução e no fulgor que exalas, (4-8-10) 
Ficas vedada, num radiante cinto (1-4-8-10) 
De riquezas, de gozos e de galas. (3-6-10) 
 
Amo-te, cobiçando-te... E, faminto, (2-6-10) 
Adivinho o esplendor das tuas salas, (3-6-10) 
E todo o aroma dos teus parques sinto, (2-4-8-10) 
E ouço a música e o sonho em que te embalas. (1-3-6-10) 
 
Eternamente ao meu olhar pompeias, (4-8-10) 
E olho-te em vão, maravilhosa e bela, (2-4-8-10) 
Adarvada de altíssimas ameias. (3-6-10) 
 
E à noite, à luz dos astros, a horas mortas, (2-4-6-8-10) 
Rondo-te, e arquejo, e choro, ó cidadela! (1-4-6-10) 
Como um bárbaro uivando às tuas portas! (3-6-10) 
 
 
3.1.5 Em relação à estrutura 
Em relação à estrutura, as estrofes podem ser definidas como isostrófica ou 
alostrófica. 
As estrofes isostróficas são assim denominadas que possuem igualdade na 
estrutura dos versos. Isso ocorre no poema Primaveras, de Casimiro de Abreu 
(1837-1860). 
 
A primavera é a estação dos risos, 
Deus fita o mundo com celeste afago, 
Tremem as folhas e palpita o lago 
Da brisa louca aos amorosos frisos. 
 
Na primavera tudo é viço e gala, 
Trinam as aves a canção de amores, 
E doce e bela no tapiz das flores 
Melhor perfume a violeta exala. 
 
Na primavera tudo é riso e festa, 
Brotam aromas do vergel florido, 
E o ramo verde de manhã colhido 
Enfeita a fronte da aldeã modesta. 
(ABREU, 1859) 
 
 
 
 
50 
 
As estrofes denominam-se alostrófica quando as estrofes componentes de 
um poema são todas de estrutura diferente. Um exemplo bem característico 
evidencia-se no poema A tempestade, de Gonçalves Dias. 
 
A tempestade 
 
Quem porfiar contigo... ousara 
Da glória o poderio; 
Tu que fazes gemer pendido o cedro, 
Turbar-se o claro rio? 
A. HERCULANO 
 
Um raio 
Fulgura 
No espaço 
Esparso, 
De luz; 
E trêmulo 
E puro 
Se aviva, 
S’esquiva 
Rutila, 
Seduz! 
 
Vem a aurora 
Pressurosa, 
Cor de rosa, 
Que se cora 
De carmim; 
A seus raios 
As estrelas, 
Que eram belas, 
Tem desmaios, 
Já por fim. 
 
O sol desponta 
Lá no horizonte, 
Doirando a fonte, 
E o prado e o monte 
E o céu e o mar; 
E um manto belo 
De vivas cores 
Adorna as flores, 
Que entre verdores 
Se vê brilhar. 
 
Um ponto aparece, 
Que o dia entristece, 
 
51 
 
O céu, onde cresce, 
De negro a tingir; 
Oh! vede a procela 
Infrene, mas bela, 
No ar s’encapela 
Já pronta a rugir! 
Não solta a voz canora 
No bosque o vate alado, 
Que um canto d’inspirado 
Tem sempre a cada aurora; 
É mudo quanto habita 
Da terra n’amplidão. 
A coma então luzente 
Se agita do arvoredo, 
E o vate um canto a medo 
Desfere lentamente, 
Sentindo opresso o peito 
De tanta inspiração. 
 
Fogem do vento que ruge 
As nuvens aurinevadas, 
Como ovelhas assustadas 
Dum fero lobo cerval; 
Estilham-se como as velas 
Que no alto mar apanha, 
Ardendo na usada sanha, 
Subitâneo vendaval. 
 
Bem como serpentes que o frio 
Em nós emaranha, — salgadas 
As ondas s’estanham, pesadas 
Batendo no frouxo areal. 
Disseras que viras vagando 
Nas furnas do céu entreabertas 
Que mudas fuzilam, — incertas 
Fantasmas do gênio do mal! 
 
E no túrgido ocaso se avista 
Entre a cinza que o céu apolvilha, 
Um clarão momentâneo que brilha, 
Sem das nuvens o seio rasgar; 
Logo um raio cintila e mais outro, 
Ainda outro veloz, fascinante, 
Qual centelha que em rápido instante 
Se converte d’incêndios em mar. 
 
Um som longínquo cavernoso e ouco 
Rouqueja, e n’amplidão do espaço morre; 
Eis outro inda mais perto, inda mais rouco, 
Que alpestres cimos mais veloz percorre, 
 
52 
 
Troveja, estoura, atroa; e dentro em pouco 
Do Norte ao Sul, — dum ponto a outro corre: 
Devorador incêndio alastra os ares, 
Enquanto a noite pesa sobre os mares. 
 
Nos últimos cimos dos montes erguidos 
Já silva, já ruge do vento o pegão; 
Estorcem-se os leques dos verdes palmares, 
Volteiam, rebramam, doudejam nos ares, 
Até que lascados baqueiam no chão. 
 
Remexe-se a copa dos troncos altivos, 
Transtorna-se, tolda, baqueia também; 
E o vento, que as rochas abala no cerro, 
Os troncos enlaça nas asas de ferro, 
E atira-os raivoso dos montes além. 
 
Da nuvem densa, que no espaço ondeia, 
Rasga-se o negro bojo carregado, 
E enquanto a luz do raio o sol roxeia, 
Onde parece à terra estar colado, 
Da chuva, que os sentidos nos enleia, 
O forte peso em turbilhão mudado, 
Das ruínas completa o grande estrago, 
Parecendo mudar a terra em lago. 
 
Inda ronca o trovão retumbante, 
Inda o raio fuzila no espaço, 
E o corisco num rápido instante 
Brilha, fulge, rutila, e fugiu. 
Mas se à terra desceu, mirra o tronco, 
Cega o triste que iroso ameaça, 
E o penedo, que as nuvens devassa, 
Como tronco sem viço partiu. 
 
Deixando a palhoça singela, 
Humilde labor da pobreza, 
Da nossa vaidosa grandeza, 
Nivela os fastígios sem dó; 
E os templos e as grimpas soberbas, 
Palácio ou mesquita preclara, 
Que a foice do tempo poupara, 
Em breves momentos é pó. 
 
Cresce a chuva, os rios crescem, 
Pobres regatos s’empolam, 
E nas turvam ondas rolam 
Grossos troncos a boiar! 
O córrego, qu’inda há pouco 
No torrado leito ardia, 
 
53 
 
É já torrente bravia, 
Que da praia arreda o mar. 
 
Mas ai do desditoso, 
Que viu crescer a enchente 
E desce descuidoso 
Ao vale, quando sente 
Crescer dum lado e d’outro 
O mar da aluvião! 
Os troncos arrancados 
Sem rumo vão boiantes; 
E os tetos arrasados, 
Inteiros, flutuantes, 
Dão antes crua morte, 
Que asilo e proteção! 
 
Porém no ocidente 
S’ergue de repente 
O arco luzente, 
De Deus o farol; 
Sucedem-se as cores, 
Qu’imitam as flores 
Que sembram primores 
Dum novo arrebol. 
 
Nas águas pousa; 
E a base viva 
De luz esquiva, 
E a curva altiva 
Sublima ao céu; 
Inda outro arqueia, 
Mais desbotado, 
Quase apagado, 
Como embotado 
De tênue véu. 
 
Tal a chuva 
Transparece, 
Quando desce 
E ainda vê-se 
O sol luzir; 
Como a virgem, 
Que numa hora 
Ri-se e cora, 
Depois chora 
E torna a rir. 
 
A folha 
Luzente 
Do orvalho 
 
54 
 
Nitente

Mais conteúdos dessa disciplina