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0 INSTITUTO MARANHENSE DE DESENVOLVIMENTO PARA EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA GRACIENE DO ROSÁRIO PEREIRA LIRIAMAR DO ROSÁRIO PEREIRA O JOGO EDUCATIVO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO 1º AO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I CÂNDIDO MENDES-MA 2017 1 GRACIENE DO ROSÁRIO PEREIRA LIRIAMAR DO ROSÁRIO PEREIRA O JOGO EDUCATIVO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO 1º AO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I. Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso ao Instituto Maranhense de Desenvolvimento para Educação, como requisito final para a obtenção do grau de Licenciadas em Pedagogia. Orientador: Professor José Amiraldo Maia dos Santos. CÂNDIDO MENDES-MA 2017 2 Pereira, Graciene do Rosário. Pereira, Liriamar do Rosário O jogo educativo como instrumento de intervenção pedagógica no processo de Alfabetização do 1º ao 3º ano do ensino fundamental I. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso)- Instituto Maranhense de Desenvolvimento para Educação. Graduação em Pedagogia, Cândido Mendes, BR-MA, 2017. Orientador: Professor José Amiraldo Maia dos Santos. 3 O JOGO EDUCATIVO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO 1º AO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL I. Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso ao Instituto Maranhense de Desenvolvimento para Educação, como requisito final para obtenção do Grau de Licenciadas em Pedagogia. BANCA AVALIADORA _____________________________________________________ Prof. José Amiraldo Maia dos Santos Orientador _____________________________________________________ Márcio Lima Serejo Coordenador Nota:_______ Data:_______ 4 Aos nossos filhos, pais e familiares que nos apoiaram em todos os momentos. 5 AGRADECIMENTOS Toda gratidão a Deus, fonte de Sabedoria e nossa Fortaleza, a Ele, pelo dom da vida, pelo seu amor infinito e por ter segurado em nossas mãos nos momentos mais difíceis e não ter nos deixado desistir dos objetivos deste trabalho de pesquisa, sem Ele nada somos. Aos nossos amados pais Marcilene do Rosário Pereira e João Paixão Pereira, nossos maiores exemplos, pelo amor, carinho, dedicação, apoiando-nos e estando conosco mesmo diante das dificuldades, sem eles nossas conquistas não teriam sentido, e pela preocupação para que estivéssemos sempre andando no caminho correto em busca de sonhos. Agradecemos aos nossos queridos irmãos pelo amor, orientação e incentivos dedicados a nós, e especialmente aos nossos filhos e esposo: Hebraim, Isabela, Ailton (filhos) e José Ailton do Bonfim Moura (esposo de Graciene) que foram os motivos essenciais para tornar esta caminhada mais leve. Aos familiares em geral, pelo apoio e afeição, os quais foram base de nossa sustentação e cumplicidade. Ao Professor José Amiraldo Maia dos Santos, pelas orientações ricas, auxiliando-nos na produção desta pesquisa. Aos colegas que conquistamos nessa jornada acadêmica, à nossa turma de Pedagogia Licenciatura 2013. Aos professores, à coordenadora Pedagógica, enfim, a todos em geral, da Escola Municipal Rôlmerson Robson, que grandemente ajudaram-nos nessa longa caminhada de pesquisa, os quais contribuíram ricamente com o conhecimento ao deixar-se conhecer suas práticas metodológicas usadas em sala de aula, sendo todos bem receptíveis em colaboração com as entrevistas para execução dessa monografia. E a todos que, de maneira direta e indiretamente contribuíram de alguma forma para a concretização deste trabalho, desde já a singela gratidão. Obrigada a todos! 6 O educador democrático não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica dos educandos, sua curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais é trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. Paulo Freire. 7 RESUMO Esta monografia de Conclusão de Curso tem como objetivo analisar o uso dos jogos como instrumento no processo de alfabetização nos Anos iniciais do Ensino Fundamental. O interesse de pesquisar sobre o tema surgiu durante a atividade de estágio na Escola Municipal Rôlmerson Robson, no município de Cândido Mendes-Maranhão, na qual se observou que alguns alunos sentiam dificuldade no decurso da alfabetização. Assim, por meio de revisão bibliográfica sobre o assunto relacionado à prática metodológica utilizando-se de jogos, compreendeu-se a importância de se trabalhar com os mesmos para tornar o seguimento da alfabetização mais fácil e acessível aos alunos, com novos incentivos, facilitando esse processo no qual as crianças veem como complicado. Este Trabalho tem como base de fundamentação teórica em alguns autores com concepções muito discutidas a respeito da aprendizagem, dentre eles: Vygotsky, Piaget, Friedman, Kishimoto, ambos, também, dando suporte teórico à pesquisa de campo, realizada na escola citada, em que foram entrevistados cinco professores do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental I. Portanto, esta pesquisa será de suma importância para dar novos encaminhamentos aos professores, fazendo com que os mesmos reflitam, conheçam a importância dos jogos educativos no processo de alfabetização, incentivando-os a buscar novos métodos e alternativas metodológicas, e assim, fazer com que os alunos agucem a curiosidade pelo conhecimento e desejem aprender cada vez mais. Palavras-chaves: Jogos Educativos. Alfabetização. Professores. Alunos. 8 ABSTRACT This monograph of Course Conclusion aims to analyze the use of games as an instrument in the process of literacy in the early Years of Elementary School. The interest of research on this topic arose during the traineeship activity at the Rômerson Robson Municipal School, in the municipality of Cândido Mendes-Maranhão, where it was observed that some students felt difficulty in the course of literacy. Thus, through a literature review on the subject related to methodological practice using games, it was understood the importance of working with them to make literacy tracking easier and accessible to students, with new incentives, facilitating this Process in which children see as complicated. This work has as a bibliographical basis the theoretical foundation of some authors with very discussed conceptions about learning, among them: Vygotsky, Piaget, Friedman, Kishimoto, both, also, giving theoretical support to the field research, carried out in the mentioned school, in In this sense, this research will be of great importance to give new referrals to teachers, making them reflect, knowthe importance of educational games in the literacy process, encouraging - to seek new methods and methodological alternatives, and thus, to make the students stimulate the curiosity for knowledge and wish to learn more and more Keywords: Educational games. Literacy. Teachers. Students. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10 1.O USO DOS JOGOS NA EDUCAÇÃO:BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRIA....14 1.1 O INTERACIONISMO E PIAGET....................................................................................22 1.2 JOGOS SIMBÓLICOS E DESENVOLVIMENTO INFANTIL........................................25 1.3 JOGOS DE REGRAS.........................................................................................................26 1.4 O INTERACIONISMO EM VYGOTSKY........................................................................28 1.5 JOGOS SIMBÓLICOS NA VISÃO SOCIO HISTÓRICA................................................30 2.A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO..................33 3.O USO DOS JOGOS NA ESCOLAO MUNICIPAL RÔLMERSON ROBSON..................................................................................................................................45 3.1HISTÓRICO DA ESCOLA MUNICIPAL RÔLMERSON ROBSON..............................45 3.2 COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA...................................................................................46 3.3 PROFESSORES E A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS...........................................................48 3.4 ANÁLISES DE RESULTADOS........................................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................58 APÊNCICES A- B....................................................................................................................61 A- ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM OS PROFESSORES..............................................62 B- ROTEIRO DE ENTREVISTAS COM A COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA.................64 10 INTRODUÇÃO A Alfabetização é um processo muito importante na fase de ensino na educação, tanto para os educandos, os quais são crianças pequenas, como também para os docentes, estes devem estar preparados, sendo conhecedores dos estágios de desenvolvimento e respeitando a individualidade de cada aluno, tendo em vista que algumas aprendem com mais facilidade, o contrário do que ocorre com outras, pois, cada criança tem sua particularidade no desenvolvimento da aprendizagem, o que, para tanto, faz-se necessário que o professor busque alternativas metodológicas que ultrapasse obstáculos no ambiente escolar, onde está inserido o educando. Compreender que cada criança tem seu ritmo e suas variadas maneiras de aprender, é fundamental, com relação a isso, pondera Piaget, ao estudar a questão do aprender que, no mundo, existem formas de perceber, compreender e de se comportar diante dele, e com relação às crianças, cada uma peculiar a cada faixa etária. No decorrer do curso de Licenciatura em Pedagogia, verificou-se como é importante trabalhar com os jogos para tornar o processo de alfabetização mais fácil, ajudando as crianças a romperem com quaisquer dificuldades. Partindo desse pressuposto, a origem desta pesquisa se deu a partir da vontade de deduzir melhor como os professores trabalham suas práticas metodológicas e como as crianças dos anos iniciais têm essas experiências e absorvem o conhecimento através dos jogos, e isso nos instigou a indagar: Os professores dos anos iniciais, 1º, 2º e 3º ano, do Ensino Fundamental I, utilizam os jogos educativos como alternativa metodológica para facilitar o processo de alfabetização? Mediante ao exposto acima, quando em sala de aula com atuação em atividades de estágio na Escola Municipal Rôlmerson Robson, de antemão observou-se que os alunos sentiam muitas dificuldades no processo de alfabetização. Daí, a hipótese de que alguns professores poderiam não estar se valendo da utilização de Jogos, os quais são excelentes para exercitar a mente, são práticos, divertidos, diversificados e até produzidos podem ser, de maneira criativa pelos professores mesmos e até pelos alunos, caso a escola não forneça materiais e possibilidades. Nesse sentido, esta pesquisa tem como tema “O Jogo Educativo como instrumento de intervenção Pedagógica no processo de Alfabetização do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental I”, tendo como objetivo geral: analisar os recursos metodológicos utilizados pelos professores nos procedimentos da alfabetização; e objetivos específicos: investigar a importância de se 11 trabalhar os jogos educativos como ferramenta sistemática e perceber os benefícios deles no processo de alfabetização. Pondera-se a escolha da temática de grande importância, ademais devido a Lei nº 11.274 de 6 de Fevereiro de 2006, que altera a redação dos artigos: 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9.394 de 20 de Dezembro de 1996, ao estabelecer na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dispondo-se sobre a duração de nove anos para o Ensino Fundamental, desse modo a matrícula passa a ser obrigatória a partir dos 6 anos de idade, em que as crianças passam a estudar no 1º ano do Ensino Fundamental I. Diante dessa modificação na Lei, tornou-se pertinente pesquisar como os professores trabalham com essas crianças e os métodos de ensino que utilizam no desenvolvimento da aprendizagem, pois a criança tão cedo encontrar- se-á frente ao desafio do aprender, seja na Língua Portuguesa quanto em outra qualquer disciplina escolar. E, por que não fazê-lo de maneira participativa brincando? Será que os docentes têm enxergado os jogos como um aliado fundamental no procedimento do ensinar? Dessa forma, com a nova mudança na LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação) Para responder aos questionamentos e objetivos propostos deste trabalho, foi empregada a metodologia de pesquisa Qualitativa para verificação dos resultados, pois é uma prática que posiciona o observador no contexto da pesquisa, no mundo, ou seja, deriva uma prática interpretativa. A partir do uso da referida metodologia, houve a possibilidade da coleta de dados e análise de uma variedade de materiais desde jogos, para conhecê-los melhor, às entrevistas propriamente ditas in lócus, em que se fez necessário um estudo minucioso de pesquisas bibliográficas em que, no primeiro momento buscou-se a leitura de livros, revistas, pesquisa na internet, enfim, tudo que pudesse ser conveniente aos estudos que fundamentam o trabalho apresentado aqui. Em seguida, realizou-se o fichamento, as indagações que estariam presentes no questionário para as entrevistas e o resumo do material, destacando os pontos mais interessantes para a elaboração dos três capítulos, sendo decisiva a complementação da pesquisa de campo no município de Cândido Mendes na “Escola Municipal Rôlmerson Robson”, para que através da técnica de abordagem etnográfica, na perspectiva da pesquisa Qualitativa, pudesse ser realizada a análise do uso de jogos, visto ser esse tipo de abordagem muito usada em sala de aula. Usou-se para tanto entrevistas semiestruturadas de cinco Professores dos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Fundamental I e da coordenadora pedagógica da escola. Após a aquisição da base teórica, fez-se a análise das entrevistas, sendo avaliadas as informações referentes ao quefazem os professores e coordenação pedagógica com relação aos jogos. 12 Para abordar todas as questões levantadas, esta monografia estrutura-se em três capítulos. No primeiro capítulo, denominado “O Uso dos Jogos na Educação: Breve retrospectiva histórica” aborda o uso dos jogos na educação fazendo-se uma sintética retrospectiva histórica, apresentando a história dos jogos no ensino, um pouco sobre estudiosos e psicólogos, dentre eles Piaget, Vygotsky, Friedman, Kishimoto, Brougère, que escreveram sobre os benefícios e tipos de jogos, justificando-os como alternativa metodológica eficaz no processo do ensino da escrita e leitura, pois, no século XIX, o jogo era visto como natural no ambiente das crianças e estimula as mesmas na busca de novos conhecimentos a partir dos seus próprios interesses; é algo instintivo, biológico, que as crianças utilizam para explorar o mundo conforme as suas necessidades, organizando os conhecimentos, resultando em uma educação significativa, em que através dos jogos e brincadeiras a criança explora o mundo conforme a sua realidade, tornando a aprendizagem mais fácil e prazerosa. No segundo capítulo intitulado “Utilização dos Jogos no processo de Alfabetização”, trata sobre a utilização dos jogos no processo de ensino da escrita e leitura, ressaltando as dificuldades dos alunos no processo de alfabetização com relação ao tema principal de análise. O século XXI é marcado com grandes avanços educacionais e inovações pedagógicas, mas, se tem muito a melhorar, pois o que se percebe é que a educação não é tida como prioridade em nosso País. Diante desse contexto, como as crianças encontram complexidade ao aprender, o jogo torna-se uma importante ferramenta de ensino, visando abrandar as dificuldades, facilitando todo o seu processo de aprendizagem. Por isso, precisam- se desenvolver estratégias para modificar essa realidade avançar nesse mecanismo de aquisição da escrita e leitura. Por fim, no terceiro capítulo chamado “O uso dos Jogos na Escola Municipal Rôlmerson Robson” está exposto sobre o uso dos jogos na respectiva escola, vindo a responder aos objetivos e problemas propostos, através das entrevistas com professores e com uma das coordenadoras pedagógica da escola, em que esta e aqueles relataram sobre o uso dos jogos no cotidiano escolar, enfatizaram a importância dos mesmos no processo de alfabetização, e são utilizados como alternativa metodológica. Constatou-se ainda, a realidade vivenciada, por isso, os professores têm um papel muito importante e responsabilidades para que se tenha uma educação de qualidade, um ensino atuante que envolva os alunos e faça com que eles queiram aprender. Portanto, esta monografia de Conclusão de Curso é apropriada e significativa, visando contribuir e oportunizar aos professores uma reflexão sobre o mérito do uso dos jogos como 13 alternativa metodológica no processo de alfabetização, que é tão importante na formação integral da criança, pois elas aprendem brincando, sem sentir o peso desse segmento. Os jogos para serem eficientes no contexto educacional, devem ser planejados com objetivos definidos, conforme as necessidades, as dificuldades e realidade dos alunos. 14 1 O USO DOS JOGOS NA EDUCAÇÃO: BREVE RETROSPECTIVA HISTÓRICA. Os jogos são importantes no desenvolvimento humano e estão presentes desde o início da humanidade no cotidiano das crianças, jovens, adultos e idosos, além de proporcionar prazer, alegria e entretenimento, é fundamental no desenvolvimento de habilidades e conhecimentos aliados ao processo de ensino/aprendizagem. Os jogos, para serem impostos na educação como alternativa metodológica, uma revolução no pensamento, com valor educativo, eles obtiveram vários significados, conforme a cultura, costumes da sociedade e teorias de pensadores de cada época. Desde a Grécia Antiga, já se discutiam sobre maneiras diferentes de se aprender. Prova disso, se tem conhecimento de que em meados de 367 a. C, Platão, um filósofo e matemático, discípulo de Sócrates e profundo admirador que influenciou profundamente a filosofia ocidental, é considerado um dos principais pensadores gregos; Ele, em meio aos seus estudos, reconhecia os Jogos como um meio de atividade para a aprendizagem, pois, conforme Almeida (2003,19-20): Platão condenava, na Grécia, as atividades que exacerbavam a competição e o resultado. O filosofo defendia o jogo como um meio de aprendizagem mais prazeroso e significativo, de maneira que, inclusive os conteúdos das disciplinas poderiam ser assimilados por meio de atividades lúdicas. Desde a época de Platão, cujo verdadeiro nome era Aristócles, já eram apontados os benefícios dos jogos na educação das crianças, porém, para os jogos serem utilizados como alternativo modo de proceder eficazmente no ensino, muitas mudanças culturais, sociais e educacionais fizeram-se necessário, pois, cada sociedade percebia o jogo conforme a cultura e influência estabelecida. Entretanto, na Idade Média o jogo perde seu valor educativo, sendo visto como não sério, servindo como distrações e futilidades e para divulgar os princípios de moral e ética da época. De acordo com Ariés (1981), na Idade Média, os jogos eram basicamente destinados aos homens, visto que mulheres e as crianças não eram consideradas cidadãs; as crianças e seu jogo não tinham espaço, eram apenas, vistas como adulto em miniatura, e, por conseguinte, estando sempre à margem, não participavam de todas as atividades organizadas pela sociedade. 15 Conforme Kishimoto (2007, p.28), [...] O Renascimento vê a brincadeira como conduta livre que favorece o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo. Ao atender necessidades infantis, o jogo infantil torna-se forma adequada para a aprendizagem dos conteúdos escolares. Assim, para se contrapor aos processos verbalistas de ensino, à palmatória vigente, o pedagogo deveria dar forma lúdica aos conteúdos. No Renascimento o jogo passa a ter novos significados e importância, favorecendo a aprendizagem resultando no desenvolvimento da inteligência. O uso da palmatória foi muito utilizado por pedagogos da época, não obstante, o jogo passa a ter novos significados e importância, favorecendo a aprendizagem e resultando no desenvolvimento da inteligência. Nesse sentido, os jogos passam a serem alternativas metodológicas na qual se modifica as intervenções pedagógicas dos pedagogos, e, como o processo de ensino não se limitava ao uso da força e da agressão, os alunos poderiam aprender de forma lúdica e divertida. Além disso, com o Renascimento surgem muitos escritores que criticavam o sistema Educacional e social vigente, tendo como meta tornar livres as pessoas das superstições e tradições da Idade Média, servindo para possibilitar o acesso ao conhecimento, que por muito tempo ficou atrelado a mitos e restrito a poucos. Rabelais, escritor renascentista francês, que explorava lendas populares, farsas, romances, bem como obras clássicas, ficou para posteridades como autor das obras primas cômicas “Pantagruel” e “Gargântua”. Rabelais discursa ainda, sobre jogo, utilizando personagens da época para desenvolver a trama de suas histórias, e, da mesma forma faz sátiras dos sofistas mostrando a deseducação de Gargântua, que não valorizava hábitos saudáveis de higiene e não valorizava os conhecimentos. No século XV, Rabelais (apud Kishimoto, 2007, p. 28), [...] Critica a educação dos Sofistas (ou deseducação), excesso de comida, bebidas e divertimentos. No fundoRabelais critica o jogo como futilidade, como não sério, aliado ao dinheiro, e o valoriza como instrumento de educação para ensinar conteúdos, gerar conversas, ilustrar valores e prática do passado ou até para recuperar brincadeiras dos tempos passados. . 16 De acordo com Neves (2009), Rabelais criou mais de 300 jogos para exercitar a mente e o corpo. Além disso, introduziu a dança, o canto, a modelagem, a pintura, o estudo da natureza, os trabalhos manuais e o teatro nas Escolas da França. Diante dessas discussões com relação à aprendizagem, outro estudioso que questionava o meio para torná-la efetiva, Jean Jacques Rousseau, nascido em 28 de julho de 1712, na cidade de Genebra (Suíça) e sua morte em 2 de julho de 1778, em Ermenoville (França), foi um importante Filósofo, teórico, político, escritor, e é considerado um dos principais filósofos do Iluminismo e um precursor do Romantismo, suas ideias influenciaram a Revolução Francesa( 1789). Segundo Dalla Valle (2010), Rousseau em seu livro: Émile (1762), sugere a utilização de uma educação baseada nas necessidades das crianças, o que era inconcebível para uma época em que elas não eram consideradas seres diferentes dos adultos. Com Rousseau, a criança é levada a sério na sociedade, seus pensamentos e desenvolvimento passam a ser diferenciado, sendo consideradas como um ser com identidade e necessidades próprias, e o jogo naquela ocasião é entendido como parte do universo infantil, a criança se desenvolve brincando, troca experiências adquire conhecimentos através do brincar; o jogo, então, deixa de ser visto como distrações. Concorde Neves (2009, p. 42) : Essa mudança foi provocada pela expressão romântica preparada pela obra de Jean Jacques Rousseau e plenamente afirmada na qualidade do pensamento filosófico na Alemanha do fim do século XIX e inicio do XX [...]. A atenção ao estudo do jogo torna-se mais forte nos séculos XVII e XVIII, período em que os jogos passam a significar objeto de estudo de interesse na ciência, uma vez que se tornaram uma verdadeira obsessão lúdica que tomou corpo no século das luzes. Rousseau contribuiu para a constituição de uma nova representação da criança, em que esta deixa de ser vista como um adulto em miniatura, passando a ser vista como um ser com características próprias em suas ideias e interesses. Rousseau influenciou também, autores que sugeriram exercícios divertidos, revolucionando os métodos de ensino, porque até então, usava-se a palmatória para punir os alunos que erravam as atividades propostas. Rousseau (2009, p. 44) apud Neves: 17 Que ressaltava que o valor do jogo ía bem além da simples distração, significando implicações políticas e morais, e assim contribuindo para a educação do ser humano em sua plenitude, Seus pensamentos influenciaram o surgimento da ideia de educação pedocêntrica, ou educação a partir da criança. Rousseau influenciou autores e pedagogos como Besedow- que propôs exercícios divertidos na aprendizagem- promovendo, portanto, uma abertura através da qual surgiria uma nova visão do jogo, em uma transição entre o puro artifício e a concepção romântica. A partir de Rousseau, o jogo e a criança ganham novos olhares; a Pedagogia passa a organizar-se a partir dos interesses e necessidades das mesmas, os jogos são enfatizados como aliados e não como futilidade no ensino. Neves (2009, p. 22) observa que: Para Rousseau, a primeira educação da criança deveria ser quase que inteiramente pelo jogo. Também para pensadores por ele influenciados, a criança era um organismo em desenvolvimento, para o qual cada fase do crescimento deveria ser estimulada, e que o jogo fazia parte do ser humano em desenvolvimento. As ideias de Rousseau abriram caminho para as concepções educacionais de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), um pedagogista Suíço e educador pioneiro da reforma educacional, o qual lançou bases da Pedagogia Moderna, influenciando profundamente todas as correntes educacionais, igualmente, fundou escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de atingir o povo, e num tempo em que o ensino era privilégio de poucos, procurava estimular as faculdades intelectuais e físicas da criança. Segundo Noal (2013, p. 8), Pestalozzi Defendia que as crianças deveriam ser educadas com amor desde o nascimento. A educação deveria ser sem dor, num ambiente natural, com amor, bondade, num clima de disciplina estrita, mais amorosa. A educação das crianças deveria ser ordenada pelos sentidos, adaptou métodos com atividades de músicas, artes, soletração, geografia e aritmética, Pestalozzi defendia também a prontidão da criança para o processo de ensino e aprendizagem, assim como a organização graduada do conhecimento. Pestalozzi percebia no afeto, o papel central na Pedagogia Moderna. Ele planejou um sistema de Ensino prático e flexível, em que a intenção era estimular as faculdades 18 intelectuais e físicas das crianças; suas ideias influenciaram o Filósofo e Pedagogo Friedrich Froebel (1782-1852), o qual obteve grande influência na Educação Infantil, pois, de acordo com Dalla Valle (2010), Friedric foi o primeiro Pedagogo a incluir os jogos no sistema educativo. Foi chamado de “o Pai da Pré-Escola”, por sua proposta de educação infantil em que inaugura o Kindergarten (Jardim de Infância Alemão), destacava a ação (e, consequentemente, o jogo) como parte da educação das crianças pequenas. Neves (2009, p. 49) cita que: [...] Filósofo Froebel, situado no cerne do pensamento romântico e descrito como quem teve uma influência real na educação infantil, ao propor uma prática que privilegiasse o jogo e outros brinquedos específicos. Para ele, o jogo e a palavra representam a expressão do interior, ou seja, projetam para o exterior o que o sujeito sente no intimo. Defendia a existência de uma harmonia entre o interno e o externo, e que o jogo seria um meio de exprimir essa unidade do todo. O jogo seria ainda, simultaneamente, uma fonte de descoberta das leis essenciais e o meio prático de permitir à criança ir em direção à exteriorização das verdades profundas que possui intimamente. Considerado um psicólogo de análises sobre a infância, Froebel, ponderava que a pedagogia considerasse a criança melhor; ele atentava para o jogo, como uma atividade criadora, um admirável instrumento para promover a educação das crianças e um elemento importante no desenvolvimento integral delas, propôs em compensação, que o jogo tenha um lugar privilegiado no desenvolvimento da mesma, fazendo com que através dele, elas possam expressar os sentimentos e conflitos internos. Vale lembrar que os jogos resultam em benefícios intelectuais, morais e físicos. Segundo Kishimoto (2014, p. 102), Todos os jogos froebelianos envolvem movimentação das crianças de acordo com os versos por elas cantados. O conteúdo das músicas, em consonância com os movimentos, facilita o conhecimento espontâneo sobre os elementos do ambiente. O papel educativo do jogo é exatamente esse. Quando desenvolvido livremente pela criança, o jogo tem efeitos positivos na esfera cognitiva, social e moral. Com John Dewey (1859-1952), Filósofo, Pedagogo e Pedagogista norte americano, a evolução foi ainda maior, para ele a educação está centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno. A educação deve servir para resolver 19 situações da vida e a ação educativa tem como elemento fundamental o aperfeiçoamento das relações sociais. Segundo Neves (2009, p. 24), Dewey: Afirmava que a fonteprimária de toda atividade educativa se encontra nas atitudes e atividades espontâneas (jogos, brincadeiras, mimicas) são passiveis de uso educacional. Criticou severamente a educação tradicional, principalmente no que se refere à ênfase dada ao intelectualismo e a memorização. Defendia o aprender “fazendo”, alcançou uma forma de atividade dramática na educação e compreendia que o espírito da iniciativa e independência leva a autonomia e ao autogoverno, os jogos e a brincadeira conduzem ao conhecimento. Conforme Almeida (2003, p.54), para Dewey: O jogo faz parte do ambiente natural da criança, partindo de que a verdadeira educação é aquela que cria na criança o melhor comportamento para satisfazer suas múltiplas necessidades orgânicas e intelectuais, necessidade de saber explorar, de observar, de trabalhar, de jogar, de viver, a educação não tem outro caminho senão organizar seus conhecimentos partindo das necessidades e interesses das crianças. De acordo com Kishimoto (2014), Dewey, ao entender a infância enquanto época de crescimento e desenvolvimento estimulou a adoção de jogo livre como forma de atender necessidades e interesses da criança. No século XIX, o jogo é visto como natural no ambiente das crianças e estimula elas na busca de novos conhecimentos a partir dos seus próprios interesses, que é algo instintivo e biológico, visto que, as crianças utilizam o jogo para explorar o mundo conforme as suas necessidades, organizando os conhecimentos, resultando em uma educação significativa; à vista disso, através dos jogos e brincadeiras a criança explora o mundo conforme a sua realidade, tornando a aprendizagem satisfatória. Partindo das ideias de Dewey, da importância da psicologia da criança e das necessidades sociais, Decroly (1871- 1932) Médico e Educador Belga, criou um método de ensino globalizado, com a finalidade de evitar a fragmentação do ensino e atender as necessidades das crianças. Segundo o mesmo, as crianças aprendem o mundo com base na 20 visão do todo. O jogo não é o fim visado, mas, o eixo que conduz a um conteúdo didático determinado. Conforme Kishimoto (2014, p.113), Decroly (1926) divulgou seus jogos. Destinados ao desenvolvimento intelectual e motor, tais jogos foram reproduzidos e passaram a ocupar o espaço da educação pré-escolar. Os jogos educativos não constituem senão que uma das múltiplas formas que podem tomar o material do jogo, mas que têm por meta dominante a de fornecer à criança objetivos susceptíveis de favorecer a iniciação a certos conhecimentos e também permitir repetições frequentes em relação à retenção e as capacidades intelectuais. De acordo com Kishimoto (2014), é muito provável que, para educadores que não conheciam a natureza dos jogos, as orientações como as de Decroly tenham contribuído para ocultar a diferença entre o jogo livre e aquele destinado à aquisição de conteúdos. No século XIX e XX, o jogo é defendido por Karl Gross, Filósofo e Pensador alemão, como propulsor do desenvolvimento da inteligência, levando o indivíduo a aquisições de descobertas, experiências, propiciando o desenvolvimento. O jogo é abordado como pré- exercício na busca do eu, físico e psicológico, exercitando o indivíduo por meio das aquisições (descobertas, experiências, fantasias), em seu desenvolvimento. Gross (1861-1946) confere ao jogo um caráter científico, com sua teoria da Recapitulação e do pré- exercício faz do jogo um lugar de Educação, tornando possível a associação da mesma com o Jogo, e, portanto, configurando um quadro teórico que valoriza o Jogo como instrumento Pedagógico. Outra influência que se acrescenta à valorização do jogo como ação livre, provém de Maria Montessori, que nasceu em 1870 em Chiaravalle, considerada a primeira mulher italiana a concluir o curso Medicina, com um estudo sobre neuropatologia. Trabalhou durante dois anos como assistente na clínica psiquiátrica da Universidade de Roma, onde era a principal encarregada de estudar o comportamento de um grupo com de jovens com retardos mentais, e de acordo com Kishimoto (2014), Montessori Inspirada pela experiência que tinha adquirido na clínica em contato com as crianças, que tinha visto brincar no assoalho com pedaços de pão por falta de brinquedos, decidiu se dedicar aos problemas Educativos e Pedagógicos. Estudou Pedagogia, fundou uma casa das crianças, (casa dei Bambini), onde estas podiam aprender a conhecer o mundo. Montessori teve como influências Rousseau. 21 Montessori (apud Kishimoto, 2014, p. 115) afirma que: É necessário que a escola permita o livre desenvolvimento da criança para que a pedagogia científica nela possa surgir. Montessori organizou um conjunto de materiais criados por Itard e Séguin, destinados à educação sensorial, intelectual e moral. Tais materiais incluem exercícios para a apreensão de atividades do cotidiano como quadros de amarrar, abotoar, mobiliário adequado ao tamanho da criança, objetos domésticos, além de materiais destinados ao desenvolvimento dos sentidos e ao ensino do alfabeto, do numero, da escrita, da leitura e da matemática, necessários ao desenvolvimento gradativo da inteligência e à aquisição da cultura. Montessori determinou que seus materiais fossem oferecidos à criança segundo uma ordem progressiva. Cada material com finalidade específica: os encaixes serviriam apenas para os exercícios de encaixe, as formas geométricas para sua distinção, etc. De acordo com Kishimoto (2014), Montessori colaborou para subsidiar a tendência do uso dos jogos livres na educação infantil ao permitir à criança o direito de escolher os materiais para o trabalho escolar. Na contemporaneidade, Brougère (1998), Filósofo francês e Antropólogo, conferencista e diretor do departamento de ciências da Educação da Universidade de Paris Norte, investiga a relação entre brincadeira, Educação e Pedagogia escolar. De acordo com Kishimoto (2014), Brougère contempla o sentido do jogo, veiculado nos tempos atuais, como um meio de expressão de qualidades espontâneas ou naturais da criança, que expressa através dele sua natureza psicológica e inclinações. Ainda na época presente, destaca-se Kishimoto, professora associada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), uma renomada pesquisadora na área da educação infantil. Coordenadora do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos, autora de livros e artigos especialmente sobre temas como Jogos e história da Educação Infantil. Percebe-se que os jogos perpassaram por concepções de vários estudiosos e psicólogos no qual já foram abordados, e as influências abre um leque de possibilidades ao professor, servindo de fundamentos para tornar o processo de ensino e aprendizagem bem dinâmico. Dessa feita, através das teorias, os professores passam a ter mais conhecimento a respeito das particularidades, pois cada faixa etária tem uma forma de compreender e assimilar as coisas. 22 Partindo do pressuposto que a pesquisa aborda sobre o jogo como instrumento de intervenção da escrita e leitura, Piaget e Vygotsky dão sustentação a esta pesquisa. 1.1 O INTERACIONISMO EM JEAN PIAGET. Piaget (1896-1980), epistemólogo suíço, um dos maiores estudiosos do desenvolvimento humano, concentrou seus esforços em compreender como tem origem e evolui o conhecimento. Segundo Goulart (2013), para isso, Piaget transformou-se em estudioso do processo de desenvolvimento mental de crianças e adolescentes, focalizando as funções do conhecimento ou cognitivas (que envolvem o pensamento e as percepções e formações de conceitos) das funçõesde representação da realidade (linguagem, jogo, imitação, desenho) e da função afetiva. Na teoria do desenvolvimento de Piaget se acentua aspectos estruturais e as leis essencialmente universais (de origem biológica) do desenvolvimento. A interação da criança com o ambiente, e com as pessoas, vai culminando na formação da identidade do indivíduo e na capacidade de desenvolver habilidades. Piaget contribuiu para a afirmação do construtivismo, perspectiva que admite que o conhecimento resulte da interação do sujeito com o ambiente, sua ação e o modo como esta interação se converte num processo de construção interna. Castorina (2000, p. 17) apud Piaget (1973): O enfoque construtivista para interpretar o desenvolvimento dos conhecimentos é uma tentativa de superar o dualismo entre o sujeito e o objeto de conhecimento. O sujeito aparece construindo seu mundo de significados ao transformar sua relação com o real, penetrando cada vez mais profundamente neste ultimo e em sua própria maneira de pensar. [...] O projeto Piagetiano com relação ao desenvolvimento foi o de reconstruir as transições entre as formas “poder fazer” com o mundo, esclarecendo que cada uma esta vinculada aos problemas que as crianças possam resolver ao interrogar a realidade- física ou social ou ao tornar seu o que outros lhes colocaram. E o processo de transição exprime as reorganizações “do ponto de vista” infantil, da sua forma de significar os objetos de conhecimento. 23 As crianças resolvem os problemas se apropriando dos objetos e do meio, dão significados ao real. A construção do conhecimento ocorre com a interação e mediação com o meio que vive e com as pessoas, assim, as crianças conseguem fazer sozinhas o que não conseguiam antes, constroem um mundo de significados com sua própria maneira de pensar interagindo com o meio na busca poder fazer, essa transição para o poder fazer. O desenvolvimento cognitivo é interpretado a partir da experiência com o meio físico. Castorina (2000, p.32) observa: Entretanto, salientou-se acertadamente que, em Piaget, os sistemas lógicos ou as formas superiores do pensamento derivam de abstrações reflexivas sobre os aspetos mais formais dos esquemas de ação. Em geral, os mecanismos de equilibração dos quais qualquer processo de reflexão faz parte orientam a constituição da lógica natural de “dentro pra fora”. O processo de evolução intelectual é explicado pelo processo de desenvolvimento. De acordo com Piaget, a assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou conceitual às estruturas cognitivas prévias, ou seja, quando a criança tem novas experiências (vendo coisas novas, ou ouvindo coisas novas) ela tenta adaptar esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possui. Piaget (1973, p.13) define assimilação como: [...] Uma integração a estruturas previa que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se a nova situação. Assim sendo, a acomodação acontece quando a criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova informação em função das particularidades desse novo estímulo. De acordo com Piaget, a teoria da Equilibração de uma maneira geral trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e, valendo-se é considerada como um mecanismo auto-regulador, necessária para assegurar à criança uma integração eficiente dela com o meio ambiente. Das ações sobre o mundo, precede e coloca limites aos aprendizados, as crianças resolvem seus problemas 24 interrogando a realidade física; ele considerava que todo movimento e pensamento, correspondem a uma necessidade. A ação humana consiste, portanto, no movimento contínuo de Equilibração. O processo de Equilibração pode ser definido como um mecanismo de organização de estruturas cognitivas em um sistema coerente que visa levar o indivíduo à construção de uma forma de adaptação à realidade. O conceito de Equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na medida em que a constituição do conhecimento coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que movimentam o organismo no sentido de resolvê-los. Conforme Neves (2009, p.53), Piaget concluiu que: A partir da observação sistemática de seus próprios filhos e, posteriormente, de muitas outras crianças, com a participação de vários colaboradores, concluiu que havia diferenças cruciais entre o pensamento do adulto e criança em várias circunstâncias, pelo fato de as habilidades humanas serem desenvolvidas ao longo da vida do sujeito. Estudou a evolução do pensamento até a adolescência, procurando entender os mecanismos mentais que o indivíduo utiliza para captar o mundo. Foi o propositor da epistemologia genética e desenvolveu uma teoria de etapas pressupondo que os seres humanos passam por uma serie de mudanças ordenadas, oriundas da interação com o ambiente construindo estruturas mentais e adquirindo maneiras de fazê-las funcionar. A obra de Jean Piaget pretende esclarecer a sequência do desenvolvimento do modelo do mundo que a criança vai construindo ao longo de cada período de sua vida. A criança se desenvolve conforme suas fases biológicas, e todos os períodos são caracterizados e explicados por Piaget, que através de observações de muitas crianças, concluiu que as mesmas possuem particularidades e seus comportamentos evoluem conforme os períodos de desenvolvimento. Segundo Goulart (2013, p.24), para Piaget, os seguintes estágios de desenvolvimento psíquico são: Estágio sensório-motor, de 0 a aproximadamente 18 ou 24 meses, neste estádio, a criança ainda não dispõe da função simbólica e não apresenta uma forma de pensamento[...] No estádio objetivo- simbólico ou pré- operatório: inicia-se aproximadamente aos 2 anos e vai até aos 6 ou 7 anos. O inicio desse período é marcado pela instalação simbólica, especialmente pela linguagem, inicia-se um contato maior com o mundo exterior [...] Estádio operacional concreto, apartir dos 6 ou 7 anos indo até os 11-12 anos 25 ,operações lógicas são ações interiorizadas e reversíveis, a partir das quais conhecer o real é pensar sobre ele [...] Estádio das operações abstratas ou formais, inicia-se aproximadamente aos 11-12 anos- a característica essencial deste estádio é a capacidade de distinguir entre o real e o possível [...]. São períodos em que as crianças se desenvolvem, adquirem experiências, constroem conhecimentos e assim ocorre a maturação; por outro lado, há as transmissões culturais que devem ser conhecidas e acompanhadas pelos professores para montar um plano de ensino eficaz, no qual a linguagem, o conteúdo, os jogos, as brincadeiras estejam adequadas para cada período e processo de desenvolvimento. As crianças só adquirem conhecimento quando se desenvolvem, passando por cada estágio. De acordo com Furtado (2012), considerando a importância do jogo, Piaget (1973) analisa seu desenvolvimento relacionando-o ao desenvolvimento cognitivo, e descreve os tipos de jogos como: os jogos de exercício, simbólicos, de regras e de construção. Como o público alvo da pesquisa aqui proposta são alunos dos anos iniciais com 6 - 8 anos de idade, atem-se aos jogos simbólicos e de regras para descrever o processo de desenvolvimento. Nos períodos de desenvolvimento, os jogos simbólicos e de regras são executados conforme os avanços e capacidades construídas pelas crianças em cadaperíodo, pois, cada um representa as formas que as mesmas se desenvolvem, interagindo com o meio e adquirem o conhecimento e maturação para desenvolverem determinadas tarefas. 1.2 JOGOS SIMBÓLICOS E DESENVOLVIMENTO INFANTIL. O jogo faz parte do universo infantil, as crianças se desenvolvem e aprendem brincando. Com os resultados das pesquisas de Piaget, houve inovações pedagógicas que influenciaram profundamente a Educação. Para Piaget (1973), do ponto de vista genético a estrutura lúdica correspondem a uma estrutura mental, respectivamente, o jogo simbólico está presente no período sensório motor e pré-operatório, culminando no desenvolvimento cognitivo, das crianças. De acordo Montoya (2011, p. 76): 26 Os Jogos simbólicos expressam os aspectos afetivos e cognitivos do desenvolvimento psicológicos, os jogos simbólicos permitem a observação da assimilação deformante, isto é, da incorporação do mundo ao bel prazer da criança, dirigida pela busca da satisfação das necessidades do eu. Ainda que a deformação da realidade seja o foco do jogo simbólico, Piaget destaca que não se trata de uma alucinação, pois a criança não perde o contato com a realidade, deformando-a intencionalmente (poderíamos dizer, conscientemente) para compor o contexto da brincadeira de ficção. As crianças, através dos jogos simbólicos interagem com a realidade, representam através do brincar a sua realidade, quando brincam de professora e aluna, por exemplo, reproduz na brincadeira como a professora se comporta em sala de aula. Percebe-se assim, a importância do jogo simbólico no desenvolvimento psicológico, cognitivo e social do aluno. Ao brincar, a criança faz uma assimilação do mundo conforme as suas ideias, sem ter compromisso com a realidade. Montoya (2011, p.78) explica: Pra que se brinca? A explicação geral oferecida pela sua teoria aponta a principal razão para o brincar e em especial para brincar simbolicamente: construir conhecimentos sobre o mundo de maneira representacional podendo distinguir ( no caso dos jogos simbólicos) os objetos propriamente ditos( significados) de seus representantes ( significantes). O brincar permite a criança expandir-se, elaborar novos conhecimentos e estímulos sobre o mundo, estimulando a inteligência, as brincadeiras, os jogos são considerados como uma atividade que propicia o conhecimento e a afetividade. As crianças transformam o real em brincadeira. 1.3 JOGOS DE REGRAS. As regras estão presentes em todas as brincadeiras de forma explicita como implícita, nas brincadeiras como a amarelinha, dominó, xadrez as regras são expressas formalmente, nas brincadeiras de bonecas na qual a criança brinca de mãe e filha as regras são subentendidas; a própria criança vai criando regras conforme a imaginação, e experiências vividas. Considerando o exposto, Montoya (2011, p.80) evidencia que: 27 Os jogos, considerados a mais verdadeira instituição infantil em seus aspectos práticos (prática de regras) e internalizados (consciência de regras) revelam como consciência individual gradativamente assimila as regras e as relações sociais. No caso da criança pequena esta assimilação esta diretamente ligada às pessoas que transmitem as regras e ao sentimento de obediência mesclado com o de respeito pela autoridade, enquanto que a criança mais velha relaciona-se diretamente com a regra enquanto reguladora de ações presentes num conjunto de possibilidades. Os jogos de regras abordados por Piaget trazem muitos benefícios no desenvolvimento dos alunos, as crianças pequenas, não conseguem seguir as regras do jogo, não possuem consciência de regras, precisam da intervenção do professor para jogar. Porém, observa-se nos jogos, que as regras são uma característica marcante, mesmo sem perceber as crianças acabam seguindo regras, mas, com os jogos educativos, a linguagem que os professores utilizam ao ensinar deve estar adequada à faixa etária. Para Montoya (2011, p.84): Os jogos de regras mais frequentes dentre as atividades de crianças da chamada segunda infância (após 7/8 anos, aproximadamente), revelam relações entre o pensamento lógico, os sentimentos normativos e regulações mais avançadas de tendências opostas [...] nesse período, os sentimentos se tornam normativos incorporando em sua dinâmica, as regras, a reciprocidade de interesses e os valores. Os alunos não se prendem ao professor para determinar as regras, seguem a regra do jogo, já conseguem construir os valores e pensamento lógico, com isso os jogos de regras resultam em organização mental, atenção, assimilação, concentração, e nesse período os alunos já conseguem entender as regras. Segundo Montoya (2003) apud Piaget, defende em seu trabalho que as diferentes formas de jogos, principalmente o de regras, na medida em que resultam da organização mental da própria inteligência, podem também intervir favoravelmente para a sua educação. Segundo Montoya (2011, p.87): Do ponto de vista genético, a estrutura lúdica, de exercício, de símbolos e de regras, correspondem uma forma de organização mental, respectivamente, sensório-motora, pré-operatória. Essas estruturas não se constituem de forma linear, antes de subordinam às características que definem os estágios do desenvolvimento cognitivo implicando ordem, sucessão e integração. 28 Conforme Piaget, a criança vai passando do estágio sensório-motor para o pré- operatório, os tipos de jogos a serem utilizados dependem das características de cada estágio e do desenvolvimento cognitivo dos alunos. É importante conhecer os estágios que cada criança esta passando, para utilizar os jogos corretamente, pois, a organização mental acompanha os estágios de desenvolvimento. 1.4 O INTERACIONISMO EM VYGOTSKY. Vygotsky (1896-1934), nascido na cidade de Orsha, na Bielo- Rússia, concluiu seus estudos em Direito e Filologia, lecionou Literatura e Psicologia em Gomel e fundou a revista literária Verasky, lecionou Psicologia e Pedagogia em Moscou, particularmente foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Para haver o desenvolvimento mental, psicológico e cognitivo é necessária a interação social, a sociabilidade do homem com o meio em que vive e com outros indivíduos, para uma influência interna, o processo de desenvolvimento vai de fora para dentro. Insiste em aportes da cultura, na interação social e na dimensão histórica. De acordo com Kishimoto (2007, p.32) apud Vygotsky: Os processos psicológicos são construídos a partir de injuções do contexto sócio-cultural. Seus paradigmas para explicar o jogo infantil colocam-se na filosofia marxista-leninista, que concebe o mundo como resultado de processos históricos-sociais que alteram não só o modo de vida da sociedade, mas inclusive as formas de pensamento do ser humano. São os sistemas produtivos geradores de novos modos de vida fatores que modificam o modo de pensar do homem. A sociedade, cultura e seus símbolos influenciam o desenvolvimento das crianças, o jogo se justifica no processo de formação das crianças por ter ganhado espaço desde o Romantismo, em que a criança, passa a ser vista como um ser pensante com suas particularidades e seus jogos deixam de ser vistos como distração e relaxamento. Conforme as estruturas sociais, politicas e econômicas se modificam, a cultura da sociedade se transforma, novos modos de vida vão surgindo. Segundo Ivic (2010, p.15), 29 Se houvesse que definir a especificidade da teoriade Vygotsky por uma série de palavras e de fórmulas chave, seria necessário mencionar pelo menos, as seguintes: sociabilidade do homem, interação social, signo e instrumento, cultura, história, funções mentais superiores. E se houvesse que reunir essas palavras e essas fórmulas em uma única expressão, poder-se-ia dizer que a teoria de Vygotsky é uma teoria sócio-histórico-cultural do desenvolvimento das funções mentais superiores, ainda que ela seja chamada mais frequentemente de “teoria histórico-cultural”. As relações sociais e a mediação são responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo, social e psicológico das crianças, é por meio da interação social que elas vão construindo experiências se desenvolvem e ocorre a aprendizagem. Os signos os instrumentos, os objetos contribuem na aprendizagem, mas, não são determinantes. Conforme Friedman (2006, p. 26) para Vygotsky: O desenvolvimento ocorre a partir de um processo sócio histórico mediado por relações, e não por acesso direto ao objeto. O conhecimento é mediado pelos sistemas simbólicos de representação da realidade, o universo de conhecimento. [...] não tem acesso direto aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito através dos recortes do real operados pelos sistemas simbólicos de se dispõe. Na perspectiva histórico-social da Teoria de Desenvolvimento de Vygotsky, a formação psíquica das crianças se dá através de internalização mediada pela cultura, com isso, Vygotsky desenvolve a teoria da zona de desenvolvimento proximal, que evidencia o caráter orientador da aprendizagem com relação ao desenvolvimento cognitivo, na qual a interação social e o contexto sócio cultural são centrais. A zona de desenvolvimento proximal poderia ser sumariamente definida como intervalo entre determinado nível de desenvolvimento e a capacidade potencial para aprender certas coisas, que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz. Conforme Castorina (2000, p.15): O esforço de Vygotsky foi mostrar que, além dos mecanismos biológicos apoiados na evolução filogenética e que estavam na origem das funções 30 “naturais”, existe um lugar crucial para a intervenção dos sistemas de signos na construção da subjetividade humana. A tese é que os sistemas de signos produzidos na cultura na qual vivem as crianças não são meros “facilitadores” da atividade psicológica, mas seus formadores. Nesse ponto de vista, os jogos são ferramentas eficientes porque, enquanto as crianças brincam, automaticamente é motivada a aprendizagem e aumentam a capacidade de raciocínio exercitando as funções mentais e intelectuais do jogador. O jogo é considerado como signos construídos na cultura humana formadores da atividade psicológica. 1.5 JOGOS SIMBÓLICOS NA VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA. Os jogos simbólicos, no processo de desenvolvimento cognitivo, psicológico e social, são reconhecidos por terem um papel importante na formação da criança, as influências internas e por intermédio de imagens, comportamentos, signos, orientam e dirigem o comportamento adotado pelas mesmas; a interação social, o convívio com as pessoas é essencial nesse processo de desenvolvimento. Segundo Vygotsky (2007, p. 64): Linguagem e jogo simbólico são expressões de um sistema mediado, no qual eventos internos, imagens ou palavras, servem para orientar e dirigir o comportamento. Jogo simbólico é um mecanismo comportamental que possibilita a transição de coisas como objetos do pensamento. Nos jogos simbólicos, a criança organiza as suas ideias, através da interação social transforma realidade e pode interagir com o meio através da imaginação, na brincadeira de boneca, por exemplo, brinca de mãe e filha, através da brincadeira reproduz o seu dia a dia com sua mãe, se reporta a boneca conforme sua mãe se comporta e a trata, através da brincadeira pode fazer o que os adultos fazem e pode fazer o que só sua mãe faz e isso só é possível devido à convivência com a Família e a imaginação. Vygotsky (2007, p.117) afirma que a criança “no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade. Assim ao atuar no mundo imaginário, seguindo suas regras cria-se uma zona de desenvolvimento proximal, pois há o impulso em direção a conceitos e processos de desenvolvimento”. Nesse caso, as 31 crianças que necessitam da intervenção de um adulto tornam-se capazes de resolverem seus próprios problemas quando atingirem a zona de desenvolvimento real. Para Vygotsky (2007, p.281): É por meio de outros, por intermédio do adulto que a criança se envolve em suas atividades, absolutamente, tudo no comportamento da criança está fundido, enraizado no social. Assim as relações das crianças com a realidade são, desde o inicio, relações sociais. Neste sentido, poder-se-ia dizer que o bebê é um ser social no mais elevado grau. Para haver o desenvolvimento mental, cognitivo e psicológico, a criança necessita das interações sociais; A fala, a memória, pensamento, tudo está condicionado às interações e mediação, pois, para a teoria de Vygotsky a Interação social desempenha o papel construtivo do desenvolvimento. Para Vygotsky (2007, p.39), “é através do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, pensamento, interação e da concentração”. Segundo Ivic (2010, p.26): Nenhuma teoria psicológica do desenvolvimento confere tanta importância à educação quanta a de Vygotsky. Para ele, a educação não tem nada a de externo ao desenvolvimento: “a escola é o lugar mesmo da psicologia, porque é o lugar das aprendizagens e da gênese das funções psíquicas”. [...] Graças à teoria de Vygotsky, direta ou indiretamente, todo um conjunto de problemas novos relativos à pesquisa empírica e de importância capital para a educação foi introduzida na psicologia contemporânea. Para haver educação, a interação com outras pessoas é necessária, é através do convívio com a cultura e experiências que ocorre a aprendizagem, o desenvolvimento está condicionado à relação com outras pessoas, signos e o meio que vive. Mas, a educação não está condicionada somente a teorias e métodos de ensino para suprir as necessidades e dificuldades do mesmo; as estruturas sociais e politicas de cada época são determinantes no processo. Os jogos não foram inseridos na educação por acaso, como já foi abordado anteriormente. Para Kishimoto (1998) “o jogo estimula a inteligência da criança como forma de enriquecer o seu aprendizado”. O jogo, foi e continua sendo fundamentado tanto nas 32 teorias quanto na prática, por vários psicólogos, educadores e estudiosos, foi inserido como alternativa metodológica de ensino porque é eficaz no processo de alfabetização, as brincadeiras e os jogos resultam em benefícios intelectuais, morais e físicos dos alunos, disso, não se têm dúvidas. Os educandos desenvolvem-se mais rápido e ganham autonomia, interagem com o meio e com os colegas, e, o professor determinando os objetivos que quer alcançar, terá nos jogos grandes avanços, resultando no desenvolvimento integral da criança. 33 2 A UTILIZAÇÃO DOS JOGOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Com as contribuições de Piaget e Vygotsky, grandes avanços educacionais einovações pedagógicas foram possíveis, os jogos educativos são importantes ferramentas de ensino, sendo uma via de acesso para que as crianças possam despertar para o mundo e aprender coisas novas de um jeito dinâmico e inovador, funcionando também como instrumento facilitador no processo de aquisição da escrita e leitura, na qual muitos alunos apresentam dificuldades. Partindo do pressuposto que o Ensino Fundamental todo passa a ter duração de nove anos, faz-se necessário entender essa mudança, na qual foi realizada para acompanhar as modificações e necessidades sociais. No dia 6/02/2006, o Presidente da República sancionou a Lei nº 11, que regulamenta o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, com o objetivo de assegurar a todas as crianças um tempo maior de convívio escolar e maiores oportunidades de aprender. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 9394/ 1996) passa por alterações, visando dar melhores orientações e organização no ensino, conforme o contexto que se encontra para a sociedade. Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional (9394/ 96), atualizada em 2014, no seu Artigo 32: O Ensino Fundamental obrigatório, com duração de 9 ( nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6( seis )anos de idade, terá por objetivo a formação Básica do cidadão mediante: ( Redação dada pela lei nº 11.274, de 2006): I - O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do calculo; II- A compreensão do ambiente natural e social do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem , tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; Com as alterações na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, as crianças ingressam mais cedo no Ensino Fundamental, trazendo muitas dúvidas, mediante o processo de ensino/aprendizagem, são crianças pequenas e os direcionamentos pedagógicos devem estar acessíveis a todos para que ocorra o pleno domínio da escrita e leitura. É importante que o trabalho pedagógico com os alunos dos anos iniciais, garanta o estudo articulado das ciências sociais, das ciências naturais, das noções lógico matemáticas e das linguagens. Com 34 as modificações, o professor tem que participar de cursos de capacitação para saber como introduzir um conhecimento articulado e necessário para essa nova clientela do Ensino Fundamental, superando as dificuldades no segmento de alfabetização. Na sociedade moderna, as crianças têm acesso mais cedo a tecnologias, a jogos eletrônicos, ficam atentas também à televisão que ocupa grande parte do tempo delas, sobrando pouco momento para o estudo em casa, e ainda tem a rotina dos pais que trabalham muito. Não obstante, diante desse contexto descrito acima, fica comprometido o processo de alfabetização, visto que, os professores ficam em sala de aula por quatro horas, ou mais, com as crianças, e geralmente são salas lotadas com alunos em diferentes graus de aprendizagens, e nas demais horas dependendo da rotina diária, as crianças ficam em casa, sendo a participação familiar nesse processo é muito importante. Com todas essas dificuldades que geralmente é comum na rotina de muitos alunos e Professores, é preciso encontrar alternativas metodológicas que facilitem o processo de alfabetização e que estimulem os alunos a aprender. Com isso o jogo torna-se uma estratégia de aprendizagem eficaz, que favorece ao aluno um ensino dinâmico, inovador e interessante aos olhos da criança. Conforme Furtado (2012, p.58), Independentemente da terminologia utilizada, as pesquisas enfatizam que os jogos trazem benefícios, visto que possibilitam desenvolvimento e excitação mental, desenvolvem a memória, atenção, observação, raciocínio, criatividade, e contribuem favorecendo a desinibição [...] assim a criança aprende a definir valores, formar juízos, fazer escolhas. A linguagem torna- se mais rica por meio da aquisição de novas formas de expressão. Os jogos e brincadeiras influenciam o desenvolvimento infantil, podendo ser utilizado na escola como um recurso metodológico para a realização de atividades com fins educativos, facilitando o aprender. Para Kramer (2010, p.98): A alfabetização é um processo que começa a ser construído fora e antes da entrada da criança na escola. Muitos pesquisadores vêm buscando compreender como se dá essa construção, poucas, mas significativos pedagogos vêm criando alternativas teóricas- práticas de alfabetização como processo cultural- especialmente Freinet e Paulo Freire 35 . Como a alfabetização é um seguimento muito importante e absolutamente necessário na formação escolar das crianças, deve ser bem desempenhada as alternativas metodológicas quanto a aplicação das mesmas, tornando assim, o processo de aquisição da escrita leitura, mais fáceis e prazerosas para os alunos. Kramer (2010, p, 82) ainda ressalta que: Levando em conta tanto os problemas existentes no contexto escolar quanto às dificuldades decorrentes das diversas estratégias comuns à formação em serviço, cabe propor alternativas capazes de superá-las, em direção a uma prática que entenda o aluno como um ser político, histórico, pertencente a uma classe, com uma cultura, uma etnia e um gênero. Uma diretriz básica seria- na formação de professores em serviço- possibilitar uma aproximação entre a atuação do professor em sala de aula e os conhecimentos nos quais ele fundamenta esta atuação. Entretanto, para o Professor dar conta de alfabetizar aos alunos e introduzi-los de forma satisfatória ao conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades, a prática de transmissão do conhecimento tem que estar pautada na realidade dos educandos, e, juntamente com a metodologia de ensino, devem ser dinâmicas e atraentes conforme as necessidades e os conteúdos propostos. Como se discursa muito sobre alfabetização e letramento, é de suma importância conhecer alguns conceitos dos mesmos, na visão de alguns autores. Para Rios (2009, p. 33): [...] A Alfabetização e o Letramento são processos que se mesclam e coexistem na experiência de leitura e escrita nas práticas sociais, apesar de serem conceitos distintos. Alfabetização é [...] a ação de Alfabetizar, de tornar Alfabeto. É apropriar-se do sistema de escrita. O conceito de Letramento [...] é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. O mesmo autor diz que alfabetização refere-se a codificar e decodificar a língua escrita, enquanto o letramento, à apropriação da escrita. Para Soares (2000, p. 39) a diferença entre o alfabetizado e o letrado é que: 36 [...] um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um individuo letrado, o alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever, já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive um estado de letramento, e não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente as demandas sociais de leitura e de escrita. Os professores têm o desafio de tornarem os alunos alfabetizados e letrados, para que eles possam interagir com a sociedade de forma plena e eficaz, tornando-os cidadãos autônomos e desenvolvendo habilidades para interatuar no dia a dia. Além disso, o Professor deve buscar novos caminhos para alcançar os objetivos em sala de aula, fazendo com que todos sejam alfabetizados no tempo preciso. Castorina (2000, p.65) enfatiza que Vygotsky:Preocupa-se com a importância da intervenção pedagógica intencional para que ocorra o processo de alfabetização, de domínio do sistema de leitura e escrita. Mesmo imersa em uma sociedade letrada, a criança não desabrocha espontaneamente como uma pessoa alfabetizada: a aprendizagem de um objeto cultural tão complexo como a escrita depende de processos deliberados de ensino [...] A mediação de outros indivíduos é essencial para provocar avanços no domínio desse sistema culturalmente desenvolvido e compartilhado. A escrita é um objeto cultural muito complexo, a forma como a criança é conduzida a aprender faz toda a diferença, os cursos deliberados de ensino têm que corresponder às necessidades das crianças e os professores devem buscar novos conhecimentos, ou seja, atualizar-se. Visando o desenvolvimento da criança, tanto no físico, emocional, intelectual, afetivo e social, os jogos merecem atenção especial e particular, haja vista que, com eles e as brincadeiras, a criança se desenvolve de forma integral e dinâmica. A alfabetização vai muito além de aprender ler e escrever, a aquisição da linguagem da escrita representa um salto no desenvolvimento da pessoa e provoca uma mudança psicológica e intelectual da criança, saber comunicar-se e expressar-se interagindo com o mundo a sua volta. O tipo de instrução que as crianças recebem no processo de aprendizagem influencia o tipo de habilidades que poderão adquirir. Conforme Castorina (2000, p.63): 37 A escrita, sistema simbólico que tem um papel mediador na relação entre sujeito e objeto de conhecimento, é um artefato cultural que funciona como suporte para certas ações psicológicas, isto é, como instrumento que possibilita a ampliação da capacidade humana de registros, transmissão e recuperação de ideias, conceitos, informações. A escrita seria uma espécie de ferramenta externa, que estende a potencialidade do ser humano para fora de seu corpo: da mesma forma que ampliamos o alcance do braço com o uso de uma vara, com a escrita ampliamos nossa capacidade de registro, de memória e de comunicação. Para o aluno ser considerado alfabetizado, deve apropriar-se da linguagem escrita e conseguir compreender os códigos escritos, e através dos livros, de revistas, ter acesso a um novo mundo da cultura humana, e como a escrita é um processo importante, ela necessita da mediação do Professor para ter êxito. Para Vygotsky (2007, p.119): Esse complexo sistema de signos que é a linguagem escrita fornece um novo instrumento de pensamento à criança, permite outra forma de acesso ao patrimônio cultural da humanidade (contidos nos livros e outros tipos de textos) e promove novas formas de relacionamento com as outras pessoas e com o conhecimento. [...] critica o ensino da escrita apenas como habilidade motora. Ensina-se a criança a desenhar letras e a construir palavras com elas, mas não se ensina a linguagem escrita. Enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o que está escrito que acaba obscurecendo a linguagem escrita como tal. De acordo com Rios (2009), o processo de alfabetização, não se reduz a um conjunto de técnicas percepto-motoras, nem está atrelada à motivação, mas, a uma aquisição conceitual. Essa teoria baseia-se na concepção teórica Piagetiana, em que os conhecimentos são construídos a partir da ação do sujeito em interação com o objeto de conhecimento. Segundo Kramer (2010, p.99): A aprendizagem da leitura/escrita envolve uma dimensão simbólica, expressiva e cultural, ser alfabetizador consiste em favorecer esse processo, propiciando, inicialmente, que as crianças realizem atividades sistemáticas, organizadas de tal forma que as diferentes formas de representação e expressão infantis sejam ampliadas gradativamente, até que compreendam o que é a leitura e a escrita. 38 Muitos professores com muitos recursos disponíveis, ainda se prendem a métodos tradicionais, reforçam atividades repetitivas, cansando as crianças e nem sempre é funcional, pois não engloba diferentes representações infantis, principalmente com as crianças dos anos iniciais. De acordo com Vygotsky (2007), a escrita deve ter significados para as crianças, a necessidade de aprender a escrever deve ser despertada, e, vista como necessária e relevante para a vida, só então poderão estar certos de que ela se desenvolverá não como hábito de mãos e dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem. Conforme Castorina (2000, p.19): Assim, a aprendizagem consiste na internalização processo dos instrumentos mediadores e é uma aplicação do princípio antes mencionado: todo processo psicológico superior vai do âmbito externo para o interno, das interações sociais para as ações internas psicológicas. Entretanto, como são crianças, os jogos e brincadeiras ajudam na internalização e assimilação dos conteúdos, e possibilita uma aprendizagem mais interessante aos olhos dos alunos, motivando-os ao alcance mais rápido da alfabetização. Para Jean Piaget (1973, p.158), “os jogos tornam-se mais significativos à medida que a criança se desenvolve, pois a partir da livre manipulação de materiais variados, ela passa a construir objetos, reinventar as coisas, o que já exige uma adaptação mais completa”. Quando a criança se apropria desses conhecimentos manuseando os jogos, ela terá um aprendizado mais eficaz em seu cotidiano escolar e até mesmo no ambiente Familiar, se a mesma tiver acesso aos jogos educativos. Para Furtado (2012, p.58): A brincadeira e o jogo também possibilitam à criança o desenvolvimento da curiosidade, da iniciativa, da autoconfiança, assim como experienciar situações de aprendizagens que favoreçam a linguagem, o pensamento, a concentração e a atenção. O acesso aos jogos se dá pelos professores, como uma alternativa metodológica de Ensino, o jogo estando inserido de forma organizada, sistematizada com objetivos estabelecidos, contribui consideravelmente na aquisição da escrita e leitura, desse modo os alunos assimilam com mais facilidade. 39 De acordo com Antunes (2000), para que a prática pedagógica permeada por jogos seja eficaz na aprendizagem do aluno, é indispensáveis que esses jogos sejam selecionados de modo a atender aos objetivos da aprendizagem e substituídos por outros, quando o Professor perceber seu distanciamento dos objetivos propostos. Para Leal (2005), o jogo é uma atividade lúdica em que crianças ou adultos participam de uma situação de engajamento social num tempo e espaços determinados, como características próprias delimitadas pelas próprias regras de participação nas situações imaginárias. Nesse sentido, os jogos são ferramentas eficientes, por que enquanto as crianças brincam automaticamente é motivada a aprendizagem e aumentam a capacidade de raciocínio exercitando as funções mentais e intelectuais do jogador. Na perspectiva pedagógica, Kishimoto (1998), define o jogo como sendo educativo, uma vez que nasce como uma mistura entre o jogo e o ensino, e atualmente, é um aliado do Professor em sua tarefa diária de ensinar e instruir seus alunos. Os autores abordados relatam a importância dos jogos associada à aprendizagem. Desta forma, entende-se que a verdadeira aprendizagem não se faz apenas copiando do quadro ou prestando atenção ao Professor, mas, no brincar, também, muitas vezes, acrescenta ao currículo escolar uma maior vivacidade de situações que ampliam as possibilidades de a criança aprender e construir o conhecimento. De acordo com Friedmann (2006), o jogo na escola precisa ser visto como atividade do aluno e do educador. Assim, não é possível que