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Irma Filomena Lobosco Economia É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Economia, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidisciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suplemento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital ApresentAção sUMÁrIo IntroDUção ............................................................................................................................................... 5 1 ConCeItos FUnDAMentAIs ....................................................................................................... 7 1.1 Conceitos de Economia............................................................................................................................................ 8 1.2 Classificação dos Bens .............................................................................................................................................. 9 1.3 A Economia como Ciência Social .......................................................................................................................... 9 1.4 A Economia e suas Relações .................................................................................................................................11 1.5 O Problema Econômico .........................................................................................................................................12 1.6 Sistemas Econômicos..............................................................................................................................................13 1.6 Recursos ou Fatores (Meios) de Produção .......................................................................................................16 1.7 O Princípio do Custo de Oportunidade ............................................................................................................18 1.8 Riqueza, Utilidade e Valor ......................................................................................................................................19 1.9 Bens e Serviços ..........................................................................................................................................................19 1.10 Setores Econômicos ..............................................................................................................................................19 1.11 Divisão da Economia ............................................................................................................................................20 1.12 Método ......................................................................................................................................................................20 1.13 Resumo do Capítulo .............................................................................................................................................21 1.14 Atividades Propostas ............................................................................................................................................21 2 eVoLUção Do pensAMento eConÔMICo .................................................................. 23 2.1 Antiguidade ................................................................................................................................................................24 2.2 Mercantilismo ............................................................................................................................................................24 2.3 Fisiocracia ....................................................................................................................................................................25 2.4 Os Clássicos ................................................................................................................................................................25 2.5 Teoria Neoclássica ....................................................................................................................................................27 2.6 A Era Keynesiana.......................................................................................................................................................27 2.7 O Período Recente ...................................................................................................................................................28 2.8 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................29 2.9 Atividades Propostas...............................................................................................................................................29 3 MICroeConoMIA .............................................................................................................................. 31 3.1 Pressupostos Básicos da Análise Microeconômica ......................................................................................32 3.2 As Tarefas do Sistema de Mercado .....................................................................................................................34 3.3 Como o Mercado Funciona ...................................................................................................................................35 3.4 A Produção .................................................................................................................................................................35 3.5 Os Setores de Produção .........................................................................................................................................36 3.6 Possibilidade de Produção ....................................................................................................................................37 3.7 Os Fatores de Produção .........................................................................................................................................37 3.8 A Importância e Origem do Capital ...................................................................................................................39 3.9 Os Dois Mercados .....................................................................................................................................................39 3.10 Demanda, Oferta e Equilíbrio ............................................................................................................................40 3.11 Oferta .........................................................................................................................................................................43 3.12 Equilíbrio de Mercado ..........................................................................................................................................44 3.13 Resumo do Capítulo .............................................................................................................................................453.14 Atividades Propostas ............................................................................................................................................45 4 A proDUtIVIDADe e A eConoMIA ...................................................................................... 47 4.1 Custo Operacional da Empresa ...........................................................................................................................48 4.2 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................49 4.3 Atividades Propostas...............................................................................................................................................49 5 HIstÓrIA Do trABALHo .............................................................................................................. 51 5.1 Na Antiguidade .........................................................................................................................................................51 5.2 Na Idade Média .........................................................................................................................................................51 5.3 Os Artesãos e suas Corporações .........................................................................................................................52 5.4 A revolução Industrial .............................................................................................................................................52 5.5 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................53 5.6 Atividades Propostas...............................................................................................................................................53 6 FUnDAMentos DA MACroeConoMIA ........................................................................... 55 6.1 Medindo o Produto do País ..................................................................................................................................55 6.2 Conceitos de Renda (RN) e Produto Nacional Bruto (PNB)........................................................................56 6.3 Conceitos de Balança de Pagamentos ..............................................................................................................58 6.4 Economia e Globalização ......................................................................................................................................59 6.5 Políticas Econômicas ...............................................................................................................................................61 6.6 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................62 6.7 Atividades Propostas...............................................................................................................................................62 7 InDICADores DA eConoMIA BrAsILeIrA ..................................................................... 63 7.1 Números Índices .......................................................................................................................................................63 7.2 Índices de Preços ......................................................................................................................................................64 7.3 Principais Índices que Acompanham os Preços ............................................................................................65 7.4 Resumo do Capítulo ................................................................................................................................................66 7.5 Atividades Propostas...............................................................................................................................................66 respostAs CoMentADAs DAs AtIVIDADes propostAs ..................................... 67 reFerÊnCIAs ............................................................................................................................................. 69 Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 5 IntroDUção A Economia cada vez mais vai se firmando como uma ciência imprescindível para o mundo dos ne- gócios, não só internamente em cada país, como externamente, pois os países, com a abertura econômi- ca do mundo em seguida à liberalização do movimento de capitais, ficam expostos a decisões tomadas por agentes econômicos internacionais. A estrutura da presente apostila baseia-se no estudo da oferta e da procura de produtos para, a partir desse instrumental, abordar a teoria microeconômica ou teoria dos preços, análise da demanda, da oferta, das estruturas de mercado, passando por produção e fatores, circulação, distribuição de renda e consumo. A teoria macroeconômica, também objeto de estudo, se faz presente nesta obra, oferecendo con- dições ao Estado de medir o crescimento ou retração da Economia. Antes, porém, há necessidade de um recuo no tempo, no qual são abordados alguns eventos mar- cantes na Economia que a prepararam para novos tempos, novas ideias. Com o crescimento e avanços da sociedade em todos os aspectos – social, ético, moral, tecnológico etc. –, a Economia não podia permanecer como conhecimento sofisticado da nobreza. Com a expansão dos negócios, comércio, indústria e agricultura, desceu até as camadas sociais inferiores, procurando ex- plicar os fenômenos oriundos da produção, do consumo, da distribuição da renda etc. Em âmbito nacional, propõe aos governos o estudo do emprego/desemprego, da Lei da Escassez e, ainda, fornece ferramentas para a análise do comportamento da Economia como um todo através do produto nacional bruto e do comércio internacional, como o balanço de pagamentos. Para concluir este trabalho, são expostos alguns índices, importantes para dimensionar a expansão ou retração da Economia, acompanhando a evolução dos preços e das várias atividades dos diferentes setores – primário, secundário e terciário – quanto à sua colaboração para a formação do Produto Interno Bruto (PIB). O presente material foi especialmente desenvolvido para os alunos do Ensino a Distância (EaD) e seu uso será de grande valia no decorrer das aulas do curso, devendo ser usado como bibliografia básica. Ao final de cada capítulo, leia com atenção os enunciados e responda às questões propostas. Essas questões objetivam auxiliá-lo na aprendizagem. Primeiramente, responda a todas as questões e somente ao final verifique as suas respostas, relacionando-as com as respostas e comentários do professor, ao final desta apostila. Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 7 1 ConCeItos FUnDAMentAIs Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, trataremos dos conceitos da ciência econômica. Vamos iniciar a discussão? Analisando o cotidiano, facilmente você identificará inúmeras questões econômicas, como, por exemplo: aumentos de preços nos alimentos, pla- nos de saúde, aluguel da casa etc.; inflação e deflação; anúncios de períodos de crise econômi- ca ou de crescimento; desemprego; setores que crescem mais do que outros, como a indústria automobilística e a in- dústria da construção civil; diferenças salariais, dissídios coletivos, greves; crises no balanço de pagamentos: dívida interna e dívida externa; valorização ou desvalorização da taxa de câmbio: importação e exportação; ociosidade em alguns setores de ativi- dade; diferença de renda entre as várias regiões do país: Norte, Nordeste, Sudeste etc.; taxasde juros para financiamentos de capital; déficit governamental; elevação de impostos e tarifas públicas. Tais temas são discutidos pelos cidadãos comuns, que, com altas doses de empirismo, têm opiniões formadas sobre as medidas que o Estado deve adotar. Um estudante de Economia, de Di- reito ou de outra área pode vir a ocupar cargo de responsabilidade em uma empresa ou na própria administração pública e necessitará de conheci- mentos teóricos mais sólidos para poder analisar os problemas econômicos que nos rodeiam no dia a dia (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003, p. 1). Todo indivíduo tem algum conhecimento so- bre Economia e este conhecimento pode ser útil, porém um conhecimento insuficiente pode ser pe- rigoso. Da mesma forma que um profissional que tenha realizado vários negócios envolvendo con- tratos trabalhistas, com sucesso, pode considerar- -se um perito na economia dos salários ou que um administrador de empresa que tenha enfrentado o controle dos custos de sua empresa pode con- siderar que seu ponto de vista sobre o controle de preços é a última palavra, um profissional do mer- cado financeiro que negocia ações pode concluir que sabe tudo a respeito de economia financeira. Podemos, assim, concluir que cada indivíduo tende, naturalmente, a julgar um fato econômico pelo seu efeito imediato sobre ele. Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 8 Podemos explicar o que é Economia anali- sando o significado do verbo ‘economizar’ ou da expressão ‘fazer economia’. Economizar significa evitar gastar inutilmente e guardar para futuras necessidades; sempre procuramos economizar o nosso dinheiro, reservando uma parte para uma situação de emergência. Segundo Vasconcellos e Garcia (2003, p. 2): “A palavra economia deriva do grego oikosnomos (de oikos, casa, e nomos, lei), que significa a administra- ção de uma casa, ou do Estado.” Ainda segundo os autores, pode ser assim definida: Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem (escolhem) empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pes- soas e grupos da sociedade, a fim de satis- fazer as necessidades humanas. (VASCON- CELLOS; GARCIA, 2003, p. 2). Essa definição contém vários conceitos im- portantes, que são a base e o objeto do estudo da ciência econômica, que estuda a produção, a circu- lação, a distribuição e o consumo, quais sejam: escolha; escassez; necessidades; recursos; produção; distribuição. Economia é o estudo das leis econômicas in- dicadoras do caminho que devemos seguir a fim de aumentarmos a produtividade, melhorando o padrão de vida das populações com o correto em- prego dos recursos (SAMUELSON, 1975). Ainda está para ser elaborada uma defini- ção definitiva sobre Economia. Muitas têm sido propostas e discutidas. De acordo com Mochon (2004, p. 9), “a economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade” ou, en- tão, “economia é a ciência que estuda a produção, a circulação, a distribuição e o consumo”. A Economia só surgiu como ciência a partir do século XVIII, quando foram feitas grandes des- cobertas técnicas e científicas que modificaram radicalmente o modo de produzir dos povos (Re- volução Industrial). Desde então, a Economia foi se tornando cada vez mais importante (GUIMARÃES, 1993). Ela trata do bem-estar do homem e os ele- mentos-chave da atividade econômica são: (a) os recursos produtivos (R); (b) as técnicas de pro- dução (que transformam os recursos em bens e serviços – BS); (c) as necessidades humanas (NH) (MENDES, 2005). Tem-se: R è BS è NH. Portanto, podemos afirmar que a função da Economia como um todo é descrever, analisar, ex- plicar e correlacionar o comportamento da produ- ção, do desemprego, dos preços e dos fenômenos semelhantes. 1.1 Conceitos de Economia AtençãoAtenção A Economia estuda a maneira como os homens e as sociedades decidem, com ou sem utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos! Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 9 Tudo que é raro em relação às necessidades individuais ou coletivas deve ser economizado. Assim, tudo aquilo que é raro é um bem econô- mico e tudo aquilo cuja abundância supera nos- sas necessidades não é um bem econômico. O ar que respiramos, a areia do deserto, a água do mar e muitos outros bens não podem ser classificados como bens econômicos. São classificados como bens livres. A principal característica dos bens eco- nômicos é sua carência, isto é, existem em menor quantidade do que as necessidades. Devido a essa característica, os bens econô- micos devem ser racionados. Isso pode ser feito através de um sistema de repartição autoritária ou – o que é mais frequente – cobrando-se um preço daqueles que desejam tais bens. Devido à sua carência, os bens econômicos devem, geralmente, ser produzidos, quando então tomam a forma de serviços ou de bens materiais: o vendedor que realiza a venda de um determina- do produto (mercadoria) na loja participa na pro- dução do bem econômico, assim como o operário que trabalhou na sua produção. Fabricar algo, transpor e vendê-lo, ministrar uma aula, cortar o cabelo, entregar uma carta, tudo isso e mais uma infinidade de outras atividades são atos de produção. Quem realiza atos de produção realiza uma atividade econômica. 1.2 Classificação dos Bens 1.3 A Economia como Ciência Social A Economia como ciência social tra- ta dos diferentes aspectos do comportamen- to humano que são ocupados pelas ciências sociais, podendo ser caracterizados como ciências do comportamento ou ciências humanas. Elas compreendem áreas distintas, diferenciando, por sua natureza, os vários aspectos da ação do ho- mem com o qual cada uma delas se envolve. Em qualquer sociedade, os recursos ou fa- tores de produção são escassos; contudo, as ne- cessidades humanas são ilimitadas e sempre se renovam. Isso obriga a sociedade a escolher entre alternativas de produção e de distribuição dos re- sultados da atividade produtiva aos vários grupos da sociedade. Economia é a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem empregar os recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, de forma a satisfa- zer as necessidades humanas. Consideradas elementos-chave da atividade econômica, as necessidades humanas se consti- tuem na razão de ser (na força motivadora) da ati- vidade econômica. Os desejos dos serem humanos são ilimitados. As diferentes necessidades humanas são, ge- ralmente, agrupadas da seguinte forma: 1. fisiológicas: são as necessidades bási- cas da vida: água, comida, abrigo, ar, ves- tuário, descanso etc.; 2. segurança: as pessoas desejam estar, na medida do possível, seguras de que no futuro não lhes faltarão meios de sa- tisfazer suas necessidades básicas. Ne- cessitam, também, sentirem-se seguras quanto ao respeito e à estima dos de- mais. No trabalho, as pessoas sentem necessidade de segurança quanto ao seu emprego, isto é, desejam ter certa garantia de que não serão dispensadas a qualquer momento; 3. sociais: consistem no desejo, que todos sentem, de participar de vários grupos Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 10 e de ser aceito por eles. Alguns desses grupos são: o familiar, grupos de escola, companheiros de trabalho; 4. estima: o indivíduo deseja ser mais do que um membro do seu grupo; necessi- ta de estima, afeto, amor, valorização e reconhecimento. A satisfação das neces-sidades de estima provoca sentimentos de autoconfiança; 5. autorrealização: está ligada ao desejo do ser humano de desenvolver e usar sua capacidade, suas aptidões e habilidades, bem como de realizar seus planos. Figura 1 – Diagrama das necessidades humanas. Pensando e observando a vida das pessoas, percebemos facilmente que as necessidades hu- manas são limitadas quanto ao número. Logo que alguém consegue dinheiro para saciar sua fome e para vestir-se, já pensa em adquirir sua casa pró- pria. Quando já tem a casa, quer decorá-la da me- lhor maneira possível. Depois, surge a necessidade de convidar os amigos para conhecer a casa e ouvir os últimos CDs adquiridos. À medida que vão se satisfazendo as neces- sidades, outras vão surgindo: carros, viagens, cur- sos, roupas da moda, emprego melhor e assim por diante. Economia positiva e economia normativa Toda ciência deve seguir critérios para que possa ser considerada aceitável na comunidade científica. Assim, a teoria econômica, que apresen- ta um grande desenvolvimento nos últimos sécu- los, necessidade de ferramentas para sua análise. De acordo com Vasconcellos e Garcia (2002, p. 32): a teoria econômica utiliza-se de argu- mentos positivos (economia positiva) e argumentos normativos (economia nor- mativa). A economia normativa contém um juízo de valor, subjetivo, e a economia positiva é o conjunto de conhecimentos objetivos, que respeita todos os cânones científicos. Quando se diz que deveria ocorrer uma me- lhoria na distribuição de renda, expressa-se um juízo de valor, pois é uma crença que é uma coisa boa ou má. Esse exemplo é um argumento da eco- nomia normativa. Já a economia positiva auxiliará a identificar o instrumento de política econômica adequado à diminuição da concentração de renda, como, por exemplo, política salarial ou política tri- butária, que avaliará os aspectos positivos e nega- tivos. Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 11 A Economia faz fronteira com outras impor- tantes disciplinas, tais como: sociologia, psicologia, antropologia, administração, contabilidade, esta- tística e matemática. Para a interpretação de re- gistros históricos, são necessários os instrumentos analíticos, porque os fatos não “contam com sua própria história”, mas possuem grande importân- cia. Caro(a) aluno(a), Vasconcellos e Garcia (2002, p. 33) procuraram estabelecer os pontos de conta- to entre a teoria econômica e outras áreas do co- nhecimento: Na chamada pré-economia, antes da Re- volução Industrial do século XVIII, que corresponde ao período da Idade Média, a atividade econômica era vista como par- te integrante da Filosofia, Moral e Ética. A Economia era orientada por princípios morais e de justiça. O início do estudo sistemático da Econo- mia coincidiu com os grandes avanços na área de Física e Biologia nos séculos XVIII e XIX. Com o passar do tempo, predominou uma concepção humanística, que coloca em plano superior os móveis psicológicos da atividade humana. A Economia é por ex- celência uma ciência social, pois objetiva a satisfação das necessidades humanas. Muitos avanços obtidos na Teoria Econô- mica advieram da pesquisa histórica, pois a História facilita a compreensão do pre- sente, e ajuda nas previsões para o futuro, com bases nos fatos do passado. Há também uma grande conexão entre Economia e Geografia, pois esta permite avaliar também questões como as condi- ções geoeconômicas dos mercados regio- nais, a concentração espacial dos fatores produtivos, a localização de empresas, a composição setorial da atividade econô- mica, muito úteis à análise econômica. Aponta ainda a relação entre Economia e Política, pois, nesse sentido a atividade econômica subordina-se à estrutura ao re- gime político do país. Como você sabe, e vimos na citação anterior, a esse respeito Vasconcellos e Garcia (2003, p. 10) afirmam que, apesar de ser uma ciência social, a Econo- mia é limitada pelo meio físico, dado que os recursos são escassos, e se ocupa de quantidades físicas e das relações entre essas quantidades. Daí surge a necessida- de da utilização da Matemática e da Esta- tística como ferramentas para estabelecer relações entre variáveis econômicas. Por exemplo, a relação entre o consumo na- cional está diretamente relacionada com a renda nacional e pode ser representada da seguinte forma: C = ƒ(RN) e ΔC / ΔRN > 0. Diz que o consumo (C) é uma função (ƒ) da renda nacional (RN) e dada uma variação da renda nacional (ΔRN), terá uma varia- ção diretamente proporcional (na mesma direção) do consumo agregado (ΔC). Como as relações econômicas não são exatas, mas probabilísticas, recorre-se à Estatística. Por exemplo: C = 2pr, onde C = comprimento da circunferência, p = letra grega PI e r = radianos, é uma relação ma- temática exata qualquer que seja o com- primento da circunferência. Em economia tratamos de leis probabilísticas. 1.4 A Economia e suas Relações Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 12 O problema econômico está centralizado no fato de que os recursos disponíveis ao homem para produzir bens e serviços são limitados, escassos, mas a necessidade ou desejo desses bens e servi- ços varia e é insaciável (MENDES, 2005, p. 3). A ciência econômica procura resolver esse problema, atribuindo um grau de importância a cada necessidade e sugerindo a canalização dos recursos para a satisfação das necessidades mais urgentes. Um indivíduo deve satisfazer suas neces- sidades, porém o alimento cotidiano e o lazer não têm a mesma importância. De que adianta o indi- víduo andar vestido de acordo com a última moda se tem dificuldades em se alimentar? Também não têm a mesma importância a necessidade de pagar a educação dos filhos e o desejo de comprar um carro. O dinheiro que um indivíduo dispõe serve para muita coisa quando é abundante. Como, em geral, o dinheiro é escasso, é preciso utilizá-lo mui- to bem, para que seja suficiente para o mais impor- tante, ao mesmo tempo em que se procura melho- rar a situação. Um país também tem muitas necessidades: estradas, represas, hospitais, escolas, fábricas etc. Diante da elevada quantidade de necessidades, o governo, geralmente, sente a falta de recursos. É preciso classificá-las segundo sua importância e, em seguida, canalizar para as prioritárias os recur- sos disponíveis. Por escassez, entende-se a situação em que os recursos são limitados e podem ser utilizados de diferentes maneiras, de tal modo que devemos sa- crificar uma coisa por outra. A seguir, apresentam- -se situações de escassez comuns no dia a dia: uma quantidade limitada de recursos (dinheiro) para consumir alimentos ofer- tados nos supermercados exige a escolha entre a compra de determinadas merca- dorias (comprar unidades a mais de um produto e a menos de outro); tempo limitado para ler um livro que ex- ige algumas horas de dedicação implica ter menos horas para se dedicar a outras atividades, como, por exemplo, assistir a um filme no cinema; na empresa, uma máquina tem ca- pacidade para produzir dois diferentes produtos e exige decisão de qual deles irá produzir a mais ou a menos. Para Vasconcellos e Garcia (2002, p. 22), todas as sociedades, qualquer que seja seu tipo de organização econômica ou regi- me político, são obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que os recursos não são abundantes. Elas são obrigadas a fazer escolhas sobre O QUE E QUANTO, COMO e PARA QUEM produzir. O que e quanto produzir? A sociedade é responsável por decidir se produz mais bens de consumo ou bens de capital, como, por exemplo, se quer produzir mais armas de fogo ou mais man- teiga? Em que quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a produçãode mais bens de consu- mo ou bens de capital? Dada a escassez de recur- sos de produção, a sociedade escolherá, dentro das possibilidades de produção, quais produtos serão produzidos e as respectivas quantidades a serem fabricadas. Como produzir? Essa questão é relacionada à eficiência produtiva. Serão utilizados métodos de produção de capital intensivos? Ou mão de obra 1.5 O Problema Econômico AtençãoAtenção A Economia é a ciência da escassez ou das escolhas. Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 13 intensiva? A sociedade escolherá quais recursos de produção serão utilizados para a produção de bens e serviços, considerando o nível tecnológico exis- tente. Isso depende da disponibilidade de recursos de cada país. Geralmente, a concorrência entre os diferentes produtores decide como vão ser produ- zidos os bens e serviços, considerando os métodos mais eficientes e que tiverem o menor custo de produção possível. Para quem produzir? A sociedade deve deci- dir quais os setores que participarão da distribuição dos resultados de sua produção: trabalhadores, ca- pitalistas ou proprietários de terra? Agricultura ou indústria? Mercado interno ou mercado externo? Re- gião Norte ou Sul? É a distribuição da renda gerada pela atividade econômica. Por que são problemas? Porque decorrem de um problema fundamental, que é a escassez de re- cursos. Como esses problemas são resolvidos? Isso depende de como a sociedade está organizada po- liticamente Existem duas formas principais de organiza- ção econômica: 1. economia de mercado (ou descentrali- zada, tipo capitalista); 2. economia planificada (ou centralizada, tipo socialista). Segundo Vasconcellos e Garcia (2003, p. 2), um sistema econômico pode ser definido como a forma política, social e econômica pela qual está organizada uma sociedade. É um particular sistema de organização da pro- dução, distribuição e consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de vida e bem-estar. As economias de mercado podem ser anali- sadas por dois sistemas: sistema de concorrência pura (sem a interferência do governo): perfeitamente competitivo, predomina o laissez-faire: milhares de produtores e milhões de consumidores têm condições de resolver os problemas econômicos fundamentais (o que e quanto, como e para quem pro- duzir), guiados por uma “mão invisível”, mediante o mecanismo de preços que promove o equilíbrio nos vários merca- dos. • Se houver excesso de oferta (ou escassez de demanda), as em- presas formarão estoques e se- rão obrigadas a diminuir seus preços para vender a produção, até que se atinja um preço satis- fatório para os estoques; • Se houver excesso de demanda (ou escassez de oferta), existirá concorrência entre os consu- midores pelos escassos bens disponíveis. O preço tende a aumentar, até que se atinja um nível de equilíbrio em que não mais existirão consumidores em espera; sistema de mercado misto: atuação do governo para eliminar as distorções alo- cativas e distributivas de recursos e pro- mover a melhoria do padrão de vida de coletividade, das seguintes formas: • atuação sobre a formação de preços via impostos, subsídios, tabelamentos, fixação de salá- rio-mínimo, preços mínimos, taxa de câmbio; • compra de bens e serviços do setor privado; 1.6 Sistemas Econômicos Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 14 • fornecimento de bens públicos que não são vendidos no merca- do: educação, justiça, segurança. É aquele bem que não apresenta rivalidade em seu consumo; • fornecimento de serviços pú- blicos: iluminação, água, sanea- mento básico, transporte etc.; • investimento em infraestrutura básica (energia, estradas etc.), o qual a iniciativa privada não tem recursos financeiros de assumir. No funcionamento de uma economia centra- lizada ou planificada, a propriedade dos recursos é do Estado. Os meios de produção incluem máqui- nas, edifícios, residências, terra, matérias-primas. Os meios de sobrevivência pertencem aos indiví- duos (roupas, carros, televisores etc.). A forma de resolver os problemas econômicos fundamentais é decidida por uma agência ou órgão central de pla- nejamento e não pelo mercado (VASCONCELLOS; GARCIA, 2002). Os agentes econômicos No funcionamento do sistema econômico de uma economia de mercado que não tenha inter- ferência do governo e não tenha transações com o exterior (economia fechada), os agentes econô- micos são as famílias (unidades familiares) e as em- presas (unidades produtoras). As famílias são as proprietárias dos fatores de produção e os fornecem às unidades de produção (empresas), por meio do mercado dos fatores de produção. Consequentemente, as empresas, atra- vés da combinação dos fatores de produção, pro- duzem bens e serviços e os fornecem às famílias por meio do mercado de bens e serviços. Observe caro(a) aluno(a) as figuras a seguir: Esse fluxo é denominado de Fluxo Real da Economia, conforme apresentado na Figura 2.: DicionárioDicionário Agente Econômico: indivíduos, grupos de in- divíduos ou organismos que constituem, do ponto de vista dos movimentos econômicos, os centros de decisão e de ações fundamentais. Fonte: http://www.economiabr.net/dicionario. Figura 2 – Fluxo real da economia. Fonte: Vasconcellos e Garcia (2003). Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 15 No mercado de bens e serviços, as famílias demandam bens e serviços, enquanto as empresas os ofertam; no mercado de fatores de produção, as famílias ofertam os serviços dos fatores de produ- ção, que são de sua propriedade, enquanto as em- presas os demandam. Cabe ressaltar que o fluxo real da Economia só é possível com a moeda, que é utilizada para remunerar os fatores de produção e para o paga- mento dos bens e serviços. Assim, paralelo ao fluxo real, temos um fluxo monetário da Economia (Figura 3). Figura 3 – Fluxo monetário da economia. Fonte: Vasconcellos e Garcia (2003). Finalmente, o fluxo circular de renda é a união dos fluxos real e monetário da Economia (Figura 4). Figura 4 – Fluxo circular de renda. Fonte: Vasconcellos e Garcia (2003). Fluxo monetário Fluxo real (bens e serviços) As forças de oferta e da demanda atuam em cada um dos mercados para determinar o preço. Por- tanto, no mercado de bens e serviços, formam-se os preços de bens e serviços; no mercado de fatores de produção, formam-se os preços dos fatores de produção: salários, juros, aluguéis, lucros, royalties etc. (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 16 Os recursos econômicos, que constituem a base de qualquer economia, são os meios utiliza- dos pela sociedade para a produção de bens e ser- viços que irão satisfazer as necessidades humanas. São as três características dos recursos eco- nômicos: a) escassos em sua quantidade (ou seja, limitados), representados por uma situ- ação na qual os recursos podem ser uti- lizados na produção de diferentes bens e serviços; a) versáteis, pois podem ser aproveitados em diversos usos; a) podem ser combinados em propor- ções variáveis na produção de bens e serviços. Quanto à classificação, os recursos podem ser agrupados em: a) recursos naturais: todos os bens eco- nômicos na produção e que são obtidos diretamente da natureza; a) recursos humanos: toda atividade hu- mana (esforço físico e/ou mental) utiliza- da na produção de bens e serviços; a) capital: todos os bens materiais produ- zidos pelo homem e que são utilizados na produção. O fator capital inclui o con- junto de riquezasacumuladas por uma sociedade e é com essas riquezas que um país desenvolve suas atividades de produção. Entre os principais grupos de riquezas acumuladas por uma socieda- de, estão os seguintes: • infraestrutura econômica: trans- portes; telecomunicações; energia; • infraestrutura social: sistemas de água e saneamento, educação, cul- tura, segurança, saúde, lazer e es- portes; • construções e edificações de modo geral, sejam públicas ou privadas; • equipamentos de transporte: ca- minhões, ônibus, utilitários, locomo- tivas, vagões, embarcações, aerona- ves; • máquinas e equipamentos: são utilizados nas atividades de extra- ção, transformação, prestação de serviços, na indústria de construção e nas atividades agrícolas; • matérias-primas ou insumos: energia elétrica, óleo diesel, gás, corantes, matérias químicas para a indústria; ou sementes, fertilizantes, inseticidas, herbicidas, fungicidas, vacinas, rações e combustíveis na agricultura, entre outros. Caro(a) aluno(a), informa-nos Mendes (2005, p. 5) que alguns autores consideram também como mais um tipo de recurso o empreendedo- rismo, que é o esforço utilizado para co- ordenar a produção, distribuição e venda de bens e serviços, ou seja, para organizar os recursos naturais, humanos e o capital. Um empreendedor toma decisões de ne- gócios, assume os riscos oriundos dessas decisões, compromete tempo e dinheiro com um negócio sem nenhuma garantia de lucro. Curva de possibilidades de produção Você sabia que levando em consideração que, em cada dia útil de trabalho, cerca de 80 mi- 1.6 Recursos ou Fatores (Meios) de Produção Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 17 lhões de pessoas produzem uma variedade de bens e serviços avaliada em, aproximadamente, R$ 4 bilhões? A quantidade de bens e serviços que pode ser produzida é limitada por nossos recursos dis- poníveis e pela tecnologia que dominamos. De acordo com Mendes (2005, p. 8), na escolha dos bens e serviços que devem ser produzidos, a primeira providência é determinar quais combinações de bens e serviços são possíveis, levando em consi- deração duas restrições: (a) que a quanti- dade de recursos produtivos é determina- da (limitada); (b) que o nível de tecnologia disponível também é determinado, ou seja, naquele momento, não é possível fa- zer uma mudança tecnológica. Esse limite é descrito pela curva ou fronteira de possi- bilidade de produção. Caro(a) aluno(a), a seguir, ilustra-se, na Tabe- la 1, a curva de possibilidade de produção de dois produtos num determinado momento, conside- rando, assim, que a quantidade produzida de todos os demais bens e serviços é mantida constante; ad- mitindo dois produtos que a maioria dos estudan- tes adquire: guaraná e CDs (MENDES, 2005). Tabela 1 – Seis pontos hipotéticos sobre a fronteira de possibilidades de produção. Fonte: Mendes (2005, p. 7). Figura 5 – A curva de possibilidades de produção. POSSIBILIDADES PRODUÇÃO DE GUARANÁ (milhões de litros/mês) PRODUÇÃO DE CDs (milhões de unidades/mês) A B C D E F 30 28 24 18 10 0 0 1 2 3 4 5 Produção eficiente Uma economia que produz num ponto den- tro da curva de possibilidade de produção está operando de modo ineficiente, no sentido de que poderia gerar mais de ambos os produtos. A eficiência de produção é alcançada se não pudermos produzir mais de um produto sem pro- duzir menos de algum outro bem. Uma economia poderia estar produzindo abaixo da curva de possi- bilidade de produção por uma das duas seguintes razões: Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 18 a) os recursos não estão sendo emprega- dos plenamente; b) os recursos estão sendo utilizados de maneira ineficiente. Mudança na curva de possibilidade de produção Considerando a necessidade de crescimento econômico de um país como o Brasil em virtude do crescimento populacional elevado (cerca de 1,3% ano) e admitindo-se que a produção já seja eficien- te, como seria possível produzir mais de ambos os produtos? Como é possível deslocar para a direita a curva de possibilidade de produção? De acordo com a curva de possibilidade de produção, a opção de produção disponível com um dado conjunto de recursos produtivos deve deslocar a curva de possibilidade de produção para a direita (crescimento econômico). Se uma economia utilizar mais recursos naturais, humanos, capital e habilidades empreendedoras, ela poderá, como um todo, produzir mais de cada um dos bens e serviços. Esse mesmo resultado pode ser alcan- çado se novas tecnologias forem desenvolvidas, de tal modo que a produtividade dos fatores aumen- te. O formato de curva é explicado pelo conceito de custo de oportunidade, que é um dos princípios fundamentais para a análise econômica. Por prin- cípio, entende-se uma simples, mas evidente, ver- dade que a maioria das pessoas entende e aceita (MENDES, 2005). Figura 6 – Crescimento econômico. Saiba maisSaiba mais Saiba maisSaiba mais Análise econômica é a aplicação à rea- lidade econômica do método científico de decomposição em elementos mais facilmente compreensíveis que o todo, visando a inseri-los em um esquema ex- plicativo. Incorpora a noção de que sempre enfren- tamos a situação de escolher entre duas ou mais opções e de que temos que optar por uma coisa (um produto, por exemplo) em detrimento de ou- tra, visto que os recursos são limitados e podem ser utilizados em diferentes alternativas. 1.7 O Princípio do Custo de Oportunidade Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 19 A palavra ‘riqueza’ lembra uma grande quan- tidade de bens econômicos ou dinheiro. Em Eco- nomia, qualquer bem útil, acessível e limitado re- cebe o nome de riqueza. Utilidade é a qualidade que possuem os bens econômicos de satisfazer as necessidades huma- nas. O bem, porém, só é útil quando desejado pelo homem. Utilidade, portanto, é um conceito mais subjetivo que objetivo. O grau de utilidade de um bem depende da necessidade de cada indivíduo. Um bem pode ser útil para alguém e não o ser para outra pessoa. Valor é a medida da utilidade econômica. Existem dois tipos: valor de uso: é a utilidade que um bem tem para nós pessoalmente. É conheci- do também como valor de estima; valor de troca: é o valor que um bem tem no sentido de poder ser trocado por outro. É o valor de mercado do bem. Desse modo, um bem pode ser de grande valor de uso e de nenhum valor de troca, como um álbum de fotos de família, por exemplo. O valor das coisas é determinado por um conjunto de fatores; o trabalho e a utilidade são apenas dois dos fatores constitutivos desse valor. Além desses, existem outros elementos sociais, políticos, psicológicos, estéticos etc. 1.8 Riqueza, Utilidade e Valor Os produtos devem ser classificados segun- do sua natureza e seu destino. Segundo a nature- za, os produtos gerados no processo produtivo se classificam em bens (B) e serviços (S). Os bens são produtos tangíveis oriundos das atividades dos setores primário, secundário e ter- ciário de produção. Já os serviços são os produtos intangíveis, resultantes das atividades terciárias de produção. Segundo o destino, os produtos podem ser classificados em: bens e serviços de consumo du- ráveis ou de uso imediato; bens e serviços interme- diários (matérias-primas ou insumos para serem transformados em bens de consumo); bens e ser- viços de produção (bens de capital). 1.9 Bens e Serviços 1.10 Setores Econômicos Mendes (2005, p. 11) afirma que “de acordo com a intensidade de uso dos recursos, são classi- ficadas as atividades de produção”, os chamados setores da Economia, a seguir:a) setor primário: agricultura, pecuária, ex- tração vegetal; b) setor secundário: indústria extrativa mineral, indústria de transformação, in- dústria da construção; c) setor terciário: comércio, comunicações, intermediação financeira, imobiliárias, hospedagem e alimentação, reparação e manutenção, serviços pessoais, outros Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 20 serviços, como assistência à saúde, edu- cação, cultura, lazer, culto religioso e gov- ernos federal, estaduais e municipais. Mendes (2005) esclarece que, de modo geral, o setor primário utiliza mais intensivamente o fator terra; o setor secundário ou setor industrial utiliza o fator capital; e o setor terciário, o fator trabalho. AtençãoAtenção O problema fundamental de qualquer economia reside na seguinte questão: diante das necessidades humanas, que são variadas e insaciáveis, e os recursos, que são limitados e versáteis, como com- biná-los para satisfazer ao máximo as ne- cessidades da sociedade? A bifurcação da ciência econômica nesses dois grandes ramos, isto é, a macroeconomia e a microeconomia, data dos primórdios da década de 1930. Ambas giram em torno do problema da limitação e do caráter finito dos recursos produti- vos em face das necessidades vitais e da civilização, infinitas e ilimitadas, subjacentes ao ser humano, problemática essa que embasa e justifica a razão da existência da Economia como ciência. a) Microeconomia ou teoria de for- mação de preços: estuda os problemas econômicos do indivíduo, da família e da empresa; b) Macroeconomia: se envolve com os grandes problemas, em seus setores, no aspecto global ou seus agregados. 1.11 Divisão da Economia a) Indutivo: partimos da análise, ob- servação e pesquisa de fatos individuais para obtermos uma conclusão, um ensi- namento, uma lei ou verdade universal; b) Dedutivo: obtemos de leis e verdades universais experiências, ensinamentos, verdades ou leis de caráter particular, contidas naqueles princípios; c) Psicológico: buscamos, na psicologia, a explicação sobre determinadas formas de comportamento da população. Exem- plo: boatos (força dos comentários). 1.12 Método Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 21 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo você estudou os conceitos fundamentais de Economia e foi levado(a) à reflexão sobre as questões econômicas cotidianas, tomando como base do objeto da ciência econômica: escolha, escassez, necessidades, recursos, produção e distribuição. Desde os primeiros estudos, a Economia trata do bem-estar do homem, tendo como elementos- -chave da atividade econômica os recursos produtivos e as técnicas de produção que transformam os recursos em bens e serviços para atender às necessidades humanas. Aprendeu que tudo que é raro em relação às necessidades individuais ou coletivas deve ser econo- mizado. Portanto, tudo que é raro é um bem econômico Também pôde compreender a economia como uma Ciência Social que se relaciona com o com- portamento e as necessidades humanas, agrupadas em: fisiológicas, segurança, sociais, estima e autor- realização, sendo que o problema econômico fundamental está centralizado nos recursos limitados para atender às necessidades humanas ilimitadas. Assim, a Economia é a ciência da escassez ou das escolhas. As sociedades são obrigadas a fazer as escolhas sobre o que e quanto, como e para quem produzir, e cabe aos sistemas econômicos organizar a produção, distribuição e consumo de todos os bens e servi- ços que as pessoas utilizam em busca do melhor padrão de vida e bem-estar. Viu ainda relacionados os agentes econômicos que participam do Fluxo Real da Economia, que em paralelo impulsionam o Fluxo Monetário, resultando no Fluxo Real Monetário da Economia Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. 1.13 Resumo do Capítulo 1. Por que os problemas econômicos fundamentais (o que, como e para quem produzir) são originados da escassez de recursos produtivos? 2. Os problemas econômicos fundamentais (o que, como e para quem produzir) existem: a) Somente nas sociedades de economia centralizada do tipo socialista. b) Somente nas sociedades de “livre empresa” ou capitalista, nas quais o mercado é o único responsável para responder ao problema. c) Em todas as sociedades, não importando seu grau de desenvolvimento ou sua forma de organização política. d) Somente nas sociedades subdesenvolvidas. 1.14 Atividades Propostas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 23 Neste capítulo da disciplina de Economia, você conhecerá a história da origem da Ciência Econômica. Como podemos precisar, quando e onde essa importante ciência, que é a Economia, teve seu início? Faremos um rápido resgate da origem do interesse pela Economia e os problemas dela de- correntes que sempre despertaram a atenção dos povos; mas o estudo sistemático da Economia é relativamente recente. Certamente, em todas as épocas da história universal, as pequenas comu- nidades e as grandes nações procuraram resolver eficientemente seus problemas de natureza eco- nômica. Mas, só a partir do século XVIII é que a Eco- nomia despontou como ciência. No século XIX, seu progresso foi extraordinário e, nas últimas décadas do século XX, seu estudo ganhou novo e inespera- do impulso (ROSSETTI, 1995). Inicialmente, pode-se assinalar que esse cres- cente interesse tem muito a ver com a eclosão das Grandes Guerras de 1914-1918 e de 1939-1945 e com a crise econômica que abalou o mundo oci- dental na década de 1930. Muitos instrumentos de análise econômica foram desenvolvidos durante as guerras, com o objetivo de se conhecer em pro- fundidade a estrutura dos sistemas nacionais de produção, como apoio de retaguarda aos esforços da guerra. Depois, nos intervalos das guerras, as na- ções ocidentais, abaladas pela Grande Depressão, se voltaram para o estudo dos elementos determi- nantes do equilíbrio econômico, interessadas no restabelecimento da normalidade e na rápida rea- bsorção das massas desempregadas. Keynes (1936), intitulado como notável eco- nomista inglês, a quem pode ser atribuída a formu- lação teórica da moderna análise macroeconômica, registrou que o mundo estava excepcionalmente ansioso por um diagnóstico mais bem fundamen- tado, pronto a aceitá-lo e desejoso de experimentá- -lo. Assim, praticamente durante toda a primeira metade do século a Grande Depressão e as Gran- des Guerras aproximariam as reflexões teóricas dos economistas às soluções práticas dos estadistas. A Grande Depressão abalou todo o sistema econômi- co do Ocidente. Nos anos de 1929-1933, o desem- prego se alastrara de forma incontrolável e, durante as Grandes Guerras, o esforço de mobilização tec- nológica e industrial veio demonstrar a correlação definitiva entre o poder militar e o poder econô- mico. A depressão dos anos 1930 reduziu drastica- mente o Produto Nacional (PN) das economias atin- gidas, reduzindo-o pela metade: os Estados Unidos, que produziam mais de 115 bilhões de dólares em 1929, atingiram apenas 55 bilhões em 1933, épo- ca que cerca de ¼ de sua força de trabalho ficou desempregada. De outro lado, as Grandes Guerras também viriam comprometer a atividade econô- mica normal. Em 1945, no auge do esforço militar, cerca de 55% da capacidade industrial do mundo estava destinada à produção de armamentos. 2 eVoLUção Do pensAMento eConÔMICo Saiba maisSaiba mais Saiba maisSaiba mais Depressão de 1930: fase do Ciclo Eco- nômico, característica das economias capitalistas, marcada pela diminuição da produção, uma tendência à baixa dos preços e ao aumento do desemprego. Fonte: http://www.economiabr.net/dicionario. Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 24 Mas, além dessas causas do crescente inte-resse pela Economia, há uma terceira causa de alta significação, que se fez notar, sobretudo, no pós- -guerra. Trata-se da preocupação básica do século XX em torno da ideia do desenvolvimento econô- mico. De fato, tão logo terminou a Segunda Gran- de Guerra, o mundo todo se viu às voltas com um fenômeno de dimensões inesperadas – o grande despertar dos povos subdesenvolvidos. Esse des- pertar, motivado pela facilitação das comunicações internacionais, evidenciou os contrastes do atraso e da afluência, transformando-se numa das mais notáveis características dos últimos anos da déca- da de 1940 e, sobretudo, até os anos 1970. A perse- guição obstinada do desenvolvimento econômico, por mais de 2/3 da população da Terra, passaria a ser fundamental da economia do pós-guerra. Caro(a) aluno(a), Rossetti (1995, p. 73) infor- ma-nos a esse respeito que no final do século XX, os habitantes do mundo subdesenvolvido empenharam-se numa mobilização sem precedentes, com vistas a um gigantesco alvo: a construção de uma nova sociedade e de uma nova economia, para possibilitar a universaliza- ção das condições do bem-estar, através da aceleração de seu progresso material. Para Vasconcellos e Garcia (2003, p. 14), “en- contramos na evolução do pensamento econômi- co o consenso de que a Teoria Econômica, de for- ma sistematizada, iniciou-se quando foi publicada a obra de Adam Smith A riqueza das nações, em 1776.” Na Antiguidade, encontramos, na Grécia, as primeiras referências conhecidas de Economia no trabalho de Aristóteles (384-322 a.C.), em seus es- tudos sobre aspectos de administração privada e finanças públicas. Também são encontradas algu- mas considerações de ordem econômica nos escri- tos de Platão (427-347 a.C.) e Xenofonte (440-335 a.C.). 2.1 Antiguidade Foi a partir do século XVI que observamos o nascimento dessa primeira escola econômica: o mercantilismo. Mesmo sem representar um con- junto técnico homogêneo, são explícitas as preo- cupações sobre a acumulação de riquezas de uma nação. São presentes alguns princípios de como fomentar o comércio exterior e entesourar rique- zas, bem como o acúmulo de metais adquire uma grande importância, de acordo com os relatos so- bre a moeda. O mercantilismo considerava que o governo de um país seria mais forte e poderoso quanto maior fosse seu estoque de metais precio- sos, estimulou guerras e praticou o nacionalismo, que manteve a poderosa e constante presença do Estado em assuntos econômicos. 2.2 Mercantilismo Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 25 Uma escola de pensamento francesa, a fi- siocracia, do século XVIII, elaborou trabalhos im- portantes que sustentavam que a terra era a única fonte de riqueza e que havia uma ordem natural que fazia com que o universo fosse regido por leis naturais, absolutas, imutáveis e universais, deseja- das pela Providência Divina para a felicidade dos homens. O trabalho de maior destaque foi o do Dr. Fraçois Quesnay, autor da obra Tableau écono- mique, o primeiro a dividir a Economia em setores, mostrando a inter-relação deles. Wassily Leontief (1940), economista russo, naturalizado norte-ame- ricano, da Universidade de Harvard, aperfeiçoando o trabalho de Quesnay, o transformou no sistema de circulação monetária input-output. A fisiocracia surgiu como reação ao mercan- tilismo, pois considerava desnecessária a regula- mentação governamental, considerando a lei da natureza suprema e que tudo o que fosse contra ela seria derrotado, sendo que a função do sobe- rano era servir de intermediário para que as leis da natureza fossem cumpridas. A riqueza consistia em bens produzidos com o auxílio da natureza (fisiocracia significa “regras da natureza”), em atividades econômicas como a lavoura, a pesca e a mineração. Portanto, estimula- va-se a agricultura e exigia-se que as pessoas em- penhadas no comércio e nas finanças fossem re- duzidas ao menor número possível. Em um mundo constantemente ameaçado pela falta de alimentos, com excesso de regulamentação e intervenção go- vernamental, a situação não se ajustava às neces- sidades da expansão econômica. Só a terra tinha capacidade de multiplicar a riqueza. 2.3 Fisiocracia Adam Smith (1723-1790) Em sua visão harmônica do mundo real, acre- ditava que, se deixasse atuar a livre concorrência, uma “mão invisível” levaria a sociedade à perfeição. Afirmou que todos os agentes, em sua busca de lu- crar o máximo, acabam promovendo o bem-estar de toda a comunidade e que a defesa do mercado, como regulador das decisões econômicas de uma nação, traria muitos benefícios para a coletividade, independentemente da ação do Estado. É o princí- pio do liberalismo. Considerado o pre- cursor da moderna teo- ria econômica, colocada como um conjunto cien- tífico sistematizado, com um corpo teórico próprio, já era um renomado pro- fessor quando publicou sua obra A riqueza das na- ções, em 1976. O livro é um tratado muito abran- gente sobre questões econômicas, que vão desde as leis de mercado e aspectos monetários até a dis- tribuição do rendimento da terra (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Para ele, a causa da riqueza das nações é o trabalho humano, a qual denominava teoria do va- lor-trabalho, que tem, como fator preponderante para aumentar a produção, a divisão do trabalho, ou seja, os trabalhadores deveriam se especializar em algumas tarefas. Atri- bui-se à aplicação desse princípio o aumento da destreza pessoal, economia de tempo e condições para o aperfeiçoamento e o in- vento de novas máquinas e técnicas (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). 2.4 Os Clássicos DicionárioDicionário Liberalismo: doutrina que afirma que o melhor sistema econômico é o que garante o livre jogo das iniciativas individuais dos agentes econô- micos. Fonte: http://www.economiabr.net/dicionario. Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 26 David Ricardo (1772-1823) Pode ser considerado outro expoente do pe- ríodo clássico, tendo desenvolvido alguns modelos econômicos com grande potencial analítico. Apri- mora a tese de que todos os custos se reduzem a custos do trabalho e mostra como a acumulação do capital, acompanhada de aumentos populacio- nais, provoca uma elevação da renda da terra, até que os rendimentos decrescentes diminuam de tal forma os lucros que a poupança se torne nula, atin- gindo-se uma economia estacionária, com salários de subsistência e sem nenhum crescimento. Sua análise de distribuição do rendimento da terra foi um trabalho seminal de muitas ideias do chamado período neoclássico. Discute a renda auferida pelos proprietários de terras mais férteis. Em virtude de a terra ser limi- tada, quando a terra de menor qualidade é utiliza- da no cultivo, surge imediatamente a renda sobre aquela de primeira qualidade, ou seja, a renda da terra é determinada pela produtividade das terras mais pobres. Analisou, ainda, por que as nações co- merciavam entre si, se é melhor para elas comer- ciarem e quais produtos devem ser comerciados. A sua resposta constitui um importante item da teo- ria do comércio internacional, chamada de teoria das vantagens comparativas. O comércio entre países dependeria das dotações relativas de fato- res de produção. A maioria dos estudiosos considera que os estudos de Ricardo deram origem a duas correntes antagônicas: a neoclássica, por suas abstrações simplificadoras, e a marxista, pela ênfase dada à questão distributiva e aos aspectos sociais na re- partição da renda da terra. John Stuart Mill (1806-1873) Seu trabalho foi o principal texto utiliza- do para o ensino de Economia no fim do período clássico e no início do período neoclássico. Sua obra consolidou o exposto por seus antecessores e avançou, por incorporar maiselementos institu- cionais, definindo melhor as restrições, vantagens e funcionamento de uma economia de mercado. Jean Baptiste Say (1768-1834) Retomou a obra de Adam Smith, ampliando- -a. Subordinou o problema das trocas de mercado- rias à sua produção e popularizou a chama Lei de Say: “a oferta cria sua própria procura”, ou seja, o aumento da produção transformar-se-ia em renda dos trabalhadores e empresários, que seria gasta na compra de outras mercadorias e serviços. Thomas Malthus (1766-1834) Seu trabalho sistematizou uma teoria geral sobre a população, ao assinalar que o crescimento da população dependia rigidamente da oferta de alimentos, apoiando a teoria dos salários de sub- sistência. Para esse economista, o potencial da popu- lação excederia em muito o potencial da terra na produção de alimentos. Entretanto, Malthus não previu o ritmo e o impacto do progresso tecnoló- gico, nem as técnicas de limitação da fertilidade humana que se seguiram. AtençãoAtenção Para Thomas Malthus, a causa de todos os males da sociedade residia no exces- so populacional: enquanto a população crescia em Progressão Geométrica (PG), a produção de alimentos seguia uma Pro- gressão Aritmética (PA). População: PG = 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128, 256... Produção: PA = 1, 2, 4, 6, 8, 10, 12, 14, 16... Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 27 Trata-se do período que teve início na déca- da de 1870 e desenvolveu-se até as primeiras déca- das do século XX. Destacam-se os aspectos microeconômicos da teoria, pois a crença na economia de mercado e em sua capacidade autorreguladora fez com que não se preocupassem tanto com a política e o pla- nejamento macroeconômico. Os neoclássicos sedimentaram o raciocínio matemático explícito inaugurado por David Ricar- do, procurando isolar os fatos econômicos de ou- tros aspectos da realidade social (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Alfred Marshall (1842-1924) Autor do livro Princípios de economia, publi- cado em 1890, que serviu como livro-texto básico até a metade deste século. Nesse período, outros economistas se destacaram, como, por exemplo: William Jevons, Léon Walras, Eugene Böhm-Ba- werk, Joseph Alois Schumpeter, Vilfredo Pareto, Ar- thur Pigou e Francis Edgeworth. Esse período marca a formalização da análise econômica, com destaque para a microeconomia. O comportamento do consumidor é analisado em profundidade; o desejo do consumidor de maxi- mizar sua utilidade (satisfação no consumo) e o do produtor de maximizar seu lucro são a base para a elaboração de um sofisticado aparato teórico. Por meio do estudo de funções ou curvas de utilidade (que pretendem medir o grau de satisfação do con- sumidor) e de produção, considerando restrições de fatores e restrições orçamentárias, é possível deduzir o equilíbrio de mercado. Como o resultado depende, basicamente, dos conceitos marginais (receita marginal, custo marginal etc.), é também chamada teoria marginalista. Segundo Vasconcellos e Garcia (2003, p. 18) “a análise marginalista é muito rica e variada”. Apesar de questões microeconômicas ocuparem o centro das atenções, houve uma produção rica em outros aspectos da teoria econômica, como a teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter e a teoria do capital e dos juros de Böhm-Bawerk. Ain- da segundo o mesmo autor, deve-se destacar, tam- bém, a análise monetária, com a criação da teoria quantitativa da moeda, que relaciona a quantidade de dinheiro com os níveis gerais de atividade eco- nômica e de preços. 2.5 Teoria Neoclássica Iniciou-se com a publicação da teoria geral do emprego, dos juros e da moeda, de John May- nard Keynes (1936). Para entender o impacto da obra de Keynes, é preciso considerar a economia mundial da década de 1930, em crise, que ficou conhecida como a Grande Depressão, conforme já descrito anteriormente. A realidade dos fatos rela- cionados à situação conjuntural da economia dos principais países capitalistas era crítica, relacionada com o número de desempregados. A teoria econômica vigente acreditava que se tratava de um problema temporário. Já a teoria geral consegue mostrar que a combinação das po- líticas econômicas adotadas até então não funcio- nava adequadamente e aponta para soluções que poderiam tirar o mundo da recessão. Seus argumentos influenciaram muito a po- lítica econômica dos países capitalistas. De modo geral, essas políticas revelaram-se eficientes e apre- sentaram resultados positivos no período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial. 2.6 A Era Keynesiana Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 28 Seguiu-se um desenvolvimento expressivo da teoria econômica. Por um lado, incorporaram-se os modelos por meio do instrumental estatístico e matemático, que contribuiu para formalizar ainda mais a ciência econômica. Por outro, alguns econo- mistas trabalharam na agenda de pesquisa aberta pela obra de Keynes. Destacaram-se três grupos de economistas no debate sobre os aspectos do trabalho de Key- nes, que dura até hoje: os monetaristas, os fiscalis- tas e os pós-keynesianos. É possível fazer algumas generalizações, embora não exista entre os grupos um pensamento homogêneo. Os monetaristas estão associados à Universi- dade de Chicago e têm como economista de maior destaque Milton Friedman. De maneira geral, pri- vilegiam o controle da moeda e um baixo grau de intervenção do Estado. Os fiscalistas têm seus maiores expoentes em James Tobin, da Universidade de Yale, e Paul An- thony Samuelson, de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Estes recomendam o uso de políticas fiscais ativas e um acentuado grau de intervenção do Estado. Os pós-keynesianos realizaram uma releitura da obra de Keynes, visando a mostrar que ele não negligenciou o papel da moeda e da política mo- netária. Enfatizam o papel da especulação finan- ceira e, como Keynes, defendem um papel ativo do Estado na condução da atividade econômica. Além da economista Joan Robinson, outros economistas desta corrente são Hyman Minsky, Paul Davison e Alessandro Vercelli. É necessário ressaltar que, apesar das dife- renças entre as várias correntes, há consenso nos pontos fundamentais da teoria, já que são basea- dos no trabalho de Keynes. A partir dos anos 1970, a teoria econômica veio apresentando algumas transformações, após as duas crises do petróleo. Três características mar- cam esse período: uma consciência maior das li- mitações e possibilidades de aplicações da teoria; avanço no conteúdo empírico da economia; e o desenvolvimento da informática, que permitiu um processamento de informações em volume e pre- cisão sem precedentes. É possível que a análise econômica englobe quase todos os aspectos da vida humana, sendo que o impacto desses estudos na melhoria do pa- drão de vida e do bem-estar de nossa sociedade é considerável. O controle e o planejamento macroe- conômico nos permitem antecipar muitos proble- mas e evitar algumas flutuações desnecessárias. Consequentemente, a teoria econômica ca- minha em muitas direções, a exemplo da área de finanças empresariais, que era basicamente descri- tiva, com um baixo conteúdo empírico. A incorpo- ração de algumas técnicas, econometrias, concei- tos de equilíbrio de mercados e hipóteses sobre o comportamento dos agentes econômicos revolu- cionou a teoria de finanças e essa revolução se fez sentir também nos mercados financeiros, com a explosão recente dos chamados mercados futuros e de derivativos. 2.7 O Período Recente Economia Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 29 Caro(a) aluno(a), Neste capítulo você estudou sobre a origem do interesse na Economia e o seu surgimento como Ciência. A Teoria Econômica iniciou-se, de forma sistematizada,pela obra de Adam Smith A riqueza das na- ções, em 1776. Aprendeu sobre os precursores da teoria econômica por meio de uma breve retrospectiva da histó- ria, desde a Antiguidade até o período recente. Viu ainda a evolução do pensamento econômico, segundo os Clássicos: Adam Smith, David Ricardo, John Stuart Mill, Jean Baptiste Say e Thomas Malthus. No período neoclássico sedimentou-se o raciocínio matemático iniciado por David Ricardo. Alfred Marshall foi o autor da obra intitulada Princípios de Economia, que formalizou a análise econômica, com destaque para a Microeconomia, a Teoria Marginalista e a criação da teoria quantitativa da moeda, que relaciona a quantidade de dinheiro com os níveis gerais de atividade econômica e de preços. A publicação da Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda, de Keynes, estabeleceu a necessidade da intervenção do Estado através de uma política de gastos públicos. No período recente a análise Macroeconômica permite antecipar os problemas econômicos por meio do controle e planejamento, sendo possível constatar novas direções, a exemplo da Teoria de Finanças. 2.8 Resumo do Capítulo 2.9 Atividades Propostas 1. Explique sucintamente em que consistia a riqueza para os mercantilistas e para os fisiocratas? 2. Após a leitura deste capítulo, você poderá responder quem foi o mais destacado dos economis- tas clássicos e explicar quais foram as suas principais ideias? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 31 3 A microeconomia é conhecida como o ramo da ciência econômica voltado ao estudo do com- portamento das unidades de consumo represen- tadas pelos indivíduos e/ou famílias (estas desde que caracterizadas por um orçamento único), ao estudo das empresas, suas respectivas produções e custos e ao estudo da produção e preços dos di- versos bens, serviços e fatores produtivos. Efetivamente, a microeconomia, ao estabele- cer princípios gerais, revela-se muito mais abstrata do que a macroeconomia, a qual se encontra volta- da ao exame de questões e de medidas peculiares a um dado lugar e instante do tempo. A microeconomia apresenta uma visão mi- croscópica dos fenômenos econômicos. A título comparativo, se fosse considerada uma floresta, a microeconomia estudaria as espécies vegetais que a compõem individualmente, ou seja, estudaria a composição dos itens da floresta; enquanto a ma- croeconomia preocupar-se-ia com o produto flo- resta como um todo. Além disso, a microeconomia está voltada à apreciação das unidades individuais da Economia. Outro modo de distinção entre microeconomia e macroeconomia repousa no aspecto dos preços. Como isso é concretizado? Na teoria do consumidor, a microeconomia enaltece a intenção dos indivíduos, em face das respectivas rendas, de se apropriarem de uma com- binação de quantidades de bens tal que lhes possi- bilite a maximização de suas satisfações. Em outras palavras, originam-se aí as procuras (individuais ou não), que se traduzirão em rendimentos para as fir- mas. Já na teoria da firma, tem-se a figura do indi- víduo-empresário, esforçando-se para combinar os fatores de produção, em vista de sua limitação orça- mentária, com a intenção de maximizar o nível de lucro de sua organização. Colocando de outra ma- neira, a partir da análise desses procedimentos, são obtidos os elementos necessários à derivação das ofertas individuais e de mercado. A combinação das quantidades de fatores de produção, bens e/ou serviços que os consumidores estariam dispostos a adquirir impõe a determina- ção de um denominador comum, que nada mais será do que o preço. A determinação desse preço é tarefa que se propõe a microeconomia, ao estudar a questão tanto no âmbito dos fatores de produção quanto no caso dos bens e/ou serviços. A microeconomia, ou teoria dos preços, anali- sa a formação de preços do mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos (VASCON- CELLOS; GARCIA, 2003). A microeconomia estuda as unidades (con- sumidores, firmas, trabalhadores, proprietários dos recursos etc.) componentes da Economia e o modo como suas decisões e ações são inter-relacionadas. Portanto, é de responsabilidade da microeconomia cuidar, individualmente, do comportamento dos consumidores e produtores, com vistas à compre- ensão do funcionamento geral do sistema econô- mico, ou seja, ela está ligada ao exame das ações dos agentes econômicos privados em suas ativida- des de produção e de consumo e, assim, procura in- vestigar as possibilidades de eficiência e equilíbrio do sistema econômico como um todo. A análise mi- croeconômica é também chamada teoria dos pre- ços, visto que, nas economias liberais, é o funcio- namento do livre mecanismo do sistema de preços que articula e coordena as ações dos produtores e consumidores (MENDES, 2005). MICroeConoMIA AtençãoAtenção A microeconomia é conhecida por teoria de preços. Irma Filomena Lobosco Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 32 A hipótese coeteris paribus O foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando-se o papel que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variá- veis interfiram muito pouco ou que não interfiram de maneira absoluta. Assim, torna-se possível o es- tudo de um determinado mercado selecionando- -se apenas as variáveis que influenciam os agentes econômicos – consumidores e produtores – nesse particular mercado, independentemente de outros fatores, que estão em outros mercados, poderem influenciá-los (VASCONCELLOS; GARCIA, 2003). Papel dos preços relativos Na análise microeconômica, os preços relati- vos, ou seja, os preços de um bem em relação aos demais, assumem destacada importância em rela- ção aos preços absolutos (isolados) das mercado- rias. Objetivos da empresa A grande questão na microeconomia, que é a origem das diferentes correntes de abordagem, reside na hipótese adotada quanto aos objetivos da empresa produtora de bens e serviços. Segundo Vasconcellos e Garcia (2003, p. 32), a análise tradicional supõe o Princípio da Racionalidade, segundo o qual o empresá- rio sempre busca a maximização do lucro total, otimizando a utilização dos recursos de que dispõe1. Essa corrente enfatiza con- ceitos como receita marginal, custo margi- nal e produtividade marginal em lugar de conceitos de média (receita média, custo médio e produtividade média), daí ser chamada de marginalista. Aplicações da análise microeconômica A análise microeconômica, ou teoria dos pre- ços, como parte da ciência econômica, preocupa-se em explicar como se determina os preços dos bens e serviços, bem como dos fatores de produção. O instrumental microeconômico procura responder, também, a questões aparentemente triviais; por exemplo: por que, quando o preço de um bem se eleva, a quantidade demandada desse bem deve cair, coeteris paribus. A microeconomia representa uma ferramen- ta útil para estabelecer políticas e estratégias, den- tro de um horizonte de planejamento, tanto nas empresas quanto na política econômica. Nas empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões: política de preços da empresa; previsões de demanda e de faturamento; previsões de custo de produção; decisões ótimas de produção (escolha da melhor alternativa de produção, isto é, da melhor combinação de fatores de produção); 3.1 Pressupostos Básicos da Análise Microeconômica DicionárioDicionário Coeteris paribus: do latim, tudo ou mais perma- nece constante. 1 O princípio da racionalidade (que supõe um homus economicus) é aplicado extensamente na teoria microeconômica tradicional. Por esse princípio, os empresários tentam sempre maximizar lucros condicionados pelos custos de