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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA CURSO DE ENGENHARIA INDUSTRIAL ELÉTRICA - ÊNFASE ELETROTÉCNICA RÔMULO FABRÍCIO CORNA WAGNER ELIAS TAIATELLA ANÁLISE DA MODERNIZAÇÃO DO ESQUEMA DE PROTEÇÃO DA UNIDADE GERADORA DOIS DA USINA HIDROELÉTRICA DE BARIRI: substituição de relés eletromecânicos por relés digitais multifunção TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2009 RÔMULO FABRÍCIO CORNA WAGNER ELIAS TAIATELLA ANÁLISE DA MODERNIZAÇÃO DO ESQUEMA DE PROTEÇÃO DA UNIDADE GERADORA DOIS DA USINA HIDROELÉTRICA DE BARIRI: substituição de relés eletromecânicos por relés digitais multifunção Trabalho de Projeto Final apresentado à disciplina de Projeto Final I, do curso de Engenharia Industrial Elétrica – ênfase em Eletrotécnica do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. MS Wanderley Szlichta Co-orientador: Eng. Fernando Bourges CURITIBA 2009 Este trabalho é dedicado àqueles que o tornaram possível, especialmente aos nossos pais e familiares. AGRADECIMENTOS A Deus, que tornou essa realização possível. Aos nossos pais, que foram nossos verdadeiros amigos e nos apoiaram em todas as fases de nossas vidas, nos provendo o mais valioso bem: A educação. Aos nossos familiares e amigos, por compreenderem nossa ausência em alguns momentos importantes durante a realização deste trabalho. Aos nossos amores, pela paciência e pelo carinho que nos foi demonstrado nos momentos de dificuldade. Aos nossos mestres pelo conhecimento transmitido ao longo do curso. Em especial as pessoas que acreditaram na importância do nosso trabalho. Prof. Wanderley Szlichta pela orientação e pela confiança depositada na equipe; Sr. Fernando Bourges, pelo apoio na elaboração da proposta e pelas idéias sugeridas para o desenvolvimento; Sr. Valdir Fernandes e Sr. Valderis Botura, pelas sugestões e pelo empréstimo de materiais de estudo, que muito agregaram no desenvolvimento do projeto; Sr. Paulo Teixeira Roque, por ter cedido o espaço que nos permitiu a realização deste trabalho. “A mente que se abre com uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original” Albert Einstein RESUMO TAIATELLA, Wagner Elias; CORNA, Rômulo Fabrício; Análise da Modernização do esquema de Proteção da Unidade Geradora Dois da Usina Hidroelétrica de Bariri: substituição de relés eletromecânicos por relés digitais. 2009. 114 f TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) – Engenharia Industrial Elétrica – ênfase em eletrotécnica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2009. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise da modernização do sistema de proteção de um gerador elétrico reunindo um conteúdo focado em um caso real com informações pertinentes a essa análise. Baseando-se na unidade geradora dois da usina hidroelétrica de Bariri, de propriedade da AES Tietê. Esta unidade era protegida por relés eletromecânicos desde a sua fundação em dezenove de novembro de mil novecentos e sessenta e cinco tendo sua modernização realizada no período entre dois mil e quatro e dois mil e cinco. Serão apresentadas comparações entre os esquemas de proteções digitais e eletromecânicos, análise de falhas e manutenções ocorridas antes e depois da modernização assim como a diferença na execução de ensaios para os dois tipos de relés. Palavras-chave: relé eletromecânico, relé digital, gerador, usina hidroelétrica, funções de proteção. ABSTRACT TAIATELLA, Wagner Elias; CORNA, Rômulo Fabrício; Analysis of the modernization of protection scheme of generator two of the hydroeletric plant Bariri: replacement os electromechanical relay for digital relay. 2009. 114 f TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) – Engenharia Industrial Elétrica – ênfase em eletrotécnica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2009. This study has as object to introduce an analysis of the modernization of the system of protection of an electric generator, incorporating a content focus on a real case with relevant information to this analysis. It was based on unit two of Bariri hydroelectric powerhouse, property of AES Tietê. This unit was protected by eletromechanic relay since its foundation on nineteenth of November, 1965. Its modernization was accomplished in the period between 2002 and 2005. It will be presented comparisons between digital protection and eletromechanics schemes, analysis of failures and maintenance occurred before and after of the modernization as well as the difference in the practice execution to the two relays types. Key words: eletromechanic relay, digital relay, generator, powerhouse, protection functions. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Relé eletromagnético com disco de indução............................................................22 Figura 2 - Relé eletromagnético com cilindro de indução........................................................24 Figura 3 - Relé eletromagnético de atração..............................................................................24 Figura 4 - Curvas da corrente e da força eletromagnética na armadura ...................................25 Figura 5 - Fluxo eletromagnético em um relé eletromecânico.................................................26 Figura 6 - Proteção diferencial básica ......................................................................................33 Figura 7 - Aterramento do neutro de baixa impedância ...........................................................35 Figura 8 - Tensão de fase durante uma falta à terra..................................................................36 Figura 9 - Conexão de sobretensão do neutro ..........................................................................37 Figura 10 - Curva de proteção para 100% do estator ...............................................................38 Figura 11 - Curva de sobrecorrente com tensão controlada .....................................................40 Figura 12 - Curva de sobrecorrente com restrição de tensão ...................................................41 Figura 13 - Distribuição do fluxo em um rotor com curto parcial do enrolamento .................48 Figura 14 - Proteção de falta a terra do campo com injeção de a.c. .........................................49 Figura 15 - Esquema de proteção eletromecânico da unidade .................................................51 Figura 16 - Esquema de proteção digital da unidade ...............................................................53 Figura 17 - Circuito equivalente proteção diferencial ..............................................................55 Figura 18 - Curva de operação de relé diferencial percentual..................................................57 Figura 19 - Curva de funcionamento proteção diferencial do relé digital................................57 Figura 20 - Atuação sobrecorrente dependente da tensão ........................................................61 Figura 21 - Circuito equivalente da proteção do rotor no relé eletromecânico .......................62 Figura 22 - Circuito equivalente da proteção do rotor no relé digital ......................................63Figura 23 - Lógica de funcionamento da proteção de energização inadvertida. .....................67 Figura 24 - Curvas de coordenação da função Volts/Hertz......................................................69 Figura 25- Comportamento do gerador com perda de excitação..............................................70 Figura 26 - Região de atuação do relé por perda de excitação.................................................71 Figura 27 - Operação por perda de excitação...........................................................................72 Figura 28 - Região de atuação de perda de sincronismo ..........................................................73 Figura 29 - Oscilografia do Relé de Proteção...........................................................................78 Figura 30 - Diagrama unifilar da UHE Bariri – Geradores ....................................................110 Figura 31 - Diagrama unifilar da UHE Bariri – Subestação...................................................111 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Lista de relés eletromecânicos................................................................................52 Quadro 2 - Funções proteção digital.........................................................................................54 Quadro 3 - Relé comuns nos esquemas de proteções...............................................................55 Quadro 4 – Funções específicas do esquema de proteção digital.............................................65 Quadro 5 - Ocorrências com relés eletromecânicos .................................................................76 Quadro 6 - Ocorrências com Relés Digitais .............................................................................76 Quadro 7 - Histórico de Eventos ..............................................................................................77 Quadro 8 - Ocorrências de manutenção em relés eletromecânicos em 1999 ...........................81 LISTA DE SIGLAS AES Applied Energy Services CKD Kolben Checa Danek GE General Electric DSP Digital Signal Processor UHE Usina Hidroelétrica IRIG-B Inter-Range Instrumentation Group GPS Global Position System ANSI Americal National Standarts Institute SE Subestação SIN Sistema Interligado Nacional NBR Norma Brasileira Regulamentada da ABNT IEC International Electrotechnical Commission IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers, Inc. LISTA DE SIMBOLOS maxI Corrente alternada no relé de atração t Tempo Fe Força eletromagnética Fr Força de resistência Ip Corrente do primário Ie Corrente no secundário TC Transformador de corrente MD Transformador diferencial MS Transformador somador I∆ Corrente diferencial D Bobina do relé RT Retificador Rk Potenciômetro X Reatância dX Reatância síncrona dX ` Reatância transitória Z Zona de atuação do relé SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13 1.1 TEMA...........................................................................................................................13 1.2 PROBLEMA ................................................................................................................15 1.3 JUSTIFICATIVA .........................................................................................................15 1.4 OBJETIVOS.................................................................................................................16 1.4.1 Objetivo Geral ..........................................................................................................16 1.4.2 Objetivos Específicos ...............................................................................................16 1.5 MÉTODO DE PESQUISA...........................................................................................17 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................17 2 RELÉS DE PROTEÇÃO...........................................................................................18 2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS ..................................................................................18 2.1.1 Critérios de projeto ...................................................................................................19 2.2 RELÉS ELETROMECÂNICOS ..................................................................................21 2.2.1 Relés de indução magnética .....................................................................................22 2.2.2 Relés de atração eletromagnética .............................................................................24 2.2.3 Desvantagens dos Relés Eletromecânicos................................................................26 2.3 RELÉS DIGITAIS........................................................................................................26 2.3.1 Características adicionais dos relés digitais .............................................................28 3 PROTEÇÃO DE GERADORES...............................................................................31 3.1 FALTAS NO ENROLAMENTO DO ESTATOR .......................................................32 3.1.1 Falta fase - fase .........................................................................................................32 3.1.2 Proteção diferencial (ANSI 87) ................................................................................32 3.1.3 Falta fase - terra ........................................................................................................33 3.2 ATERRAMENTO DE GERADORES.........................................................................34 3.3 PROTEÇÃO DE FALTAS NO ATERRAMENTO DO ESTATOR...........................36 3.3.1 Proteção de sobretensão do neutro (ANSI 59N) ......................................................37 3.3.2 Proteção de subtensão de terceiro harmônico de neutro (ANSI 27TN) ...................37 3.4 PROTEÇÃO DE SOBRECORRENTE........................................................................39 3.4.1 Proteção de sobrecorrente (ANSI 50/51)..................................................................39 3.4.2 Proteção de sobrecorrente dependente da tensão (ANSI 51V).................................39 3.5 PROTEÇÃO DE SOBRETENSÃO (ANSI 59) ...........................................................41 3.6 PROTEÇÃO DIRECIONAL DE POTÊNCIA (ANSI 32)...........................................42 3.7 PROTEÇÃO DE CARGA DESIQUILIBRADA (ANSI 46) .......................................43 3.8 PROTEÇÃO DE PERDA DE EXCITAÇÃO (ANSI 40) ............................................44 3.9 PROTEÇÃO DE SOBRE EXCITAÇÃO OU VOLTS POR HERTZ (ANSI 24) .......45 3.10 PROTEÇÃO DE SOBRECARGA (ANSI 49).............................................................45 3.11 PROTEÇÃO CONTRA FALTA DE SINCRONISMO (ANSI 78).............................46 3.12 PROTEÇÃO DE DISTÂNCIA (ANSI 21) ..................................................................47 3.13 PROTEÇÃO DE FALHAS DO ROTOR (ANSI 64)...................................................47 4 ESTUDOS GERAIS ...................................................................................................50 4.1 ESQUEMA DE PROTEÇÃO ELETROMECÂNICO.................................................50 4.2 ESQUEMA DE PROTEÇÃO DIGITAL .....................................................................52 4.3 FUNÇÕES COMUNS ENTRE OS ESQUEMAS DE PROTEÇÃO...........................54 4.3.1 Relé diferencial (ANSI 87G)....................................................................................55 4.3.2 Proteção direcionalde potência (ANSI 32)..............................................................58 4.3.3 Proteção sobrecarga (ANSI 49)................................................................................59 4.3.4 Proteção de sobrecorrente dependente da tensão (ANSI 51V).................................60 4.3.5 Proteção falta terra do rotor (ANSI 64) ....................................................................62 4.3.6 Proteção de sobretensão (ANSI 59)..........................................................................63 4.3.7 Proteção sobretensão do neutro (ANSI 59N) ...........................................................64 4.4 FUNÇÕES ESPECÍFICAS DO ESQUEMA DE PROTEÇÃO DIGITAL..................65 4.4.1 Proteção subtensão de terceiro harmônico do neutro (ANSI 27TN)........................66 4.4.2 Proteção de energização inadvertida (ANSI 50/27) .................................................67 4.4.3 Proteção de sobreexcitação ou volts por hertz (ANSI 24)........................................68 4.4.4 Proteção de perda de campo (ANSI 40) ...................................................................70 4.4.5 Proteção de perda de sincronismo (ANSI 78) ..........................................................73 4.4.6 Proteção de carga desequilibrada (ANSI 46) ...........................................................74 4.4.7 Proteção de energização inadvertida (ANSI 21) ......................................................75 4.5 ANÁLISE DE PERTUBAÇÃO OCORRIDA NA UNIDADE GERADORA DOIS..75 4.6 ENSAIOS DE INSTALAÇÃO ....................................................................................79 4.6.1 Relés eletromecânicos ..............................................................................................79 4.6.2 Relés digitais ............................................................................................................80 4.7 MANUTENÇÃO DO SISTEMA.................................................................................80 5 CONCLUSÃO.............................................................................................................83 6 REFERÊNCIAS .........................................................................................................85 ANEXO A - RELATÓRIO TÉCNICO DAS PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS NA “UG- 02” DA USINA HIDRELÉTRICA BARIRI. .......................................................................87 ANEXO B – RAP- BAR.001/2009 - RELATÓRIO DE ANÁLISE DE PERTURBAÇÃO COM A UG – 2 .......................................................................................................................95 ANEXO C – DIAGRAMA UNIFILAR DA USINA HIDROELÉTRICA ......................110 ANEXO D – TABELA PADRÃO ANSI C37-2 .................................................................112 13 1 INTRODUÇÃO 1.1 TEMA Para a operação apropriada de um sistema de potência, um efetivo, eficiente e confiável esquema de proteção é desejado. O sistema elétrico de potência, composto por máquinas síncronas, barras, transformadores, linhas de transmissão e distribuição, capacitores e reatores, é desenvolvido para operar em condições normais de tensão, freqüência e fator de potência. Ocorrendo distúrbios no sistema como curto-circuito, sobrecarga ou perda de sincronismo, uma ou mais grandezas podem tornar-se anormais, por exemplo, uma tensão que se tornou baixa ou a corrente que se tornou muito alta. Deste modo é necessário que algum dispositivo detecte esta condição anormal para que o elemento ou equipamento que está causando a falta seja removido do sistema o mais breve possível. Um esquema destinado a preservar uma região do sistema elétrico de potência é formado por relés de proteção e circuitos de chaveamento como os disjuntores. O relé de proteção é um equipamento muito importante para o sistema elétrico, pois detecta uma falta, determina sua localização e envia um comando para o disjuntor apropriado, atuando em sua bobina de abertura. O disjuntor, após receber o comando do relé de proteção, desconecta apenas o equipamento com falha. Sendo assim, os relés de proteção devem ser confiáveis e de rápida operação (SINGH, 1994). Os relés eletromecânicos, usados desde o surgimento dos sistemas elétricos, provêem proteção adequada contra muitos defeitos e condições anormais; eram, porém, complexos equipamentos mecânicos que possuíam tempos de atuação extremamente curtos em determinadas condições, exigindo calibrações rotineiras, para garantir os valores e os tempos de atuação, que consumiam grandes quantidades de horas de trabalho por ano. Os relés digitais substituíram os eletromecânicos com grandes vantagens, tanto em custo quanto em desempenho. Nas últimas duas décadas os relés digitais vêm se popularizando no mercado e oferecem vantagens sobre os relés eletromecânicos, seja no custo, na facilidade de parametrização das funções ou na execução de manutenções corretivas. 14 Relés digitais podem ser usados em todas as aplicações de relés eletromecânicos, além de permitirem mais flexibilidade nos esquemas de proteção, redução da manutenção, obtenção de informações para melhorar o entendimento de faltas ocorridas no sistema de potência e aumento da confiabilidade do sistema de proteção com custo reduzido se comparado ao modelo predecessor (MOONEY, 1998). O advento da tecnologia do processador de sinais digitais permitiu que múltiplas funções de proteção fossem integradas em uma única plataforma de processamento e que os esquemas de proteção fossem desenvolvidos em um único relé de proteção de multifunção a baixo custo. A tecnologia dos relés de proteção evoluiu de discretos relés eletromecânicos e relés estáticos para sistemas de proteção digital multifunção. Existem atualmente esquemas de proteção que utilizam tanto relés eletromecânicos como relés estáticos, ambos com característica de fornecimento de proteção confiável. Entretanto, com a introdução dos relés de proteção digital, a engenharia incorporou esta tecnologia em seus esquemas de proteção e, atualmente, realizam modernizações em esquemas de proteção que utilizam relés eletromecânicos e estáticos (YALLA, 1999). Considerando o cenário atual de desenvolvimento tecnológico dos equipamentos de proteção e da grande dificuldade de executar atividades de manutenção corretiva, seja pela falta de mão de obra especializada, pela escassez de peças de reposição dos antigos relés eletromecânicos, ou ainda pela dificuldade de se programar paradas de máquinas para manutenção, o grupo AES1 Tietê executou a modernização da Usina Hidroelétrica Ministro Álvaro de Souza Lima, conhecida popularmente como Usina Hidroelétrica de Bariri. A usina, inaugurada no dia dezenove de novembro de mil novecentos e sessenta e cinco, é composta por três unidades geradoras, acionadas por turbinas do tipo kaplan fabricadas pela empresa tcheca CKD (Kolben Checa Danek). Localizadas entre os municípios de Bariri e Boracéia, ao longo do rio Tietê, cada unidade é capaz de gerar de 41,4MW. A modernização foi executada em duas etapas. A primeira engloba somente a modernização da unidade geradora um e foi realizada pela Voith Siemens no ano de dois mil e dois. A etapa subseqüente consiste da modernização das unidades geradoras dois e três e foi executada no período entre dois mil e cinco e dois mil e sete pelo grupo das empresas GE 1 A empresa AES, originalmente denominada Applied Energy Sevices (Serviços de Energia Aplicada), foi fundada em 1981 por Roger Sant e Dennis Bake. Inicialmente fornecendo serviços de consultoria para a indústria de energia. Hoje a empresa é proprietária de usinas de energia elétrica em vários países do mundo e trabalhano ramo de venda de energia elétrica. 15 (General Electric) Hydro Inepar, responsável pela mecânica do gerador, e pela Arteche EDC Equipamentos e Sistemas, responsável pelo fornecimento dos sistemas auxiliar, de proteção e supervisão e de controle. Este trabalho terá como alvo de estudo a modernização realizada na unidade geradora dois da usina hidroelétrica de Bariri, abrangendo a comparação das funções de proteção utilizadas pelo relé digital e pelo eletromecânico, a verificação das técnicas de ensaio, da manutenção dos relés e a avaliação de ocorrências das falhas antes e depois da modernização. A unidade geradora um não será analisada, pois sua adaptação foi baseada na utilização de relés estáticos; já a unidade geradora três não será abordada devido a sua semelhança no uso de relés digitais de proteção com unidade geradora dois. 1.2 PROBLEMA Dificuldade de encontrar documentos que apresentam um quadro comparativo em um caso real de modernização do esquema de proteção de gerador, que inicialmente era composto por esquema de proteção com tecnologia de relés eletromecânicos e posteriormente substituído com tecnologia de relés digitais, apontando as principais diferenças, vantagem e desvantagens. 1.3 JUSTIFICATIVA Apesar da existência de publicações técnicas com informações específicas sobre relés, tanto eletromecânicos quanto digitais, há a necessidade de um material que traga um conteúdo focado em um caso real de modernização da proteção do gerador e que reúne todas as informações pertinentes a essa análise, as diferenças e ganhos que efetivamente ocorreram. Este trabalho irá contribuir para orientar outros profissionais que poderão utilizá-lo para justificar projetos de modernização em unidades geradoras, pois trará estudos, comparações, análises e informações para demonstrar porque foi necessário a AES Tietê realizar melhoramentos em suas unidades geradoras, além da consolidação dos conhecimentos teóricos adquiridos durante o Curso de Engenharia Elétrica. 16 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo Geral Analisar a modernização realizada na unidade geradora dois da usina hidroelétrica de Bariri, observando e descrevendo as diferenças entre os sistemas de proteção anterior e o atual, baseadas na comparação entre os diagramas unifilares de proteção e no funcionamento dos relés eletromecânicos e digitais. E nas informações de ocorrências e análise de faltas disponibilizadas pelos operadores e responsáveis de manutenção da usina. 1.4.2 Objetivos Específicos • Comparar as funções utilizadas disponibilizadas nos relés eletromecânicos e nos relés digitais baseado nos diagramas unifilares de proteção; • Analisar ocorrências de falhas levantadas em históricos pelos operadores do sistema antes da modernização do sistema; • Avaliar as ocorrências de falhas levantadas pelos eventos registrados no sistema supervisório, e entender quais foram os avanços tecnológico que possibilitaram uma melhor análise dessas ocorrências; • Verificar o método de ensaio e testes do sistema de proteção do sistema, mostrando suas diferenças quanto às técnicas; • Como é tratada a manutenção no relé eletromecânico e no relé digital; • Realizar um estudo dos benefícios oriundos da substituição da proteção eletromecânica pela digital. 17 1.5 MÉTODO DE PESQUISA O trabalho inicia-se através de revisões bibliográficas sobre os diversos assuntos envolvidos, a saber: característica geral do relé de proteção, relé eletromecânico e relé digital. Após esta fase são apresentadas as condições anormais que um gerador pode encontrar, e as funções de proteção utilizadas para detectar e isolar essas anomalias. Depois disso às atividades do projeto demandarão a análise e comparação das funções utilizadas pelo relé digital e eletromecânico, a avaliação de ocorrências das falhas antes e depois da modernização, a verificação do método de ensaio e como é realizada a manutenção em cada relé. Tendo como base as analises realizadas, serão feitas as conclusões pertinentes, compondo assim o texto final do trabalho. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO Neste primeiro capítulo é apresentado à introdução, o problema e a justificativa. São descritos tanto o objetivo geral quanto os objetivos específicos, além do método de pesquisa da monografia. No capítulo dois será feita a pesquisa do modo de operação e atuação dos relés eletromecânicos e digitais. No capítulo três será feito o estudo sobre as funções de proteção que um gerador pode ter num sistema elétrico de potência. No capítulo quatro serão comparadas as funções dos relés eletromecânicos e dos relés digitais, verificando os diagramas unifilares antes e depois da modernização, os ensaios dos relés de proteção, a análise das ocorrências de faltas e como eram feiras as manutenções nos relés. No capítulo cinco serão feitas as considerações e análises finais. 18 2 RELÉS DE PROTEÇÃO 2.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS Relés de proteção ou sistemas de proteção não são requeridos para o funcionamento durante a operação normal do sistema de potência, mas devem estar disponíveis para agir em condições intoleráveis para o sistema e evitar sérios prejuízos e interrupções. Assim, a real função destes relés pode ser na ordem de alguns segundos, mesmo conectados ao sistema por muitos anos. Na prática, os relés operam muito mais nos testes e na manutenção do que na resposta para condições de serviço adversas. Um sistema composto de relés, teoricamente, deveria ser capaz de responder a um infinito número de anormalidades que podem possibilitar ocorrências num sistema de potência; já na prática, o relé projetado deve alcançar um compromisso baseado em quatro fatores que influenciam alguma aplicação do relé: (ELMORE, 2003). Econômico: Inicial, operação e manutenção. Disponibilidade de medidas de falta ou defeitos: Grandeza da falta e situação dos transformadores de corrente e tensão. Operações práticas: Semelhanças nos padrões e práticas aceitas, assegurando um eficiente sistema de operação. Experiência anterior: Histórico e previsão de tipos de ocorrências prováveis de serem encontradas dentro de um sistema. Devido ao fato da impossibilidade de projetar um sistema com relés de proteção capaz de se adequar a qualquer problema de potência, algumas considerações devem ser feitas. Em geral, somente aqueles problemas que de acordo com a experiência do passado, com probabilidade de ocorrência recebiam as devidas considerações. Diversos engenheiros projetistas irão planejar diferentes sistemas de proteção para um mesmo sistema de potência e, como resultado, haverá uma pequena padronização na proteção com relés, podendo variar o tipo de proteção e cobertura aplicada ao sistema. Como o relé de proteção é uma tecnologia altamente especializada, requerendo um entendimento holístico, engenheiros que projetam relés devem saber, não apenas o conjunto de conhecimentos da anormalidade, mas ter um entendimento básico de todos os componentes 19 e sua operação no sistema. Por estas razões a comunicação entre os departamentos de planejamento, desenvolvimento e operação são essenciais. Revisões do sistema de proteção devem ser prioritárias, desde que ocorra o crescimento do sistema de potência ou que as condições operacionais se alterem. Um complexo sistema de relés pode ser resultado de um sistema de potência simples ou de um projeto econômico, usando poucos disjuntores. Apesar do uso de poucos disjuntores e a aplicação de um sistema mais complexo de relésgarantirem uma economia considerável, são necessárias, também, avaliações cautelosas, pois uma boa aplicação com relés nem sempre compensa a ausência de um disjuntor no sistema (ELMORE, 2003). 2.1.1 Critérios de projeto A lógica da aplicação de relés de proteção consiste em dividir o sistema de potência em várias zonas, cada uma requerendo seu próprio grupo de relés. Em todos os casos, os quatro critérios de projetos listados a seguir são comuns para qualquer sistema de proteção eficiente. Antigamente era impraticável satisfazer todos os critérios do projeto simultaneamente e a necessidade era avaliada na base da comparação dos riscos (ELMORE, 2003). 2.1.1.1 Confiabilidade Confiança e segurança são os dois elementos que caracterizam um sistema adequado de proteção. Confiança é o grau de precisão da operação correta em resposta ao sistema desordenado, enquanto que segurança é o grau da certeza que o relé não operará incorretamente. Infelizmente, estes dois aspectos tendem a desestabilizar um ao outro; o aumento da confiança tende a diminuir a segurança e vice versa. Em geral, sistemas modernos de proteção com relés possuem alta confiabilidade e fornecem um ajuste prático entre segurança e confiança. É possível, utilizando técnicas numéricas, oferecer um aprimoramento 20 em confiabilidade e segurança, afinal, sistemas com relés de proteção devem realizar corretamente suas ações mesmo sob sistemas e condições adversas. A confiança pode ser facilmente verificada em um laboratório ou durante a instalação pela simulação de testes de falta. A segurança, por outro lado, é muito mais difícil de verificar. Um verdadeiro teste de segurança do sistema teria a capacidade de responder a quase infinitas variedades de transitórios potenciais e a simulação da indicação de distúrbios no sistema de potência e no ambiente. Um sistema seguro é, normalmente, o resultado de um bom trabalho realizado no projeto, combinado a ensaios em um grande modelo do sistema de potência ou em um programa de transitórios eletromagnéticos, e pode ser confirmado na aplicação no próprio sistema de potência (ELMORE, 2003). 2.1.1.2 Velocidade Relés que podem antecipar uma falta são utópicos. Mas, se existissem, seriam altamente questionados quanto à necessidade de desligamento do disjuntor. A necessidade do desenvolvimento de relés mais rápidos deve ser medida em relação ao aumento da probabilidade de situações inexplicadas ou indesejadas ocorrerem. O tempo é um excelente critério para distinguir entre problemas reais e aparentes. O termo instantâneo indica que nenhum atraso está introduzido propositadamente na operação do relé e na prática, os termos de alta velocidade e instantâneos são freqüentemente utilizados para identificar este tipo de operação (ELMORE, 2003). 2.1.1.3 Desempenho versus Economia Relés que têm uma clareza da zona de proteção definida oferecem melhor seletividade, mas geralmente custam mais. Relés de alta velocidade, apesar de apresentarem um alto custo inicial, oferecem maior continuidade nos serviços reduzindo dessa forma os danos e perigos das falhas ao pessoal de operação. O alto desempenho e o alto custo nem 21 sempre podem ser justificados na aplicação do projeto e, conseqüentemente, relés de alta e baixa velocidade de atuação são usados para proteger os sistemas de potência. Sendo que ambos os tipos possuem alta confiabilidade (ELMORE, 2003). 2.1.1.4 Simplicidade Como em qualquer outra área da engenharia, a simplicidade de um sistema com proteção de relés é sempre a indicação de um bom projeto. O mais simples sistema de relés, no entanto, não é sempre o mais econômico. Como indicado anteriormente, as maiores economias podem ser obtidas com um sistema de relés complexo, utilizando o mínimo de disjuntores. A simplicidade do projeto aumenta a confiabilidade do mesmo, pois existe um número menor de equipamentos que podem gerar falhas (ELMORE, 2003). 2.2 RELÉS ELETROMECÂNICOS Estes relés foram a primeira forma usada para proteção do sistema de potência e continuaram sendo durante um período de quase 100 anos. Trabalham no princípio de uma força mecânica, gerada com o fluxo da corrente em um ou vários enrolamentos em um núcleo magnético, que causa a operação de um contato do relé em resposta a um estímulo. A principal vantagem destes relés é fornecer isolação galvânica entre as entradas e as saídas de uma forma simples, barata e de grande confiabilidade. Os relés eletromecânicos podem ser classificados quanto ao seu princípio básico de funcionamento, indução ou atração eletromagnética. 22 2.2.1 Relés de indução magnética Os relés de indução são os mais comuns dos relés eletromecânicos e podem ter uma ou mais bobinas de excitação no núcleo magnético. Devido ao fluxo da corrente na bobina de excitação, um torque eletromagnético é produzido, girando o rotor (tambor ou disco), aproximando os contatos dos relés e, dessa forma, energizando a bobina de abertura do disjuntor. Dois tipos de relés de indução são comumente usados: o relé com disco de indução e o relé tipo cilindro de indução (SINGH, 1994). 2.2.1.1 Relé com disco de indução O relé de indução eletromagnética ou relé motorizado funciona baseado na ação de campos magnéticos alternados sobre as correntes induzidas por esses campos em um condutor móvel constituído por um disco. Figura 1 - Relé eletromagnético com disco de indução Fonte: Ravindranath, 1988 A circulação da corrente na bobina produz um torque eletromecânico o qual tenta girar o disco colocado entre os pólos. A rotação do disco aproxima os contatos do relé e assim, energiza as bobinas de abertura do disjuntor. Normalmente um peso ou uma mola que 23 exerce uma força contrária à rotação do eixo é colocado no disco fazendo com que o mesmo rotacione se o torque ativo superar a força contrária imposta pela mola ou pelo peso. O relé é muito lento quando está em operação (RAVINDRANATH. 1988). Em outro tipo de relé com disco de indução existem dois circuitos eletromagnéticos e um disco posicionado entre eles. O circuito eletromagnético superior é composto por um enrolamento primário, que é responsável pela produção de um fluxo magnético que induz uma tensão em um segundo enrolamento que, por sua vez, está conectado a um enrolamento no circuito magnético inferior, produzindo, dessa forma, um fluxo magnético neste circuito. Por causa da interação dos campos e, devido à corrente nestes, um torque eletromecânico é produzido, tentando girar o disco colocado entre os dois circuitos eletromagnéticos (SINGH, 1994). 2.2.1.2 Relé de indução com cilindro. O relé de indução com disco na sessão anterior é relativamente lento e ineficiente. Na tentativa de melhorar a eficácia do sistema e fazer um relé mais rápido, em uma primeira tentativa, o disco foi substituído por um copo invertido com um cilindro oco. O resultado desta experiência resultou no conhecido relé de indução com cilindro e, nesta composição, a velocidade do relé melhora consideravelmente devido a sua inércia reduzida; outro aperfeiçoamento foi a construção de multi-pólos com entreferros muito pequenos. Por causa dessas modificações o relé de indução com cilindro é muito mais rápido na operação, tem um torque superior e mais uniforme e menos vibração no contato. Este relé, como mostrado na Figura 2, foi muito popular em linhas de transmissão de alta tensão (RAVINDRANATH. 1988). 24 Figura 2 - Relé eletromagnético comcilindro de indução Fonte: Ravindranath, 1988 2.2.2 Relés de atração eletromagnética Estes relés podem ser do tipo êmbolo ou alavanca e são ilustrados na Figura 3. Figura 3 - Relé eletromagnético de atração Fonte: Ravindranath, 1988 25 O princípio de funcionamento deste relé é idêntico a um eletroímã. Uma força eletromagnética, proporcional ao quadrado do fluxo no entreferro ou no quadrado da corrente, é produzida por um fluxo magnético e é responsável pelo movimento de algum elemento. Em circuitos operados em corrente contínua, esta força é constante e o relé opera instantaneamente. Em circuitos com corrente alternada, a corrente é dada por e seu quadrado por . Isto mostra que a força eletromagnética é formada por dois componentes, uma constante independente do tempo e outra dependente do tempo e pulsante com o dobro da freqüência da corrente alternada aplicada. A Figura 4 mostra o gráfico da força resultante eletromagnética pela corrente alternada (RAVINDRANATH. 1988). tsenI ωmax )2cos( 2max 2 max tII ω− eF Figura 4 - Curvas da corrente e da força eletromagnética na armadura Fonte: Ravindranath, 1988 Se a força de resistência produzida com a ajuda de uma mola, for constante, a armadura do relé atuará em e desatuará em , conseqüentemente a armadura irá vibrar com o dobro da freqüência da corrente produzindo zumbido e dano aos contatos do relé. Isto acarreta em faíscas e uma operação não confiável em circuitos com corrente alternada, sendo que, para compensar este problema, o fluxo responsável pela produção da força eletromagnética é dividido em dois fluxos que atuam simultaneamente em diferentes fases de tempo. Desta maneira, a força resultante será sempre positiva e, se esta força for sempre maior que a da resistência mecânica imposta pela mola , a armadura não irá mais vibrar. O fluxo é demonstrado na Figura 5 (RAVINDRANATH. 1988). rF 1t 2t rF 26 Figura 5 - Fluxo eletromagnético em um relé eletromecânico Fonte: Ravindranath, 1988 2.2.3 Desvantagens dos Relés Eletromecânicos. Os relés eletromecânicos, discutidos anteriormente, têm partes e contatos móveis, por causa disto, cada relé apresenta várias desvantagens como listado a seguir: • Carga elevada em transformadores, tanto de potencial como de corrente. • Elevado tempo para operar o relé, devido à inércia dos movimentos das partes e lentidão da operação. Por essa razão, a coordenação dos relés pode se tornar muito difícil. • Contatos danificados e com má operação. • Exige freqüente manutenção por causa do movimento das peças e da abertura e fechamento dos contatos dos relés. 2.3 RELÉS DIGITAIS Os relés digitais introduziram um passo na mudança de tecnologia. Os processadores passaram a ser utilizados, os primeiros modelos começaram a ser fabricados nos anos 80 e com o avanço da capacidade de processamento, foi considerada a tecnologia indicada para 27 aplicações que utilizassem relés de proteção. O que era um conjunto de processadores utilizados para atingir o desempenho computacional necessário, agora pode ser utilizado em apenas um processador. Os relés digitais atuais utilizam um processador do tipo (Digital Signal Processor – Processador de Sinal Digital) como a base de processamento. A entrada analógica é convertida para uma representação digital e processado de acordo com o algoritmo matemático desenvolvido. O microprocessador é projetado especialmente para aplicações que utilizam o tratamento de sinais analógicos se tornando um poderoso processador em tempo real, um requisito essencial para relés de proteção (NETWORK ..., 2002). DSP DSP A seguir segue uma lista com funções disponíveis em um relé digital. • Execução de varias funções de proteção; • Armazenamento de vários grupos de ajustes das proteções; • Proteção de falha de atuação do disjuntor; • Localização de faltas; • Supervisão dos transformadores de corrente e tensão; • Verificação de sincronismo; • Religamento automático; • Monitoração do estado do disjuntor; • Detecção de condutor quebrado; • Medição das quantidades analógicas do sistema como corrente, tensão, potências; • Registrador de eventos e faltas; • Comunicação remota integrada; • Diagnose de falhas internas; • Uso de lógicas internas. O relé digital pode agrupar várias funções de proteção, entretanto a falha de um relé digital pode causar a perda de muito mais funções se comparado com aplicações onde diferentes funções são aplicadas em diferentes equipamentos. Comparar a confiabilidade e disponibilidade entre os dois métodos é complexo, pois a dependência mutua dos elementos da aplicação que disponibiliza os relés de forma separada devem ser levados em conta. 28 2.3.1 Características adicionais dos relés digitais Em um processador de um relé digital, o cálculo de uma função de proteção ocupa apenas parte da capacidade total de processamento do microprocessador. O excesso de capacidade consequentemente disponibiliza outras funções. As funções típicas que podem ser encontradas em um relé digital além das funções de proteção serão descritas nesta secção. DSP 2.3.1.1 Display de Medidas Esta é a função mais simples a ser desenvolvida, que envolve o menor tempo de processamento do microprocessador. Os valores que o relé deve mensurar para executar as funções de proteção já foram processados. portanto, é uma tarefa simples disponibilizá-las em um display na parte frontal do relé ou transmiti-las para um computador remoto. Dependendo das medições executadas, diferentes medidas estarão disponíveis. Segue uma lista das possíveis medições: • Seqüência positiva, negativa e zero; • Potência ativa, reativa e fator de potência; • Energia ativa e reativa; • Harmônicos; • Frequência; • Temperaturas; • Distância da falta; A exatidão das medições realizadas depende diretamente da precisão dos transformadores de corrente e de tensão. 29 2.3.1.2 Registro de Perturbação A memória de relé digital pode ser facilmente expandida para armazenar um grande período de dados de entrada, tanto digital como analógicos. Além dos estados dos contatos de saída do próprio relé de proteção, o relé tem a capacidade de atuar como um registrador de perturbações do circuito monitorado, armazenando as medidas do momento em que a falta ocorreu. O registro do distúrbio fica disponível para a realização de um download (carregamento) do relé para um computador podendo ser feita uma análise posterior (NETWORK ..., 2002). 2.3.1.3 Tempo de sincronismo Os registros de perturbações e dados relacionados com consumo de energia necessitam de uma estampa de tempo. Apesar de um relógio interno estar sempre presente, ele apresenta uma precisão limitada e o uso deste relógio pode causar problemas caso seja necessário a comparação com informações proveniente de outros relés de proteção. Os relés digitais têm a facilidade de sincronizar o tempo com um relógio externo. Normalmente utiliza-se o sinal (Inter-Range Instrumentation Group – Grupo de Instrumentação Entre Faixas) disponibilizado por equipamentos que recebem o sinal de data e hora dos satélites (Global Positioning System - Sistema de Posicionamento Global). BIRIG − GPS 2.3.1.4 Lógica Programável Funções lógicas são bem adaptadas quando utilizando microprocessadores. As lógicas sempre foram usadas em relés de proteção. Algumas funções requerem uma quantidade grande de lógica. Por exemplo, um relé de sobrecorrente na saída de um transformadoralimentador poderia utilizar entradas analógicas para monitorar a temperatura 30 dos enrolamentos e atracar saídas digitais para acionar alarmes luminosos ou sonoros para avisar o operador, ou a abertura de um disjuntor, eliminando assim, a necessidade de um relé adicional para monitoração das temperaturas do enrolamento do transformador. 2.3.1.5 Grupos de Parametrização Historicamente, relés eletromecânicos e estáticos permitem que apenas um grupo de parâmetros seja aplicado ao relé. Os sistemas de potência mudam suas topologias devido a razões operacionais e as diferentes configurações podem requerer parâmetros variados para manterem o nível desejado de proteção para a rede. Este problema pode ser superado com a utilização de um número de grupo de parâmetros, utilizando apenas um de cada vez. Alterações entre grupos de parametrização podem ser realizadas por comando remoto pelo operador ou através de lógica programável. 31 3 PROTEÇÃO DE GERADORES A freqüência de falhas em máquinas rotativas é baixa devido a projetos e equipamentos mais modernos. Porém existe ainda há a possibilidade de ocorrerem falhas e o atraso de atuação de desligamento do disjuntor ou a falta de sensibilidade da proteção podendo resultar em graves danos ao gerador. Por estas razões, condições anormais de funcionamento devem ser reconhecidas atentamente e rapidamente isoladas para evitar maiores danos ou ainda, uma combinação de problemas. As condições anormais de funcionamento que podem ocorrer com máquinas rotativas são as seguintes: • Faltas no enrolamento; • Sobrecarga; • Sobre aquecimento dos enrolamentos ou dos mancais; • Sobrevelocidade; • Perda de excitação; • Motorização; • Energização inadvertida; • Corrente desbalanceada; • Perda de sincronismo. Estas situações são sinalizadas por alarmes e a grande maioria deles pede a remoção da máquina, ainda assim alguns problemas são passíveis de correção mesmo com máquina ainda em serviço. O custo do esquema e grau de proteção que será gasto deve ser pesado cuidadosamente em relação aos riscos onde a proteção não será aplicada. A quantidade de proteção que será aplicada irá variar de acordo com o tamanho e a importância na máquina (ELMORE, 2003). 32 3.1 FALTAS NO ENROLAMENTO DO ESTATOR Defeitos no enrolamento do estator ou falhas de isolamento de conexões podem resultar em grandes danos ao enrolamento e ao núcleo do estator. A extensão deste dano irá depender da magnitude e do tempo de duração da falta. 3.1.1 Falta fase - fase A ocorrência de falta fase-fase sem o envolvimento do aterramento é menos comum e pode ocorrer na parte final do enrolamento do estator, entre espiras próximas uma da outra, e envolvendo, posteriormente, o aterramento em um período muito curto. 3.1.2 Proteção diferencial (ANSI 87) Faltas internas em equipamentos geralmente começam com o aterramento em um dos enrolamentos do estator e podem ocasionalmente evoluir para faltas que envolvem mais de uma fase. A proteção diferencial é o esquema mais eficiente contra faltas de múltiplas fases. Esta proteção baseia-se na primeira lei de Kirchhoff, a qual postula que a somatória das correntes que entram no gerador é igual à somatória das correntes que dele saem, sendo assim, é feita uma comparação entre as correntes de entrada e as de saída e eventuais diferenças entre elas são indícios de condições anormais no equipamento protegido. A Figura 6 mostra o circuito do relé para apenas uma fase. Para a condição normal de operação ou para uma falta que ocorra fora dos dois conjuntos dos transformadores de correntes, a corrente que entra na máquina é igual ao que sai em todas as fases, desprezando as pequenas perdas internas de correntes. pI pI 33 Figura 6 - Proteção diferencial básica Fonte: ELMORE, 2003 A corrente do secundário de cada transformador de corrente é igual à corrente do primário transformada pela relação. A corrente do relé 21 ee II − é a diferença das correntes do secundário. Com o mesmo tipo de transformador de corrente sendo utilizada nos dois lados do gerador, a corrente será nula em condições normais de carga e o relé não opera. Se uma falta ocorrer entre os dois conjuntos de transformadores de correntes, uma ou mais das correntes do lado esquerdo irão aumentar, considerando que as correntes do lado oposto podem fluir na direção oposta do fluxo normal. De qualquer modo, toda a corrente da falta irá fluir através no relé causando sua operação, pois a corrente diferencial não será mais nula. 3.1.3 Falta fase - terra O modo mais provável de falha de isolação é de fase para a terra. O uso de uma impedância de aterramento limita a corrente de falta a terra e, conseqüentemente, os danos no estator. Uma falta para a terra pode atingir somente o enrolamento, entretanto, quando o núcleo do estator é afetado, o ferro das lâminas aquece ao ponto de soldá-las. A área danificada pode às vezes ser reparada, mas se o dano for muito grande, parte do núcleo deverá ser reconstruído. Uma situação parecida ocorre na região final do enrolamento onde o esforço elétrico é maior. As forças resultantes nos condutores podem ser bem maiores e resultar em desgastes extensivos, necessitando a substituição parcial ou total do enrolamento. 34 Além da queima do núcleo, o maior perigo que pode ocorrer com a falha é o fogo, pois grande parte do material de isolação é inflamável e, neste caso, o ar de refrigeração da máquina, gerado por uma ventilação forçada faz com que o fogo se espalhe rapidamente pelo enrolamento. Nas máquinas onde o sistema de resfriamento é à base de hidrogênio, o fogo não existirá porque o estator se mantém selado. Neste caso, quando ocorrer uma falha, um longo tempo de indisponibilidade deve ser considerado, resultando em um maior impacto financeiro. 3.2 ATERRAMENTO DE GERADORES Uma grande dificuldade para projetistas é desenvolver um gerador que se adeque as necessidades térmicas e as forças mecânicas associadas a uma falta. A corrente de falta em um gerador não cessa instantaneamente após a operação do relé de proteção e, quando ocorre uma falta, a corrente irá demorar em torno de um a dez segundos para chegar a zero, até que a energia magnética armazenada no gerador dissipe para a falta. Tanto o aquecimento quanto os esforços mecânicos variam com o quadrado da corrente de falta, por esta razão, uma pequena redução na corrente de falta reduz significativamente os requisitos térmicos e de estrutura no projeto do gerador. Deve-se então, incluir no sistema de aterramento uma impedância para limitar a magnitude de falta à terra ao valor da falta trifásica ou menos. Existem muito métodos de realizar o aterramento do gerador e, também, outros modos para realizar a sua proteção. Os aterramentos são classificados em: direto, de baixa impedância e de alta impedância. O sistema com aterramento direto, como o próprio nome diz, tem uma conexão direta entre o neutro do gerador e o aterramento do sistema. Nele, a corrente de falta de fase a terra é muito elevada, em muitos casos, maior que a corrente de falta trifásica. O sistema com aterramento de baixa impedância tem uma impedância conectada entre o neutro do gerador e o aterramento do sistema; a impedância limita a corrente de falta a terra para um valor aproximado de 100A. No sistema com aterramento de alta impedância, o aterramento entre o neutro do gerador e o aterramento do sistema é feito por uma impedância grande o bastante para limitar a correntede falta á terra a um valor de 2 a 15A. 35 O tipo de aterramento do neutro adotado pelo esquema elétrico da UHE Bariri é a configuração de baixa impedância conforme mostrado na Figura 7. Figura 7 - Aterramento do neutro de baixa impedância Fonte: NETWORK... ,2002 Além de limitar a corrente de falta à terra, outro requisito do esquema de aterramento é evitar valores elevados de tensão para que não causem danos ao gerador. A sobretensão pode ser gerada em transitórios causados por manobras de equipamentos ou por arcos gerados por faltas a terra e sua magnitude é uma função da impedância de aterramento. Quando o neutro do gerador esta aterrado diretamente no aterramento do sistema, a baixa impedância irá permitir altas correntes de falta a terra, mas irá prevenir as sobretensões. A adição de impedâncias no neutro para limitar a corrente de falta a terra irá aumentar as sobretensões impostas pelo sistema. A impedância de neutro deve ser escolhida com critérios específicos para eliminar a possibilidade de danos por sobretensão no gerador. Estados de sobretensão irão aparecer nas fases que não apresentam falta de fase durante uma falta a terra. A tensão da fase que não possui a falta é composta pela tensão de fase mais a tensão deslocada do neutro. A Figura 8(a) apresenta a relação normal de tensões de fase-terra. Em um sistema de aterramento de alta impedância, o deslocamento do neutro é aproximadamente igual à tensão de fase na fase com a falta. A Figura 8(b) apresenta a elevação da tensão de fase de uma fase sem falta para uma tensão fase-fase. Esta sobretensão é de 173%. A falta a terra em um sistema de aterramento eficiente é mostrado na Figura 8(c); este sistema possui uma impedância de aterramento baixa o suficiente para causar um pequeno deslocamento do neutro e, conseqüentemente, mínima elevação da tensão das fases sem falta. 36 Figura 8 - Tensão de fase durante uma falta à terra (a) - Sistema trifásico sem falta (b) - Sistema trifásico com falta a terra na fase Ea com aterramento de alta impedância no neutro (c) - Sistema trifásico com falta a terra na fase Ea com aterramento de baixa impedância Fonte: NETWORK... ,2002 3.3 PROTEÇÃO DE FALTAS NO ATERRAMENTO DO ESTATOR O método de aterramento afeta diretamente o grau de proteção dos relés diferenciais. Quanto maior a impedância de aterramento, menor é a magnitude da corrente de falta e mais difícil fica para identificar a falha. Com a impedância de aterramento, o relé diferencial pode não responder para uma falta a terra de uma única fase, por isso, um relé separado é colocado no aterramento de neutro que irá fornecer uma proteção sensível a estas correntes. O relé de aterramento pode operar, também, se ocorrerem faltas além do gerador. Por esta razão, um tempo de retardo pode ser necessário para fazer a coordenação. Um caso típico é um gerador conectado a um barramento com outros circuitos que, se falharem, não deveram desconectar a máquina do sistema e o relé presente no circuito com a falta deverá isolar a falta. No esquema de unidade conectada ao sistema, o transformador elevador limita a operação do relé somente para falhas no gerador (ELMORE, 2003). 37 3.3.1 Proteção de sobretensão do neutro (ANSI 59N) Em um sistema balanceado, a soma das três tensões de fase resulta em uma tensão residual igual a zero. Qualquer falta a terra irá adicionar uma tensão de seqüência zero e, conseqüentemente, o surgimento de uma tensão residual. O sinal de tensão deve ser medido por um transformador de tensão apropriado. A Figura 9 mostra a conexão utilizada no esquema de proteção da UHE Bariri. Figura 9 - Conexão de sobretensão do neutro Fonte: NETWORK... ,2002 3.3.2 Proteção de subtensão de terceiro harmônico de neutro (ANSI 27TN) O método de proteção do estator detalhado anteriormente deixa uma parte do enrolamento desprotegido. Em grande parte dos casos, a irrelevância desta conseqüência decorre da baixa probabilidade de ocorrer uma falta nos 5% do enrolamento do estator próximo ao neutro e devido à baixa tensão nesta região. Entretanto, uma falta pode ocorrer em qualquer lugar do enrolamento. Um método de realizar a proteção nesta região é medindo a tensão de terceiro harmônico gerada internamente que aparece através da impedância de aterramento devido a uma corrente de terceiro harmônico que flui através da capacitância shunt do estator. Quando uma falta ocorre na parte mais próxima do neutro do estator, a tensão de terceiro harmônico se aproxima de zero e, conseqüentemente, um relé que responde à tensão de terceiro harmônico pode ser usado para detectar esta condição. À medida que a falta ocorre mais distante do ponto de neutro, a tensão de terceiro harmônico decai para valores próximos das condições 38 normais de operação, isto representa aproximadamente 20-30% da distância do enrolamento. Para além desta distância, a tensão não pode ser diferenciada entre uma tensão de falta e uma tensão normal de operação, conseqüentemente, uma proteção convencional de falta a terra deve ser utilizada em conjunto com o esquema de terceiro harmônico, fornecendo dessa forma, a proteção de todo o enrolamento do estator. A Figura 10 apresenta as curvas de ajustes das faltas para as tensões na freqüência nominal e de terceiro harmônico. Na medida em que a falta se aproxima da região do neutro do gerador, a região de atuação da função de sobretensão se sobrepõe com a região de atuação da função de terceiro harmônico. Figura 10 - Curva de proteção para 100% do estator Fonte: BECKWITH, 2004 39 3.4 PROTEÇÃO DE SOBRECORRENTE 3.4.1 Proteção de sobrecorrente (ANSI 50/51) É comum a utilização da proteção de sobrecorrente temporizada para geradores. Para geradores menores de 1MVA, esta será a forma principal de fazer a proteção de faltas entre fases do enrolamento do estator. Para geradores de maior porte, a função de sobrecorrente pode ser aplicada como proteção de retaguarda para realizar o desligamento da unidade por qualquer falta externa quando a proteção diferencial principal não atuar. Esta proteção é geralmente utilizada para evitar que o gerador alimente uma falha externa ao grupo gerador. É comum em proteções de sobrecorrentes de alta tensão que uma função instantânea e uma temporizada sejam aplicadas. Os elementos temporizados devem ser ajustados para assegurar que os equipamentos protegidos da planta não ultrapassem os níveis de corrente de falha direta superiores aos seus limites operacionais estabelecidos. O elemento instantâneo deve ser ajustado para um valor acima do máximo permitido pela alimentação do gerador, mas ainda menor do que a corrente de falha fornecida pelo sistema no caso de uma falha do enrolamento do gerador. Esta proteção de retaguarda minimizará os danos causados a uma planta no caso da proteção principal do gerador falhar. O desligamento instantâneo da falta no lado de alta tensão irá auxiliar a recomposição do sistema de potência e os geradores em paralelos. 3.4.2 Proteção de sobrecorrente dependente da tensão (ANSI 51V) A dificuldade do ajuste da proteção de sobrecorrente referida na seção anterior aumenta porque uma compensação tem que ser feita no ajuste da corrente de falha do gerador com decréscimo da tensão. Para superar a dificuldade de ajuste, a tensão nos terminais do gerador pode ser medida e usada para modificar dinamicamente os parâmetros de corrente e tempo da função de sobrecorrente básica para falhas perto do gerador.Existem duas 40 alternativas básicas para a aplicação da proteção de sobrecorrente com tensão dependente que são discutidas nas seguintes seções. Os relés de sobrecorrente dependentes da tensão são encontrados freqüentemente aplicados aos geradores usados em sistemas industriais como uma alternativa à proteção principal diferencial. 3.4.2.1 Proteção de sobrecorrente com tensão controlada A proteção de tensão controlada tem duas características que são selecionadas de acordo com a medição de tensão nos terminais do gerador. O limite do ajuste da tensão para substituir a escolha dos elementos é feito da seguinte maneira: A – durante sobrecargas, quando a tensão do sistema permanece próximo à normal, a proteção de sobrecorrente deve ser configurada para atuar acima da carga máxima e do tempo de operação, com característica que impedirá que o gerador alimente uma falha externa remota por um período superior dos limites definidos pela planta. B – na ocorrência de uma falha próxima, a tensão de barra irá sofrer uma queda e ficará abaixo da tensão permitida, devendo, então, ser selecionado o segundo grupo de parâmetros para a proteção. Assim que a função perceber que a tensão está abaixo do valor estabelecido deve permitir o novo ajuste. A curva característica é mostrada na Figura 11. Figura 11 - Curva de sobrecorrente com tensão controlada Fonte: NETWORK... ,2002 41 3.4.2.2 Proteção de sobrecorrente com restrição de tensão A técnica alternativa é variar constantemente o ajuste de disparo da função com a variação da tensão do gerador dentro de um limite superior e inferior. A tensão é que dita a restrição de operação do elemento de corrente. O efeito é proporcionar uma proteção dinâmica de acordo com a tensão nos terminais da máquina. Uma curva típica para esta função é mostrada na Figura 12. Figura 12 - Curva de sobrecorrente com restrição de tensão Fonte: NETWORK... ,2002 3.5 PROTEÇÃO DE SOBRETENSÃO (ANSI 59) A atuação da proteção por sobretensão em um gerador pode ocorrer devido à transitórios na rede ou por sobretensão prolongada na rede. Uma condição contínua da sobretensão não deve ocorrer numa máquina com um regulador de tensão em operação normal, mas pode ser causada pelas seguintes contingências: • Defeito no regulador de tensão automático quando a máquina estiver na operação isolada; 42 • Operação sob o controle manual com a tensão do regulador fora de serviço. Uma variação repentina da carga, em particular um componente de potência reativa, causará uma mudança substancial na tensão por causa da regulação da alta tensão, própria de um típico alternador; • Perda repentina de carga (devido a uma abertura na saída dos alimentadores, deixando o gerador isolado ou alimentando uma carga muito pequena) pode causar uma ascensão repentina na tensão dos terminais devido ao fluxo de campo armazenado e/ou exceder os limites de velocidade. É comum fornecer a proteção de sobretensão, sob a forma de um elemento com tempo de retardo, curva de tempo inverso ou por tempo definido. O tempo de retardo deve ser suficientemente longo para impedir a operação durante a ação normal do regulador. Às vezes um elevado ajuste do elemento é fornecido com um tempo definido de atuação muito curto ou um ajuste instantâneo para fornecer uma rápida abertura em circunstâncias extremas. 3.6 PROTEÇÃO DIRECIONAL DE POTÊNCIA (ANSI 32) A proteção direcional de potência pode ser dividida em proteção de baixa potência direta ou de potência reversa e pode ser exigida para que alguns geradores tenham a sua máquina motriz protegida. As partes da máquina motriz podem não ser projetadas para experimentar um torque reverso, ficando dessa forma, danificadas com a rotação continuada depois da falha na máquina motriz. A proteção de baixo fluxo de potência direto é usada freqüentemente como uma função de intertravamento para permitir a abertura do disjuntor principal em aberturas não urgentes, como exemplo tem-se uma falta à terra do estator em um gerador com aterramento de alta impedância evitando assim o risco de uma sobrevelocidade. A proteção de potência reversa é aplicada para prevenir danos nas partes mecânicas em eventos de falha da máquina motriz e deve ser temporizada para evitar falsas operações com oscilações transitórias de potência que podem aparecer seguidas da sincronização ou com um distúrbio na transmissão do sistema potência. 43 3.7 PROTEÇÃO DE CARGA DESIQUILIBRADA (ANSI 46) Uma carga trifásica balanceada produz um campo de reação que é constante e síncrono com o sistema de campo do rotor. Qualquer condição de carga desequilibrada pode ser resolvida em componentes positivas, negativas ou zero. A componente positiva da seqüência é semelhante à carga balanceada normal, a componente de seqüência negativa se diferencia da positiva apenas no resultado da reação do giro do campo, que é oposta e a componente zero não produz nenhuma reação da armadura principal. Na componente da seqüência negativa, um fluxo é produzido no sentido contrário a do rotor e por isso induz o dobro da freqüência de corrente no sistema no campo e no corpo do rotor. Como a corrente resultante é muito alta, o rotor aquece e o efeito é tão grave que uma única fase pode carregar para a falta o valor de uma corrente trifásica podendo rapidamente aquecer as ranhuras do rotor. O aquecimento em curto período de tempo é comum durante condições de falha do sistema, por isso, é preciso limitar o tempo de exposição a uma seqüência negativa no gerador, assumindo que a dissipação de calor durante tais períodos é insignificante. Esta proteção é, então, aplicada para impedir o superaquecimento devido às correntes de seqüência negativas. Os ajustes dos parâmetros desta proteção devem permitir que os níveis de corrente com seqüência negativa permaneçam abaixo da capacidade nominal, permitindo que a refrigeração tenha efeito quando os níveis de corrente de seqüência negativa estiverem abaixo da capacidade nominal. Desta maneira, a proteção também irá responder por faltas de fase a terra e de fase- fase onde existe uma corrente de seqüência negativa suficiente. Para uma correta coordenação entre o relé de seqüência negativa e outros relés abaixo dele, é necessário o ajuste de um tempo definindo mínimo, entretanto, um tempo máximo de desligamento também pode ser usado para assegurar a operação no caso em que a corrente de seqüência negativa exceda os limites de capacidade nominal (IEEE Tutorial, 1995). 44 3.8 PROTEÇÃO DE PERDA DE EXCITAÇÃO (ANSI 40) A proteção contra perda de excitação tem a finalidade de evitar que o gerador opere com corrente de excitação muito baixa quando em paralelo com o sistema. A operação com baixa corrente de excitação leva o gerador ao limite de estabilidade, podendo assim, causar a perda de sincronismo. Para evitar a operação indevida, esta proteção deve ser temporizada, pois a perda de sincronismo pode ser tolerada por alguns segundos. Quando um gerador acoplado a uma rede perde sua excitação, ele torna-se dessincronizado em relação à rede. Então, passa a funcionar em modo assíncrono, numa leve sobrevelocidade, e absorve a potência reativa do sistema. A corrente reativa consumida pelo gerador pode ter como conseqüência o aquecimento do estator e do rotor, pois a corrente pode ser elevada e estas partes não foram dimensionadas para operarem desta forma. Uma falta de perda de excitação que não é detectada no momento certo pode ter grandes conseqüências para o sistemaelétrico por causar, além da perda de um controlador de energia reativa, um grande consumo de reativo no sistema. Este tipo de condição pode causar uma oscilação na tensão, assim como, desligamentos de linhas caso não existam fontes suficientes de energia reativa para alimentar a falta. Como causa da perda de excitação, é possível citar a falha no sistema de excitação, curto-circuito no circuito do rotor ou abertura do disjuntor de excitação, permanecendo apenas o disjuntor que interliga o gerador ao sistema fechado. Na ocorrência de perda de excitação com uma potência de saída elevada, a velocidade do rotor pode chegar a aproximadamente 105% da velocidade nominal fornecendo baixa potência na saída e uma alta corrente reativa de até 2.0 p.u.. Neste caso, a rápida desconexão automática é exigida para proteger os enrolamentos do estator da corrente excessiva e para proteger o rotor de danos causados por correntes induzidas (IEEE Tutorial, 1995). 45 3.9 PROTEÇÃO DE SOBRE EXCITAÇÃO OU VOLTS POR HERTZ (ANSI 24) A sobreexcitação de qualquer gerador ou transformador conectado nos terminais de um gerador ocorrerá basicamente quando a relação tensão por freqüência, expressada em Volts por Hertz (V/Hz) aplicado aos terminais do equipamento exceda os limites de projeto. As normas ANSI/IEEE estabelecem que para geradores esta relação não deva ultrapassar a 1,05 pu na base do gerador e para transformadores não deva ultrapassar a 1,05 pu na base do secundário do transformador quando este conectado com carga nominal e fator de potência de 0,8 ou maior que 1,1 p.u. sem carga. Quando esta relação de V/Hz é excedida, pode ocorrer à saturação do núcleo magnético do gerador ou do transformador conectado, induzindo um fluxo de dispersão nos componentes laminados, os quais não são projetados para transportá-los. O dano pode ocorrer em segundos. Uma sobretensão excessiva em um gerador ocorrerá quando o nível de campo elétrico excede a capacidade de isolamento do enrolamento do estator. Para a devida proteção por sobretensão, não se pode confiar integralmente na proteção de V/Hz. Se a sobretensão é um resultado de um incremento proporcional da freqüência, a função do relé, V/Hz, irá ignorar o evento devido que a relação volts por hertz não tenha se alterado. É usual que se utilize um relé de sobretensão para alarmar ou desconectar o gerador do sistema. Danos podem ocorrer em segundos e, freqüentemente, esta falha ocorre quando o gerador ainda não está conectado a rede antes da sincronização, operando de forma isolada. A probabilidade de uma sobreexcitação do gerador aumenta dramaticamente se os operadores preparam manualmente a unidade para a sincronização (IEEE Tutorial, 1995). 3.10 PROTEÇÃO DE SOBRECARGA (ANSI 49) Em geral o sobre aquecimento é causado por uma sobrecarga ou por falha no sistema de aquecimento da máquina e pode ser detectado rapidamente. Na prática são embutidos termo acopladores nos enrolamentos do estator e um grupo suficiente de termo acopladores é distribuído em diferentes partes do estator, garantindo a medição de temperatura ao longo de toda sua extensão. Outros dispositivos podem ser utilizados também para supervisionar o 46 funcionamento do sistema de refrigeração da máquina, acusando, imediatamente, com alarmes, a ocorrência de uma falha. Outra maneira de detectar sobrecargas é com o uso de relés de imagem térmica que utilizam a corrente do estator para aproximar os efeitos de aquecimento no gerador. A constante térmica de aquecimento da máquina para aquecimento e resfriamento é representada pelo relé para antecipar os efeitos da carga presente. Quando o relé detecta que a temperatura excedeu ao valor máximo permitido pelo isolamento da máquina, um comando de abertura do disjuntor do gerador é executado (ELMORE, 2003). 3.11 PROTEÇÃO CONTRA FALTA DE SINCRONISMO (ANSI 78) Durante a operação normal do sistema de potência, existirá alguma combinação de operações, faltas ou distúrbio que poderá causar a perda de sincronismo entre áreas interconectadas. Na condição de perda de sincronismo, é crucial que estas áreas sejam separadas antes que os geradores se danifiquem ou que uma falha generalizada possa ocorrer. Quando um gerador perde o sincronismo, o resultado de altos picos de correntes e de operação fora da freqüência nominal pode causar esforços no enrolamento, torques pulsantes e ressonância mecânica que são potencialmente perigosas para causar danos para o conjunto de turbina e gerador. Para minimizar a possibilidade de danos, é recomendado que o gerador seja desconectado imediatamente, preferencialmente no primeiro ciclo da condição de perda de sincronismo. Antigamente a impedância característica do sistema era tal que o centro elétrico durante a perda de sincronismo geralmente ocorria nas linhas de transmissão. Os esquemas de proteção das linhas de transmissão ou os relés de perda de sincronismo podiam separar os sistemas sem desconectar os geradores. Com a expansão das linhas de transmissão e do tamanho dos geradores as impedâncias do sistema têm alterado consideravelmente. As impedâncias de geradores e de transformador elevador têm aumentado enquanto que a impedância do sistema elétrico como um todo tem diminuído. Como resultado, o centro elétrico de perda de sincronismo ocorre em geradores ou em transformadores elevadores (IEEE Tutorial, 1995). 47 3.12 PROTEÇÃO DE DISTÂNCIA (ANSI 21) Quando ocorrem alterações na configuração do sistema elétrico, devido a manobras na rede, o ajuste de atuação da proteção de sobrecorrente deve ser alterado. Isso é um agravante, pois o sistema está sempre realizando manobras para garantir a qualidade e continuidade do fornecimento de energia elétrica. O relé de distância opera medindo os parâmetros característicos da linha a partir de onde esteja instalado, suprindo esta necessidade existente pelo relé de sobrecorrente. O relé de distância recebeu este nome, devido à sua filosofia de funcionamento se basear na impedância, admintância ou reatância vista pelo relé. Como estes parâmetros são proporcionais à distância, formou-se o nome do relé. Na verdade o relé vê o parâmetro da linha ou sistema e não a distância propriamente dita. Os relés de distância respondem em relação aos sinais de tensão e corrente expresso como fasores. A relação entre dois fasores é um número complexo e o relé pode ser projetado para responder ao módulo deste número ou ao próprio número complexo. É importante lembrar que o conceito de fasor implica em formas de onda de freqüência fundamental em regime permanente senoidal, enquanto que, imediatamente após a ocorrência de uma falta, as correntes e tensões de um sistema de potência são ricas em componentes transitórios, com freqüências diferentes da fundamental. A relação entre a tensão e corrente representa a fração da impedância de seqüência positiva da linha, na qual a falta ocorre. A relação calculada pode ser comparada com a impedância de seqüência positiva total da zona protegida e, se for menor, uma saída de disparo é produzida. 3.13 PROTEÇÃO DE FALHAS DO ROTOR (ANSI 64) O circuito de campo do gerador, compreendido pelo enrolamento de campo do mesmo e pela armadura da excitatriz, juntamente com o disjuntor de campo, é um circuito isolado de corrente contínua o qual não está devidamente aterrado. Se uma falta ocorrer, não haverá um estado estável de corrente de falta e nenhuma ação será necessária. 48 O perigo aumenta se uma segunda falha de terra ocorrer em um ponto separado no sistema