Buscar

AULA 6 REDAÇÃO INSTRUMENTAL

Prévia do material em texto

Aula 6:
Tipos de argumentos
Tipos de argumento
A argumentação se baseia em dois elementos principais: a consistência do raciocínio e a evidência das provas.
Cada tipo de argumento tenta convencer ou persuadir o leitor de uma maneira um pouco diferente. 
O argumento de autoridade, por exemplo, se sustenta na credibilidade da palavra do outro, que geralmente é algum filósofo, cientista renomado, ou ainda alguma pessoa que ocupa ou ocupou um cargo muito relevante, relacionado ao tema que se está discutindo. Em contrapartida, no argumento por evidência, o articulista sustenta sua tese com base em dados que evidenciam que sua tese é verdadeira. 
1. Argumento pró-tese
O argumento pró-tese deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação simples. Utiliza a razoabilidade e a coerência como fundamento de validade, ou seja, o argumento pró-tese é aquele que desenvolve uma explicação razoável para determinada questão relevante ao raciocínio argumentativo.
Exemplo: João cometeu um crime doloso inaceitável, repudiado pela sociedade, porque desferiu três facadas certeiras no peito de sua esposa, e também porque agiu covardemente contra uma pessoa desarmada e fisicamente mais fraca. 
2. Argumento pelo absurdo
O argumento por absurdo consiste em levar o interlocutor a uma conclusão absurda para convencê-lo a admitir uma determinada tese. Ao se admitir a concepção do mal cometido conscientemente, chega-se pela lógica a conclusões absurdas. 
Exemplo: Como poderia a mulher ter alvejado o marido, se o laudo médico atesta que ela morreu minutos antes do esposo?
3. Argumento a simili ou analogia
Estabelece o confronto entre duas realidades diferentes.
Exemplo: se o dono de um estabelecimento comercial é obrigado a pagar tributos para ter o direito de vender sua mercadoria, por analogia, um camelô também deveria pagar tributos sobre a mercadoria comercializada. 
4. Argumento por exemplificação
No argumento por exemplificação, o argumentador baseia a tese ou conclusão em exemplos representativos, os quais, por si sós, já são suficientes para justificá-la.
Exemplo: É inegável que a Internet propicia aos seus usuários um poder fantástico. Pode-se conhecer as diversas culturas do mundo, utilizar seus serviços, fazer compras, sem falar nas redes sociais. Porém é preciso discernir seus sites, o que uma criança e até mesmo um adolescente, em sua maioria, não é capaz. 
5. Argumento por vínculo causal ou causa e consequência
No argumento por causa e consequência, a tese ou conclusão é aceita justamente por ser uma causa ou uma consequência dos dados.
Exemplo: O delineamento fático da presente lide é o seguinte. Sentindo fortes dores em sua perna esquerda, a autora/recorrida procurou diagnóstico de seu médico/ortopedista (Dr. Isaac K. Szklarz), o qual atestou a gravidade do problema: não havia circulação de sangue nos dedos do pé esquerdo da autora, razão pela qual se roxeavam. 
Diante disso, referido profissional contatou médica infectologista (Dra. Wania Vasconcelos de Freitas), integrante do hospital credenciado (2a ré/apelante) pelo Plano de Saúde da autora (1a ré/apelante), informando-lhe ser a apelada diabética, solicitando-lhe urgente atendimento a ela, cuja perna esquerda necrosava e cujas veias entupiram-se - fls. 03. Todavia, a autora não foi internada no local, porque a 1a ré negou a respectiva e necessária autorização, em face do que a referida médica encaminhou a paciente/ apelada para hospital público (Souza Aguiar). Nesse lugar, a recorrida recebeu o devido tratamento, que culminou com a amputação de parte da sua perna necrosada. 
6. Argumento de Concessão: Coordenativo e Subordinativo (Oposição)
Concessão, no sentido retórico do termo, é a aceitação de um argumento do adversário, que não se refuta, mas que se faz seguir de um argumento em sentido inverso, a partir do qual se conclui. É um tipo de manobra argumentativa muito utilizada na argumentação jurídica, por ser um meio persuasivo muito importante. 
Concordando “aparentemente” com o adversário que sua tese é justa e pertinente, o advogado, de um lado, concilia-se com ele, de outro, torna-lhe menos penoso admitir os argumentos contrários a ele. 
6. Argumento de Concessão: Coordenativo e Subordinativo (Oposição)
Exemplo: [...]. Embora o desvio da rota do coletivo para a garagem não tenha sido autorizado pela ANTT, não há nenhum indício nos autos de que os passageiros tenham sido previamente informados, antes de contratar o transporte com a ré, de que o percurso para São Paulo incluiria um desvio para a garagem da ré, fora da rota regular dos veículos terrestres que se dirigem para São Paulo, próximo a local perigoso e durante altas horas da noite. 
“O pedido do autor não deve ser acolhido, porque o réu, embora abalroando o automóvel do autor, nenhuma responsabilidade teve pela colisão, à medida que foi projetado contra aquele outro, em razão do impacto produzido exatamente pelo ônibus que lhe seguia atrás.” 
7. Argumento de autoridade
O argumento de autoridade é constituído com base na legislação, na doutrina, na jurisprudência e/ou em pesquisas científicas comprovadas 
Exemplo: [...] Enquanto o artigo 544 do Código Civil define a propriedade como “o direito de gozar e dispor das coisas do modo mais absoluto, contando que não se faça em uso proibido pelas leis ou pelos regulamentos”, a teoria do abuso de direito insiste no fato de que os direitos subjetivos não podem ser exercidos de modo contrário ao interesse geral. Ao estabelecer que se exerça o direito de propriedade de um modo que não seja, sem utilidade para o proprietário, prejudicial a outrem, a doutrina e a jurisprudência introduzem uma limitação no direito de propriedade que não havia sido prevista pelo artigo 544. 
8. Argumentos consensuais ou de senso comum
São aqueles em que certas “verdades” aceitas por todos são utilizadas. São afirmações que não dependem de comprovação. 
Exemplo: 
Sabe-se que quem tem o nome incluído no SPC passa por uma situação constrangedora. Sendo assim, aquele cujo nome foi inserido indevidamente nesse cadastro tem direito à indenização por danos morais. 
Em um assalto, uma mãe, por exemplo, faria qualquer coisa para defender a vida de seu filho.
9. Argumento com provas concretas
Os argumentos que persuadem a respeito das ocorrências dos fatos de determinada forma são chamados de provas e elas só têm a capacidade de 
persuadir porque são transformadas pelos advogados das partes em argumentos de prova. 
Exemplo: 
O próprio médico que prestou depoimento às fls. 21 informou que, quando alguma criança nasce com problema, nas 24 horas seguintes ao nascimento, a clínica transfere o recém-nascido para a UTI Neonatal para receber o tratamento devido; mas isso não foi feito com o menor, o que torna a ré responsável por sua morte em decorrência da sua conduta negligente, pois tinha o dever de cuidar do paciente e não o fez. 
10. Argumento a Fortiori (com maior razão)
O argumento a fortiori (= com maior razão) é aquele em que a conclusão aceita uma asserção, com mais razão do que a que justificou a aceitação da asserção semelhante ao antecedente, ou seja, se uma norma jurídica impõe uma conduta a alguém, com ainda mais razão impõe uma conduta ao mesmo sentido, mas com maior intensidade. 
Exemplo: 
O argumentante usa de simplicidade e persuasão ao pedir que seja concedido “com mais razão (a fortiori)” um benefício a um crime menos grave, partindo do pressuposto que o crime mais grave obteve o tal benefício. “Esse argumento tem por base a lógica jurídica, a proporcionalidade entre as penas e, assim, os benefícios legais devem também resguardar um mínimo de proporcionalidade”. 
11. Argumento por modelo
O uso do argumentodo modelo ocorre quando se considera uma determinada conduta admirável e se sugere a sua imitação. 
Exemplo: 
O advogado de defesa Nilo Batista, em sua tese em relação a X, que matou a sua mulher a facadas, argumentou que seu cliente havia matado a mulher em legítima defesa, sob violenta emoção, e para isso recorreu às falas de Otelo.
O advogado, para persuadir de sua tese o 2o Tribunal do Júri, fez várias citações da peça Otelo – o mouro de Veneza, de Shakespeare (1995, p. 705). 
Começou repetindo Iago, o vilão que convence Otelo de que Desdêmona o traíra, inclusive, com direito à dramatização, pois o advogado convidou o ator Antônio Alves para encenação de alguns fragmentos da obra, enquanto o próprio advogado de defesa os recitava. (Iago) Ó meu senhor, tomai cuidado com o ciúme! É o monstro de olhos verdes que se escarnece do próprio pasto em que se alimenta! Vive feliz o cornudo que, ciente de seu destino, detesta o ofensor; mas, oh! Que minutos malditos conta àquele que ama e, não obstante, duvida; aquele que suspeita e, contudo, ama loucamente. 
[...]
(Otelo) [...] deveis falar de um homem que não amou com sensatez, mas que amou depois; de um homem que nunca teve ciúmes, mas que, uma vez provocado pelo ciúme, inquietou-se ao extremo.
[...]
(Otelo) Eu te beijei antes de matar-te. . . não havia outra saída
senão matar-me para morrer sobre teu beijo! [...] açoitem-me, diabos para longe desta visão celestial.
[...] 
Ao final do julgamento, o Réu saiu a pé do Tribunal junto com três amigos e foi-lhe aplicada uma pena justa, segundo Nilo Batista: quatro anos em regime aberto. Os argumentos persuadiram o Tribunal do Júri. (“Jornal do Brasil”, 25/5/2001). 
12. Argumento por ilustração
O argumento por ilustração difere do de exemplo em razão do estatuto da regra em que um e outro se apoiam. Enquanto o exemplo fundamenta a regra, a ilustração reforça a adesão a uma regra conhecida e aceita. 
Exemplo: Como esclareceu o doutor Procurador, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro, “é preciso deixar claro que, na separação consensual, a sociedade conjugal é dissolvida”.
13. Argumento de retorsão
O autor utiliza os próprios argumentos do interlocutor para destruí-los. Esse tipo de argumento é, pois, bastante eficiente para tentar invalidar o argumento do outro por meio da demonstração das suas incoerências. 
13. Argumento de retorsão
Exemplo: 
Carta do leitor 
“Desde novembro estão fazendo uma obra em um imóvel na esquina da Oscar Freire com a Haddock Lobo, identificada apenas pelas letras “SH” num tapume. Desde o início, a lei de silêncio é desrespeitada, pois eles trabalham aos domingos e feriados e, na semana, em horários impróprios. É impossível descansar em qualquer dia e horário da semana. Já fizemos várias reclamações ao Psiu, polícia e subprefeitura, mas tudo leva a crer que o dono do imóvel ou a construtora têm algum poder para que não se respeite a lei”. 
J.L. de M. C.- Cerqueira César 
13. Argumento de retorsão
Exemplo: 
Resposta da Prefeitura 
“Esteja certo de que a construtora não está acima da lei, assim como a Prefeitura, que deve respeitar a legislação. A obra no imóvel na esquina citada é regular. Em relação ao barulho, agentes do Psiu estiveram no local, no dia 19 de maio de 2008, constatando que o ruído está dentro do que é permitido pela legislação. Peço ao leitor que, caso o problema persista, nos avise, para que uma nova vistoria seja feita.” 
(Andrea Matarazzo — Secretaria das subprefeituras (O Estado de São Paulo, 9/6/2008) 
14. Argumento ad hominem (contra o homem)
Trata-se da estratégia de se desviar da discussão em pauta para criticar de alguma maneira o próprio adversário – ao invés de criticar, refutar ou combater suas ideias. O exemplo a seguir traz uma situação muito comum em um debate político.
Exemplo: 
Debatedor 1: 
Há fortíssimas evidências de que o senhor está envolvido em um mega escândalo de corrupção.
Debatedor 2:
Quem é o senhor para me criticar? No ano passado, o seu chefe de gabinete foi envolvido no escândalo do caixa 2 para financiamento de campanha. 
14. Argumento ad hominem
Exemplo jurídico: 
Este técnico não tem competência para emitir um parecer sobre tal assunto. Afinal, foi o primeiro parecer que ele realizou.